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TITULO: Influência do ensino clinico nas crenças e atitudes acerca das doenças e doentes mentais.

Autora: Isabel Gil, Professora Adjunta na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

A evolução dos conceitos de saúde e doença, a representação da saúde mental e as estratégias de intervenção estão relacionados com os paradigmas de cada época. A enfermagem tem procurado oferecer uma assistência mais humanizada o que remete para a necessidade dos enfermeiros repensarem os saberes e as práticas, reavaliando as atitudes e proporcionando cuidados centrados no ser humano que tem direito a ser assistido sem exclusão.

Este estudo tem como objetivos avaliar as crenças e atitudes dos estudantes de enfermagem acerca dos doentes e doenças mentais e o efeito do ensino clínico nessas crenças e atitudes.

É um estudo de cariz pré-experimental. A amostra é constituída por 89 Estudantes do curso de Licenciatura em Enfermagem.

Como Instrumentos de colheita de dados foram utilizados o Inventário de Crenças acerca das Doenças Mentais (ICDM) de Loureiro (2008) e a Versão portuguesa da OMIS de Cohen e Struening (1962).

O tratamento estatístico foi efetuado através do SPSS versão 17.0.

Previamente ao contacto, as médias das crenças revelaram resultados positivos no sentido de um reconhecimento da doença, contudo, não são de desvalorizar os estereótipos da perigosidade e incurabilidade. A comparação

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dos resultados, antes e após o ensino clinico, revela um efeito estatisticamente significativo mais patente na atitude de restrição social.

Pode-se concluir que o ensino clinico promove uma mudança positiva nas crenças e atitudes dos estudantes.

Palavras-chave: Crenças, Atitudes, Estudantes de Enfermagem, Ensino-clinico

Os cuidados a pessoas com perturbações mentais refletiram desde sempre os valores sociais predominantes em relação à perceção social dessas doenças.

A Europa, no século XIX, acompanhou as orientações divergentes relativamente à forma de atuação perante as pessoas com doenças mentais.

Por um lado, e atendendo ao acelerado desenvolvimento das ciências experimentais, as doenças mentais foram consideradas como tema de grande interesse para a investigação científica e as pessoas com perturbações mentais foram reconhecidas enquanto doentes da medicina. Por outro lado, estes doentes eram indesejáveis e, como tal, isolados da sociedade em grandes instituições de tipo carcerário.

É na segunda metade do século XX que ocorre uma mudança significativa no paradigma dos cuidados em saúde mental devido à psicofarmacologia, ao movimento a favor dos direitos humanos e ao facto da OMS, em 1948, ter incorporado na definição de Saúde as componentes sociais e mentais.

Todavia, os estigmas imputados às perturbações mentais continuaram fortes.

Os enfermeiros reconhecem hoje que, tal como afirma Milheiro (1999, p.232),

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“ a saúde mental constrói-se e promove-se no dia-a-dia dos indivíduos inseridos na cultura, na técnica e na civilização”. O mesmo autor acrescenta “ A saúde mental do cidadão e da cidade trabalha-se muito no quotidiano, na relação entre as pessoas, na relação entre os indivíduos e as instituições, na fluidez da comunicação, no sentimento de participação que cada um tem de tudo isso”.

Este autor realça a importância de investir na escola, na cultura, na família, em prol da saúde mental da população.

Para Corrigan (2004) o futuro da pesquisa em enfermagem deve incluir a avaliação e o desenvolvimento de intervenções a nível macro e microssocial de forma a reduzir o estigma sendo que a intervenção deve ser dirigida a grupos que podem deter influência no sentido de melhorar as atitudes perante as pessoas com doença mental, como sejam, professores, políticos, empresários, profissionais de saúde e meios de comunicação social.

O estigma, que provém do medo do desconhecido e de falsas crenças, leva a uma falta de compreensão do problema. Deste modo, além do sofrimento causado pela doença, as pessoas têm ainda que enfrentar a discriminação social (Relatório sobre a Reestruturação e Desenvolvimento dos Serviços de Saúde Mental em Portugal, 2007).

Thornicroft et al (2008) salientam que o estigma é constituído por três problemas relacionados entre si:

 O problema do conhecimento: ignorância (literacia)

 O problema das atitudes: preconceito

 O problema do comportamento: discriminação

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As pessoas com doença mental antecipam a rejeição e a discriminação impondo-se uma forma de auto-estigma.

As diferentes abordagens para mudar o estigma público, tal como referem Corrigan e Penn (1999), foram agrupadas em três processos de mudança:

protesto/denúncia, educação/sensibilização e contacto.

As estratégias de protesto/denúncia surgem contra a injustiça dos estigmas específicos conduzindo ao apelo moral de modo a mudar a forma de pensar do público, que se refere com vergonha e ideias desrespeitosas em relação às pessoas com doenças mentais. Muitas organizações de defesa cívica recorrem a esta estratégia com ações de grande impacto junto dos meios de comunicação social. As evidências sugerem que estas abordagens podem ser bem-sucedidas para remover imagens estigmatizantes através da publicidade, televisão e cinema (Wall, 1995 citado por Watson & Corrigan, 2005). Contudo, se por um lado o protesto/denúncia pode ser eficaz, por outro, pode reforçar o estigma público pelo que deve ser usado criteriosamente.

Corrigan e Penn (1999), por sua vez, advertem para os resultados da investigação sobre estratégias de educação de adultos que têm contribuído para melhorar significativamente as atitudes perante as pessoas com doenças mentais. O objetivo principal destas sessões é fornecer informações simples e capazes de desmontar os mitos acerca das doenças mentais mediante uma atitude de carácter pedagógico.

Numa pesquisa realizada por Corrigan et al. (2001) conclui-se que existe uma forte correlação entre os sentimentos de medo revelados e o nível de distância social do público em relação à doença mental devido à raridade dos contactos.

Consequentemente defendem que a abordagem perante esta realidade implica

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a intensificação da familiaridade do público com as pessoas com experiência de doença mental como forma de combater o estigma e a discriminação.

Outros estudos têm demonstrado uma relação inversa entre o contacto e a doença mental e o estigma (Link & Cullen, 1986; Penn et al., 1999; Holmes et al., 1999; Penn et al., 2004), mas, principalmente, quando o contacto envolve uma relação face-a-face (in vivo) e em contextos de trabalho ou institucionais (Corrigan et al., 2001; Read & Harre, 2001; Pinfold, 2003).

Por serem escassos os estudos de investigação nesta área com estudantes de enfermagem no nosso país e, ainda, por se considerar que o conhecimento mais aprofundado das crenças e atitudes dos estudantes de enfermagem acerca das doenças e dos doentes mentais permitirá o desenvolvimento de estratégias de ensino/aprendizagem adequadas e com impacto junto dos estudantes e futuros enfermeiros esta investigação tem como objetivos avaliar as crenças e atitudes dos estudantes de enfermagem acerca dos doentes e doenças mentais e o efeito do ensino clínico nessas crenças e atitudes.

É um estudo de cariz pré-experimental. A amostra é constituída por 89 Estudantes do curso de Licenciatura em Enfermagem.

Relativamente à distribuição da amostra segundo o género torna-se evidente a maioria considerável de indivíduos do género feminino (84,30%), contudo, esta disparidade não tem qualquer significado atendendo a que a Enfermagem continua a ser uma profissão exercida predominantemente por mulheres.

A média de idades dos sujeitos inquiridos é de 21,25 anos.

O trabalho de recolha de informação foi realizado através de questionário constituído por uma parte de caracterização sociodemográfica, pela Escala de Opiniões sobre a Doença Mental (OMIS) de Cohen e Struening (1962) tendo

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sido utilizada a versão portuguesa adaptada e traduzida por Oliveira (2005) e Loureiro (2008) e pelo Inventário de Crenças sobre a Doença Mental (ICDM) de Loureiro (2008), um instrumento recente, constituído de raiz para a população portuguesa.

A OMIS é constituída por cinco fatores correspondentes a cinco atitudes, nomeadamente autoritarismo; benevolência; ideologia da higiene mental;

restrição social; etiologia interpessoal. O formato de resposta é de 1 (discordo completamente) a 6 (concordo completamente) pontos.

O ICDM é constituído por 45 itens em formato de resposta tipo Likert de 1 a 6 pontos, englobando seis crenças: incurabilidade; reconhecimento da doença;

perigosidade; doença como causa de estigma e discriminação;

responsabilidade pessoal; doença como condição médica. O formato de resposta é 1 (discordo completamente) a 6 (concordo completamente) pontos.

Relativamente aos procedimentos éticos é de salientar que esta investigação foi autorizada pela Presidente da Escola.

No estudo das crenças constata-se que as crenças com maior expressão numérica no sentido da concordância se situam no reconhecimento da doença e na crença da doença como condição médica. Estes resultados remetem-nos para o facto de os estudantes de enfermagem exprimirem uma visão não estigmatizante da doença mental, associada à aceitação da doença e à crença no tratamento e na reabilitação se o diagnóstico for atempado.

Do estudo da influência da frequência do ensino clínico nas crenças relativamente aos doentes mentais verificou-se um decréscimo das crenças negativas, isto é, na crença da Doença como causa de Estigma e

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Discriminação e na Perigosidade e um incremento das crenças positivas, no Reconhecimento da Doença e a Doença como Condição Médica.

São vários os estudos em que a formação influenciou positivamente os estudantes relativamente às crenças discriminatórias (Wes Shera e Delva- Tauiliili, 1996;Penn et al., 1999; Corrigan et al., 2001 Madianos et al., 2005), concluindo que as crenças relativas à imprevisibilidade e perigosidade associadas ao doente mental se revelaram menos intensas, logo, menos estigmatizantes.

Relativamente às atitudes dos estudantes acerca das doenças e doentes mentais manifestadas antes de iniciar o ensino clínico de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, observa-se que é na dimensão Benevolência que se obtém uma média superior, seguida imediatamente pela dimensão Ideologia da Higiene Mental, o que indicia níveis de tolerância e sensibilidade sociais em relação a estes problemas.

O Autoritarismo aparece, neste estudo, como a terceira dimensão mais importante referida pelos estudantes, seguida da dimensão Restrição Social que apontam para uma atitude mais negativa.

Perante estes resultados parece razoável que nos questionemos se o facto de ainda se verificar alguma preponderância de atitudes pouco favoráveis dos estudantes de enfermagem face às pessoas com doenças mentais, isto é, autoritárias e restritivas, não poderão, de algum modo, estar relacionadas com a ausência de experiência clínica e ao facto dos conhecimentos teóricos serem ainda pouco consistentes.

No que diz respeito à influência da formação prática verificou-se uma redução ao nível das atitudes negativas, no Autoritarismo e na Restrição Social (em que

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o doente mental surge como uma pessoa perigosa para a sociedade implicando que a sua liberdade seja condicionada) e, um incremento nas atitudes positivas, Benevolência e Ideologia da Higiene Mental (que é entendida como uma perspetiva que oferece resistência ao estigma).

Como conclusões deste estudo que pretendeu avaliar as crenças e atitudes dos estudantes de Enfermagem e o efeito do ensino clínico de enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria nessas crenças e atitudes pode-se inferir:

 Constata-se um reconhecimento e consciencialização para a natureza das

doenças mentais e do seu cunho médico que são visíveis pelas crenças e atitudes que denunciam uma maior aceitação e tolerância ainda que não sejam de desvalorizar os mitos na incurabilidade, na perigosidade e na imprevisibilidade dos doentes mentais;

 O ensino Clínico de ESMP promove uma mudança nas crenças e atitudes dos

estudantes de Enfermagem, ainda assim esse efeito é modesto, o que indicia a necessidade de privilegiar nos currículos conteúdos que aumentem a literacia no domínio da saúde mental;

 É na necessidade de reintegrar socialmente os doentes, diminuído por isso a

atitude de restrição social que essa mudança é mais vincada, um efeito positivo do ensino clínico que indicia que a exposição e experiência com a prática da Enfermagem psiquiátrica aumenta a consciência da necessidade de garantir direitos e liberdades dos doentes, condizente com aqueles que são os valores e princípios do PNSM: 2007-2016;

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BIBLIOGRAFIA

Cohen, J. e Struening, E. (1962). Opinions About Mental Illness in the personnel of two large Mental Hospitals. Journal of Abnormal and Social Psychology, 64(5) 349-360.

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Referências

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