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ESTUDOS INICIAIS ACERCA DAS REFORMAS POLÍTICAS PARA A AMÉRICA LATINA

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Academic year: 2021

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ESTUDOS INICIAIS ACERCA DAS REFORMAS POLÍTICAS PARA A AMÉRICA LATINA

DUARTE, Luiza Franco1 NOGUEIRA, Francis Mary Guimarães2

Introdução

Entende-se o homem como construtor da própria história, modificando constantemente sua relação com a natureza, refletindo nas suas próprias relações sociais as condições objetivas e subjetivas concretizadas em certo momento histórico.

O presente texto constitui-se de pesquisa bibliográfica por meio de leituras iniciais do percurso de investigação, porém essenciais à elocubração do objeto de pesquisa que é o financiamento da Educação Básica brasileira por Organismos Internacionais. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é compreender as repercussões das Reformas aplicadas a América Latina a partir de 1970. A organização didática do trabalho segue, inicialmente, com a apresentação do norte metodógico da pesquisa, em seguida, tecemos as discussões e leituras sobre as reformas políticas na América Latina, destacando o cenário brasileiro e, finalmente, aborda-se as repercussões e os objetivos das recomendações dos Organismos Internacionais voltadas para o financiamento da Educação Básica.

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação pela UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Professora/Pedagoga da Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED. Membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais (GPPS). Email: lfrancoduarte@gmail.com

2 Pós-doutorado pelo Centro de Estudios del Desarrollo (CENDES), da Universidade Central de Venezuela (UCV). Doutora em Educação. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais (GPPS). Docente do Curso de Pedagogia e do Programa de Mestrado em Educação da UNIOESTE. Email:

guimanog@terra.com

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Metodologia de investigação

Parte-se da concepção de que a teoria é um “discurso sistemático que orienta o olhar sobre o problema em pauta, a obtenção de dado e a análise dos mesmos”

(MINAYO, 2010, p. 18), na medida em que a falta de um respaldo teórico coerente com os objetivos e a temática proposta pode implicar numa falsa captação da realidade observada.

Na perspectiva do Materialismo Histórico-dialético, o homem se produz socialmente e historicamente no mundo das relações produtivas de uma determinada sociedade. Por isso, o método desenvolvido por Karl Marx compreende o papel determinante das forças produtivas no processo de constituição de uma sociedade.

Marx aborda conceitos de caráter econômicos imprescindiveis para a compreensão do método como: divsão do trabalho, propriedade e posse, valor de troca, mais-valia, trabalho assalariado, exploração e alienação, dentre outros. Além disso, descreve o modo de produção capitalista como sistema de mercado que originou-se a partir da modificação dos meios de produção; mudança que tornou a força de trabalho um produto a ser explorado.

A síntese do metódo de investigação possiblita a interpretação e a análise da sociedade capitalista, que por sua vez, caracteriza-se pelo antagonismo de classes sociais, ou seja, as contradições latentes estabelecem relação capital e trabalho para entender a produção e reprodução da própria vida.

Portanto, parte-se do pressuposto que “não se deve pensar a escola como um mero reprodutor passivo em mãos e a serviço do Estado, do capital ou de qualquer outro poder externo” (ENGUITA, 1989, p. 218). Não existe relação de passividade; são estratégias e acordos que permeam nossas relações sociais em todas as esferas que circundam o meio humano.

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Discussão da pesquisa

A premissa orientadora desta investigação é compreender as relações entre Estado, sociedade e educação subjacentes ao contexto de reformas políticas e educacionais que envolveram a América Latina.

No Brasil, a implementação de políticas públicas educacionais foram organizadas tendo por base as discussões em âmbito mundial. As agências internacionais foram determinantes tanto nas reformas produtivas efetivadas em geral na América Latina e, particularmente no Brasil, direcionando as políticas públicas aos diferentes setores, dentre eles, a educação escolar.

Historicamente, têm-se o surgimento do neoliberalismo após a Segunda Grande Guerra, como crítica à política do Estado de Bem-Estar Social que reconfigurou o cenário europeu. O neoliberalismo idealiza um modelo de Estado que fosse orientado por três princípios, são eles: administração racional-econômica dos recursos públicos;

terceirização de serviços públicos para a iniciativa privada; focalização das políticas sociais.

Então, Williamson (1992, p.43) denomina Consenso de Washinton pontos de exigências à América Latina para as reformas políticas contidas no documento elaborado pelo Banco Mundial (BM), FMI e governo dos Estados Unidos. O autor sintetiza alguns pontos por considerá-los como prioridades políticas: discilpina fiscal;

prioridade dos gastos públicos; reforma fiscal; liberalização de financiamento; taxa de câmbio; liberalização do comércio; investimento externo direto; privatização;

desregulamentação; direito de propriedade.

As políticas educacionais na América Latina a partir das décadas de 1970 foram redimensionadas a partir de Acordos Bilaterais e Multilaterais, intensificando projetos para universalização do acesso à Educação Básica. Assim, a redefinição do papel do Estado nesse período caracteriza-se pela privatização de empresas estatais, realização de parcerias público-privado, entre outras ações.

As relações bilaterais das ajudas econômicas, militares e culturais dos EUA para a América Latina foram as consequências das ações das classes dominantes em prol do

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desenvolvimento nacional como justificativa a adequação das políticas públicas a dinâmica do capitalismo internacional (NOGUEIRA, 1999, p. 54).

O Banco Mundial3 é um grupo financeiro constituído pelas instituições: Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD ou BM), que financia projetos na área social e de infraestrutura econômica, para países em desenvolvimento;

Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA), que destina seus créditos para países mais pobres; Corporação Financeira Internacional (IFC), que trabalha com o setor privado; Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA) e Centro Internacional de Solução de Controvérsia sobre Investimentos (ICSID).

Até o início da década de 1960, os créditos do Banco destinavam-se a projetos de infraestrutura. No final da década, o setor social passou a receber investimentos, buscando atingir os segmentos populacionais do chamado “terceiro mundo” que se encontravam fora dos limites aceitáveis de pobreza (grupos emergenciais ou de risco).

Na década de 1980, o BM sofreu uma reforma administrativa para assumir novas funções políticas e financeiras no processo de reestruturação da economia global, que se deu na década seguinte. No campo da educação, o BM estimulou reformas que promovessem a equidade e a qualidade dos serviços, mediante a descentralização, o desenvolvimento institucional e a adoção de novas regras de financiamento e de gastos educacionais. Atualmente, financia projetos de educação primária, infantil e de educação não formal para cerca de 90 países, em apoio à política de Educação para Todos (Education for All) fomentada pela Unesco.

Vale ressaltar que a articulação do BIRD no campo educacional brasileiro não é recente, desde os anos de 1970 acontece na forma de cooperação técnica-financeira. “O primeiro empréstimo concedido pelo BIRD para a educação escolar brasileira, em 1971, foi firmado em conjunto com outros Organismos Internacionais, como a Organização para Alimentação e Agricultura – FAO, a UNESCO, e a Fundação Ford” (NOGUEIRA, 1999, p. 112).

Assim no contexto brasileiro, o processo de neoliberalização possui indícios evidenciados no Regime da Ditadura Militar (1964-1985). Mas a tentativa de

3O Banco Mundial foi criado em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1944, em

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consolidação materializou-se com o Governo Collor no discurso político "Vamos acabar com os Marajás", e tornou-se explícita a partir das estratégias que culminaram com a eleição de Fernando Henrique Cardoso.

De acordo com Nogueira (1999, p. 25)

As ajudas externas para a educação brasileira no decorrer da história diplomática deste país, expressam-se em números Acordos, Convênios, Financiamentos e Doações, estabelecidas mediante a Acordos Bilaterais e Multilaterais, no plano econômico, político e cultural, definidas tanto pelos países centrais, quanto reivindicadas domesticamente.

De fato, no Brasil, a influência do organismos internacionais torna-se representativa, sobretudo na década de 1990 por meio da Declaração Mundial de educação para Todos, documento que fará a materialização das reformas educacionais originando o Plano Decenal de Educação para Todos (2001-210) ,a Lei de Diretrizes Bases para a Educação Nacional (1996). Tais documentos sintetizam um pacote de reformas de políticas que estavam em processo de implementação e implantação em toda a América Latina no mesmo período.

Teve como antecedentes compromissos assumidos pelos governos nacionais na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien (Tailândia), no início dessa década. Segundo o diagnóstico dos organismos internacionais, tais compromissos eram necessários para adequar as realidades educacionais nacionais aos condicionantes da reestruturação do setor produtivo e às mudanças institucionais que alteram a estrutura do Estado e das relações sociais no âmbito de uma nova ordem mundial.

As mudanças propostas pelos organismos internacionais para a educação na América Latina foram elaboradas sob a égide de políticas econômicas neoliberais e de uma forte crítica às funções dos Estados Nacionais e à lógica de gestão pública do modelo de desenvolvimento keynesiano.

Nesse sentido, tem-se a atuação do BID como a principal fonte de financiamento multilateral e de conhecimentos para o desenvolvimento econômico, social e institucional sustentável na América Latina e no Caribe. Realiza empréstimos a

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governos nacionais, provinciais, estaduais e municipais, bem como a empresas do setor privado.

A década de 1990, caracterizou-se pela emergência de novas formas de regulação da educação, na qual as propostas de Reforma do Estado abriram espaço e campo de atuação para a criação de ONGs e organizações sociais de diversos matizes.

Por isso, Nogueira (199, p. 28) reafirma:

Com o advento de Organismos Internacionais […] novas relações diplomáticas passarão a se constituir e instituir, em caráter planetário, redefinindo as formas de controle político entre as nações capitalistas.

São essas noções de interdependência entre nações que vão respaldar as cooperações internacionais, como direito dos países ricos em contribuir para o desenvolvimento econômico dos países pobres e periféricos.

Cabe ressaltar que tais recomendações internacionais não são efetivadas nos projetos sociais de modo passivo, pelo contrário, em muitas ocasiões encontra resistência porque é produto de interesses de classes distintas. “Assim, a mera difusão de diretrizes – internacionais ou nacionais – por regulamentação não assegura sua implantação nas escolas” (SHIROMA, 2011, p. 16).

Os estudos de Shiroma (2011) realçam que o processo de implementação de reformas ocorreu de modo similar nos países da América Latina. Enfatizando a ação conjunta dos principais projetos de educação que atendem as recomendações da UNESCO e do Banco Mundial para a América Latina e Caribe sintetizados no Prelac (Projeto Regional de Educação Para a América Latina e Caribe) e nas Conferências da OEA (Organização dos Americanos).

Pereira (1995) para impulsionar o desenvolvimento econômico da nação brasileira defendeu a reforma do Estado, não somente como uma bandeira a ser empreendida pelas ações do MARE, mas enquanto uma tarefa a ser cumprida pela nação brasileira. Isso porque, nas palavras do autor:

Reformar o Estado significa superar de vez a crise fiscal, de forma que o país volte a apresentar uma poupança pública que lhe permita estabilizar solidamente os preços e financiar os investimentos.

Significa completar a mudança na forma de intervenção do Estado no

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mercado e para a justiça social. Reformar o Estado significa, finalmente, rever a estrutura do aparelho estatal e do seu pessoal, a partir de uma crítica não apenas das velhas práticas patrimonialistas ou clientelistas, mas também do modelo burocrático clássico, com o objetivo de tornar seus serviços mais baratos e de melhor qualidade.

Em qualquer das três hipóteses reformar o Estado significa dar uma resposta positiva ao problema fundamental do último quartel deste século: a crise do Estado. (PEREIRA, 1995, p. 01)

O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (1995) teceu um panorama da crise do Estado Brasileiro, ao mesmo tempo, se propôs a definir objetivos e a estabelecer as diretrizes de orientação para a reforma da administração pública do país de acordo com moldes modernos e racionais. Além disso, percebe-se a ênfase no discurso e os inúmeros argumentos que prezam pela transferência de recursos públicos para o setor privado administrar, inclusive a educação, entre outras áreas sociais.

Considerações

De acordo com Trojan (2009), pode-se delinear o ciclo das Reformas na América Latina em dois momentos, são eles: inicialmente, reformas orientadas para a expansão dos sistemas educativos; posteriormente, processo de gestão de sistema e de qualidade.

Esses ciclos foram orientados a partir dos seguintes objetivos: situar a educação e o conhecimento no centro da estratégia de desenvolvimento; iniciar uma nova etapa de desenvolvimento educacional mediante mudanças na gestão: mudar a adminstração do Estado, abertura do sistema, estabelecimento de novas alianças, processos de descentralização e ênfase na qualidade e equidade; melhorar os níveis de qualidade de aprendizado, por meio de ações nos níveis Macro: sistemas nacionais de avaliação, discriminação positiva e reforma curricular. Micro: focalização na escola, em particular na gestão, implementação de graus de autonomia e um currículo adaptado às características das escolas.

Ainda, delimita Marcos das Reformas: Conferência Mundial de Educação para

Todos, em Jontien, na Tailância, em 1990; Promedlac IV, em 1991, em Quito; 24ª

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Reunião da CEPAL, em 1992, no Chile; Promedlac V, em Santiago, em 1993;

Seminário Internacional sobre Descentralização e Currículo, realizado pela UNESCO, em 1993, no Chile.

Em síntese, nos países ocorre um processo de adequação às políticas neoliberais de desenvolvimento econômico, por isso a Reforma Educacional da América Latina caraterizou-se como uma Reforma sistêmica da educação, implementada nos diferentes países da região, durante a década de 1990, que implicou mudanças importantes nos modos de organização e gestão dos sistemas educativos e das escolas, nas formas de financiamento, na organização do trabalho escolar e no conjunto de princípios e valores que orientam a educação.

Referências

ENGUITA, M. F. A face oculta da escola: Educação e Trabalho no Capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29. ed.

Petrópolis-RJ: Vozes, 2010.

NOGUEIRA, Francis Mary Guimarães. Ajuda externa para a educação brasileira: da USAID ao Banco Mundial. Cascavel, PR: Edunioeste, 1999.

PEREIRA, L. C. B. A reforma do aparelho do Estado e a Constituição Brasileira.

Disponível:<http://www.bresserpereira.org.br/papers/1995/98.ReformaAparelhoEstado

&Constituicao.pdf> Acesso: 03 out 2009.

SHIROMA, Eneida Oto Shiroma. Redes sociais e hegemonia: apontamentos para estudos de política educacional. In: AZEVEDO, Mário Luiz Neves; LARA, Angela Mara de Barros (Orgs.). Prefácio Afrânio Mendes Catani. Políticas para a educação:

análises e apontamentos. Maringá, PR: EDUEM, 2011, p. 15-38.

TROJAN, Rose Meri. Políticas educacionais na América Latina: tendências em curso.

Revista Iberoamericana de Educación (Online), v. 51, p. 01-12, 2009.

WILLIAMSON, John. Reformas políticas na América Latina na década de 80. In:

Revista de Economia Política. São Paulo: Brasiliense, vol.12, n. 1 (45), janeiro- março/1992, p. 43-51.

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