DIS
REVISTA
CE
NTES
A REVISTA DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DO CEARÁ
• T
EMOS UMA REVISTA!• O
S ALUNOS DAEJA
PRODUZEM RESENHASLITERÁRIAS
.
• V
OCÊ SABE O QUE É UM TRITÃO?9 7 7 2 5 2 7 0 5 8 0 0 0 01> ISSN 2527-0583
• E
DITORIAL: A FUNÇÃO SOCIAL DO TEXTO.Nossos patronos:
A Rachel
Por que esta intimidade?
Porque somos do luxo da aldeia...
EDITORIAL
O GRANDE EQUÍVOCO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 01
CONTOS
A GAROTA E O TRITÃO 02
MARIA ISABEL SOUSA
UMA ESTÓRIA DE “MALASSOMBRO” ÍRIS MARLY B.LEITE
06
RESENHAS LITERÁRIAS
QUEIRÓS,EÇA.OPRIMO BASÍLIO.SÃO PAULO:KLICK EDITORA,1997.
VANESSA ALVES
08
PALAVRAS DO PROFESSOR
TEXTOS LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS RODRIGO NÓBREGA MARTINS
12
EXPEDIENTE
REVISTA DISCENTES
ENDEREÇO:
ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
ESTADO DA BAHIA.
AVENIDA JOSÉ PINHEIRO ESMERALDO S/N
-BAIRRO PINTO MADEIRA -CRATO /CE.
CONTATO
TEL:(88)9.8871-1275
E-MAIL:
CONTATO@REVISTADISCENTES.COM.BR EDITORES RESPONSÁVEIS:
RODRIGO NÓBREGA MARTINS - PROFESSOR DO
EJA+QUALIFICA,EEFMESTADODABAHIA. EDITORES ASSISTENTES:
VANESSA ALVES FERREIRA - ALUNA DO EJA+
QUALIFICA,EEFMESTADODABAHIA. CONSELHO EDITORIAL:
AURILENE GOMES MONTEIRO - ALUNA DO EJA+
QUALIFICA,EEFMESTADODABAHIA. NÁDIA NAIARA DOS SANTOS DIAS - ALUNA DO
EJA+QUALIFICA,EEFMESTADODABAHIA. RAQUEL ANDREIA DA SILVA SEVERO - ALUNA DO
EJA+QUALIFICA,EEFMESTADODABAHIA. MARIA JOSIANE SILVA DOS SANTOS AVELINO -ALUNA DO EJA+QUALIFICA,EEFMESTADO
DABAHIA.
FRANCISCO ÉDSON PEREIRA DE MOURA - ALUNO DO EJA+QUALIFICA,EEFMESTADODA
BAHIA. APOIO TÉCNICO:
RODRIGO NÓBREGA MARTINS - PROFESSOR DO
EJA+QUALIFICA,EEFMESTADODABAHIA.
Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.
Machado de Assis
DIS
CE
NTES
REVISTA
1
O
GRANDE EQUÍVOCO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRARodrigo Nóbrega Martins
educação brasileira ainda não percebeu que o esportista de alto nível, o artista de renome internacional, o matemático brilhante, o físico de alto gabarito; o escritor que toca a alma com sutileza e vivacidade de milhares de pessoas não estão e nem são obra do adulto porque o adulto é uma consequência das primeiras idades do indivíduo.
A semente genuína que forma o adulto está na infância e adolescência. Por conseguinte, está na escola básica. É na escola básica que as facilidades e tendências do indivíduo podem ser, em alto grau, desenvolvidas, ampliadas, aprofundadas.
É no ambiente escolar, na quadra, nos projetos, nos laboratórios que a força da juventude empolga-se com a matemática, com a história, com o futebol, a flauta, o violão, o inglês, a literatura e rompem os limites até então impostos...
Na educação básica está a substância, a força, a essência, a eletricidade que levará o indivíduo vida a fora. É na educação básica que estão todas as potencialidades; na educação básica está o extraordinário, a quebra de recordes, de paradigmas; na educação básica está a nova forma de pensar, a inovação; na educação básica está o respeito às diferenças, a tolerância mútua, o saber conviver, a competência, os valores éticos.
Mas tudo isso repousa em forma de semente. Então, dependendo da qualidade do solo, das regas e do sol, estas sementes desabrocharão fortes, vigorosas, altaneiras. Mas o que tem acontecido é que tais sementes têm sido tratadas com deszelo, sem cuidado, sem carinho, sem atenção. Eis porque tantas não têm desabrochado como poderiam, não têm crescido em todo seu potencial.
Então a promessa da árvore frondosa resulta numa rama de atrofiado potencial, miúda, fraca pela desatenção, pela falta de escrúpulos, pelo descaso e o descompromisso em tantos, em tantas esferas.
Diante de tal situação, não há mais desculpa, explicação ou justificativa para o descaso com a educação deste potencial país, seja da família, da escola, dos poderes públicos ou de qualquer outro segmento da sociedade.
O descaso com a educação é um descaso consigo mesmo. Boa leitura. Os editores
A
J u l h o | 2 017 V o l u m e 1 | E d i çã o 1
E
DITORIAL
2
Vol. 01 | Nº 01 |2017 Revista Discentes ISSN: em trâmite
ra um pequeno povoado situado em um lugar muito distante. Ali vivia uma jovem moça chamada Éris. Ela era uma menina doce e generosa, tinha longos cabelos negros e encantadores olhos amendoados. Éris morava com a mãe e o padrasto; os dois passavam o dia trabalhando enquanto a jovem garota cuidada da casa onde moravam.
Certo dia, quando estava preparando o jantar, um mendigo bateu à porta. Éris abriu e convidou aquele homem esquelético a entrar.
- O senhor quer um pouco do almoço que estou preparando? A menina perguntou com doçura ao mendigo.
- Sim, minha bela jovem, se não for incomodar! Disse o velho senhor.
A menina colocou a comida em um prato e entregou ao mendigo, que comeu com satisfação. Quando acabou, agradeceu mil vezes pela gentileza e saiu.
Meia hora mais tarde Éris foi colher flores como sempre fazia para colocá-las decorando a mesa do jantar.
Na volta para casa, ela encontrou uma senhora caída, o sangue a escorrer-lhe abundante na testa, como água jorrando de uma cascata. - Boa tarde, senhora! Disse a garota. E continuando:
- Acompanhe-me até minha casa. Lá eu cuidarei deste ferimento.
A velha senhora aceitou o convite e lá se foram elas. Éris, a quem a generosidade não faltava, ia dando apoio à mulher.
Quando chegaram à casinha, a moça limpou o ferimento, mas como faltava material para fazer uma atadura, ela pegou uma camisa do padrasto que estava sem uso, cortou e amarrou em torno da cabeça da mulher. Esta partiu muito grata.
Logo depois seu padrasto, de coração severo, a quem faltava bondade, chegou vasculhando as panelas. Em tom imperioso perguntou:
- Menina, por que você fez pouca comida!? Logo hoje que estou com uma fome de leão!
E
A garota e o tritão
CABEÇALHO/EXPEDIENTE:Aluna: Maria Isabel de Souza Série: 3º Turma: Turno: Área de concentração: linguagens e códigos Disciplina: Língua Portuguesa
Escola: EEEFM Estado da Bahia
Professores orientadores: Lucélia Macedo Gondim, Jáfia P. Leandro, Maria Iradimar L. Lavor
Diagramação: prof. Rodrigo Nóbrega Martins.
Observações: retirado da coletânea de contos “Umas histórias de malassombros”. Palavras-chaves: produção textual, mitologia grega, narração, língua portuguesa.
Maria Isabel Sousa E.E.E.F.M. Estado da Bahia
Figura 1: coletânea de contos publicada pelos professores orientadores da qual se retirou a presente narrativa. A EEEFM Estado da Bahia realiza anualmente o projeto “Mergulhando na leitura e na escrita”,
3
Vol. 01 | Nº 01 |2017 Revista Discentes ISSN: em trâmite
- Eu dei um pouco a um mendigo que passou por aqui! Disse a menina.
- Pois não devia ter dado. Agora vamos comer menos que o devido! Falou o padrasto com aspereza.
- Mas nós temos o que comer todos os dias. Ele só come o que os outros lhe dão; precisa mais do que nós. Replicou Éris.
- Ele que vá trabalhar! Agora vá buscar aquela camisa azul para mim! Já faz tempo que não a uso! Replicou o padrasto.
A garota mordeu os lábios, pensando no que diria ao padrasto. A camisa azul que ele pedira era a mesma que ela havia desmanchado para fazer o curativo na velha senhora. Ela já sabia o que viria a seguir. Respirou fundo e foi pegar os restos da camisa.
- Senhor, eu usei pedaços da camisa para fazer um curativo! Disse Éris. E continuou:
- Eu pensei que o senhor não a quisesse mais, pois estava há muito tempo sem uso.
- Agora você passou dos limites! Você vai pagar por isso! Gritou o homem!
A menina recuou, jogou os farrapos da camisa no chão e correu para a sala. O padrasto foi logo atrás com uma faca na mão.
A garota não ousou sair da sala. Aguardou o padrasto vir silenciosamente. Ele parou a cinco metros de distância de Éris e logo lançou a faca que, por sorte, passou de lado. Enfurecido, ele avançou e deu uma bofetada na garota. Ela, por sua vez, caiu de costas no chão. Quando tentou se levantar, tateou algo. Era a faca. Movida pelo impulso de raiva, a menina agarrou o cabo e acertou a faca na barriga do padrasto, quando este já estava para lhe bater novamente.
O homem caiu de bruços, colocando a mão sobre o ferimento e se contorcendo. Éris olhou a faca ensanguentada que estava segurando e só então tomou consciência do que tinha acabado de fazer. Enquanto o homem gemia, Éris correu em busca de algo para cobrir o ferimento, mas quando voltou já era tarde demais. O padrasto já estava morto.
Quando Éris estava o carregando para o sofá sua mãe chegou.
- O que aconteceu aqui? Perguntou a mulher ao ver todo aquele sangue no chão.
A garota assustada deixou o corpo e se voltou para a mãe:
- O seu marido me bateu. Respondeu Éris com os
● ● ●
Mitologia grega é o
estudo dos
conjuntos de
narrativas
relacionadas com os
mitos dos gregos
antigos e seus
significados. Os
mitos gregos
ilustram as origens
do mundo, os
modos de vida, as
aventuras e
desventuras de uma
ampla variedade de
deuses, deusas,
heróis, heroínas e
de outras criaturas
mitológicas.
● ● ●Figura 2: tritão, figura mítica da mitologia grega.
4
Vol. 01 | Nº 01 |2017 Revista Discentes ISSN: em trâmite
belos olhos amendoados marejando...
- Sim... Pondera a mãe: - Mas por que ele está desacordado? E de onde saiu todo este sangue?
Éris mostra a faca ensanguentada e começa a explicar.
- Ele atirou-me a faca... Falou a menina com a voz trêmula.
- Eu estava tentando me defender...
Só então a mãe percebe o que ocorrera:
- Meu Deus Éris! Ele está morto! Você o matou!
Ela correu até o marido e o segurou pelos braços, chorando desesperadamente.
- Mãe, perdoe-me! Suplica Éris se aproximando lentamente.
- Eu não quis fazer isso! A mãe ergueu o olhar para a filha, cravando os olhos no rosto da jovem.
- Você me tirou meu marido! Isto não tem explicações! Vociferava a mãe, praguejando e lançando maldições à filha:
- Você vai se apaixonar, Éris! Mas não vai jamais poder tocar seu amado...
A menina fitava a mãe, atônita, com a face petrificada.
- Saia daqui! Pegue suas coisas e saia! Gritou a mulher.
Éris correu para o quarto, pegou alguns vestidos
e foi embora assustada e sozinha, caminhando sem rumo.
Certo dia, ela chegou a uma praia. Lá ela avistou um rapaz sentado sobre uma pedra. O rapaz a olhou e pulou no mar. Éris viu, de súbito, uma cauda de peixe enorme.
Primeiramente, pensou que o peixe engolira o rapaz. Minutos mais tarde ele voltou à superfície. Uma sensação de calor fez Éris se dirigir até a pedra onde o rapaz estava. Ao lançar o olhar em seu rosto, a menina percebeu que estava apaixonada.
- Olá. Disse a moça em tom cortês.
- Oi. Respondeu o rapaz.
A menina baixou o olhar e ficou espantada com o que viu. O rapaz tinha uma cauda de peixe no lugar das pernas.
Éris imediatamente lembrou o que a mãe lhe dissera: “você vai se apaixonar, Éris, mas não vai poder tocá-lo, não vai ficar com ele”. Talvez ela não pudesse ficar com ele pelo fato de ele morar debaixo d’água. A parte sobre tocá-lo, Éris só entendeu depois.
Naquele momento, o jovem estendeu a ela sua mão, mas Éris compreendeu o que se passava. O jovem era um tritão.
A Fonte do Tritão (em italiano: Fontana del Tritone), uma das primeiras fontes de Gian Lorenzo Bernini, localiza-se na Piazza Barberini, em Roma, tendo sido uma encomenda do papa Urbano VIII, um amante da arte e fã do escultor. Bernini a esculpiu entre 1642 e 1643 e foi a primeira de suas fontes, indiscutivelmente barroca e de grande dramaticidade.
A escultura mostra Tritão, mítico personagem da mitologia grega, filho de Netuno, cujo tronco era de um homem e as pernas eram a cauda de um peixe, sorvendo água de uma concha, sendo apoiado por quatro grandes peixes de duras feições. Era natural na época de Bernini que todos os seres representados fossem de grande exatidão fisionômica, como se mostra Tritão, másculo e artisticamente perfeito.
F
ONTANA DE
TRITONE
5
Vol. 01 | Nº 01 |2017 Revista Discentes ISSN: em trâmite
Desolada, a menina correu para o mais longe possível. Pelo resto de sua vida ela tentou esquecer o jovem dos mares, mas a cada dia aquela imagem se tornava mais forte, como se ele mesmo estivesse em sua frente.
Éris não se apaixonou por outra pessoa. Permaneceu vagando, tentando reencontrar o jovem homem-peixe, mas ele nunca mais voltou à superfície. Mal sabia ela que nas profundezas, o jovem passou a eternidade perturbado por não poder tocar a bela jovem.
Acontecerá no mês de novembro de 2017 mais uma edição do projeto “Mergulhando na leitura e na escrita”. Trata-se de culminâncias de diversas atividades levadas a termo durante todo o ano pelos professores e alunos da Escola de Ensino Fundamental e Médio Estado da Bahia.
Além de uma miríade de produções dos discentes, conta-se ainda com performances de artistas locais, bem como palestras de escritores também locais. Em sua sexta edição, o evento já tem causado grandes expectativas. Vale a pena conferir. Localizada no bairro Pinto Madeira, na cidade do Crato, interior do Ceará, a escola – que apesar do nome – não mantém turmas de ensino fundamental já é conhecida pela organização. Tendo enfrentado momentos difíceis, hoje é uma das escolas que fazem encher os nossos olhos.
6
Vol. 01 | Nº 01 |2017 Revista Discentes ISSN: em trâmite
oin era um caboclo matreiro, amarelo, sem frescura e com um gosto para aventuras. Morava numa tapera simples, que ficava próxima a uma estradinha de terra, que cortava um canavial.
Todos tinham medo e ninguém se atrevia a passar por aquele caminho depois que escurecia. Diziam que por ali, há algum tempo, havia morrido uma jovem bonita, loira e que estava prestes a casar. Contava-se também que sua alma nunca encontrara sossego, procurando o noivo perdido há tanto tempo.
Quem tinha que passar por ali, afinal em certas ocasiões não havia meios de se desviar o itinerário, não se demorava por medo de uma suposta aparição. Toin, cansado desse povo crédulo, não acreditava em nada, pois ia e vinha e nunca algo o surpreendera
para o fazer mal ou o bem. Achava que era tudo lorota, uma desculpa para os cabras que gostavam de pular a cerca, visto que a alma penada só se revelava para os homens. Então, em uma noite sem estrelas, com um vento que fazia o canavial se balançar nervosamente, Toin voltava para casa sozinho e a pé. Ia pensando em Xica, sua namorada que estava na tapera, a sua espera na rede.
Quando subia a ladeira, no ponto onde o canavial estava mais crescido e mais fechado, resolveu se sentar porque sua chinela de couro estava a incomodar. Mal encostou a bunda no chão, aconteceu uma coisa engraçada: uma luz vinha lá de dentro da plantação. Ele se aprumou e pegou o punhal. Se fosse algum ladrão enxerido ele passava a faca! Esperou a luz se
T
Uma estória de “malassombro”
CABEÇALHO/EXPEDIENTE: Aluna: Íris Marly B. Leite Série: 2º Turma: C Turno: Área de concentração: linguagens e códigos Disciplina: Língua Portuguesa
Escola: EEEFM Estado da Bahia
Professores orientadores: Lucélia Macedo Gondim, Jáfia P. Leandro, Maria Iradimar L. Lavor
Diagramação: prof. Rodrigo Nóbrega Martins.
Observações: retirado da coletânea de contos “Umas histórias de malassombros”. Palavras-chaves: produção
Íris Marly B. Leite E.E.E.F.M. Estado da Bahia
QUEM CONTA UM CONTO,
AUMENTA UM PONTO!
Foi dessa forma que esse tipo de texto surgiu. Não sendo por acaso seu nome, o conto teve início junto com a civilização humana. As pessoas sempre contaram histórias, reais ou fabulosas, oralmente ou através da escrita.
O conceito de conto, hoje em dia, foi ampliado em relação a este citado acima. Isto se dá porque escritores passaram a adotar esse tipo de texto como uma forma de escrever, e essa tentativa tem revelou-se de sucesso.
Além de utilizar uma linguagem simples, direta, acessível e dinâmica, o conto é a narração de um fato inusitado, mas possível, que pode ocorrer na vida das pessoas embora não seja tão comum.
7
Vol. 01 | Nº 01 |2017 Revista Discentes ISSN: em trâmite Figura 1: coletânea de contos publicada pelos professores orientadores da qual se retirou a presente narrativa. A EEEFM Estado da Bahia realiza anualmente o projeto “Mergulhando na leitura e na escrita”, com produções dos alunos dos três turnos nos quais a escola funciona.
aproximar e ficou de tocaia. Rapidinho a coisa chegou à beira da estrada. Toin ficou encantado! Não era ladrão, mas uma moçoila jeitosa, com cara de choro e vestida com roupas de casamento. Ele guardou a faca e começou a prosear:
- Oh moça bunita! Num sabe que é perigoso andar por aqui? Que cê faz aqui nu’a hora dessa?
E a estranha disse: - Não tenho medo do perigo, só procuro um noivo para me casar antes que amanheça.
Toin nem se lembrou de que aquela era a assombração e continuou a conversar:
- Procura um homi? Por que não vai para casa e espera um bom partido aparecer por lá, minha senhora! Uma moça garbosa como ocê?
A moça respondeu: - Vivo sozinha seu moço, sem ninguém para me acompanhar... Mas você é bem apessoado e comigo irei levar.
Toin encafifou e a ideia lhe ocorreu:
- Valha-me Deus! Me acode, que essa aparição se apaixonou por eu!
E correu, correu tanto que as canelas finas batiam na bunda, gritando por Deus e todos os santos. Passado um tempo chegou a sua casa todo agoniado, gritando,
chamando por Xica e amaldiçoando o Diabo!
Xica, ao ouvir os gritos vindos lá de fora, se preocupou e correu até o seu chamado. Abriu a porta e Toin entrou espavorido.
Este lhe contou o ocorrido, no que Xica replicou:
- Toin meu marido! Que estória de arrepiar! Não sabia que aquela loira safada gosta de os homens carregar! Toin acabou por se traumatizar, jurando de pé junto nunca mais andar por lá.
Essa praticidade tem atraído leitores de todas as idades e níveis intelectuais. Inclusive aqueles que não têm o costume de ler ou que ainda estão começando a adquirir este hábito. Não é um texto denso, que exija grande esforço intelectual para ser compreendido, e por isso mesmo é tão bem aceito em diversos tipos de meios de comunicação, não somente através dos livros.
Como narrativa oral o conto surge no Brasil trazido pelos portugueses, e até hoje é fortemente propagado, em diversas regiões do país. São as chamadas “estórias de Trancoso”.
Como narrativa escrita o conto surge na literatura Brasileira durante o início do Romantismo, mas os autores românticos não conseguiram se destacar através desse tipo de texto. O primeiro grande contista brasileiro, Machado de Assis, iria surgir no início do Realismo, e seu nome se tornaria consagrado pelo brilhantismo com que dominava as palavras.
Há algumas características que podem nos ajudar a identificar ou até mesmo a produzir um conto:
É uma narrativa curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa.
A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de expressões com pluralidade de sentidos. Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho. Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação.
VOL.01|N.º 01|2017 REVISTA DISCENTES CEARÁ ISSN: EM TRÂMITE
Por Vanessa Alves EEEMF Estado da Bahia
Primo Basílio faz parte do Realismo português. Foi lançado em 1878 por Eça de Queiros. O Realismo português foi uma escola literária que tinha como principal objetivo
combater o
romantismo.
O romantismo é aquele amor cego, que mata e morre; idealiza o amor perfeito, com personagens perfeitos integrando lindas histórias.
O Realismo veio mostrar como ciência e razão superam a
emoção e o
sentimentalismo. Na visão dos realistas, a literatura torna-se uma arma na luta contra a hipocrisia.
Os lindos
casamentos são de fachada, assentados em bases falsas e
podres. Eça vem desmascarar o oculto, queria mostrar através dos seus romances que a sociedade não era tão bonitinha e perfeita como aparentava ser.
Em carta para seu amigo, Teófilo Braga, crítico literário, Eça explica seus objetivos em O
O
Figura 1: o começo do romance: Luíza beija Basílio.
CABEÇALHO/EXPEDIENTE:
ALUNA: Vanessa Alves SÉRIE: EJA. TURMA: única. TURNO: noturno ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: linguagens e códigos DISCIPLINA:
Língua Portuguesa ESCOLA: EEEFM Estado da Bahia PROFESSORES
ORIENTADORES: Rodrigo Nóbrega Martins DIAGRAMAÇÃO: prof.
Rodrigo Nóbrega Martins. OBSERVAÇÕES: não há.
PALAVRAS-CHAVES: produção textual, realismo português, intrepretação
textual, literatura portuguesa.
O
PRIMO
B
ASÍLIO
VOL.01|N.º 01|2017 REVISTA DISCENTES CEARÁ ISSN: EM TRÂMITE Primo Basílio: a burguesia religiosa, virtuosa e ostentadora escondia o podre, o sórdido.
O enredo nos apresenta Jorge, um engenheiro sério, tradicional e sem nenhuma extravagância, casado com Luíza, descrita no livro como ansiosa, meio bobinha, sem nada para fazer. Cheia de empregados, Luíza lia. Gostava de livros que falassem de amor, de aventuras amorosas. Embalada por tais leituras, Luíza suspirava, sonhava decerto porque a vida de casada não tinha a poesia que ela encontrava em seus romances.
Ao descrever Luíza como apreciadora de livros sobre aventuras amorosas e influenciável pelo que lia, Eça lança uma crítica aos escritores da época assim como adverte os leitores sobre a qualidade do que consomem em termos de cultura.
O casal não tinha filhos e por isso Luíza tinha muito tempo livre.
Basílio era primo de Luíza. Quando adolescentes foram namorados, mas um daqueles namoros pueris, de criança. Ademais, Basílio era um homem do mundo; sedutor, bonito, viajado... Conhecia muitos países, falava mais de uma língua; gostava de literatura, teatro. Tinha uma conversa interessante, o que, de um ou de outro modo, chamava as mulheres à atenção.
Jorge era um homem trabalhador, tranquilo, tipo caseiro; de fato não era bonito como Basílio, embora tivesse seu atrativo. Num golpe da vida ou uma grande coincidência Basílio voltava do Brasil para Lisboa. Como não via a prima há bastante tempo, resolveu visitá-la. Luíza impressionou-se com o mancebo; ficou mexida;
PÁGINA 9 RESENHA LITERÁRIA:OPRIMO BASÍLIO
José Maria de Eça de Queiroz [1][2][3] (Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Paris, 16 de agosto de 1900) foi um dos mais importantes escritores portugueses da história. Foi autor de romances de reconhecida importância, de Os Maias e O Crime do Padre Amaro; o primeiro é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX. Morreu em 16 de Agosto de 1900 na sua casa de Neuilly-sur-Seine, perto de Paris. Teve funeral de Estado,[12] foi sepultado em Cemitério dos Prazeres de Lisboa, mas mais tarde foi transladado para o cemitério de Santa Cruz do Douro em Baião.
VOL.01|N.º 01|2017 REVISTA DISCENTES CEARÁ ISSN: EM TRÂMITE fez comparações entre
Basílio e Jorge. Daí ao primeiro beijo não demorou muito. É bem verdade que ela, em sua moral de dona de casa resistiu. Mas foi uma luta travada por uma moral vazia contra o desejo ardente que a mesma
sentia. Cartas
marcadas.
Começaram a se encontrar todos os dias, na casa de Luíza mesmo. A doméstica de Luíza, de nome Juliana, começou a desconfiar. Desta forma, melhor seria que pudessem se encontrar fora dali. Basílio alugou um quartinho reles,
pequeno, num
subúrbio de Lisboa, bem diferente dos quartos dos romances
de folhetim...
Batizaram-no de Paraíso. Lá se encontravam todos os dias.
De certa feita, Luíza recebeu um pequeno bilhete de Basílio. Falava-lhe de seu corpo, de sua pele, da redondez de seu seio, de como eram deleitosos aqueles encontros. Luíza leu em êxtase (...) em seguida jogou o pequeno papel num cesto de lixo que ficava na biblioteca de Jorge.
Juliana que já andava desconfiada apanhou o bilhete no lixo e passou a chantagear a patroa. Pedia dinheiro, vestidos, joias pelo seu silêncio. Em pouco tempo Luíza começou a fazer as tarefas de Juliana. Lavava, passava...
Num determinado dia, Basílio avisa que teria que viajar. Iria à França. Ele sabia das chantagens; Luíza havia lhe contado. Mas mesmo assim ele foi-se embora, deixando Luíza na mão de Juliana.
Não demorou e Jorge volta de viagem. A situação fica muito difícil, mas para saber o final da história, é necessário ler o livro!
PÁGINA 10 RESENHA LITERÁRIA:OPRIMO BASÍLIO
EÇA DE QUEIRÓS NA MPB
“Tinha suspirado, tinha beijado o papel
devotamente! Era a primeira vez
que lhe escreviam Aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se Ao calor amoroso que
saía delas Como um corpo
ressequido Que se estira num
banho tépido Sentia um acréscimo
de estima por si mesma E parecia-lhe que entrava enfim numa
existência Superiormente
interessante Onde cada hora tinha
o seu encanto diferente
Cada passo conduzia a um êxtase E a alma se cobria de
um luxo radioso de sensações!” A música “Amor I love you” tem em seus versos este trecho, extraído do romance
“O primo Basílio”. Narra o momento em que Luíza lê um bilhete que Basílio mandou a ela.
VOL.01|N.º 01|2017 REVISTA DISCENTES CEARÁ ISSN: EM TRÂMITE
Eça de Queirós no cinema e na TV!
Dentre as obras de Eça de Queirós adaptadas para o cinema destacam-se o próprio “O primo Basílio”, obra que tem agradado o
público durante várias gerações, como se pode ver. Nas imagens, a primeira versão para o cinema e o relançamento, com Fábio Assunção, Débora Falabela e Reynaldo Gianecchini. “O crime do padre Amaro”, que traz à cena as dúvidas de um jovem religioso em relação à sua vocação é um filme português realizado por Carlos Coelho da Silva, adaptado da obra homónima de Eça de Queirós por Vera Sacramento. Este filme bateu todos os recordes de bilheteira de filmes portugueses em Portugal.
Os Maias é uma
minissérie brasileira produzida pela Rede Globo em parceria com a emissora portuguesa SIC e exibida entre 9 de janeiro a 23 de março de 2001, em 42 capítulos, livremente inspirada no romance de Eça de Queirós. A minissérie teve a narração de Raul Cortez como se fosse o próprio Eça de Queirós.
PÁGINA 11 RESENHA LITERÁRIA:OPRIMO BASÍLIO
Mistério da Estrada de Sintra (1870) (eBook)
• Crime do Padre Amaro (1875) (eBook)
• A Tragédia da Rua das Flores (1877-78) (ebook)
• Primo Basílio (1878) (eBook) • Mandarim (1880) (eBook) • A Relíquia (1887) (eBook) • Os Maias (1888) (eBook)
• Uma Campanha Alegre (1890-91) • Correspondência de Fradique Mendes (1900) (eBook)
• Dicionário de milagres [13](1900) • A Ilustre Casa de Ramires (1900) (eBook)
• A Cidade e as Serras (1901, póstumo) (eBook)
• Contos (1902, póstumo) (eBook) • Prosas Bárbaras (1903, póstumo) • Cartas de Inglaterra (1905, póstumo) (eBook)
• Ecos de Paris (1905, póstumo) • Cartas familiares e bilhetes de Paris (1907, póstumo)
• Notas contemporâneas (1909, póstumo)
• Últimas páginas (1912, póstumo) • A Capital (1925, póstumo) • Conde de Abranhos (1925, póstumo)
• Alves & Companhia (1925, póstumo)
• Correspondência (1925, póstumo) • Egito (1926, póstumo)
• Cartas inéditas de Fradique Mendes (1929, póstumo)
• Eça de Queirós entre os seus - Cartas íntimas (1949, póstumo).
12
orais; 2º - os textos não são simples amontoados de palavras ou frases, ou seja, eles precisam fazer sentido. Na segunda situa-ção, uma única palavra foi capaz de transmitir uma mensagem de sentido completo, por isso ela pode ser considerada um texto. Mas o que leva um texto a fazer sentido? Isso depende de alguns fatores, como o contexto e o conhecimento de mundo, pró-prio de cada leitor.
Como um amontoado de paus, pedras, telhas e tijolos, não é uma casa, um monte de palavras agrupadas não é um texto.
Imagine, por exemplo, que você está lendo um livro e, de repente, encontra em uma página qualquer um papel com a palavra “madeira”. Ora, certa-mente você ficará intrigado ou simplesmente não dará impor-tância a isso.
Agora, vamos imaginar outra situação: você está no meio de uma floresta e ouve alguém gritar: “Madeira!”. Bem, se você pretende preservar sua vida, sua reação imediata é sair correndo. Isso acontece porque a situação em que você se en-contra levou-o a interpretar o grito como um sinal de alerta.
A partir desses
exem-plos simples, podemos chegar a algumas conclusões importantes: 1º - os textos não são apenas escritos, eles também podem ser
Primeiras palavras
Texto, contexto; conhecimento e sentido
O contexto pode ser explícito, quando é expresso por palavras (o texto em que se encontra a frase ou a frase em que se encontra a palavra), ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido. Logo, a simples mu-dança de contexto faz com que a palavra “madeira” seja interpre-tada de maneiras diferentes. Na primeira situação, embora a palavra esteja dentro de um livro, ela está totalmente fora de contexto, e não produz sentido algum.
Ao longo de vida, o leitor adquire conhecimentos utilizados durante a leitura de mundo e constrói o sentido do texto quando articula diferentes
níveis de conhecimento, entre eles.
Esse tipo de conheci-mento costuma ser adquirido informalmente, através de nossas experiências pessoais e convívio em sociedade, sendo a família, o grupo familiar, a primeira dessas experiências sociais. Ativar seu conhecimento de mundo no momento certo pode ser útil tanto para salvar sua vida no meio da floresta ou para resolver questões mais simples e corri-queiras.
Até aqui, vimos que os textos podem ser orais ou escri-tos. Mas essa noção precisa ser ampliada, pois há textos que não contam com o auxílio da palavra, seja ela escrita ou oral. É o caso,
por exemplo, da fotografia e da pintura.
Assim sendo expandi-mos nosso conceito. Dizeexpandi-mos, então, que há textos verbais, orais e visuais. A sinalização de trânsito, por exemplo, é um caso de texto visual. Há ainda textos que utilizam os dois recursos, como os filmes, que usam ima-gens, diálogos e legendas.
Então, chegamos a con-ceito de texto mais ampliado e consistente: todo enunciado que faz sentido para um determinado grupo em uma determinada situ-ação é um texto, seja ele oral, escrito ou visual.
Evidentemente este pressuposto encontra inúmeras variáveis em cada indivíduo. Rodrigo Nóbrega Martins
Volume 1, edição 1
Texto
Conceituação
Atenção...
Textos não são
ape-nas escritos. O conceito de texto está diretamente ligado ao sentido e ao conhecimento de mundo. Podemos agrupar a
maciça maioria dos textos escritos em dois grandes grupos: textos literários e não-literários.
A impessoalidade é
característica impor-tante dos textos não-literários. Lembre disso!
Neste número:
Texto - conceituação. 1
Texto, contexto,
conhe-cimento... 1
Textos literários e
não-literários. 2
O Bicho, de Manuel
Ban-deira. 2
Descuidar do lixo é
su-jeira. 2
Impessoalidade 2
Análise dos textos. 2 Questos propostas 2
Primeiras palavras.
13 Partindo do conceito de texto como sendo um conjunto de palavras que for-mam um sentido relacionado a um contexto, podemos dividir os textos em dois gran-des grupos: os textos literá-rios e os textos não literáliterá-rios.
Por que fazemos essa distinção? Para estudar os tipos de textos existentes em nossa sociedade, é importante compreender como podemos usá-los a fim de tornar nossa comunicação mais clara, mais objetiva assim, aproveitarmos melhor a variedade de textos que temos a nosso dispor.
Para isso, foi feita a distribuição dos textos por esses dois grandes grupos. Isso equivale a dizer que a maioria dos textos que exis-tem podem ser colocados em
uma dessas duas famílias ou categorias textuais.
Os textos literários são aqueles que possuem função estética. Geralmente destinam-se ao entretenimen-to, ao belo, à arte, à ficção. Já os não-literários são os textos com função utilitária, pois servem para informar, con-vencer, explicar, ordenar.
Aqueles que transmi-tem uma notícia, bem como toda a sorte de textos de viés jornalístico, ou ainda os textos científicos, são exemplos de textos não-literários, pois cumprem uma finalidade dife-rente: informar, orientar, instruir. Isso não quer dizer que os textos literários não instruam. Mas fazem isso de outro modo.
Destarte, quando
assistimos um telejornal, esta-mos tendo contato com um texto oral, de caráter jornalís-tico, que tem como objetivo a informação.
Doutra feita, quando vamos ao cinema, entramos em contato com um tipo de texto oral e literário. Através de um enredo interessante, o leitor - ou telespectador ob-tém entretenimento e mo-mentos de prazer.
TEXTOS LITERÁRIOS E TEXTOS NÃO-LITERÁRIOS...
A
NÁLISE
E
COMENTÁRIO
DOS
TEXTOS
pação com o tempo que o lixo ficará na rua à espera do caminhão que irá recolhê-lo. De qualquer forma, o autor só demonstra preocupação com o lixo e a sujeira e não com a fome dos mendigos.
Já o segundo texto apresenta preocupação com a forma: é um poema. A escolha das palavras e o suspense que causa no leitor levam a uma progressão de sentido que culmina com a revelação de que o bicho é um homem. O poema retrata a condição degradante a que um homem pode chegar quando atinge o ápice da miséria.
O poeta mostra sua indignação com o fato de um homem se assemelhar a um bicho por buscar comida no lixo. Compara-o aos animais que têm por hábito revirar latas de lixo: cachorro, gato e rato. No último verso, declara sua inconformidade com o vocativo “meu Deus”, de-monstrando sua emoção com a revelação de que o bicho era um homem, ou seja, o poeta não admite que um homem possa se comportar como um bicho.
Ao lermos o poema, a carga emotiva das palavras escolhidas pelo poeta é trans-mitida para nós. Aí está a diferença fundamental entre um texto literário e um texto
não literário: a carga expressi-va, no tocante ao sentir.
Mas muitos outros elementos diferenciam um texto literário de um texto não-literário. Enquanto o primeiro traz a emotividade, e tantas vezes a parcialidade, manifestada através da indig-nação, da revolta, da raiva, da alegria, do amor, da euforia, da satisfação, o texto não-literário tem por foco a im-parcialidade, a isenção.
Assim, não cabem no texto não-literário, jornalísti-co, científico ou instrucional, pareceres próprios, opiniões individuais, manifestações de gosto ou preferência, bem como tudo que possa, ainda que minimamente, distorcer o fato que se pretende transmi-tir.
Eis porque, num de-terminado texto não-literário que venhamos a redigir, de caráter jornalístico, que venha transmitir uma noticia, ou determinado texto científico, comunicando a descoberta de um novo medicamento, não devemos usar construções em primeira pessoa - seja no plu-ral ou singular. Evitemos assim o „eu‟ e o „nós‟. Eles nos serão muito úteis, mas em outros tipos textuais. Os chamados textos literários.
Boa sorte e bons estudos. Até a próxima. Os dois textos
apre-sentam temática semelhante: a administração do lixo. Dentro desse contexto, pessoas que reviram o lixo em busca de comida ou objetos que lhes sejam úteis.
No entanto, o primei-ro texto pprimei-rocura ressaltar o transtorno que causam os mendigos por deixarem o lixo esparramado pelo chão. A notícia procura denunciar dois fatos: a lanchonete que deixa seu lixo na calçada de forma antecipada em relação ao recolhimento, e a sujeira espa-lhada nas calçadas pelos men-digos que reviram o lixo.
A única palavra nesse texto que pode denotar algum tipo de sentimentalismo ou sensação do autor é “lamentável”. No entanto, ela perde sua carga significativa ao acompanhar a palavra “banquete”, revelando que o autor da notícia, na verdade, não está preocupado com as pessoas que se alimentam do lixo, mas com a sujeira causa-da pelo tal banquete.
O título do texto também nos faz pensar: “Descuidar do lixo é sujeira”. Sujeira, no sentido de os men-digos deixarem tudo espalha-do pela calçada, dificultanespalha-do a limpeza das ruas; sujeira, no sentido de não ser uma atitu-de correta a falta atitu-de
preocu-O bicho
Vi ontem um bicho Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem. (Manuel Bandeira. Em Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.145)
Descuidar do lixo é sujeira
“Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência de uma das filiais do McDo-nald’s deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão”. (Veja São Paulo, 23-29/12/92)
Atividades
1. Elabore um parágrafo, de cinco a seis linhas, de um texto não-literário, cujo objetivo seja infor-mar sobre um problema ocorrido ou ocorrente em sua comunidade. 2. Elabore um texto de, no mínimo
20 linhas, de caráter literário. Conte um fato engraçado, curioso, esquisito, triste, ou que tenha qualquer outra característica que você queira atribuir.
Impessoalidade
A finalidade da língua é comuni-car, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comunicação, tornam-se necessários: pelo menos três elementos: alguém que comunique; algo a ser comunicado e alguém que receba essa comunicação. Ocorre que muito facilmente, deixamos de lado os fatos e passamos a transmitir as nossas impressões sobre o fato. Desta forma, não há lugar num texto informativo, instrucional ou jornalís-tico, para impressões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literário. Um texto não-literário deve ser isento da interfe-rência da individualidade que a elabo-ra.
DIS
REVISTA
CE
NTES
A REVISTA DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DO CEARÁ
A escola não pode mais fazer uma manutenção tão maciça e substancial da aula expositiva, eminentemente teórica, na qual os
alunos ouvem o professor discursar. Tal prática, embora cumpra uma função em um determinado momento didático, não é a essência do trabalho pedagógico e, portanto, não pode mais ser vista
nem praticada com demasiada ênfase. Sobretudo nos dias atuais, com o avanço verificado da internet e a multiplicação das ferramentas alternativas para o trabalho pedagógico, o professor que se restringe a uma aula meramente falada, o faz porque quer, não mais pela falta de outros meios. É neste sentido que a Revista Discentes vem propor novos horizontes para a produção textual no Ensino Médio do estado do Ceará. Estes novos horizontes abrangem
a função social do que se produz na educação básica. Eis a nossa missão!