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ESTRATÉGIAS DE ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO, BENEFICIÁRIOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

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ESTRATÉGIAS DE ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO, BENEFICIÁRIOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Rosy Lene Macena de Britto1

Márcia Regina do Nascimento Sambugari2

Resumo:

A presente pesquisa teve como objetivo analisar a visão de alunos do Ensino Médio que são beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF) acerca de sua passagem para o Ensino Médio, a fim de verificar as dificuldades enfrentadas, bem como os motivos que os levaram a dar continuidade nos estudos. Para tanto, partiu do pressuposto de que alunos em situação de pobreza e extrema pobreza possuem maiores dificuldades para ingressarem o Ensino Médio. Para garantir o acesso e permanência dos alunos nessas condições, foi criado desde 2003 o PBF. No entanto, será que os alunos beneficiários do PBF chegam ao Ensino Médio? Qual a visão do aluno beneficiário acerca da sua entrada no Ensino Médio? Que dificuldades foram enfrentadas? A situação de vulnerabilidade social se constitui, de fato, um dos empecilhos para a entrada no Ensino Médio? O PBF tem garantido esse acesso e permanência desses alunos? O que a família tem feito nesse processo de escolarização? Por que é tão grande o número de alunos que não conseguem chegar ao Ensino Médio? Qual a relação dessa situação de fracasso com a pobreza? Que estratégias de escolarização os alunos em condições de vulnerabilidade utilizaram para entrarem no Ensino Médio? Numa abordagem qualitativa quatro alunos beneficiários do PBF responderam um questionário com questões fechadas e abertas. Com a realização desse estudo buscou-se compreender a relação pobreza e desempenho escolar e contribuir na compreensão do mundo que a pobreza transforma e como isso interfere na vida escolar dos alunos de escola pública.

Palavras-chave: Pobreza. Alunos. Ensino Médio.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa parte do pressuposto de que alunos em situação de pobreza e extrema pobreza possuem maiores dificuldades para ingressarem o Ensino Médio. Alguns

1Aluna do curso de Especialização Educação, pobreza, Desigualdades Sociais (EPDS). Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal (CPAN). Professora de Língua Portuguesa e Artes na rede estadual de ensino de Mato Grosso do Sul.

2Orientadora. Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora do Programa de Pós-graduação em Educação, nível Mestrado e do Curso de Pedagogia do Campus do Pantanal (CPAN) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: marcia.sambugari@ufms.br

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estudos, tais com o de Gisi (2004) apontam que tais dificuldades estão relacionadas com as oportunidades tanto culturais, quanto sociais propiciadas pelas famílias, e sem “[...] tais oportunidades, os alunos já iniciam sua trajetória escolar em desvantagem” (GISI, 2004, p. 9).

Para garantir o acesso e permanência dos alunos nessas condições, foi criado desde 2003 o Programa Bolsa Família (PBF) que tem como objetivo complementar a renda da família, atrelando-a a educação e à permanência na escola. No entanto, será que os alunos beneficiários do PBF chegam ao Ensino Médio? Qual a visão do aluno beneficiário acerca da sua entrada no Ensino Médio? Que dificuldades foram enfrentadas? A situação de vulnerabilidade social se constitui, de fato, um dos empecilhos para a entrada no Ensino Médio? O PBF tem garantido esse acesso e permanência desses alunos? O que a família tem feito nesse processo de escolarização?

A escolha pela temática deu-se pela minha experiência como professora de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental e Médio, ao perceber ao longo dos anos a quantidade de alunos que não conseguem entrar no Ensino Médio. Os dados do Censo escolar também evidenciam essa situação. De acordo com o senso escolar 2015 (INEP, 2015), na rede estadual de ensino houve 3312 alunos matriculados nos Anos Finais do Ensino Fundamental, enquanto que no Ensino Médio havia 2879 matriculados. Essa realidade suscitou outras questões: por que é tão grande o número de alunos que não conseguem chegar ao Ensino Médio? Qual a relação dessa situação de fracasso com a pobreza? Que estratégias de escolarização os alunos em condições de vulnerabilidade utilizaram para entrarem no ensino Médio?

Diante desses questionamentos, esse estudo buscou investigar a visão de alunos beneficiários do PBF que estão no Ensino Médio, acerca de sua passagem para o Ensino Médio, a fim de verificar as dificuldades enfrentadas, bem como os motivos que os levaram a dar continuidade nos estudos.

Teve como objetivo geral investigar a visão de alunos beneficiários do PBF que estão no Ensino Médio de uma escola da rede estadual de ensino de Corumbá, MS, acerca de sua passagem para o Ensino Médio, a fim de verificar as dificuldades enfrentadas, bem como os motivos que os levaram a dar continuidade nos estudos.

Como objetivos específicos, verificamos as dificuldades enfrentadas pelos alunos na passagem para o Ensino Médio; e buscamos conhecer as contribuições da família com relação à escolarização de seus filhos.

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Inserida no eixo ‘escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza’, do curso de especialização em educação, pobreza e desigualdade social, a pesquisa busca contribuir com as discussões acerca das dificuldades dos alunos em ingressarem no Ensino Médio e sua relação com a pobreza, em busca de propostas que minimizem essa realidade no cotidiano das escolas.

O artigo está organizado em cinco partes contando a introdução e as considerações finais. A primeira parte introduz a pesquisa, informando os objetivos e a origem desse estudo. Na segunda parte apresentamos uma discussão teórica acerca da pobreza, desempenho escolar e as estratégias de escolarização. A terceira parte trata do percurso metodológico. Na quarta seção estão descritos os dados e, por fim, constam as considerações finais.

2 POBREZA, DESEMPENHO ESCOLAR E ESTRATÉGIAS DE ESCOLARIZAÇÃO Para compreender a relação da pobreza com o desempenho escolar é que a presente pesquisa foi pensada, buscando realizar um diálogo com autores que investigam a relação educação e pobreza (CRESPO, GUROVITZ, 2002) bem como estratégias de escolarização (GISI, 2004) e os estudos sobre o PBF (REGO, PINZANI, 2013).

Crespo e Gurovitz (2002) abordam os diferentes conceitos de pobreza sob a perspectiva histórica, ao longo do século XX. Para os autores é de suma importância nos estudos sobre pobreza compreender os diversos conceitos a fim de permitir

[...] uma visão mais clara e analítica do objeto de estudo. Ao compreender a complexidade do fenômeno, seus diferentes conceitos e formas de abordagem, torna-se possível conceber políticas públicas que busquem trazer soluções eficazes para o problema (CRESPO, GUROVITZ, 2002, p. 03). Para tanto discutem três concepções sobre a pobreza desenvolvidas ao longo do século XX que avaliam como principais: a da sobrevivência, a das necessidades básicas e a da privação relativa. Ressaltam que conceituar pobreza é muito complexo, pois pode ser vista apenas sob o enfoque econômico, ou apenas como juízo de valor, mas também de maneira contextualizada. Diante disso os autores conceituam pobreza como

[...] fenômeno multidimensional em que há a falta do que é necessário para o bem-estar material. Associa-se a esse conceito a falta de voz, poder e independência dos pobres que os sujeita à exploração; à propensão à doença; à falta de infra-estrutura básica, à falta de ativos físicos, humanos, sociais e ambientais e à maior vulnerabilidade e exposição ao risco (CRESPO, GUROVITZ, 2002, p. 11).

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Gisi (2004), ao investigar acerca dos fatores que influenciam as dificuldades enfrentadas pelos alunos de origem popular em sua trajetória escolar evidencia que tais dificuldades estão relacionadas às condições socioeconômicas e escolarização dos pais. Seu estudo apontou para a necessidade de políticas públicas para a democratização do acesso e permanência dos alunos nas escolas públicas.

O PBF pode ser considerado como uma dessas políticas, com a finalidade em contribuir com a permanência do estudante na escola. Ao acompanharem e entrevistarem 150 famílias beneficiárias de algumas regiões mais pobres do Brasil, o estudo de Rego e Pinzani (2013) evidenciou que o planejamento do gasto do benefício pelas famílias está mais voltado à garantia da alimentação, roupas e material escolar de seus filhos, sendo para muitos a primeira renda regular, desmistificando a ideia de que o benefício é utilizado para outros fins e não diretamente para atender as necessidades básicas dos filhos.

Diante desse contexto das pesquisas aqui descritas é que buscamos compreender melhor como os alunos do Ensino Médio que são beneficiários do PBF percebem a contribuição, ou não do programa em sua trajetória escolar e em sua perspectiva de continuidade nos estudos.

3 METODOLOGIA

Essa pesquisa, de natureza qualitativa, contou primeiro com um estudo sobre a pobreza, desempenho escolar e estratégias de escolarização a partir dos materiais dos módulos disponibilizados no curso de Especialização Educação, pobreza, Desigualdades Sociais, bem como de periódicos disponíveis nos bancos de dados na internet.

Os sujeitos deste estudo foram sete alunos do Ensino Médio de uma escola da rede estadual de ensino de Corumbá, MS que são beneficiários do PBF.

Como procedimentos para coleta de dados foi realizado um levantamento do número de alunos beneficiários matriculados em 2016 no 9º ano do Ensino Fundamental e no 1º ano do Ensino Médio. Também contou com um questionário respondido pelos alunos. Para acesso ao número de alunos matriculados e aos alunos, sujeitos da pesquisa, foi elaborado o termo de autorização da Instituição (Apêndice A).

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O questionário com os alunos foi realizado a partir de um roteiro semiestruturado (Apêndice B) elaborado a partir do instrumento elaborado por Sambugari (2010). Os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) a fim de assegurar o anonimato dos mesmos, conforme as normas de ética da UFMS (Apêndice C). Os dados foram analisados a partir do diálogo com autores que abordam a temática.

4 OS SUJEITOS DA PESQUISA E SUAS ESTRATÉGIAS DE ESCOLARIZAÇÃO Para fazermos a seleção dos sujeitos da pesquisa foi importante verificar primeiramente o número de alunos beneficiários nas turmas do ensino Médio. Coletamos os dados também do 9º ano do Ensino Fundamental para verificarmos se há muita diferença na quantidade de beneficiários nessa passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio.

A seguir apresentamos na Tabela 01 o número de alunos beneficiários, que estão no 9º ano do Ensino Fundamental e no Ensino Médio na relação com o número total de alunos matriculados em 2016.

Tabela 01: Número de alunos beneficiários matriculados na escola em 2016

Alunos Nível de ensino/Ano

Alunos matriculados

Total

Regulares Beneficiários

Ensino Fundamental 9º Ano 27 14 41

Ensino Médio

1º Ano 49 16 65

2º Ano 27 09 36

3º Ano 26 07 33

Total 129 46 175

Fonte: Dados disponibilizados pela secretaria da Escola, 2016.

Conforme podemos observar na tabela, dos 41 alunos matriculados no 9º ano do Ensino Fundamental, 14 são beneficiários. Dos 134 matriculados no Ensino Médio, 32 são alunos beneficiários do PBF. A concentração maior de beneficiários está no 1º ano do Ensino Médio, totalizando 16 alunos. No entanto ao analisarmos a relação de matriculados e beneficiários é possível inferirmos que há uma queda no número de beneficiários no 1º ano do Ensino Médio com relação ao 9º ano do Ensino Fundamental, uma vez que dos 45 alunos 14 são beneficiários, enquanto no 1º ano do Ensino Médio, dos 65 há apenas 16 alunos beneficiários, confirmando o pressuposto de que na passagem do Ensino Fundamental para o

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Ensino Médio há uma queda na entrada de alunos com maior vulnerabilidade social e em situação de extrema pobreza.

Com esse mapeamento partimos para a seleção dos sujeitos em que consistiu na entrega do questionário para os alunos beneficiários do PBF que estão no Ensino Médio que tivessem interesse em participar do estudo. Para tanto informamos os objetivos da pesquisa e os alunos interessados assinaram o TCLE, juntamente a seus pais e/ ou responsáveis.

Dessa maneira, esse estudo conta com sete sujeitos, sendo três mulheres e quatro homens que estão identificados com nomes fictícios para assegurar o anonimato de seus dados pessoais. A Karol, o Danilo e a Iara estudam o 1º ano; o Daniel e o Yuri frequentam o 2º ano e a Bianca e o Marcelo cursam o 3º ano do Ensino Médio.

A seguir apresentamos os dados referentes ao perfil desses sujeitos, bem como suas estratégias de escolarização.

4.1 DANILO, ESTUDANTE DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

O Danilo tem 17 anos, nasceu e vive em Corumbá, onde sempre morou. Possui oito irmãos, sendo o sexto na posição de nascimento. Mora com a avó, irmã, tia, primo e sobrinha, sendo a avó a principal provedora da família. Ele não considera a sua família pobre porque “[...] dá para sobreviver”.

Com relação a sua escolarização, das disciplinas cursadas no Ensino Fundamental Danilo sempre gostou de Educação Física e não gostava de Matemática, embora tivesse muita facilidade. Sempre teve dificuldades em Português. Sua avó é exigente com relação a sua nota, e o apoia pois “[...] eu sou o único que ainda não desistiu”. Ficou retido duas vezes no 7º ano do Ensino Fundamental.

Com relação à entrada no Ensino Médio, informou que foi boa e as conversas com a turma de aula é uma das dificuldades que enfrentou. Relata que sentiu muita diferença na passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio.

Quanto às perspectivas futuras Danilo pretende cursar no ensino superior Biologia “[...] aqui mesmo na UFMS de Corumbá, minha meta vou tentar até o fim”.

A motivação para continuar estudando é que “[...] minha família, ela sempre foi humilde isso me ensinou que sem estudo não terei o que eu sonho” .

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4.2 KAROL, ALUNA DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

Karol tem 15 anos de idade, mora em Corumbá onde nasceu e já morou em outra cidade. Possui dois irmãos, sendo ela a mais velha. Vive com sua mãe, pai e irmãos, sendo o seu pai o principal provedor da família.

Considera sua família pobre porque “[...] em minha casa vivemos com um salário mínimo, com algumas dificuldades, algumas vezes as contas atrasam, entre outras coisas”.

Das disciplinas cursadas no Ensino Fundamental, sempre gostou de Ciências e Geografia, tendo muita facilidade e não gostava da Matemática, pois tinha muita dificuldade e nunca ficou retida. Seus pais são exigentes com suas notas, pois “[...] eles me colocaram nessa escola para estudar, para ter uma boa profissão”. Seus pais contribuem para que ela tenha um bom desempenho, pois “[...] sempre tem me ajudado com os meus trabalhos, apesar de às vezes não saberem os conteúdos, sempre me deixaram ir na casa de uma amigo meu que sempre me ajuda”.

Quanto a sua entrada no Ensino Médio, Karol informou que foi interessante, que é bastante coisa ao mesmo tempo e que, apesar dessa dificuldade foi tranquila a passagem do Ensino Fundamental para o Médio, pois os professores explicavam bem e com isso consegue tirar boas notas.

Com relação às perspectivas futuras pretende fazer nutrição porque “[...] em minha família está tendo um caso de doença, tudo por causa da má alimentação e isso me estimulou muito”. Sua motivação para continuar estudando é “[...] porque quero um futuro melhor que o entrar na marinha, dar condições melhores para a minha família”.

4.3 IARA, ALUNA DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

Iara tem 16 anos, nasceu e mora e Corumbá, mas já morou em outras cidades. Segunda filha de dois irmãos mora com sua mãe, dois irmãos e três sobrinhas, sendo a sua mãe a principal provedora da família. Não considera a sua família pobre “[...] porque não tivemos nenhuma dificuldade financeira”.

Em sua escolarização no Ensino Fundamental gostava de Educação Física e tinha facilidade em Geografia. Não gostava de Matemática, tendo muita dificuldade.

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Seus pais são exigentes com relação à suas notas porque não querem que ela repita o ano e nem fique de exame e sempre a acompanha perguntando se tem tarefa, provas. Nunca ficou retida em alguma série.

Iara relata que a sua entrada no Ensino Médio foi tranquila, não faltou muito às aulas e sempre tirou notas boas, mas teve dificuldades nas matérias novas. Para Iara “[...] estudar no Ensino Fundamental foi muito legal porque participei de vários projetos e aprendi muita coisa. Chegar no Ensino Médio foi uma vitória para mim, pensei que não ia conseguir chegar ao Ensino Médio”.

Quanto às suas perspectivas de estudos, ela pretende cursar nível superior em Dança em São Paulo, “[...] porque gosto muito de dançar e participei de alguns projetos que tem a dança na escola”.

Com relação à motivação para continuar estudando, Iara destaca que “[...] realizarei meus sonhos, aprenderemos muita coisa, e que estudar não é só na escola, na faculdade, é para a vida toda”

4.4 DANIEL, ALUNO DO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO

Daniel tem 18 anos, nasceu e sempre morou em Corumbá. Possui sete irmãos, sendo o mais novo, e mora com um irmão e sua mãe, sendo o seu irmão o principal provedor da família. Considera sua família pobre porque passam por dificuldades financeiras.

Em sua escolarização gostava de Biologia e tinha muita facilidade em Filosofia, não gostava de Matemática e tinha muita dificuldade. Relata que sua mãe é exigente com relação às suas notas e contribui com o seu desempenho na escola dando bons conselhos. Considera a sua entrada no Ensino Médio regular, pois teve algumas dificuldades, uma delas refere-se a quantidade de disciplinas.

Quanto ao curso superior pretende fazer Teologia, pois “[...] quero aprender mais sobre Deus”. Aprender, educar e ter um futuro melhor para ele e sua família são as motivações para continuar os estudos.

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Yuri tem 18 anos, nasceu e sempre morou em Corumbá. Possui quatro irmãos, sendo o caçula, o quinto na posição de nascimento. Mora com a mãe, irmã e sobrinhos, sendo a sua mãe é principal provedora da família. Considera a sua família pobre “[...] porque não posso estudar em escola particular e no momento estamos sem carro”.

Gostava muito de Geografia e tinha facilidade em sua escolarização no Ensino Fundamental, mas não informou a disciplina que não gostava e que tinha dificuldades. Sua mãe é exigente com relação às suas notas, justificando que “[...] minha mãe quer sempre o melhor para mim”. Ficou retido no 2º e 6º ano do Ensino Fundamental.

Com relação a passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio Yuri considerou tranquila, relatando que no Ensino Fundamental não tinha muita seriedade e que sua família o incentiva para que continue estudando.

Pretende fazer Direito na UFMS e deseja continuar os estudos para “[...] ser alguém na vida. Hoje você não é ninguém sem estudar”.

4.6 BIANCA, ALUNA DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO

Bianca tem 18 anos, nasceu em São Paulo e mora em Corumbá e já morou em outras cidades. Tem três irmãos dos quais é a terceira. Vive com a mãe e o irmão mais novo, sendo a sua mãe a principal provedora da família. Considera a sua família pobre porque “[...] a minha mãe não tem Ensino Médio completo e não tem curso superior, por isso a renda não é uma maravilha”.

Com relação a sua escolarização, sempre gostou de Português, Ciências e Geografia, tendo muita facilidade. Não gostava de Matemática, História e Inglês, tendo dificuldades em Matemática.

Seus pais são exigentes com suas notas porque “[...] o objetivo deles é eu ter melhores condições e qualidade de vida no futuro”. Eles contribuem para que ela tenha um bom desempenho na escola incentivando e investindo em sua formação. Informou que nunca ficou retida em alguma série.

Com relação ao percurso realizado do Ensino Fundamental ao Ensino Médio, Bianca relatou que “[...] foi empolgante estudar o Ensino Fundamental, pois apesar das dificuldades em algumas disciplinas, os assuntos, conteúdos eram interessantes conhecer. No Ensino Médio também, gosto de buscar o conhecimento e aprender mais”.

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Ela pretende fazer Jornalismo ou Letras em Campo Grande “[...] porque é algo que tenho interesse, e adorava Língua Portuguesa”, sendo o progresso e melhoria de vida os motivadores para continuar os estudos.

4.7 MARCELO, ALUNO DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO

Marcelo tem 18 anos, nasceu e mora em Corumbá, e nunca morou em outra cidade. Tem um irmão, sendo o mais novo, caçula, vive com seu pai e sua mãe, sendo o seu pai o principal provedor da família. Não considera a sua família pobre porque “[...] nunca nos falta nada em nossa mesa”.

Em sua escolarização sempre gostou de Geografia, Português e Artes e não gostava de Ciências e Matemática. Sempre teve facilidade em Português e Artes e dificuldades em Matemática. Seus pais são exigentes com relação à suas notas, principalmente o seu pai e sua mãe sempre diz para ele estudar, contribuindo dessa maneira para com o seu desempenho na escola. Ficou retido no 2º ano do Ensino Médio.

Avaliou como boa a sua entrada no Ensino Médio, pois aprendeu coisas novas, matérias novas, porem teve dificuldades em algumas matérias e que o Ensino Fundamental era bem diferente do Ensino Médio.

Informou que não pretende cursar a universidade, mas quer continuar estudando, concluir o Ensino Médio, pois “[...] quero crescer na vida, ser alguém na vida, ter um bom trabalho e uma boa vida”.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos depoimentos dos alunos beneficiários do PBF sobre seus percursos de formação e perspectivas futuras de estudo evidenciou o quanto para a camada popular o investimento nos estudos para buscar melhores condições de vida é bem evidente e confirma o que Zago (2007) revelou em seus estudos de que os jovens oriundos de famílias de camadas populares passam por muitas dificuldades em seus percursos de vida, porém não deixam de sonhar e buscar novas perspectivas de vida. Dos seis alunos, sujeitos desse estudo, apenas um não tem perspectiva de fazer um curso superior.

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Diante dessa realidade, faz-se necessário, conforme aponta a autora, conhecer o contexto e necessidades dos alunos que não conseguem vencer as dificuldades para que possam ter sucesso em suas trajetórias escolares.

Com a realização da presente pesquisa foi possível compreender a relação pobreza e desempenho escolar e contribuir na compreensão do mundo que a pobreza transforma e como isso interfere na vida escolar dos alunos de escola pública.

6 REFERÊNCIAS

CRESPO, A. P. A.; GUROVITZ, E. A pobreza como um fenômeno multidimensional.

RAE-eletrônica, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 1-12, jul./dez. 2002.

GISI, M. L. As desigualdades na trajetória escolar – do início do processo de escolarização até à educação superior. REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 27, p. 1-11. Anais... Caxambu: Anped, 2004.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo escolar 2015. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em 10 ago 2016.

REGO, W. L.; PINZANI, A. Vozes do bolsa família: autonomia, dinheiro e cidadania. São Paulo: Unesp, 2013.

SAMBUGARI, M.R.N. Socialização de futuros professores em situações de estágio

curricular, 2010. 166p. Tese (Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade) -

Pontifica Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2010.

ZAGO, N. Processos de escolarização nos meios populares: as contradições da

obrigatoriedade escolar. In: NOGUEIRA, M. A.; ROMANELLI, G.; ZAGO, N. (Org).

Família e escola: trajetórias de escolarização em camadas médias e populares. 3 ed.

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