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IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS FERRAMENTAS NO ENSINO DE BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR E GENÉTICA
Arthur Fernandes da Silva
1Fiamma Ferreira Nogueira
2Arthur Raphael Amorim Alves Esmeraldo
3Francisco Telésforo Celestino Junior
4Sally de França Lacerda-Pinheiro
5INTRODUÇÃO / DESENVOLVIMENTO
No contexto do ensino da Biologia Celular e Molecular, bem como da Genética, no primeiro semestre do Curso de Medicina do Cariri, verificou-se a necessidade de incluir novas metodologias de ensino para instigar o aluno a descobrir todas as nuances dos seus objetos de estudo, de modo a não se restringir às aulas teóricas e leituras dos livros recomendados, bem como facilitar a captação das noções repassadas em sala de aula, aproximando o conteúdo da realidade do acadêmico.
No modelo tradicional de ensino, isto é, o modelo biomédico, a graduação em medicina é tida como formadora de profissionais que se preocupam unicamente com a ausência de doença quando tratam da saúde da população (PAGLIOSA e DA ROS, 2008). Essa visão flexneriana, positivista e reducionista, exclui as dimensões psicológicas, sociais, culturais e espirituais que, como é sabido e reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1990 são também componentes do bem estar do indivíduo, porque influenciam diretamente na qualidade de vida. Segundo Tesser (2008), os valores, os exemplos, os conteúdos, as experiências determinantes ou mais marcantes por que passam os alunos neste contexto os transformam em médicos pouco aptos a trabalharem com criatividade, satisfação e competência na atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesse sentido, metodologias ativas de ensino têm sido pesquisadas e incluídas nas reformas curriculares de diversas faculdades e cursos de medicina brasileiros nos
1 Arthur Fernandes da Silva, acadêmico do 4º período do Curso de Medicina do Cariri, Universidade Federal do Ceará, Barbalha, CE, tucafsilva@gmail.com
2 Fiamma Ferreira Nogueira, acadêmica do 3º período do Curso de Medicina do Cariri, Universidade Federal do Ceará, Barbalha, CE, fiammamed@gmail.com
3 Arthur Raphael Amorim Alves Esmeraldo, acadêmico do 5º período do Curso de Medicina do Cariri, Universidade Federal do Ceará, Barbalha, CE, arthur_esmeraldo@hotmail.com
4 Francisco Telésforo Celestino Junior, acadêmico do 3º período do Curso de Medicina do Cariri, Universidade Federal do Ceará, Barbalha, CE, telesforo_jr@yahoo.com.br
5 Sally de França Lacerda-Pinheiro, professora adjunta II do Curso de Medicina do Cariri, Universidade Federal do Ceará, Barbalha, CE, sallylacerda@hotmail.com
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últimos anos (CYRINO e TORALLES-PEREIRA, 2004) com o objetivo de superar as dificuldades supracitadas e formar médicos que possam enxergar o ser humano em sua integralidade, isto é, que tenham uma visão holística do homem. Contudo, um desafio ainda é humanizar e popularizar a visão de saúde pública e do papel do médico durante a graduação (FERREIRA e SILVA, 2007).
A visão reducionista, de “dono do conhecimento” e materialista do profissional de saúde é um grande obstáculo ao desenvolvimento pleno das capacidades do profissional e de uma assistência de qualidade, que realmente transforme e incentive as pessoas a transformar suas próprias realidades de saúde e de vida.
O presente trabalho visa apresentar as ferramentas de ensino-aprendizagem utilizadas nas disciplinas de Biologia Celular e Molecular e Genética, com alunos do primeiro semestre das turmas 2011.2, 2012.1 e 2012.2 do Curso de Medicina do Cariri.
METODOLOGIA / RESULTADOS
Foram utilizadas seis novas ferramentas no intuito de trazer os conteúdos de sala de aula para mais próximo da realidade do acadêmico e facilitar sua compreensão dos mesmos.
São elas: Fórum de Biologia Molecular e Genética; Atividades Práticas Laboratoriais;
Discussão de Filme; Jornada de Genética; Diário de Eucariótica e Revisões para Teóricas e de Resolução de Exercícios para as provas. Foram trabalhadas as turmas 2011.2 (35 alunos), 2012.1 (40 alunos) e 2012.2 (40 alunos). O único levantamento realizado foi com as atas de presença nas aulas em que se empregaram as novas ferramentas, em ambas as turmas. No mais, o trabalho segue uma linha qualitativa.
O Fórum de Biologia Molecular e Genética consistiu em um momento de estudo prévio de textos sobre o genoma humano e a expressão de genes, e outro momento de resolução de exercícios e apresentação de ferramentas digitais aos alunos no laboratório de informática. Foi-lhes enviado previamente um conjunto de textos na temática da genética para que lessem e interpretassem. No horário combinado, foram reunidos no laboratório para resolução, em grupos, de diversas questões associadas aos textos. A sala foi dividida em grupos e as explanações foram feitas a todos os outros alunos, à professora e ao monitor, sendo corrigidas, quando necessário, avaliadas e comentadas.
Posteriormente, foi feita uma abordagem simplificada das principais bases de dados
científicas, como o portal CAPES, o PubMed / Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online - MEDLINE, a Scientific Electronic Online Library - SciELO e
a Biblioteca Virtual em Saúde – BVS / Biblioteca Regional de Medicina - BIREME,
além de dicas sobre pesquisa científica, elaboração de artigos científicos e pôsteres. Esta
atividade foi feita com a turma 2012.1.
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As Atividades Práticas Laboratoriais foram realizadas em número de 3 (três). A primeira consistiu na extração de DNA de cebola, para a qual foi solicitado dos alunos que levassem alguns materiais, e a atividade foi conduzida no laboratório multidisciplinar pelo monitor, com a supervisão da professora. Durante a atividade, foram explicados passo-a-passo as etapas de realização e os conceitos relacionados. Ao final do experimento, os alunos escreveram uma pequena síntese da atividade, elucidando os porquês dos usos de cada um dos materiais e métodos. Foi satisfatória a realização do procedimento, podendo os alunos visualizar os filamentos de DNA por eles extraídos ao final do experimento. Esta atividade foi feita com as turmas 2012.1 e 2012.2.
A segunda atividade baseou-se na preparação de lâminas histológicas de células de raiz de cebola e observação de mitoses nas mesmas. Os alunos tiveram o primeiro contato com o microscópio e as técnicas de preparados histológicos, e reconhecer, na prática, algumas etapas da divisão celular nas células fixadas em lâmina. Devido à falta de reagente (corante) e materiais adequados para cortes das amostras, não foi possível a perfeita visualização de todas as etapas da mitose nas lâminas, provocando certa frustração nos alunos. Este procedimento foi realizado com as turmas 2012.1 e 2012.2.
A terceira e última atividade prática consistiu em uma eletroforese de DNA em gel de agarose. No laboratório de Biologia Molecular os alunos puderam observar e acompanhar o processo de “corrida em gel” de porções de DNA, sendo-lhes pedido que respondessem questões referentes ao andamento do experimento durante o mesmo. Foi a prática de maior sucesso entre os acadêmicos, pois puderam visualizar o processamento e o produto final da técnica de biologia molecular estudada em sala de aula. Todavia, devido à pequena quantidade de reagentes (amostras de DNA, corantes, agarose), só foi possível a realização de uma corrida de DNA em gel para toda a sala.
Esta atividade foi feita com a turma 2012.1.
A Discussão de Filme foi pensada para abordar os conceitos de citogenética e
mutações gênicas de maneira mais irreverente e lúdica. Os alunos foram convidados a
assistir o filme GATTACA (JERSEY FILMS, 1997), cuja história se passa em tempos
futuros, retrata a luta de um ser humano normal para se destacar em uma sociedade
composta por homens geneticamente construídos e “perfeitos”. Além disso, foram
suscitadas discussões sobre o papel da engenharia genética nas relações e construções
do ser humano, e a influência da ciência em nossa sociedade, abordando o tecnicismo
médico. Contextualizando com a realidade do SUS, os alunos foram postos a refletir
sobre os modelos de perfeição impostos pela sociedade, e como as relações de trabalho,
opressão e exclusão social se reproduzem. Esta atividade foi realizada com a turma
2012.2 e teve uma boa repercussão, permitindo aos alunos um espaço e uma abordagem
diferenciados dos conceitos da Genética.
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A Jornada de Genética foi um momento de introdução dos acadêmicos no ambiente de apresentação de trabalhos científicos. Foi-lhes solicitado que, em dupla, escrevessem um artigo sobre uma doença genética relevante, ou sobre métodos de tratamento de doenças genéticas que envolvessem técnicas de biologia molecular. Os resumos foram analisados pela professora, e o monitor deu orientações sobre a elaboração dos mesmos e a construção dos pôsteres para apresentação. Foram abordadas doenças genéticas como fibrose cística, diversos tipos de câncer, doença de Charcot- Marie-Tooth, entre outras. Em um dia programado, as duplas expuseram seus trabalhos no corredor do prédio do curso, e em sequência o apresentaram à professora, recebendo comentários e sendo avaliados. Dentre os cerca de 40 grupos e pôsteres organizados, dois grupos aprimoraram os trabalhos e os pôsteres e os apresentaram em congressos médicos nacionais. Esta atividade foi realizada com as turmas 2011.2 e 2012.1.
O Diário de Eucariótica é um projeto de extensão da Professora Orientadora desta monitoria e do próprio monitor. Foi proposto a cada um dos alunos que se coloque no lugar de uma célula eucariótica e escreva um capítulo para o Diário, em linguagem simples e clara, contando a história de vida dessa célula, do seu desenvolvimento, das suas organelas etc. Foi uma proposta irreverente que conseguiu atrair a maioria dos alunos de cada turma. Vários textos foram recebidos pelo monitor e pela professora;
algumas sugestões de alteração foram feitas e os capítulos têm sido agregados para compor o livro. Os alunos que participaram da iniciativa receberam como bonificação uma pontuação extra nas notas da disciplina. Esta atividade foi realizada com as turmas 2011.2 e 2012.1, sendo recebidos cerca de 60 capítulos para o Diário.
O Gráfico 1 a seguir traz o resumo das informações acima.
Gráfico 1: Participação dos alunos nas atividades da monitoria em biologia celular e molecular e genética.
0 10 20 30 40
2011.2. 2012.1 2012.2
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