INICIAÇÃO AO PROJETO
A Teoria e a História no Ateliê
MANENTI, LEANDRO
Universidade Feevale. ICET. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Rodovia RS 239, 2755 – Novo Hamburgo – RS.
leandro@feevale.br
Palavras-chave: Concepção projetual, partido arquitetônico, composição.
Resumo
Procurando contribuir com o tema do evento, o presente trabalho apresenta um relato e uma reflexão sobre a experiência do autor com as disciplinas iniciais de prática de projetos de arquitetura, discutindo questões como a possibilidade, ou não, de se ensinar a projetar, o papel da teoria da arquitetura no ateliê de projeto e a introdução das discussões contemporâneas a respeito de programa, conceito, lugar e evento, entre outras, nas disciplinas introdutórias dos cursos de arquitetura. Através dos exercícios projetuais desenvolvidos na disciplina, conceitos como tipologia, funcionalismo e desconstrução são discutidos e empregados na geração diferentes de partidos arquitetônicos sobre um mesmo tema.
1. PROBLEMATIZAÇÃO
O papel das disciplinas iniciais de prática de projeto nos cursos de arquitetura é fundamental na formação de futuros profissionais, pois é através delas que o estudante se vê no papel que mais almeja ao ingressar em um curso de arquitetura, o de projetista. Porém, se por um lado há um grande interesse por parte dos estudantes, há também diversos desafios a serem superados, como a ausência de qualquer experiência anterior referente ao ato de projetar, o pouco aprofundamento teórico e o pequeno repertório de soluções que poderiam ajudá-lo nessa tarefa.
desse paradigma a primeira, e talvez a mais difícil, atribuição das disciplinas introdutórias ao projeto.
Somada a isso, temos ainda a realidade mercadológica do ensino privado, que reduz a carga horária ao mínimo requerido por lei, acarretando, principalmente, a redução da carga horária de ateliês, prejudicando a relação mestre/aprendiz que estabeleceu-se tradicionalmente nos cursos de arquitetura, reduzindo os encontros a uma noite por semana.
2. A PROPOSTA PEDAGÓGICA DA DISCIPLINA DE PROJETO ARQUITETÔNICO I
Nesse quadro, a questão que se colocou diante de nós foi a de pensar a estrutura pedagógica de uma disciplina que deveria propiciar o aprendizado a respeito do lançamento projetual, tendo como público alunos sem vivência arquitetônica, e uma carga horária reduzida. A proposta, então, foi a de se tomar o pequeno repertório presente nas duas disciplinas de Teoria e História anteriores à disciplina de projeto em questão, que contemplam da Antiguidade ao Movimento Moderno, e retomá-las no ateliê como repertório para o início da prática projetual.
Entretanto, a proposta não tem como objetivo a geração de projetos estilísticos, e as questões contemporâneas a cerca do fazer arquitetônico deveriam, certamente, se fazer presentes. Desta forma, introduziram-se também conceitos ligados às teorias da desconstrução, em seu sentido mais amplo, propondo a desconstrução daquilo que está estabelecido, levando os acadêmicos a repensarem suas práticas em todos os aspectos. Essa ideia de repensar o projeto é discutida a partir daquele repertório presente no ideário dos acadêmicos, como crítica e reflexão sobre a Teoria da Arquitetura clássica e moderna, pois nos parece lógico que para repensar algo é preciso antes pensar, e dessa forma os exercícios tomam um sentido mais amplo e atual.
3. EXERCÍCIOS PROJETUAIS COMO FORMA DE ADQUIRIR REPERTÓRIO
A sequencia de exercícios rápidos é composta por três lançamentos de projetos, elaborados um por semana, que têm por objetivo a ampliação de repertório. Cada exercício é composto de uma introdução teórica, que procura reforçar e ampliar os conhecimentos acerca dos princípios teóricos e projetuais a serem empregados, seguida do desenvolvimento de uma proposta de projeto com o uso de software de modelagem em terceira dimensão, e, finalizando, um painel de discussão sobre os resultados alcançados e a eficácia dos princípios empregados na geração da proposta.
Para o desenvolvimento do primeiro exercício, aplica-se como referencial teórico o conceito de Tipo Arquitetônico, que segundo Carlos Martí Arís, “é um conceito que descreve uma estrutura formal” (1993, p. 16). A aplicação desse conceito, cunhado a partir do estudo da arquitetura histórica, só pode ser empregado atentando, como frisa o autor, que o tipo é de natureza conceptual, e não
objetual; que se trata de um enunciado lógico que identifica os objetos; e que o tipo se refere à
estrutura formal, identificando a existência de semelhanças estruturais que não são evidentes de forma aparente e epitelial (MARTÍ ARíS, 1993, p. 16). Essas ressalvas são essenciais para que não sejam desenvolvidos projetos anacrônicos, tampouco, cópias.
Desta forma, o primeiro exercício desenvolve-se assumindo a noção de tipologia como ponto de partida para a geração da proposta. Passam a ser, então, estudados exemplares de arquitetura histórica que possuem configurações formais recorrentes e aplicadas ao tema, como edificações lineares, configurações com pátios internos, salas hipóstilas, arranjos de salas principais com alas, entre outros. A partir desses referenciais, os acadêmicos adotam uma das configurações tipológicas apresentadas para o desenvolvimento de uma nova proposta arquitetônica. Nesse exercício, ao se garantir uma configuração formal pré-estabelecida, desenvolve-se, sobretudo, um aprendizado acerca da organização das funções em setores, ritmo e proporções de cada compartimento e suas associações, e sobre os ajustes necessários ao programa previamente estabelecido para que este se adeque à configuração escolhida.
projeto, na qual conceitos como equivalência, equilíbrio e classificação (PIÑON, 2006, p. 34) são empregados para articular as diferentes partes que compõem o objeto arquitetônico.
No terceiro e último exercício, são discutidas teorias vinculadas aos pensamentos teóricos sobre a desconstrução; mais especificamente, a noção de enxerto desenvolvida por Peter Eisenman em seu texto O Fim do Clássico. Nele, o autor discute as três ficções, que, segundo ele, impregnaram o pensamento arquitetônico: a ficção da representação, verificada no emprego de linguagens arquitetônicas do passado para dar sentido ao presente; a ficção da razão, que se verifica no uso da ciência como representação da verdade; e por fim a ficção da história, que se apresenta na justificativa de que existe uma relação a priori entre a história e as manifestações de um determinado momento histórico (EISENMAN, 2008). Questionados, e desconstruídos esses conceitos tradicionais da arquitetura que ajudavam a fundamentar as noções de tipologia e funcionalismo, os acadêmicos são convidados a experimentar a proposta de origem artificial da arquitetura, isto é: a introdução de uma nova lógica projetual, exemplificada pelo conceito de enxerto, que, conforme Eisenman, trata-se de um local inventado, que é menos um objeto e mais um processo (2008, p. 244). São propostos alguns caminhos para a geração do projeto, como a adoção de percursos, de rearranjos funcionais, de eventos e movimentos (TSCHUMI, 1994), além da ideia de arquitetura conceitual.
A respeito desse exercício, seus resultados, embora arquitetonicamente ainda pouco expressivos - visto a pouca experiência dos acadêmicos, como relatado acima - tem sido considerado bastante satisfatório se levarmos em conta que a tentava de se estabelecer outras formas de concepção projetual é ainda distante de grande parte dos ateliês e de prática profissional.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a realização dessa sequencia de três exercícios, a disciplina encaminha-se na adoção de uma solução - não necessariamente alguma das já apresentadas nos exercícios - que é desenvolvida em nível de anteprojeto. Nesse desenvolvimento, verifica-se a permanência de muitas das ideias testadas nos exercícios, o que nos faz acreditar que, de fato, eles foram importantes e didáticos, oferecendo aos acadêmicos inexperientes um subsídio básico para o início da prática projetual reflexiva e fundamentada, características que acreditamos conferir qualidade aos projetos arquitetônicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EISENMAN, Peter. In: Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 233-252.
MARTÍ ARÍS, Carlos. Las variaciones de la identidad: ensayo sobre el tipo en arquitectura. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1993.
PIÑON, Helio. Teoria do projeto. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2006.