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Teoria e Pratica Da EJA

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Academic year: 2021

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TEORIA E PRÁTICA NA

TEORIA E PRÁTICA NA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E

EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

ADULTOS

GRADUAÇÃO

GRADUAÇÃO

PEDAGOGIA

PEDAGOGIA

Professora Me. Márcia Cristina Greco Ohuschi

Professora Me. Dalva Linda Vicentini

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Diretoria do NEAD:

Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação de Ensino:

Coordenação de Ensino: Viviane Marques Goi Coordenação de Curso:

Coordenação de Curso: Silvio Silvestre Barczsz Coordenação de Tecnologia:

Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação Comercial:

Coordenação Comercial: Juliano Mario da Silva Coordenação de Pólos:

Coordenação de Pólos: Paulo Pardo Capa e Editoração:

Capa e Editoração: Luiz Fernando Rokubuiti, Fernando Henrique Mendes e Ronei Guilherme Neves Chiarandi Supervisão de Material:

Supervisão de Material: Nalva Aparecida da Rosa Moura Revisão Textual e Normas:

Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Elaine Bandeira Campos e Janaína Bicudo K ikuchi

Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360(44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 -(44) 3027-6363 -ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br

Reitor:

Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor:

Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração:

Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão:

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância NEAD - Núcleo de Educação a Distância

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância:

C397 Teoria e prática na educação de jovens e adultos/ Márcia Cristina Greco Ohuschi, Dalva Linda Vicentini - Maringá - PR, 2011.

163 p.

“Curso de Graduação em Pedagogia - EaD”.

1. Alfabetização de jovens e adultos. 2. Educação - Adultos. 3. Educação - jovens. 4. EaD. I. Ohuschi, Márcia Cristina Greco. II. Vicentini, Dalva Linda. III. Título.

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TEORIA E PRÁTICA NA

TEORIA E PRÁTICA NA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E

EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

ADULTOS

Professora Me. Márcia Cristina Greco Ohuschi

Professora Me. Márcia Cristina Greco Ohuschi

Professora Me. Dalva Linda Vicentini

Professora Me. Dalva Linda Vicentini

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APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada.

Prof. Wilson de Matos Silva Reitor

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Olá, querido aluno! Seja bem-vindo à leitura de nosso material didático do NEAD_ Núcleo de Educação a distância do CESUMAR.

Primeiramente, estamos muito felizes em tê-lo como nosso aluno. Temos a perfeita convicção que fizeste a escolha certa. Somos hoje, o maior Centro Universitário do Paraná e estamos presentes na maioria dos estados brasileiros. Somos conhecidos nacionalmente pela nossa qualidade de ensino em ambas modalidades: presencial e a distância.

Este material foi preparado com muito carinho e dedicação para que chegasse a você com a maior clareza possível. Ele foi baseado nas diretrizes curriculares do curso em questão e está em plena consonância com o Projeto Pedagógico do Curso.

Neste projeto Pedagógico estão as diretrizes que seu curso segue. Nele, você encontra os objetivos gerais e específicos, o perfil do egresso, a metodologia, os critérios de avaliação, o ementário, as bibliografias e tudo o que você precisa saber para estar bem informado e aproveitar o curso com o máximo proveito possível. Ele está disponível pra você! O que acha de tomar conhecimento dele? Tenho certeza que irá gostar. Tenho certeza que achará muito interessante sua compreensão.

No AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem, constam gravações as quais os professores que organizaram esse material gravaram alguns vídeos, que juntamente com sua leitura ajudará você no processo de aprendizagem.

Como vivemos numa sociedade letrada, precisamos e devemos estar sempre atentos às informações contidas nas leituras. Uma boa leitura para ter eficiência e atingir nossos objetivos precisa ser muito bem interpretada, de modo que, tão logo seja feita, seja possível absorver conceitos e conhecimentos antes não vistos e ou compreendidos.

Além de sua motivação para a absorção desse conteúdo, algumas dicas são bem-vindas: esteja concentrado, enquanto lê. Leia lentamente, prestando atenção em cada detalhe. Esteja sempre com um dicionário por perto, pois ele o ajudará a entender algumas palavras que por ventura serão novas em seu vocabulário. Saiba que tipo de texto e o assunto este material lhe

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APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO

Livro:

Livro: Teoria e Prática na Educação de Jovens e Adultos Professora Me. Márcia Cristina Greco Ohuschi

Professora Me. Dalva Linda Vicentini

Prezados Alunos,

É com grande alegria que apresentamos a você o livro que fará parte da disciplina de Teoria e Prática na Educação de Jovens e Adultos. Eu, professora Dalva, e professora Márcia o escrevemos especialmente para você, graduando do curso de Pedagogia do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR.

No decorrer de nossos estudos, veremos que os jovens e adultos desejam ver a aplicação do que estão aprendendo e, por isso, precisam ser estimulados para resgatarem a sua autoestima. Por meio da educação escolar poderão desenvolver-se como cidadãos conscientes de seus direitos, bem como ampliarem sua capacidade crítica e reflexiva, que lhes trará condições para questionarem e, se necessário, modificar o ambiente em que os mesmos estiverem inseridos, contribuindo, desta maneira, para a construção de um mundo melhor.

O objetivo desse material para a disciplina apresentada é reconhecer a importância da modalidade da Educação de Jovens e Adultos na sociedade contemporânea, bem como identificar o papel do educador como mediador no processo de construção dos conhecimentos. Entendemos ser de fundamental importância na formação do Pedagogo esses espaços de leituras e discussões sobre essa modalidade de ensino, identificando os avanços e as principais dificuldades encontradas pelos mesmos em seu processo de escolarização, como passíveis de mudança.

A Educação de Jovens e Adultos é de suma importância para a sociedade, pois visa preparar cidadãos que não tiveram oportunidade e/ou condições de ampliar seu nível de escolaridade no ensino regular. Assim, prepara-os para exercer sua cidadania com mais dignidade,

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independentes, conseguindo melhor oportunidade na sua vida profissional e pessoal. A partir de sua alfabetização, um novo mundo se abre com melhores e maiores expectativas. Estando aptos para a realização de atividades que antes se tornava um obstáculo em sua vida; com a alfabetização, os jovens e adultos vencem as barreiras que por muito tempo estavam à sua frente.

A disciplina considera a Educação como um dos mecanismos da inclusão social, promovendo o acesso aos direitos de cidadania e gerando conscientização dos indivíduos para a compreensão de seus interesses, do meio social e da natureza que o cerca. O trabalho com os Jovens e Adultos visa contribuir para a mudança de pensamento social em relação às pessoas não alfabetizadas, incluindo-os na sociedade com práticas educativas peculiares.

Apresentamos como referências metodológicas desse livro, a pesquisa bibliográfica, pesquisa na internet, a pesquisa empírica e documental. O desenvolvimento do trabalho consiste na leitura de autores que realizaram pesquisas que perpassam a temática em estudo, entre eles: Paulo Freire, Moacir Gadotti, Maria Clara di Pierro, Sergio Haddad entre outros.

Na primeira unidade, abordaremos o histórico da Educação de Jovens e Adultos, ou seja, desde o começo no período do império e colônia, suas conquistas realizadas, até a atualidade, bem como a contribuição de Paulo Freire para o desenvolvimento desta modalidade de ensino. A segunda unidade discute as funções da EJA e o papel do educador frente a este trabalho. A terceira unidade trata o jovem e o adulto na sociedade letrada, além de realizar algumas reflexões sobre a questão curricular na Educação de Jovens e Adultos. Na quarta unidade, aprofundaremos sobre o processo de avaliação, bem como a importância desta para o desenvolvimento dos Jovens e Adultos. Na quinta unidade, trataremos da interdisciplinaridade como princípio necessário para a construção do conhecimento numa visão sistêmica e não fragmentada.

Esperamos, com nossas discussões acerca desses assuntos, trazer contribuições para sua atuação docente nessa modalidade de ensino. Para tanto, será necessário também que você

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SUMÁRIO SUMÁRIO

UNIDADE I UNIDADE I

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM POUCO DE HISTÓRIA

O CONCEITO E A DEFINIÇÃO DOS TERMOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS....13

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...17

PAULO FREIRE E SUA PROPOSTA PARA A ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS...22

O MOBRAL...31

NOVOS RUMOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...34

UNIDADE II UNIDADE II FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E O PAPEL DO EDUCADOR NESTA MODALIDADE DE ENSINO FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...58

O PAPEL DO EDUCADOR FRENTE À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...67

UNIDADE III UNIDADE III O JOVEM E O ADULTO NA SOCIEDADE LETRADA: QUESTÕES CURRICULARES EM FOCO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO...83

O LETRAMENTO CRÍTICO...89

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UNIDADE IV UNIDADE IV

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O PROCESSO DE AVALIAÇÃO

OS SIGNIFICADOS DA ALFABETIZAÇÃO...119 O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃODE JOVENS E ADULTOS...122 A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...126

UNIDADE V UNIDADE V

INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

O PROJETO INTERDISCIPLINAR...139 UMA NOVA VISÃO DE MUNDO...145

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO...158...158 REFERÊNCIAS

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UNIDADE I

UNIDADE I

EDUCAÇÃO DE

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADUL

JOVENS E ADULTOS: UM POUCO

TOS: UM POUCO DE

DE

HISTÓRIA

HISTÓRIA

Professora Me. Márcia Cristina Greco Ohuschi

Professora Me. Dalva Linda Vicentini

Objetivos de Aprendizagem

Objetivos de Aprendizagem

• Conceituar e compreender alguns termos da Educação de Jovens e Adultos.

• Reetir sobre o percurso histórico da Educação de Jovens e Adultos, bem como sua

implicação nas práticas pedagógicas desenvolvidas atualmente.

• Reconhecer a importância do educador Paulo Freire na Educação de Jovens e

Adultos.

Plano de Estudo

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nessa unidade:

• O conceiO conceito e a to e a denição ddenição dos termos os termos da Educaçda Educação de ão de Jovens e Jovens e AdultosAdultos •

• A A história da história da Educação de Educação de Jovens Jovens e e AdultosAdultos

• Paulo Paulo Freire Freire e sua e sua proposta proposta para para a alfaa alfabetização betização de adde adultosultos •

• Novos Novos rumos rumos para para a Edua Educação cação de Jde Jovens ovens e e AdultosAdultos •

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino utilizado na rede pública no Brasil para a inclusão de jovens e adultos na educação formal, com o objetivo de desenvolver o ensino fundamental e médio com qualidade para aqueles que perderam a oportunidade de se escolarizar na época própria. Ela é regulamentada pelo artigo 37, da lei nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB).

Um dos principais passos para o trabalho com Educação de Jovens e Adultos é a valorização do conhecimento prévio e o reconhecimento dos alunos como portadores de cultura e saberes. São pessoas que estão voltando para a escola, muitas vezes, em busca da educação que o mercado exige. Chegam cansados depois de um dia de trabalho, têm pouco tempo para se dedicar aos estudos, mas chegam também com muitas histórias e vivências.

Dessa forma, esta disciplina tem como objetivo propiciar o estudo sobre a Educação de Jovens e Adultos na realidade brasileira, bem como refletir sobre os processos de ensino e aprendizagem que o envolvem, contribuindo para a construção da cidadania como elemento da emancipação.

Assim, essa primeira unidade é dedicada ao conceito e a um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos, no Brasil, no qual se destacam soluções e impasses pedagógicos gerados nessas práticas. Faz-se necessário conhecer toda a trajetória histórica dessa modalidade para que você a compreenda melhor a atualidade.

O CONCEITO E A DEFINIÇÃO DOS TERMOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS

O CONCEITO E A DEFINIÇÃO DOS TERMOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS

E ADULTOS

E ADULTOS

O que é Educação de Jovens e Adultos? Conforme as Diretrizes Nacionais (GADOTTI; ROMÃO, 2001), a educação básica de jovens e adultos, na maioria das vezes, é considerada

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F o n t e : P H O T O S . C O

M como aquela que possibilita ao aluno a leitura,

escrita, compreensão da língua nacional, o domínio das operações matemáticas básicas, dos conhecimentos das ciências sociais e naturais, a cultura, o lazer, a arte, a comunicação e o esporte. Porém, o documento afirma que o conceito da Educação de Jovens e Adultos é bem mais amplo, pois integra processos educativos desenvolvidos em múltiplas dimensões: “a do conhecimento, das práticas sociais, do trabalho, do confronto de problemas coletivos e da construção da cidadania” (GADOTTI e ROMÃO, 2001, p. 119).

A educação de jovens e adultos é uma modalidade do ensino fundamental e do ensino médio, oferecendo oportunidade aos jovens e adultos para iniciar e/ou dar continuidade aos seus estudos. A Constituição de 1988, em seu art. 208, inciso I, garante o acesso ao ensino fundamental gratuito, inclusive àqueles que a ele não tiveram acesso na idade própria. Esse dispositivo constitucional determina, portanto, o dever do Estado de promover a educação de jovens e adultos.

A partir da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, a educação de jovens e adultos tem o papel de atender aos interesses e às necessidades de indivíduos que já tinham uma determinada experiência de vida e participam do mundo do trabalho. No entanto, necessitam de uma formação bastante diferenciada das crianças e adolescentes aos quais se destina o ensino regular. Por isso, a educação de jovens e adultos é também compreendida como educação contínua e permanente.

A Resolução n.º 1, de 5 de julho de 2000, do Conselho Nacional de Educação (CNE) – estabelece as diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos e afirma que a oferta desta modalidade de ensino deve considerar as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um

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modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar:

I. quanto à eqüidade, a distribuição específica dos componentes curriculares afim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;

II. quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores; III. quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica (art. 5º).

De acordo com as Diretrizes, a EJA não se limita à sala de aula, mas desenvolve ações em diversos movimentos sociais, como, por exemplo, nos sindicatos, associações de bairro, comunidades etc., com o intuito de permitir a compreensão da vida moderna e o posicionamento crítico dos educandos frente à sua realidade.

A procura dos jovens e adultos pela escolarização é grande e varia conforme a região, a faixa etária, o sexo e a competitividade do mercado de trabalho. Dessa forma, é preciso que o sistema educacional esteja preparado para corresponder com qualidade a essa demanda. Em primeiro lugar, o documento afirma que é necessário levar em consideração o fato dos alunos da EJA serem trabalhadores, o que os leva a chegarem cansados, a poderem ter alternância de turnos no trabalho, dentre outros fatores. Além disso, é preciso considerar a diversidade social, econômica, étnica, regional e os saberes que cada um carrega consigo, os quais foram construídos em suas relações sociais.

Logo, para se evitar o desinteresse, a sensação de fracasso e a evasão, conforme as Diretrizes, o contexto cultural do educando deve ser a ponte entre o seu saber e o que a escola pode lhe oferecer. Por isso:

A EJA não deve ser uma reposição da escolaridade perdida, como normalmente se configuram os cursos acelerados nos moldes de que tem sido e ensino supletivo. Deve, sim, construir uma

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identidade própria, sem concessões à qualidade de ensino e propiciando uma terminalidade e acesso a certificados equivalentes ao ensino regular (GADOTTI; ROMÃO, 2001, p. 121). Enquanto modalidade de ensino, a educação de jovens e adultos está inserida nos mesmos preceitos dos respectivos níveis de ensino aos quais está associada: o ensino fundamental e o ensino médio. Apesar das diversidades existentes na educação brasileira, de uma forma geral, a educação de jovens e adultos pode ser oferecida em instituições públicas ou privadas, estabelecimentos estes que podem atuar:

• Exclusivamente nesta modalidade de ensino, oferecendo o ensino fundamental e/ou o en-sino médio.

• Em um ou mais níveis de ensino, inclusive nesta modalidade.

As práticas pedagógicas da EJA não devem reproduzir o ensino regular, de maneira inadequada e facilitadora, mas, conforme Gadotti e Romão (2001, p. 123), orientar-se “na perspectiva epistemológica que toma o jovem e o adulto como construtores de conhecimento, interagindo com a natureza e o mundo social, tendo como ponto fundamental o respeito à cultura dos sujeitos.”

Quanto aos termos utilizados para definir a educação de jovens e adultos, Gadotti (2001) afirma que, muitas vezes, são utilizados de forma equivocada. A expressão “educação não formal”, por exemplo, denota algo inferior à educação formal, concebida como algo complementar, supletiva, sem valor em si própria.

Assim, Gadotti (2001, p. 30) afirma que os termos “educação de adultos”, “educação popular”, “educação não formal” não são sinônimos. O termo educação de adultos, popularizado, principalmente, por organizações internacionais como a UNESCO, refere-se a uma área especializada da educação. Já a educação não formal está vinculada às organizações não governamentais, como igrejas, partidos políticos, empresas privadas, que se organizam, via de regra, onde o Estado se omitiu e, muitas vezes, opõem-se à educação de adultos oficial. A educação popular, normalmente, opõe-se à educação de adultos estatal. Tem como base o

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profundo respeito pelo senso comum dos setores populares em sua prática cotidiana. As políticas atuais de Educação de Jovens e Adultos, tanto de iniciativa de instituições no âmbito do sistema público de ensino quanto as organizadas pelos movimentos sociais trazem, em suas propostas pedagógicas, princípios norteadores fundamentados em uma maneira de pensar a EJA situada no que se constituiu como sendo educação popular, que consiste numa educação dirigida às populações adultas pensada como uma educação participante, instrumento de desenvolvimento da consciência crítica popular, um dos instrumentos de resignificação da própria realidade social na medida em que se constitui como uma situação organizada do encontro de pessoas que se empenham coletivamente na tarefa de 'transformar o mundo.

Neste contexto, a educação popular, referência para as propostas de EJA voltadas para a cidadania, expressam modelos que visam um utilitário saber da pessoa educada para a concorrência, para a competitividade. Carlos Rodrigues Brandão atualiza a educação popular como sendo a educação cidadã, que promove formação humana e que é dirigida para pessoas em nome do desenvolvimento humano, que aspira realizar em cada pessoa, quem quer que seja, a sua plena parcela do direito inquestionável e intransferível a aspirar ser não menos do que sábia, autônoma, harmoniosa e, se possível, feliz.

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Traçaremos, a partir de agora, um breve panorama histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Entendemos ser de importância ímpar a compreensão da trajetória histórica desta modalidade de ensino, uma vez que o conhecimento dessa trajetória nos possibilita uma melhor compreensão dos entraves e dos avanços em nosso país.

Muito, ainda, faz-se necessário caminhar em direção à constituição de uma Educação de Jovens e Adultos promotora de desenvolvimento humano. No entanto, para que possamos

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abrir novos caminhos, é importante compreendermos os caminhos trilhados até então.

O Início de uma Caminhada O Início de uma Caminhada

As atividades de leitura e escrita no Brasil iniciaram com os jesuítas; sua ação missionária, com o intuito de difundir o evangelho, incluía estratégias educativas com crianças e adultos. Primeiramente, para os índios e, posteriormente, para os negros escravos. Assim, no período colonial, a educação para os religiosos eram administradas na sua maioria para os adultos; era ensinado o evangelho, normas de comportamento e os ofícios necessários à economia colonial aos indígenas e aos escravos.

No ano de 1824 firmou-se, pela Constituição Brasileira, uma instrução primária e gratuita para os adultos. No período imperial, pouco foi feito, pois neste período os adultos só possuíam cidadania, e a maioria deles eram da elite e alfabetizados. No final do império, 82 % da população com idade superior a cinco anos ainda eram analfabetos.

A Proclamação da República em 1889 e a Constituição Federal de 1891 reforçaram a concepção da atribuição da educação básica como tarefas dos estados e municípios, cabendo à união o ensino secundário e superior. A persistência desse sistema garantiu a formação de elites em detrimento de uma educação para as amplas camadas sociais marginalizadas, onde a oferta do ensino elementar se submeteu a fragilidade financeira dos estados e municípios. Essa constituição manteve a exclusão dos adultos analfabetos da participação política pelo voto, criando o preconceito pelo analfabeto, visto neste momento como incapaz. Assim, na primeira República, a nova Constituição excluiu os analfabetos para votação, sendo estes uma grande maioria. Segundo Pierro (2000, p.109), “A nova Constituição Republicana estabeleceu também a exclusão dos adultos da participação pelo voto, isto em um momento em que a maioria da população adulta era iletra”. Trinta anos depois da Proclamação da República, 72% da população acima de cinco anos era analfabeta.

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dos padres jesuítas em 1549. Obviamente, essa educação se voltava para a catequização de nativos, mas ocorreu também com os colonizadores, diferenciando-se apenas pelos objetivos que possuíam para cada grupo específico.

Entretanto, após a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, ocorreu uma desorganização do ensino, que voltou a ser ordenado somente no Império. Ao saltarmos para o século XX, segundo informações do IBGE, em 1910, “o direito a ler e escrever era negado a quase 11 milhões e meio de pessoas com mais de 15 anos”. Logo, alguns grupos sociais mobilizaram-se para organizar campanhas de alfabetização chamadas de “Ligas”.

De acordo com Ribeiro (1997), foi apenas a partir da década de 30, quando começou a se consolidar um sistema público de educação elementar no país, que a educação básica de adultos teve seu lugar inserido na história da educação brasileira.

A partir da Primeira Guerra Mundial e nas duas décadas seguintes, mudanças significativas aconteceram no cenário educacional. O crescimento do processo de industrialização e urbanização e a preocupação com questões sociais emergentes começaram a fazer da educação escolar uma preocupação para as autoridades e a sociedade brasileira. Neste contexto, criam-se condições favoráveis para o estabelecimento de políticas para a educação de adultos e ampliam-se os serviços educacionais deste período como parte de uma política de extensão de direitos.

A formação da identidade da educação de adultos no Brasil dá-se a partir da década de 1940, especificamente no ano de 1947, com a política de educação para as massas. Esta passava a ser considerada uma condição necessária para que o Brasil se realizasse como um país desenvolvido. Neste período, foi lançada a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, cujo objetivo era alfabetizar, em três meses, esta parcela da população excluída da educação regular. Além dessa meta, havia ainda a pretensão de se trabalhar a capacitação profissional e o desenvolvimento comunitário desses jovens e adultos. Mesmo influenciada pela euforia nacionalista e pela industrialização vivida no Brasil, à campanha não obteve sucesso, principalmente em zonas rurais, sendo extinta antes do final da década de 1950. Sobreviveram, na época, apenas as escolas supletivas nos estados e municípios (PEREIRA apud MACEDO, 2007, p.2).

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No entanto, foi somente no final da década de quarenta que a Educação de Jovens e Adultos firmou-se como tema de política educacional. Diversos fatores contribuíram para que isso ocorresse, entre eles: a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930; a ideia de um Plano Nacional de Educação a partir da Constituição de 1934 e a criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), em 1938.

Nessa época, devido às transformações pelas quais passava a sociedade brasileira, associadas ao processo de industrialização, “a oferta de ensino básico gratuito estendia-se consideravelmente, acolhendo setores sociais cada vez mais diversos” (RIBEIRO, 1997, p. 19). Com o fim da ditadura de Vargas, em 1945, o Brasil vivia a política da redemocratização. A Segunda Guerra Mundial recém terminara e a ONU (Organização das Nações Unidas) visava integrar os povos, para alcançar paz e democracia. Assim, havia o interesse em aumentar as bases eleitorais para a sustentação do governo central e em melhorar a produção.

No período de Vargas, em 1930, a revolução se tornou um marco na reformulação do papel do Estado, no Brasil, de acordo com os aspectos educacionais. A nova Constituição Brasileira apresentou um novo Plano Nacional de Educação (PNE) firmando de maneira óbvia as esferas de capacidade da União, onde confirmou o direito de todas as pessoas do Estado para com a educação.

O PNE responsabilizou-se pela Constituição de 1934, que inclui como obrigatório as normas no ensino primário integral. O ensino primário se prolongaria para os adultos e tinha um tratamento particular, sendo que no ano de 1938 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) instituiu o fundo nacional do ensino primário que tinha o dever de promover programas progressivos de ampliação na educação primária:

Passos decisivos para a colocação da educação de Adultos como problema nacional foram dados na década de 1940 com a criação do Fundo Nacional do Ensino Primário e sua regulamentação em 1945, que destinava 25% dos recursos do fundo para a Educação de Adultos e adolescentes analfabetos, a criação do Serviço de Adultos em 1947 e com a aprovação de um Plano Nacional de Educação Supletiva, ainda em 1947 (CORREIA, pp. 21 e 22).

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Por meio dessa estrutura e desses recursos foram promovidas diversas Campanhas contra o analfabetismo, destacando-se a Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes em 1947 e a Campanha Nacional de Educação Rural em 1952.

Isso tudo fez com que houvesse uma maior preocupação com relação à educação dos adultos, a qual, segundo Ribeiro (1997, p. 20) definiu sua identidade a partir de uma Campanha de Educação de Adultos, lançada em 1947:

Pretendia-se, numa primeira etapa, uma ação extensiva que previa a alfabetização em três meses, e mais a condensação do curso primário em dois períodos de sete meses. Depois, seguiria uma etapa de “ação em profundidade”, voltada à capacitação profissional e ao desenvolvimento comunitário.

No início, a campanha teve ótimos resultados, quando foram criadas diversas escolas supletivas. Dela, também suscitaram discussões, no campo teórico-pedagógico, sobre o analfabetismo, que era considerado como a causa do fracasso em que se encontrava a situação econômica, social e cultural do país. Dessa forma, o adulto analfabeto era visto como incapaz e marginal. Felizmente, durante a campanha, essas ideias preconceituosas foram criticadas e os saberes e capacidades dos adultos analfabetos foram reconhecidos. Logo, de acordo com Ribeiro (1997), houve a difusão de um método de ensino de leitura para adultos, denominadoLaubach,

o que inspirou a iniciativa do Ministério da Educação em produzir material didático específico para o ensino da leitura e da escrita para adultos. Conforme a autora,

As lições partiam de palavras-chave selecionadas e organizadas segundo suas características fonéticas. A função dessas palavras era remeter aos padrões silábicos, estes sim o foco do estudo. As sílabas deveriam ser memorizadas e remontadas para formar outras palavras. As primeiras lições também continham pequenas frases montadas com as mesmas sílabas. Nas lições finais, as frases compunham pequenos textos contendo orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e mensagens de moral e civismo (RIBEIRO, 1997, pp. 21-22).

No final da década de 50, muitas críticas foram lançadas à Campanha de Educação de Adultos, como a denúncia ao caráter superficial do aprendizado, já que a alfabetização acontecia num intervalo de tempo muito curto, e à inadequação do método. Foram promovidas diversas

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Campanhas contra o analfabetismo, destacando-se a Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes em 1947 e a Campanha Nacional de Educação Rural em 1952.

A organização de programas de massa destinados a Educação de Jovens e Adultos mediante o Fundo Nacional do Ensino Primário, foi acompanhado de euforia nos primeiros momentos e seguido de atividades rotineiras durante os anos 50, até sua extinção oficial, no início da década de 1960. Assim, surgiu uma nova visão sobre o problema do analfabetismo e um novo paradigma pedagógico para a educação de adultos, a partir da proposta do educador Paulo Freire.

PAULO FREIRE E SUA PROPOSTA PARA A ALFABETIZAÇÃO DE

PAULO FREIRE E SUA PROPOSTA PARA A ALFABETIZAÇÃO DE

ADUL-TOS

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Uma breve biograa Uma breve biograa

Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife, no nordeste do Brasil, e faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo. Como estudioso, ativista social e trabalhador cultural, Freire de-senvolveu, mais do que uma prática de alfabetização, uma pedagogia crítico libertadora. Em sua proposta, o ato de conhecimento tem como pressuposto fundamental a cultura do educando; não para cristalizá-la, mas como “ponto de partida” para que ele avance na leitura do mundo, compreendendo-se como sujeito da história. É através da relação dia-lógica que se consolida a educação como prática da liberdade.

Em sua primeira experiência, em 1963, Freire ensinou 300 adultos a ler e escrever em 45 dias. Esse método foi adotado em Pernambuco, um estado produtor de cana-de-açúcar. O trabalho de Freire com os pobres e, internacionalmente aclamado, teve início no final da década de 40 e continuou de forma ininterrupta até 1964.

1 BIOGRAFIA de Paulo Freire. Disponível em : <http://www.abec.ch/Portugues/subsidios-educadores/biograf ias/Biografia_de _

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Os 16 anos de exílio foram períodos tumultuados e produtivos: uma estadia de cinco anos no Chile como consultor da UNESCO no Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária; uma nomeação, em 1969, para trabalhar no Centro para Estudos de Desenvolvimento e Mudança Social da Universidade de Harvard; uma mudança para Genebra, na Suíça, em 1970, para trabalhar como consultor do Escritório de Educação do Conselho Mundial de Igrejas, onde desenvolveu programas de alfabetização para a Tanzânia e Guiné Bissau, que se concentravam na reafricanização de seus países; o desenvolvimento de programas de alfabetização em algumas ex-colônias portuguesas pós-revolucionárias como Angola e Moçambique; ajuda ao governo do Peru e da Nicarágua em suas campanhas de alfabetização... Paulo Freire (1921-1997) representa um dos maiores e mais significantes educadores do século XX. Sua pedagogia mostra um novo caminho para a relação entre educadores e educandos. Caminho este que consolida uma proposta político-pedagógica elegendo educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento mediatizados pelo mundo, visando à transformação social e construção de uma sociedade justa, democrática e igualitária. Na América do Sul, Europa, África, América do Norte e Central, suas ideias revolucionaram o pensamento pedagógico universal, estimulando a prática educativa de movimentos e organizações de diversas naturezas. Três filosofias marcaram sucessivamente a obra de Paulo Freire: o existencialismo, a fenomenologia e o marxismo sem, no entanto, adotar uma posição ortodoxa. Seu pensamento rompeu a relação cristalizadora de dominação, buscando pensar a realidade dentro do universo do educando, construindo a prática educacional considerando a linguagem e a história da coletividade elementos essenciais dessa prática.

Em Paulo Freire, vida, pensamento e obra se juntam. Pensa a realidade e a ação sobre ela, trabalhando teoricamente a partir dela. Segundo ele, as questões e problemas principais de educação não são somente questões pedagógicas, ao contrário, são políticas. Sua proposta, a pedagogia crítica, como práxis cultural, contribui para revelar a ideologia encoberta na consciência das pessoas. Seu trabalho revela dedicação e coerência aliados à convicção de luta por uma sociedade justa, voltada para o processo permanente de humanização entre as

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pessoas, onde ninguém é excluído ou posto à margem da vida. Paulo Freire provou que é possível educar para responder aos desafios da sociedade, nesse sentido, a educação deve ser um instrumento de transformação global do homem e da sociedade, tendo como essência a dialogicidade.

As ideias de Paulo Freire chamavam a atenção para as causas sociais do analfabetismo, além de uma visão do analfabeto como produtor social e cultural de uma sociedade. O Congresso deu início a um novo período na Educação de Adultos no Brasil, onde a busca intensa era por inovações neste terreno e se percebia esforços realizados pelos mais diversos grupos em favor da educação da população adulta para a participação na vida política da nação. O trabalho de Paulo Freire passou a direcionar diversas experiências com a Educação de Adultos como o Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Igreja Católica. As ideias deste autor demonstravam a necessidade de realizar uma Educação de Adultos crítica, voltada para a transformação social, o diálogo como princípio educativo e a ascensão dos educandos adultos, de seu papel de sujeitos de aprendizagem, de produção de cultura e de transformação do mundo.

A Educação de Jovens e Adultos no Brasil está muito ligada a Freire. Seu sistema de ensino foi desenvolvido em 1960 e com o sucesso da experiência, ficou conhecido em todo o Brasil, sendo praticado por diversos grupos da cultura popular. Com ele, veio uma mudança de paradigma teórico-pedagógico na EJA.

Durante muitos séculos, para alfabetizar alguém se utilizava o método silábico de aprendizagem; partia-se da ideia de que conhecendo as sílabas e juntando-as poderia se formar qualquer palavra. Por essa concepção não se desenvolvia o pensamento crítico, não importava entender o que era escrito e o que era lido, porque o importante era dominar o código.

Por essa nova concepção, educador e educando devem interagir, são criados novos métodos de aprendizagem por meio dos quais o alfabetizador trabalha o conteúdo a ser ensinado: a

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escrita. Com a preocupação de que seus alunos estejam compreendendo o sentido para o sistema de escrita, a partir de temas e palavras geradoras ligadas às suas experiências de vida.

É nos anos 60 que aparecem Paulo Freira e sua equipe de trabalho, que dão uma virada no enfoque da educação popular, ao propor que os processos metodológicos para a alfabetização de adultos transcendam as técnicas e centrem-se em elementos de conscientização. Lançam seu manifesto contra a educação bancária que desumaniza o homem e o converte num depósito de conteúdos; e propõem como saída a Educação Problematizadora. O desafio proposto por Freire era conceber a alfabetização de adultos para além da aquisição e produção de conhecimentos cognitivos, mesmo sendo estes necessários e imprescindíveis (MEDEIROS, 2005, p.3).

A proposta de Paulo Freire baseia-se na realidade do educando, levando em conta suas experiências, suas opiniões e sua história de vida. Educador e educando devem caminhar juntos, interagindo durante todo o processo de alfabetização. Seu objetivo maior era a alfabetização visando à libertação, e para ele essa libertação não se dá somente no campo cognitivo, mas deve acontecer, essencialmente, nos campos social, cultural e político. Segundo ele, a visão ingênua que os indivíduos têm da realidade torna-os escravos, na medida em que, não sabendo que podem transformá-la, sujeitam-se a ela. Essa descrença na possibilidade de intervenção na realidade é alimentada pelas cartilhas e manuais escolares que colocam homens e mulheres como observadores e não como sujeitos ativos dessa realidade. O Método Paulo Freire

O Método Paulo Freire

No início dos anos 60, os principais programas de alfabetização e educação popular se inspiraram na proposta de alfabetização de adultos de Paulo Freire. De acordo com Ribeiro (1997), tais programas foram empreendidos por intelectuais, estudantes e católicos engajados numa ação política junto aos grupos populares. Em 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, espalhando, por todo o país, os programas de alfabetização orientados pela proposta de Freire, os quais foram interrompidos pelo golpe militar.

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Conforme a autora, a partir dessas práticas, o analfabetismo deixou de ser visto como causa da pobreza e da marginalização e “passou a ser interpretado como efeito da situação de pobreza gerada por uma estrutura social não igualitária” (RIBEIRO, 1997, p. 23).

Segundo Ribeiro (1997), Freire desenvolveu um conjunto de procedimentos pedagógicos que ficou conhecido como MÉTODO PAULO FREIRE, o qual previa uma fase de preparação, em que o alfabetizador deveria realizar uma pesquisa sobre a realidade do grupo em que atuaria, além de um levantamento de seu universo vocabular. Desse universo vocabular, o educador selecionaria as palavras com maior densidade de sentido e que expressassem as situações existenciais mais importantes.

Após essa etapa, caberia ao educador selecionar um conjunto com os diversos padrões silábicos da língua, organizando-o conforme o grau de complexidade. A partir dessas palavras, denominadas “palavras geradoras”, realizaria o estudo da leitura e da escrita. Antes, porém, propiciaria uma discussão a respeito do conceito antropológico de cultura, a fim de levar o educando a assumir-se como sujeito de sua aprendizagem.

No estudo das palavras geradoras, utilizavam-se cartazes com imagens referentes às situações existenciais, gerando um debate em torno do tema em questão para, somente após, analisar a palavra escrita. Esta, por sua vez, era estudada a partir de um quadro com as famílias silábicas, com as quais os alfabetizandos montavam novas palavras.

Posteriormente, as palavras geradoras eram substituídas por temas geradores, “a partir dos quais os alfabetizandos aprofundariam a análise de seus problemas, preferencialmente já se engajando em atividades comunitárias ou associativas” (RIBEIRO, 1997, p. 25).

Assim, o Método Paulo Freire é composto por três etapas, denominadas: “Investigação”, “Tematização” e “Problematização”, conforme sistematizamos a seguir.

1. Etapa de Investigação:

1. Etapa de Investigação: busca conjunta, entre professor e aluno, das palavras e temas mais signicativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade em que ele vive.

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2. Etapa de Tematização:

2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, por meio da análise dos signicados sociais dos temas e palavras.

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3. Etapa Etapa de de Problematização:Problematização: etapa em que o professor desaa e inspira o aluno a superar a visão mágica e a crítica do mundo, para uma postura conscientizada.

Para a aplicação de seu método, Freire propõe cinco fases:

• 1ª 1ª fase:fase:Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase, ocorrem as interações

de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.

• 2ª 2ª fase:fase:Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonética,

diculdades fonéticas - numa sequência gradativa das mais simples para as mais com -plexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.

• 3ª 3ª fase:fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações

inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.

• 4ª 4ª fase:fase:Criação das chas-roteiro que norteiam os debates, as quais deverão servir como

subsídios, sem, no entanto, seguir uma prescrição rígida.

• 5ª 5ª fase:fase: Criação de chas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas cor

-respondentes às palavras geradoras.

Para exemplificarmos, tomemos a palavra TIJOLO, usada pelo educador como a primeira palavra, em Brasília, nos anos 60, escolhida por ser uma cidade em construção.

1º) Apresenta-se a palavra geradora "tijolo", inserida na representação de uma situação concreta: homens trabalhando numa construção.

2º) Simplesmente escreve-se a palavra: TIJOLO

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3º) Escreve-se a mesma palavra com as sílabas separadas: TI - JO – LO

4º) Apresenta-se a "família fonêmica" da primeira sílaba: TA - TE - TI - TO – TU

5º) Apresenta-se a "família fonêmica" da segunda sílaba: JA - JE - JI - JO – JU

6º) Apresenta-se a "família fonêmica" da terceira sílaba: LA - LE - LI - LO – LU

7º) Apresentam-se as "famílias fonêmicas" da palavra que está sendo decodificada: TA - TE - TI - TO - TU

JA - JE - JI - JO - JU LA - LE - LI - LO – LU

O conjunto das "famílias fonêmicas" da palavra geradora foi denominado de "ficha de descoberta", pois ele propicia, ao alfabetizando, juntar os "pedaços", isto é, fazer dessas sílabas novas combinações fonêmicas que necessariamente devem formar palavras da língua portuguesa.

8º) Apresentam-se as vogais: A - E - I - O - U

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sílabas, está alfabetizado. Obviamente, o processo requer aprofundamento, ou seja, a pós-alfabetização.

A eficácia e validade do "Método" consistem em partir da realidade do alfabetizando, do que ele já conhece, do valor pragmático das coisas e fatos de sua vida cotidiana, de suas situações existenciais. Respeitando o senso comum e dele partindo, Freire propõe a sua superação. O Método obedece às normas metodológicas e linguísticas, mas vai além delas, porque desafia o homem e a mulher que se alfabetizam a se apropriarem do código escrito e a se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo.

O Método nega a mera repetição alienada e alienante de frases, palavras e sílabas, ao propor aos alfabetizandos "ler o mundo" e "ler a palavra", leituras, aliás, como enfatiza Freire, indissociáveis, por isso, opõe-se à metodologia utilizada nas cartilhas.

Em suma, o trabalho de Paulo Freire é mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que tem como cerne de suas preocupações a sua natureza política. Vale a pena você conhecer as obras desse importante educador.

Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez, no Centro de Cultura Dona Olegarinha, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular (Recife). Foi aplicado, inicialmente, com 5 alunos, dos quais três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 desistiram antes de concluir.

Com base na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000 círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara (Rio de Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas.

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considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, infelizmente, esse grande projeto foi abandonado. Em seu lugar, surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a alfabetização, porém, visceralmente distinta dos ideais freirianos. O golpe militar de 1964 encerrou as atividades da Comissão Nacional da Alfabetização encabeçada por Freire e do Programa Nacional de Alfabetização de Adultos. Por um lado, o golpe militar tentou acabar com práticas pedagógicas que vinham contrárias aos ideais políticos, mas por outro, a Educação de Jovens e Adultos não poderia ser abandonada pelo aparelho do Estado. Não havia como justificar para a comunidade nacional e internacional a criação de um país com altos índices de analfabetismo.

Em discurso ao Dia Nacional de Alfabetização, em 1966, o Ministro Muniz de Aragão, explicitou a visão dos militares sobre a questão do analfabetismo, transcrito por Paiva, 2003, p.293: “uma chaga, mancha vergonhosa a desfigurar as faces da sociedade brasileira, que se apresenta, no conceito dos povos, como constituída em grande parte por cidadãos incultos e ignorantes, [...]; erradicar o analfabetismo era uma exigência do pudor nacional. O analfabetismo era visto como entrave ao progresso já que uma pátria grande não poderia ser edificada sobre um povo esmagados pelos fardos da ignorância e da miséria” (CORREIA, 2008, p. 23).

Por isso, o regime militar criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), em 1967, que era um projeto para acabar com o analfabetismo em apenas 10 anos e dedicou um capítulo especial na Lei 5692/71 sobre o ensino supletivo, expresso do artigo 24 ao artigo 28. Neles, são explicitadas as duas grandes finalidades do ensino supletivo: a de suprir a escolaridade regular aos jovens e adultos que não a concluíram na idade própria e a de proporcionar atualização de conhecimentos mediante o constante retorno à escola. A criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) aconteceu conforme a lei 5.379 em 15 de Dezembro de 1967. Com o golpe militar de 1964, os programas de alfabetização e educação popular que se haviam multiplicado no período entre 1961 e 1964 foram vistos como uma grave ameaça à ordem e seus promotores duramente reprimidos. O governo só permitiu a realização de programas de alfabetização de adultos assistencialista e conservadores até que em 1967 ele mesmo assumiu o controle dessa atividade lançando o MOBRAL (RIBEIRO, 1997, pp.25-26).

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O MOBRAL

O MOBRAL

Com significativos recursos, o Mobral instalou comissões municipais por todo o país que executavam as atividades de alfabetização, enquanto controlavam supervisão, orientação pedagógica e produção de materiais didáticos. Organizado a partir do golpe militar, ele tinha o intuito de chegar a quase todos os municípios do país e deveria atestar às classes populares o interesse do governo pela educação do povo.

Neste momento, o Brasil contava com 33% de brasileiros acima de cinco anos analfabetos e o Mobral ampliou sua atuação durante a década de 1970. Entretanto, a crítica pelos níveis de aprendizagem e a dúvida quanto aos indicadores apresentados ampliou seu descrédito, sendo extinto em 1985.

O MOBRAL foi criticado pelo pouco tempo destinado a alfabetização e pelos critérios empregados na verificação de aprendizagem. Mencionava-se que, para evitar a regressão, seria necessária uma continuidade dos estudos em educação escolar integrada, e não em programas voltados a outros tipos de interesses como, por exemplo, formação rápida de recursos humanos (PIERRO, 2000, p.116).

As tarefas relacionadas à alfabetização passaram a compor a estrutura da recém-criada Fundação Educar:

Sua função era de articular o subsistema de ensino e a política nacional de jovens e adultos, fomentar o atendimento nas séries iniciais do Ensino de 1° grau, promover a formação e aperfeiçoamento de professores, produzir material didático e supervisionar e avaliar as atividades (CORREIA, 2008, p. 24).

Os programas de alfabetização e educação popular se multiplicaram, no Brasil, no período compreendido entre 1961 e 1964, quando foram interrompidos pelo golpe militar, que os

F o n t e : P H O T O S . C O M

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considerava como ameaça à ordem. Somente em 1967, o governo autorizou a realização desses programas, no entanto, sob o seu controle, lançando o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que surgiu como um prosseguimento das campanhas de alfabetização de adultos iniciadas com Lourenço Filho.

Para Ribeiro (1997), o MOBRAL seria a resposta do regime militar à situação, ainda grave, do analfabetismo no Brasil. Em 1969, foi lançada uma campanha massiva de alfabetização, com orientação, supervisão pedagógica e produção de materiais didáticos centralizados.

A expansão do MOBRAL pelo país se deu durante a década de 70, variando sua atuação. Alguns grupos que se opunham à ditadura procuraram seguir as propostas mais críticas, com base no Método Paulo Freire, os quais puderam se ampliar na década de 80, com o início da abertura política.

O movimento, mantido pelo governo federal, propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando instrumentalizar o cidadão e torná-lo capaz de exercer sua cidadania. No entanto, o MOBRAL se limitou a alfabetizar de maneira funcional, não oferecendo uma formação mais abrangente.

A metodologia utilizada pelo Programa de Alfabetização Funcional baseava-se no aproveitamento das experiências significativas dos alunos, dessa forma, embora divergisse ideologicamente do método que Paulo Freire utilizava-se, semelhantemente a este, de palavras geradoras, porém, totalmente esvaziadas de sentimentos críticos. Além disso, havia uma uniformização do material utilizado em todo o território nacional, não traduzindo, assim, a linguagem e as necessidades do povo de cada região e de uma série de procedimentos para o processo de alfabetização.

O MOBRAL não exigia frequência e a avaliação era feita em 2 módulos, uma ao final do módulo e outra pelo sistema de educação. O fato de não exigir frequência, possibilitava o elevado índice de evasão que se estabeleceu nesse nível.

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Quanto aos materiais didáticos, Ribeiro salienta o fato de que seguiram muitos procedimentos consagrados nas experiências realizadas no início da década de 60, porém eram destituídos de sentido crítico e problematizador. Assim, de acordo com Ribeiro (1997, p. 26),

Propunha-se a alfabetização a partir de palavras-chave, retiradas “da vida simples do povo”, mas as mensagens a elas associadas apelavam sempre ao esforço individual dos adultos analfabetos para sua integração nos benefícios de uma sociedade moderna, pintada sempre de cor-de-rosa.

A recessão econômica iniciada nos anos 80 inviabilizou a continuidade do MOBRAL que demandava altos recursos para se manter. Seus últimos anos foram marcados por denúncias quanto às aplicações dos recursos financeiros e ao falso índice de analfabetismo emitido por conta do programa.

Assim, em 1985, o MOBRAL foi extinto, por estar desacreditado nos meios políticos e educacionais. Conforme Ribeiro (1997, p.27-28), “seu lugar foi ocupado pela Fundação Educar, que abriu mão de executar diretamente os programas, passando a apoiar financeira e tecnicamente as iniciativas de governos, entidades civis e empresas a elas conveniadas”. Ampliando a concepção de alfabetização

Ampliando a concepção de alfabetização

As críticas aos programas de alfabetização de jovens e adultos se voltavam, principalmente, com relação ao pouco tempo que se levava para alfabetizá-los e a não continuidade do processo. Dessa forma, segundo Ribeiro (1997, p. 28) surgiram programas que previam,

Um tempo maior, de um, dois ou até três anos dedicados à alfabetização e pós-alfabetização, de modo a garantir que o jovem ou adulto atinja maior domínio dos instrumentos da cultura letrada, para que possa utilizá-los na vida diária ou mesmo prosseguir seus estudos, completando sua escolarização.

Dessa maneira, a alfabetização foi incorporada, de forma crescente, a programas mais extensivos de educação básica de jovens e adultos, o que se refletiu na produção dos materiais didáticos.

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de montar ou completar palavras com sílabas dadas, palavras e frases para ler e associar imagens e exercícios de coordenação motora, notando-se uma preocupação em oferecer materiais de leitura. Para a etapa de pós-alfabetização, os materiais eram mais escassos e acabavam por reproduzir os livros didáticos utilizados no ensino primário regular, com a adaptação dos temas, que se voltavam para a vida adulta, referindo-se ao mundo do trabalho, aos problemas urbanos, saúde etc.

Além disso, a ampliação da concepção de alfabetização também se deu a partir da preocupação com relação a iniciação à matemática, uma vez que os educandos demonstravam seu desejo de aprender a fazer contas. Logo, via-se a necessidade de incluir a aprendizagem dos jovens e adultos numa concepção de alfabetização integral, que incorporasse a cultura da realidade vivenciada por eles.

Quanto ao caráter crítico e problematizador na EJA, de acordo com Ribeiro (1997, p. 30), alguns educadores conseguiram promover situações de debates, que os levavam a “reconhecer, comparar, julgar, recriar e propor”. Contudo, quando se tratava do trabalho específico de leitura, escrita ou matemática, tornava-se difícil garantir a natureza construtiva da aprendizagem. Os textos lidos contemplavam sempre o mesmo estilo e a mesma estrutura. Assim, produziu-se uma “dissociação entre os momentos de ‘leitura do mundo’, quando os educandos são chamados a analisar, comparar, elaborar, e os momentos de ‘leitura da palavra’ (ou dos números), quando os educando devem repetir, memorizar e reproduzir” (RIBEIRO, 1997, p. 30).

NOVOS RUMOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

NOVOS RUMOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Na década de 80, à luz da Linguística e da Psicologia, surgiram muitas pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita, consideradas práticas sociais, realizadas por meio da linguagem, vista como formas de interação.

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Logo, segundo Ribeiro (1997), as propostas pedagógicas para a alfabetização começam a incorporar a convicção de que não é necessário nem recomendável montar uma língua artificial para ensinar a ler e escrever. Os adultos analfabetos podem escrever enunciados significativos, com base em seus conhecimentos da língua, ainda que, no início, não produzam uma escrita convencional. Com relação à leitura, também houve a preocupação em ampliar o universo linguístico, utilizando-se uma diversidade maior de textos. Assim, a formação de um bom leitor não dependia só da memorização das correspondências entre letras e sons, mas também do conhecimento das funções, estruturas e dos estilos próprios dos diferentes textos que circulam em nossa sociedade.

Quanto ao ensino de Matemática, Ribeiro (1997) aponta para o fato de se terem observado que os jovens e os adultos eram capazes de resolver problemas envolvendo cálculos mais complexos, sem, muitas vezes, saberem representá-los por escrito, ou sem saberem explicar como chegaram ao resultado. Várias pesquisas foram realizadas para investigar a natureza desses conhecimentos e o seu alcance.

Com relação ao ensino das Ciências Sociais e Naturais, a autora destaca o reconhecimento da limitação das abordagens que visam apenas a aprendizagem de conhecimentos imediatamente úteis para os jovens e adultos. Dessa maneira, caberia aos educadores orientá-los para uma compreensão mais abrangente dos fenômenos, para a qual podem contribuir conceitos científicos e informações das mais diversas fontes.

Na década de 90, com a extinção da Fundação Educar, criou-se um vazio em termos de políticas para o setor. Assim, segundo Ribeiro (1997, p. 34), “A história da educação de jovens e adultos no Brasil chega à década de 90, portanto, reclamando a consolidação de reformulações pedagógicas que, aliás, vêm se mostrando necessárias em todo o ensino fundamental”. Para a autora, a maioria das pessoas que procuram os programas para jovens e adultos já tiveram passagens fracassadas pela escola. Muitos adolescentes e jovens foram recém-excluídos do sistema regular. Dessa forma,

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Esta situação ressalta o grande desafio pedagógico, em termos de seriedade e criatividade, que a educação de jovens e adultos impõe: como garantir a esse segmento social que vem sendo marginalizado nas esferas socioeconômica e educacional um acesso à cultura letrada que lhe possibilite uma participação mais ativa no mundo do trabalho, da política e da cultura (RIBEIRO, 1997, p. 34).

Assim, percebemos que o MOBRAL foi extinto no ano de 1985 pelos políticos que não mais acreditavam nele, no seu lugar ficou o ensino supletivo que foi regulamentado e os seus fundamentos são bem desenvolvidos trazendo à tona a visão de um novo conhecimento na escola. Após ser extinto no período da nova república, foi substituído pela Fundação Educar e os educadores tinham que enfrentar com poucos recursos sua tarefa.

Se em muitos sentidos a Educar representou a continuidade do MOBRAL, devem-se computar como mudanças significativas a sua subordinação à estrutura do MEC e a transformação em órgão de fomento e apoio técnico em vez de execução direta.

No início da década de 1980, a sociedade brasileira viveu importantes transformações sociais e políticas com o fim dos governos militares e a retomada do processo de democratização, é só lembrarmos da Campanha nacional a favor das eleições diretas.

Neste novo contexto, houve a possibilidade de ampliação das atividades da EJA. Estudantes, políticos e professores organizaram-se em prol de uma escola pública e para todos. A constituição de 1988 trouxe importantes avanços para a EJA: o ensino fundamental obrigatório e gratuito passou a ser direito constitucional também para aqueles que não tiveram acesso na idade própria.

A história da Educação de Jovens e Adultos no período de redemocratização, entretanto, é marcada pela contradição entre o plano jurídico do direito formal da população jovem e adulta à educação básica de um lado, e por outro, de sua negação pelas políticas públicas concretas no terreno social.

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desenvolvidas quase que clandestinamente por organizações civis ou pastorais da Igreja, retomaram espaços nos ambientes universitários e passaram a influenciar programas públicos e comunitários de alfabetização de jovens e adultos.

Além da garantia consagrada pela Constituição de 1988, a Carta Magna propunha um prazo de dez anos onde os governos e a sociedade civil deveria concentrar esforços para a erradicação do analfabetismo e a universalização do ensino fundamental, objetivos estes, aos quais deveriam ser aplicados 50% dos recursos vinculados à educação dos três níveis do governo. Esses mecanismos somados à descentralização das receitas tributárias em favor dos estados e municípios e à vinculação constitucional de recursos para o desenvolvimento e manutenção do ensino, constituiu a base para que nos anos posteriores pudesse vir a ocorrer uma significativa expansão e melhoria do atendimento público da escolarização de jovens e adultos.

Contudo, a partir dos anos de 1990, a EJA começou a perder espaço nas ações governamentais. Em março de 1990, com o início do governo Collor de Melo a fundação Educar foi extinta e todos os seus funcionários colocados em disponibilidade. Em nome do enxugamento da máquina administrativa, a União foi se afastando das atividades da EJA e transferindo as responsabilidades para os estados e municípios.

Neste mesmo pacote de medidas foi retirado o mecanismo que facultava às pessoas jurídicas direcionar voluntariamente 2% do valor do imposto de renda às atividades de alfabetização de adultos, recursos esses, que nas duas décadas anteriores haviam financiado o MOBRAL e a Educar.

A medida representou um marco na descentralização da escolarização básica de jovens e adultos, pois embora não tenha sido negociada entre as esferas do governo, representou a responsabilidade da transferência direta de responsabilidade pública dos programas de alfabetização de jovens e adultos da União para os municípios.

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seção dedicada à educação de jovens e adultos se apresentou curta e pouco inovadora:

A seção dedicada à educação básica de jovens e adultos resultou curta e pouco inovadora: seus dois artigos reafirmam o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao ensino básico adequado às suas condições peculiares de estudo, e o dever do poder público em oferecê-lo gratuitamente na forma de cursos e exames supletivos. A única novidade dessa seção da Lei foi o rebaixamento das idades mínimas para que os candidatos se submetam aos exames supletivos, fixadas em 15 anos para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio. A verdadeira ruptura introduzida pela nova LDB com relação à legislação anterior reside na abolição da distinção entre os subsistemas de ensino regular e supletivo, integrando organicamente a educação de jovens e adultos ao ensino básico comum (HADDAD, 2000, p. 122).

Em 1999, por meio do Plano Nacional de Educação adere-se um paradigma da educação continuada ao longo da vida como um direito da cidadania. A partir deste ponto de vista, os desafios para a educação de jovens e adultos seriam três: erradicar o analfabetismo presente em nossa sociedade, treinar o imenso contingente de jovens e adultos para o mercado de trabalho e criar oportunidades de educação permanente.

A reforma educacional iniciada em 1995 tem como objetivo descentralizar os encargos financeiros com a educação, racionalizando o gasto público em favor do ensino fundamental obrigatório. Essas diretrizes implicaram que o MEC mantivesse a educação básica de jovens e adultos na posição marginal que ocupava.

Após muitas discussões, criou-se em cada um dos estados o Fundo do Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), como um mecanismo onde os recursos públicos destinados à educação foram redistribuídos as entes governamentais, estaduais e municipais de acordo com o número de alunos matriculados no Ensino Fundamental. Esse mecanismo induziu à municipalização do ensino Fundamental, ficando o Estado com a responsabilidade maior do Ensino Médio e a União com o Ensino Superior.

A operacionalização do dispositivo constitucional que criou o FUNDEF exigiu regulamentação adicional. Embora tenha sido aprovada por unanimidade do Congresso, a Lei 9.424/96 recebeu vetos do presidente, um dos quais impediu que as matrículas registradas no ensino fundamental presencial de jovens e adultos fossem computadas

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para efeito dos cálculos dos fundos, medida que focalizou o investimento público no ensino de crianças e adolescentes de 7 a 14 anos e desestimulou o setor público a expandir o ensino fundamental de jovens e adultos (HADDAD, 2000, p. 123).

Com o estabelecimento da distribuição dos recursos financeiros destinados à educação, ficam três segmentos da educação parcialmente descobertos, sendo eles: educação infantil, o ensino médio e a educação básica de jovens e adultos. Assim, a educação de jovens e adultos experimentou uma série de dificuldades como aquelas já constatadas no passado.

A atual LDBN abriga no seu título V, capítulo II, a seção V denominada de educação de jovens e adultos. Logo, a EJA constitui-se numa modalidade da Educação básica, nas suas etapas fundamental e média.

Em janeiro de 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de Jovens e Adultos seria uma prioridade do governo federal, para isso foi criada a Secretaria Especial de Erradicação do analfabetismo, cuja meta seria a erradicação do analfabetismo durante o governo Lula. Para alcançar essa meta foi lançado o programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o Governo Federal contribuirá com os estados e municípios, instituições de ensino superior e organizações sem fins lucrativos que desenvolvam projetos de alfabetização. Neste programa, a assistência será direcionada ao desenvolvimento de projetos com as seguintes ações: alfabetização de jovens e adultos e formação de alfabetizadores.

É necessário que o alfabetizador antes de iniciar as atividades de ensino, conheça o grupo com o qual irá trabalhar. Esse conhecimento prévio deve servir de base para o encaminhamento das atividades. A intenção é tornar o processo de alfabetização participativo e democrático. A formação de educadores compreende a formação inicial e continuada. O programa está em andamento, por isso não é possível ainda, afirmar se o objetivo pretendido foi alcançado e se os resultados foram significativos.

Com o término do FUNDEF e o nascimento do FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), em 2006, amplia-se o raio de extensão na organização e distribuição dos

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