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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XXX MINAS GERAIS. Contrarrazões de Recurso de Agravo em Execução

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XXX – MINAS GERAIS

Autos n.

Contrarrazões de Recurso de Agravo em Execução

Agravante: YYY

Agravado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais

EGRÉGIO TRIBUNAL,

COLENDA CÂMARA CRIMINAL,

DOUTO (A) PROCURADOR (A) DE JUSTIÇA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, através do Promotor de Justiça que esta subscreve, vem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, com fundamento no artigo 197 da Lei de Execução Penal, apresentar CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO, diante dos fatos e fundamentos jurídicos expostos a seguir.

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1) Breve resumo dos fatos

O recorrente, que cumpre pena em regime fechado na Cadeia Pública local, em razão da prática do crime previsto no artigo 33 da Lei n. 11343/2006, formulou pedido para realizar trabalho externo em obras públicas executadas pelo Município de XXX, através da Secretaria Municipal de Transportes e Obras Públicas.

No referido requerimento, juntou aos autos proposta de emprego subscrita pelo Secretário Municipal de Transportes e Obras Públicas de XXX, em que informa a existência de uma vaga para ajudante de serviços gerais naquele órgão, que pode, em tese, ser preenchida pelo sentenciado, ora agravante, cuja jornada de trabalho seria de segunda à sexta-feira, das 07h 00m às 11h 00m e das 12h 00m às 17h 00m.

Diante do requerimento formulado pelo recorrente, o Ministério Público, em seu típico exercício de fiscalização da execução penal, solicitou informação ao responsável pela Cadeia Pública da Comarca de XXX acerca da possibilidade de disponibilizar pessoal para vistoriar o trabalho externo em serviços e obras públicas do preso no regime fechado, o que foi deferido pelo douto Magistrado.

A digna Autoridade Policial, então, informou que não dispõe de efetivo policial para fiscalizar trabalho externo de presos em regime fechado que eventualmente prestem serviços em obras públicas realizadas pela Administração Pública Direta ou Indireta e entidades privadas.

A partir da informação acima mencionada, o Ministério Público, através do Promotor de Justiça que esta subscreve, manifestou-se em sentido contrário ao requerimento de trabalho externo formulado pelo agravante, a fim de resguardar um bem jurídico de profunda relevância para o Estado Democrático de Direito – a segurança pública

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–, o que foi acolhido pelo douto Magistrado, com fundamento no artigo 36 da Lei nº 7210/1984 (Lei de Execução Penal).

Diante do não-acolhimento de seu requerimento, o sentenciado, ora recorrente, interpôs, com fulcro no artigo 197 da Lei de Execução Penal, o Recurso de Agravo em Execução que ora o Ministério Público impugna.

Autos com vista ao Ministério Público para apresentar Contrarrazões ao Recurso de Agravo em Execução.

É o relato do essencial.

2) Preliminarmente

O recurso interposto pelo agravante afigura-se como próprio, tempestivo, além de preencher os demais pressupostos processuais de admissibilidade, razão pela qual merece ser conhecido.

3) Do Mérito Recursal – Fundamentos para a Manutenção da Decisão Recorrida

Em suas razões recursais, o agravante argumenta que o local onde os serviços seriam por ele prestados é completamente cercado, o que impediria eventual fuga.

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Alega, ainda, que lhe negar o direito ao exercício do trabalho externo significa negar-lhe o direito à reintegração na sociedade, um dos objetivos mais relevantes do Direito Penal, premissa que o Parquet concorda apenas em parte.

Em primeiro lugar, quanto à alegação do recorrente no sentido de que o local onde o trabalho externo seria realizado ser totalmente cercado, é preciso frisar, contudo, que tal informação não consta da proposta de trabalho juntada aos autos e, partindo do pressuposto que a função a ser eventualmente preenchida pelo agravante é de ajudante de serviços gerais, as atividades serão por ele exercidas em qualquer obra ou serviço público, assim como em qualquer local do Município de XXX, ou seja, no perímetro urbano ou na zona rural.

Em segundo lugar, em que pese o trabalho externo ser um direito assegurado, em tese, ao presos no regime fechado, além de efetivamente contribuir para um dos escopos sociais da pena – a reintegração social do apenado –, deve-se salientar, por outro lado, que, em relação aos presos que cumprem pena em regime fechado, tal direito só é assegurado quando restar cabalmente demonstrado que no local onde ele será exercido haverá vigilância, a fim de evitar a fuga do condenado.

É exatamente o que preconiza o artigo 36 da Lei de Execuções Penais:

“Art. 36 - O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da administração direta ou indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina”.

Nada mais acertado do que a previsão legal acima transcrita. Ora, se o trabalho constitui um direito sagrado do apenado e seu efetivo exercício contribui consideravelmente para a concretização do postulado da dignidade da pessoa humana,

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através de sua reintegração social, não se pode menosprezar, noutro giro, que a segurança pública caracteriza-se como um dos bens jurídicos mais importantes de uma sociedade democrática, um verdadeiro direito fundamental dos cidadãos.

E é justamente a segurança pública o bem jurídico que o dispositivo legal acima transcrito pretende, em observância à vontade do Poder Constituinte Originário, salvaguardar.

Significa dizer, assim, que, a partir das circunstâncias específicas do caso concreto, deve-se buscar a conjugação e harmonização de ambos os direitos acima citados: trabalho externo e segurança pública. Não havendo esta harmonia entre eles, um dos direitos deve ser flexibilizado, para que o outro seja preservado.

Trata-se, pois, de um típico caso em que 02 (dois) interesses – dignidade humana do preso através do trabalho e segurança pública –, ambos tutelados pela Carta Fundamental, podem eventualmente entrar em conflito, diante de uma situação específica, o que exige do intérprete privilegiar um deles em detrimento do outro.

Privilegiar um deles em detrimento do outro, contudo, não significa que este restará completamente aniquilado, no sentir do Ministério Público, tendo em vista que a dignidade do detento pode ser garantida por outros meios, que não afetem a segurança pública, o que significa dizer, em última análise, que o ordenamento jurídico estará respeitado, já que nenhum dos interesses aqui analisados serão desconsiderados.

É importante observar que nos estabelecimentos que abrigam os apenados que cumprem pena em regime semi-aberto – na Comarca de XXX, trata-se da Casa de Albergado –, a vigilância e as precauções quanto à segurança são menores do que as existentes nos estabelecimentos destinados ao cumprimento de pena em regime fechado, em virtude das próprias características de cada estabelecimento, que são essencialmente distintas.

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Sobre o tema, especialmente as características do regime semiaberto de cumprimento de pena, leciona o professor Julio Fabbrini Mirabete:

“(...) funda-se o regime principalmente na capacidade de senso de responsabilidade do condenado, estimulado e valorizado, que o leva a cumprir com os deveres próprios de seu status, em especial o de trabalhar, submeter-se à disciplina e não fugir... Nela, os presos devem movimentar-se com relativa liberdade, a guarda do presídio não deve estar armada, a vigilância deve ser discreta e o sentido de responsabilidade do preso enfatizado” (Execução Penal, Comentários à Lei 7.210, de 11-7-1984, 11ª ed., p. 274).

No regime fechado, ao contrário, por razões lógicas, há uma limitação muito mais intensa nas atividades dos presos, sendo que a vigilância sobre eles é consideravelmente mais rígida, já que a este regime são direcionados os sentenciados dotados, em tese, de maior periculosidade, seja em virtude da quantidade de crimes cometidos, seja em virtude da quantidade inicial da pena imposta.

Assim, obviamente as restrições aos presos custodiados em regime fechado são maiores, inclusive sobre o trabalho, que, neste caso, deve ser realizado sob a vigilância direta da Administração Pública ou do estabelecimento prisional, ou seja, é absolutamente imprescindível a escolta como cautela contra a fuga e em favor da disciplina, pressuposto este que claramente não restou demonstrado nos autos.

Aliás, ainda sobre as distinções essenciais entre o trabalho nos diferentes regimes de cumprimento de pena, oportuno observar que o instituto do “trabalho externo” restringe-se aos presos em regime fechado, segundo o artigo 36 da Lei de Execuções Penais, sendo legalmente tratado muito mais como um direito do que como um dever.

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O trabalho dos presos em regime semiaberto e aberto, ao contrário, é tratado pela legislação infraconstitucional de maneira absolutamente distinta: conforme se depreende dos artigos 35, § 1°; e 36, § 1°, ambos do Código Penal, caracteriza-se como um verdadeiro dever dos presos, umas das condições do regime.

Ocorre, no entanto, que para o efetivo exercício do direito ao trabalho externo (direito titularizado, em tese, pelos presos em regime fechado), é imprescindível a salvaguarda de outro direito (este titularizado pela sociedade): a segurança pública, repita-se.

Voltando às circunstâncias específicas do caso ora analisado: a Prefeitura Municipal de XXX, em nenhum momento, na proposta de trabalho de fls. 115, informa que vai contratar/disponibilizar escolta para a vigilância do sentenciado durante o trabalho externo.

O responsável pela Cadeia Pública local, por sua vez, notificado para prestar informações, alega não possuir efetivo para prestar esta vigilância, o que impossibilita qualquer posicionamento do Ministério Público em sentido favorável ao requerimento formulado pelo agravante.

Conforme esclarecido linhas acima, deve-se buscar, no caso concreto, a necessária harmonia entre o trabalho externo (direito do preso em regime aberto) e a segurança pública (direito dos cidadãos) e, não sendo ela possível, um dos direitos deve prevalecer em detrimento do outro.

No presente caso, entretanto, esta convivência harmônica é inviável, tendo em vista que, na hipótese de o requerimento do agravante ser deferido, outorgando-lhe o exercício do trabalho externo, a segurança pública, por outro lado, ficará seriamente comprometida, diante da ausência de recursos humanos para realizar a vigilância sobre o preso.

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Em sentido inverso, caso se opte em sentido favorável à manutenção da segurança pública, o direito do preso ao trabalho externo deve ser negado, o que, no entanto, não reflete uma absoluta rejeição à dignidade humana do preso, pois esta pode – e deve – ser garantida de outras formas, sem que a segurança pública reste comprometida.

Ora, como a Nobre Instituição possui como precípua finalidade a defesa dos interesses titularizados pela sociedade, por opção do próprio Poder Constituinte Originário, fácil perceber que o posicionamento do Ministério Público deve, em absoluto respeito a sua missão constitucional, ser contrário ao requerimento formulado pelo agravante, em favor, pois, da preservação do bem jurídico da segurança pública.

A jurisprudência pátria possui entendimento consolidado no sentido de que a existência de providências cautelares impeditivas da fuga do preso, em favor da disciplina, qualifica-se como requisito imprescindível para a concessão do direito ao trabalho externo em benefícios dos presos em regime fechado.

Para corroborar a afirmação acima, transcreve-se a seguir duas decisões jurisprudenciais neste sentido, uma oriunda do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e outra oriunda do Superior Tribunal de Justiça.

“AGRAVO EM EXECUÇÃO. TRABALHO EXTERNO. REGIME

FECHADO. REQUISITOS SUBJETIVO E OBJETIVO.

IMPOSSIBILIDADE. ART. 36 DA LEP.

Conforme o art. 36 da Lei de Execuções Penais, o trabalho externo para o preso que cumpre a pena no regime fechado só é permitido em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. No caso concreto, o trabalho pretendido pelo apenado não está dentre estes. Agravo Desprovido” (TJRS. Agravo Nº 70029140407, Oitava Câmara Criminal, Relator: Isabel de Borba Lucas, Julgado em 29/04/2009).

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"HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. CRIME HEDIONDO OU

EQUIPARADO. TRABALHO EXTERNO. POSSIBILIDADE.

CAUTELAS LEGAIS CONTRA A FUGA. INDISPENSABILIDADE. 1. A Lei de Execução Penal, ela mesma, às expressas, admite o trabalho externo para os presos em regime fechado, à falta, por óbvio, de qualquer incompatibilidade, por isso que acolhe o benefício, "(...) desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina."

2. E tal ausência de incompatibilidade há de persistir, sendo afirmada ainda quando se trate de condenado por crime hediondo ou delito equiparado, eis que a Lei nº 8.072/90, no particular do regime de pena, apenas faz obrigatório que a reprimenda prisional seja cumprida integralmente em regime fechado, o que, como é sabido, não impede o livramento condicional e, tampouco, o trabalho externo.

3. Faz-se imprescindível, para fins de concessão de trabalho externo a sentenciado em regime fechado, o preenchimento das cautelas legais contra a fuga e em favor da disciplina, exigências estas que não podem ser dispensadas pelo magistrado.

4. Ordem denegada, com recomendação ao Poder Executivo de que adote as providências necessárias à disponibilização do Juízo da Execução dos meios necessários ao cumprimento da lei penal, no particular do trabalho externo e das atividades externas dos sentenciados que preencham os requisitos legais" (STJ - HC 45392-DF - SEXTA TURMA - Rel. Min. Nilson Naves - j. 09/03/2006, p. DJ 03/04/2006, p. 420).

"HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. TRABALHO EXTERNO. Trabalho externo. Benefício que reclama a efetiva possibilidade de serem tomadas medidas impeditivas de fuga, ou seja, da efetiva viabilidade de vigilância sobre o apenado, art. 36 da LEP. Hipótese onde tal possibilidade não se configura. Ordem denegada" (STJ - HC 42444-RS - QUINTA TURMA - Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca - j. 13/09/2005, p. DJ 03/10/2005, p. 298).

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4) Pedido

Diante do exposto, conclui-se que a decisão monocrática de indeferimento do trabalho externo merece ser mantida, tendo em vista a preservação da segurança pública, razão pela qual requer o Ministério Público seja o presente recurso conhecido e, no mérito, negado seu provimento.

Local, 31 de janeiro de 2012.

Nome Promotor de Justiça

Referências

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