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A MULHER SÁBIA EDIFICA A SUA CASA, MAS A INSENSATA A DERRUBA : UM ESTUDO SOBRE A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA IGREJA E FAMÍLIA ( )

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Academic year: 2021

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(1968-1990)

Michele Soares Santos1

Resumo

A presente comunicação teve por objetivo analisar a participação de uma mulher na Igreja pentecostal Assembleia de Deus (AD) de Eunápolis, buscando compreender o motivo de sua conversão, sua atuação e as influências da religião na percepção sobre si e na sua atuação familiar. O recorte temporal limitou-se aos anos de 1968 a 1990, período correspondente ao processo de conversão até o desenvolvimento da atuação da depoente na Igreja de forma mais enfática. A relevância desta pesquisa deve-se principalmente a presença significativa da AD no Brasil e a contribuição feminina no seu crescimento, compondo a maioria do corpo de membros, especialmente na cidade de Eunápolis.

Palavras-chave: Conversão; Participação; Mulher; Violência.

1. Introdução

O objetivo deste artigo pautou-se na análise de uma entrevista realizada com uma membra da denominação Assembleia de Deus de Eunápolis, cuja intenção foi perceber a sua participação na AD, incluindo nisso desde o processo de conversão até os trabalhos desenvolvidos por ela dentro da denominação. Ao trabalhar com essa fonte, preocupou-se em identificar o significado da religião na vida da depoente, bem como as influências exercidas em suas práticas cotidianas.

As questões que nortearam este estudo foram as seguintes: quais motivos culminaram na sua conversão? Qual o significado da religião na sua vida? Qual sua participação dentro da denominação? Como se percebeu e percebe na família? Qual sua interpretação sobre uma “mulher virtuosa”?

O recorte temporal limitou-se aos anos de 1968 a 1990, período que corresponde a trajetória religiosa da depoente na igreja de modo mais intenso. Esta pesquisa encontra-se alicerçada em bibliografias que versam sobre o tema.

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2.Um estudo sobre a participação feminina na igreja e família (1968-1990)

A história da Assembleia de Deus em Eunápolis data da década de 1950, período em que recebeu a visita do pastor Teodoro Feliciano Santana que visualizou nessa cidade um potencial para a implantação da AD. Inicialmente as reuniões litúrgicas foram realizadas nas casas dos adeptos ao movimento pentecostal. Em 1966 foi construído o templo da Igreja no centro da cidade na av. Santos Dumont sobre a direção do pastor Dorival Almeida Guedes. Na década de 1970, o pastor Antônio Francisco dos Santos iniciou o processo de expansão da A.D através da criação das congregações nos bairros de Eunápolis (ATA, 1966).

A entrevistada, por nome de Débora2 frequenta a sede, que se encontra localizada no

centro da cidade. Nasceu em 1953 na cidade de Buerarema (distante de Eunápolis cerca de 199, 9 Km), mudou-se juntamente com a sua mãe para o Povoado 643 por volta dos 10 anos de idade,

provavelmente na década de 1960. Sua mãe assim como tantas mulheres brasileiras se viu obrigada a criá-la sozinha, sem ajuda do genitor masculino, que se absteve da responsabilidade de registrá-la oficialmente na documentação e de educá-la. Ora, esse não é um caso novo ou isolado, foi e ainda é recorrente na sociedade brasileira, principalmente em décadas anteriores como é possível perceber a partir de pesquisas.

Estudos como de Alberto Heráclito Salvador das mulheres, condição feminina e cotidiano popular na belle époque imperfeita apresenta uma contribuição significativa. Em sua pesquisa, Ferreira Filho (1994) tem como objeto o estudo de mulheres pobres na cidade de Salvador na primeira República. No I capítulo que intitulou como Quem pariu Mateus que Balance o autor ressaltou que nesse período estava sendo introjetados valores burgueses a partir do processo de modernização na cidade Salvador e que estes não condiziam com a realidade das mulheres de classes populares, que desempenhavam diversas atividades no espaço público em busca do seu sustento e da sua família, tais práticas iam de encontro a propagação de um modelo de mulher reservado ao espaço doméstico, enquanto o homem era destinado ao espaço público, responsável pelo sustento da família.

Assim, com objetivo de propagar e efetivar um modelo de família nos moldes burgueses, novos papéis sociais entraram em cena. A concepção de família considerada como correta devia ser composta por pai e mãe, sendo de ambos a reponsabilidade na criação dos filhos/filhas, cada qual com obrigações diferentes, o homem seria o provedor, a autoridade dentro de casa e a mulher a que cuidaria da família, indo de encontro com a realidade e as sequelas do sistema escravocrata.

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Assim, mulheres pobres, negras, mães solteiras, ainda eram as únicas responsáveis pela sua prole. Sua circulação pelos espaços públicos, socialmente destinados aos homens, incidia em constantes críticas, formadas por uma sociedade que passavam pelo processo de incorporação de valores morais burgueses.

Apesar do autor trabalhar com um contexto e recorte espacial divergente deste artigo, a dissertação em questão foi importante por proporcionar uma discussão sobre a situação de vulnerabilidade em que as mulheres foram expostas diante do abandono paterno. Distante da capital baiana, observou-se que a história de Débora coincide com a de tantas meninas brasileiras, nunca conheceu o pai, não sabe seu nome e nem foi registrada por ele. Devido a condição econômica de sua mãe, teve de interromper os seus estudos para ajudá-la no restaurante que tinha aberto no Povoado, única fonte de renda na época.

Aos 16 anos casou-se,

aí eu casei sem quas sem querer, né? Pra fazer mais os gostos da minha mãe, aí na época eu não quis casar no civil, eu não vou me amarrar nova desse jeito, eu não vou casar no civil, aí casei só no padre porque naquela época casava só no padre, não era obrigatório casar no civil, aí minha vida só foi um fracasso, três mês de casada comecei sofrendo, descobri que meu marido tinha uma mulher, eu novinha, uma criança ainda. E ele era muito mulherengo, bebia e meu sofrimento começou, aí com 10 anos de casado foi quando eu aceitei a Jesus (DÉBORA, 2018, grifo da autora).

No extremo sul da Bahia, em uma cidade do interior, percebeu-se casos de meninas que se casaram novas e de como isso era visualizado entre as classes baixas como um acordo, uma forma de dividir as despesas, ou para satisfazer a vontade de um ente querido como foi o exemplo de Débora. A depoente se casou duas vezes, o primeiro não foi bem sucedido, como relatado na citação acima, seu esposo era adúltero, que ela o adjetivou-o como mulherengo”,

Débora sempre trabalhou e conforme informações fornecidas infere-se que ela era a principal responsável pelo sustento do lar, seu esposo bebia muito, o que comprometia o orçamento da família. Entretanto isso não implicou no abalo de sua autoridade, de sua virilidade que era expressa a partir do seu envolvimento em relações extraconjugais.

Assim, observou-se que essa distinção está pautada em papéis sociais atribuídos a noção de feminilidade, a qual há muito tempo esteve na incumbência de submissão por meio da prática de controle que se manifesta sob os corpos, como também a perspectiva de masculinidade parte de uma acepção machista de aprisionamento do então exaltado “cabra macho”.

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Eu quando, antes de casar tinha uma amiga que me chamava e que era da Assembleia, essa vizinha chamava Tati, o esposo dela chamava João ...aí eu pra meus 15, 16 anos, aí ela sempre me chamava pra igreja e eu ia com ela pra igreja visitar, mas aí eu comecei aquele amor, aquela feição pela igreja, aí depois de casada sempre eu falava, se um dia eu ser crente eu vou ser crente da Igreja Assembleia de Deus, aí com 10 anos que eu tinha casado, através do sofrimento, até mesmo que eu vivia com o marido, eu digo não, a minha solução agora é ir pra igreja, eu já não guento mais tanto sofrimento, vou sofrer, mais sofrer junto com Cristo, aí foi quando eu resolvi aceitar Jesus que ele não, não concordou em eu ser crente, aí que o sofrimento dobrou mais ainda (DÉBORA, 2018).

No trecho acima foi perceptível a violência de gênero que Débora vivenciou durante o seu casamento e de como a religião foi concebida por ela como uma solução, um acalento de alma. O sofrimento que vivia impulsionou a buscar na AD uma alternativa para ajudá-la a suportar os problemas domésticos. Para compreensão sobre a religião, o sentido e o seu significado na vida das pessoas Rubem Alves foi imprescindível. Alves (2012, p.20) a define como “teias de símbolos, rede de desejos, confissão da espera, horizonte dos horizontes, a mais fantástica e pretensiosa tentativa de transubstanciar a natureza”.

Quando o referido autor a concebe como “teias de símbolo” faz inferência a capacidade do homem em sacralizar o elemento mais simples, visível e concreto para o campo do simbólico, exemplo disso é o pão e o suco da uva, representando o corpo e sangue de Jesus durante o ritual da santa ceia, o que para os que não comungam da mesma fé pode parecer incompreensível. Mas porque transubstanciar a natureza? A partir de Alves (2012) depreende-se que o homem/mulher na busca por meios que o/a ajude a lidar com as dificuldades e as incertezas diárias deposita a esperança na vida eterna ou em qualquer outra representação para suportar as adversidades cotidianas.

No final do trecho Débora disse o seguinte: “aí foi quando eu resolvi aceitar Jesus que ele não, não concordou em eu ser crente, aí que o sofrimento dobrou mais ainda” (DÉBORA, 2018). A partir desse relato foi perceptível que apesar de seu esposo ser contrário a sua conversão, era não desistiu. Isso se deve ao significado da religião na sua vida e de como isso em parte ajudou-a enfrentar as barreiras levantadas pelo marido.

No tocante a essa discussão, Sueli Souza (2012) sinaliza que a religião também se apresenta como espaço alternativo de poder, a depender das Igrejas, mulheres são ordenadas a pastoras, como é caso da Igreja do Evangelho Quadrangular, em outras como a A.D não é permitido a consagração de mulheres ao pastorado, mas possibilita outras vias de atuações como: líder de grupos de jovens, adolescentes, crianças e senhores e senhoras; superintendente

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da Escola Dominical, professora da EBD; dirigente do círculo de oração; evangelista, recepcionista, dentre outras mais.

Quando perguntada se exercia alguma função na AD, Débora respondeu o seguinte,

Do círculo de oração, praticamente desde que aceitei Jesus. Faço parte, da, da, da festa da...como é o nome? Da UMADE que é a festa de senhora, que foi esse Congresso que teve de 68 anos da Assembleia de Deus aqui de Eunápolis, eu faço parte dessa festa todo ano, nunca fiquei de fora. [...] A UFADE, eu falei errado. E também já cozinhei pra, pra reunião de obreiros, reunião assim de filho de obreiro, obreiro e filho de obreiro, aí todo mês tem uma reunião e a gente cozinha, cozinhava para essa reunião, aí eu cozinhei 12 anos, parei agora por, por, por motivo desse problema que...da veia que entupiu, né? Aí eu não to cozinhando mais, mas também cortaram comida, não faz mais comida. Fui recepcionista na porta da igreja por um 12 a 13 anos, deixei agora por motivo da saúde (DÉBORA, 2018).

O círculo de oração é um grupo dirigido por mulheres, representa para os/as membros/membras da denominação um papel de suma relevância. Nele pessoas depositam seus pedidos de oração, seja por sua vida, de um ente querido ou de um amigo. Além desse, Débora participa da União Feminina da Assembleia de Deus de Eunápolis (UFADE) composto por mulheres casadas. Foi também recepcionista (12 a 13 anos) e atuou durante um período como cozinheira (12 a 13 anos).

Sendo assim, foi preciso pensar a religião partir de uma relação dialética entre os que detêm o capital simbólico, que produzem conhecimento de mundo através de ensinamento religioso, criando costumes e normatizações e os que recebem e interpretam a partir de suas necessidades (BOURDIEU, 1992). Ora inegável que nesse caso a religião tem servido para a manutenção de ordem social, colaborando e legitimando as desigualdades de gênero, reservando para os homens os cargos eclesiásticos que tem grande representatividade na denominação, ou seja, impedindo as mulheres de ocuparem esses espaços de poder, entretanto é preciso buscar compreender o que a religião representou/representa para mulheres como Débora.

Mesmo com o sofrimento que seu esposo a fizera passar, isso não a conduziu a separação, se manteve com ele até a sua morte,

Na enfermidade, no hospital, ele me pediu perdão de tudo que ele tinha me feito sofrer e eu perdoei, apresentei ele a Deus, naquela hora ele levantou a mão aceitando Jesus e eu fiz uma oração por ele, pedindo a Deus pra receber ele e escrever o nome dele no livro da vida [...] ele que antes não aceitava ser crente de jeito nenhum, chegou a ponto até de quebrar coisas dentro de casa quando eu ia pra igreja, e ele as vezes queria me bater e rasgar a bíblia, fazer

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muito arruaça pra me tirar de Cristo, mas eu suportei tudo isso por amor a Cristo, não desisti, fui até o fim (DÉBORA, 2018).

Pode-se inferir algumas considerações, a primeira corresponde ao fato de seu esposo ter se mostrado intolerante quanto a sua prática religiosa. A segunda que, quando hospitalizado recebeu os cuidados de sua esposa, pedindo-a perdão e se convertendo a religião, esse, um ato meramente simbólico e com um grande significado para a comunidade religiosa. A terceira questão refere-se a violência psicológica e física que Débora foi vítima durante seu casamento e o fato dela não conceber dessa forma. Observou-se que na sua vida a religião representou para além de acalento das dores, o conformismo,

As vezes ele saía pros bares pra beber e aí junto dizia assim os colegas: - é, imaginando voltar pra casa porque a mulher me pegou com uma nega e chegar lá em casa vai ser um pau pra quebrar e ele dizia: - pois eu não, eu, eu tenho uma esposa, eu passo dois, três dias na rua sem nem dar notícia que tô na rua, sem dar satisfação a ela. Quando eu chego em casa, é o banho e a roupinha limpa, ela me entrega a toalha na mão e a cueca na mão, quando eu venho do banho já tá a mesa posta, viu? E, e, e minha mulher é assim, ela não me reclama por nada, se tem o que comer ela tá alegre, se não tem ela tá alegre, precisa de ver e, outra [...] outra, eu chego bebo em casa, paro o carro na porta, a minha mulher abre a porta, me tira de dentro do carro, me bota na cama, me cobre e ainda arma o mosqueteiro pra eu...pra as muriçoca não me morder [...] (DÉBORA, 2018).

Um sentimento de orgulho foi expresso pela entrevistada quanto ao seu comportamento com seu esposo. Lideranças assembleianas apregoam e enfatizam a virtuosidade como louvável e esta reflete uma cultura androcêntrica, que colabora para a subalternização da mulher em detrimento da exaltação do homem.

Débora se ver como um exemplo de mulher por desempenhar características socialmente atrelada como provenientemente feminina, tais como: a paciência, a condolência, o cuidado, o respeito, o silêncio, dentre outras mais. Infere-se que na sua percepção, uma “boa esposa” não reclama, cuida de seu esposo, mesmo ele estando bêbado, prepara o seu banho, lava suas roupas e prepara a comida, esse, na sua concepção é o exemplo do “bom testemunho”.

Tal percepção pode parecer absurda, intolerável, pode suscitar várias críticas, questionamentos sobre o que leva a uma pessoa aceitar a essa situação e agir dessa forma? Pode parecer incompreensível, repugnante, entretanto este não é o papel de um pesquisador/pesquisadora, não cabe aqui cumprir o papel de juiz, mas de proporcionar reflexões a partir de uma análise. Se apropriando de Bourdieu, considera-se que os sujeitos influenciam

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e são influenciados por uma estrutura objetiva, produzida e reproduzida por Instituições sociais como verdades absolutas que tendem a naturalizá-las.

Dessa forma, representações de gêneros são construídas e propagadas a partir de uma ótica androcêntrica, incorporadas pelas pessoas no decorrer de suas relações sociais, percebidas como verdades inquestionáveis. Nem sempre as pessoas conseguem perceber as formas de violência que foi vítima,

Sempre vi na dominação masculina, e no modo como é imposta e vivenciada, o exemplo por excelência desta submissão paradoxal, resultante daquilo que eu chamo de violência simbólica, violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas a comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento. Essa relação social extraordinariamente ordinária oferece também uma ocasião única de apreender a lógica da dominação, exercida em nome de um princípio simbólico conhecido e reconhecido tanto pelo dominante quanto pelo dominado [...] (BOURDIEU, 2012, p.08).

Essa violência é introjetada na vida dos sujeitos e naturalizadas, transmitidas a partir de instrumentos de poder como a linguagem, repleta de intencionalidades. Uma criança ao vir ao mundo se depara com normatizações, desde cedo aprende o que é “certo e errado”, a forma como deve-se comportar e falar, aprende uma verdade de ser no mundo, verdade essa que foi e é propagada ao longo dos anos como inquestionável. Assim, as pessoas são expostas as formas de violência para além da física, que muitas das vezes se passam de forma despercebida. Ainda conforme Bourdieu,

Os dominados aplicam categorias construídas do ponto de vista dos dominantes às relações de dominação, fazendo-as assim ser vistas como naturais. [...] A violência simbólica se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante (e, portanto, à dominação) quando ele não dispõe, para pensá-la e para se pensar, ou melhor, para pensar sua relação com ele, mais que de instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo mais que a forma incorporada da relação de dominação, fazem esta relação ser vista como natural; ou, em outros termos, quando os esquemas que ele põe em ação para se ver e se avaliar, ou para ver e avaliar os dominantes (elevado/baixo, masculino/feminino, branco/negro etc), resultam da incorporação de classificações, assim naturalizadas, de que seu ser social é produto (BOURDIEU, 2012, p.46-47).

Quando se observou a fala de Débora não foi identificado qualquer reconhecimento de si como vítima de uma cultura androcêntrica que colabora para a legitimação das desigualdades sociais e que incide assim em práticas violentas, ela não atribui os comportamentos de seu

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companheiro a uma cultura machista, não percebe que a virtuosidade cobrada pela AD as mulheres refletem um sistema binário, para ela, de acordo com o que aprendeu é normal e natural, o que a conduziu a buscar na religião refrigério e até mesmo a transformação do comportamento de seu esposo. Essa violência simbólica retratada por Bourdieu diz respeito a naturalização da feminilidade e masculinidade em que são consolidados por meio da esfera cultural, social, histórica e econômica, o que de fato elucida o poder entre dominador e dominado.

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Considerações

Como construção, a religião reflete os anseios de uma determinada realidade social, conexa a um contexto e uma cultura, como modelo busca exercer controle sobre os corpos dos que compõe o grupo religioso, em sua maioria para servir como marco diferenciador das demais denominações. As oportunidades disponibilizadas aos fiéis podem ter significado na vida dessas pessoas um sentimento de pertencimento e de importância, atendendo aos anseios, principalmente da comunidade carente. Assim, ao ir para a fonte oral, foi possível perceber o motivo que levou a Débora se converter ao pentecostalismo, bem como identificar o que a religião representava para ela naquele momento.

Constatou-se que apesar da religião ter significado na sua vida um sentido e uma explicação para todo o seu sofrimento, também serviu de instrumento de poder através da manipulação de símbolos religiosos para preservação de uma ordem patriarcal e, portanto, excludente e opressiva.

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Fontes

Débora. [ago. 2018]. Entrevistadora: Michele Soares Santos. Eunápolis/BA, 06 de ago. 2018. INAUGURAÇÃO UM TEMPLO EVANGÉLICO ASSEMBLEIA DE DEUS. Eunápolis, 1966. Ata, Eunápolis, 1966

Referências

ALVES, Rubem. O que é religião. São Paulo. Edições Loyola, 2012.

BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Portugal: BERTRAND, 2012.

_______. A economia das trocas simbólicas. Perspectiva, 1992.

FERREIRA FILHO, Alberto Heráclito, Salvador das mulheres, condição feminina e cotidiano popular na belle époque imperfeita. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1994.

SOUZA, Sueli Mota. Cura e Terapia: experiência religiosa de mulheres pentecostais. Salvador: EDUNEB, 2012.

1 Mestranda em História pela UEFS. 2 Optou-se por utilizar pseudônimo.

3 Emancipada das cidades administrativas Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália em 1988, recebendo o nome de

Eunápolis

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