ANÁLISE DOS GASTOS COM MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO APÓS A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE COMPRAS ATRAVÉS DA MODALIDADE DE LICITAÇÃO “PREGÃO” NA SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ, NO PERÍODO DE 2001 A 2004
ANA LÚCIA CARNEIRO BEZERRA
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INTRODUÇÃO
A Constituição Federal em vigor, promulgada em 1988, em seu art. 37, inciso XXI determina a obrigatoriedade de realização de licitação pelo poder público para contratações de obras, serviços, compras e alienações.
A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, alterada pelas leis nos 8.883/94, 9.032/95 e 9.648/98, que regulamenta o art. 37, inciso XXI da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública. Esta Lei de forma geral, trouxe grandes avanços e moralização no procedimento da aquisição de compras e serviços para a Administração Pública, porém muitas críticas foram feitas em razão da morosidade da conclusão do processo, haja vista os prazos legais exigidos para sua realização, além dos prazos de recursos, o que vem muitas vezes atrasar a conclusão do processo e conseqüentemente o atendimento à população não se faz a contento. Grandes problemas foram observados, principalmente, em virtude dos prazos legais, que muitas vezes, se arrastavam, não se concluindo em tempo oportuno, fazendo-se necessário um estudo minucioso de forma a identificar um modo mais ágil e eficiente para as aquisições públicas.
O Governo Federal, sensível à questão, em 2002, promulgou a Lei no 10.520, de 17 de julho de 2002, na qual instituí para o âmbito da União, dos estados e municípios a modalidade de licitação denominada “pregão”.
Em vista do exposto, e considerando que, entre os itens de medicamentos adquiridos, aqueles que representam maior valor de custo são os medicamentos excepcionais (alto custo), o presente trabalho tem como objetivo principal realizar a análise dos gastos desses medicamentos após a implantação do sistema de compras na modalidade de licitação “pregão”, na Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA), no período de 2001 a 2004, de forma a verificar se esta nova forma de aquisição é mais eficiente, levando em consideração planejamento, funcionalidade, bem como a relação custo-beneficio.
Os Objetivos Específicos são: Avaliar os impactos nos gastos de medicamentos de alto custo com a introdução da modalidade de licitação pregão na SESA; - Avaliar se a modalidade de licitação pregão é eficiente (preço/custo) para aquisições de medicamentos de
alto custo na SESA; - Comparar os gastos com medicamentos de alto custo adquiridos por meio das modalidades comuns de licitação e mediante pregão; - Comparar os preços dos medicamentos de alto custo adquiridos através de pregão no Estado do Ceará e Estado de Minas Gerais.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A fundamentação teórica do presente trabalho esta focada em dois pontos chaves: de um lado a realização de licitação para aquisição de medicamentos de alto custo através das modalidades tradicionais de licitação e de outro lado se a aquisição de referidos medicamentos através da nova modalidade de licitação denominada “pregão” e em particular se referida modalidade é eficaz na redução de custos significativos para a SESA.
A licitação é um procedimento. A estrutura atribuída a essa série ordenada de atos varia de acordo com a modalidade adotada no processo licitatório.
O art. 22 da lei de Licitações (Lei no 8.666/93), define como modalidades de licitação: I – Concorrênci; II – Tomadade de Preços; III – Convite; IV – Concurso e V – Leilão.
As modalidades comuns são utilizadas para qualquer tipo de contratação e classificadas segundo o valor do objeto a ser licitado, e diferenciam-se entre si por variação na estrutura procedimental de suas fases, possuindo disciplinas legais diversas nas fases de divulgação, proposição e habilitação. São modalidades comuns: concorrência (leva em torno de 85 dias para ser concluída), tomada de preços (prazo de conclusão é em média de 67 dias) e convite ( O prazo médio para conclusão é de 39 (trinta e nove) dias).
Em 2002, pela Lei no 10.520, de 17 de julho, foi instituída no País a modalidade de licitação denominada pregão. Pregão é uma modalidade de licitação a ser adotada pela Administração Pública nas aquisições de bens e serviços comuns, na qual a disputa pelo fornecimento acontece mediante sessão pública, por meio de proposta e lances, para a classificação e habilitação do licitante que ofertou o menor preço.
O legislador trouxe como finalidade do pregão:- agilidade nas aquisições de bens e serviços comuns ; - redução de despesa através da negociação em ato público, onde ganha a empresa que ofertar o menor preço; - redução do tempo necessário para a concretização do certame visto que o prazo de realização é de 08 dias úteis;.- Poderá ser realizado na forma presencial (pregão presencial) ou na forma eletrônica (pregão eletrônico). Na forma eletrônica, é realizado através da Rede Mundial de Computadores “INTERNET”.
pregão é em torno de 19 (dezenove) dias.
O Programa Estadual de Medicamentos de Alto Custo engloba um grupo de medicamentos destinados ao tratamento de enfermidades de alta complexidade que atingem um número de pacientes, e que, na maioria das vezes, são utilizados por um tempo prolongado. Entre os usuários desses insumos estão os portadores de insuficiência renal crônica, de doenças genéticas (doença de Gaucher) e os transplantados.
Conforme dados levantados na Célula de Economia da Saúde da SESA/CE, o total de gasto com medicamentos em geral, para os anos de 2001 a 2004, foi da ordem de R$ 235.386.086,84 sendo que desse valor R$ 120.076.531,06 representa gasto com medicamentos de alto custo (excepcionais).
3. METODOLOGIA
As fontes de dados e informações utilizadas para avaliar os gastos da SESA com medicamentos de alto custo, após a implantação da modalidade pregão, foram as seguintes: Bibliográfica (Doutrina, jurisprudência e legislação) e Documentária (Pesquisas junto a: Comissão Permanente de Licitação (CPL) da SESA; Célula da Economia da Saúde (CECONS); Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABC Farma);. Núcleo de Assistência Farmacêutica da Secretaria da Saúde (NUASF)); bem como pesquisa junto a PR Vade-mécum quanto às referências e associações entre marcas dos medicamentos e os correspondentes fabricantes e princípios ativos dos medicamentos no mercado brasileiro.
Das informações levantadas junto à Comissão Permanente de Licitação da SESA, 107 itens de medicamentos foram selecionados como escopo de estudo do trabalho, no entanto, dentre os itens de medicamentos de alto custo, foi objeto de licitação nas modalidades de concorrência pública (CP), tomada de preços (TP), pregão eletrônico (PE) e presencial (PP) um total de 27 a 68 itens de medicamentos no período de 2001 a jan/2005.
No levantamento das informações de preços unitários do mercado varejista farmacêutico junto à ABC Farma, nem todos os medicamentos licitados estavam disponíveis no mercado varejista farmacêutico. Assim, os itens de medicamentos com os preços de mercado identificados representaram de 72% a 85% do total dos itens selecionados.
A análise de comparação entre as diferentes modalidades de licitação nos diversos anos com relação a eficiência do processo de licitação e economia com os gastos de
medicamentos foram realizadas de acordo com uma árvore de hipóteses. Esta árvore de hipóteses é uma ferramenta poderosa que auxilia na identificação nas análises a serem realizadas, na estruturação das informações e na fonte das informações a serem selecionadas.
Figura 1 – Árvore de hipóteses
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a árvore de hipóteses e da estrutuação das informações levantadas, as análises se basearam em 03 (três) premissas básicas principais. Para cada premissa foram identificadas análises complementares que reforçam a argumentação da premissa principal. As análises complementares que julgam a validade das premissas básicas principais foram estruturadas em 03 (três) grupos de análises: Perfil dos processos de licitação (premissa 1); Perfil das empresas participantes (premissa 2) e economias atingidas (premissa 3).
O presente estudo visa apresentar se a modalidade pregão tem trazido economias significativas para a SESA (premissa 3).
A eficiência das licitações em termos econômicos (premissa 3) foi avaliada e comparada entre as diferentes modalidades de licitação, bem como a sua eficiência frente às compras de medicamentos de alto custo do Estado de Minas Gerais. Os impactos econômicos das diferentes modalidades de licitação em cada período do escopo do estudo foram analisados nos seguintes tópicos: performance de compras por modalidade de licitação, economia atingida por número de empresas participantes, economia atingida por item de medicamentos e economia atingida por número de processos de licitação.
A introdução da modalidade de licitação pregão tem resultado em reduções significativas de gastos e em eficácia no atendimento dos medicamentos de alto custo frente às outras modalidades
Mensagem principal
A modalidade pregão tem permitido a participação de um maior número de empresas nas licitações e alterado o perfil dos
fornecedores para empresas fabricantes
Premissa 2
Economias significativas têm sido atingidas com a modalidade pregão frente às demais modalidades
Premissa 3
Dentre as modalidades de licitação, o pregão se apresentou a mais eficiente na gestão pública de medicamentos de alto custo
Conclusão
A modalidade pregão tem se apresentado a modalidade mais eficiente em termos de prazos em comparação as outras modalidades
Premissa 1
Itens de medicamentos Processos de licitação por item Modalidade de licitação por item Data de lançamento Data de adjudicação/ homologação
CPL – SESA – Ceará NUASF – SESA – Ceará Período 2001 a 2004
CPL – SESA – Ceará NUASF – SESA – Ceará Período 2001 a 2004
CPL – SESA – Ceará CPL – SESA – Minas Gerais NUASF – SESA – Ceará ABCFarma 2001 a 2004 FIPE/FGV/IBGE Itens de medicamentos
Processo de licitação por item Modalidade de licitação por item Número de empresas
participantes por processo de licitação Nome empresa vencedora
Itens de medicamentos Processos de licitação por item Modalidade de licitação por item Preço unitário por apresentação Quantidade licitada por processo % de reajuste de 2001 a 2004
Quais informações a serem levantadas?
Quais informações a serem levantadas?
Quais informações a serem levantadas?
Quais Fontes? Quais Fontes? Quais Fontes?
Por quê? Então
Para avaliação da “performance” de compras ou da economia atingida em relação aos preços de mercado varejista farmacêutico nas diferentes modalidades de licitação, foi utilizada a fórmula de cálculo do índice de performance de compras (IPC).
O índice de “performance” de compras consiste na resultante do gasto total de compras licitada sobre o gasto total de compras no mercado varejista farmacêutico.
A fórmula de cálculo para cada item de medicamento se resume a:
IPCi = PUGi x Qi PUMi x Qi
i: item de medicamento de alto custo – Governo IPCi: índice de performance de compras
Qi: quantidade do item de medicamento licitado PUGi: preço unitário do item de medicamento licitado
PUMi: preço unitário do item de medicamento no mercado farmacêutico
A fórmula de cálculo para um elenco de ites de medicamento adquiridos em uma modalidade de licitação se resume a:
IPCi = ∑iPUGi x Qi ∑ jPUMi x Qi
i: item de medicamento de alto custo – Governo IPCi: índice de performance de compras
Qi: quantidade do item de medicamento licitado PUGi: preço unitário do item de medicamento licitado
PUMi: preço unitário do item de medicamento no mercado farmacêutico
Em ambas fórmulas, i varia conforme o número de itens de medicamentos de alto custo em estudo.
Mediante da fórmula de cálculo do IPC, foi avaliado o impacto de economia de cada modalidade de licitação. Para melhor avaliação da performance de licitação, a tabela de avaliação a seguir foi montada.
Tabela 1 – Avaliação de performance de licitação
IPC Avaliação performance de
licitação Comentários
1,0 Regular Preço da licitação igual ao preço
de mercado (PUGi=PUMi)
Maior que 1,0 Ruim
Preço da licitação maior que o preço de mercado
Menor que 1,0 Ótimo
Preço da licitação menor que o preço de mercado
(PUGi>PUMi)
Fonte: CPL/SESA
Avaliando o Índice de Performance de Compras (IPC) para cada modalidade de licitação em cada ano, todas as modalidades se apresentam como sendo competitivas em termos de redução de custos, no entanto, uma avaliação apartir de 2003, após a introdução da modalidade pregão, observam-se índices de IPC competitivos de 2003 a 2005, se comparados com os IPCs das demais modalidade.
5 CONCLUSÕES
Os resultados das análises confirmam a premissa 3 apresentada na árvore de hipóteses, demonstrando que a modalidade pregão dá ensejo a reduções de custos e otimização de processos significativos na aquisição de medicamentos de alto custo do Estado do Ceará em comparação com as demais modalidades.
O estudo procurou apresentar, com base na experiência e dados das licitações da Comissão Permanente de Licitação da SESA, os impactos da introdução da modalidade pregão na gestão pública de aquisição de medicamentos de alto custo. Este estudo poderá ser expandido futuramente para outras naturezas de produtos e serviços adquiridos pela gestão pública. Os benefícios apresentados, no entanto, refletem a disponibilidade de uma ferramenta poderosa da gestão de custos e de otimização de processos para o Estado.
