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Requisitos de comércio justo em associações de produtores de culturas agroecológicos no Ceará

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Academic year: 2018

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA, CONTABILIDADE

E SECRETARIADO

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

ALAN TORRES PEDROSA

REQUISITOS DE COMÉRCIO JUSTO EM ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES DE

CULTURAS AGROECOLÓGICOS NO CEARA

FORTALEZA

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ALAN TORRES PEDROSA

REQUISITOS DE COMÉRCIO JUSTO EM ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES DE CULTURAS AGROECOLÓGICOS NO CEARA

Monografia apresentada ao Curso de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Administração.

Orientação: Prof. Dr. José Carlos Lázaro da Silva Filho

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ALAN TORRES PEDROSA

REQUISITOS DE COMÉRCIO JUSTO EM ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES DE CULTURAS AGROECOLÓGICOS NO CEARA

Monografia apresentada ao Curso de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Administração.

Orientação: Prof. Dr. José Carlos Lázaro da Silva Filho

Aprovada em: ___/___/_____.

______________________________________________ Prof. Dr. José Carlos Lázaro (orientador).

Universidade Federal do Ceará (UFC)

______________________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Murakami

Universidade Federal do Ceará (UFC)

______________________________________________ Prof. Me. Josimar Souza Costa

(4)

AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho primeiramente а Deus, pоr ser essencial еm minha vida, autor dе mеu destino, mеu guia, socorro presente nа hora dа angústia, que me proporcionou a existência, bem como a inteligência, e me dá saúde e força todos os dias.

Aо mеu pai Argemiro Pedroza, que me ensinou a ser forte, a manter a cabeça erguida e me protegeu quando precisei, me ensinou a não temer desafios e a superar os obstáculos com humildade, sobretudo com honestidade.

À minha mãе, Leila Maria, que me gerou e que sempre se fez presente mesmo morando tão longe, е аоs meus irmãos, Ailton e Acácio que sempre me ajudaram de alguma forma.

À minha esposa, Cleiciane Barbosa, que eu tanto amo e que sempre acreditou em mim, no meu trabalho, no meu potencial, às vezes até acreditando mais do que eu mesmo. Caminhando comigo durante os dias de trevas e os dias de luz, que me trouxe a paz necessária para a longa jornada da vida e que sempre me apoiou nas decisões mais difíceis, sempre ao meu lado incondicionalmente.

À minha madrinha, Regina Lúcia, que foi um anjo que Deus colocou na minha vida, que sempre reza por mim, que me tem como um filho assim como eu a tenho como mãe. Pelos seus ensinamentos, pela sua palavra, apoio e compreensão para com a minha pessoa.

Ao Professor José Carlos Lázaro, cоm quem partilhei о quе era о broto daquilo quе veio а sеr esse trabalho, a quem devoto a mais sincera admiração. Obrigado pelo apoio, dedicação e disponibilidade para a realização da orientação deste trabalho.

Á minha querida professora Suzete Pitombeira por ter dado sua contribuição para a minha formação como ser humano e não somente como aluno. A todos os professores da faculdade por terem contribuído de alguma forma com o meu aprendizado.

Aos amigos da faculdade, Alisson, Helan e Patrick, pela inspiração que causaram em mim ao longo do curso, por suas atitudes de dedicação, apoio, estudo, coleguismo e brilhantismo.

Ao meu bom amigo Deigles que sanou várias de minhas dúvidas e sempre se fez presente para tirá-las.

Enfim, a todos os que de alguma maneira contribuíram para a execução desse trabalho, seja pela ajuda constante ou por uma palavra de amizade.

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(6)

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades práticas de comércio justo em associações de produtores de culturas agroecológicos cearenses em uma produção de pequena escala mais adequada socioambientalmente, especificamente dentro dos padrões internacionais que definem uma produção baseada no Comércio Justo (Fair Trade) e em formas de qualificação que causam baixo impacto ambiental, chamada de agroecológica. Identificar e registrar os requisitos necessários para a prática do comércio justo é de suma importância para futuros novos estudos. Através de uma pesquisa de campo baseado em um referencial teórico desenvolvido, esta pesquisa identifica quais as barreiras enfrentadas pelas associações e cooperativas de agricultores na tentativa de fazerem parte de uma produção baseada no comércio justo. A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, registra e identifica, através de entrevistas pré-definidas com os agricultores e membros de associações e cooperativas, os requisitos necessários para a prática do comércio justo nas associações participantes, tenta também elaborar um quadro geral dos requisitos necessários para a prática do comércio justo baseado no referencial teórico existente. Neste trabalho foi constatado que há um caminho possível a percorrer. A possibilidade de atingir um mercado que paga por um valor superior através de um selo de comércio justo ainda requer investimentos por parte dos produtores.

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ABSTRACT

This paper aims to examine the practical possibilities of fair trade associations agroecological farmers from the Ceará in a small scale production more appropriate socially and environmentally, specifically in compliance to international standards that define a production based on fair trade (Fair Trade) and qualification forms that cause low environmental impact, called agroecology. Identify and record the necessary requirements to enable the practice of fair trade is quite important for new studies in the future. Through a field study based on a theoretical reference that was developed, this research attempts to identify the barriers faced by farmers associations and cooperatives in an attempt to be part of a production based on fair trade. The research is qualitative in nature, tries to register and identify, through predefined interviews with farmers and members of associations and cooperatives, the main requirements for the practice of fair trade on the participating associations, tries also develop an overview of the requirements for the practice of fair trade based on the existing theoretical reference. Partially achieved the expected results, it was found that there is a possible way to go. The possibility of reaching a market that pays for a premium value through a fair trade label still requires investments by producers. The paper recommends that more researches about the subject can be developed as a way to consolidate the fair trade in countryside of the Ceará.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - O Sistema do Comércio Justo. ... 17

Figura 2 - Comércio Justo por região. ... 28

Figura 3 - Mini-fábrica de café ecológico. ... 32

Figura 4 - Assentamento coqueirinho (Rede Tucum). ... 41

Quadro 1 - Os participantes do comércio justo. ... 18

Quadro 2 - Características do Comércio Justo. ... 19

Quadro 3 - Organismos e redes internacionais do comércio justo. ... 25

Quadro 4 - Análise dos requisitos de Comércio Justo da APEMB ... 40

(9)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACOOPAC Associação Cooperativista Do Projeto Assentamento Coqueirinho APAC Associação dos Parceleiros do Assentamento Coqueirinho

APIAC Associacao dos Parceleiros Individuais do Coqueirinho ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

APEMB Associação dos Produtores Ecológicos do Maciço de Baturité EFTA European fair Trade Association

CEPEMA Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente COMCAFÉ Cooperativa Mista dos Cafeicultores Ecológicos do Maciço de Baturité FACES

FINE FLO/IFAT/NEWS/EFTA

FLO – Cert. FLO Certificação de Desenvolvimento Sócio – Econômico Ltda. (FLO Certification of Social-Economic Development GmbH)

FLO Organizações para Certificação de Comércio Justo (Fairtrade Labelling Organizations)

IFAT Federação Internacional de Comércio Alternativo (International Federation of Alternative Trade)

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 10

1.1. Objetivos... 10

1.2. Caminhos metodológicos ... 11

1.3. Relevância ... 11

1.4. Estrutura do trabalho ... 12

2. REFERENCIAL TEÓRICO ... 13

2.1. Comercialização agrícola ... 14

2.2. Comércio justo agrícola – conceitos e histórico ... 15

2.3. Os participantes do comércio justo ... 17

2.4. Principais características do comércio justo: ... 19

2.5. Do produtor às lojas do mundo ... 20

2.6. A formação do preço ... 22

2.7. Certificações FairTrade/ agências internacionais (comércio justo) ... 23

2.8. Os grandes grupos de produtos ... 25

2.9. Crescimento, desafios e caminhos ... 26

2.10. Brasil: contexto atual ... 27

3. METODOLOGIA ... 30

3.1. Classificação da pesquisa ... 30

3.2. Descrição da pesquisa de campo. ... 30

3.3. Análise de dados ... 31

4. CASOS ESTUDADOS ... 32

4.1. Associação A – APEMB ... 32

(11)

4.2. Associação B – ACOOPAC ... 40

4.2.1. Variáveis de análise de comércio justo conforme a FLO ... 46

5. CONCLUSÃO ... 51

ANEXO ... 54

(12)

Diante dos efeitos negativos do modelo atual de comércio internacional estimula a concentração de riquezas, aumento da pobreza mundial, maior distancia entre países ricos e países pobres, extermínio ambiental, aumento da dívida externa, desindustrialização e quebra de empresas nacionais nos países do Sul, desemprego aberto e crônico, crise de valores etc.), vem surgindo como alternativa paralela o comércio justo.

Os maiores desafios para a agricultura brasileira são respaldados em ações que sustentem os avanços na competitividade internacional e, ao mesmo tempo, insiram pequenos produtores excluídos e com poucas oportunidades em um mercado cada vez mais competitivo (OCDE, 2006).

De acordo com Bossle (2011, p.7), comércio justo “é uma associação comercial orientada para o desenvolvimento sustentável, com foco nos produtores excluídos ou em desvantagem, propondo melhores condições comerciais”.

Essa nova tendência do mercado, segundo Fajardo (2010) - do consumo e da economia, tema já recorrente na imprensa e na produção acadêmica - tem sido chamada de várias formas: “comércio solidário”, “consumo ético”, “economia colaborativa e solidária” são algumas delas.

Neste contexto, vale ressaltar, conforme Alves (2008), que a aproximação estabelecida entre produtores e consumidores vai além do mero intercâmbio econômico e de acesso ao mercado para pequenos produtores. Estas relações se baseiam, também em respeito ao Meio Ambiente, tanto por parte dos produtores que, conscientemente, preservam, quanto dos consumidores que, da mesma forma, estão dispostos a pagar um preço justo para que as organizações continuem adotando práticas e cuidados ambientais.

Com um olhar sobre a economia nacional, é possível dizer que “no Brasil, ainda são poucas as iniciativas neste sistema, em parte devido ao próprio estágio embrionário de organização estratégica do agronegócio brasileiro”. (MAIA; VIEIRA; WILK, 2007, p.1)

1.1. Objetivos

(13)

11 de certificação do Comércio Justo no Brasil para os pequenos agricultores; identificar quais são as instituições promotoras e os participantes do Comércio Justo; finalmente, identificar e caracterizar as associações de Fortim e Mulungu.

1.2. Caminhos metodológicos

Para alcançar os objetivos propostos foi realizado um estudo de essência qualitativa. Quanto aos fins, trata-se de pesquisa exploratória, pois foi realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado (GIL, 2002).

A metodologia utilizada nesta monografia, sendo uma análise qualitativa acerca do Comércio Justo, baseou-se num estudo de múltiplos casos: um na cidade de Mulungu, que se localiza na serra de Guaramiranga a 107 km de Fortaleza; e outro no Assentamento Coqueirinho na região de Fortim, a 134 km de Fortaleza, ambos no Ceará. Para isto, foram realizadas observações diretas e entrevistas com os moradores, membros das associações e cooperativas.

Em relação aos meios, a pesquisa tem cunho bibliográfico, de campo e estudo de caso. Foram realizados estudos com base em redes eletrônicas, livros e artigos científicos, a fim de se obter maior conhecimento do assunto em questão. Esta pesquisa também se enquadra como pesquisa de campo porque foram coletados dados primários por meio de questionários e entrevistas em um local que dispunha de elementos que podiam explicar o problema estudado (MARCONI; LAKATOS, 2007).

Já a caracterização de estudo de caso se deu pelo fato de a pesquisa ter sido realizada, primeiro, na região de Mulungu, sendo esta na COMCAFÉ (Cooperativa dos Cafeicultores Ecológicos do Maciço de Baturité), com a presença do presidente da cooperativa, Marcos Arruda, e o Sr. Geraldo Ferreira, produtor e membro da cooperativa; e segundo, realizada na ACOOPAC (Associação Cooperativista Do Projeto Assentamento Coqueirinho) com a presidente da associação, Zildene do Carmo Nogueira, e a agricultora Maria de Fátima.

(14)

A importância desta monografia está em ampliar o conhecimento sobre Comércio Justo, em parte devido ao estágio embrionário de organização estratégica do agronegócio no semiárido nordestino.

1.4. Estrutura do trabalho

O trabalho está organizado da seguinte forma: dividiu-se esta monografia em 5 partes. Esta introdução apresenta o tema, a justificativa, e os objetivos. No capítulo 2 é apresentado o referencial teórico sobre o tema, com alguns autores, começando por Fajardo (2010) e Fretel; Simoncelli-Bourque (2003) e suas abordagens relacionadas ao Comércio Justo, e, também, alguns autores de dissertações como Gonçalves (2002) e Ferreira (2012), dentre outros.

O capítulo 3 aborda a metodologia utilizada nesta monografia, sendo uma análise qualitativa do Comércio Justo. Para isto, foram realizadas observações diretas e entrevistas com os produtores agroecológicos do maciço de Baturité e com os produtores de frutas agroecológicas do assentamento Coqueirinho na cidade de Fortim-Ce.

O capítulo 4 detalha a pesquisa qualitativa realizada para dar embasamento a esta monografia. Seus resultados são comentados amplamente e comparados com cada um dos entrevistados em questão.

(15)

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para a introdução do assunto utilizando como pano de fundo aspectos históricos do comércio, devem-se destacar alguns momentos marcantes da transformação da sociedade industrial capitalista em sociedade de consumo. O primeiro momento foi no final do século XIX, com o grande crescimento mercantil e técnico desencadeado pela Segunda Revolução Industrial. Um marco importante dessa época foi a criação da linha de montagem na fabricação de automóveis pela empresa de Henry Ford em 1909, o que barateou o custo dos veículos. A produção em massa se expandiu para outros setores da indústria e ajudou a consolidar o consumo em uma escala mais ampla (FAJARDO: 2010, p.14).

De acordo com o mesmo autor, o segundo momento foi a crise de 1929, que provocou desemprego em massa e, na sequência, a criação de leis que permitiram elevar salários e expandir a consciência de que o crescimento da demanda – consumidores com dinheiro para gastar – aquece a economia. Nos países capitalistas, esta valorização da demanda interna se consolidou entre o final da década de 1940 e a década de 1970.

Sachs (2007, p.83 apud ALVES 2008, p.22) afirma que “a regra de funcionamento da economia capitalista é a internalização do lucro pela empresa e a externalização, sempre que possível, dos custos”, especialmente falando dos impactos socioambientais. Se uma empresa tem livre acesso a recursos e/ou pague por ele apenas um preço nominal, não se preocupará em conter desperdícios, a exemplo da água e do ar. “Enquanto couber à coletividade a responsabilidade pelas perdas e pela poluição, nenhuma empresa se preocupará com isso”, reforça o mesmo autor.

Neste cenário, a revolução científica e tecnológica ocorrida logo após a Segunda Guerra Mundial favoreceu as condições materiais e culturais para o desenvolvimento do consumo de massa em todos os níveis (FAJARDO, 2010, p.14).

Para novas realidades, novas formulações e reflexões. Foi assim que, na área da sociologia e da economia, consolidou-se o conceito de sociedade de consumo. Esta expressão é usada hoje para definir um grupo social que se encontra em estágio avançado de desenvolvimento industrial, com grande circulação e consumo de bens e serviços oferecidos graças a uma produção intensiva. Tal sociedade está ligada à economia de mercado que busca equilibrar a oferta e a demanda por meio da livre circulação de capitais e produtos sem intervenção direta do Estado. (FAJARDO, 2010, p.14)

(16)

consumir e na capacidade econômica para sustentar hábitos. Desse modo, a sociedade de consumo não está relacionada apenas com a satisfação de necessidades; influencia a forma como o mundo é visto, assim como a capacidade do indivíduo de conseguir progresso material e financeiro e seu status dentro da comunidade.

Segundo Mises (2013)

O mercado é um processo, impulsionado pela interação das ações dos vários indivíduos que cooperam sob o regime da divisão do trabalho. As forças que determinam a — sempre variável — situação do mercado são os julgamentos de valor dos indivíduos e suas ações baseadas nesses julgamentos de valor. A situação do mercado em um determinado momento é a estrutura de preços, isto é, o conjunto de relações de troca estabelecido pela interação daqueles que estão desejosos de vender com aqueles que estão desejosos de comprar. Não há nada, em relação ao mercado, que não seja humano, que seja místico. O processo de mercado resulta exclusivamente das ações humanas. Todo fenômeno de mercado pode ser rastreado até as escolhas específicas feitas pelos membros da sociedade de mercado.

2.1. Comercialização agrícola

Um aspecto importante de uma cadeia produtiva agrícola é o processo de comercialização. Segundo Gonçalves (2002, p.13),

A comercialização representa o resultado final do empreendimento. A agroindústria familiar, quando tem sua produção absorvida pelo comércio varejista tradicional, mantém seus níveis de lucratividade. No entanto, este tipo de comercio já não atrai a maioria dos consumidores. Ingressar neste espaço modernizado da comercialização, caracterizado pela adoção de automação, códigos de barra, garantia do abastecimento dos produtos vinculados à demanda, exige da agroindústria familiar investimentos considerados proibitivos pelos seus altos custos de implantação. A redução dos canais tradicionais do comércio são obstáculos as possibilidades de aumento de inserção da produção agroindustrializada no mercado consumidor. Por outro lado, os supermercados passaram a ser os principais canais de comercialização dos produtos da agroindústria familiar, exigindo a adaptação da indústria para atender as instituições exigidas pelos varejistas e pelas normas de comercialização.

Não se pode esquecer, ainda de acordo com Gonçalves 2010, de que é pela comercialização de seus produtos que a agroindústria familiar se insere no mercado e cumpre sua principal vocação de agregar outras formas de valor para o agricultor familiar. A modernização do espaço de comercialização deve ser atentamente observada e, dentro do possível, adotada, garantindo um nicho de mercado, via produtos diferenciados pela origem e pelas informações contidas no produto.

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15 famílias na Ásia, África e América Latina. A competição por commodities agrícolas, o principal mercado de exportação para muitos países em desenvolvimento, no mercado global, levou à crescente pressão dos preços para os produtores. A resultante queda dos preços dos produtos agrícolas piorou tanto a situação da renda quanto as condições sociais dos fazendeiros e trabalhadores do setor agrícola (FAIRTRADE INTERNACIONAL, 2006).

2.2. Comércio justo agrícola – conceitos e histórico

Comércio Justo é uma iniciativa de Comércio Justo, que tem como objetivo fornecer a garantia aos compradores de determinados produtos de que os mesmo foram produzidos de maneira ética, levando em conta aspectos como o bem dos produtores e dos trabalhadores, incluindo alguns critérios sociais e ambientais. O conceito de Comércio Justo não é um consenso absoluto (SILVA FILHO; CANTALICE, 2011).

A IFAT 2014 define o Comércio Justo (Fair Trade) como uma parceria comercial, baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior equidade no comércio internacional, contribuindo para o desenvolvimento sustentável por meio de melhores condições de troca e garantia dos direitos para produtores e trabalhadores à margem do mercado, principalmente no Hemisfério Sul.

De acordo com a EFTA (2010):

Fair Trade é uma parceria comercial, baseada em diálogo, transparência e respeito, que procura maior equidade no comércio internacional. Ele contribui com o desenvolvimento sustentável oferecendo melhores condições de comércio, e ao garantir os direitos dos produtores e trabalhadores marginalizados, especialmente no sul. As organizações de Fair Trade (apoiadas pelos consumidores) estão engajadas ativamente em ajudar os produtores, aumentar a conscientização e fazer campanhas para mudança nas regras e na prática do comércio internacional.

Segundo Gruninger e Uriarte (2002), na década de 1960 surge o sistema Comércio Justo. Grupos organizados europeus e norte-americanos (ONGs, agências de cooperação, instituições filantrópicas, grupos de consumidores) vendiam em seus mercados produtos feitos por pequenos produtores, vítimas do isolamento comercial imposto aos regimes políticos em que viviam ou vítimas simplesmente da pobreza.

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Bonn, na Alemanha, sendo a principal responsável pela certificação dos produtores e produtos.

De acordo com a FLO (2014) “é uma abordagem alternativa ao comércio convencional e é baseado em uma parceria entre produtores e consumidores, oferecendo aos produtores melhores oportunidades e permitindo que eles melhorem suas vidas e planejem seus futuros”.

De acordo com Metelho (2007, p.48)

O marco inicial do Comércio Justo, porém, remonta a 1973, com a comercialização do café Indio Solidaritätskaffee, diretamente com cooperativas da Guatemala. Na própria década de 1970 começaram as discussões sobre os objetivos deste tipo de comércio. E as vendas se tornaram tão importantes quanto o processo de conscientização da população dos países ricos. Na década de 1980 houve melhora na qualidade dos produtos vendidos, além de um aumento na variedade de produtos oferecidos.

Nesse sentido, Bossle (2011) define o Comércio Justo como uma associação comercial orientada para o desenvolvimento sustentável, com foco nos produtores excluídos ou em desvantagem, propondo melhores condições comerciais.

De acordo com Uriarte (2006), certas circunstâncias enfrentadas por pequenos produtores em países pobres eram tidas como sendo “injustas”. Entre estas pode-se citar:

a) A vulnerabilidade de pequenos produtores a flutuações dos mercados internacionais de commodities. Sem acesso a serviços de seguro e crédito e sem reservas de capital, os efeitos das flutuações de mercado sobre pequenos produtores podem ser devastadores;

b) A apropriação de boa parte do valor adicionado ao longo da cadeia produtiva por intermediários desnecessários ou sobrevalorizados;

(19)

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2.3. Os participantes do comércio justo

Na Figura 1 descreve-se o sistema do Comércio Justo, que segue em uma determinada sequencia. As Iniciativas Nacionais estão no centro de todo o sistema: (1) recebem recursos e apoio de seus associados; (2) ajudam a definir os critérios internacionais de certificação de produtos e produtores junto com a FLO; (3) realizam ações e campanhas de educação de seus associados; (4) bem como campanhas de conscientização do público consumidor, além do lobby junto a órgãos governamentais; (5) sondam licenciados para a fabricação de produtos, para os quais são concedidas as licenças de uso do selo de Fair Trade sob controle regular; (6) oferecem apoio e orientação para o marketing das lojas; (7) o lojista oferece uma gama de produtos a serem comprados pelo consumidor (8); o licenciado oferece apoio de marketing às lojas (9), paga ao importador, que por sua vez, (10) paga ao produtor.

Em contrapartida, o importador e os produtores se comprometem a seguir os (11) critérios estabelecidos (12) em suas relações. A FLO, após definir os critérios, certifica e controla os (13) produtores e (14) importadores.

Figura 1 - O Sistema do comércio justo.

Fonte: SEBRAE (2004).

(20)

socioeconômico de cada uma das regiões do mundo. Neste processo, conforme Fretel e Simoncelli-Bourque (2003), se constituíram diversos autores e instituições que participam na implantação, promoção e formação de intercâmbios econômicos mais justos.

Quadro 1 - Os participantes do comércio justo.

Os atores

São aqueles que se vinculam aos processos de intercâmbio do Comércio Justo. Quer dizer, são aqueles que intervêm diretamente nas atividades econômicas, entre os quais, podemos identificar os seguintes:

Os produtores

São os que elaboram os produtos de acordo com determinadas exigências, normas técnicas e condições, que são oferecidos no mercado do Comércio Justo. Encontram-se majoritariamente marginalizados do comércio tradicional e são dos países do Sul.

Os consumidores

São as pessoas que consomem os produtos do Comércio Justo, e que o fazem por sensibilidade social ante o sistema internacional injusto de intercambio comercial e/ou por sua consciência solidária em relação aos marginalizados e excluídos do sistema. São majoritariamente dos países do Norte.

As empresas São entidades do setor privado que têm responsabilidade social e que estão dispostas a trabalhar na perspectiva do Comércio Justo.

As organizações colaboradoras

São as que contribuem com recursos econômicos, técnicos ou de outras formas de promoção para a estruturação do Comércio Justo.

Os governos

São aquelas administrações estatais locais, regionais ou nacionais que ajudam o comércio justo, ao menos regulando o mercado de acordo com critérios ambientais e sociais, e propõem um marco jurídico para ele.

As instituições do comércio justo

São as entidades ou organizações criadas especificamente para o Comércio Justo.

As organizações de produtores

São as cooperativas, associações de produtores, sindicatos de trabalhadores etc. que representam os interesses de seus associados nas negociações nas negociações no interior do movimento do Comércio Justo e nas relações interinstitucionais com outros agentes e instituições.

As organizações de consumidores

(21)

19

As agências de certificação

São aquelas entidades dedicadas a certificar se os produtos estão em condições de entrar no Comércio Justo, permitindo suas distribuições nos supermercados. Apareceram no final dos anos 80 e desenvolveram critérios específicos para cada produto.

As centrais de compras ou importadoras do comércio justo

São as lojas encarregadas de adquirir os produtos e colocá-los no mercado (distribuidora (Lojas do Mundo), pontos de vendas por menor preço).

As lojas do comércio justo

São as lojas encarregadas da venda direta ao consumidor. Com frequência, seus fornecedores são centrais de compra do Comércio Justo, mas também podem ter relações diretas com os produtores.

As distribuidoras e pontos de venda

São os sócios comerciais das organizações de Comércio Justo (produtores, selos e centrais de compras) encarregada da distribuição dos produtos no mercado aberto, buscando sua maior difusão, especialmente dos alimentos.

Fonte: Adaptado de FRETEL; SIMONCELLI-BOURQUE (2003).

2.4. Principais características do comércio justo:

Segundo Fajardo (2010), o conceito de Comércio Justo se fundamenta no conceito de que é possível viver e realizar transações financeiras com vistas a tornar o mundo mais equilibrado, em que se abre espaço para o respeito pelo outro e se cultiva uma atitude de igualdade entre os diferentes atores sociais. Baseando-se nessa premissa, podem ser enumeradas as características específicas desse segmento comercial:

Quadro 2 - Características do comércio justo.

 Organizações dos produtores em cooperativas e associações.

 Pagamento de preços justos aos pequenos produtores.

 Redução da intermediação especulativa, até chegar à sua eliminação. Quanto mais forte e direta for a ligação entre produtor e consumidor, melhores serão os resultados.

 Relações duradouras tanto de compra e venda como de contratos.

 Pagamento no ato do recebimento do produto. Não é admitida a venda em consignação, na qual o produtor só recebe do vendedor ou do intermediário o valor referente ao que foi vendido.

(22)

 Rejeição à discriminação de raça, gênero e religião nas relações comerciais, mulheres não devem receber menos do que os homens, quando executam a mesma tarefa.

 Rejeição ao trabalho infantil.

 Rejeição ao trabalho escravo.

 Respeito aos direitos trabalhistas de produtores e vendedores, de acordo com padrões estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

 Demandas de longo prazo e uma política de relações éticas que vai desde a contratação de uma compra até a entrega final do produto.

 Corresponsabilidade entre os diversos elos da cadeia produtiva. Um gerente de loja e um colhedor de palha de palmeira têm a mesma importância profissional.

 Financiamento de produção ou do plantio, ou a antecipação do pagamento da safra, quando necessário.

 Respeito à legislação e às normas nacionais e internacionais referentes à qualidade do produto.

 Garantia de segurança e um ambiente de trabalho seguro para todos os participantes. Isso inclui uso de equipamentos adequados para a execução das tarefas e para prevenção de acidentes.

Fonte: Adaptado de FAJARDO (2010)

2.5. Do produtor às lojas do mundo

No Comércio Justo tudo começa com o produtor, que elabora as mercadorias de acordo com exigências, normas técnicas e condições preestabelecidas. Ele também pode participar de outros segmentos.

Na outra parte da cadeia do Comércio Justo, segundo Fajardo (2010), estão os consumidores que optam, na hora da compra, agir com base em sua sensibilidade social e consciência. Eles entendem que estão exercendo sua cidadania quando apoiam pequenos produtores com menos acesso ao mercado e, assim, contribuindo para melhorar a sociedade em que vivem. Fajardo (2010) explica também que há uma tendência para que os consumidores se aproximem cada vez mais dos produtores, de modo que conheçam sua maneira de atuar e as condições ambientais e higiênicas em que se encontram e onde são produzidas suas mercadorias; pois são eles, em última análise, que sustentam a cadeia do Comércio Justo.

Segundo uma pesquisa realizada pela EUROMONITOR1 (BBC, 2014) há um valor social ligado ao consumo de produtos e marcas que adotam práticas de negócios éticas e

1 Fundada em 1972, Euromonitor International é líder mundial em pesquisa de estratégia para mercados

(23)

21 sustentáveis. A pesquisa observa que tal comportamento não é uma exclusividade dos países desenvolvidos. Os emergentes também vem cada vez mais aderindo à práticas "verdes".

Nesse sentido, acrescenta a pesquisa, “os consumidores exigem saber onde os produtos que compram são feitos, e há um grupo que, em número cada vez maior, prioriza em sua alimentação produtos orgânicos, ou seja, sem aditivos” (UOL ECONOMIA, 2014).

Já no caso dos exportadores, estes costumam ser chamados de traders, em alguns casos são produtores que criam uma empresa para exportar. Nesse segmento, o exportador atua como prestador de serviço, afirma Fajardo (2010).

De acordo com Ferreira (2012, p.48), os importadores licenciados aceitam pagar um preço justo “mutuamente acertado entre os produtores e compradores, que implique em uma renda que assegure as condições de vida dos produtores e que cubra o custo da produção”.

Sobre os atores da cadeia, pode-se afirmar que “os importadores, os exportadores e os distribuidores são certificados pela FLO e podem se licenciar para vender seus produtos de marca própria, produzidos com os produtos certificados no Comércio Justo, com o selo do Comércio Justo” (BOUROULLEC, 2010, p.89).

De acordo com Fajardo (2010, p.63), ‘Lojas do Mundo’ (world shops) são

Organizações que prenunciam novos tempos e comportamentos. Diferentemente das empresas comuns, o interesse principal delas não é o lucro, mas a difusão do comércio justo, o qual incrementam por meio de encontros, cursos e de uma postura militante. Organizam campanhas de advocacy, que, no referido universo, significa defender uma causa ou trabalhar por algo em que se acredita. Em termos práticos, isso quer dizer pressionar órgãos governamentais e políticos simpáticos ao comércio justo e ao consumo ético. Mas atenção: essa atividade não deve ser confundida com o lobby político que tem conotações pouco éticas.

As empresas que pagam licenças, e por isso tem direito de usar o selo Fair Trade, são chamadas de licenciadas. Elas podem ser exclusivas desse segmento ou atuar no comércio tradicional e no Comércio Justo (FAJARDO, 2010).

(24)

lojas e empregava o trabalho voluntário de aproximadamente 100 mil pessoas. Quase metade de seu faturamento vem do artesanato (FAJARDO, 2010).

Nesse cenário, Schneider (2007) destaca o surgimento em vários países de organizações com o objetivo de apoiar grupos de pequenos produtores. Para ele, um exemplo interessante é a Ética, uma empresa comercial brasileira criada pela ONG norte-americana Visão Mundial, que desenvolve um programa de economia solidária. Ela é uma trading, atua no comércio, mas seu objetivo principal é realizar um trabalho de prospecção de mercado direcionado a dar aos pequenos produtores condições de estabelecer ligações mais permanentes com seus clientes.

2.6. A formação do preço

Os preços de um Comércio Justo variam muito de um país para outro. Fajardo (2010) reforça que no Brasil, algumas cooperativas costumam trabalhar da seguinte forma: os preços são estabelecidos com base no cálculo de custos com matéria-prima, transporte, impostos e taxas, logísticas e outros itens definidos por produtores e técnicos.

Conforme o mesmo autor, esses custos são somados e depois se calcula o quanto o produto final deve custar para cobrir os gastos e ainda gerar lucro, que é dividido conforme a produção de cada um dos participantes da atividade.

Uma bordadeira que produziu duas toalhas vai receber o dobro do que será pago àquela que produziu uma. E assim por diante. Várias cooperativas de artesanato funcionam dessa forma. É bom lembrar que tais critérios se aplicam ao que é de fato vendido, e não aos produtos que estão em depósito à espera do comprador. (FAJARDO 2010)

Segundo Metello (2007), o pagamento de preços justos aos trabalhadores não significa necessariamente cobrar preços mais altos no mercado. Isso é possível devido à eliminação dos compradores intermediários [ou atravessadores] do processo produtivo, pela presença de trabalho voluntário, e também pela não existência de uma pessoa ou grupo de pessoas que concentram os lucros obtidos, como nas relações tradicionais de produção.

(25)

23 De modo geral os preços do Comércio Justo são mais altos do que os do comércio tradicional. Para que essa situação se modifique, é necessário que haja um aumento no volume de negócios no setor de Comércio Justo. Um maior fluxo de mercadorias permite que se pratique uma economia de escala, reduzindo o custo de itens como transporte e logística. Isso poderá fazer com que os preços finais dos produtos fiquem mais competitivos. Um exemplo: cerca de 50% da banana consumida na Suíça é originária do Comércio Justo. Isso significa que o consumidor suíço paga menos pela banana certificada do que os consumidores de países onde o movimento do Comércio Justo ainda é pequeno. (FAJARDO 2010)

O site da organização World of Good (www.fairtradecalculator.net) disponibiliza ferramentas que ajudam os artesãos a calcular os custos de sua produção e dá apoio na formação do preço. O site tem versões em inglês e espanhol. O produtor se inscreve nele, preenche uma ficha e solicita as informações de que necessita.

2.7. Certificações FairTrade/ agências internacionais (comércio justo)

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2014),

Os mercados estão se tornando cada vez mais exigentes e, assim, um certificado de conformidade pode alavancar crescimento e evolução. Certificar um produto ou serviço significa comprovar junto ao mercado e aos clientes que a organização possui um sistema de fabricação controlado, garantindo a confecção de produtos ou a execução dos serviços de acordo com normas específicas, garantindo sua diferenciação face aos concorrentes.

Segundo Machado (2000), é importante ressaltar que a certificação é um instrumento formal que garante que o produto foi elaborado conforme especificações de qualidade pré-estabelecidas e é reconhecida como um instrumento imprescindível para dar confiabilidade aos produtos, serviços e empresas num país. Por essa particularidade, trata-se de um redutor de assimetrias informacionais e pode ser emitido pela própria empresa, assim como por organizações independentes, privada ou pública, nacional e internacional, a depender da norma aplicada.

Em 1997 surge a FLO – Fairtrade Labelling Organizations International, conforme introduzido anteriormente, é

(26)

custos desnecessários, por exemplo, com inspetores que realizavam visitas aos mesmos países, ou países vizinhos, e que poderiam ser realizados por um só profissional num roteiro estendido. (SCHNEIDER, 2007, p.37).

Com isso, o mesmo autor acredita que um selo único viria também promover o comércio em mais de um país, tornando o negócio mais viável para o lançamento de novos produtos. No entanto, o custo para colocar uma nova marca, o desafio de encontrar uma marca única que apresentasse visibilidade e aceitação em todos os países, somando-se ao risco de se perder a confiança e o reconhecimento com o desaparecimento das marcas antigas, dificultou uma mudança mais rápida.

Conforme Fajardo (2010), os selos internacionais de Comércio Justo propõem um controle vertical e constante sobre as cadeias de produção e comercialização. Os itens exigidos dos produtores são: organização, qualidade ecológica e social, e constância na oferta. Dos importadores são exigidos pré-financiamento aos produtores e sustentabilidade. Nesse contexto, ainda conforme Fajardo 2010, há dois caminhos para entrar no setor internacional do Comércio Justo. O primeiro é obter a certificação da FLO e entrar em contato com possíveis compradores por meio de sua rede. O segundo consiste em fazer contatos informais no exterior para começar a vender e construir paulatinamente uma boa imagem.

Em países como o Brasil, onde não há uma entidade nacional de certificação, a referência principal é a FLO. Os pedidos de certificação brasileiros devem ser enviados à FLO na Alemanha, ou a seu representante no Brasil, o Business Meets Social Development (BSD), uma empresa de certificação com sede na cidade de São Paulo (BSD, 2014). A FLO cobra uma taxa anual dos produtores que é usada para financiar a fiscalização, o processo de produção e o pagamento justo dos pequenos produtores.

(27)

25 O quadro 3 representa as outras organizações certificadoras do Comércio Justo.

Quadro 3 - Organismos e redes internacionais do comércio justo.

INTERNATIONAL FAIR TRADE ASSOCIATION (IFAT) – A Associação Internacional do

Comércio Justo congrega a rede de organizações de comércio justo, Fair Trade Organization (FTO). Existem em

torno de trezentos FTOs em setenta países, e 65% dos associados são de países em desenvolvimento. A marca

IFAT (www.ifat.org) identifica organizações que obedecem a critérios internacionais controlados pelos próprios

associados, assim como por revisões mútuas feitas por ela mesma e por meio de auditorias externas.

EUROPEAN FAIR TRADE ASSOCIATION (EFTA) – A Associação Europeia de Comércio

Justo (www.eftafairtrade.org) atua em nove países europeus e congrega 11 grupos de compras que importam

produtos alimentícios, têxteis, couro e madeiras tropicais oriundos de mais de quatrocentos grupos produtores.

Ela também atua na comunicação em rede entre seus membros e faz campanhas junto à União Europeia para

incrementar o comércio justo.

FAIR TRADE FEDERATION (FTF) – A Federação de Comércio Justo

(www.fairtradefederation.org) tem uma sede em Washington, Estados Unidos. Reúnem vendedores, varejista e

produtores dos Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Em 2008, contava com 115 membros

e nela trabalhavam mais de 3 mil pessoas. Também faz campanhas educacionais junto ao consumidor.

Fonte: Adaptado de Fajardo (2010).

2.8. Os grandes grupos de produtos

A gama de produtos certificados pela FLO abrange café, chá, algodão, ouro, arroz, cacau, mel, açúcar, banana e outras frutas frescas, frutas secas, sucos de frutas, vinho, nozes e sementes, até produtos manufaturados tais como bolas de futebol. Estão sendo estipulados os critérios de certificação para outras frutas tropicais, algodão e produtos têxteis. (FLO, 2014).

Os principais mercados mundiais de produtos certificados são os Estados Unidos, o Reino Unido, a Suíça e a França; e os mercados com maior índice de crescimento são os da Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Finlândia. Hoje os produtos certificados são vendidos em mais de 3 mil lojas do mundo e também em 100 mil pontos de venda convencionais. Muitas lojas, ou redes, não se dedicam especificamente ao Comércio Justo, mas vendem alguns itens do segmento (FAJARDO, 2010).

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de 3000 produtos que são certificados pelo Comércio Justo, e conforme citado, abrange desde café até flores. No Brasil, são 55 organizações certificadas pelo Comércio Justo. Os produtos certificados pela FLO (2005) são: café, chá, cacau, açúcar, sucos de frutas, frutas frescas e secas, bananas, vegetais, especiarias e ervas, arroz, nozes e óleos, vinho, cerveja e rum. Entre os produtos não alimentícios estão: algodão, flores e bolas esportivas (FLO-CERT, 2010).

2.9. Crescimento, desafios e caminhos

O Comércio Justo é um movimento internacional em franco crescimento na busca de garantias de que os produtores dos países pobres consigam um tratamento justo. Isto implica que eles devem receber pelo seu produto um preço que supere os custos de produção, garanta uma renda de sobrevivência e seja obtido através de contratos de longo prazo que proporcionem uma segurança real e, para muitos, a possibilidade de adquirir os conhecimentos e habilidades de que necessitam para desenvolver seus negócios e incrementar suas vendas (SEBRAE, 2004).

A expectativa, segundo a FLO, é que o mercado mundial de Comércio Justo continue crescendo anualmente em torno de 20%, em volume e valor. Em 2007, atingiu um nível de 150 mil toneladas de produtos considerados como tal, movimentando cerca de US$ 1 bilhão no varejo.

Alguns fatores dificultam esse crescimento, para Fajardo (2010), o primeiro deles é a crise econômica internacional, que tem provocado retração no consumo. Além disso, pequenos e médios agricultores organizados enfrentam problemas para lidar com importação, estocagem, contabilidade, acesso a crédito e aspectos burocráticos regionais e internacionais.

Em oposição ao entusiasmo daqueles que defendem o Comércio Justo, os críticos costumam dizer que os pequenos produtores pagam caro para se certificar, sem ter a certeza de que conseguirão se inserir no mercado internacional. Alegam ainda que, ao pagar preços mais altos pelos produtos, na prática, o consumidor está arcando com perdas e danos que deveriam ser assumidos pelos próprios produtores e intermediários (FAJARDO 2010).

(29)

27 seguinte maneira: o representante da rede de lojas faz uma visita a uma tribo que produz guaraná na Amazônia. Lá, ele verifica se os critérios ambientais, sociais e trabalhistas empregados na produção do guaraná são confiáveis. Se forem, aquele produto tem sua compra garantida, sem precisar do aval de uma certificadora.

2.10. Brasil: contexto atual

Sobre o Comércio Justo no Brasil, avalia-se que “o atual contexto brasileiro demonstra a importância de desenvolvermos ações para a consolidação do Comércio Justo e solidário como política de desenvolvimento social e alternativa de trabalho e renda, tanto em nível político como econômico” (FACES DO BRASIL, 2014).

Em nosso país, conforme afirma Fajardo (2010), o Comércio Justo está em construção, por isso busca definir novos rumos. No momento, o principal desafio é criar uma certificação reconhecida internacionalmente, um selo brasileiro confiável. Para viabilizar a certificação, serão necessárias uma iniciativa nacional e uma rede brasileira articulada de lojas.

A figura 2 mostra o Brasil e as regiões e seus percentuais de parcela de Empreendimentos Econômicos e Solidários (reconhecidos pela pesquisa nacional feita pela SENAES/MTE).

(30)

Figura 2 - Comércio justo por região.

Fonte: Fórum de Articulação do Comércio Justo e Solidário – Faces (2014).

Na ponta do consumo, os dados indicam que o potencial de demanda por produtos alternativos cresce em taxas de 20% ao ano (conforme estudos do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), citado por ‘Faces do Brasil’. Esse consumo muitas vezes não é concretizado por falta de canais de venda e distribuição destes produtos. Ou seja, a consolidação do Comércio Justo já encontra justificativa, tanto em nível de oferta quanto de demanda, o que falta são canais de aproximação entre produtores e consumidores.

Para Fajardo (2010, p.70):

Passos importantes tem sido dados nessa direção e outros continuam sendo discutidos. Hoje há o consenso de que a articulação institucional, vista como um entrave burocrático ao desenvolvimento de novas formas comerciais, é necessária nesse estágio da implementação do comércio justo. Em 2002 foi criado o Fórum de Articulação do Comércio Justo e Solidário (Faces), que reúne produtores, órgãos do governo, ONGs e trabalha com produção, comercialização, sistematização de conhecimento e ampliação de contatos entre as diversas partes. Em 2004, surgiu a Articulação Brasileira de Comércio Justo e Solidário (Ecojus Brasil), que hoje tem cem empreendimentos de agricultura familiar, com 15 mil famílias envolvidas. Em 2006, foi definido o Sistema Brasileiro de Comércio justo e Solidário, que adota princípios praticados internacionalmente e privilegia aspectos específicos da realidade brasileira. Deste então, um grupo de trabalho com a participação de vários ministérios tem discutido como transformar esse sistema em normas públicas de regulamentação.

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29 comércio no Brasil. A ideia é que esteja cada vez mais valorizado no mercado interno e que não continue sendo uma comercialização sul-norte.

(32)

Neste capítulo, será detalhada a metodologia utilizada para a realização da pesquisa realizada regionalmente em organizações que praticam o Comércio Justo.

3.1. Classificação da pesquisa

Caracteriza-se como exploratória porque, segundo Gil (2010, p.41), este tipo visa: “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas tem como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado” e que foi o caso das visitas de campo nas associações de Mulungu (APEMB) e Fortim (ACOOPAC).

Descritiva porque de acordo com Gil (2008), as pesquisas descritivas possuem como objetivo a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma experiência.

Usa-se a estratégia de estudos de múltiplos casos com os produtores agroecológicos de café da serra de Baturité e os produtores de frutas agroecológicas do Assentamento Coqueirinho em Fortim-CE.

Este tipo de estratégia, conforme Yin (1989), deve ser usada quando do estudo de eventos contemporâneos, em situações onde os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas. Apesar de ter pontos em comum com o método histórico, o estudo de caso se caracteriza pela "... capacidade de lidar com uma completa variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas e observações."

3.2. Descrição da pesquisa de campo.

(33)

31 Em Mulungu foram entrevistados: o senhor Marcos Arruda presidente da Associação dos produtores ecológicos do maciço de Baturité (APEMB); e também foi entrevistado o Sr. Geraldo Ferreira, membro da Cooperativa; posteriormente foi feita visita à minifábrica de beneficiamento e a uma plantação de café.

Em Fortim, na visita ao Assentamento Coquerinho foram entrevistados: a Sr(a). Zildene do Carmo Nogueira, presidente da Associação Cooperativista do Projeto de Assentamento Coqueirinho (ACOOPAC) juntamente com a Sr(a). Maria de Fátima, agricultora e participante da associação.

Antes de serem feitas as visitas foi feito um relatório com perguntas a serem feitas aos produtores das associações visitadas, essas perguntas encontram-se em anexo ao final deste trabalho.

As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas.

3.3. Análise de dados

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Este capítulo apresenta o perfil das cooperativas e associações estudadas e a possibilidade de se tornarem Comércio Justo.

4.1. Associação A – APEMB

A APEMB, Associação de Produtores Ecológicos do Maciço de Baturité, localizada na região do Maciço de Baturité, surgiu em 1996 com o projeto Café Ecológico, da Fundação CEPEMA e onde deu início à 1ª exportação de café e à primeira certificação de café orgânico. Participam do projeto alguns produtores da Serra da Meruoca e 5 municípios da Serra Grande.

Figura 3 - Mini-fábrica de café ecológico.

Fonte: Visita in loco - Produção do Próprio Autor (2014)

a) Histórico

Historicamente, a serra já chegou a produzir 151 mil sacas de café e boa parte dessa produção era exportada para Europa. Na fábrica havia cerca de 60 mulheres catando o café à mão, que trabalhavam em três turnos, 20 pela manhã, 20 pela tarde e 20 pela noite.

(35)

33 Ainda em 2000 a certificação BCS2 foi como Cooperativa e APEMB, mas não se conseguiu exportar o café naquele ano, o mesmo foi vendido para o mercado local a preço de exportação. E, antes disso, a associação já havia sido certificada pela IMA FLORA do Rio Grande do Sul, lançara até um selo, que na época a legislação permitia, selo de origem orgânica. Naquele período a cooperativa chegou a exportar para a Suécia, a saca de café custando 350 dólares.

Em 2007, a cooperativa conseguiu uma das primeiras fábricas de beneficiamento- torrefação-processamento de café totalmente orgânico. Aquela foi uma das primeiras do Brasil.

Em 1996 foram criados pela fundação os ADES – Agentes de Desenvolvimento Ecológico, onde os filhos dos produtores recebiam capacitação e voltavam para o campo para a disseminação do conhecimento para a melhora da qualidade do café.

b) Produção

No ano de 2012, ano de aplicação da pesquisa, uma área produtora de café fazia de 50 a 120 sacas por hectare. É uma produção mínima se comparada a outras áreas que produzem café. Com a especulação imobiliária muitos agricultores da serra estão vendendo suas terras, e esse desmembramento de terra às vezes inviabiliza o cultivo do café. Ainda, os agricultores que tem muita terra não recebem ajuda do governo. Outro aspecto agravante e que compromete a produção local é a escassez de mão de obra. Em média, os agricultores possuem de 7 a 8 hectares de terra. A produção máxima de café já chegou a 151 mil sacas, no entanto, o que se produz atualmente é apenas 10% da capacidade da serra. Hoje é cultura de subsistência como a do milho e do feijão, se o agricultor não tiver outra ele morre de fome.

2

(36)

c) Preço

Os cinco municípios juntos produzem em média 15 mil sacas de café, uma quantidade significante do ponto de vista de que são cafés especiais. Apesar de conter especiais, o preço do café da serra é muito menor que o preço da região Sul, onde a saca é vendida por 560 reais. Nos municípios pesquisados, o maior preço pago é 300 reais pela saca de 60 kg, o café sem a certificação. Isso ocorre porque é preciso pagar para ter o selo, e para o agricultor, no preço tabelado, não compensa pagar por este selo. Caso a produção seja amparada por um contrato internacional, ou mesmo uma empresa torrefadora deseje adquirir o produto, a aquisição do selo seria de interesse, conforme declaram os entrevistados. Como cálculo final, o preço do café por quilo custa 12 reais, para revenda.

d) Produto já lançado

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35 que se visou muito o café por ele ser o carro-chefe, e ficaram esquecidos os outros produtos, como: banana, hortaliças e outras frutas.

e) Certificação (problemas)

Outro problema enfrentado na época da certificação IBD era que a gente certificava o café, mas não podíamos certificar outros produtos que eram plantados com o café, por exemplo: a jaca, a manga e a banana, não se podia usar o selo. A serra além do café produz tangerina, laranja, banana, jaca, entre outros. A produção de banana local é semanal.

A cooperativa existe de fato, mas não de direito, porque a documentação está com algumas pendências financeiras.

f) Produtores

Antes eram 160 produtores, no período da pesquisa, 45 e ainda assim, existem produtores que não recebem nenhuma visita devido à falta de recursos e à distancia, a associação não tem corpo técnico suficiente para fornecer a assistência merecida pelo agricultor. O Estado e a prefeitura também não possuem.

A associação possui o maquinário de beneficiamento do café (torrefadora), que foi um projeto da fundação SETEMA junto com o Ministério do meio Ambiente.

g) Projetos

Existe um projeto de turismo comunitário, o que se busca quando se fala em serra nos períodos mais recentes é apenas a serra de Guaramiranga, e em Mulungu existe um potencial grande para o turismo comunitário, conhecer a história do café, de como é feito, a plantação, dentre outros.

Talvez uma das culturas que mais emprega é a cultura de café, pois tem trabalho o ano inteiro, precisa-se de mão-de-obra para plantio, para limpeza e poda, e ainda para a colheita.

h) Qualidade do café

Existe um problema com outros cafés do tipo: milho e essência misturados ao próprio café. Muitas indústrias compram a essência de café e jogam na massa.

i) Financiamento da produção

(38)

j) Comercialização

São vários os pontos de vendas: fornecedor de Aratuba que leva pra vender o café em Canindé numa embalagem simples; alguns fornecedores esperam até 15 dias pra poder ter café disponível para revenda. Tem um ponto de venda em Fortaleza, localizado na praça da Gentilândia. No caso de uma demanda alta eles até teriam produção, a empresa Santa Clara avaliou o café em 300 reais, o que seria um preço justo, porém somente compraria com a apresentação da nota fiscal, comprovante de 17% de imposto retido e o governo sabendo quanto o produtor estaria produzindo. O mais viável então era a venda do produto para o atravessador. Os preços pra venda do café são estabelecidos segundo o mercado. E os próprios fornecedores vão buscar o café.

k) Acesso a crédito – financiamento.

Conforme um dos entrevistados, existe acesso a crédito, antigamente apenas o latifundiário tinha acesso a financiamento, a produção familiar também é valorizada. A associação já fez financiamento junto ao banco por 2 anos, só que no terceiro ano o banco pediu garantia real, ou seja, a terra como garantia, por isso não continuamos pegando. Devido a isso foram feitos empréstimo a instituições financeiras de São Paulo. E hoje a maioria dos agricultores tem acesso ao PRONAF, os que não têm acesso são os que têm atividades que não se enquadram no perfil.

l) Pagamento adiantado

Os atravessadores pagam adiantado pelo café, o que se chama de café na flor. Principalmente pra agricultores que não tem financiamento, ou seja, a produção já está vendida. São muitos, os atravessadores, tem local e regional.

m)Melhorias como associação e cooperativa

Sim, houve melhorias. Por 4 anos as mulheres ganhavam um salário e meio só catando café e ainda era pouca produção.

n) Área de Proteção Ambiental

São 32 mil hectares de proteção ambiental.

o) Colheita

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37 colocasse o café em um tanque com água e o café que boiasse era o café verde, porque era maneiro, e o maduro afunda. Assim fica mais fácil de separar um café do outro.

4.1.1. Variáveis de análise de comércio justo conforme FLO

a) Organização dos produtores em cooperativas e associações. A organização é uma associação.

b) Pagamento de preços justos aos pequenos produtores.

Conforme o entrevistado, o preço da saca de café é bem menor que o preço em outras regiões do país. O preço da saca de café custa em torno de 300 reais. Em outras regiões, como a região Sul, por exemplo, o preço da saca custa em torno de 450 reais.

c) Redução da intermediação especulativa, até chegar à sua eliminação. Quanto mais forte e direta for a ligação entre produtor e consumidor, melhores serão os resultados.

Os produtos são vendidos em feiras e pontos de vendas em Fortaleza, mesmo assim, ainda existem atravessadores. Geralmente o atravessador entra em cena na época da colheita do café, onde o agricultor não tem dinheiro e não tem como pegar dinheiro com o banco.

d) Relações duradouras tanto de compra e venda como de contratos.

Existem alguns compradores que vem comprando café há bastante tempo, mas não são vendas de contratos. A venda de contrato existiu há algum tempo atrás com a prefeitura, porém isso, no momento, não acontece.

e) Pagamento no ato do recebimento do produto. Não é admitida a venda em consignação, na qual o produtor só recebe do vendedor ou do intermediário o valor referente ao que foi vendido.

Na venda para o consumidor final é assim, com os atravessadores também funciona dessa forma; já na época que possuíam contrato com a prefeitura não funcionava dessa forma.

(40)

aplicada em algo que vá beneficiar toda a comunidade produtora em iniciativas que ela mesma decidir. Esta é uma das principais diferenças em relação ao comércio tradicional.

Na época em que o café havia sido certificado, segundo o entrevistado, os produtores recebiam esse pagamento Premium; como o café não continuou com a certificação, devido a problemas financeiros também, o pagamento Premium deixou de existir.

g) Rejeição à discriminação de raça, gênero e religião nas relações comerciais, mulheres não devem receber menos do que os homens, quando executam a mesma tarefa, por exemplo. E trabalhadores indígenas ou negros não devem receber menos do que os brancos.

Os produtores já estão na região há bastante tempo. Entre eles foi relatado a questão da discriminação, porém foi mencionado o preconceito e a discriminação que existe entre o homem da cidade com o homem do campo.

h) Rejeição ao trabalho infantil. A participação de crianças no trabalho só é admitida quando não prejudica seu bem-estar, sua segurança, sua frequência na escola e seu tempo para o lazer.

Na colheita do café, jovens também participam no trabalho. i) Rejeição ao trabalho escravo.

Não foi verificado, nem relatado a respeito de trabalho escravo na associação. j) Prioridade na preservação da saúde tanto do produtor como do consumidor,

durante todo o processo produtivo.

A parte onde se tem mais cuidado é com a máquina de beneficiamento do café e não foi relatada a respeito de nenhum acidente com nenhum agricultor; no campo a preocupação geralmente é o sol quente.

k) Preocupação com a conservação dos recursos naturais e com a busca pelo desenvolvimento sustentável.

Existe um decréscimo na questão ambiental ano após ano, principalmente devido à especulação imobiliária e ao desmatamento.

(41)

39 Quando existe a possibilidade de se contratar mão-de-obra de fora da comunidade, não há respeito aos direitos trabalhistas, eles são pagos apenas por produção.

m) Demandas de longo prazo e uma política de relações éticas que vai desde a contratação de uma compra até a entrega final do produto.

Tudo que é produzido é colocado à venda, as demandas de longo prazo demandariam mais investimentos e mão de obra.

n) Corresponsabilidade entre os diversos elos da cadeia produtiva. Um gerente de loja e um colhedor de palha de palmeira têm a mesma importância profissional.

Dentre os poucos elos da cadeia produtiva que existem, não existe distinção de importância na cadeia produtiva.

o) Financiamento de produção ou do plantio, ou a antecipação do pagamento da safra, quando necessário. Com isso, o comprador procura garantir o fluxo do fornecimento e o produtor tem mais condições de atendê-lo de maneira continuada.

Existe acesso a financiamento, principalmente através do PRONAF.

p) Respeito à legislação e às normas nacionais e internacionais referentes à qualidade do produto.

É um produto de qualidade, e não são usados agrotóxicos nos alimentos.

q) Garantia de segurança e um ambiente de trabalho seguro para todos os participantes. Isso inclui uso de equipamentos adequados para a execução das tarefas e para prevenção de acidentes.

Não foi observado uso de equipamento de proteção individual na operação da máquina de beneficiamento de café.

(42)

Quadro 4 - Análise dos requisitos de comércio justo da APEMB

REQUISITOS SIM NÃO RELATADO OU

IDENTIFICADO NÃO

a) Associação X

b) Pagamento justo X

c) Atravessadores X

d) Relações duradouras X

e) Pagamento à vista X

f) Bônus X

g) Discriminação X

h) Trabalho infantil X

i) Trabalho escravo X

j) Saúde do produtor e do cliente X

k) Desenvolvimento sustentável X

l) Direitos trabalhistas X

m) Relações éticas X

n) Corresponsabilidade produtiva X

o) Financiamento da produção X

p) Qualidade do produto X

q) Segurança no trabalho EPI X

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Com isto, comprova-se que muito dos requisitos necessários para a participação no Comércio Justo ainda não são atendidos pela Associação dos Produtores Ecológicos do Maciço de Baturité (APEMB).

4.2. Associação B – ACOOPAC

(43)

41 Figura 4 - Assentamento coqueirinho (Rede Tucum).

Fonte: Terramar (2014)

a) Histórico

O Assentamento Coqueirinho tem em torno de 60 famílias, e essas famílias vieram de Pedregal a convite do Sr. Magela há 18 anos. Eles receberam o terreno e foram construindo e, também, receberam as sementes do governo através do INCRA, e também dos órgãos da Cárita, para poderem cultivar seus produtos. No Pedregal ela exercia outra atividade que não era da agricultura, que era corte-custura. Os lotes de terra que foram distribuídos são iguais para todos, cujas dimensões são: 30m de frente com 150m de largura.

A produção de frutas orgânicas começou em 2004 e foi pensando no turismo e na própria saúde dos integrantes do assentamento quando foi dado início a esse projeto. Já o Assentamento Coqueirinho data de 1995, e antes disso já se produzia sem o uso de inseticidas, o produto utilizado é o ninho, que é um produto natural. A horta deu início a partir do projeto de turismo em 2005. No começo só se plantava caju, feijão e mandioca de sequeiro.

b) Associação

(44)

Imagem

Figura 1 - O Sistema do comércio justo.
Figura 2 - Comércio justo por região.
Figura 3 - Mini-fábrica de café ecológico.

Referências

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