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CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS DO CLIMA NAS CIDADES: O CASO DE MARACANAÚ/CE

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Academic year: 2021

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CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS DO CLIMA NAS CIDADES: O CASO DE MARACANAÚ/CE

Alana de Aquino Cajazeira Universidade federal do Ceará

Alana.geoufc@gmail.com

Maria Elisa Zanella Universidade federal do Ceará

elisazv@terra.com

INTRODUÇÃO

As atividades industriais, o crescimento demográfico acelerado, as ocupações desordenadas, a deficiência de infra-estrutura básica, as desigualdades socioeconômicas, repercutem no ambiente urbanizado e na qualidade ambiental das cidades.

O processo de urbanização, acelerado pós revolução industrial, implicou num quadro de instabilidade total das cidades que se formavam, com desequilíbrio populacional entre as áreas urbana e rural, ocasionando um “inchaço” dos grandes centros urbanos, centralização da produção, consumo e circulação de mercadorias nas cidades, gerando fortes disparidades e segregação socioeconômica, insuficiência de infra-estrutura e habitação, aumento da pobreza e favelização. Ou seja, a mais completa deterioração das condições de vida nas cidades.

Nesse sentido, a análise do clima das cidades ganha destaque, tendo em vista representar um dos elementos do sistema ambiental mais afetado pelo processo de urbanização, devendo ser tratado entre os mais importantes componentes da qualidade ambiental nas cidades.

Segundo Mendonça (2003), o clima constitui-se em uma das dimensões do ambiente urbano cujo estudo tem oferecido importantes contribuições ao equacionamento da questão ambiental, buscando não só identificar os fatores responsáveis pela formação e dinâmica de um clima específico nas cidades, como também gerar subsídios e diretrizes voltadas ao planejamento urbano.

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ocasionadas principalmente pelos processos de urbanização e industrialização vividos pela cidade.

Maracanaú começa a configurar-se como aglomerado urbano no final do século XIX, principalmente devido à proximidade com Fortaleza, que se encontrava em acelerado processo de crescimento, induzindo a continuidade de suas funções urbanas para outros municípios. Porém, é somente a partir da década de 1960, que Maracanaú passa a sofrer mudanças significativas em sua estrutura urbana, quando ocorre a instalação do primeiro Distrito Industrial do Ceará, como resultado da política de desenvolvimento industrial do Estado.

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Aliada a política de instalação do Distrito Industrial, o Governo do Estado iniciou, a partir de 1979, a construção de grandes conjuntos habitacionais populares na periferia do distrito, justificados pela necessidade de suprir a carência de mão-de-obra para as indústrias locais. Os conjuntos funcionariam assim, como locais de disposição da força de trabalho ali demandada.

A instalação do distrito e toda a infra-estrutura que a atividade industrial demandou, juntamente com a construção desses conjuntos habitacionais, proporcionaram grande expansão da malha urbana de Maracanaú e um crescimento populacional vertiginoso, gerando problemas que alteraram profundamente sua dinâmica social e ambiental. A partir daí, a dinâmica de ocupação da cidade passou a se processar de forma acelerada e intensiva. Segundo dados de população estimada do IBGE (contagem da população - 2009), Maracanaú possui, hoje, população de 201.693 habitantes, dos quais, até o ano 2000, 99,68% habitavam a zona urbana.

O processo de urbanização desordenada da cidade acarretou em elevados níveis de degradação ambiental e de qualidade de vida da população local decorrentes, principalmente, da concentração populacional e de equipamentos urbanos sem o devido planejamento, como edificações comerciais, residenciais e atividades industriais.

Em Maracanaú, as instalações industriais e as ocupações desordenadas provocaram a retirada da cobertura vegetal, impermeabilização e contaminação dos solos e corpos hídricos, aumento na circulação de veículos e pessoas, o ar intra-urbano tornou-se poluído, características que representam o desequilíbrio ecológico que assola seu meio urbano.

A cidade, como um todo, cresceu sem um planejamento adequado, porém os conjuntos habitacionais construídos representam os ambientes mais afetados pelo desenho industrial assumido pelo município. A carência de medidas planejadoras pode ser facilmente observada quanto à disposição do Distrito Industriai em relação à direção predominante dos ventos. Os conjuntos habitacionais foram construídos a oeste do distrito industrial, para onde normalmente se dirigem as correntes de ventos que atuam sobre a Região Metropolitana de Fortaleza (leste para oeste).

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Distrito Industrial de Maracanaú e seus Conjuntos Habitacionais Fonte: Prefeitura Municipal De Maracanaú

Desse modo, o Distrito possibilita a dispersão de vários tipos de poluentes e odores pelas residências dos conjuntos, comprometendo a qualidade do ar e o conforto térmico para a população que ali reside, bem como, ocasionando uma série de problemas de saúde pública. Trabalhos anteriores já apontavam tal anomalia, como em CETREDE (1983), Almeida e Rosen (2003), e mais recentemente em Almeida (2005).

As atividades industriais, o crescimento demográfico acelerado, as ocupações desordenadas, a deficiência de infra-estrutura básica, as desigualdades socioeconômicas, repercutem no ambiente urbanizado e na qualidade ambiental das cidades. Dessa forma, nossa proposta pautou-se na identificação de possíveis alterações na dinâmica climática local, provocadas pelas atividades desenvolvidas no distrito industrial, e seus reflexos na qualidade de vida das populações que lá residem.

REFERENCIAL TEÓRICO - METODOLOGICO

A cidade e os frutos do processo de urbanização alteram significativamente o clima em virtude da intensidade do uso do solo que ocorre nessas áreas. O descontrole em que se dá o uso do solo urbano produz desconforto ambiental de várias ordens (térmico, acústico,

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visual, de circulação) resultando em uma ambiente desagradável para se viver e trabalhar (LOMBARDO, 1985).

Ainda segundo Lombardo (1985), o ambiente urbano apresenta alterações climáticas muito diferenciadas das áreas circunvizinhas. Com isso, chegou-se a conclusão que a intensidade da urbanização, expressa em termos de espaço físico construído, altera significativamente o clima:

...essas alterações variam de cidade para cidade em virtude da intensidade de uso do solo, do processo de crescimento urbano e das características geoecológicas do lugar(LOMBARDO, 1985, p. 22).

Desse modo, pode-se afirmar que a cidade gera uma espécie de clima próprio (clima urbano), “resultante da interferência de todos os fatores que se processam sobre a camada de limite urbano e que agem no sentido de alterar o clima em escala local” (BRANDÃO, 2003, p.122).

No Brasil, as preocupações com o clima das cidades surgiram a partir da década de 1970, principalmente, por meio da contribuição pioneira do Professor Dr. Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, através da construção do Sistema Clima Urbano (SCU), proposta teórico-metodológica que norteia os estudos de clima urbano no Brasil até os dias de hoje.

Alicerçado sobre a Teoria Geral dos Sistemas, proposta por L. V. Bertalanffy em 1968, o SCU constitui-se em uma abordagem metodológica para o estudo do clima urbano adaptado a realidade brasileira, tratando-se, hoje, do referencial teórico básico daqueles que analisam o clima das cidades. Ao propor o estudo do Clima Urbano sob o ponto de vista sistêmico, Monteiro ressalta a necessidade de análises que enfatizem os diversos elementos que compõe o sistema observado (a cidade) e suas inter-relações.

A proposta do SCU liga-se fundamentalmente à percepção humana por meio de três canais principais, a saber, o canal do conforto térmico, de qualidade do ar e de impactos meteóricos. Segundo Monteiro (1976, 24), são usados canais de percepção humana na referida proposta, pois “o homem deve constituir sempre o referencial dos problemas e valores dos fatos geográficos”.

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locais, impactando de maneira negativa nos níveis de conforto, desempenho e saúde da população (SANT`ANNA NETO, 1998). Porém, uma das maiores representações das alterações no clima das cidades diz respeito aos índices de temperatura do ar. Entre as variáveis climáticas, a temperatura é a que mais evidencia a formação do clima urbano, onde “qualquer modificação brusca de temperatura afeta todo o equilíbrio climático local” (Lombardo 1985, 27).

Dessa forma, foi através do subsistema termodinâmico, ou canal do conforto térmico do Sistema Clima Urbano, que abordamos o clima de Maracanaú. Tal enfoque conduz ao referencial básico para a noção de conforto térmico humano.

O subsistema termodinâmico estrutura-se a partir da variável temperatura, associado aos parâmetros de ventilação urbana e umidade relativa do ar. Esse canal é considerado por Monteiro o ponto de partida para os outros elementos do clima urbano, pois as variáveis termodinâmicas não só conduzem ao referencial básico para a noção de conforto térmico urbano como “são, antes de tudo, a constituição do nível fundamental de resolução climática par onde convergem e se associam todas as outras componentes” (MONTEIRO, 1976, p.126).

Para a caracterização do clima urbano de Maracanaú realizou-se pesquisas enfatizando o canal termodinâmico, principal responsável pelo fator de conforto térmico humano e qualidade ambiental. Foram levantados dados de campo referentes à temperatura do ar, direção e velocidade dos ventos e umidade relativa do ar, em cinco pontos distintos da cidade, através de mensurações horárias (7 às 16 h), nos meses de dezembro de 2009 e maio de 2010, correspondendo aos períodos seco e chuvoso, respectivamente.Tais pontos foram selecionados a partir de critérios como uso e ocupação do solo e localização dos mesmos quanto à proximidade com o Distrito Industrial.

OBJETIVOS

O objetivo geral desse trabalho era o de identificar e caracterizar o Clima Urbano de Maracanaú-CE, a partir de suas condições climáticas diferenciadas, ocasionadas principalmente pelos processos de urbanização e industrialização vividos pela cidade. Com

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isso buscávamos analisar a influencia do uso e ocupação do solo de Maracanaú nos mais diversos parâmetros climáticos definidores das condições de conforto térmico humano. Investigamos então as características climáticas de Maracanaú, sobretudo nas áreas de maior influencia do Distrito Industrial, que são os conjuntos habitacionais (Conjuntos habitacionais Jereissati I, Novo Maracanaú e Acaracuzinho) localizados no entorno do mesmo do Distrito.

Buscamos com isso, espacializar as áreas de maior e/ou menor temperatura a partir das características geoecológicas do sítio e das diferenças de uso e ocupação do solo na cidade. Com isso pudemos, assim, identificar as alterações no campo térmico local, provocadas pelas atividades desenvolvidas no Distrito Industrial, e seus reflexos no conforto térmico humano da população maracanauense;

Dessa forma, as distintas formas de ocupação do solo de Maracanaú explicadas pelo processo de urbanização peculiar do município, demonstraram os diferentes padrões de comportamento do clima intra-urbano. Com isso, pudemos chegar às proposições objetivas para a pesquisa em torno da necessidade de se considerar as peculiaridades climáticas no planejamento e gestão da cidade.

RESULTADOS PRELIMINARES

A resposta térmica das mensurações e observações realizadas confirmam a tese de que as atividades industriais, a intensa urbanização e as características do uso do solo local, são responsáveis pela distribuição diferenciada das temperaturas em Maracanaú.

Vale ressaltar também a importância da relação de uso e ocupação do solo com os elementos do sítio urbano maracanauense, especialmente o relevo, como fatores de influencia nas características climáticas locais.

Dessa forma, o comportamento dos pontos amostrais variaram conforme suas características de densidade de construção, arborização e localização quanto as atividades industriais.

Quanto ás temperaturas, os conjuntos habitacionais Acaracuzinho, Novo Maracanaú e Jereissate I alternaram-se apresentando as temperaturas mais elevadas durante todos os

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maior densidade de edificações e construções ao redor , além das menores presenças de vegetação natural.

Tais condições vêm a ser justificadas então quanto a proximidade desses conjuntos do Distrito Industrial. As elevadas temperaturas do Conjunto Acaracuzinho, bem como as do Jereissate I e Novo Maracanaú estariam associadas as questões de ventilação condicionada pela disposição do distrito industrial com relação a direção predominante dos ventos na RMF. Os conjuntos habitacionais teriam sido construídos a oeste do distrito industrial, para onde normalmente se dirigem os ventos no local (leste para oeste), atuando como barreira a ventilação local e possibilitando a dispersão de vários tipos de poluentes pelas residências.

O Conj. Acaracuzinho se destacaria negativamente nessa questão por ser o mais próximo das indústrias de maior porte do D.I, seguido pelo Novo Maracanaú. Já o Conjunto Jereissate se mostra menos influenciado pela disposição do D.I, já que se localiza a sudoeste do Distrito e com uma distancia considerável das atividades, porém, com condições de temperatura e conforto bastante comprometidas pelo forte adensamento populacional e de construções, além do grande fluxo do Centro comercial que o bairro abriga.

Em contraposição a essa situação encontram-se o bairro Olho d’água e o Distrito de Pajuçara, onde se localizam os dois últimos pontos de coleta de dados. O primeiro, localiza-se á leste do D.I, não sofrendo tanta interferência pela questão da ventilação local. Já o segundo, localiza-se ao sul do município, nos limites com Pacatuba e Maranguape, configurando o que ainda resta de zona rural da cidade, portanto também não apresentou maiores alterações por conta das atividades industriais.

Os menores valores de temperatura, bem como os maiores índices de umidade relativa do ar, se deram nos pontos Localizados no Olho d’água e Pajuçara, principalmente devido a maior ventilação nessas áreas. Lembrando também as características de forte arborização do Bairro Olho d’água, a proximidade de corpos hídricos, aumentando os níveis de evaporação na configuração da umidade relativa do ar local, devido a sua proximidade às vertentes úmidas da serra da Monguba.

O ponto que exibiu maiores taxas de ventilação também foi o do Bairro Olho d’água. Acredita-se, novamente, que tal fato se dá por conta de sua localização (próximo a vertente úmida) e riqueza de arborização. Já os pontos que registraram menores índices foram os Conjuntos Jereissate I e Novo Maracanaú, devido, principalmente, a concentração de

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edificações no Centro comercial do Jereissate, e os materiais constituintes no entorno do ponto no Novo Maracanaú.

Quanto ao fluxo de veículos e pessoas o Distrito de Pajuçara e o Conjunto Jereissate I apresentaram, em todos os horários e dias monitorados, os maiores fluxos. O primeiro, justificado pelo fato de o local de medição se localizar próximo a um hospital de referência da cidade, e o segundo, por serem as medições realizadas em frente ao North Shopping Maracanaú. Os demais pontos dos conjuntos Acaracuzinho e Novo Maracanaú e Bairro Olho d’água não demonstraram fluxos que representassem grandes alterações no clima em escala local.

Essas unidades habitacionais representam, dessa forma, a total ausência de planejamento na orientação do desenvolvimento industrial do município e no controle do uso do solo local.

Lembrando também que Maracanaú não conta com uma estação meteorológica local para diagnosticar eventuais mudanças ou interferências em seu clima devido o processo de urbanização e atividades das indústrias locais. Entretanto, a cidade apresenta microclimas que precisam ser levados em consideração pelas autoridades competentes, para que sejam tomadas medidas visando a melhoria da qualidade ambiental e de vida da população local.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, L. Q. de. Diagnóstico socioambiental e contribuições para o planejamento

ambiental do município de Maracanaú – CE. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 15,

2005.

ALMEIDA, M. G.; ROSEN, T. J. Desenvolvimento urbano e a questão ambiental no Estado do Ceará. In: Fórum da Sociedade Civil Cearense sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Diagnóstico sócio-ambiental do Estado do Ceará: o olhar da

sociedade civil. Fortaleza: BNB, 1993.

BRANDÃO. A. M. de P. M. O clima urbano na cidade do Rio de Janeiro. In: MENDONÇA, F.; MONTEIRO, C. A. de F. (orgs.). Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003.

CETREDE. Distrito industrial: fator de expansão urbana. Fortaleza: Curso de Desenvolvimento Urbano e Regional, 1984.

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LOMBARDO, M. A. Ilha de Calor nas Metrópoles – o exemplo de São Paulo. São Paulo: HUCITEC, 1985.

MENDONÇA, F. Clima e planejamento urbano em Londrina. In: MENDONÇA, F.; MONTEIRO, C. A. de F. (orgs.). Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003.

MONTEIRO, C. A. de F. Teoria e clima urbano. São Paulo: Instituto de Geografia, Universidade de São Paulo, 1976 (Série Teses e Monografias n° 25).

SANT'ANNA NETO, J. L. Clima e organização do espaço. Boletim de Geografia, Maringá, ano 16, n.1, 1998.

Referências

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