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(1)

Sónia Alexandra Folgado Soares

A NÁLISE DE INDIVÍDUOS DA NECRÓPOLE MEDIEVAL - MODERNA DA IGREJA MATRIZ DE SÃO

SALVADOR ( SINES ):

RAÍZES AFRICANAS ENTRE O POVO PORTUGUÊS

Dissertação no âmbito do mestrado em Evolução e Biologia Humanas orientada pela Professora Doutora Ana Luísa Santos e apresentada ao Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da

Universidade de Coimbra.

Setembro de 2019

(2)

i

Sónia Alexandra Folgado Soares

A NÁLISE DE INDIVÍDUOS DA N ECRÓPOLE

M EDIEVAL -M ODERNA DA I GREJA MATRIZ DE S ÃO

S ALVADOR (S INES ):

RAÍZES AFRICANAS ENTRE O POVO PORTUGUÊS

Dissertação no âmbito do mestrado em Evolução e Biologia Humanas orientada pela Professora Doutora Ana Luísa Santos e apresentada ao Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da

Universidade de Coimbra.

Setembro de 2019

(3)

ii Aos meus pais, Mário e Gabriela, e à minha mana, Marina, são o meu porto de abrigo em dias de tempestade.

(4)

iii

SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS ... vii

ÍNDICE DE TABELAS ... vii

LISTA DE ABREVIATURAS... xv

AGRADECIMENTOS ... xvii

RESUMO ... xix

ABSTRACT ... xxi

1. INTRODUÇÃO ... 1

1.1. Enquadramento Histórico de Sines (Século XV-XVI) ... 1

1.2. A História da Escravatura em Portugal ... 3

1.3. Inumações “Atípicas” ... 4

1.4. Ancestralidade ... 7

1.5. Objetivos ... 8

2. MATERIAL E MÉTODOS ... 11

2.1 Material ... 11

2.2 Métodos ... 11

2.2.1 Preservação e representatividade do material osteológico ... 11

2.2.2 Estimativa do Sexo ... 13

2.2.3 Estimativa da idade à morte ... 13

2.2.4 Estimativa da estatura... 14

2.2.5 Ancestralidade ... 15

2.2.6 Índices de achatamento e robustez ... 15

2.2.7 Caracteres discretos cranianos e pós-cranianos ... 16

2.2.8 Caracteres morfológicos dentários ... 17

2.2.9 Modificações dentárias ... 18

2.2.10 Análise paleopatológica ... 20

3. ANTROPOLOGIA FUNERÁRIA ... 23

3.1. Dados funerários ... 24

3.2. Inumações “atípicas” ... 26

3.3. Espólio ... 29

4. RESULTADOS ... 31

4.1. Índice de conservação anatómica ... 31

4.2. Tafonomia ... 32

(5)

iv

4.3. Paleodemografia ... 33

4.3.1. Caracterização da amostra ... 33

4.3.2. Estimativa do sexo ... 33

4.3.3. Estimativa da idade à morte ... 34

4.3.4. Ancestralidade ... 34

4.4. Morfologia ... 36

4.4.1. Estatura ... 36

4.4.2. Índices de achatamento e robustez ... 37

4.4.3. Caracteres discretos cranianos e pós-cranianos ... 38

4.4.4. Caracteres morfológicos dentários ... 40

4.5. Modificações dentárias ... 44

4.6. Paleopatologia ... 55

4.6.1. Patologia Oral ... 55

4.6.2. Patologia Degenerativa ... 62

4.6.3. Nódulos de Schmorl ... 63

4.6.4. Casos particulares ... 64

4.6.5. Possível patologia traumática ... 68

4.6.6. Patologia congénita ... 73

4.6.7. Indicadores de stresse fisiológico ... 74

4.6.8. Patologia neoplásica ... 75

4.6.9. Patologia infecciosa... 76

4.6.10. Lesões inespecíficas ... 76

5. DISCUSSÃO ... 79

5.1. Antropologia funerária ... 79

5.2. Paleodemografia ... 82

5.3. Morfologia ... 83

5.4. Modificações dentárias ... 85

5.5. Patologia oral ... 89

5.6. Patologia degenerativa ... 91

5.7. Nódulos de Schmorl ... 92

5.8. Casos particulares ... 92

5.9. Patologia traumática ... 94

5.10. Patologia congénita ... 95

5.11. Indicadores de stresse fisiológico ... 95

(6)

v

5.12. Patologia neoplásica ... 96

5.13. Patologia infecciosa ... 97

5.14. Lesões inespecíficas ... 98

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 101

7. BIBLIOGRAFIA ... 103

8. APÊNDICES ... 117

(7)

vi

(8)

vii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Ilustração da Zona Geral de Proteção e do Monumento de Interesse Público no Centro Histórico de Sines. ... 3

Figura 2. Fórmulas para o cálculo do ICA e IRO (Dutour, 1989, adaptado por Garcia, 2006: 278-279). ... 12

Figura 3. Diagrama esquemático do funcionamento do MEV (Lai et al., s.d). ... 19 Figura 4. Mapa aéreo do local intervencionado – Largo Poeta Bocage (linha amarela), Igreja São Salvador e Castelo de Sines (imagem retirada do google maps). . 24

Figura 5. Vestígios de fragmentos metálicos nas tíbias do enterramento 1 (indivíduo adolescente, sexo masculino), possivelmente elos de uma corrente (Foto de Sónia Ferro, 2013)………27

Figura 6. Espólio numismático do enterramento 11 (adulto, sexo masculino), encontrado na zona superior dos fémures (Foto de Sónia Ferro, 2013). ... 27

Figura 7. Falanges do pé direito do enterramento 38 (adulto, sexo feminino) em posição atípica. Norma lateral (Foto de Sónia Ferro, 2013). ... 28

Figura 8. Inumação atípica do enterramento 45 (adulto, sexo feminino), com dois seixos grandes sobre a face e um numisma na mão (Foto de Sónia Ferro, 2013). ... 28

Figura 9. Espólio numismático do enterramento 11 (indivíduo adulto, sexo masculino), constituído por 25 moedas de prata (fotografia retirada de Pereira, 2013:

página 62). ... 30 Figura 10. Distribuição dos indivíduos da amostra por classes de índice de conservação anatómica. ... 31

Figura 11. Média do índice de conservação anatómica por zonas anatómicas (n e

%)...31 Figura 12. Alterações tafonómicas na tíbia direita do enterramento 1 (adolescente, sexo masculino) de cor acastanhada, por ação de uma possível corrente de ferro junto ao tornozelo direito. ... 32

Figura 13. Alterações de origem tafonómica, de cor esverdeada, nas falanges da mão esquerda do indivíduo 2 (adulto, sexo indeterminado), por contato com moeda de cobre...32

Figura 14. Número de indivíduos adultos e não-adultos da amostra. ... 33 Figura 15. Indivíduos da amostra (27 adultos e um adolescente – enterramento 1) distribuídos por sexo. ... 33

(9)

viii Figura 16. Distribuição etária de 38 indivíduos da amostra (excluído indivíduo 31 com perfil biológico indeterminado). ... 34

Figura 17. Distribuição dos 54 fémures adultos da amostra por ancestralidade, de acordo com o método de Baker et al., 1990. ... 35

Figura 18. Distribuição dos 54 calcâneos adultos da amostra por ancestralidade, de acordo com o método de Bunning e Barnet, 1965. ... 36

Figura 19. Incisivos superiores do enterramento 1 (adolescente, masculino), os dentes laterais apresentam uma superfície irregular. ... 44

Figura 20. Incisivo superior lateral direito em vista lingual (a), oclusal (b) e bucal (c), do enterramento 1, observado com lupa binocular. ... 44

Figura 21. Incisivo lateral superior direito (a, b) e esquerdo (c, d), do enterramento 1, em vista oclusal observado com microscópio eletrónico de varrimento. ... 45

Figura 22. Mapa cromático do incisivo superior lateral direito, do enterramento 1, mostrando a presença de oxigénio, alumínio, silicatos e ferro. ... 45

Figura 23. Espetro químico onde se observam picos de oxigénio, alumínio e silicatos no incisivo superior lateral esquerdo (enterramento 1) ... 46

Figura 24. Dentição superior do enterramento 11, em que os incisivos centrais superiores mostram remoção de ângulos interproximais (b), assim como o incisivo lateral (seta branca) e canino (seta vermelha) esquerdos (a). ... 46

Figura 25. Incisivo superior central direito, do enterramento 11, em vista oclusal (a) e lingual (b,c), onde se observa facetas de desgaste, exposição de dentina e microfraturas………47

Figura 26. Incisivo superior central esquerdo, do enterramento 11, em vista oclusal (a), distal (b) e bucal (c), onde se verifica a existência de facetas de desgaste, exposição de dentina e microfraturas ... 47

Figura 27. Maxilar superior direito do enterramento 34, com a dentição anterior em vista oclusal, onde se observa desgaste acentuado que eliminou as coroas. ... 48

Figura 28. Observação em lupa binocular, do incisivo superior central direito (enterramento 34) em vista medial (a) e oclusal (b). ... 48

Figura 29. Observação em lupa binocular, do incisivo superior central direito do enterramento 34, com desgaste acentuado, em vista lateral (a) e oclusal (b), mostrando a superfície irregular (b) e microfraturas (a). ... 49

Figura 30. Incisivos centrais superiores do indivíduo 39, com desgaste atípico na superfície lingual. ... 49

(10)

ix Figura 31. Incisivo superior central direito em vista bucal (a), oclusal (b) e lingual (c), mostrando exposição de dentina e microfraturas.. ... 50

Figura 32. Incisivo superiores centrais do enterramento 39, na base do microscópio eletrónico, com fotografia em BSE. ... 50

Figura 33. Fibras orgânicas do incisivo superior central direito do enterramento 39, vistas ao microscópio eletrónico de varrimento, com ampliações de 10000x, 5000x e 2000x, (da esquerda para a direita). ... 51

Figura 34. Fibras orgânicas do incisivo superior central direito (a, b) e do incisivo superior central esquerdo (c, d) do indivíduo 39, no MEV, com ampliações de 2000x, 5000x, 4000x e 2000x (da esquerda para a direita). ... 51

Figura 35. Análise das componentes químicas de uma fibra com carbono encontrada no incisivo superior central direito (foto esquerda) e do incisivo superior central esquerdo (foto direita), do enterramento 39. ... 51

Figura 36. Mapa cromático das componentes químicas das fibras existentes nos incisivos superiores centrais direito (foto esquerda) e esquerdo (foto direita), do indivíduo 39, onde se verifica azoto na fibra orgânica. ... 52

Figura 37. Caninos inferiores decíduos, do indivíduo 47, com possível remoção dos ângulos mesiodistais vista lingual e bucal. ... 52

Figura 38. Caninos inferiores decíduos em vista oclusal (a, canino direito; b, canino esquerdo), do enterramento 47. ... 53

Figura 39. Mapa com a largura de uma depressão no canino inferior decíduo direito (a) e microfratura no canino inferior decíduo esquerdo (b)... 53

Figura 40. Superfícies dentárias irregulares do canino inferior decíduo direito em SE (a) e BSE (b) e do canino inferior decíduo esquerdo em SE (c). ... 54

Figura 41. Fibras identificadas no canino inferior decíduo direito do enterramento 47……….54

Figura 42. Mapa cromático das componentes químicas das depressões dos caninos inferiores decíduos do enterramento 47... 55

Figura 43. Perda dentária antemortem de dez indivíduos da amostra, por arcadas dentárias e lateralidade. ... 57

Figura 44. Registo de tártaro nos indivíduos adultos da amostra, por arcada dentária e lateralidade. ... 59

Figura 45. Ponte óssea (seta) numa vértebra torácica do enterramento 39 (adulto, sexo feminino). Provavelmente iria ocorrer fusão com a vértebra superior. ... 65

(11)

x Figura 46. Fusão entre a 5ª vértebra lombar e a 1ª vértebra sagrada do enterramento 39 (adulto, sexo feminino). ... 65

Figura 47. Ponte óssea (seta) no coxal esquerdo do enterramento 28 (adulto, sexo masculino), onde iria ocorrer fusão óssea com o sacro. ... 66

Figura 48. Úmeros do enterramento 34 (adulto, sexo masculino), onde se observa a diferença no comprimento dos ossos ... 67

Figura 49. Metade distal do rádio direito, em vista posterior, do enterramento 34 (adulto, sexo masculino), onde se observa a formação de osso novo e alargamento da diáfise (setas). ... 67

Figura 50. Metade proximal da ulna direita, em vista anterior, do enterramento 34 (adulto, sexo masculino), onde se observa alteração da morfologia óssea da epífise proximal (setas). ... 68

Figura 51. Metade distal do úmero esquerdo, em vista medial (a) e lateral (b) do enterramento 1 (adolescente, sexo masculino), onde se observa alteração da morfologia óssea da epífise distal e a curvatura (setas). ... 68

Figura 52. Metatársicos direitos (4º e 5º) do enterramento 8 (adulto, sexo masculino), onde se observa espículas ósseas e torção da diáfise (setas brancas) no 4º metatársico e espessamento da diáfise do 5º metatársico (setas vermelhas), provavelmente pela deposição de osso após o trauma. ... 69

Figura 53. Tíbia esquerda do enterramento 15 (adulto, sexo masculino), onde se observa uma espícula óssea no lado posterior da diáfise, aparentemente causada por ossificação de tecidos moles. ... 70

Figura 54. Cabeça do úmero esquerdo (à esquerda) e cavidade glenóide (à direita) da omoplata esquerda, do indivíduo 18 (adulto, sexo masculino), onde se observa eburnação, macro e microporosidade e labiação. ... 70

Figura 55. Radiografia da fíbula direita do indivíduo 35 (adulto jovem, sexo masculino), onde se verifica o espessamento ao longo da diáfise (setas). ... 71

Figura 56. Fratura remodelada do 5ª metatársico direito do indivíduo 36 (adulto, sexo masculino). ... 71

Figura 57. Ulna direita do indivíduo 39 (adulto, sexo feminino), com espessamento da diáfise (setas brancas) e alargamento da articulação proximal (setas vermelhas). .... 72

Figura 58. Clavícula esquerda do enterramento 45 (adulto, sexo feminino), com possível calo ósseo na extremidade acromial (setas). ... 72

(12)

xi Figura 59. Foramina no centro do hióide do enterramento 5 (adulto jovem, sexo feminino), com rebordos delimitados. ... 73

Figura 60. Falanges intermédias da mão esquerda, do enterramento 11 (adulto, sexo masculino), com foramina nas extremidades distais. ... 73

Figura 61. Fémur direito do enterramento 42 (infante, 7-12 anos), com cribra femoralis (seta). ... 74

Figura 62. Radiografia da mandíbula do enterramento 5 (adulto jovem, feminino), com um possível osteoma (seta). ... 75

Figura 63. Tiróide ossificada do enterramento 25 (adulto, sexo masculino) com lesões osteolíticas e aspeto poroso... 75

Figura 64. Clavícula esquerda do enterramento 31 (perfil biológico indeterminado), com uma camada de osso novo poroso ao longo da diáfise (setas), em vista superior (a) e na vista interior do osso (b). ... 76

Figura 65. Navicular direito (a) e 5º metatársico esquerdo (b) do enterramento 35 (adulto jovem, sexo masculino), com lesões osteolíticas e remodelação óssea, simultaneamente (setas). ... 77

(13)

xii

(14)

xiii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Partes anatómicas a classificar para definir a conservação do esqueleto (Dutour, 1989, adaptado por Garcia, 2006: 278). ... 12

Tabela 2. Caracteres discretos cranianos selecionados para pesquisa na amostra em estudo………...16

Tabela 3. Caracteres discretos pós-cranianos selecionados para pesquisa na amostra em estudo. ... 17

Tabela 4. Caracteres discretos pesquisados na dentição superior dos indivíduos da amostra……….17

Tabela 5. Caracteres discretos pesquisados na dentição inferior dos indivíduos da amostra……….18

Tabela 6. Articulações observadas para o registo de osteoartrose (adaptado de Buikstra e Ubelaker, 1994; Assis, 2007). ... 21

Tabela 7. Escala de alterações para o registo de osteoartrose (OA) (adaptado de Rogers e Waldron, 1995 in Assis, 2007). ... 21

Tabela 8. Zonas de inserção observadas nos respetivos ossos, para o registo das alterações das enteses. ... 22

Tabela 9. Descrição das lesões osteolíticas que podem ser observadas nas enteses………..22

Tabela 10. Descrição das lesões osteofíticas que podem ser observadas nas enteses………..22

Tabela 11. Dados funerários da amostra em estudo, recolhidos durante escavação da Necrópole da Igreja de São Salvador, em 2013... 26

Tabela 12. Estatura (em cm) dos indivíduos adultos da amostra, segundo o método de Mendonça (2000) e Santos (2002). ... 37

Tabela 13. Índices de achatamento e robustez para os fémures dos indivíduos adultos da amostra. ... 38

Tabela 14. Índices de achatamento e robustez para as tíbias dos indivíduos adultos da amostra. ... 38

Tabela 15. Frequência dos caracteres discretos cranianos dos adultos da amostra. 39 Tabela 16. Frequência dos caracteres discretos pós-cranianos dos adultos da amostra……….40

(15)

xiv Tabela 17. Contagem da dentição definitiva, superior e inferior, da amostra em estudo………...41

Tabela 18. Frequência dos caracteres discretos dentários para os dentes superiores da amostra. ... 42

Tabela 19. Frequência dos caracteres discretos dentários para os dentes inferiores da amostra……….43

Tabela 20. Modelo estatístico de probabilidade de origem biogeográficas dos indivíduos. ... 43

Tabela 21. Discriminação da dentição de 14 adultos da amostra, por tipo de dente e lateralidade... 56

Tabela 22. Discriminação da dentição definitiva de 7 não-adultos da amostra, por tipo de dente e lateralidade. ... 56

Tabela 23. Perda dentária antemortem e postmortem dos indivíduos da amostra. 57 Tabela 24. Frequência das cáries dentárias na dentição definitiva dos indivíduos da amostra……….58

Tabela 25. Frequência de tártaro na dentição definitiva dos indivíduos da amostra……….59

Tabela 26. Graus de desgaste da dentição definitiva de 14 adultos e 1 adolescente, por tipo de dente. ... 60

Tabela 27. Frequência das hipoplasias lineares do esmalte dentário, por tipo de dente, em 14 indivíduos adultos e um adolescente da amostra. ... 61

Tabela 28. Registo da presença de osteoartrose dos indivíduos da amostra em estudo………...62

Tabela 29. Registo das alterações das enteses nos indivíduos da amostra em estudo………...63

(16)

xv

LISTA DE ABREVIATURAS

ASUDAS – Arizona State University Dental Anthropology System BSE – Backscattering electrons

CEF – Centro de Ecologia Funcional EDS – Energy dispersive spectrometer ICA – Índice de conservação anatómica IRO – Índice de representatividade óssea JCE – Junção cimento-esmalte

LBV – Laboratório de biotecnologia vegetal

LSAMAT – Lingual surface attrition of the maxillary anterior teth MEV – Microscópio eletrónico de varrimento

MIP – Monumento de Interesse Público SE – Secondary eletrons

SEM – Scanning electron microscope

TAIL-UC – Coimbra Trace Analysis and Imaging Laboratory UC – Universidade de Coimbra

WDS – Wavelenght dispersive spectrometer ZGP – Zona Geral de Proteção

(17)

xvi

(18)

xvii

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Professora Doutora Ana Luísa Santos pela orientação, paciência, disponibilidade e ensinamentos ao longo desta investigação.

À Câmara de Sines por me ter fornecido a série osteológica estudada nesta investigação.

À Dra. Paula Pereira e Dra. Sónia Ferro por me terem fornecido as fichas de campo, desenhos, fotografias e relatório arqueológico.

Ao Centro Hospitalar Universitário de Coimbra pelo fornecimento das radiografias necessárias a esta investigação.

Ao Herbário e à Dra. Fátima Sales por me ter dado acesso ao laboratório e ao Dr.

Joaquim Santos por me ter ajudado a realizar as observações na lupa binocular.

Ao Laboratório de Biotecnologia Vegetal (CEF-UC) e ao Dr. João Martins pela ajuda em laboratório.

Ao Coimbra Trace Analysis and Imaging Laboratory (TAIL-UC) e ao Dr. Pedro Sidónio, por me ter recebido e ajudado no uso do microscópio eletrónico de varrimento, bem como o meu colega Dr. Álvaro Monge Calleja, que me acompanhou durante esse processo e me ajudou no entendimento dos resultados obtidos.

Ao Professor Doutor Vítor Matos pelas críticas e ajuda quando houveram dúvidas em relação à série osteológica.

À Professora Doutora Ana Maria Silva, pela ajuda e visão crítica em relação ao material dentário analisado.

À D. Lina Alves, por me facilitar e disponibilizar o acesso à toda a bibliografia necessária ao desenvolvimento deste trabalho.

Às minha colegas de Mestrado, Mariana Pedrosa, Eduarda Silva e Flávia Teixeira, por me terem ajudado na limpeza do material osteológico.

Ao meu colega e amigo Dr. Calil Makhoul pelo empréstimo de material técnico para a realização do trabalho, por toda a ajuda e momentos de riso.

Aos meus amigos Valéria Moreira, Joana Zuzarte, Inês Cardoso, Bárbara Quitério, Fernando Mestre, Sófia Bárbara e Oscár Ferraz, por toda ajuda na limpeza do material, mas principalmente por todos os momentos de alegria, companheirismo e boa disposição nos momentos mais difíceis, que tanto foram necessários à conclusão desta investigação.

Às minha amiga e colega Tania Arraiolos pela amizade, conselhos e paciência.

(19)

xviii Por fim, um obrigada muito especial para os meus pais e especialmente para a minha irmã, pela paciência e apoio, carinho e por nunca me deixarem desistir quando havia vontade para isso.

(20)

xix

RESUMO

No decorrer desta investigação propõe-se a análise dos indivíduos exumados da necrópole Medieval-Moderna (séculos XIII-XVII) associada à Igreja de São Salvador em Sines. Em março de 2013, no decorrer do acompanhamento arqueológico foram detetados enterramentos na área de afetação de uma vala aberta para a colocação de cabos de média tensão, escavada no Largo Poeta Bocage. O objetivo deste estudo é analisar a série osteológica, descrevendo os rituais funerários associados e fazer a caracterização paleodemográfica, morfológica e paleopatológica. O estudo da antropologia funerária revelou quatro inumações atípicas e 38 numismas. Vinte e sete indivíduos adultos (16 de sexo masculino, sete femininos e quatro de sexo indeterminado), 11 não adultos e um de perfil biológico indeterminado foram estudados. A análise morfológica revelou que a estatura dos indivíduos varia entre 142,30 ± 5,92 cm e 174,20 ± 6,90 cm. Identificaram- se cinco possíveis casos de modificações dentárias intencionais e não intencionais em cinco indivíduos (três adultos e dois não-adultos). No estudo das patologias orais verificou-se a perda ante mortem de 67,8% (80/118) dentes. As cáries afetaram 76,2%

(16/21) dos indivíduos. Relativamente ao tártaro, este verificou-se em 86,7% (13/15). O desgaste dentário registou-se em 15/21 (71,42%) indivíduos. Identificou-se dois casos de lesões periapicais em adultos. Não se registou doença periodontal mas os maxilares não se preservaram. No que remete ao stresse fisiológico, identificaram-se hipoplasias dentárias em 73,3% (11/15) dos indivíduos. A osteoartrose identificou-se em 29,6%

(8/27) dos adultos, afetando principalmente a coluna vertebral. As alterações da entese incidiram principalmente sobre o tendão de Aquiles e o epicôndilo lateral do úmero.

Identificaram-se outras patologias como nódulos de Schmorl, patologia traumática, congénita, neoplásica, infecciosa e indicadores de stresse fisiológico. Esta investigação contribuíu para o melhor entendimento desta necrópole. Apesar de ser pequena e não poder ser representativa da população de Sines, estabeleceu-se conhecimentos sobre a vida e morte destes indivíduos.

Palavras-Chave: Antropologia Funerária, Inumações Atípicas, Numismas, Modificações Dentárias, Paleopatologia.

(21)

xx

(22)

xxi

ABSTRACT

In the course of this investigation, it is proposed the analysis of exhumed individuals from the Medieval-Modern necropolis (13th-17th centuries), associated with Church of São Salvador in Sines. In March 2013, during the archaeological excavations, several burials were detected in the area affected by a ditch, opened for the laying of medium voltage cables, excavated at Largo Poeta Bocage. This study aims to analyse the osteological series, describing the associated funerary rituals and to make the paleodemographic, morphological and paleopathological characterization. The study of funerary anthropology revealed four atypical inhumations and 38 coins. Twenty-seven adult individuals (16 male, seven female and four undetermined), 11 non-adults and one of undetermined biological profile were studied. The morphological analysis revealed that the height of the individuals varies between 142.30 ± 5.92 cm and 174.20 ± 6.90 cm.

Five possible cases of intentional and unintentional dental modifications were identified in five individuals (three adults and two non-adults). In the study of oral pathologies, it was found an ante mortem loss of 67.8% (80/118 teeth). Caries affected 76.2% (16/21) of the individuals. Regarding dental calculus, this affected 86.7% (13/15). Dental wear was found in 15/21 (71.42%). Two cases of periapical lesions in adults were identified.

It wasn’t found periodontal disease but the jaws were not preserved. In relation to physiological stress, dental hypoplasias were identified in 73.3% (11/15) of individuals.

Osteoarthritis was identified in 29.6% (8/27) of adults, affecting mainly the spine. The modification of the enthesis mainly affected the Achilles tendon and the lateral humeral epicondyle. Other pathologies such as Schmorl's nodules, traumatic, congenital, neoplastic, infectious pathology and indicators of physiological stress were identified.

This research contributed to a better understanding of this necropolis. Although small and cannot be representative of the population of Sines, knowledge has been established about the life and death of these individuals.

Keywords: Funerary Anthropology, Atypical Inhumations, Numismatic, Dental Modifications, Paleopathology.

(23)

1

1. INTRODUÇÃO

A Antropologia Biológica tem um papel importante no que concerne à análise de restos esqueléticos humanos. Através do estudo do esqueleto e do seu contexto de inumação é possível obtermos dados paleobiológicos e paleopatológicos dos indivíduos e fazer inferências sobre as suas práticas funerárias e mortuárias. Ao mesmo tempo, é possível também observar quais os processos tafonómicos que ocorrem no indivíduo após a morte (Buikstra e Ubelaker, 1994; Little e Sussman, 2010; White e Folkens, 2005;

White et al., 2012).

Os antropológos biológicos têm um papel importante no que toca ao estudo das variações biológicas, explicando-as em termos de adaptação, evolução e história (Walker, 2008). É com o estudo de esqueletos humanos que conseguimos explicar a história das populações do passado (White e Folkens, 2005; White et al., 2012), uma vez que um dos principais objetivos da Antropologia Biológica é traçar o perfil biológico (paleoantropológico) dos indivíduos, nomeadamente, estimativa da idade à morte, sexo, estatura e ancestralidade (White e Folkens, 2005; White et al., 2012). A obtenção destes dados só é possível porque o esqueleto humano, juntamente com os dentes, é o resultado simultaneamente da influência ambiental e da ação genética (White e Folkens, 2005).

É através da combinação de estudos multidisciplinares (Antropologia Biológica, Antropologia Dentária, Antropologia Funerária, Osteologia, Paleopatologia, História, Arqueologia, Genética, etc.) que conseguimos obter dados sobre dieta, saúde, práticas culturais e funerárias, dados genéticos, evolução, padrões de subsistência, paleodemografia, perfil biológico, entre outros (Buikstra e Ubelaker, 1994).

A paleopatologia (que consiste no estudo da doença do passado) (Buikstra e Ubelaker, 1994; Roberts e Manchester, 1995), como subdisciplina da Antropologia Biológica, é também importante para esclarecer o papel que a doença apresenta no desenvolvimento das sociedades humanas contemporâneas, sendo que para tal, é essencial o seu estudo em populações do passado (Ortner, 2011).

1.1. Enquadramento Histórico de Sines (Século XV-XVI)

A Igreja de S. Salvador de Sines (da qual se desconhece a data de construção), em 1371 é mencionada, pela primeira vez, na literatura (Patrício, 2017; Pereira, 2013, Pereira e Ferro, 2017). Encontra-se localizada no atual Largo do Poeta Bocage (Pereira e Ferro,

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2 2017). Em 1517, D. Jorge de Lencastre visita a igreja matriz e descreve-a com três naves, capela-mor construída com pedra e cal e um altar forrado a azulejos (Pereira, 2013).

Entre 1525 e 1532, registou-se que viveriam dentro do castelo 17 moradores, ao mesmo tempo que na vila registava-se a presença de 810 habitantes (sem contabilizar com os escravos, que eram uma mão-de-obra importante) (Patrício, 2017; Pereira, 2013). O castelo iria servir como local de refúgio e proteção em caso de guerra (Pereira, 2013).

O Castelo de Sines apresentava um compartimento destinado aos escravos, que surge descrito literariamente num auto-de-posse em 1533 (Fonseca et al., 2017). Na primeira metade do século XVII, cerca de 4% da população de Sines era escrava (Fonseca et al., 2017). Para se integrar os indivíduos na população local praticavam-se casamentos mistos, ou eram colocados a trabalhar em atividades agro-pecuárias, serviço doméstico, comércio, transportes ou artesanato, sendo que estes ofícios eram mantidos após libertação da condição de escravo (Fonseca 2017). A prática religiosa era também um modo de integrar os escravos socialmente, pelo que, os que fossem trazidos de África chegavam a Portugal já batizados (Fonseca et al., 2017). Os que nasciam em Portugal eram batizados no seu local de residência, os filhos de escravos, em Sines, eram batizados na Igreja Matriz de São Salvador (Fonseca et al., 2017). Assim, como cristãos, após a sua morte, tinham direito a ser sepultados no solo da igreja (Fonseca et al., 2017).

O castelo e a igreja de São Salvador eram monumentos de destaque, pela sua arquitetura e funcionalidade (Fonseca et al., 2017). O castelo abrigava a aldeia piscatória (Pereira, 2013). Foi edificado na primeira metade do século XV, sofrendo alterações no fim do século. Foi uma construção importante para a expansão do centro urbano de Sines (Pereira, 2013).

A vila de Sines sofre um grande crescimento populacional no século XVI, que estagna no século XVII (Patrício, 2017; Pereira, 2013). Desde a sua origem, que se encontra ligada ao mar e aos recursos marítimos (Patrício, 2017). A História de Sines demonstra que esta evoluiu até aos dias de hoje, sustentando-se unicamente, com recurso à pesca e comércio marítimo, sendo que constituiu um importante porto marítimo da modernidade (Pereira, 2013).

Atualmente, o Centro Histórico, abrange uma zona geral de proteção (ZGP) que inclui o Castelo de Sines e a Igreja Matriz de São Salvador, sendo que esta foi classificada como monumento de interesse público (MIP) pela sua história (Figura 1) (Lei nº 449/2014).

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3

1.2. A História da Escravatura em Portugal

O tráfico negreiro, durante mais de três séculos, foi o alicerce do comércio e capitalismo mercantil (Alexandre, 1991), proporcionando mão-de-obra escrava necessária para as plantações e diversos ofícios que o Novo Mundo oferecia. O uso de mão-de-obra escrava permitia aos impérios grande acumulação de capital (Alexandre, 1991). O auge do comércio de escravos ocorreu no século XVIII, sendo que Portugal exportou da África mais de 1.8 milhões de negros (Alexandre, 1991).

No século XVI, Portugal tinha como componente da sua população uma grande parte de escravos negros. Desde sempre que a existência destes é descrita na literatura, ainda que os relatos não fossem abundantes (Fonseca, 2014).

O primeiro registo em Portugal da venda de escravos data 8 de Agosto de 1444, sob a tutela do Infante D. Henrique (1394-1460), na cidade de Lagos (Algarve) (Henriques, 2009; Pimentel, 1995; Rosas, 2015). Um dos primeiros cronistas a descrever o processo de venda e disputa pelos escravos foi Gomes Eanes de Zuzara (Fonseca, 2014; Henriques, 2009; Neves et al., 2015; Pimentel, 1995; Rosas, 2015). Este período histórico coincide

Figura 1. Ilustração da Zona Geral de Proteção e do Monumento de Interesse Público no Centro Histórico de Sines.

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4 com o início dos Descobrimentos, pelo que a mão-de-obra escrava veio servir como substituta da mão-de-obra livre, que parte nas viagens marítimas portuguesas (Rosas, 2015). Com o aumento da escravatura, aumentou também a emigração da população livre, uma vez que como a mão-de-obra escrava era gratuita, tornou-se cada vez mais utilizada (Rosas, 2015). Com a conquista de territórios, como o Brasil, a Costa Ocidental Africana, ou a América Central, cada vez mais a mão-de-obra escrava era empregada, sendo que estes eram transportados para as colónias, para fazerem diversos ofícios, como trabalhar nas plantações, na moagem do açúcar ou nas minas (Henriques, 2009; Pimentel, 1995;

Rosas, 2015).

Já no século XVI, sendo Portugal o maior importador de escravos, torna-se também no maior fornecedor de mão-de-obra escrava para toda a Europa e Américas, tendo tido um papel marcante nas rotas transatlânticas (Rosas, 2015).

As confrarias e irmandades tinham um papel importante na proteção dos escravos, pois eram abertas a todos os negros, escravos de condição ou não, sendo que estas tinham uma função solidária e de assistência para com estes. No século XVIII, aquando das primeiras leis abolicionistas da escravatura ordenadas pelo Marquês de Pombal, estas confrarias vão ter um papel essencial na fiscalização destas leis, de modo a garantir o seu cumprimento (Pereira, 2008; Rosas, 2015).

A abolição da escravatura e do comércio e importação de escravos é um processo gradual, tanto em Portugal, como nas colónias, principalmente entre 1836 e 1869. A escravatura só conhece o seu fim a 23 de fevereiro de 1869, com uma lei que proíbe a escravatura em Portugal e em todos os seus domínios portugueses. A massa de negros é então absorvida pela restante massa populacional (Rosas, 2015).

1.3. Inumações “Atípicas”

O enterramento é um ato com profunda significância, a morte não é apenas uma realidade biológica, mas também um evento cultural complexo (Murphy e Le Roy, 2017).

De acordo com estes autores, a escolha do último local de descanso do corpo é um processo lento e cuidadosamente levado a cabo. Diferentes sociedades tratam os seus mortos com uma grande diversidade de práticas, envolvendo várias manipulações do corpo e formas de enterramento, assim como o arranjo do corpo de uma forma particular, acautelando a provisão dos materiais funerários e a diferenciação espacial de enterramento para certos membros da sociedade (Murphy e Le Roy, 2017).

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5 É reconhecido na Antropologia e Arqueologia que, certos indivíduos, em diversas culturas, de diferentes períodos de tempo e espaço, têm recebido tratamento diferencial no que remete ao contexto de inumação, em relação a outros indivíduos do mesmo grupo (Murphy, 2008). Segundo o autor, isto ocorre por diversos motivos e em diversos indivíduos, quer sejam criminosos, mulheres que morreram durante o parto, crianças não- batizadas, pessoas com deficiências ou doenças, renegados da sociedade (por exemplo minorias “raciais”), entre outros.

A interpretação das inumações arqueológicas tem mudado ao longo dos anos, dependendo da perspetiva teórica do investigador. Na década de 1970, a abordagem tradicional da arqueologia considerava o enterramento como uma expressão da crença religiosa, enquanto as abordagens processuais consideravam-no como um reflexo da organização social (Murphy e Le Roy, 2017). Por outro lado, as abordagens pós- processuais concentravam-se mais nos restos funerários, que eram vistos como ocorrências particulares, sem um padrão universal de comparação (Murphy e Le Roy, 2017).

Segundo Murphy (2008), o que permite a identificação de contextos funerários não- normativos no registo arqueológico é a análise da localização da inumação e as características exteriores do local de enterramento, bem como a posição do corpo, do espólio deixado, etc.. As motivações por detrás das práticas de enterramento diferencial são diversas e devem ser tidas em conta, pois podem estar associadas a questões sociais ou crenças religiosas, mas estas não são exclusivas nestes enterramentos.

Os enterramentos “atípicos” ou não-normativos foram observados em vários contextos, nomeadamente, Áustria, Inglaterra, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Roménia, Escócia, Suécia, Portugal, entre outros, atravessando períodos temporais e históricos diferentes que vão desde o Neolítico até ao período Pós-Medieval e Moderno (Murphy, 2008).

Diversos estudos associam enterramentos atípicos a comportamentos e enterramentos

“desviantes”. Este tipo de associações apresenta conotações negativas, sugerindo que os indivíduos alvo de práticas funerárias incomuns tenham sido, de alguma forma, rejeitados pela sua sociedade, por má conduta. Contudo, nem sempre é este o caso (Murphy, 2008;

Vargha, 2017), pelo que estas práticas de enterramentos não devem ser consideradas

“desviantes”, mas antes como minoritárias, atípicas, não-normativas, incomuns ou apenas diferenciais (Murphy, 2008). Os indivíduos de uma sociedade podem ser alvo de práticas funerárias “desviantes” ou fora da norma por várias razões, e em alguns casos, as razões

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6 estão fora do seu controlo, como por exemplo, morte antes do batismo, durante o parto ou como resultado de uma doença infeciosa (Coelho, 2012; Murphy, 2008; Vargha, 2017). Assim, deve ter-se em atenção o uso dos conceitos na literatura que remetem para este tipo de contextos funerários (Murphy, 2008).

Vários estudos mostram que estes enterramentos podem ocorrer por motivos associados também, ao que se pode chamar a “arqueologia do medo” (Murphy, 2008).

Algumas práticas funerárias no registo arqueológico indicam necrofobia ou medo dos mortos (Murphy, 2008). Outros estudos revelam casos de enterramentos atípicos em situações de doença ou até sacrifícios humanos e tortura (Neves et al., 2015), bem como, infanticídio, execuções, mutilações após a morte, bruxaria, vampirismo e medo de fantasmas (Murphy, 2008).

É importante ter uma perspetiva multidisciplinar, recolhendo informações obtidas do contexto social (fatores motivacionais que levaram a certo tipo de ritual funerário), biológico e das evidências observadas nas inumações para se perceber os enterramentos atípicos em populações do passado (Murphy, 2008).

Inclusivamente, alguns autores discutem quando é que um enterro deve ser, ou não, considerado “desviante”, ou, por oposição, um enterramento incomum, mas aceitável no comportamento mortuário das populações (Murphy, 2008; Vargha, 2017).

Em algumas situações, os enterramentos parecem exibir rituais de “minorias”, que são simplesmente parte do espetro normal de práticas funerárias utilizadas por uma sociedade em particular. Independentemente da terminologia, a ideia subjacente a estes rituais funerários insiste na necessidade de se estudar os enterramentos “atípicos” dentro de uma sociedade específica, em vez de isoladamente. Formas de enterramento pouco usuais podem ser difíceis de interpretar, e invariavelmente, uma abordagem multidisciplinar é necessária (Murphy, 2008; Vargha, 2017).

Em vários contextos os enterramentos atípicos estão associados a objetos apotropaicos, como por exemplo, pedras colocadas diretamente sobre o falecido (em casos mais drásticos, sobre a face), que previnem e afastam o mal (Gardela e Duma, 2013). Este tipo de práticas foi já observado em vários contextos geográficos, nomeadamente na Polónia (Gardeła e Kajkowski, 2013) e também em território português (Pereira, 2013). Para além de superstições, também casos de punição, castigo e tortura estão frequentemente associados a este tipo de inumações (Neves et al., 2015; Pereira, 2013), o que também já se verificou em contexto português, nomeadamente em Sines e Lagos (Neves et al., 2010; Pereira, 2013).

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7

1.4. Ancestralidade

A diversidade humana é uma componente importante no estudo da ancestralidade.

Desde que se iniciou o exercício da Antropologia que se faz o registo da diversidade humana (Brues, 1990). Contudo, havia dificuldade em entender no que é que se baseia a diversidade humana e as próprias diferenças individuais (Brues, 1990; Coelho, 2012). A diversidade humana é o resultado de uma resposta adaptativa ao meio ambiente (Brues, 1990), que aplica pressões tanto a nível populacional, como a nível individual (Brues, 1990; Coelho, 2012). Neste sentido, os investigadores procuram encontrar variações morfológicas no esqueleto, que sejam o resultado das diferenças individuais e que são visíveis fenotipicamente (Brues, 1990; Coelho, 2012; Sesardic, 2010).

É através destas diferenças que os investigadores trabalham no sentido de tentar definir e enquadrar um indivíduo numa certa “raça” (Blumenfeld, 2011; Brues, 1990;

Sesardic, 2010; Ta´ala, 2015). Contudo, estas conceções tornam-se potencialmente problemáticas, já que a este conceito está subjacente uma conotação social que não se verifica a nível biológico (Blumenfeld, 2011; Sesardic, 2010; Sierp e Henneberg, 2015;

Ta´ala, 2015).

Os seres humanos desde sempre desenvolveram categorias, classes, grupos ou espécies, para descrever e perceber a diversidade que os rodeia (Ta´ala, 2015). Neste sentido, as tipologias associadas ao conceito de “raça” têm um longo historial nos campos da Biologia e da Antropologia (Blumenfeld, 2011; Sesardic, 2010; Sierp e Henneberg, 2015; Ta´ala, 2015

Na Antropologia Biológica, a variabilidade é difícil de se observar no esqueleto, mas pode ter alguma repercussão principalmente a nível do crânio, sendo a face a zona mais discriminante para a determinação da ancestralidade (Coelho, 2012; Ferguson et. Al., 2011; Relethford, 2009).

Estes padrões de variações biológicas são ajustados e adaptados por fatores como a cultura, língua, ambiente, geografia, entre outros, sendo que compreende implicações a nível social, forense e biomédico (Coelho, 2012; Ferguson et al., 2011). Sendo o conceito de “raça” tão abrangente, é possível ser adaptado por várias áreas de investigação, quer seja no campo evolutivo, onde as alterações filogenéticas são importantes, quer seja em campos mais práticos como a Antropologia, em que o objetivo é determinar a ancestralidade (Coelho, 2012).

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8 Atualmente, ainda se verifica um grande debate em torno da ancestralidade, sendo um parâmetro que tem aplicabilidade não só no estudo das populações do passado, mas também em ciências como a Antropologia Forense (Coelho, 2012), que é hoje em dia um campo com bastante destaque.

Para se determinar a ancestralidade de um indivíduo com base no esqueleto é necessário proceder-se a métodos métricos e morfológicos, tanto no crânio como no esqueleto pós-craniano (Brues, 1990; Ferguson, et al., 2011; Relethford, 2009). Mas, como já foi referido anteriormente, o crânio, nomeadamente a zona da face, é o melhor indicador para se determinar as afinidades populacionais de um indivíduo, uma vez que as características presentes são particulares em cada grupo populacional (Brues, 1990;

Coelho, 2012). Contudo, não existem características que sejam estanques de um único grupo, apesar de poderem ser mais frequentes num do que noutro (Ferguson et al., 2011;

Relethford, 2009).

1.5. Objetivos

Nesta investigação propõe-se analisar os indivíduos exumados da Igreja de São Salvador, através de uma análise paleobiológica e paleopatológica, associando-se ao contexto social dos indivíduos. Tendo em conta a história de Sines, e as características dos indivíduos, põe-se a hipótese de alguns poderem ser de origem africana. O objetivo é tentar enquadrar estes indivíduos na história local de Sines, através da aferição dos perfis biológicos destes. Para tal, durante este estudo os objetivos prendem-se com:

1- A análise do perfil biológico dos indivíduos para estimar a idade à morte, sexo, estatura e ancestralidade.

2- Enquadrar historicamente estes indivíduos, através da observação de evidências primárias, como o contexto de inumação, o espólio associado e a forma da deposição, na tentativa de identificar possíveis inumações “atípicas”.

3- Descrever possíveis patologias observadas nos esqueletos descrevendo (1) padrões de lesões encontradas nos indivíduos; (2) analisando a natureza e distribuição ao longo do esqueleto; e (3) discutindo os fatores etiológicos subjacentes, tentando fazer uma aproximação ao contexto social de origem destes indivíduos, identificando também as dificuldades e limitações que este tipo de análise apresenta.

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9 4- Comparar com outros locais descobertos em Portugal, em que se recuperaram vestígios osteológicos de indivíduos africanos, possivelmente escravos, de modo a debater as diferenças e similitudes observadas.

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11

2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Material

Em Março de 2013, no decorrer do acompanhamento arqueológico do projeto

“Requalificação da Avenida Vasco da Gama, Reabilitação e Consolidação da Falésia de Sines e Reforço à Acessibilidade à Avenida Vasco da Gama: Instalação de Ligação Vertical” levado a cabo pela empresa Smile at Culture, Lda., foram detetados diversos enterramentos na área de afetação de uma vala, aberta para a colocação de cabos de média tensão, escavada no Largo do Poeta Bocage (Pereira, 2013). De acordo com esta autora, que coordenou a escavação, houve um rebentamento de uma conduta de água que afetou algumas das inumações; ainda assim identificaram-se 47 enterramentos. Foram escavados 39 indivíduos – 27 adultos, 11 não-adultos e um indivíduo de perfil biológico indeterminado e vários ossários, que não estão incluídos neste estudo.

Associado aos enterramentos foi recuperado diverso espólio (Pereira, 2013) que irá ser apresentado no capítulo dos resultados (Capítulo 4).

Esta necrópole foi identificada como sendo cristã, ou seja, os esqueletos estavam orientados O-E, possivelmente da Baixa Idade Média (séculos XIII) à Idade Moderna (século XVII) pelos numismas existentes em sete das inumações, sendo o mais antigo do reinado de D. Sancho II (1209-1248) e o mais recente do reinado de D. Filipe I de Portugal (1527-1598) (Pereira, 2013, 2019; Pereira e Ferro, 2017).

2.2 Métodos

2.2.1 Preservação e representatividade do material osteológico

Durante este estudo atestou-se a preservação óssea, sendo este parâmetro condicionante no que concerne à obtenção de dados relativos à análise paleodemográfica e paleopatológica (Garcia, 2006). Para tal, aplicou-se o método de Dutour (1989, adaptado por Garcia, 2006), identificando-se que ossos do esqueleto estão presentes e se estão completos ou incompletos, classificando os diferentes elementos anatómicos. Este método consiste na divisão do esqueleto em 44 partes, agrupando-as em 4 zonas anatómicas, nomeadamente, crânio, esqueleto axial, esqueleto apendicular e extremidades (representado na tabela 1). Para cada uma, atribui-se uma classificação entre 0, se o osso estiver ausente, e 1 se o osso estiver presente (completo ou quase completo). Com base nesta classificação, calcula-se depois o índice de conservação anatómica (ICA).

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12 O índice de conservação calculou-se para ossos ímpares, que apenas são compostos por um único elemento (ex.: occipital, frontal, mandíbula, parietal, etc.) e para ossos que se compõem por vários elementos (ex.: mãos e pés), utilizando fórmulas diferentes.

Assim, para os primeiros, calculou-se o ICA e para os segundos o IRO (índice de representatividade óssea) contando o número de ossos presentes em cada mão ou pé, dividindo-se pelo total de ossos esperados nessa zona anatómica. Estes dados não foram tratados separadamente, apenas tendo servido para auxiliar a determinação do índice de conservação anatómica (ICA) dos esqueletos (para mais informações, consultar Garcia, 2006). Ambas as fórmulas do ICA e do IRO encontram-se apresentadas em baixo (Figura 2):

I.C.A. = 100 × ∑ valor atribuído a cada parte anatómica/número de partes anatómicas

I.R.O. = ∑ peças ósseas observadas/número de peças ósseas esperadas

Figura 2. Fórmulas para o cálculo do ICA e IRO (Dutour, 1989, adaptado por Garcia, 2006: 278-279).

Tabela 1. Partes anatómicas a classificar para definir a conservação do esqueleto (Dutour, 1989, adaptado por Garcia, 2006: 278).

Crânio (n=10) Esqueleto axial (n=8) Extremidades (n=8)

1 - Frontal 11 - Ráquis cervical 19 - Clavícula d 29 - Fémur d 37 - Mão d 2 - Parietal d 12 - Ráquis dorsal 20 - Clavícula e 30 - Fémur e 38 - Mão e 3 - Parietal e 13 - Ráquis lombar 21 - Omoplata d 31 - Tíbia d 39 - Astrágalo d 4 - Temporal d 14 - Coxal d 22 - Omoplata e 32 - Tíbia e 40 - Astrágalo e 5 - Temporal e 15 - Coxal e 23 - Úmero d 33 - Perónio d 41 - Calcâneo d 6 - Occipital 16 - Sacro 24 - Úmero e 34 - Perónio e 42 - Calcâneo e 7 - Base 17 - Sacro 25 - Rádio d 35 - Rótula d 43 - Pé d 8 - Face 18 - Costelas 26 - Rádio e 36 - Rótula e 44 - Pé e

9 - Mandíbula 27 - Cúbito d

10 - Dentes 28 - Cúbito e

Esqueleto apendicular (n=18)

Legenda: d – direito, e – esquerdo

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13

2.2.2 Estimativa do Sexo

Para se estimar o sexo, conjugaram-se vários métodos morfológicos e métricos. Os coxais são os ossos mais fidedignos, seguidos do crânio e dos ossos longos (Ferembach et al., 1980), pelo que os métodos aplicados combinaram estas várias componentes. A estimativa do sexo é fidedigna a partir da adolescência, quando o osso ilíaco –, osso mais dimórfico do esqueleto humano (Bruzek, 2002) –, se encontra completamente formado.

Contudo, desenvolveram-se vários métodos ao longo dos anos para se obter a diagnose sexual em indivíduos não adultos, usando principalmente o osso ilíaco e a mandíbula (Luna et al., 2017; Luv et al., 2017; Reinman, 2015; Wilson et al., 2008; entre outros). É de considerar que os estudos apresentam ainda algumas limitações. Não obstante, quando possível, tentou-se estimar o sexo dos não adultos, analisando-se a superfície auricular do ílio (Luna et al., 2017).

A diagnose sexual através dos coxais, nos adultos, baseou-se nos métodos morfológicos de Ferembach e colaboradores (1980), Buikstra e Ubelaker (1994) e Bruzek (2002). Por sua vez, usando o crânio, aplicaram-se também os métodos morfológicos de Ferembach e colaboradores (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994). Para os ossos longos, utilizou-se o fémur e o úmero, calculando-se o ponto de cisão do diâmetro vertical da cabeça, bem como o comprimento máximo do rádio, segundo o método métrico de Wasterlain (2000). De acordo com o método de Carretero et al. (1995), mediu-se a largura da epífise distal do úmero, usando-se o ponto de cisão para se chegar a determinação da diagnose sexual. Com o método de Silva (1995) estimou-se o sexo, com base na medição do talus e calcâneo.

Sempre que exequível, para a aplicação dos métodos métricos, retiraram-se medidas aos ossos esquerdos do esqueleto.

2.2.3 Estimativa da idade à morte

Para a estimativa da idade à morte, foram também conjugados vários métodos. Uma vez que as fases de desenvolvimento para os indivíduos não-adultos estão bem definidas temporalmente, torna-se mais fácil a atribuição da idade, sendo esta bastante fidedigna.

O mesmo não sucede para os indivíduos adultos, pois o esqueleto encontra-se formado e a idade estimada baseia-se principalmente nas alterações degenerativas do esqueleto (Cunningham et al., 2016; Scheuer e Black, 2000; White e Folkens, 2005; White et al.,

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14 2012), pelo que os intervalos etários definidos são maiores ou, por vezes, abertos (ex.: >

50 anos).

Para os não adultos, foram aplicados métodos que avaliam a calcificação e erupção dentária (Ubelaker, 1989) e a erupção do 3º molar (Ozle et al., 2007).

Foram também usados métodos que consistem na análise do comprimento da diáfise dos ossos longos, bem como na fusão epifisária que ocorre nestes, tal como é proposto por Ferembach e colaboradores (1980), Scheuer e Black (2000) e Cunningham et al.

(2016).

A fusão da sincondrose esfeno-occipital, no crânio (Shirley e Jantz, 2011), é um indicador de transição entre não-adulto e adulto jovem, pelo que, quando presente, foi considerada. Do mesmo modo, a fusão e as alterações da extremidade medial da clavícula (MacLaughlin, 1990) permitem detetar as fases de transição entre adulto jovem e adulto, tendo sido assinaladas.

Para os adultos, no esqueleto pós-craniano, especificamente no osso coxal, aplicaram-se os métodos de Brooks e Suchey (1990) e Lovejoy e colaboradores (1985), nomeadamente, para a observação da morfologia da sínfise púbica, e da superfície auricular, uma vez que estes são os métodos mais fiáveis para a estimativa da idade.

Registaram-se também, os indicadores de idade na extremidade esternal da quarta costela, aplicando o método de Iscan e Loth (1993).

2.2.4 Estimativa da estatura

A estatura é estimada com base na equação de regressão que apresenta o menor desvio padrão, sendo que ambos variam consoante o osso em estudo. Por este motivo, usam-se os ossos longos, pois apresentam uma maior correlação entre o seu comprimento e a estatura, variando entre 0,7 e 0,8 (Mendonça, 2000; Olivier et al., 1978; Santos, 2002).

Para estimar a estatura, conjugaram-se assim, dois métodos métricos com maiores taxas de fiabilidade – o método de Santos (2002), fazendo-se medições aos metatársicos, especificamente, medindo o comprimento máximo e o comprimento fisiológico do 1º e 2º metatársicos; e o método de Mendonça (2000), com base nos comprimentos fisiológico e máximo de ossos longos, nomeadamente do úmero e do fémur.

Sempre que possível, selecionou-se o osso que apresenta uma maior correlação associada ao menor desvio padrão. Quando tal não foi exequível, usou-se a equação de regressão associada ao osso ou medida que apresenta o menor desvio padrão seguinte.

Quando executável, as medidas foram tomadas aos ossos esquerdos.

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15

2.2.5 Ancestralidade

Os caracteres para a determinação da ancestralidade podem ser avaliados duplamente, referindo a sua presença ou ausência, ou pela avaliação do grau de expressão (Hughes et al., 2011). Deve-se também proceder à aplicação de métodos métricos e análise dos caracteres antroposcópicos. A conjugação dos métodos é essencial para se chegar a um resultado fidedigno, porque os métodos apresentam limitações.

No que concerne aos métodos métricos do crânio – aplicação do ForDisc (Ousley e Jantz, 2005) com as 24 medidas sugeridas por Moore-Jansen et al. (1994) –, estes não foram possíveis de usar, pois os crânios da amostra estão bastante deteriorados. Também os caracteres antroposcópicos – forma do palato, forma da abertura nasal, espinha nasal anterior, largura interorbital, entre outros (Byers, 2011; Hefner, 2009, Rhine, 1990), não se puderam observar. Não se conseguiu concretizar a aplicação métodos morfológicos (segundo Iscan, 1983) ou métricos na pélvis, devido à grande fragmentação dos ossos.

Fez-se a observação de caracteres epigenéticos (que serão descritos mais à frente).

Uma vez que os índices inter-membrais podem ajudar a definir grupos geográficos de origem, aplicaram-se os métodos métricos de Olivier e Demoulin (1984) para as medições do fémur, tendo em conta a escala de Wescott (2005) para o índice de platimeria, bem como o método de Baker e colaboradores (1990), para se obter a altura da fossa intercondilar dos fémures (considerando o sexo e ponto de cisão). Os índices de achatamento dos fémures dos indivíduos poderá facilitar a determinação da ancestralidade.

O método de Bunning e Barnet (1965), que classifica as facetas de articulação do calcâneo com o talus em três tipos, foi também empregue quando se verificou a preservação dos ossos.

2.2.6 Índices de achatamento e robustez

Os índices de achatamento e robustez foram calculados para os fémures e tíbias de adultos, ou quando as epífises se encontravam fundidas, usando a metodologia de Olivier e Demoulin (1984). No fémur, calculou-se o índice platimérico, pilástrico e a robustez.

Para a tíbia, determinou-se o índice cnémico e a robustez.

Sempre que possível, foram consideradas as medidas obtidas nos ossos esquerdos.

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16

2.2.7 Caracteres discretos cranianos e pós-cranianos

Os caracteres discretos ou não-métricos são variações morfológicas que ocorrem no esqueleto (Buikstra e Ubelaker, 1994). Não existe um caracter que seja exclusivo de uma dada população (Buikstra e Ubelaker, 1994). A frequência com que surgem vai ajudar a determinar a probabilidade de certo indivíduo pertencer ou não a uma população, ajudando a determinar a ancestralidade, bem como graus de parentesco dentro de uma população (Cunha, 1994; Hauser e De Stefano, 1989).

Para este estudo selecionaram-se 16 caracteres epigenéticos cranianos da listagem de Hauser e De Stefano (1989), que são diversamente aplicados nos estudos de populações pretéritas portuguesas, e que se podem observar na tabela 2.

Para a observação dos caracteres pós-cranianos, recorreu-se às recomendações de Finnegan (1978) e Saunders (1978), tendo sido pesquisados 32 caracteres discretos (tabela 3).

Tabela 2. Caracteres discretos cranianos selecionados para pesquisa na amostra em estudo.

Tabela 3. Caracteres discretos pós-cranianos selecionados para pesquisa na amostra em estudo.Tabela 2. Caracteres discretos cranianos selecionados para pesquisa na amostra em estudo.

Caracteres discretos cranianos

1 Sutura metópica 2. Sutura supranasal 3. Foramina parietais

4. Foramina supra-orbitários acessórios 5. Foramina infra-orbitários acessórios 6. Osso sutural coronal

7. Osso sutural sagital 8. Osso sutural lambdóide 9. Ossiculum no bregma 10. Ossiculum no lambda 11. Ossiculum no asterion 12. Ossiculum no ptérion 13. Torus palatino

14. Torus mandibular

15. Foramina mentaliaduplos 16. Ponte mielohióide

(39)

17

2.2.8 Caracteres morfológicos dentários

Para o registo dos caracteres não-métricos dentários usou-se a metodologia definida por ASUDAS (Arizona State University Dental Anthropology System) (Turner et al., 1991), tendo em conta a nomenclatura traduzida e apresentada por Marado et al. (2016;

2017). Na tabela 4 e 5, estão registados os caracteres pesquisados na dentição definitiva superior e inferior, respetivamente.

Tabela 3. Caracteres discretos pós-cranianos selecionados para pesquisa na amostra em estudo.

1. Dente em pá (incisivos e caninos) 13. Tubérculo cónico (prémolares)

2. Cristas labiais marginais (incisivos e caninos) 14. Crista disto-sagital (1º prémolar superior) 3. Convexidade labial (incisivos) 15. Número de raízes (prémolares e 2º molar) 4. Proeminências cingulares (incisivos e caninos) 16. Extensões de esmalte (prémolares e molares) 5. Sulco lingual (incisivos) 17. Metacone (molares)

6. Rotação mesiolingual (incisivos) 18. Hipocone (molares) 7. Incisivos laterais superiores em cavilha (incisivos laterais) 19. Metacónulo (molares)

8. Crista mesial defletida (caninos) 20. Caractér de Carabelli (molares) 9. Crista distal acessória (caninos) 21. Parastilo (molares)

10. Tubérculos marginais acessórios (prémolares) 22. Agenesia (3º molar)

11. Cristas acessórias (prémolares) 23. Terceiro molar em cavilha (3º molar) 12. Prémolar tricúspide (prémolares)

Caracteres discretos da dentição superior

Tabela 4. Caracteres discretos pesquisados na dentição superior dos indivíduos da amostra.

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18 Depois da observação dos caracteres discretos dentários, utilizou-se o programa Osteomics, nomeadamente a aplicação rASUDAS (para consultar:

http://osteomics.com/rASUDAS/), para se obter um modelo estatístico para a estimativa da ancestralidade dos indivíduos, baseando-se nas características morfológicas da coroa e raiz dos dentes (Scott et al., 2018).

2.2.9 Modificações dentárias

Para o registo de modificações dentárias intencionais foi utilizada a metodologia de Wasterlain et al., 2016 (adaptado de Almeida, 1953; 1957) que distingue cinco possíveis padrões de modificação intencional, considerando o tipo de dente, o número de ângulos incisais removidos, a sua posição e localização (maxilar superior ou mandíbula).

Quando o desgaste suscitou dúvidas sobre a sua origem, nomeadamente entre intencional ou não-intencional, os dentes foram observados com microscópio eletrónico de varrimento (MEV) e lupa binocular.

O equipamento utilizado para examinar os dentes foi o TESCAN Vega3 SBH SEM (scanning electron microscope). Este microscópio eletrónico de varrimento encontra-se no Trace Analysis and Imaging Laboratory, localizado no Departamento de Física, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (TAIL-UC:

http://www.uc.pt/innovation/pctuc/TAIL/Infraestruturas).

O microscópio obtém imagens através do uso de um detetor de eletrões retrodifundidos, para que possam ser observadas imagens sem revestimento. Esta técnica é relevante para a análise de restos ósseos humanos (Calleja, 2015), neste caso, para a observação de dentes (Lai et al., s.d; Levrini et al., 2014; Power et al., 2014; Roksandic et al., 2016), porque utiliza um feixe de eletrões com energia (figura 3), que vai incidir

1. Dente em pá (incisivos e caninos) 9. Padrão de cúspides (molares) 2. Crista distal acessória (caninos) 10. Entoconulídeo (molares) 3. Número de raízes (caninos e molares) 11. Metaconulídeo (molares) 4. Tubérculo cónico (prémolares) 12. Crista desviada (1º molar)

5. Variação das cúspides linguais (prémolares) 13. Crista distal do trigonídeo (1º molar) 6. Raiz de Tommes (1º prémolar) 14. Protostilídeo (molares)

7. Fóvea anterior (1º molar) 15. Agenesia (3º molar) 8. Número de cúspides (molares)

Caracteres discretos da dentição inferior

Tabela 5. Caracteres discretos pesquisados na dentição inferior dos indivíduos da amostra.

(41)

19 na superfície dentária a ser observada, permitindo obter imagens de elevadas magnificações, possibilitando, posteriormente mapeamento de análises e componentes químicas em áreas específicas. Para tal, usou-se o modo de eletrões secundários a 5KV e o modo de eletrões retrodifundidos a 20 KV, tendo-se fotografado as áreas de interesse do dente.

Os dentes foram colados dentro do microscópio, usando-se tiras de adesivo de carbono – que servem de condutor dos eletrões –, fixando-os às bases de alumínio do microscópio. Após o recobrimento das bases de alumínio, inicia-se o processo de vácuo das amostras, usando-se um evaporador de vácuo, cuja pressão necessita de se encontrar a < 9x10-3 Pa1 para se iniciar o processo de observação. Os dentes foram observados com diversas ampliações, que variam entre 12x e 50.000x, consoante o tipo de superfície a ser observada (fibras, fissuras, fraturas, etc.).

1 Pa é o símbolo da unidade pascal. É uma medida padrão usada no SI (sistema internacional de unidades) para medir pressão ou tensão. Uma unidade de pascal equivale a 1N (Newton) por m2.

Figura 3. Diagrama esquemático do funcionamento do MEV (Lai et al., s.d).

(42)

20 Como diversos dentes tinham desgaste atípico na superfície oclusal, bem como fraturas ante mortem, recorreu-se a duas lupas binoculares. As lupas utilizadas para examinar os dentes encontravam-se em dois laboratórios diferentes – Laboratório de Biotecnologia Vegetal (LBV) do Centro de Ecologia Funcional (CEF), e no Herbário ambos localizados no Departamento de Ciências da Vida (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra). As imagens das lupas foram obtidas através do uso de programas como o Leica Application Suite 4.0 (Herbário) e NIS-Element D 4.6 (LBV). Os dentes foram colocados na base de observação da lupa, acoplados a plasticina para segurar o dente. Durante a observação faz-se o ajuste das ampliações, procedendo- se ao registo fotográfico na lupa, conectada a um computador.

No LBV, na lupa Nikon SMZ800N, as ampliações variam entre 1x e 8x, permitindo uma maior precisão e pormenorização na observação da superfície dentária. Por outro lado, a lupa do Herbário (Leica MZ95), por ter ampliações mais reduzidas (entre 0,63x e 6x), permitiu observar maiores áreas de superfície dentária.

Com a conjugação das duas lupas a amplitude dos graus de ampliação variaram entre 0,63x e 6x, consoante o tamanho de superfície observada.

2.2.10 Análise paleopatológica

Para registo das cáries dentárias aplicou-se o método de Hillson (2001) e o de Kerr (1988, 1998) foi usado para a doença periodontal. Utilizou-se a metodologia de Dias e Tayles (1997) para se registar as inflamações periapicais. A análise do desgaste dentário foi efetuada através do método de Smith (1984). O tártaro dentário observou-se segundo os graus definidos em Martin e Saller (1957) e as hipoplasias do esmalte dentário de acordo com métodos de Hillson (2001, adaptado por Wasterlain, 2006). Efetou-se também, a contagem de dentes perdidos ante ou post mortem.

Para o registo da osteoartrose (patologia degenerativa articular), utilizou-se a metodologia recomendada por Assis (2007, adaptado de Rogers e Waldron, 1995), recorrendo-se à observação de 14 zonas anatómicas diferentes (tendo sido acrescentada a articulação temporomandibular) (tabela 6), e atribuindo-se, graus de 0 a 8 (tabela 7).

Considerou-se osteoartrose quando existe eburnação – lesão considerada patognomónica –, ou quando se identifica a conjugação de dois dos outros critérios: porosidade e labiação (lipping).

Referências

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