“O cantor deve
considerar que há
muito mais na
respiração do que
apenas o ar
inalado.”
Nancy Zi
Sumário
Introdução 4 Respiração Costodiafragmática Abdominal 8 Apoio Respiratório 11 Escolas Nacionais de Canto 12 Mecanismo do Manejo Respiratório: Escolas Italiana, Alemã e Francesa 14 Escola Italiana 15 Escola Alemã 17 Escola Francesa 18 Sugestões de Exercícios 20 Referências Bibliográficas 23 Sobre a Autora 25Nada como começar esse texto com a velha premissa de que “respirar é sinônimo de vida.” Muito se fala sobre a necessidade de uma boa respiração para salvaguardar a saúde do corpo, pois é através da respiração que geramos energia que o alimenta. Supõese que um mau hábito respiratório possa comprometer o estado psicossomático do organismo humano. Le Huche (1999) distingue três tipos respiratórios: o torácico superior (elevação e abaixamento do tórax),
o torácico inferior (alargamento e estreitamento da base do tórax) e o abdominal (avanço e recuo da parede abdominal), que corresponde a três sistemas musculares distintos. Segundo o autor “o ato respiratório se dá de maneira variável de acordo com o temperamento do sujeito e sua disposição de movimento. Se o espírito se encontra divagando tranquilamente, a respiração é do tipo torácico abdominal. Se está ocupado com pensamentos excitantes ou emocionantes,
a respiração evolui para o tipo torácico superior. Qualquer emoção eleva o tórax...”. Pinho (2001) fala em três modos respiratórios que equivalem à predominância respiratória escolhida em situações de repouso vocal: oral (não recomendada para o canto, por propiciar o ressecamento laríngeo), nasal (ideal por aquecer, umidificar e filtrar o ar inalado) ou mista (nasal/bucal recomendada ao canto e fala, pois garante parte do ar tratado e facilita a tomada rápida de ar).
A instalação e automatização do padrão respiratório “costodiafragmático abdominal”, é sugerida pela mesma autora, como o mais recomendado para o condicionamento muscular e o manejo do sopro durante as variadas demandas vocais no canto. A autora considera benéfico o uso de exercícios de “dissociação” respiratória abdominal/costal (respiração dissociada) para sua adaptação.
Respiração
Costodiafragmática
Abdominal
Em minha prática como cantora e professora tenho com base respiratória os princípios da Escola Italiana, considerada por muitos autores mais fisiológica, e sobre tudo eficiente para as diversas demandas do canto. O que observo em alguns alunos é a dificuldade num primeiro momento, em realizar a abertura das costelas e correta “anteriorização” do esterno, sem a elevação concomitante do tronco.O que supostamente pode provocar tensão laríngea e comprometer o bom funcionamento da técnica. Por isso logo no início do trabalho faço questão de dar noções de cada um dos tipos respiratórios: torácico, intercostal e abdominal procurando “dissociálos”. No caso de alunos com respiração extremamente superior (torácica) indico a instalação primeiramente de uma respiração mais abdominal, antes de se trabalhar a abertura costal propriamente dita. E observo bons resultados por essa prática em meu trabalho.
Manter uma boa postura com o peito aberto, sem rigidez e sem elevação dos ombros, pode facilitar muito o processo de aprendizado da respiração indicada para o canto.
Vale salientar sobre o cuidado com a compreensão do uso do “apoio” no momento da emissão vocal. Nunca se deve pensar no mesmo como um “empuxo enérgico e/ou tenso” que contrai a parede abdominal para dentro durante a emissão de notas mais agudas e longas. Mas sim como um “leve retesamento” da musculatura do abdômen, sem gerar enrijecimento. mantendo o apoio flexível e acionado
Apoio Respiratório
segundo cada demanda vocal no momento do canto: forte, piano, agudo ou grave.Contudo, vejo como primordial e indispensável o uso do apoio para maior controle do fluxo aéreo, tonicidade desejada e boa afinação.
Escolas Nacionais de
Canto
Diferente do canto erudito que possui escolas centenárias já consagradas, ainda é muito recente o estudo de técnicas voltadas exclusivamente para o canto popular.Por isso para uma breve análise, considerei relevante falar das Escolas Nacionais de Canto, para que se compreenda melhor o que supostamente serve como pilar das diversas técnicas respiratórias utilizadas por muitos professores de canto popular. Muito do que se encontra no “mercado”, tem como princípio estudos de fisiologia da voz ou resulta de adaptações da técnica erudita.
Mecanismo do Manejo
Respiratório: Escolas
Italiana, Alemã e
Francesa
Boa parte do que se encontra a respeito das Escolas Nacionais de Canto, faz citação ao estudo realizado por Richard Miller em sua publicação "English, French, German and Italian:Techniques Of Singing”, 2002. Fiz uma pequena resenha do que encontrei de três das principais escolas estudadas por ele: Escola Italiana, Escola Alemã e Escola Francesa.A escola italiana possui grande uniformidade em relação ao manejo da respiração. O “Appogio” (apoio) pode ser definido como uma combinação de respiração esternointercostal diafragmáticaepigástrica. A técnica do apoio é realizada pela postura bem mantida do tórax. Esta escola opõese aos conceitos da escola alemã, sobre o sistema de abaixamento do esterno e da caixa torácica, bem como na fixação das costelas ou do diafragma,
Escola italiana
pois considera a respiração baixa e a pressão abdominal para fora, contrárias ao processo funcional. O tenor italiano Luciano Pavarotti era famoso pelos seus "dós de peito" (emissões da nota dó em uma oitava acima). O seu mais longo dó cronometrado durou 13 segundos.
Escola Alemã
A técnica da respiração baixa é a principal característica da escola germânica. Vários sistemas de respiração são utilizados, como a expansão dorsal abaixada, a contração glúteopélvica, a fixação baixa do diafragma, a barriga distendida e a distensão abdominal mais baixa. A técnica da contração glúteopélvica é usada como meio para alcançar o suporte respiratório (Atemstütze), pois consideram que a fonte de controle muscular está muito abaixo no tronco.Para isso, recomendase que a pélvis esteja inclinada levemente para frente juntamente com uma tensão glútea. A respiração e o apoio são mantidos na cintura, ou mesmo abaixo desta, a coluna de ar mais aprofundada que fixada ou colocada, com bastante participação dos músculos do ventre na expiração.
Escola Francesa
A maior parte da escola francesa é comprometida com a respiração natural, que utiliza o mesmo manejo respiratório para a fala e o canto.Comumente é sugerido que assim como não se pensa em respirar para falar, não de se deve pensar em respirar para cantar. A atenção é direcionada a critérios musicais, na crença de que a frase em si mesma ditará o controle da respiração. A respiração deve permanecer instintiva, uma vez que o ato da respiração funciona automaticamente bem. Os estudantes nesta escola são exortados a relaxarem e a manterem a boa postura, mas raramente direcionados a procedimentos mais específicos.
Sugestões para exercícios:
a) Expire em fff faça pausa, inspire enchendo a região abdominal expandindoa para frente, faça pausa, solte em xxx. b) Expire em fff, faça pausa, inspire enchendo a região abdominal, faça pausa, solte o ar com a consoante “s” em staccatto. c) Expire em fff, faça pausa, inspire e inicie uma contagem (1, 2, 3...) em voz média até onde conseguir, sem o uso de ar residual. Faça o controle desta saída de ar.d) Expirar em “fff” fazer pausa, inspirar enchendo a região das costelas elevando os braços (em forma de odalisca), fazer pausa e soltar em “sss”. Observe se não tensiona os ombros. A região do pescoço deve ficar relaxada. E não pode haver sensação de pressão laríngea. Faça em frente ao espelho pra observar a musculatura do pescoço. e) De costas encoste o quadril na parede e jogue o tronco pra frente. Coloque as mãos nas costelas e inspire procurando alargar esta região sem deixar o tronco elevar, mantenha as costelas abertas, depois expire em fffff.
Obs: É possível realizar os mesmos exercícios acima variando o uso das fricativas surdas “f”, “x” e “s”. Só cuide para que na fricativa “s” o controle de saída de ar, não sofra interferência da língua, que deve permanecer sem tensão. Também procure produzir o som do "f" da forma mais fisiológica possível. Fazer "PSIU", " PUF" contraindo o abdômen para dentro no momento da emissão, procurando manter as costelas permanentemente abertas, ajudam a trabalhar a sensação do apoio abdominal.
Referências Bibliográficas
MILLER, Richard. National schools of singing: english, french, german, and italian techniques of singing revisited. Lanham, Maryland: Scarecrow Press, 2002. LE HUCHE, F.; ALLALI, A. A Voz: Anatomia e fisiologia dos órgãos da voz e fala vol. I, Artemed, Porto Alegre, 1999. PINHO, S.M.R. Fundamentos em Fonoaudiologia – Tratando os Distúrbios da Voz. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1998.QUEIROZ, A. A. Canto Popular: Pensamentos e Procedimentos de Ensino na Unicamp, 2009. 176.f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas. 2009. ZI, N. A Arte de Respirar: Seis lições apara aprimorar o desempenho, a saúde e o bem estar. Ed. Pensamento, São Paulo, 1997.
Sobre a Autora
Ana Cascardo é cantora, produtora, professora de Canto Popular, licenciada em Estudos Socias pela UNIVALI (Universidade do Vale de Itajaí), graduada em Musicoterapia pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná), com formada em Coach Life pela SLAC (Sociedade Latino Americana de Coaching).Atua como professora de canto do Conservatório de MPB de Curitiba desde o ano de 2000, além de realizar e produzir diversas oficinas de canto popular e a preparação vocal de vários artistas paranaenses. Em 2009 publicou seu primeiro Livro/DVD: "Guia Teórico Prático da Voz" em parceria com a fonoaudióloga Dóris Beraldo. Tem dois cds lançados: "Esta Noite Vai Ter Sol", em 2007 e "Ana Cascardo Convida Trio Bonsai", em 2014. É autora do Blog: www.vozteoriaepratica.com.br