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UDYLGH] GH DGROHVFHQWHV GDV FODVVHV VXEDOWHUQDV XP SURMHWR GH YLGD"

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Dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob a orientação da Professora Doutora Raquel Raichelis Degenszajn.

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Dedico este trabalho ao meu querido companheiro Valter, com quem, nos últimos anos, tenho dividido as alegrias e tristezas que tanto enriquecem a vida.

Desejo também dedicar aos meus pais, que me ensinaram, ao longo da vida, o quanto é importante lutar por um sonho.

Ao meu filho Caique, que muito amor e alegria trouxe para a minha vida.

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A concretização do mestrado somente foi possível com o apoio de familiares, amigos, professores que torceram e vibraram em todos os momentos cruciais desta conquista.

Agradeço à minha professora e orientadora Raquel Raichelis Degenszajn pelo apoio, respeito e incentivo que recebi durante toda a pesquisa. O meu profundo reconhecimento.

À Capes, que possibilitou a concretização deste projeto.

A todos os profissionais do Projeto Ser Mulher, que compreenderam as minhas dificuldades, a minha ausência em muitos momentos do trabalho, para finalizar esta pesquisa.

Um agradecimento em especial ao meu amigo e companheiro de trabalho Everaldo, que em todos os momentos deste sonho me deu apoio.

A minha querida amiga Eliane, que me fez refletir sobre a importância de voltar para a universidade e tem sido, nos últimos anos, uma pessoa de fundamental importância em minha vida.

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A gravidez na adolescência constituiu o objeto de estudo deste trabalho. A investigação centrou-se nos fatores que levam adolescentes dos segmentos subalternizados das classes trabalhadoras, com idade entre 15 e 18 anos, a se tornarem mães, mesmo tendo acesso à informação sobre como se prevenir para evitar uma possível gravidez.

O presente estudo buscou compreender por quais motivos e em que circunstâncias sociais essas jovens escolheram a maternidade, questionando se esta opção é parte de um projeto de vida. Indagou-se sobre o significado da maternidade para as jovens e as mudanças ocorridas em seu cotidiano a partir dessa nova realidade. A pesquisa considerou também a avaliação dos jovens com relação ao fato de serem pais na adolescência, incorporando-os como sujeitos da investigação.

A idéia diretriz norteadora da pesquisa foi verificar se a gravidez entre as adolescentes das classes subalternas pode ser vista como uma forma de reconhecimento social, diante das poucas oportunidades de valorização dessas jovens no contexto social em que vivem.

A pesquisa evidenciou que, para algumas jovens, a gravidez representa a possibilidade de construção de um projeto de vida e a oportunidade de se sentirem valorizadas pela sociedade, a despeito de sofrerem, ao mesmo tempo, restrições e discriminações sociais. Em menores proporções, a gravidez na adolescência ocorre também nas classes média e alta, revelando, portanto, a presença de outros elementos envolvidos nessa problemática, como as relações de gênero, as dificuldades familiares e sociais de abordar e falar sobre sexo e proteção, independentemente da classe social e da faixa etária.

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The object of study of this research paper is pregnancy in adolescence. The investigation focuses on the factors which lead adolescents, between 15 and 18 years of age and from the marginalized population, to become mothers even when they have access to information on how to prevent and avoid a possible pregnancy.

The present study seeks to understand for what motives and under which social circumstances these young women choose motherhood, questioning whether this option is part of a life plan. It inquires about the significance of motherhood for these young mothers and the changes which occur in their daily lives as they begin to live this new reality. The research also considers the evaluation of these young women themselves, about the fact that they are adolescent parents, thereby including them as subjects in the investigation.

The guiding idea of the research was to verify if pregnancy in adolescents of the marginalized population can be seen as a form of social recognition, in face of the lack of opportunity to be valued in the social context in which they live.

The research showed that, for some young women, pregnancy represents the possibility to construct a life plan and the opportunity to feel valued by society, despite, at the same time, suffering both restrictions and social discrimination. In lower proportions, pregnancy in adolescents occurs in the middle and upper classes, thereby revealing the presence of other elements in this problematic situation, such as gender relations, social and familial difficulties to broach and speak about sex and protection, independent of social class or age.

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,QWURGXomR &DStWXOR,

1.1 Abordagens teóricas sobre gravidez na adolescência: um debate...21

1.2. Adolescência e juventude: categorias construídas socialmente ...33

1.3. O que revelam as pesquisas sobre e com os jovens...51

&DStWXOR,, 1.1. Gravidez na adolescência e o “mito do amor materno”...60

1.2. Ser mãe: um projeto de vida ...71

1.3. Paternidade adolescente: “Como é difícil ser pai!” ...93

1.4. As políticas públicas de saúde reprodutiva: direitos dos cidadãos?...104

&RQVLGHUDo}HVILQDLV 5HIHUrQFLDVELEOLRJUiILFDV $QH[RV Anexo 1...134

Anexo 2...143

Anexo 3...149

Anexo 4...151

Anexo 5...153

Anexo 6...155

Anexo 7...157

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,QWURGXomR

O tema desta dissertação de mestrado está diretamente ligado a minha

trajetória profissional. No ano de 2001, comecei a trabalhar na Associação de Apoio às Meninas e Meninos da Região Sé1. A missão da Associação é promover a defesa e garantia dos direitos das crianças e adolescentes em situação de rua e em risco social.

Inicialmente, atuei como assistente social do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente “Mariano Cléber dos Santos” – Cedeca- Sé, serviço desenvolvido por essa ONG. Após um ano, ingressei na equipe de coordenação geral da Associação de Apoio. Há mais de treze anos essa ONG luta pelos direitos das crianças e dos adolescentes e vem conseguindo desenvolver suas ações com qualidade e compromisso ético.

O interesse pelo tema desta pesquisa surgiu a partir de minha experiência no “Projeto Ser Mulher” desenvolvido pela Associação. Esse projeto oferece atendimento a adolescentes com idade entre 10 e 18 anos, trabalhando com a questão de gênero, mais especificamente com a gravidez na adolescência, sexualidade e defesa de direitos dos adolescentes.

O Projeto tem como objetivo geral realizar atendimento social, psicológico, jurídico e educacional a jovens mães, para o fortalecimento individual e familiar, visando colaborar para sua autonomia e para o exercício da cidadania.

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como se prevenir para evitar uma possível gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, engravidavam e contraíam doenças. E, como a maioria das pessoas, acreditávamos que elas engravidavam por falta de informação, em uma fase precoce da vida, e, ainda, que se tratava de uma gravidez não desejada. O mestrado foi iniciado com essa visão.

Mas os estudos foram revelando a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre os inúmeros fatores e situações relacionados à gravidez nessa etapa da vida. Muitos teóricos não acreditam que a gravidez sempre ocorra contra a vontade dos jovens, embora concordem que, em muitos casos, há falta de informação e descuido por parte das adolescentes que engravidam. Mas observam que é preciso questionar respostas prontas e fechadas para questões tão dinâmicas e complexas como essa da gravidez na adolescência.

Então, com novas reflexões e possibilidades de ampliação do leque de questões envolvidas, passamos a “olhar” de forma diferente a gravidez entre as jovens. Fomos percebendo que talvez, em muitas situações, o filho ou filha poderia ter sido planejado e desejado por muitas das adolescentes que passam diariamente pelo “Ser Mulher”.

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Diante do exposto, a gravidez na adolescência se constituiu no objeto de estudo deste trabalho. A investigação centrou-se nos fatores que levam adolescentes dos segmentos subalternizados das classes trabalhadoras, com idade entre 15 e 18 anos, a se tornarem mães, mesmo tendo acesso à informação sobre como se prevenir para evitar uma possível gravidez.

O presente estudo buscou compreender por quais motivos e em que circunstâncias sociais essas jovens escolheram a maternidade, questionando se esta opção é parte de um projeto de vida. Indagou-se sobre o significado da maternidade para as jovens e as mudanças ocorridas em seu cotidiano a partir dessa nova realidade.

No decorrer da elaboração do projeto de pesquisa, incorporamos outro aspecto fundamental para entender a questão da gravidez juvenil: os pais jovens. O fato de a maioria dos estudos desconsiderarem os pais empobrece o entendimento da questão, limita a atuação profissional e leva a reforçar olhares preconceituosos. Ouvir os rapazes permitiu ampliar as possibilidades de conhecimento do objeto da pesquisa, na medida em que se buscou investigar o significado do papel de ser pai e as transformações que daí decorrem nessa etapa de suas vidas.

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(...) A subalternidade faz parte do mundo dos

dominados, dos submetidos à exploração e à exclusão social, econômica e política. Supõe como complementar o exercício do domínio ou da direção através de relações político-sociais em que predominam os interesses dos que têm o poder econômico e de decisão política (Yazbek, 2003: 18).

Os jovens objeto desta pesquisa são oriundos das classes trabalhadoras, entendidas aqui, de acordo com Antunes (2000: 102), como a totalidade daqueles que vendem sua força de trabalho. Tal conceito não se restringe ao trabalho manual direto, mas “incorpora a totalidade do trabalho social, a totalidade do trabalho coletivo assalariado”. O autor atribui a essa classe a expressão “classe-que-vive-do-trabalho”, atualizando, desta forma, o conceito marxiano de classe operária. Neste conceito, são incorporados os trabalhadores improdutivos, ou seja, aqueles trabalhadores dos serviços, tanto os serviços para fins públicos como os que servem ao capitalismo. Inclui também o proletariado rural e o proletariado precarizado, o subproletariado, os terceirizados.

Os jovens objeto desta pesquisa e suas famílias pertencem a um universo atingido diretamente pelas altas taxas de desemprego, realizam atividades precárias e marginais na tentativa de sustento, vivem em habitações coletivas com pouca ou nenhuma privacidade e em condições de extrema precariedade. Além disso, enfrentam dificuldades para terminar os estudos, diante da urgência da busca pela sobrevivência. Apesar de toda essa difícil condição de vida, as jovens, em muitas situações, nutrem sonhos de consumo muito parecidos com os das jovens de classe média. Pode-se entender que:

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dominantes, para assegurar sua hegemonia ou

dominação, criam formas de difundir e reproduzir seus interesses como aspirações legítimas de toda sociedade (Yazbek, 2003: 18).

Yazbek coloca a categoria subalterna ao lado das categorias pobreza e exclusão social, proporcionando assim uma análise mais abrangente:

A concepção de pobreza configura-se em geral como uma noção ambígua e estigmatizadora, cujos contornos pouco nítidos muitas vezes ocultam seus aspectos resultantes da organização social e econômica da sociedade. De qualquer modo, a noção põe em evidência aqueles que, de forma permanente ou transitória, estão privados de um mínimo de bens ou mercadorias necessárias à sua conservação e reprodução social. (p. 23)

A categoria exclusão é entendida pela autora, com base em José de Souza Martins (1997), como uma modalidade de inserção na vida social, ou seja, “uma exclusão que é engendrada pelo próprio capitalismo e que dele faz parte”.

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O autor ainda reforça que a exclusão seria apenas um momento da percepção que cada um e todos podem ter daquilo que concretamente se traduz em privação. As privações seriam complexas e múltiplas: de emprego, de meios de participação no mercado de consumo, de bem-estar, de direitos, de liberdade, de esperança. Dito de outra forma, todas essas privações se traduziriam naquilo que chamamos comumente de pobreza. Então, é preciso tomar cuidado ao usar o termo pobreza no lugar de exclusão, para não acabar ocultando o fato de que a pobreza hoje, muito mais do que ter sofrido uma mudança de nome, mudou de forma, de âmbito e de conseqüências.

Para Amartya Sen (2000: 109), a pobreza deve ser vista como privação de capacidades básicas e não somente como baixo nível de renda, mas sem desconsiderar este aspecto como uma das principais causas da pobreza, pois a falta de renda pode ser a razão primordial da privação de capacidades de uma

pessoa. Pode-se entender, contudo, que a pobreza não constitui a única

influência sobre a privação de capacidades.

O autor chama a atenção, por exemplo, para as necessidades específicas das pessoas jovens, ou seja, poderia haver certo “acoplamento” de desvantagens que reduziriam o potencial do indivíduo para conseguir uma renda. Neste caso,

salienta que, quanto mais inclusivo for o alcance da educação, da saúde básica,

do lazer, da habitação e outros direitos, maior será a probabilidade de superação da pobreza.

Esta pesquisa centrou-se nas jovens na faixa de idade de 15 a 18 anos, sendo que a definição do corte etário ocorreu a partir da proposta de

atendimento do Projeto Ser Mulher, ORFXV do estudo. Apesar do Projeto atender

adolescentes com idade a partir dos 10 anos, o índice de gravidez entre 10 e 14

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2005, segundo o Pro-Aim/SP, houve 0,2% entre adolescentes com essa idade. Já na faixa etária entre 15 e 18 anos concentra-se o maior número de gestações entre as adolescentes atendidas pelo Projeto. Também em 2005, entre as adolescentes com idade de 15 a 192 anos, foram notificadas 11,8% de gestações na região Sé (Pro-Aim/SP), número alto, se comparado com outros distritos de São Paulo (cf. Anexos 2 e 3). O Projeto Ser Mulher está localizado nessa região e atende expressiva demanda de adolescentes grávidas.

No caso dos rapazes pesquisados, a faixa etária se estendeu até os 22 anos, pois a maioria dos pais dos filhos das adolescentes em atendimento no “Ser Mulher” tinham faixa etária acima das moças no momento em que se estabeleceu a relação afetiva e ocorreu a gravidez3.

De qualquer modo, dois dos entrevistados, apesar de se encontrarem em faixa etária diferente das entrevistadas, ou seja, com idade acima de 18 anos, foram pais com 17 anos. Considerando a dificuldade de estabelecer contato com os pais adolescentes, conforme nossa proposta inicial, a experiência de ouvi-los, refletindo sobre um evento ocorrido, mesmo há alguns anos, enriqueceu o nosso entendimento sobre a questão da paternidade.

Para a escolha dos sujeitos da pesquisa, realizamos, no mês de outubro de 2006,

um levantamento do número de prontuários ativos no Projeto Ser Mulher, e encontramos um total de 89 prontuários. Deste total, identificamos os seguintes dados importantes para a pesquisa:

• Onze prontuários eram de jovens que estavam grávidas.

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• Oito prontuários eram de jovens mães com um filho. • Dois prontuários eram de jovens mães com dois filhos.

Portanto, havia 21 jovens com idades entre 13 e 18 anos vivendo as situações de gravidez/maternidade no momento do levantamento dos dados para a realização desta pesquisa. Dentre essas 21 jovens, doze mantinham contato com o pai de seus filhos, sendo que quatro moravam com o pai da criança, cinco namoravam e três mantinham contato, mas não se relacionavam mais com ele afetivamente.

Para realizar a seleção das entrevistadas, privilegiamos aquelas que mantinham vínculo com o pai de seus filhos, considerando o objetivo de buscar compreender não somente as mudanças ocorridas no cotidiano das adolescentes a partir da maternidade, mas também o de investigar, junto aos jovens pais, o

significado do exercício desse novo papel.

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Os contatos e o agendamento das entrevistas foram realizados por

telefone e pessoalmente, durante o atendimento das jovens no “Ser Mulher”. Por meio da relação com as adolescentes que não puderam participar da pesquisa, conseguimos o contato com seus companheiros, a fim de agendar uma possível entrevista.

A princípio, o objetivo era realizar cinco entrevistas com as moças e cinco entrevistas com os rapazes, entendendo tratar-se de um número significativo para a compreensão da questão em estudo. Mas, diante das dificuldades encontradas,conseguimos realizar três entrevistas na sede do projeto. As jovens em geral alegavam que os pais de seus filhos estavam trabalhando e, portanto, não haveria possibilidade de comparecer ao Projeto Ser Mulher em horário

comercial.

Foi proposto o encontro com os pais em outro local, que proporcionasse maior facilidade para a concessão da entrevista, ou seja, no trabalho ou na residência. Também alguns relacionamentos e namoros entre as jovens e seus companheiros foram rompidos no início da pesquisa, conforme declaração das entrevistadas, o que dificultou o acesso aos jovens pais. Considerando todos esses aspectos, foram realizadas três entrevistas com os pais e três entrevistas com as mães que confirmaram o interesse em participar da pesquisa.

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apreender da forma mais ampla possível as expectativas, possíveis frustrações, perdas e ganhos dessa nova realidade.

Com o consentimento de todos, as entrevistas foram registradas com o uso de um gravador.

A partir da realização de pré-teste dos instrumentais da pesquisa, foi possível ajustar os roteiros, diminuir o número de perguntas e redefinir a postura desta pesquisadora, no sentido de permitir que os jovens falassem mais livremente sobre os temas propostos.

Conforme Gaskell (2002), durante o processo de pesquisa se forem feitas perguntas inadequadas, então não apenas será desperdiçado o tempo do entrevistado, mas também o do entrevistador.

A idéia diretriz norteadora da pesquisa foi a de verificar se a gravidez entre as adolescentes das classes trabalhadoras subalternizadas pode ser vista como uma forma de reconhecimento social, diante das poucas oportunidades de valorização dessas jovens no contexto social em que vivem.

A pesquisa evidenciou que, para algumas jovens, a gravidez representa a possibilidade de construção de um projeto de vida, a oportunidade de se sentirem valorizadas pelos amigos, familiares, enfim, pela sociedade. Não pretendemos afirmar que todas as jovens vivenciam a maternidade dessa maneira, mas consideramos também que não se pode afirmar generalizadamente que a gravidez na adolescência é sempre não desejada.

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entrevistados não se protegiam em seus relacionamentos. Esse fato nos levou a analisar que para os homens, mais do que para as mulheres, a possibilidade de exercer sua sexualidade livremente dentro da sociedade patriarcal pode resultar em paternidade não desejada e, ainda, risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis. Essas questões serão retomadas e aprofundadas no desenvolvimento da presente dissertação, que está organizada em três partes.

No Capítulo I apresentamos um recorte do debate atual sobre as concepções teóricas relativas à gravidez na adolescência a partir de ampla

revisão bibliográfica. Ao mesmo tempo, são expostos relatos das adolescentes

entrevistadas que planejaram esse evento, contrariando teóricos que afirmam a ocorrência da gravidez invariavelmente como indesejada. Apresentamos também uma sistematização de estudos sobre as noções de adolescência e juventude, enquanto categorias socialmente construídas. No final desse capítulo, apresentamos alguns dados de pesquisas recentes reveladoras da realidade dos jovens no Brasil.

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Nas Considerações finais retomamos as idéias norteadoras do estudo, agora enriquecidas pelo percurso investigativo realizado. Mais do que conclusões definitivas, levantamos algumas reflexões que apontam para a necessidade de considerar as ambigüidades presentes na experiência da maternidade entre os adolescentes, tanto para as jovens mães quanto para os pais, embora sejam vivenciadas de modos distintos, em função das questões de gênero que atravessam essa condição social na sociedade contemporânea.

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&DStWXOR,

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Nas últimas décadas, nas sociedades contemporâneas, a adolescência tem sido objeto de estudo, destacando-se novos valores, entre eles, a liberação sexual (Costa, 2002). Há uma mudança contínua que dissocia o casamento da vida reprodutiva, sendo, portanto, mais tolerada a sexualidade ativa dos jovens. A introdução de novas tecnologias reprodutivas, a partir de 1950 (contraceptivas e conceptivas), também conferiu às sexualidades não conjugais novos estatutos. As mulheres, por exemplo, conquistaram a possibilidade de decidir o momento de exercer a maternidade (Almeida, 2001).

Nesse contexto, a gravidez na adolescência tem sido amplamente discutida pelos governos, por profissionais da saúde, pelas agências internacionais, através dos meios de comunicação. Enfim, muitos debatem e disputam autoridade sobre o assunto.

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Segundo Costa (2002), o rejuvenescimento do padrão de fecundidade do país, os processos de urbanização e industrialização brasileiro e internacional, o

aumento da escolarização, a entrada da mulher no mercado formal de trabalho são alguns dentre os múltiplos fatores que favoreceram a introdução de novos valores culturais relativos à reprodução. Para a autora, esse cenário levou a uma maior visibilidade da gravidez na adolescência.

Do ponto de vista teórico, existe hoje uma disputa entre duas linhas de abordagem sobre a gravidez entre as jovens (Abramovay et al., 2004),

ressalvando-se ainda a heterogeneidade presente no seu interior.

Uma delas é a que considera a JUDYLGH] FRPR ³XP SUREOHPD´ nessa

fase da vida. Esta perspectiva, que via de regra se inscreve na análise funcionalista, reforça os riscos da gravidez, em seus aspectos físicos e psicológicos, alertando para os impactos na vida social dos jovens, principalmente no cotidiano das adolescentes. Além disso, veicula um discurso normativo e moralizante da gravidez na adolescência. Contraditoriamente, verifica-se que, cada vez mais, a iniciação sexual das moças vem ocorrendo mais cedo, dentro do contexto do namoro (Costa, 2002).

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de alguns estudiosos sobre a feminização da pobreza e sua reprodução pelas mulheres.

No entanto, a pesquisa realizada nesta dissertação revelou um dado a ser destacado: duas adolescentes entrevistadas voltaram a estudar após a maternidade, e somente uma delas interrompeu os estudos quando descobriu que estava grávida. As jovens mães entrevistadas que voltaram a estudar chamam a atenção pelo fato de já terem interrompido os estudos há alguns anos e apenas após a gravidez terem retomado seus projetos de escolarização. Para elas, a gravidez foi um marco de grande importância em suas histórias pessoais, que possibilitou a reconstrução de um projeto de vida:

(...) Ter meu filho foi muito bom! Antes, eu roubava e traficava. Se eu não tivesse tido meu filho, ou eu

estaria presa, ou estaria morta. Porque essa vida só leva a esses dois lugares: morto ou preso. Por isso agradeço a Deus por ter meu filho, de estar com ele. Eu só penso nele! (A . S. S., 17 anos)

Já entre os rapazes entrevistados, os três interromperam os estudos com a paternidade. Os rapazes declararam mais de um motivo para sair da escola: descuido, falta de tempo e necessidade de ajudar no sustento da criança. Para problematizar esses dados, é importante considerar também os dados da pesquisa Gravad5 (2006), que afirma que esses fatores identificados, revelados

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em nosso estudo, somados à estrutura do sistema educacional, principalmente da rede pública, contribuem para um percurso fragmentado da vida escolar, tanto para homens como para mulheres.

Segundo a Gravad (2006), para a maioria dos rapazes, a paternidade não parece afetar a situação escolar e o trabalho, independentemente da idade que tinham na época, exceto para 19,5% dos jovens pais, que pararam de estudar por um período ou definitivamente no primeiro ano após o nascimento da criança. Segundo a mesma fonte, a situação das moças é bem diferente, principalmente no caso das mães adolescentes, das quais 27,6% interromperam temporariamente e 18,4% definitivamente seus estudos no primeiro ano após o nascimento do filho.

Contudo, a mesma pesquisa mostra que 40,2% das jovens já se encontravam fora da escola por outros motivos, o que também aparece entre os rapazes – 47,8%, de forma ligeiramente superior para aqueles que tiveram o primeiro filho antes dos 20 anos. A maior parte das moças não estava trabalhando e permaneceu assim, sendo pequena a parcela que parou de trabalhar no primeiro ano após o nascimento do filho. De qualquer modo, quase a metade se encontra fora do sistema educacional, um índice alto, que prenuncia dificuldades de várias ordens, em termos de desenvolvimento pessoal, social e profissional, em uma sociedade cada vez mais competitiva e exigente, especialmente entre os jovens. Mas é preciso salientar que é precipitada a justificativa de que os adolescentes deixam de estudar em função da gravidez ou

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da maternidade, quando pesquisas mostram que na maioria das situações eles já não estudavam.

A perspectiva que considera a gravidez como “um problema” também reforça a idéia de que a adolescente poderia apresentar comprometimento no crescimento e desenvolvimento físico, problemas emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado e, principalmente, complicações na gravidez e no parto. Alguns autores consideram a gravidez na adolescência como uma das complicações da atividade sexual, constituindo uma grave ameaça para a adolescente e seu filho. As adolescentes não teriam condições de “segurar a barra da gravidez”.

É comum considerar-se a gravidez “precoce” como “indesejada”, assim como a união que dela venha a ocorrer. A justificativa para sua ocorrência seria a não-utilização de métodos contraceptivos de modo eficaz na adolescência, devido a fatores psicológicos inerentes a esse período da vida (Ballone, 2004). Essa análise simplifica a questão e promove uma visão aparentemente homogênea de trajetórias e comportamentos vivenciados pelas adolescentes.

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oportunidades educacionais, de trabalho, de planejamento familiar; teste da

capacidade reprodutiva; aceitação do papel instituído às mulheres; ganhos de vantagens e cuidados específicos inexistentes antes do evento da gestação. Mas, em geral, esses estudos acabam tratando a problemática em questão como uma realidade que necessita de ação educativa, no sentido de controlar “novas ocorrências”.

Contudo, na percepção de nossas entrevistadas, a maternidade significa um evento de grande importância em suas vidas:

A primeira vez que fiquei grávida caí e bati a barriga. Então, tive um aborto espontâneo. Eu chorei e fiquei com depressão. Mas eu pensava: eu vou ter um filho. Então fiquei WHQWDQGR... e não conseguia. Nessa época eu tinha 13 anos. Com 15 anos, eu já namorava outro rapaz. Aquele da primeira gravidez morreu por causa do WUiILFR. (...) Eu sempre falei para os meus dois namorados que queria muito um filho. O primeiro não queria. Ele só pensava em “balada”. Ele dizia que eu era louca, mas nós não fazíamos nada para se proteger. Eu só pensava em ter um filho. Eu queria ser mãe. Eu pensava na minha barriga. Eu conversava com a minha barriga mesmo sem filho. (J. M., 17 anos) (grifos da pesquisadora)

Nesse depoimento, a entrevistada refere que a gravidez foi planejada e desejada em sua vida, e não um acontecimento “catastrófico”, o que contraria a idéia do senso comum de que a gravidez na adolescência é sempre indesejada.

Os pesquisadores que estudam a gravidez na adolescência como um

“problema” tratam o fenômeno como algo novo. É comum encontrarmos na

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pré-industriais, assim como no Brasil colonial, a gravidez era considerada um evento comum na trajetória de vida das adolescentes. Nesse período, elas casavam e engravidavam na faixa etária entre 12 e 14 anos, e esse comportamento era considerado normal.

A idéia de que entre a infância e a fase adulta existe um período intermediário, com características peculiares, é recente (Villela & Doreto, 2006). Tal idéia está relacionada às transformações ocorridas no último século e seus impactos na organização do trabalho e nos comportamentos reprodutivos.

Nos séculos XIX e XX, a indústria cresceu significativamente na sociedade capitalista e, desta forma, ampliaram-se as possibilidades de capacitação para a ocupação de novos postos de trabalho, exigindo maior preparo do trabalhador (Villela & Doreto, 2006). A extensão do tempo de formação profissional retarda o ingresso no mercado de trabalho e, também, ocorre o adiamento da vida reprodutiva para homens e mulheres.

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divisões de papéis, definidos socialmente, entre homens e mulheres, que rejeita a

possibilidade de reprodução fora do casamento.

A segunda abordagem sobre a gravidez entre as jovens (Abramovay et al., 2004) é a UHODWLYLVWD. Adverte para o cuidado com as generalizações, enfatizando que os jovens possuem histórias de vidas diferentes e é preciso também considerar os múltiplos códigos simbólicos que envolvem a maternidade e a paternidade na adolescência. O relacionamento sexual, e mesmo a gravidez juvenil, não podem automaticamente estar associados à falta de informação dos jovens. Nessa linha, a leitura é criteriosa e alerta para a ainda frágil compreensão dos fatores que incidem no aumento do número de jovens grávidas, já que ficar grávida ou ter filho pode se configurar como resistência ou conseqüência de relações sociais específicas.

Outra questão que merece destaque é a relação direta que muitos analistas fazem entre pobreza e gravidez “precoce”. A abordagem relativista também chama a atenção para o fato de a gravidez precoce ocorrer com certa freqüência em todas as classes sociais. Ao analisar o processo de socialização da adolescente, os autores percebem que o desejo de ser mãe é reforçado e se reproduz quase que independentemente da classe ou grupo social de pertencimento. Esse papel é extremamente valorizado em todas as culturas e, portanto, as moças sentem necessidade de provar que são férteis. Uma das entrevistadas de nossa pesquisa expressa esta necessidade:

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Para Werebe (1998), entender a importância da maternidade na vida das

mulheres significa considerar os fatores socioculturais que influenciam a formação da identidade feminina, as relações construídas entre maternidade e sexualidade. Em quase todas as sociedades, segundo a autora, a mulher estéril ou sem filhos é estigmatizada e, em algumas, esse fato chega a ser motivo de divórcio ou repúdio social.

Atualmente, os métodos contraceptivos são amplamente divulgados e os jovens têm maior acesso aos serviços de saúde. Apesar destas mudanças, os adultos normalmente se referem à sexualidade dos jovens como irresponsável e impulsiva. Existe uma expectativa de que a maternidade e a paternidade sejam planejadas (Abramovay et al., 2004), caso contrário, os jovens estariam “pulando etapas de sua vida”. Esta posição possivelmente está atrelada a uma visão que se tem da própria juventude: pessoas em uma fase da vida que, em sua maioria, são irresponsáveis, precisam de vigilância, são “problemáticas”, dificilmente podem cuidar de suas vidas sozinhas.

Além da gravidez na adolescência, existe grande preocupação com as doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids. Ressalte-se que não somente os jovens realizam sexo sem proteção. Em todas as faixas etárias existem riscos de contrair doenças via sexual, já que sexo seguro envolve, além da informação, as relações de gênero e afetivas que são estabelecidas socialmente.

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apresentar restrição do crescimento intra-uterino, provocando sofrimento ao feto, e apresentar maiores índices de diabetes gestacional e eclampsia, levando a uma excessiva realização de operações cesarianas nesse grupo populacional. Os autores também relatam que existem pesquisas que apresentam resultados contrários aos citados e que sustentam a idéia de que a gravidez entre as adolescentes é bem tolerada fisicamente quando recebem assistência pré-natal precoce e de forma regular.

Além da qualidade da assistência pré-natal, Yazlle et al. (id.) acreditam que as condições sociais e de saúde podem exercer maior influência sobre os resultados da gravidez do que simplesmente a idade precoce da gestante. Os autores, que estudam os aspectos epidemiológicos, acabam discordando entre si no que se refere aos resultados obstétricos e perinatais, mas existe um consenso geral de que a gestação e a maternidade interferem negativamente na vida das adolescentes. E apontam as conseqüências desfavoráveis sobre as perspectivas de estudo e trabalho, ou seja, esses eventos influenciam negativamente a vida pessoal e profissional. Tais indicadores representam uma visão atual dos adultos, que consideram a juventude como um momento da vida no qual as únicas preocupações devem ser os estudos e a diversão, mantendo-se a dependência social e econômica em relação aos pais. Trata-se de uma visão que não caminha junto com a realidade de parte considerável dos jovens brasileiros, pois há a necessidade, e também a pressão por parte das famílias das classes trabalhadoras, de que eles ajudem financeiramente no sustento de sua família de origem.

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Grande parte das análises que abordam esse fenômeno perde de vista a contextualização da problemática que, a nosso ver, não se reduz a ponderações maniqueístas, tal como: bom/mau, certo/errado, mas que requer uma análise que desvele seus fundamentos históricos, sociais, políticos e psicológicos. Não se trata aqui de fazer a condenação ou o elogio da gravidez na adolescência. Trata-se, sim, de trazer à cena uma realidade que, sem negligenciar os perfis epidemiológicos, nos remete a histórias: trajetórias que contêm sonhos, esperanças, dores, desilusões e que permitem às meninas se apropriar das adversidades, para transformar – mesmo que ilusoriamente – o seu cotidiano em algo que lhes valha a pena ser vivido. Ser mãe, para estas meninas, talvez seja uma das poucas formas que lhes restam, no sentido de se colocarem no mundo como sujeitos sociais. (p. 26)

Nesse sentido, esta pesquisa também evita fazer apologia da gravidez na adolescência. Na literatura, evidencia-se cada vez mais o fato de que a gravidez na adolescência não é mero “acidente” e que não significa necessariamente uma “desgraça” na vida dessas jovens. Tal evento pode ocorrer a partir do desejo de ser mãe e pode representar o acesso a outro VWDWXV diferenciadodentro de seu grupo. A adolescente mãe pode sentir-se mais valorizada, pode acreditar que será possível construir uma vida melhor a partir da maternidade, fantasia uma mudança significativa em sua vida com esse evento.

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afirmaram na pesquisa “Juventudes e sexualidade6” que não gostariam de ter mães solteiras como colegas de classe. Apesar do percentual aparentemente baixo, o número absoluto de respostas é elevado, e a autora adverte que atitude como essa se configura como um preconceito em relação a essas garotas.

No entanto, na percepção de uma de nossas entrevistadas, ser mãe solteira era um sonho:

O meu maior sonho de vida era ter um filho. Eu pensava em ser mãe solteira. (J. M., 17 anos)

Contudo, chama atenção o fato de que ter um filho seja um projeto pessoal e não a dois, principalmente no caso de mães solteiras pertencentes aos segmentos subalternizados das classes trabalhadoras em um país como o Brasil, que apresenta altos índices de desigualdade e discriminação social. No caso da adolescente em questão, que não possuía suporte da família, muito menos de amigos, trilhar um caminho solitário com o bebê parece confirmar o “mito da maternidade”, ou seja, ser mãe ainda é a principal atribuição da vida da mulher, que pode realmente trazer realização e felicidade.

Impressiona-nos, portanto, que apesar do desamparo social em que se encontra a entrevistada, ela vai em busca, durante muito tempo, do seu sonho de ser mãe. Apesar de a gravidez na adolescência se caracterizar como um evento comum, observamos, em nossa experiência profissional, que algumas jovens

6

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relatam que sofreram algum tipo de preconceito nas escolas, por exemplo, por

parte de colegas e até de professores, assim como referem Abramovay et al. (2004). Essas jovens enfatizam que abandonaram os estudos por “vergonha”.

Esses autores conceituam a gravidez entre os adolescentes e jovens como juvenil, ampliando o conceito, já que considera a faixa etária até os 24 anos.

Concordamos com os autores quanto à maior amplitude e complexidade que o conceito de gravidez juvenil ou gravidez na juventude proporciona. As faixas etárias dos adolescentes entrevistados nesta dissertação se estenderam dos 15 aos 22 anos, sendo que os rapazes tinham idade acima da faixa considerada adolescência, isto é, acima dos 19 anos. Portanto, esse conceito, construído a partir de uma abordagem relativista, orientou esta pesquisa.

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Ser adolescente é enfrentar Um período cheio de conflitos, Ter que se transformar em adulto Num mundo antes tão sonhado, E de repente tão incerto e temido. (Recanto das Letras, 2006)

Os estudos em torno das noções de adolescência e juventude têm se desenvolvido consideravelmente nas últimas décadas, principalmente na

América Latina (León, 2005). Tal progresso ocorreu tanto do ponto de vista analítico quanto da perspectiva de desenvolvimento de determinadas ações

consideradas como políticas públicas voltadas para o desenvolvimento, a

proteção e a promoção social das várias condições sociais nas quais estão

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Para León (2005), não existe mais novidade quando se enfatiza a necessidade de falar e conceber diferentes “adolescências” e “juventudes”, em uma perspectiva heterogênea de realidade social. Mas o autor ressalta a importância das pesquisas qualitativas realizadas nos últimos anos, mais precisamente a partir do final da década de 1990, que detêm o mérito de ampliar o marco compreensivo a partir do próprio sujeito, permitindo assim maior aprofundamento da análise do cotidiano dos adolescentes e dos jovens. Além disso, essas pesquisas vêm colaborando para a mudança da compreensão das questões constitutivas da condição do ser adolescente e do ser jovem. Nesse novo contexto, ganha força a abordagem dessas condições a partir de uma leitura sociocultural que, segundo o autor, é mais desenvolvida do que as leituras socioeconômicas e sociopolíticas. Como exemplo, o autor destaca os estudos socioculturais e o âmbito das culturas juvenis.

Os conceitos de adolescência e juventude são construídos socialmente, em

determinado contexto histórico, cultural e relacional, vão se modificando ao longo das diferentes épocas e processos históricos e sociais, adquirindo, assim, denotações e delimitações diferentes (León, 2005).

A passagem da infância para a idade adulta constitui o campo de estudo e conceitualização da adolescência e da juventude, com delimitações não completamente claras, que em muitos aspectos se sobrepõem.

A categoria adolescência, quando mencionada, aparece geralmente relacionada a uma caracterização dentro de uma faixa etária, considerando aspectos cognitivos e afetivos e remetendo a aspectos biológicos – caracteres da

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categoria tem sido muito trabalhada pela psicologia e em especial pela

psicanálise. León (2005) revela que a atribuição da responsabilidade analítica da

adolescência, buscando entender e delimitar o sujeito particular e seus processos de transformação enquanto tal, ficou por longo tempo a cargo da psicologia.

Assim, assinala Freitas (2005), normalmente, quando os psicólogos descrevem ou fazem referências aos processos que marcam essa fase da vida, ou seja, a puberdade, como oscilações emocionais e mudanças de status social, é comum o uso do termo adolescência. Tal definição parece buscar uma homogeneização da experiência da adolescência, mas não é tão simples assegurar que todas as pessoas se desenvolvam de maneira igual nos aspectos psicológico, econômico, social e cultural.

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Becker (2003) informa que a palavra adolescência vem do latim: DG – para; ROHVFHUH – crescer: crescer para. O autor reforça ainda que, do ponto de vista do mundo adulto, o adolescente é um ser em desenvolvimento e em conflito.

A tarefa de buscar o conceito de adolescência não é fácil e causa muita polêmica. Atualmente, não existe uma clareza na definição do que é adolescência, quanto tempo dura, quando começa e quando termina. Além disso, conforme já foi mencionado, a adolescência é um fenômeno contemporâneo.

Vários estudiosos procuram discutir essa categoria. Além disso, são diferentes as vivências e os entendimentos dessa fase da vida nas sociedades existentes:

(...) Se, por um lado, encontramos no Brasil o fenômeno da adolescência prolongada – comum nas classes média e alta, em que a condição de adolescente tende a prolongar-se em função das expectativas de uma formação profissional cada vez mais exigente e especializada – temos, igualmente, a realidade de um significativo contingente populacional de adolescentes que, pelas condições de pobreza de suas famílias, fica impedido de viver essa etapa transitória, sendo obrigado a uma inserção precoce no mercado de trabalho, formal ou informalmente. (Unicef, 2002)

Calligaris (2000), em uma primeira aproximação, declara que o adolescente seria alguém que já teve tempo para assimilar valores básicos compartilhados na sociedade; aquele cujo corpo chegou à maturação necessária para realizar tarefas do mundo adulto; e, também, alguém para quem nesse exato momento a comunidade impôs uma moratória7:

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Em outras palavras, há um sujeito capaz, instruído e treinado por mil caminhos – pela escola, pelos pais, pela mídia – para adotar os ideais da comunidade. Ele se torna um adolescente quando, apesar de seu corpo e seu espírito estarem prontos para a competição, não é reconhecido como adulto. Aprende que, por volta de mais dez anos, ficará sob a tutela dos adultos, preparando-se para o sexo, o amor e o trabalho, sem produzir, ganhar ou amar; ou então produzindo, ganhando e amando, só que marginalmente. (p. 16)

Ainda por essa definição, essa fase se caracterizaria pela “crise” que se

origina e se evidencia nas mudanças corporais, pela ampliação de relacionamentos pessoais e conflitos na família. No entendimento de Becker (2003), a sociedade considera uma pessoa preparada para viver no mundo adulto “quando bem adaptada à estrutura da sociedade”.

Em meados da década de 1970, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a ser uma das mais importantes referências para a definição do conceito de adolescência. A organização define a adolescência como o período correspondente à idade entre 10 e 19 anos de idade (OMS, 1975). Esta definição baseia-se na transição das características sexuais secundárias para a maturidade sexual, sendo a adolescência um processo fundamentalmente biológico de

vivências orgânicas, no qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e a

estruturação da personalidade (Heidemann, 2006). Nessa configuração, a pré-adolescência corresponderia à faixa etária dos 10 aos 14 anos, e a pré-adolescência, entre os 15 e os 19 anos. Enquanto processo biológico, implica uma série de mudanças, tanto físicas como psíquicas (Waiselfisz, 2004).

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Por isso, prosseguiremos agora buscando uma aproximação do conceito de juventude.

Quando os sociólogos, demógrafos e historiadores se referem à categoria social, enquanto segmento da população, ou ainda a uma geração dentro de um contexto histórico, geração esta que se encontra entre a infância e a fase adulta, o termo mais usado é juventude. Esses pesquisadores buscam compreender, a partir dos sujeitos particulares, as possíveis relações que se estabelecem entre eles e com os demais segmentos da sociedade. Apesar da diferença de entendimento, existe uma tendência de utilização dos conceitos de adolescência e juventude como sinônimos e homogêneos (Freitas, 2005).

Em muitos momentos, tais termos aparecem sobrepostos, ou em campos distintos, mas complementares, podendo assim denunciar uma disputa por distintas abordagens. As diferenças e as conexões entre os dois termos não são claras. Portanto, a imprecisão e a superposição entre eles podem provocar ambigüidades e, em decorrência, excluir sujeitos do debate e do processo político atual.

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adolescência situa-se dos 12 aos 18 anos de idade, quando se atinge a maioridade penal. Essa referência possibilitou uma série de ações, programas e políticas públicas voltados para essa população, principalmente para os sujeitos

que vivem em situação de risco social.

As reflexões sobre o jovem e suas manifestações específicas intensificaram-se na década de 1950. A juventude tem sido muito discutida dentro da sociologia e, geralmente, os autores que dela se apropriam recusam-se a discutir esse aspecto da vida humana somente como etapa de transição.

Diante disso, Pais (2003), ao examinar um conjunto significativo de autores que se dedicaram ao tema da juventude na sociologia, realiza uma sistematização da construção social do entendimento de juventude, dividindo-a em dois grandes blocos.

No primeiro bloco a juventude é tomada como um conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituída por indivíduos pertencentes a determinada “fase da vida”. Nessa tendência, prevalece a busca de aspectos mais uniformes e homogêneos que caracterizariam essa fase. Portanto, aspectos que fariam parte de uma “cultura juvenil” específica, sendo, então, uma geração definida em termos etários.

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Histórica e socialmente, a juventude tem sido encarada como uma fase da

vida que apresenta certa “instabilidade” e está associada a determinados “problemas sociais”. Além disso, há muitos estudos no meio acadêmico que insistem em discutir a juventude como uma fase que deve ser envolta de cuidados para evitar possíveis deslizes (Abramo, 2005).

Até os anos de 1960, a visibilidade desse grupo social no Brasil ocorria por meio dos jovens escolarizados de classe média. O debate sobre os jovens focava-se principalmente na importância dos movimentos estudantis, da

contracultura e do engajamento em partidos políticos de esquerda (Abramo, 2005).

Em 1968, no mundo inteiro explodiram as passeatas, contestações e

agitações, com os jovens lutando em todas as frentes. Ocorreu verdadeira revolução nos costumes, quebra de tabus, destruição de valores estabelecidos.

Surgiu o movimento negro, o movimento pela libertação feminina. A contracultura era uma reivindicação de um estilo de vida diferente da cultura oficial, valorizada e defendida pela burguesia. A revolução sexual emerge nesse momento. A descoberta da pílula anticoncepcional facilitou a prática do sexo antes do casamento. A contracultura era solidária em relação a toda e qualquer manifestação de grupos étnicos ou culturais que estavam à margem da sociedade ou excluídos. O Brasil vivia em intenso período de ditadura militar e o movimento estudantil exerceu importante papel de contestação (Carmo, 2001).

No último quartel do século passado, a discussão, assim como a

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conseqüência, os jovens propriamente ditos ficaram fora das ações e debates

sobre direito e cidadania.

Nos tempos atuais, é considerada adulta a pessoa que tem condições de assumir responsabilidades como moradia, constituir família, ter emprego fixo. Mas, se pensarmos nas dificuldades de inserção no mercado de trabalho, na precarização do trabalho, é possível perceber o quanto é imprecisa a definição do ingresso no “mundo adulto” e, em conseqüência, do que é ser adolescente. Dessa forma, esse ingresso se faz cada vez mais tardiamente.

Para Pais (2003), as fases da vida comumente identificadas como infância, estado adulto e velhice têm variado ao longo da história.

Segundo Castro & Abramovay (1998), a definição etária da juventude é arbitrária, pois esse processo se redefine historicamente. Os autores afirmam ainda que essa definição é

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A categoria juventude é construída socialmente em contextos diversos no

âmbito econômico, social e político (Pais, 2003). Nesse sentido, a juventude deve ser tomada como uma categoria social (categoria sociodemográfica), como etapa de amadurecimento (áreas sexual, afetiva, social, intelectual e físico/motora) e como subcultural (León, 2005).

Ainda, no caso específico da categoria juventude, a questão é difícil de ser equacionada, pois são várias as dificuldades de se trabalhar com um conceito que se refere tanto a aspectos biológicos quanto sociais, ocorrendo a maturação biológica, mas não a maturidade social. León (2005) ressalta que as enormes diferenças decorrentes do desenvolvimento econômico dos países, somando-se a elas o sentimento de insegurança em relação ao mundo do trabalho, influenciam

a condição de ser jovem. Concordamos com a idéia do autor, ao entender que, mais do que uma referência natural e biológica, a juventude é uma categoria cultural e histórica.

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Segundo Waiselfisz (2004), a Unesco8 afirma que o termo juventude é de conceituação complexa e que existe a necessidade de se considerar nessa definição os aspectos biopsicológico e social:

Os termos juventude e adolescência podem ser tratados como sinônimos em dicionário de língua portuguesa ou, indistintamente, em um outro estudo sobre a juventude brasileira, ao se analisar o quadro demográfico da

população jovem. Mas, em pesquisas desenvolvidas pela

Unesco, há distinção entre juventude e adolescência no que se refere aos aspectos social, cultural e nacional. O termo juventude tem um sentido dinâmico e coletivo, e nos remete a um segmento populacional que faz parte de uma determinada sociedade, ao passo que a adolescência nos conduz a um aspecto mais relacionado ao plano individual e demarcado cronologicamente. (p. 16)

Dessa forma, a juventude remete a um processo de preparação dos

indivíduos para se tornarem adultos e, assim, assumirem um papel tanto na vida

familiar como na profissional. Em termos etários, a Unesco também define a juventude como o período da vida entre os 15 e os 24 anos.

Por certo se sabe que não há definição universalmente

aceita para os limites de idade em que se encontra a juventude. Do ponto de vista sociológico, a juventude tem sido considerada não apenas como uma categoria etária, mas também como um processo. E, assim sendo, para se entender os processos sociais em que os jovens se envolvem, é necessário recorrer à forma como expressam seus comportamentos (...) A história, a tradição e a cultura contribuem para a expressão de seus valores (...). (Julio Jacobo Waiselfisz, Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003, p. 17)

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Bourdieu (1983) resume de forma objetiva a dificuldade encontrada na

tentativa de demarcar os limites e sentidos das idades em uma frase: “A juventude é apenas uma palavra”. As diferentes fases do ciclo da vida são construídas e manipuladas socialmente.

Durante a juventude, a construção da identidade se configura como um elemento de fundamental importância que ocorre no período juvenil (León, 2005). Tal construção está associada a condicionantes individuais, familiares, sociais, culturais e históricos de determinada sociedade. Além disso, o autor explica que a construção da identidade se dá em diversos níveis simultaneamente. O indivíduo reconhece a si mesmo, observa-se e identifica características próprias, ou seja, reconhece-se enquanto alguém com uma identidade individual (ib.). Nesse momento, as identificações de gênero e os

papéis sexuais tornam-se mais definidos.

O jovem busca o reconhecimento social nos outros e procura identificar em si mesmo características que julga importantes, definidas no contexto social e que fazem parte da etapa em que se encontra. Segundo León (2005), isso se constitui na identidade geracional. Ainda assim, o desenvolvimento da identidade juvenil não ocorre de forma homogênea, sendo a diversidade sua principal característica.

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forma, quando se inicia a puberdade, os adolescentes começariam a formar uma consciência de seus direitos e deveres (ib.).

A juventude, ao ser compreendida como período de transição entre a infância e a idade adulta, gera políticas centradas na preparação para o mundo adulto (Abramo, 2005). No Brasil, até os anos de 1970, a grande maioria dos jovens ingressava cedo no mercado de trabalho e acabava interrompendo os estudos. Esses trabalhadores não eram mais considerados jovens, pois eram identificados como tal aqueles que estavam envolvidos com a criminalidade e outras situações de “desvio” (ib.). Sendo assim, tornavam-se alvo de preocupação pública, e a discussão centrava-se nas possibilidades de “integração” desses jovens à sociedade para afastá-los da condição de marginalidade.

Essa visão do jovem produziu respostas dicotômicas por parte do Estado e das instituições que atendiam os jovens naquele momento. Abramo (2005) observa que, para os filhos das classes média e alta, existiam políticas de educação e formação geral que incluíam esportes, algumas ações para o tempo livre, intercâmbio cultural, além de medidas preventivas e punitivas aos jovens engajados em movimentos políticos. Para os jovens das classes populares, as

políticas estavam mais direcionadas para a inserção no mercado de trabalho, mas a preocupação maior era estabelecer medidas de prevenção, punição ou resgate das situações de desvio e marginalidade (ib.).

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de repressão e violência contra crianças e adolescentes em situação de abandono e risco social. Inúmeros atores sociais se unem nesse momento pela defesa dos

direitos das crianças e dos adolescentes – juristas, funcionários públicos, militantes de movimentos sociais e comunitários (Abramo, 2005).

A luta pela questão da infância e adolescência pressionou o poder público

a assumir políticas e programas nessa área, além de resultar na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, considerada uma das legislações mais avançadas do mundo. Portanto, o ECA é um marco no entendimento da noção de infância e adolescência e no estabelecimento desses atores enquanto sujeitos

de direitos e, portanto, cidadãos.

Até meados dos anos de 1990, apesar de se falar em juventude, as crianças e os adolescentes com idade até 18 anos se constituíam no público alvo mais

constante dos programas de governo (Abramo, 2005). Dessa forma, a discussão sobre juventude restringia-se a essa faixa etária e se pautava na questão dos “menores”, isto é, adolescentes em situação de risco, adolescentes em situação de rua ou que trabalhavam nas ruas, além daqueles em conflito com a lei. É nesse período que surgem muitas ONGs, com o objetivo de atendimento direto

de crianças e adolescentes. Em sua maioria, elas buscavam “prevenir” as condutas de risco, empenhavam-se em preparar os adolescentes para o trabalho e muitas preocuparam-se em proporcionar atividades de lazer (Abramo, 2005).

Também nos anos de 1990, os jovens voltam a ser motivo de preocupação por parte da opinião pública, por causa dos problemas vividos ou representados

por essas pessoas, vinculados à crise econômica e social do país. A crise do desemprego se concentra principalmente na faixa etária dos 16 aos 24 anos e

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comportamentos de risco, gravidez precoce, uso abusivo de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a Aids, passaram a ser tema de noticiários e motivo de preocupação pública.

Assim, surgem trabalhos, ainda em pequena escala, que são desenvolvidos a princípio pelas ONGs que buscam alternativas de inserção social para faixas etárias mais amplas. Abramo (2005) ressalta que, nesse momento, não há o aprofundamento de diagnósticos ou de compreensão da condição de sujeito jovem. De qualquer modo, as ONGs trouxeram como conseqüência positiva para as ações dirigidas aos jovens com mais de 18 anos a compreensão dos problemas que os afetam e a necessidade de tratá-los como sujeitos de direitos. Em contrapartida, essas organizações carregaram como dificuldade a falta de condição de olhar para o jovem de uma forma diferente da criança. Isso resultou em ações baseadas no mesmo princípio de proteção e tutela, sem, no entanto, trabalhar com a demanda de autonomia e participação.

Nesse cenário, as ONGs buscavam recuperar a possibilidade de os jovens terem acesso a serviços que os jovens das classes média e alta já usufruíam, como programas de formação educativa e/ou retorno à escola, e possibilidade de viver o tempo livre. Ao mesmo tempo, concretizaram-se ações para lidar com a violência, a gravidez precoce9 e doenças sexualmente transmissíveis.

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consultivo e propositivo. A Secretaria Nacional de Juventude tem a

responsabilidade de articular as políticas desenvolvidas pelos diferentes ministérios, sendo executora de um programa nacional10.

Para Abramo (2005), a educação é claramente considerada o ponto chave

para o desenvolvimento integral dos adolescentes, apesar de existir a ressalva de que as políticas de educação não se esgotam na escolarização. O esporte, a cultura e o lazer também são dimensões de extrema importância para o desenvolvimento integral do adolescente, pois, além de facilitarem o desenvolvimento psicomotor, funcionam como estratégias de desenvolvimento pessoal, de socialização e prevenção da violência. A autora afirma que os diagnósticos realizados sobre a condição dos adolescentes, frente aos seus direitos definidos por lei, visam identificar as dificuldades de se fazer garantir as condições preconizadas para o desenvolvimento dessa população. Os adolescentes que vivem em situação de pobreza ficam impedidos de viver essa etapa preparatória para a fase adulta, já que se vêem obrigados a entrar no

mercado formal e principalmente no mercado informal, para colaborar ou mesmo assumir o sustento de suas famílias.

A noção de juventude constitui um debate mais recente e menos estabelecido (Abramo, 2005). Já se discutiu muito a necessidade de estabelecer políticas públicas para esse segmento, mas, com relação à definição do que seja a condição juvenil e os diagnósticos dessa realidade, ainda se encontram insuficientes.

10

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Possivelmente, uma diferença marcante do ser jovem e do ser adolescente, segundo Abramo (2005), seria:

(...) representa um momento distinto do processo de transição para a vida adulta, mais próximo dos âmbitos de circulação e atuação dos adultos, onde a inserção em diversas esferas da vida social toma um relevo maior, embora vivenciada de um modo singular. (p. 31)

O debate sobre a condição juvenil é recente no Brasil. Ainda estamos construindo consensos, enfrentando polêmicas a respeito de como garantir os direitos dos jovens e para tanto constituir definitivamente tal população como

foco da ação pública. Nesse caminho, Abramo (2005) aponta como importante

definir o que constitui a condição juvenil nesta conjuntura histórica da nossa sociedade, o que a singulariza, quais são os elementos que a constituem e quais são os desafios postos; e a tarefa política é a de definir que direitos garantem a vivência dessa condição de uma forma digna e satisfatória, que sinalizam políticas que objetivam universalmente o cumprimento desses direitos. (p. 34)

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conclui que não se deve eleger apenas um tema, uma diretriz, uma política ou um programa para os jovens, já que não existe um único eixo que dê conta da questão da juventude.

É importante considerar também, como tão claramente aponta Abramo (2005), o fato de que não existe um padrão único de trajetória de transição para a vida adulta e da experiência juvenil. O cotidiano está repleto de heterogeneidades de situações, e, principalmente, na realidade brasileira, de desigualdades. Portanto, “todos os jovens do país cabem na categoria, e a todos

eles têm que ser garantidos os direitos fundamentais referentes a essa condição” (ib., p. 38).

Compreender tais conceitos é essencial para elaborar as questões que se colocam sobre a problemática da gravidez juvenil. Durante este estudo utilizamos concomitantemente as expressões adolescente e jovem, já que são categorias com especificidades próprias e expressam aspectos fundamentais no entendimento da transição da infância para a vida adulta, mas ao mesmo tempo elas podem aparecer juntas ou separadas, não prejudicando o entendimento da problemática da gravidez entre os jovens.

A categoria adolescência parece ser mais utilizada enquanto experiência individual, e a categoria juventude, enquanto experiência de um grupo específico com experiências próprias, práticas sociais e estilos de vida distintos e vulnerabilidades importantes. Portanto, são categorias construídas socialmente que se distinguem por cortes etários: adolescentes seriam as pessoas com 10 a 19 anos para a Organização Mundial de Saúde; com 10 a 18 anos para o Estatuto da Criança e do Adolescente, e esta referência é a utilizada, em geral em termos de políticas públicas para os adolescentes; e, dos 15 aos 24 anos, se configuram

(51)

2TXHUHYHODPDVSHVTXLVDVVREUHHFRPRVMRYHQV

Dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no ano de 2000, apontam a existência no Brasil de 169.799.170 habitantes. Destes, 137.953.959 (81,25%) residem na zona urbana e 31.845.211 (18,75%), na zona rural.

Segundo esse Censo, 34.081.330 habitantes se encontram na faixa etária de 15 a 24 anos11, correspondendo a 20,07% da população do país. São 27.755.671 (81,44%) de jovens residindo na zona urbana e 6.325.658 (18,56%) morando na zona rural. Comparando o percentual do total da população que

reside na zona urbana e rural com o percentual de jovens com idade entre 15 e 24 anos que nelas residem, observamos um equilíbrio, já que a variação é de apenas 0,09%.

Dos 34.081.330 habitantes que possuem de 15 a 24 anos, 2.687.168 (7,88%) são responsáveis pelo domicílio. Destes, 2.181.903 (81,20%) são do sexo masculino e 505.266 (18,80%) são do sexo feminino. Do total de jovens com faixa etária de 15 a 24 anos que são responsáveis pelo domicílio, 641.921 (23,98%) também são aqueles que auferem os menores rendimentos, isto é, até um salário mínimo, totalizando 788.410 (29,34%). Já os jovens que possuem rendimentos superiores a trinta salários mínimos totalizam 4.687 (0,17%).

Em pesquisa realizada em âmbito nacional com jovens com idade entre 15 e 24 anos, por meio de uma parceria entre a Fundação Perseu Abramo, o Instituto Cidadania, o Sebrae e o Instituto Hospitalidade, intitulada “Perfil da juventude brasileira”, foi possível levantar questões relativas ao valor, cultura,

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população. Foram entrevistados 3.600 jovens, no meio urbano e rural. A pesquisa foi realizada entre novembro e dezembro de 2003 e foi organizada e publicada em 2005 pela Fundação Perseu Abramo.

A pesquisa mostra, por exemplo, que a maioria dos jovens brasileiros são solteiros (78%), embora os casados representem uma porcentagem importante (20%). Entre o grupo mais velho, com idade de 21 a 24 anos, há maior incidência de casados. Entre os adolescentes com idade entre 15 e 17 anos, 5% são casados. As mulheres, em geral, casam mais cedo. É importante observar que 10% dos jovens com ensino superior são casados, enquanto 43% dos que têm apenas até a 4ª série do ensino fundamental já constituíram uma nova família.

Quanto à possibilidade de estudar, a pesquisa apurou que depende da renda familiar. Até cinco salários mínimos mensais, a porcentagem de jovens estudando quase não varia, ficando em torno de 60%. Na faixa de mais de dez salários mínimos, essa variação sobe para 82%.

A porcentagem de jovens estudando é maior entre aqueles que ainda não estão na PEA12 (84%) do que entre aqueles que estão (58%). É interessante notar

12 População economicamente ativa é entendida como a população que, no período anterior

à pesquisa (365 dias para o censo), estava exercendo trabalho remunerado, estava trabalhando sem remuneração em algumas

atividades por mais de quinze horas semanais, ou não estava trabalhando, mas procurava trabalho (nos últimos dois meses antes do censo). Portanto, fazem parte da população economicamente ativa os ocupados (trabalhando regularmente) e os desocupados, assim considerados os que não trabalham, mas tomaram alguma providência para encontrar trabalho. A categoria ocupados, por sua vez, é desmembrada segundo o tipo de vínculo que apresenta com o trabalho, ou seja, o de empregados, o de trabalhadores por conta própria, o de empregadores, o de trabalhadores domésticos. Às parcelas da população que não estavam trabalhando regularmente, com ou sem remuneração, e não estavam em busca de trabalho, o censo denomina população não economicamente ativa. Aqui se inserem as pessoas que, à época da pesquisa, exerciam fazeres domésticos, os estudantes, os aposentados

Referências

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