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A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO *

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Academic year: 2021

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1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O USO DE TECNOLOGIAS DE

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO *

Claudia de Faria BARBETA (PG-UEL) Resumo: O trabalho propõe-se a apresentar dados preliminares coletados por meio de questionário semiaberto de uma pesquisa que busca conhecer o grau de conhecimento que os professores de língua portuguesa têm sobre o uso das TIC em sua prática pedagógica. Participaram do estudo docentes de língua portuguesa que atuam nas escolas públicas estaduais da cidade de Londrina (PR). Após apreciação dos dados apresentados, infere-se que as iniciativas dos programas oficiais são válidas, no que diz respeito ao desenvolvimento de programas e ações para a qualidade da educação. No entanto, pelas respostas dos professores que participaram dessa pesquisa, há uma enorme lacuna entre o que é proposto e o que é efetivamente desenvolvido nas escolas.

Palavras-chave: formação de professores; TIC; ensino

1 Introdução

A sociedade apresenta mudanças ligadas à comunicação e à informação decorrente do uso do computador nas relações dos seres humanos. A inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) de forma acelerada em todos os campos da sociedade tem promovido formação de uma cultura globalizada. Essa transformação da cultura influencia educação e, consequentemente, a forma de aprender dos sujeitos. Nesse cenário, a escola não está isenta, e nem mesmo poderia ficar, uma vez que é seu papel mediar os conhecimentos de forma dinâmica, oportunizando aos alunos desenvolver habilidades e competências, especialmente aquelas que envolvem o uso de ferramentas das TIC.

Nesse contexto, a formação de professores inseridos nessa realidade tem sido, nos últimos anos, tema bastante debatido nas academias, por grupos preocupados em encontrar uma proposta de educação que dê conta de formar com qualidade e competência um profissional para atuar na docência com saberes diversos e necessários aos novos desafios da sociedade da informação.

Tardif (2002) considera o professor como sujeito ativo de sua própria prática, pois aborda e organiza essa prática a partir de sua vivência, de sua história de vida, de sua afetividade e de seus valores. Para ele, “o pensamento, as competências e os saberes dos professores não são vistos como realidades estritamente subjetivas, pois são socialmente construídos e partilhados” (TARDIF, 2002, p. 233).

Os professores como sujeitos do conhecimento desenvolvem saberes e estão sendo formados, segundo Tardif, em “uma realidade social materializada através de uma formação, de programas, de práticas, de disciplinas escolares, de uma pedagogia institucionalizada, e são também, ao mesmo tempo, os saberes dele” (TARDIF, 2002, p.12).

Essa realidade social materializada, colocada pelo autor, é tudo o que está presente nela, sua real situação, como funciona, sua cultura, suas relações, afirmativas. É essa realidade que direciona a pensar as TIC como elemento existente na sociedade e presente na vida das pessoas, fazendo transformações nos meios de comunicação e de informação.

Assim, saber lidar com as tecnologias em sala e os seus meios de interagir com os alunos e propor novos conhecimentos, é um saber a ser construído na profissão docente.

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Segundo Gimeno Sacristán (2007), os professores necessitam ser formados para lidar com as tecnologias em sala de aula.

Na sociedade da informação, os professores devem se informar mais e melhor, porque vão se tornar mediadores que orientam,estabelecem critérios, sugerem, sabem integrar a informação dispensa para os demais. (GIMENO SACRISTÁN, 2007, p.32)

Neste artigo, buscaremos pistas que demonstrem quais saberes têm sido oferecidos na formação continuada dos docentes para o enfrentamento das TIC como ferramenta pedagógica, uma vez que estamos presenciando uma realidade virtual no processo ensino e aprendizagem, em que os alunos constroem, desconstroem e/ou reconstroem conhecimentos mediados pelo mundo virtual.

Para orientarmos nosso percurso, o ponto de partida será um levantamento, por meio de questionário semiaberto, que busca investigar o grau de conhecimento que os professores têm sobre o uso das TIC em sua prática pedagógica e seu conhecimento de hipertexto, ou seja, como eles entendem o conceito de hipertexto. Como o objeto deste artigo é a formação de professores e o uso das TIC, ficaremos restritos à primeira parte do questionário, em que são investigadas as práticas docentes e o uso das TIC. O estudo foi conduzido seguindo os princípios da pesquisa descritiva e de campo, por meio da utilização da metodologia quantitativa e qualitativa.

Participaram do estudo professores que fazem aulas de Especialização em Ensino e Tecnologia**, ofertado pelo câmpus de Londrina (PR) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

2 Análise dos dados

Como já dissemos anteriormente, esse estudo foi conduzido seguindo os princípios da pesquisa descritiva e de campo, por meio da utilização da metodologia quantitativa e qualitativa. Participaram do estudo treze professores que fazem aulas de Especialização em Ensino Tecnologia, ofertado pelo câmpus de Londrina (PR) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O levantamento de dados foi realizado por meio de questionário semiaberto que busca investigar, em um contexto mais amplo, o grau de conhecimento que os professores têm sobre o uso das TIC em sua prática pedagógica e seu conhecimento de hipertexto, ou seja, como eles entendem o conceito de hipertexto. Nesse espaço, apresentaremos os dados relacionados ao uso das TIC nas práticas pedagógicas.

Dos treze professores que responderam ao questionário, seis tem entre 41 e 50 anos de idade e quatro possuem entre 31 e 40 anos de idade. Em outras palavras, verificamos que a maior parte dos sujeitos são o que Prensky (2001) chama de imigrantes digitais.*** Do universo dos treze sujeitos, todos possuem curso de graduação e sete já fizeram alguma especialização. Um já possui mestrado. Dez professores lecionam nos ensino médio e fundamental e três atendem a educação básica. São professores de história, de arte, de português, de espanhol, de inglês, de sociologia, de geografia e de educação física.

** O curso de Especialização em Ensino e Tecnologia da UTFPR busca atender à exigência de qualificação e

formação continuada no sentido de suprir as demandas atuais de sala de aula. Para tanto, pauta-se na formação integral do ser humano, ou seja, em seus aspectos socioculturais, cognitivos e afetivos, no intuito de melhor qualificá-lo para a docência e para a pesquisa, primando-se por sistematizar e apresentar possíveis soluções para questões atuais, como o emprego de novas tecnologias aplicadas ao ensino e à pesquisa.

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Segundo Prensky (2001) , nativos digitais são aqueles que cresceram cercados por tecnologias digitais. Para eles, a tecnologia analógica do século 20 --como câmeras de vídeo, telefones com fio, informação não conectada (livros, por exemplo), internet discada-- é velha. Os nativos digitais cresceram com a tecnologia digital e usaram isso brincando, por isso não têm medo dela, a veem como um aliado. Já os imigrantes digitais são os que chegaram à tecnologia digital mais tarde na vida e, por isso, precisaram se adaptar.

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Todos afirmaram ter computador em casa e fazem uso do computador na vida pessoal e profissionalmente. Interessante perceber, que 77% dos professores alegaram utilizar, profissionalmente, um computador particular e 23% utilizam o computador da escola onde dão aulas. Quanto ao conhecimento de informática, 46% disseram que aprenderam no dia a dia, com amigos e colegas e 38% aprenderam frequentando cursos nessa área.

Ao analisarmos os dados a respeito da formação inicial dos sujeitos, verificamos que a maioria (62%) não teve conhecimento de informática na graduação. Retomamos, aqui, que, de acordo com as respostas obtidas, a maior parte dos sujeitos está entre 31 e 50 anos, ou seja, são, como Prensky (2001) chamou, imigrantes digitais, ou seja, pessoas que nasceram antes da explosão da internet e meios digitais.

É pertinente perceber que mais da metade dos professores que responderam ao questionário (sete sujeitos) afirmaram utilizar softwares educativos. Entre as justificativas para o uso dessa ferramenta, encontramos:

 Porque agora que estou estudando sobre as tecnologias utilizáveis no ensino e aprendizagem, descobri sua possibilidade e necessidade de aplicação;

 Para trabalhar atividades de fixação;

 Para facilitar a comunicação, para ajudar na aprendizagem;

 Trabalho em um laboratório de informática e preciso desse tipo de método para ensinar;

 Facilitam e agilizam o processo de ensino e aprendizagem.

 Para oferecer autonomia e qualidade de ensino ao aluno com deficiência. Os que justificaram o não uso de software, disseram:

 Porque desconhecia esses softwares;  Por preguiça

 Porque não sabe como utilizá-los.

Entre os softwares utilizados, os professores citaram o material de apoio das apostilas do Positivo, Comunicação Alternativa, jogos on-line, atividades interativas, editores de textos, slides, sites com jogos educativos.

Observa-se que, neste tipo de prática pedagógica, predominam as aulas ditadas e com a transcrição do livro didático. A esse respeito infere-se pelas respostas que as práticas docentes dos professores estão voltadas em sua maioria às aulas expositivas. E, ainda, quando utilizam recursos tecnológicos, são para substituir as informações do manual do professor.

No universo de sujeitos que aceitaram participar desta pesquisa, 54% afirmaram que a Secretária de Estadual de Educação do Paraná (SEED) tem preparado os professores para a utilização dos computadores. No entanto, chama-nos a atenção que 46% do universo pesquisado nunca participaram de cursos de capacitação em tecnologias educacionais ofertados pela SEED. Os docentes que não participaram, justificaram dizendo que os cursos possuem poucas vagas, que poderiam ampliar o número de vagas, que quase não viram colegas que fizeram o curso utilizarem essas ferramentas.

Por outro lado, aqueles que participaram, avaliaram os cursos ofertados como muito bom. Tiveram a oportunidade de aprender a utilizar a lousa digital e o manuseio do tablet educacional, além de programas e ferramentas que a plataforma Linux oferece. A escassa capacitação fornecida aos docentes carece de um enfoque coerente com os princípios que guiam esse processo de incorporação de tecnologias à educação, pois, de acordo com as respostas dos sujeitos, foram fornecidos predominantemente elementos para operar o computador, para comunicar-se via correio eletrônico ou navegar pela internet, mas não se

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trabalhou com a planificação e geração de atividades pedagógicas na classe, com o acompanhamento do rendimento dos alunos, etc..

A maioria dos sujeitos no universo pesquisado sente-se motivado em participar de cursos de capacitação tecnológica. Parece um contrassenso se consideramos que na questão anterior, quase a metade negou já ter participado de cursos oferecidos pela SEED. Entre as justificativas apresentadas, estão:

 Quando comecei a especialização aqui na UTFPR comecei a me interessar pelo uso do computador no ensino, com vídeos, música, jogos;

 Porque trabalho há alguns anos nessa área e me sinto motivada a aprender cada vez mais;

 Para aprender novas formas de trabalhar e para conhecimento pessoal;

 Porque na atualidade as informações estão sendo adquirida com mais rapidez, portanto, faz-se necessário os cursos para orientação dos indivíduos;

 Porque tenho compromisso com o desenvolvimento;

 Ampliar conhecimento e tornar meu trabalho mais dinâmico;  Quero estar atualizada e poder aprender com as novas tecnologias;  Para aprender um pouco mais sobre a tecnologia na educação;

 Porque amplia meus conhecimentos em tecnologia e como posso utilizar os recursos tecnológicos;

 Porque chama a atenção dos alunos;

 Para ter mais conhecimento dentro da área tecnológica.

Os professores que não se sentem motivados a participar de cursos de formação em TIC, afirmaram que:

 O dia a dia nas escolas é tão estressante (trabalho 40 horas semanais), que não dá ânimo para fazer nenhuma outra atividade para além da escola;

 Porque nos capacitamos, mas não podemos colocar em prática dentro das escolas. Muitas escolas não têm wi-fi, não possuem lousas digitais e nem tablets para os alunos. Nos laboratórios os computadores sempre estão bloqueados e se você comunica para a direção solicitar a manutenção, "você" como profissional é taxado de chato, pois está incomodando a logística da escola.

Essas duas últimas observações já parecem lugar-comum nas respostas dos professores. No entanto, não podemos negar que muitas escolas apresentam uma estrutura física precária e os professores são sobrecarregados com a jornada de trabalho de sala de aula, não lhes sobrando muito tempo para a realização de outras atividades tais como estudos, planejamento e pesquisa.

A questão seguinte pediu, em questão aberta, a opinião dos professores a respeito de como deveriam ser os cursos de formação contínua (capacitação) para o uso das TIC. Grande parte respondeu que as atividades deveriam envolver mais prática e menos teoria, de forma contínua, em módulos básico, intermediário e avançado. Um dos sujeitos propôs que os cursos fossem em laboratórios bem equipados nas escolas, inclusive com a participação de estudantes que se tornariam monitores auxiliares.

Ao serem indagados, em outra questão aberta, sobre o que falta nos cursos de capacitação para que os objetivos propostos sejam alcançados, as respostas encontradas podem ser agrupadas da seguinte forma:

 Muitos docentes ainda têm resistência ao lidar com as tecnologias, pois não sabem manusear tablets, smartphones, notebooks e não assumem isso por vergonha;

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 Investimentos em recursos físicos e humanos, disponibilidades dos professores e maior divulgação;

 Faltam mais profissionais para que sejam ofertados cursos com flexibilidade de horários;

 Atividades práticas, algo que realmente funcione, sem muita teoria;

 Expor os objetivos pretendidos para que os cursistas entendam o que estão fazendo ali.

Fica claro que a proposta de formação de professores, para utilizar as TIC, está voltada à capacitação em serviço. O que percebemos é que o professor não está preocupado em ser realmente um sujeito que produz conhecimentos, mas quer trabalhar com atividades práticas prontas, como um técnico e não como um intelectual. O que o docente cobra dos programas oficiais são cursos com o propósito de formar professores em grande demanda e instrumentalizá-los para a sala de aula, sem propor uma formação que dê subsídios teóricos metodológicos consistentes para lidar com as situações da docência, sem possibilidades de promover novos conhecimentos. Distanciando com essa formação a possibilidade do professor atuar como intelectual e promover com autonomia e consciência sua prática. Retomando o que disse Giroux (1997), pensar a formação do professor é buscar propostas que tem como concepções de formação uma prática autônoma e intelectual, construindo a identidade de um sujeito que produz, não se limitando à transmissão de dados. Lembramos também que Xavier (2007) defende que o professor dever ser um pesquisador, um articulador do saber e não mais um fornecedor único do conhecimento.

3 Conclusão

Após apreciação dos dados apresentados anteriormente, infere-se que as iniciativas dos programas oficiais são válidas, no que diz respeito ao desenvolvimento de programas e ações para a qualidade da educação. Mas tais ações e programas ainda estão distantes da realidade educacional e das possibilidades de envolvimento dos professores. Além disso, pelas respostas dos professores que participaram dessa pesquisa, há uma enorme lacuna entre o que é proposto e o que é efetivamente desenvolvido nas escolas.

Na verdade, ensinar com tecnologia não é nem mesmo garantia para alcançar a aprendizagem. As TIC são instrumentos para o trabalho pessoal e a prática profissional. É provável que possa, através do seu uso, promover um ensino voltado à pesquisa e muito mais dinâmico. No entanto, não se permite afirmar que a aprendizagem será garantida com a inserção do recurso tecnológico no processo de formação.

Além disso, a ideia de formação continuada que esses sujeitos apresentaram está baseada na concepção tradicional de ensino, em que o professor desempenha o papel de transmissor de conhecimentos.

Percebe-se que para usar as TIC na educação, há a necessidade de preparo tanto do professor como apoio pedagógico, como uma boa estrutura física das instituições de ensino, para que nesse espaço seja possível desenvolver práticas com recursos tecnológicos funcionáveis.

Muitos discursos são apresentados a favor do uso das TIC na educação. Eles enfatizam a qualidade da educação, dando primazia à técnica e se esquecendo de que o processo formativo está além do recurso técnico. Devido a isso, cabe problematizar aqui o papel das TIC na educação. Acreditamos que ela seja e esteja integrada à formação do professor, seja na graduação seja nos cursos de formação continuada, com o objetivo de propor um conhecimento coletivo e dinâmico, e que possa auxiliar na elaboração do conhecimento.

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Referências

GIMENO SACRISTÁN, J. A educação que ainda é possível. Porto Alegre: ArtMed, 2007. GIROUX, H. A. Os Professores Como Intelectuais. Porto Alegre: Artmed Editora, 1997. PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. MCB University Press, 2001. Disponível em: <http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20%20Digital%20 Natives,%20Digital%20Immigrants%20‐%20Part1.pdf>.Acesso em: 26 set 2010.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

XAVIER, A.C. As tecnologias e a aprendizagem (re)construcionista no século XXI. Hipertextus Revista Digital. Volume 1, 2007. Disponível em: <http:

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