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FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS ELEITORAIS

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Academic year: 2021

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FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS ELEITORAIS

Isabela Sens Fadel Gobbo E-mail: isabelaf.gobbo@gmail.com Claudia Aparecida Colla Taques Ribas

Mestre em Direitos Fundamentais Difusos e Coletivos pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep)

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Resumo: o Financiamento de Campanhas Eleitorais, por ser tratado na Reforma

Política prevista para ocorrer no ano de 2015, tem sido um tema extremamente discutido. O atual modelo de Financiamento misto, que autoriza tanto o uso de recursos Público como o de Privado, é o objeto de estudo deste trabalho. A partir dele, chega-se a conclusão da importância deste tema para o controle legal dos gastos e das doações realizadas no período eleitoral, e assim é possível vislumbrar a diminuição da corrupção, a qual na maioria das vezes está relacionada à troca de favorecimentos entre os doadores e os candidatos eleitos. As limitações impostas pelo legislador ou pelo Tribunal Superior Eleitoral são criadas com o objetivo de tornar o Processo Eleitoral mais igualitário e democrático, punindo aqueles que fazem o uso descontrolado dos recursos por abuso de Poder Econômico. E é através dessas alterações/criações no texto da lei que ocorre a tentativa de se alcançar um Sistema Eleitoral mais justo e de credibilidade.

Palavras-chave: Direito Eleitoral, Reforma Política, Corrupção. Introdução

A elaboração deste trabalho tem por propósito a melhor compreensão sobre o tema do Financiamento de Campanhas Eleitorais, avaliando a maneira em que se procede atualmente esse sistema, com suas regras e limitações. Tem-se como marco inicial da contextualização a criação dos comitês financeiros, chegando até o marco final do término da campanha eleitoral, não abordando a prestação de contas das Campanhas. Atualmente, o tema tem sido muito debatido na sociedade e no Congresso Nacional, resultando na Câmara dos Deputados a chamada Mini Reforma Política, a qual também envolve outras alterações no texto legal. Para entender melhor as futuras mudanças, é necessário o esclarecimento sobre o atual funcionamento do Financiamento, compreendendo de onde os recursos gastos nas milhares de campanhas políticas por todo o país são provenientes, suas limitações e outros apontamentos.

Objetivos

Este trabalho tem por objetivo expor o atual modelo de Financiamento de Campanhas Eleitorais, abordando o financiamento Público e o Privado. Também se compreende como objetivo apontar as alterações relativas ao Financiamento de Campanha aprovadas em primeiro turno na Câmara dos Deputados no mês de junho de 2015.

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O método utilizado para abordar o tema é o dedutivo, utilizando das premissas da Doutrina (técnica documental indireta) encontrada no acervo da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa, a Legislação atualizada encontrada no site do Tribunal Superior Eleitoral (técnica documental direta) e notícias da internet (técnica documental indireta) para a discussão e possíveis conclusões.

Resultados

Financiamento de Campanhas Eleitorais

“Trata-se dos recursos materiais empregados pelos candidatos com vistas à captação de votos dos eleitores”. (GOMES, 2014, p.336)

O Financiamento de Campanhas Eleitorais tem por objetivo a arrecadação desses recursos materiais citados por José Jairo Gomes e, a partir destes, realizar todos os Gastos Eleitorais descritos no artigo 26 da Lei de Eleições. Entre estes gastos estão aqueles relativos à propaganda e publicidade, à impressão dos materiais de divulgação, ao pagamento do pessoal que preste serviços etc. (BRASIL, 1997). Mesmo com toda a Legislação limitando os Gastos de Campanha, é graças ao Financiamento descontrolado gerador do desequilíbrio das Eleições, que a famosa corrupção é colocada em questão.

O Financiamento tem sido tratado por muitos como um investimento, uma troca de favorecimentos. E como bem declara José Jairo Gomes, a retribuição pré ou pós-Eleições pode ocorrer “[...] pelo favorecimento em licitações e contratos públicos ou superfaturamentos de bens e serviços contratados pelo Estado, pela concessão de anistia e renúncia fiscais”. (2014, p.337)

Há três tipos de Financiamento de Campanha: o exclusivamente Público; o exclusivamente Privado; e o Misto, o utilizado no Brasil.

O sistema misto permite que tanto o recurso proveniente do Poder Público como o recurso privado sejam utilizados enquanto fonte de recursos para a conquista de votos.

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Financiamento Público de Campanhas Eleitorais

No artigo 17, § 3º da Constituição Federal de 1988, tem-se que: (BRASIL, 1988).

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:

... § 3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.

...

O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário), de acordo com o artigo 38 da Lei nº 9096/1995, a Lei dos Partidos Políticos, é constituído por diversos recursos públicos e privados. (BRASIL, 1995). Seguindo a Lei dos Partidos Políticos, deve-se dar destaque também para a aplicação dos recursos do Fundo Partidário, a qual é detalhada no artigo 44 da Lei, ressaltando o inciso III:

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Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados: ... III – no alistamento e campanhas eleitorais; (BRASIL, 1995).

...

No inciso III fica claro que os recursos públicos destinados ao Fundo Partidário podem ter como destino a aplicação no alistamento e Campanhas Eleitorais, especificando neste caso a origem do Financiamento Público. Além do recurso provindo do Fundo, José Jairo Gomes relata como recursos do Financiamento Público o custeio da Propaganda Partidária Gratuita e da Propaganda Eleitoral Gratuita, e a renúncia fiscal. (2014, p.338)

Financiamento Privado de Campanhas Eleitorais

Antes de se iniciar propriamente a arrecadação, algumas questões importantes devem ser observadas. Com relação aos limites impostos para a arrecadação é comunicado no artigo 17-A da Lei das Eleições que:

Art. 17-A. A cada eleição caberá à lei, observadas as peculiaridades locais, fixar até o dia 10 de junho de cada ano eleitoral o limite dos gastos de campanha para os cargos em disputa; não sendo editada lei até a data estabelecida, caberá a cada partido político fixar o limite de gastos, comunicando à Justiça Eleitoral, que dará a essas informações ampla publicidade. (BRASIL, 1997)

No artigo seguinte, ressalta-se que é no momento do Registro da Candidatura que o partido deve comunicar ao Tribunal Eleitoral o limite máximo gasto por Cargo Eletivo, respeitando o estabelecido no artigo 17-A. (BRASIL, 1997), destacando-se que os valores a serem limitados são por Cargo Eletivo, e não por Candidato.

De fundamental importância na gestão de valores aplicados na campanha eleitoral é a criação do Comitê Financeiro, exigida pelo artigo 19 e seu parágrafo primeiro da Lei das Eleições. O Comitê Financeiro deve ser criado pelo partido que tenha candidato próprio, podendo haver um único comitê para as eleições de uma dada circunscrição Este tem como seu principal propósito a arrecadação e a aplicação de recursos nas Campanhas e deve ser criado em até 10 dias úteis após a escolha dos candidatos em Convenção. (BRASIL, 1997).

O Tribunal Superior Eleitoral, usando de suas atribuições regulamentadoras, expede até o dia 5 de março dos anos eleitorais Resoluções de caráter instrutivo, como previsto no artigo 105 da Lei das Eleições. (BRASIL, 1997). Nessas resoluções, algumas alterações relevantes podem ser notadas com o passar dos anos. Para o Financiamento de Campanha, observam-se, de acordo com a obra de Denise Goulart Schlickmann, várias alterações dos textos das Resoluções, como exemplo no que diz respeito às Espécies de Recursos em Campanha e as Fontes de Arrecadação. (2008, p. 124-127)

No ano de 2014, foi expedida pelo Tribunal Superior Eleitoral a Resolução nº 23.406, que traz questões importantes ao tema deste trabalho. (BRASIL, 2014)

O Artigo 19 da Resolução aborda a Origem dos Recursos, também chamadas de Fontes de Arrecadação de Recursos, os quais podem ser:

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Art. 19. Os recursos destinados às campanhas eleitorais, respeitados os limites previstos nesta Resolução, somente serão admitidos quando provenientes de:

I – recursos próprios dos candidatos;

II – doações financeiras ou estimáveis em dinheiro, de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas;

III – doações de partidos políticos, comitês financeiros ou de outros candidatos;

IV – recursos próprios dos partidos políticos, desde que identificada a sua origem;

V – recursos provenientes do Fundo de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário), de que trata o art. 38 da Lei nº 9.096/95; VI – receitas decorrentes da:

a) comercialização de bens e/ou serviços realizada diretamente pelo candidato, comitê financeiro ou pelo partido;

b) promoção de eventos realizados diretamente pelos candidatos, comitês financeiros ou pelo partido;

c) aplicação financeira dos recursos de campanha.

Parágrafo único A utilização de recursos próprios dos candidatos é limitada a 50% do patrimônio informado à Receita Federal do Brasil na Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física referente ao exercício anterior ao pleito (arts. 548 e 549 do Código Civil). (Brasil, 2014).

Além do limite imposto pelo parágrafo único do artigo 19, as demais limitações são colocadas no artigo 25 da Resolução nº 23.406:

Art. 25. As doações de que trata esta Seção ficam limitadas (Lei nº 9.504/97, art. 23, § 1º, I e II, § 7º, e art. 81, § 1º):

I – a 10% dos rendimentos brutos auferidos por pessoa física, no ano-calendário anterior à eleição, excetuando-se as doações estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis ou imóveis de propriedade do doador ou da prestação de serviços próprios, desde que o valor da doação não ultrapasse R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), apurados conforme o valor de mercado;

II – a 2% do faturamento bruto auferido por pessoa jurídica, no ano-calendário anterior à eleição;

III – ao valor máximo do limite de gastos estabelecido na forma do art. 4º desta resolução, caso o candidato utilize recursos próprios. (BRASIL,2014). Discussão

Neste ano, o tema da Reforma Política que incluía alterações no financiamento de campanha voltou à tona. Em primeira votação na Câmara dos Deputados, ficou clara a intenção de manter o Financiamento Privado de Campanha Eleitoral, protegendo principalmente a doação de empresas privadas para os partidos políticos, item constante na PEC 182/07. Além disso, a Reforma prevê alterações referentes aos limites de gastos nas Campanhas para cada Cargo Eletivo. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2015).

Com essas questões importantes, a atenção deve ser mantida com relação à Reforma Política. Cada alteração realizada nestas votações no Congresso Nacional poderá permitir um maior ou menor controle diante do Financiamento de Campanha, além de mudar questões fundamentais da Política Brasileira.

É importante destacar que o tema da doação por Pessoa Jurídica e sua legitimidade é alvo de discussão na ADI nº 4650/DF no Supremo Tribunal Federal, como bem aponta José Jairo Gomes em sua obra. (2014, p 338). Atualmente, graças a um

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pedido de vistas realizado no dia 2 de abril de 2014 pelo Ministro Gilmar Mendes, esta ação está parada. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2014).

Além das mudanças que podem ocorrer através do Poder Legislativo, o Tribunal Superior Eleitoral, no uso de suas atribuições, tem o poder de trazer questões novas no que diz respeito aos limites de doação e de gastos totais gerados pelas Campanhas Políticas. Como exemplo, temos o parágrafo único do artigo 19 da Resolução nº 23.406, que traz uma limitação antes não ressaltada ao inciso primeiro deste mesmo artigo, referente ao uso dos recursos provenientes do próprio do Candidato. (BRASIL, 2014)

Considerações Finais

Após todo o levantamento sobre o tema, chega-se a conclusão de que o financiamento de campanha é uma preocupação antiga do legislador e do judiciário. Tanto por meio das resoluções nos anos eleitorais como por meio das leis existentes que regulamentam o tema, o objetivo maior é o controle absoluto dos recursos que entram nas campanhas eleitorais. Somente com esse controle, impondo limites de gastos e de doações, teremos uma disputa igualitária entre os candidatos, além de evitarmos o abuso de poder econômico.

As futuras mudanças no texto legal trazidas pela Reforma Política e a declaração de inconstitucionalidade que pode ser proferida pelo Supremo Tribunal Federal ao Financiamento por doação de Pessoa Jurídica são de importância para toda a sociedade, pois elas permitirão os avanços no processo democrático e igualitário da escolha dos representantes do povo, bem como poderão sinalizar a ruptura com os vícios atualmente existentes que incentivam a corrupção e a troca de favores pós eleição como forma de contraprestação ao financiamento da campanha. Sendo assim, o constante aperfeiçoamento das Leis Eleitorais, as futuras regras impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral, e novas decisões do STF sobre o Financiamento de Campanhas Eleitorais evidenciam a necessidade de continuar estudando o tema.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília: Senado, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 11 jul. 2015.

BRASIL. Lei das Eleições. Lei nº9.504, de 30 de setembro de 1997. Diário Oficial

da União, Brasília, 1º out. 1997. Disponível em:

<http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-das-eleicoes/lei-das-eleicoes-lei-nb0-9.504-de-30-de-setembro-de-1997#art17-27>. Acesso em: 09 jul. 2015.

BRASIL. Lei dos Partidos Políticos. Lei nº 9.096 , de 19 de setembro de 1995. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 1995. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-dos-partidos-politicos/lei-dos-partidos-politicos-lei-nb0-9.096-de-19-de-setembro-de-1995>. Acesso em 11 jul.2015.

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BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.403 de 27 de fevereiro de

2014. Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos,

candidatos e comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas nas Eleições de 2014. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2014/normas-e-documentacoes/resolucao-no-23.406>. Acesso em 12 jul. 2015.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Câmara aprova limite a gasto de campanha e outras

alterações em regras eleitorais. 9 jul. 2015. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/492043-CAMARA- APROVA-LIMITE-A-GASTO-DE-CAMPANHA-E-OUTRAS-ALTERACOES-EM-REGRAS-ELEITORAIS.html>. Acesso em 12 jul. 2015.

GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 10.ed.rev.atual.ampl. São Paulo: Atlas, 2014. p. 335-356.

SCHLICKMANN, Denise Goulart. Financiamento de campanhas eleitorais. 4.ed.rev.atual. Curitiba: Juruá, 2008. p.124-127.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Novo pedido de vista suspende julgamento de ADI sobre financiamento de campanhas. 2 jul. 2015. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=263981&caixaB usca=N>. Acesso em 15 jul. 2015.

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