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Percepção de estudantes de enfermagem sobre a doação de órgãos

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Percepção de estudantes de enfermagem

sobre a doação de órgãos

Mariana Lara dos Reis

Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem.

Débora Cristina Silva Popov

Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora.

RESUMO RESUMO RESUMO RESUMO RESUMO O objetivo deste estudo foi identificar o nível de conhecimento dos graduandos de Enfermagem sobre doação de órgãos. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, de abordagem quantitativa. Foi realizado em uma universidade privada da zona sul do município de São Paulo. A amostra foi composta por 31 estudantes de enfermagem do sétimo e oitavo semestres. Os estudantes que participaram do estudo não têm uma bora percepção sobre o tema. Concluiu-se que existe a necessidade de melhor preparo dos estudadntes-enfermeiros sobre este tema tão importante na atualidade.

Descritores: Doação dirigida de tecido; Transplante de órgãos; Estudantes de enfermagem;

Conhecimento.

Reis ML, Popov DCS. Percepção de etudantes de enfermage sobre a doação de órgãos. Rev Enferm UNISA 2009; 10(2): 107-12.

PESQUISA

INTRODUÇÃO

Os transplantes de órgãos têm assumido papel de grande importância no tratamento e até mesmo na cura de doenças crônicas e terminais, resultando em uma sobrevida mais digna dos pacientes que precisam desta intervenção(1).

Os avanços das técnicas cirúrgicas e das manifestações que controlam a rejeição dos tecidos e órgãos implantados, transformaram a doação de órgãos de um tratamento ex-perimental para a opção terapêutica em pacientes com falên-cia de órgãos(2).

A Lei 9.434 de 4 de Fevereiro de 1997 dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, para fins de transplante e tratamento. Esta lei permite a dis-posição gratuita de tecidos/órgãos/ partes do corpo humano em vida e ou post mortem para fins de transplante, desde que sejam realizados por estabelecimentos de saúde e por equipes médico-cirúrgicas de remoção de transplantes, pre-viamente autorizadas pelo Ministério da Saúde(3).

Os órgãos a serem transplantados podem vir de duas fontes: do doador vivo ou do doador falecido.O doador vivo é qualquer pessoa saudável que concorde com a doação. Por lei, parentes até quarto grau e cônjuges podem ser doadores, não parentes só podem doar com autorização judicial(4).

O doador falecido, geralmente é o paciente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com morte encefálica (lesão irre-cuperável do cérebro), que em sua maioria sofreu Acidente Vascular Encefálico (AVE), foi vítima de traumatismo crânio encefálico (TCE), entre outros(4).

Segundo a Lei nº 10.211 publicada em 23 março de 2001, a doação de órgãos só pode ser efetuada após o consenti-mento familiar (4).

A retirada dos órgãos é realizada através de um procedi-mento cirúrgico, aonde o órgão doado deve ser rapidamente transplantado no receptor, pois os órgãos sobrevivem pou-cas horas fora do corpo(3). O coração e os pulmões, por ex-emplo, resistem de 4 a 6 horas após a retirada, o fígado e o pâncreas de 12 a 24 horas, os rins até 48 horas, e as córneas de 7 a 14 dias(4).

Para que haja sucesso no transplante, o doador deve ser doador em potencial, ou seja, não pode oferecer riscos para o receptor, deve haver compatibilidade sanguínea, e o quadro clínico do receptor e doador devem ser semelhantes, para que não haja rejeição. Atualmente, cerca de 1% das pessoas que morrem, são doadoras em potencial(4).

O número de doadores de órgãos no Estado de São Paulo iniciou o ano de 2009 em pleno crescimento. Balanço da Secretaria de Estado da Saúde aponta que de janeiro a abril

(2)

houve 216 doadores viáveis (que tiveram pelo menos um órgão aproveitado para transplante), 42,1% a mais do que o registrado nos quatros primeiros meses do ano passado. Com o aumento nas doações foi possível a realização de 615 transplantes de órgãos contra 455 registrados de janeiro a abril de 2008. O maior crescimento foi em relação aos trans-plantes de fígado, houve 184 cirurgias neste ano, 40,4 % a mais do que no mesmo período de 2008. Já o número de cirurgias de rim cresceu 36 %, passando de 253 para 344 no mesmo período, enquanto os transplantes de pâncreas au-mentaram 27,2 %, de 27 para 44. Houve oito transplantes de pulmão no período, quatro a menos que no ano passado. O pulmão é um órgão de difícil aproveitamento por conta de fatores como infecções respiratórias e tempo em que o doador passou intubado, por exemplo(5).

O Brasil vem aprimorando o sistema de transplantes. As estatísticas mostram um crescimento médio de transplan-tes de cerca de 25% ao ano apartir de 2003(4) . Isto significa o segundo lugar em número de transplantados no mundo. Porém a demanda de pacientes que precisa de um órgão é muito grande, tendo em vista o número de doadores.

Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em2008, foram realizados mais de 500 transplantes, contudo isto não atende a demanda da fila que a cada ano cresce mais, aumentando o tempo em fila de espera para transplante, onde em 2001, eram 43.581 pa-cientes inscritos em lista e em 2008 havia 68.906 papa-cientes em lista. Este número não é maior porque infelizmente muitos do pacientes morrem por não conseguir um trans-plante a tempo. Atualmente há cerca de 70 mil pessoas es-perando por um órgão(4). Esta espera é conhecida como a fila da morte, já que grande parte das pessoas que aguar-dam por um órgão acaba morrendo.

As pessoas obtêm informações sobre doação e transplante de órgãos principalmente através da mídia, outras, são in-fluenciadas por amigos, familiares, profissionais da saúde e campanhas sobre doação de órgãos(6).

Em um estudo foi observado que quando o paciente re-cebia uma informação negativa sobre transplante de um profissional da saúde, era o tipo de informação que tinha o pior impacto sobre a aceitação da doação. Por outro lado, quando informação positiva sobre transplantes era forneci-da por profissionais forneci-da saúde, havia um claro aumento em relação a atitudes positivas, mais importantes que outras fontes de informação (89% e 63% respectivamente)(7).

A doação de órgãos e tecidos ainda é assunto polêmico. Dentro ou fora dos hospitais e até os profissionais de saúde, há falta de informações sobre o processo de doação para transplantes. Muitos profissionais desconhecem o efetivo e adequado processo de doação, sua sistematização e regu-lamentação(8).

Portanto faz-se necessário capacitar o profissional da saúde, tornando-o apto a orientar e informar as pessoas e, sobretudo os familiares dos doadores em potencial.

Mediante essas afirmações, nota-se a importância desse estudo, pois como futuro profissional da saúde, o graduan-do de Enfermagem, tem um papel importante na divulgação desta informação, devido ao acesso a grande parte da

popu-lação e por causarem impacto maior que outros meios de comunicação quando o assunto é doação de órgãos.

Portanto tivemos como pergunta principal do estudo: Qual é o nível de conhecimento de graduandos do curso de enfermagem, quanto à doação de órgãos, e transplantes?

Buscando resposta a essa questão, tivemos o seguinte objetivo: identificar o conhecimento dos graduandos do cur-so de Enfermagem cur-sobre a Doação de Órgãos.

METODOLOGIA Tipo de Estudo

Tratou-se de um estudo descritivo-exploratório de abor-dagem quantitativa.

População e Amostra

Foi realizado em uma Universidade privada da zona sul do município de São Paulo. A população selecionada foram os alunos matriculados no 7º e 8º semestres (158 alunos), dos períodos manhã e noite do curso de enfermagem e a amostra de cora foi de aproximadamente 20% desses alun-os (31 alunalun-os).

A amostragem foi do tipo de conveniência, sendo os alun-os convidadalun-os para participar da pesquisa durante as ativ-idades normais como aulas ou outros encontros.

Instrumento de Coleta de Dados

O instrumento utilizado para coleta de dados foi um ques-tionário com 14 questões, que buscaram responder ao ob-jetivo proposto pelo estudo.

Na primeira parte do instrumento buscou-se caracteri-zar a amostra de acordo com: sexo, semestre, período, gênero, se trabalha na área da enfermagem

Na segunda parte buscou-se caracterizar a amostra quan-to ao conhecimenquan-to e acesso às informações sobre doação de órgãos, com as seguintes perguntas:

- Você é doador de órgãos?

- Tem conhecimento sobre os quesitos para ser um doa-dor?

- Você tem conhecimento sobre os quesitos necessários para ser um doador?

- Como futuro profissional da área da saúde, você se sente apto para orientar sobre o processo de doação de órgãos um amigo, um parente ou até mesmo um familiar de um possível doador?

- Você já tece acesso a alguma informação sobre doação de Órgãos?

- Qual a frequência que tem contato com o assunto? - Qual foi o meio pelo qual obteve essa informação? Finalmente na terceira parte, buscou-se quantificar o con-hecimento específico dos alunos referente ao assunto, através de questões, que abordam critérios e conhecimentos sobre a doação de órgãos, segundo a literatura. Foram elas: limite de idade do doador de órgãos, se qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos, o que é doador falecido, quais os órgãos possíveis de serem doado em caso de morte encefálica, o que é transplante intervivos, quais os órgãos que podem ser

(3)

doados nesse tipo de transplante, quais os exames necessári-os de serem realizadnecessári-os em um candidato à doação e quem controla a fila de doação de órgãos e transplantes.

Procedimentos Éticos

O estudo foi submetido ao comitê de ética da instituição, sendo considerado aprovado, de acordo com o parecer no. 79/2009, seguindo os preceitos éticos existentesna resolução CNS196/96, 251/97 e 292/99, sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Os alunos assinaram o termo de consentimento esclare-cido, confirmando a participação no estudo.

Tratamento Estatístico

Os dados foram agrupados numericamente, e apresenta-dos em forma de tabelas e gráficos, com daapresenta-dos absolutos e relativos.

RESULTADOS

A amostra foi constituída por 14 (45%) alunos do 7º semestre e 17 (55%) do 8º semestre. Quanto ao período, 2 (6%) são do período matutino e 29 (94%) do noturno; 24 ( 77 %) são do gênero feminino e 7 (33%) são do gênero masculino, trabalham na área da Enfermagem 8 ( 26%) e 23 ( 74%) não trabalham.

Quanto ao acesso às informações, são doadores de órgãos 14 (45%) entrevistados, e 17 (55%) não são doadores, nove deles (29%) declararam ter conhecimento sobre os quesitos necessários para doação de órgãos, e 22 ( 71%) declaram não conhecer os quesitos.

Cinco indivíduos (16%) se sentem aptos para orientar alguém sobre a doação e 26 (84%) dizem não estar aptos a orientar. Quanto ao acesso de informações sobre o assunto, 18 alunos (59%) dizem ter tido acesso a informação e 13 (41%) referem não terem tido contato com o assunto.

Na Tabela 1, está apresentado algumas percepções sobre o conhecimento dos estudantes de enfermagem sobre a doação de órgãos, sendo que 28 (90%) não têm conheci-mento sobre o limite de idade para ser um doador e 3 (10%) têm conhecimento parcial. Na pergunta “qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos”, dois alunos (6%) têm conhe-cimento, 22 (70%) não têm conhecimento e 7(24%) têm conhecimento parcial. Quanto aos órgãos que podem ser doados no caso de morte encefálica, 9 (28%) têm

conheci-mento, 12 (39%) não têm conhecimento e 10 (33%) têm conhecimento parcial. Quanto aos órgãos que podem ser doados por doador falecido 4 (13%) tem conhecimento, 17 (55%) não tem conhecimento e 10 (33%) tem conhecimen-to parcial. Dos alunos entrevistados, 15 (48%) sabem o que é transplante intervivos, 12 (39%) não tem conhecimento e 4 (13%) tem conhecimento parcial, deles, 4 (13%) tem con-hecimento dos órgãos que podem ser doados nesse tipo de transplante,14 (45%) não sabem e 13 (42%) têm conheci-mento parcial.

Quanto aos exames necessários realizados em um prová-vel candidato a doação de órgãos 3 (10%) têm conhecimen-to, 15 (48%) não têm conhecimento e 13 (42%) têm con-hecimento parcial. Dos participantes, 1 (3%) tem conheci-mento sobre quem controla a fila de doação de órgãos e transplantes, 18 (56%) não têm conhecimento e 12 (39%) tem conhecimento parcial.

Quanto a fonte de obtenção de informação 23 (74,1%) obtiveram a informação através da televisão, 8 (25,8%) através da Internet, 8 (25,8%) obtiveram informação na Universidade (graduação), 6 (19,3%) se informaram através de revistas e jornais, 5 (16%) receberam informação de um profissional de saúde, 5 (16%) através de parentes e amigos, e 1 indivíduo (3%) diz ter obtido a informação através de outro meio de comunicação. Os entrevistados poderiam escolher mais de um meio de comunicação pelo qual ten-ham recebido informações sobre o assunto.

DISCUSSÃO

Conhecimento sobre a doação de órgãos

Estudos evidenciam que os profissionais da saúde são predispostos a doação de órgãos(6), porém a maioria dos indivíduos entrevistados, (55%) não são doadores de órgãos, o que se assemelha muito a população geral, pois mesmo que a amostra tenha sido pequena, pode-se notar que a maioria das pessoas não é doadora de órgãos. No Brasil a taxa obtida é de 5,4 doadores por milhão de habitantes/ ano(6), sendo que a taxa de recusa de doação de órgãos chega a 70% nas regiões menos desenvolvidas (3).

No Brasil e no mundo, os avanços científicos, tecnológi-cos, organizacionais e administrativos têm colaborado para o aumento expressivo do número de transplantes, embora ainda insuficiente, face a enorme demanda acumulada de órgãos(6).

Tabela 1. Conhecimento sobre informações sobre doação de órgãos. São Paulo, 2009.

Conhecimentos sobre doação de órgãos Tem Não tem Parcial

n % n % n %

Limite de idade 0 0 28 90,0 3 10,0

Qualquer pessoa pode doar 2 6,0 22 70,0 7 24,0

Órgãos doados na morte encefálica 9 28,0 12 39,0 10 33,0

Doador falecido 7 23,0 20 65,0 4 13,0

Órgãos possíveis de serem doados por doador falecido 4 12,0 17 55,0 10 33,0

Transplante intervivos 15 38,0 12 39,0 4 13,0

Órgãos possíveis de serem doados em transplantes intervivos 4 12,0 14 45,0 13 42,0

Exames necessários 3 10,0 15 48,0 13 42,0

(4)

Quanto aos quesitos de doação de órgãos, tivemos que a maioria, desconhece o que é necessário para que aconteça a doação de órgãos.

No Brasil a doação só é efetuada através do consentimen-to familiar, ou seja, não é necessário deixar nenhum docu-mento por escrito, basta comunicar a família do seu desejo de doação. A doação se concretizará após a autorização fa-miliar(4).

Os alunos manifestaram não sentirem-se aptos a darem informações e orientações sobre o assunto, sendo os entre-vistados compostos por alunos do último ano da gradu-ação, apresentando desconhecimento sobre aspectos im-portantes de sua atuação profissional(9).

Coloca-se em relevo o significativo papel das instituições de ensino superior diante das questões que o futuro profis-sional em enfermagem se defrontará, como a morte e a doação de órgãos. A preparação dos profissionais da área da Saúde atende ao modelo centrado na doença e cura, portan-to desde a academia, o compromisso da Enfermagem é com a recuperação da saúde do doente e sua cura, devendo o estudante estar capacitado para atender plenamente os usuários dos serviços de saúde em prol da saúde-vida. Porém quando a situação de morte se manifesta acompanhada pelo tema doação de órgãos, o estudante se sente despreparado e tende a se afastar por não saber lidar com a situação. Esse dado confirma a necessidade de estudos que identifiquem a real atenção que as instituições de ensino superior em en-fermagem têm dado ao tema doação de órgãos.Ainda são encontrados profissionais despreparados e alunos, que ao final da graduação, se declaram incapazes e imaturos para exercerem a profissão(9).

Muitas vezes os alunos não encontram subsídios para essa discussão na universidade, e acabam buscando infor-mações na vida profissional, conforme a necessidade de obtê-las.

Dos alunos, 41% responderam não ter acesso a infor-mações sobre o assunto, porém todos respondem que tem contato com o assunto mesmo que raramente, por meios de comunicação.

A maioria relata que obtém informações por meio da televisão, mostrando que esse meio de comunicação é ex-tremamente eficaz mesmo para assuntos aparentemente complexos.

Cerca de 95,1% dos brasileiros têm televisão em casa,ou seja, aproximadamente nove em cada dez casas possuem televisor no Brasil(10), o que salienta a importância de se divulgar o assunto através desse meio de comunicação, que abrange grande parte da população.

Mesmo os alunos que responderam não ter acesso à in-formação, relatam que tem recebido informações por al-gum meio de comunicação. Podemos presumir que os mes-mos não têm relacionado essa informação à universidade.

Conhecimento quanto à doação de órgãos

O conhecimento quanto à doação de órgãos pode ser relacionado ao conhecimento de fatores relevantes que de-vem ser de conhecimento do profissional que realizará uma orientação a um provável doador de órgãos.

Os alunos em sua maioria não sabem se há um limite de idade par ser um doador de órgãos, porém alguns relataram que é necessário que o doador esteja em condições sau-dáveis.

Não há um limite de idade para doação, o que determina o uso de partes do corpo para transplante é o estado de saúde com base em uma avaliação médica do doador. (4)

Segundo a legislação, a pessoa só pode ser doadora de órgãos, se preencher alguns critérios. No caso de doador vivo a pessoa deve ser saudável e concordar com a doação. Sob o aspecto legal, somente parentes até quarto grau e cônjuges podem ser doadores vivos; não parentes, somente com autorização judicial.

No caso de doador falecido, após diagnosticado a morte encefálica (ME) é necessário o consentimento familiar, seg-undo a Lei nº 10.211 publicada em 23 março de 2001, que define o consentimento informado como forma de mani-festação a doação; passando a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, a depender da autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha suc-essória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, fir-mado em documento subscrito por duas testemunhas pre-sentes a verificação da morte, ou seja, a doação é do tipo consentida e independe da vontade manifestada pelo doa-dor em vida. Evidentemente, a manifestação em vida a fa-vor ou contra pode ou não fafa-vorecer o consentimento após a morte, porém a vontade da família é a que deve ser re-speitada no nosso país(11).

Essa questão está relacionada com a lei que normatiza a doação, entretanto nenhum dos entrevistados manifestou, ou citou a existência dessa legislação, considerando-a como quesito básico a doação.

Os órgãos que podem ser obtidos de um doador falecido são: coração, pulmões, fígado, pâncreas, rins, intestino, cór-neas, veias, artérias, ossos, tendões, pele e cartilagem(11).

O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão(4).

A maioria dos entrevistados cita alguns órgãos passíveis de doação, porém de maneira incompleta, demonstrando a necessidade de esclarecimento quanto a essa questão. So-mente um entrevistado, respondeu que poderiam ser doa-dos todoa-dos os órgãos, mesmo assim, não foi uma resposta considerada satisfatória para essa questão.

A maioria desconhece o que é. Na atual terminologia, doador falecido são pacientes em Unidade Terapia Intensiva – UTI, com ME, que compreende a parada completa e ir-reversível de todas as funções neurológicas intracranianas, considerando-se tanto os hemisférios cerebrais como o tron-co encefálitron-co. São em sua maioria pacientes vitimas de TCE ou AVE(4).

A maioria dos entrevistados desconhece o que é doador falecido, talvez esse desconhecimento se relacione ao ter-mo, pois muitos deles respondem que é aquele doador que já está morto, e não associam com a ME propriamente dita. Acreditamos que essa terminologia deva ser difundida nos meios acadêmicos, unificando a maneira de tratar desse tipo de doador.

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Vale uma ressalva quanto à abordagem do enfermeiro aos familiares, que consideram o indivíduo vivo até que a morte seja decretada.

A maioria tem conhecimento sobre o que é transplante intervivos, porém a maioria desconhece ou tem conheci-mento parcial sobre os órgãos que podem ser doados nesse tipo de transplante.

Percebemos pelas respostas, que é de maior conhecimen-to a doação de rins, talvez por ser a mais divulgada, e a mais familiar aos entrevistados, destacando então a necessidade de informação quanto aos outros órgãos envolvidos nesse procedimento.

Grande parte dos indivíduos não tem conhecimento dos exames que são realizados em um provável candidato a doação de órgãos e nenhum deles citou o diagnóstico de ME, que é o principal exame a ser realizado para que se inicie as demais etapas do processo.

A avaliação de um possível doador de órgãos inicia-se com cuidadosa revisão da historia clínica e social, exame físi-co físi-com atenção especial a sinais de malignidade, trauma e comportamentos de risco. As contra-indicações ou critérios de exclusão para doação de órgãos e tecidos são: sepse não tratada, tuberculose em atividade, infecção por HIV, ence-falite viral, hepatite viral (existem exceções), síndrome de Guillain- Barre, uso de drogas ilícitas por via venosa, e história de malignidade. (12)

O potencial doador é submetido a uma bateria de ex-ames clínicos (realizados por dois médicos em períodos difer-entes) e laboratoriais (para constatação de infecções e/ou doenças infecciosas), identificando deste modo se existem as condições ideais e necessárias à captação de órgãos. A ME somente é constatada por meio dos exames EEG(Eletro encefalograma) ou Arteriografia, acompanhada por um médico neurologista(4).

A ME, mesmo sendo aceita como a morte do indivíduo pela comunidade científica mundial, ainda é pouco com-preendida pela população que tem dificuldade em recon-hecer que uma pessoa que apresenta batimentos cardíacos e está quente, possa estar morta. O conceito ME encontra resistência não só na população, mas também entre os profissionais de saúde que assistem o potencial doador, rep-resentando um obstáculo na aceitação da doação dos órgãos por parte das famílias, e uma barreira para o processo de captação-doação(11-12).

A enfermagem deve atuar inclusive antes de se diagnosti-car a ME, na assistência de Enfermagem na manutenção fisiológica do potencial doador de órgãos. Portanto é necessário que o Enfermeiro tenha conhecimentos sobre as possíveis alterações fisiopatológicas da ME. Ao colocar em prática tais conhecimentos, seu papel contribuirá para mudanças no cenário dos transplantes(13).

Dos entrevistados, 56% não têm conhecimento sobre quem controla a fila de doação de órgãos no nosso país. A maioria respondeu ser o governo ou o SUS, o que não foi considerada uma resposta correta.

No decreto que regulamenta a Lei (decreto Lei nº2. 268),

em junho de 1997, o Ministério da Saúde criou o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e as Centrais de Notificação, captação e Distribuição de Órgãos (CNCDOs), conhecidas como Centrais Estaduais de Transplantes, e estabeleceu a forma de distribuição dos órgãos e tecidos através da lista de espera regionalizada(14).

O processo de doação e transplante é complexo, inician-do com a identificação e manutenção inician-dos potenciais inician- doa-dores. Em seguida, os médicos comunicam a família a sus-peita de ME, realizam os exames comprobatórios para o diagnóstico de ME, notificam o potencial doador a Central de Captação e distribuição de órgãos (CNCDO), que repassa a notificação a Organização de Procura de Órgãos (OPO). O profissional da OPO (na maioria das vezes o Enfermeiro)(6) realiza avaliação das condições clinicas do potencial doador, da viabilidade dos órgãos a serem extraídos e faz entrevista para solicitar o consentimento familiar da doação dos órgãos e tecidos. Nos casos de recusa, o processo é encerrado. Quan-do a família autoriza a Quan-doação, a OPO informa a viabilidade do doador a CNCDO, que realiza a distribuição dos órgãos, indicando a equipe responsável para retirada e implantes do mesmo(11).

CONCLUSÃO

Conclui-se através deste estudo que o graduando de en-fermagem, na sua maioria, não detém total conhecimento sobre o processo de doação e transplantes de órgãos.

Nota-se a necessidade da abordagem do tema na univer-sidade, pois como futuro profissional da Saúde, o graduan-do entrará em contato com o assunto e como se observou no estudo, o mesmo não está apto e preparado para lidar com isto, o que se torna um empecilho neste processo, que já é uma problemática, visto que a fila da espera por um órgão vem aumentando a cada dia e a população, em sua maioria, é desfavorável a doação.

Questão cara também ao Enfermeiro é a responsabil-idade e função social como educador e formador de opinião. Conseqüentemente seu trabalho no processo em si, envol-to em assistência – anterior - doação – posterior. A saber: notificação precoce da ME, manutenção do potencial doa-dor e trâmite familiar.

Nesse sentido, convém destacar a necessidade de boas qualificações do Enfermeiro em relacionamento interpes-soal, considerando-se o consentimento familiar. Por este motivo, o mesmo deve estar apto e ter conhecimento teóri-co e prátiteóri-co sobre o assunto, podendo favorecer ou não o quadro de doação e transplantes X fila de espera no Brasil.

Portanto é de extrema importância que o graduando, como futuro profissional, conheça aspectos importantes da sua atuação, procurando melhorar seu conhecimento sobre o tema, e não se limitar somente ao paciente e família em vida.

Desta forma, a doação e transplantes de órgãos se tor-nará uma alternativa cada vez mais próxima da realidade para aqueles que esperam pela vida na fila da morte.

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REFERÊNCIAS

1. Moraes MW, Gallani MJ, Meneghin P. Crenças que

influenciam adolescentes na doação de órgãos. Relato de pesquisa. Rev Esc Enferm USP 2006; 40(4): 484-92.

2. Bousso R S. O processo de decisão familiar na doação de

órgãos do filho: uma teoria substantiva. Texto contexto Enferm 2008; 17(1): 45-54.

3. Rech TH, Filho EM. Manuseio do potencial doador de

múltilpos órgãos. Rev Bras Terapia Intensiva 2007; 19(2).

4. Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

[Internet]. São Paulo. [citado em 2008 Set 15]. Disponível em: http://www.abto.com.br

5. Diário da Saúde. [Internet]. Redação do Diário da Saúde.

[citado em 2009 Jun 25]. Disponível em: http:// www.diariodasaude.com.br

6. Santos MJ, Massarollo MCK. Processo de doação de

órgãos: percepção de familiares de doadores cadáveres. Rev Latino-Am Enfermagem 2005; 13(3).

7. Traiber C, Lopes MHI. Educação para doação de órgãos.

Scientia Medica 2006; 16(4).

8. Moraes EL, Silva LBB, Glezer M, Paixão NCS. Trauma e

doação de órgãos e tecidos para transplante. J Bras Transpl 2006; 9: 561-5.

9. Silva AM, Silva MJP. A preparação do graduando de

Enfermagem para abordar o tema morte e doação de órgãos. Rev Enferm UERJ 2007; 15(4): 549-4. 10. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

[Internet]. Rio de Janeiro. [citado em 2009 Out 11]. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br

11. Silva LBB. Manual do processo doação-transplante da Organização de Procura de Órgãos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: OPO-HCFMUSP; 2008.

12. D´Império F. Morte encefálica, cuidados ao doador de órgãos e transplante de pulmão. Rev Bras Terapia Intensiva 2007; 19(1).

13. Guetti NR, Marques IR. Assistência de enfermagem ao potencial doador de órgãos em morte encefálica. Rev Bras Enferm 2008; 61(1): 91-7.

14. Garcia VD. A política de transplantes no Brasil. Rev AMRIGS 2006; 50(4): 313-20.

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