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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA 29 de Maio a 1 de Junho de 2007 UFPE, Recife/ PE

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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA 29 de Maio a 1 de Junho de 2007

UFPE, Recife/ PE GT – O FENÔMENO RELIGIOSO

“Passos de Anchieta: no universo das peregrinações: uma (re) leitura da prática, dos atores e lugares de peregrinação como mediadores de sentido na contemporaneidade”

Leide Bela de Brito Anália da Costa

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

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“Passos de Anchieta: no universo das peregrinações: uma (re) leitura da prática, dos atores e lugares de peregrinação como mediadores de sentido na contemporaneidade” Leide Bela B. Anália Costa PUC/SP CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

A peregrinação como fenômeno e objeto das ciências sociais, apresenta diversos aspectos já estudados e muitos desafios ainda por enfrentar no aprofundamento do estudo da mesma. Para nós e demais estudiosos, a peregrinação está diretamente relacionada ao universo religioso e está presente como prática e ritual em quase todas as tradições religiosas desde tempos imemoriais. Portanto, os deslocamentos, as viagens e as peregrinações estão ligados à própria história da humanidade. O ser humano é um ser itinerante, peregrino por natureza.

No âmbito dos estudos existentes, encontramos trabalhos sobre ritos e práticas religiosas de todos os tipos, especialmente etnografias de sociedades primitivas, indígenas, e um sem-número de pesquisas de cunho meramente descritivos. Estes estudos servem como referência documental e histórica devido a seu caráter clássico e minucioso da descrição do evento, entretanto, sem a preocupação com o registro do contexto cultural e do aspecto cotidiano vivido, sendo este último, uma perspectiva muitas vezes excluída nos estudos e pesquisas mais recentes.

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autor que tem procurado aprofundar o estudo das peregrinações e sintetiza a análise do fenômeno sob o aporte de paradigmas interpretativos dentro das ciências sociais e juntamente com Carneiro (CARNEIRO, 2001) e Abumanssur (ABUMANSSUR, 2003), dentre outros, procura estabelecer a relação entre peregrinação e turismo religioso num contexto mais contemporâneo. Sendo assim, os estudos sobre peregrinação no Brasil parecem oscilar entre dois aspectos: a tradição e a modernidade. Existem, entretanto, tipos diferentes de peregrinações em que estes aspectos aparecem dissociados e até opostos.

A questão central para nós é que, o evento “Passos de Anchieta” como objeto de estudo sócio-antropológico, emerge no universo das peregrinações sob o signo de um fenômeno híbrido e multifacetado. A pergunta básica para esta pesquisa a partir dos referenciais teóricos existentes tem sido: como podemos caracterizar o evento Passos de Anchieta em relação a outras peregrinações no âmbito religioso brasileiro? Ou, mais concretamente, como entender este caminho de traço místico eco-religioso chamado de “Passos de Anchieta” que traz em seu bojo a complexidade de um fenômeno que apresenta nuances tradicionais e modernas, padrões espiritualistas e esotéricos de um lado, ambientalistas e de lazer num outro? Meu ponto de vista é que este caráter misto pode ser tomado como um elemento fundamental na definição desta peregrinação, pois, esta ambigüidade caracteriza e apresenta o Passos de Anchieta como experiência religiosa e transcendental de um lado, e como expressão cultural de outro.

Bem, para melhor entendermos o evento “Passos de Anchieta” como ponto de encontro entre tradição e modernidade, no qual podemos verificar um campo de convergência, de tensão, conflito e disputa onde coexistem diversos interesses, bem como, múltiplos discursos e significados atribuídos por seus agentes e atores sociais, passaremos a relatar o evento que tem mobilizado diversos segmentos da sociedade em sua constituição, elaboração e organização. Nesse sentido, destacaremos a rede de relações que se estabelecem entre seus agentes e participantes. A análise que se segue, procura enfocar o fenômeno como um ícone no processo de mudança que o fenômeno das peregrinações está protagonizando no atual campo cultural-religioso brasileiro.

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Os Passos de Anchieta é um dos principais eventos que se destaca no calendário de festas e eventos culturais do Espírito Santo e atrai caminhantes, andarilhos e peregrinos de diversas regiões do país. Ocorre anualmente no litoral sul do Espírito Santo onde (re) vive e (re) constitui o caminho percorrido pelo Beato José de Anchieta no século XVI em terras capixabas. O evento oficial acontece a partir do feriado de Corpus Christi e vem se consolidando a cada ano, como uma rota perene, a ser percorrida ou conhecida a qualquer época do ano, a partir de qualquer trecho do percurso. Foi oficialmente criado no ano de 1998, por uma entidade civil não governamental, embora o projeto tenha como parceiros o governo do Estado e dos municípios por onde passa o percurso do caminho. Tem suas raízes tradicionais com o catolicismo brasileiro e é fruto deste universo. Entretanto, está vinculado a um modelo de peregrinação mais contemporâneo, onde o caminho é o próprio mediador de uma relação espaço-temporal com o sagrado, que pode acontecer sem mediações institucionais.

II – ASPECTOS DO CAMINHO: a) O Mito Fundador:

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b) O Evento:

O evento Passos de Anchieta foi o primeiro caminho brasileiro criado dentro desta configuração (1998). É hoje, um dos principais roteiros de peregrinação que se destaca no calendário de festas e eventos culturais do Espírito Santo. Constitui-se numa forma de reconstituição do caminho percorrido pelo Beato Anchieta nos seus últimos anos de vida, entre a aldeia de Rerigtiba (hoje cidade de Anchieta) e o Colégio de São Tiago em Vitória, hoje, Palácio Anchieta, sede do Governo Estadual. Ele fazia este percurso a pé, mais ou menos a cada quinze dias devido seu acúmulo de função: como superintendente do colégio e como missionário e catequista na aldeia. É neste percurso entre Rerigtiba e Vitória que Anchieta juntamente com alguns índios mais próximos, realizou feitos, versos, poemas e milagres que lhe renderam fama, estima e veneração. A caminhada oficial acontece a partir do feriado de Corpus Christi (época que marca a data da morte do beato) e vem se consolidando a cada ano, como uma rota perene, a ser conhecida e percorrida em qualquer época do ano. No ano de 2006, foi promovida a 9ª edição do evento. A caminhada inicia-se no centro antigo de Vitória, com missa de abertura na Catedral Metropolitana, seguindo para o centro histórico da Praínha em Vila Velha. O restante do percurso passa pelos municípios de Guarapari até Anchieta, onde termina a caminhada com missa celebrada na Igreja Matriz. O percurso é realizado em quatro dias divididos nos seguintes trechos:

1º Dia – entre Vitória e a Barra do Jucu, em Vila Velha, onde são percorridos 25km em média.

2º Dia – entre a Barra do Jucu e Setiba, em Guarapari, e perfaz 28km. 3º Dia – entre Setiba e Meaípe, em Guarapari, e perfaz 24km.

4º Dia – segue de Meaípe até Anchieta, na praça da Igreja Matriz, na cidade de Anchieta, perfazendo 23km, completando o trajeto que possui 105km.

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c) Os Atores Sociais do Caminho:

A constituição do evento Passos de Anchieta mobiliza alguns setores da sociedade como por exemplo: uma organização não governamental (ONG), organizada por cidadão capixabas que se denominam amigos do caminho. Essa instituição representa hoje os agentes promotores do caminho e denomina-se ABAPA (ABAPA, 1998), e foi criada em 1998, ano de lançamento da 1ª edição do caminho em Vitória, Espírito Santo. Um segundo elemento que reconhecemos como agentes e atores do caminho é o governo estadual e municipal envolvidos no percurso do caminho. Este elemento de cunho político e econômico tem sido de grande importância no apoio e manutenção do projeto que é intermunicipal. Um outro elemento é a Igreja Católica que se faz presente desde a constituição do mito fundador (Anchieta era um padre católico), até o seu apoio e participação direta e indireta na organização e promoção do evento. Um terceiro e último elemento constituidor de suma importância do evento Passos de Anchieta são seus participantes: os andarilhos como são chamados. Estes, representam a parte forte e autônoma desta peregrinação. Seu número aumenta a cada edição do caminho. Já são mais de 3000 mil pessoas que perfazem este caminho. Dentro dos limites desta pesquisa, estamos trabalhando junto a representantes de cada categoria de agentes e participantes desta peregrinação capixaba.

d) Via Sagrada:

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faz deste caminho um ponto ou centro de convergências e disputas de interesses de diferentes atores sociais.

e) Caminho de Anchieta - uma peregrinação moderna:

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(CARNEIRO, 2003, p. 9), caracterizam-se por sua organização e planejamento como qualquer outra atividade de lazer. Diferentemente do modelo tradicional, os peregrinos modernos, não buscam um lugar sagrado, um santo ou um santuário; o próprio deslocamento é que é importante. A chegada é menos importante que o jeito de chegar (existem as formas reconhecidas de fazer o caminho ou a rota: a pé, de bicicleta, a cavalo). O que há de sagrado e focal é o próprio caminho, o percurso a ser palmilhado por cada peregrino, andarilho ou caminhante. A relação com o sagrado é mediada pelo próprio caminhar. Nesse sentido, uma perspectiva dos elementos e fatores atuantes na constituição de uma rota turístico-religiosa popular no Brasil, reconstitui a trajetória e evolução desse processo (de transformação), sobretudo, referente ao catolicismo tradicional, e sua relação com as novas formas de expressão de religiosidade, manifestações culturais e ainda, com novas formas de espiritualidade, sem, no entanto, excluir essas lógicas distintas, que vêm se articulando no processo histórico.

f) Abordagens Interpretativas do Fenômeno:

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sociabilidade entre seus atores e agentes que, abrange os momentos de preparativos da romaria, a participação ativa dos romeiros nesta organização, seguindo-se do período da viagem propriamente dita, onde as tarefas e obrigações são partilhadas de maneira que, as relações sociais são redimensionadas diferentemente que no cotidiano. E por fim, a chegada ao santuário e a visita ao Santo, que estabelecem o fim do tempo sagrado da romaria, isto é, do tempo de penitência e de sacrifício; depois disso, os fiéis se sentem livres para festejar e adentrar ao tempo profano e ao universo da festa que acontece no entorno do santuário. No tempo da festa, bem como, durante toda a romaria, é estabelecido um clima ou estado de liminaridade, que se caracteriza pela dinâmica das relações interpessoais, onde os indivíduos libertam-se de obrigações cotidianas e vivem temporariamente “um novo modelo de vida”. De acordo com Turner, esse novo modelo de vida, permite o aparecimento da experiência da communitas, que, segundo o autor, caracteriza-se por um processo de mudança que o indivíduo passa ao vivenciar o fenômeno que possibilita a superação parcial ou total da estrutura social a que está inserido, isto é, em termos gerais, o peregrino ou romeiro, passa pela abolição de distinções sociais, mudando seu comportamento de forma radical comparado ao comportamento cotidiano. Adquirindo com isso um caráter de anti-estrutura que tende sempre para a communitas, que segundo Turner, é a principal motivação dos peregrinos; ou seja, a superação de comportamentos convencionais e papéis sociais vividos na estrutura cotidiana e restaurar o essencial de sua individualidade na experiência da communitas. Nesse sentido, Pereira observa que, embora a peregrinação freqüentemente é realizada em grupo, às experiências estão marcadas pelo forte caráter pessoal e experiências individuais. Portanto, dentro deste modelo construído por Victor Turner, pode-se falar de uma estrutura peregrínica, que nos remete necessariamente à experiência da communitas, produtora de um espaço simbólico onde as regras sociais, as hierarquias e os constrangimentos morais são dissipados. O que torna a peregrinação, na sua forma tradicional, uma crítica à sociabilidade do cotidiano e à vida moderna, que se organiza a partir da divisão social do trabalho e da produção de múltiplo status sociais.

Resumindo, para uma melhor visualização do paradigma de interpretação proposto por Turner, no estudo das peregrinações, apresentamos o esquema seguinte:

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↓ ↓ ↓ ↓

Estrutura Anti-estrutura Superação do Reintegração Processo Ritual ao Cotidiano

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Povo de Deus. Desse modo, podemos dizer que a peregrinação nos moldes contemporâneos, no caso do Brasil, os novos caminhos sagrados ou as novas rotas de peregrinações como são chamados, são viagens/deslocamentos em direção a uma experiência que ultrapassa as fronteiras locais da sociedade, onde crenças e visões religiosas e culturais enraizadas no local são colocadas em tensão com aspectos universais da fé, das culturas, o que efetivamente caracteriza as peregrinações. Isto é, o estabelecimento de uma linha de continuidade ou uma linha fronteiriça entre peregrinações tradicionais e modernas, respectivamente, só é possível devido à carga de elementos de tradição que permanecem, mesmo na (re) vitalização e modernidade das/nas práticas de peregrinação.

IV – PESQUISA E METODOLOGIA:

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V – RESULTADOS E CONCLUSÕES:

Como conclusões, apresentaremos a seguir, o que chamamos de Sentidos -Emergentes (S-E) a partir do acesso objetivo e interpretativo dos textos, discursos e depoimentos dos agentes e atores sociais do caminho, isto é, traremos à luz o Sentido/Valor/Significado que os próprios sujeitos pesquisados, atribuem a sua própria experiência, que a nosso ver, é mediado por arranjos pessoais de vivências que consolidam um novo ethos de identidade individual e coletiva: o ethos peregrino re-inventado. Nesta ocasião, os dados são ainda preliminares, mas trazem informações significativas as quais serão aprofundadas no decorrer da pesquisa.

VI – SENTIDOS-EMERGENTES (S-E):

Foram valorizados alguns exemplos de expressões que se (re) velaram a mim, e categorizados como sentidos-emergentes (S-E) intencionalmente comunicados e significativos a respeito da experiência do caminho na visão seus participantes. Imagens universais que revelam o universo místico-religioso constituinte do evento Passos de Anchieta. Estes sentidos, nem sempre convergem para o mesmo significado, dependendo do agente social específico (participante ou promotor). As categorias mais significativas encontradas no discurso dos participantes estão apresentadas como segue:

♦ O caminho como espacialidade místico-religiosa. ♦ Dimensão psico-espiritual – Auto- afirmação do Eu.

♦ Rompimento com a lógica individualista. O fazer do caminho, uma experiência compartilhada, coletiva e comunitária – Abrir fronteiras. Abrir-se ao outro.

♦ Dimensão individual do caminho. Como uma jornada interior. Uma espacialidade vivida. Tomada de consciência de si e do outro. Conhecimento interior e exterior (entorno).

♦ Atingir seu objetivo – A chegada – Realização pessoal e coletiva.

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ABAPA (1998). Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta. Site: htpp//www.abapa.org.Br.

ABUMANSSUR, Edin Sued. (2003) “Turismo Religioso: ensaios antropológicos sobre religião e turismo”. Campinas, SP: Papirus.

AMATTUZI, Mauro Marins. (2001). Por uma Psicologia Humana. Campinas, SP: Editora Alínea

CARNEIRO, Sandra Maria Corrêa de Sá. (2002). “O Caminho de Santiago de Compostela: o sentido de uma peregrinação moderna”. Tese de Doutoramento – UFRJ.

EAD, John & SALLONOW, Michel. (1991). Contesting the Sacred. The Anthropology of pilgrinage. London/New York: Routhedge.

FERNANDES, Ruben César. (1982). “Os Cavaleiros do Bom Jesus: uma introdução às religiões populares”. São Paulo: Brasiliense.

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Referências

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