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O ENSINO DE HISTÓRIA NO CONTEXTO DO SESQUICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA 1985: PROBLEMÁTICAS PARA O ENSINO NO TEMPO PRESENTE

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O ENSINO DE HISTÓRIA NO CONTEXTO DO SESQUICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA 1985:

PROBLEMÁTICAS PARA O ENSINO NO TEMPO PRESENTE

Luciano Braga Ramos Doutorando do PPGH da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS. lucianohistóriars@gmail.com

O presente trabalho implica em propor uma reflexão crítica que remete ao ensino de história na atualidade nas escolas de Ensino Fundamental e Médio do Rio Grande do Sul. Minha prática de professor de história associada aos meus objetos de pesquisa me levou a refletir atualmente sobre a forma que, ainda as escolas no Rio Grande do Sul, trabalham os objetos de memória associados à Revolução Farroupilha. Ainda, no tempo presente a maneira como se representa a memória farroupilha nos meios escolares mostra a estagnação dessa história que insiste em cultuar os vultos do passado. A problemática se dá, sobretudo, pelo fato das comemorações da Revolução Farroupilha, ainda, a cada 20 de setembro, envolver a comunidade escolar em comemorações que não conseguem escapar do contexto pedagógico-cívico. Nesse sentido, procurei refletir sobre minha prática de pesquisa, cujo objeto trata das comemorações do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha em 1985, com a minha observação para as possibilidades que proporcionaram que essa memória, turvada, fosse tão difundida dentro do contexto das escolas a ponto de criar dificuldades de uma discussão sobre seus elementos no campo da história.

Para embasar minha reflexão sobre o ensino de história da Revolução Farroupilha na sala de aula fui buscar elementos que são importantes para relacionar com a formação atual desse ensino dentro do ambiente escolar. Dessa forma, a presente comunicação tem por objetivo analisar o “Manual de Sugestões para o Currículo por Atividades” 1 elaborado pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, (SEDUC) para ser seguido pelas escolas de ensino regular durante o ano de 1985. De

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acordo com Francisco Salazano Vieira da Cunha, então Secretário de Estado da Educação e Cultura: “Orgulhar-se de suas raízes e honrar as tradições de sua terra é, muito mais do que um dever, uma necessidade de todo o indivíduo.” (CUNHA, 1985, s.p). O manual foi criado especificamente para vincular o contexto escolar e o trabalho dos professores às comemorações do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha. O Governo do Estado via nessa proposta uma maneira de fazer com que, por meio do ensino de história do Rio Grande do Sul, houvesse uma mobilização da comunidade escolar em todo o Estado para que pudessem reelaborar a memória da revolução por meio de um “enquadramento de memória”. Esse enquadramento de memória teria a pretensão por parte do Governo do Estado, de representar uma memória com sentido de unidade comum dos sul-rio-grandenses naquele passado, e que, novamente, fazia eco no presente. Para Michael Pollak essas manipulações na memória:

(...) não se refere apenas à vida física da pessoa. A memória também sofre flutuações que são funções do momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do momento constituem um elemento de estruturação de memória. Isso é verdade em relação à memória coletiva. Ainda que esta seja bem mais organizada. (POLLAK, 1992, p. 04).

A memória sendo algo que pode ser manipulado pelos agentes políticos, também a memória da Revolução Farroupilha em seu Sesquicentenário sofreu esse processo de reenquadramento. No entanto, quando se percebe a memória atendendo as necessidades do presente dos sujeitos sociais torna-se evidente que tal memória diz muito mais do presente, em que está sendo processada, do que propriamente do passado, que não retorna, só retornando enquanto recordação turvada pelas vicissitudes próprias do contexto ao qual está sendo processada. Para Mário Chagas:

O caráter seletivo da memória implica o reconhecimento de sua vulnerabilidade à ação política de eleger, reeleger, subtrair, adicionar, excluir, e incluir fragmentos no campo do memorável. (CHAGAS, 2009, p. 136).

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O contexto do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, é também o contexto do processo político de redemocratização do Brasil. O Rio Grande do Sul como parte da federação sofria tais mudanças, também, a nível regional A memória da Revolução Farroupilha, durante o regime da Ditadura Militar, por ser uma memória muito ligada às questões militares havia sido objeto de culto cívico dos militares. Tal vetor criou uma associação muito estreita que relacionava os cultos pátrios militares com as comemorações da Revolução Farroupilha.2

Embora no ano de 1985, os ares da democracia já soprassem mais livremente, é preciso ter em mente que aquele período é um momento de rupturas e continuidades muito conturbado na reestruturação política e social do país. No Rio Grande do Sul, no ano de 1982, com as eleições para Governador do Estado a política implantada pelo governo do Presidente João Baptista Figueiredo, criou um sistema de eleição de voto vinculado que visava garantir a vitória dos governadores ligados ao PDS – antiga ARENA. Esse movimento era uma forma de garantir a vitória do partido dos militares na presidência do país pelo colégio eleitoral. (VIEIRA, 1985). Cheguei até aqui para explicar parte da necessidade das elites em manipular a memória de um determinado passado para seus interesses próprios julgando que seja essencial disseminá-los como um discurso, que manipulado, tenta estabelecer uma identidade supostamente comum a toda sociedade. Essas reelaborações da memória quando atingem o meio escolar tendem a estabelecer com a memória elementos para a configuração de um imaginário coletivo que pode ter implicações na constituição da identidade cultural de parte de uma sociedade, como por exemplo, a própria constituição da “identidade do gaúcho”, formando na consciência coletiva uma ideia de “comunidade imaginada”.3

Enquanto isso, possivelmente, também com propósitos de apagar as lembranças e os possíveis resquícios que pudessem ligar o PDS, do Governador Jair Soares, ao Regime Militar, o governador incentivado pelas elites intelectuais conservadoras se apropriou da memória da Revolução Farroupilha reelaborando outros sentidos para a memória da revolução, relacionados aos propósitos de uma narrativa que ressaltasse os

2 Tais fatos são muito associados no Rio Grande do Sul, ainda mais se levando em conta que as

comemorações do 7 de setembro são muito próximas das comemorações do 20 de setembro, data da eclosão da Revolução Farroupilha. Ambas as comemorações assumem aspectos do militarismo.

3 Ver: Benedict Anderson: “Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do

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princípios de democracia, liberalismo e federalismo. (Pronunciamento do Governador. FSRF. AHRGS. Caixa 12). Dessa forma, era preciso criar uma metodologia de maneira que levasse a sociedade a se associar às comemorações e mesmo tivesse ciência sobre os aspectos da Revolução Farroupilha. Assim, do ponto de vista do governo, as comemorações teriam que ser representadas como uma memória que fazia parte do passado de todo sul-rio-grandense. Igualmente, quando o Governo do Estado cria uma Comissão Executiva para organizar o evento, criou também uma Subcomissão de Ensino. Essa subcomissão tinha como proposta levar às escolas do Rio Grande do Sul, tanto estaduais, municipais como particulares, um currículo que norteasse os professores, para uma proposta de implantar projetos e trabalhar mais incisivamente a história da Revolução Farroupilha.

A Secretaria da Educação e Cultura do Rio Grande do Sul, no intuito de marcar sua participação nas comemorações do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha; visando a expressar o quanto se orgulha por esse evento; e, ao mesmo tempo, desejando manifestar, de forma concreta, esse sentimento, tem a grata satisfação de entregar à comunidade escolar sul-rio-grandense este valioso trabalho, que entendo ser a melhor forma de contribuir com a escola na sua nobre tarefa de despertar no educando o sentimento de civismo. (CUNHA, 1985, s.p).

O objetivo principal do Governo do Estado era elaborar uma didática criando condições de incutir nas escolas o conhecimento do que diziam ser apropriado para que os estudantes tivessem conhecimento da história, dos fatos e dos “heróis” da Revolução Farroupilha. Tal posicionamento não levava em conta a diversidade cultural da sociedade sul-rio-grandense. Dessa maneira o Governo do Estado fazia uma releitura contraditória e distorcida da memória da revolução para o novo contexto político e social pós-ditadura militar, reinventando a identidade sul-rio-grandense ligada ao passado farroupilha, e um dos instrumentos principais seria a escola, e seu público – professores e estudantes. Para que a proposta do Governo do Estado buscasse êxito era sugerido que os conteúdos fossem desenvolvidos em uma narrativa bastante conservadora que externasse o culto aos “heróis” e fatos marcantes da Revolução Farroupilha como, por exemplo, o trecho citado abaixo retirado do material de sugestões

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para o currículo criado justamente para servir de referência aos professores das escolas de Primeiro e Segundo Graus.

Os gaúchos se organizaram, e, no dia 20 de setembro de 1835, estourou, no Rio Grande do Sul, a Revolução Farroupilha.

O Chefe do Movimento Farrapo foi o general Bento Gonçalves da Silva. Bento Gonçalves comandou outros gaúchos, que também eram muito valentes e muito fizeram pelo Rio Grande do Sul. (...) Durante todo o ano de 1985, nós estaremos festejando os 150 nos da Revolução Farroupilha, lembrando o que aconteceu, os homens que fizeram este movimento, e, assim, estaremos valorizando a nossa terra, a nossa origem e a uma tradição. (Terra dos Farrapos – Sugestão para currículo por atividades – 1ª a 4ª série. Acervo pessoal. p. 34-36).

O material é tendencioso, onde traz em sua narrativa a relação ufanista entre a ideia de se comemorar um passado dito “glorioso”, exaltando a figura de seu líder Bento Gonçalves da Silva. A problemática que envolve esse tipo de metodologia pedagógico-cívica é justamente a implicância que tais representações suportam em sua feitura, externando um potencial de convencimento que existe uma “herança” capaz de ligar o passado ao presente. Esse movimento de convencimento da sociedade em dizer que todo sul-rio-grandense, na atualidade, descende dos farroupilhas atinge diretamente a construção psíquica da identidade, que acaba por ser reproduzida de geração a geração.

Junto à Comissão Executiva também foi criada uma Subcomissão de Geografia e História, essa foi formada por intelectuais de várias áreas do conhecimento, mas principalmente pelos historiadores ligados à academia. Esses trouxeram uma nova leitura da história desconstruindo estereótipos estagnados ligados a uma metodologia de uma história tradicional. Porém, esse pensamento ficou, naquele momento, ainda muito preso ao ponto de vista, em transição, dos historiadores acadêmicos. Cito por exemplo a professora acadêmica Sandra Pesavento, que explicitava sua preocupação com a maneira que a memória da Revolução Farroupilha seria representada pelo Governo do Estado no seu sesquicentenário. Para a historiadora:

Neste ponto, cabem algumas referências sobre esta figura – Bento Gonçalves da Silva – considerada, pela historiografia tradicional como o herói do movimento, corporificando todas as virtudes típicas do homem rio-grandense. Na verdade, a atribuição do status de herói a Bento Gonçalves se

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insere mais uma vez na tendência da historiografia oficial de reconstruir o passado de uma forma idealista. (PESAVENTO, 1985, p. 46).

Comparando a narrativa de Pesavento (1985), com a idealização da imagem de Bento Gonçalves representada no material – citado acima – de sugestões para o currículo, é possível ver a discrepância entre o que já se começava a ser questionado dentro da academia com a ideia do Governo do Estado em insistir na manutenção de uma história ufanista, que deveria ser reproduzida dentro das escolas. Esse fator é que contribuiu para a reprodução dos mitos farroupilhas que estão presentes na nossa sociedade ainda no tempo presente. Claro que não se pode ser ingênuo a ponto de projetar que o Governo do Estado construiria um projeto comemorativo para não se valer politicamente do momento da comemoração. Mas, o que está em ação aqui, é justamente levantar questionamentos sobre as considerações daquela posição tomada, para organizarmos uma reflexão, na atualidade, quanto à maneira que ainda se trabalha a memória da Revolução Farroupilha nas escolas.

Desse jeito, quero dizer que não houve naquele contexto uma renovação do ensino de história nas escolas, como estava acontecendo nas universidades. Isso pode ser comparado quando analisada as narrativas da Subcomissão de Geografia e História4 e comparando-as com as narrativas produzidas pelos conteúdos elaborados para serem trabalhados pelos alunos das escolas do Rio Grande do Sul no ano de 1985, que estavam presentes no referido manual para o currículo.

A questão é que, o fato não pode ser reduzido somente à ideia de se trabalhar um conteúdo. O caso era que, estar trabalhando a Revolução Farroupilha naquele contexto com tanta intensidade era levar a memória da revolução ao extremo, num método de memorização cívica do passado.5 Pois, de acordo com o Governo do Estado, era

importante que a juventude escolar soubesse identificar os vultos do passado como forma de entenderem a importância do culto cívico na construção da identidade

4 A subcomissão de Geografia e História foi criada, em 1985, para servir de instrumento realizando

projetos voltados para a história da Revolução Farroupilha. Foi criada dentro da Comissão Executiva das comemorações oficiais do Governo do Estado do Rio Grande de Sul.

5 De acordo com Paul Ricceur: “A memorização (...) consiste em maneiras de aprender que encerram

saberes, habilidades, poder-fazer, de tal modo que estes sejam fixados, que permaneçam disponíveis para uma efetuação, marcada do ponto de vista fenomenológico por um sentimento de facilidade, (...) forma privilegiada de uma memória feliz.” (RICCEUR, 2007, p. 73).

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grandense. Para isso, a proposta do Governo do Estado para as escolas ampliava a atuação do ensino de história, de acordo com seu manual, para contemplar todas as disciplinas, ou seja, além do ensino de história as demais disciplinas teriam que dirigir seus conteúdos para temas que apresentassem questões vinculadas à memória da Revolução Farroupilha. Vincular aquela memória aos conteúdos de outras disciplinas envolvia recorrerem ao ensino de história. De acordo com o Secretário de Educação e Cultura, Francisco Salazano Vieira da Cunha o momento era propício para que se fizesse a rememoração do passado Farroupilha:

Voltando os olhos para o passado de lutas (...) encontramos exemplos os mais eloquentes de civismo e de amor à nossa terra. Esses sentimentos são, nos dias de hoje, pouco valorizados, e isso preocupa a todos (...). Faço parte de uma geração que aprendeu a cultivar e prezar, com profundo amor e respeito, as nossas raízes (...) mensagem que dirijo aos educandos sul-rio-grandenses, angariar simpatias e novos adeptos àquilo que se costuma chamar de sentimento nativista. (Texto do Secretário de Educação e Cultura. Semana Farroupilha 1985. Convite e Programação. FSRF. AHRS. Caixa 02).

Na opinião de Vieira da Cunha, o momento possibilitava que se levasse aos jovens o conhecimento sobre um passado farroupilha voltado para os “grandes feitos”, ou seja, não havia na pretensão da rememoração oficial um espaço de questionamento dos heróis e muito menos para abertura às novas reinterpretações da Revolução Farroupilha. Aqui, reside mais um problema: sobre a forma como se rememora a Revolução farroupilha. Toda comemoração, independente de governo, no Estado do Rio Grande do Sul, tende a representar e rememorar o início da Revolução Farroupilha, com seus lances ditos “heroicos”, não se fala das derrotas e nem de seu final como momento de declínio das elites políticas sulinas, antes pelo contrário, quando se representa seu desfecho esse vem associado à ideia de “paz honrosa”. Nesse sentido, nunca se ressalta a ideia de derrota dos farroupilhas. Tais elementos de rememoração, só podem ser revisados se houver um movimento por parte dos professores na atualidade caso esse estejam dispostos a colocar tais questões em evidência. Fazer isso pode significar “comprar uma briga”. Mas, não seria uma “briga” necessária?

A grande questão está em sabermos que, na atualidade mesmo no ambiente escolar a ideia de desfazer distorções históricas controversas sobre a maneira que se

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constituiu a memória farroupilha é complicado. Excetuando o professor de história, a maioria vem de uma educação que aprendeu a cultuar a memória farroupilha sob o viés da representação dos heróis e dos vultos, às vezes não querem quebrar esse elo que perpassa os muros da escola sendo elementos vinculados à sua vida social. Isso acontece porque estamos diante de um trabalho de memória que veio desde os finais do século XIX, sendo conservado na constante manutenção de seus mitos. Sendo uma memória que partiu de cima para baixo, foi constantemente oficializada e ritualizada pelas elites quando assumem o poder. Sobre esse uso da memória farroupilha, Sandra Pesavento em: “História da Revolução Farroupilha” (1985), diz:

Os novos detentores do poder recolhem, pois, dos intelectuais da realidade preexistente a visualização de um passado que remonta às raízes da formação histórica gaúcha, abandonando a possibilidade de compor um novo grupo de intelectuais para a nova situação.

Nesse sentido, a historiografia oficial e seus arautos deixaram de representar especificamente os portadores originais de tais ideias (...) para atuar como reforço do sistema vigente. (PESAVENTO, 1985, p. 70).

Considerando que a historiadora estava escrevendo naquele contexto do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, podemos levar em conta a posição da autora fazendo uma crítica à maneira que se fazia a manutenção da memória da Revolução Farroupilha. Para os “novos detentores do poder” essa manutenção se dava pelo conservadorismo das ideias dos intelectuais ditos tradicionais. O que para nossa atualidade, o que chama a atenção e justamente ainda haver nos meios escolares a preponderância dessas ideias conservadoras sobre a memória da Revolução Farroupilha. O manual do currículo escolar criado para trabalhar a história da Revolução Farroupilha em 1985 foi um projeto concretizado e distribuído nas escolas do Rio Grande do Sul. Pesquisando no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS), onde analiso a Fundo do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha (FSRF), foi possível constatar um número expressivo de escolas que se inseriram nas comemorações dando retorno de seus projetos para a Comissão Executiva do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha. (Documentos da Comissão: FSRF, Caixa 16. AHRS, 1985).

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Nesse sentido, se pode observar que, até mesmo por se tratar de um projeto pedagógico-cívico em um momento de transição entre a ditadura e a redemocratização do país estava sujeito às continuidades e rupturas no modo de transmitir os conteúdos nas escolas. Esse processo contou com a supervisão da Comissão de Educação Moral e Cívica (COMOCI) órgão ativo destinado em 1985 a servir de supervisor, cuidando a maneira que seria trabalhada a memória da Revolução Farroupilha. (Documentos da Comissão: FSRF, Caixa 20. AHRS, 1985). A ideia era que aquela memória não extrapolasse para um culto ao regionalismo exacerbado quando o tema fosse a Revolução Farroupilha. Esse movimento contribuiu para a conservação de metodologias mais tradicionais sobre os temas da Revolução Farroupilha dentro do ambiente das escolas que seguindo a proposta de um currículo voltado à história da Revolução Farroupilha não contribuiu para a reflexão crítica da história, como já acontecia no ambiente das universidades.

Como isso pode interferir, ainda hoje, no ensino em sala de aula? Pois bem, meus estudos me levam a compreender que naquele contexto de redemocratização, a memória da Revolução Farroupilha foi “reapresentada” à comunidade em forma de culto aos antepassados, e instrumento legitimador de uma suposta identidade comum. Uma memória ativada constantemente por meio do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), memória que ganhou o espaço das escolas impulsionando um movimento possibilitando que a memória da Revolução Farroupilha, com auxílio da mídia passasse a ser representada como um suposto passado comum incutido na identidade sul-rio-grandense. Esses movimentos criaram um “exercício de memória” levando o professor em sala de aula, quando vai trabalhar com o referido tema, a se deparar com “sensibilidades” 6 construídas sobre uma base estagnada que pode criar um abismo entre

uma história tradicional dada como consolidada, e o sentido de que a sociedade necessita de uma reflexão sobre aquele passado para o nosso contexto presente. Dessa forma, cabe aos professores de história buscar formas de proporcionar reflexões para

6 Ver Pesavento: PESAVENTO. Sandra. Ressentimento e ufanismo: Sensibilidades do Sul profundo. In:

BRESCIANI, Stela; NAXARA, Márcia. Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.

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outros olhares historiográficos sobre a memória da Revolução Farroupilha em sala de aula. E é nesse sentido que, no presente, inicia-se a barreira que se quer traspor.

Fontes

Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul

Documentos da Comissão: FSRF, Caixa 01. AHRS, 1985.

Documentos da Comissão: FSRF, Caixa 16. AHRS, 1985.

Documentos da Comissão: FSRF, Caixa 20. AHRS, 1985.

Pronunciamento do Governador. FSRF. AHRGS. Caixa 12.

Texto do Secretário de Educação e Cultura. Semana Farroupilha 1985. Convite e Programação. FSRF. AHRS. Caixa 02.

Arquivo pessoal

A Terra dos Farrapos: história, lendas e costumes. Sugestão para o Currículo por Atividades e pro Área. Comissão Executiva do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha. Porto Alegre, 1985.

Referências

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

CHAGAS. Mário. Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos Rio de Janeiro, 2009.

PESAVENTO, Sandra Jathay. História da Revolução Farroupilha. São Paulo: Brasiliense, 1985.

PESAVENTO. Sandra Jathay. Ressentimento e ufanismo: Sensibilidades do Sul profundo. In: BRESCIANI, Stela; NAXARA, Márcia. Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.

POLLAK, Michel. Identidade e Memória. Estudos Históricos. Rio de Janeiro. Vol. 5, nº 10,1992. Disponível em:

<reviravoltadesing.com/.../wp/.../memória_e_identidade_social. Pdf> Acesso: 07/03/2012.

RICCEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.

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VIEIRA, Evaldo. A República Brasileira 1964-1984. São Paulo. Editora Moderna, 1985.

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