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CORRELAÇÃO ENTRE INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E
CPO-D NO MUNICÍPIO DE GETÚLIO VARGAS/RS
ARSEGO, Thomas¹ thomasarsego@gmail.com MIORELLI, Valmir¹ valmirmiorelli@hotmail.com PENNA, Adriano¹ adrianopaulopenna@yahoo.com.br SILVA, Marina da marinadasillva@hotmail.com BLUM, Davi F.C.² daviblum@ideau.com.br BORGHETTI, Vanessa I.² odontologia.gv@ideau.com.br
NOGUEIRA, Audrea D.² audreanogueira@ideau.com.br
PRESSI, Heloisa ² heloisapressi@ideau.com.br
RECHE, Marcio E. A.² tiobaio@hotmail.com
SASS, Alex L.² alexsass@ideau.com.br
¹ Discentes do Curso de Odontologia, Nível V 2016/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Odontologia, Nível V 2016/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS
RESUMO: Foi realizado no município de Getúlio Vargas/RS, uma pesquisa com objetivo de verificar a correlação de indicadores socioeconômicos no índice CPO-D. Participaram deste estudo 378 indivíduos, selecionados de forma aleatória em cinco bairros do município. Foi realizado exame epidemiológico para obtenção do índice, conjunto a aplicação de questionários para dados de qualidade de vida. Na amostra avaliada, 58% eram do gênero feminino, com média de idade de 44,3 anos. A renda e a escolaridade foram capazes de interferir no índice, devido à falta de conhecimento em saúde e a idade foi o item com maior influência sobre o índice, devido a maior contribuição dos dentes perdidos.
Palavras-chave: Índice CPO; Qualidade de vida; Classe Social.
ABSTRACT:In the city of Getúlio Vargas / RS was conducted a research aimed at verifying the correlation of social class indicators in the DMFT. The study included 378 individuals, selected randomly in five districts of the city.Was conducted epidemiological examination to obtain the DMFT, together to application of questionnaires for quality of life. In the sample, 58% were female, with an average age of 44.3 years. Income and education level were able to affect the DMFT due to missing health knowledge, age was the item with most influence on the DMFT because of higher contribution from missing teeth.
Keywords: DMF Index; Quality of Life; Social Class.
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A saúde bucal é parte integrante da saúde geral de um indivíduo, e é indispensável para que se tenha qualidade de vida. Toda pessoa deve dispor de uma saúde bucal que lhe permita realizar funções como mastigar, falar, poder sorrir sem constrangimento e viver livre de dor, estes fatores refletem diretamente nas condições físicas, sociais e psicológicas de um indivíduo (TESCH et al, 2007).
Pode-se também relacionar variáveis sociais, econômicas e comportamentais no processo saúde doença, assim ressaltando a importância de relacionar fatores socioeconômicos a serviços e condições de saúde da população. Os indicadores influenciam e sofrem influência das características que compõem qualidade de vida humana. (SOUZA, 2015; MOTTA, 2016). Mesmo com as evoluções científicas e com meios de prevenção, a doença cárie continua como um desafio para os profissionais da Odontologia, na medida em que causa dor e sofrimento para parcela significativa da população. Cárie dentária continua a ser o principal problema de saúde bucal na maioria dos países industrializados, afetando cerca de 60 a 90 % dos escolares e praticamente todos os adultos (PETERSEN, 2003).
A cárie dental, tida como um grave problema de saúde pública, desenvolveu-se com maior intensidade à partir da industrialização da sociedade ocidental. Este processo levou à aquisição de novos hábitos de vida e alimentares, associados à redução de preços e à popularização do consumo de açúcares cariogênicos (ANTUNES e PERES, 2013).
Sua ocorrência é importante causa de dor, perda dentária, problemas na escola e absenteísmo no trabalho. No Brasil, a análise das estimativas disponíveis revela que o declínio da cárie dentária na população infantil está ocorrendo de forma desigual na população brasileira. A perda dentária precoce entre adultos e o edentulismo entre idosos são muito elevados (BRASIL, 2004).
Tentando evidenciar com maior precisão a forma como a doença cárie dentária é produzida e reproduzida nas sociedades, pesquisas têm sido conduzidas recentemente para demonstrar a importância dos fatores socioeconômicos no desenvolvimento desta doença. Entende-se, hoje, que esses fatores modulam os comportamentos e as práticas de saúde bucal dos indivíduos (FEJERSKOV e KIDD, 2011).
Diferentes modelos ou formas de entendimento foram propostos, em diferentes momentos históricos, por diversos pesquisadores, para compreender os mecanismos de desenvolvimento da doença cárie dentária. Entender a relação entre os fatores que determinam
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a cárie é fundamental para a adoção de medidas de prevenção e controle desta doença nos indivíduos e coletividades. Neste sentido, a abordagem conhecida como epidemiologia social, tem sido vista como de grande potencial para fornecer subsídios, informações e conhecimentos seguros para o exercício de uma Odontologia segura e qualificada.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Referencial Teórico
As pesquisas sobre indicadores de condições sociais e econômicas em saúde bucal, são importantes para a formulação de políticas de saúde direcionadas a reduzir desigualdades em saúde (MOTTA, 2016).
Define-se qualidade de vida como a maneira em que o indivíduo sente-se posicionado na vida dentro do contexto cultural e os valores nos quais ele vive, relacionando isso com seus objetivos, expectativas, padrões, preocupações, incluindo indicadores socioeconômicos. Os índices de qualidade de vida vinculados a saúde, geralmente são elaborados por meio de questionários que tem por objetivo organizar sob a forma de escalas o quanto fatores sociais, psicológicos, físicos e materiais podem ser afetados pelo estado de saúde (TESCH et al, 2007). Pessoas carentes, que apresentam más condições de moradia e trabalho, tem menor informação sobre saúde, engajando seus membros mais facilmente em comportamentos de risco, elas também tem menos acesso aos serviços e quase não procuram o atendimento com finalidade preventiva ou em estágios iniciais (ANTUNES & PERES, 2013).
A marginalização de pessoas mais pobres, portadores de doenças ou deficiências e os mais vulneráveis do ponto de vista emocional tem sua qualidade de vida comprometida pelo processo de exclusão social (ANTUNES & PERES, 2013).
Segundo Fejerskov e Kidd, 2011, estudos constataram que os padrões de renda interferem nas escolhas alimentares, especialmente no que se refere ao açúcar branco de mesa. Diversos estudos nos últimos anos têm apontado para os malefícios de uma alimentação desequilibrada: o consumo de açúcar, neste sentido, é prejudicial aos dentes. A ingestão excessiva deste tipo de carboidrato proporciona grande quantidade de energia ao organismo, sem, no entanto, fornecer nutrientes essenciais para a uma vida saudável.
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Diferentes modelos foram propostos ao longo dos tempos para compreender a etiologia e a progressão da doença cárie, sendo ela de origem polimicrobiana e de carácter multifatorial, o que significa que é necessária a interação de vários fatores (MELO, 2008).
Na década de 1960, a tríade etiológica, desenvolvida por Paul Keyes, ilustrada pelo Diagrama de Keyes, embasava a interação entre três fatores, dente susceptível (hospedeiro), microrganismo (microbiota) e dieta (ANTUNES e PERES, 2013).
Cerca de 20 anos mais tarde, na tentativa de expandir a compreensão da doença a partir da Tríade de Keyes, Newbrum inseriu um quarto elemento ao processo: o tempo. Somente relevante quando houver presença de placa bacteriana dentária e o indivíduo estiver submetido a ingestão frequente de dieta cariogênica. Este entendido como indispensável para originar as lesões cariosas, em associação com hospedeiro, microbiota e dieta (ANTUNES e PERES, 2013).
Já nos anos 1990, para englobar os determinantes sociais ligados à doença, Fejerskov e Manji, propuseram a inserção e a interação de mais fatores tidos, como condicionantes de comportamentos e práticas em saúde Fejerskov refere-se a cárie não como um evento único, mas como o efeito da acumulação de eventos, um processo que se propaga por um período de tempo. Para ele, o processo carioso é a dinâmica do fenômeno de desmineralização e remineralização dentalresultante do metabolismo microbiano na superfície dentária, que, com o passar do tempo, pode resultar em perda mineral e, possivelmente, mas não invariavelmente, em cavitação (LIMA, 2007).
Desta maneira, especialmente nas duas décadas, conceitua-se a cárie dental como uma doença multifatorial que engloba fatores necessários, determinantes e moduladores. (FEJERSKOV e KIDD, 2011).
Metodologia
Para levantar dados de saúde bucal nas populações, é fundamental a padronização de procedimentos para garantir a confiabilidade e comparabilidade dos dados. Para medir a experiência de cárie na população, a Organização Mundial da Saúde - OMS padroniza o índice CPO, que foi inicialmente aplicado por Klein e Palmer nos Estados Unidos no início do século XX, o índice representa o um valor de dentes cariados, perdidos e obturados por pessoa (ANTUNES & PERES, 2013; OLIVEIRA et al., 1998).
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O cálculo do índice CPO-D, se dá pela somatória dos componentes C “Cariados”, P “Perdidos” e O “Obturados” nos dentes permanentes (ANTUNES & PERES, 2013).
Informações de auto percepção de saúde bucal, podem ser coletadas através de questionários, envolvendo dimensões comuns, entre outras, dor, aparência, vida afetiva, limitação funcional, interação social. Estes estudos podem atuar como um complemento de medidas clinicas (ANTUNES & PERES, 2013).
Para o presente estudo, de coorte longitudinal, foram coletados artigos e capítulos de livros sobre fatores socioeconômicos, qualidade de vida e CPO-D e, também, realizou-se, com objetivo de verificar a interferência de indicadores de qualidade de vida no índice, a aplicação dos questionários, World Health Organization Quality of Life (WHOQOL), na sua versão resumida (WHOQOL-bref), e também o Oral Health Impact Profile (OHIP-14) juntamente da realização de exame epidemiológico para obtenção de índice CPO-D.
Foi realizado pelos acadêmicos do curso de Odontologia, Nível V, do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai – IDEAU, que foram divididos em cinco grupos, cada um responsável por uma região do munícipio. A amostra foi de 376 indivíduos, definida após aplicação de fórmula estatística com base nos dados do IBGE, que demonstram que o município de Getúlio Vargas/RS possui uma população estimada para 2013 de 16.647 habitantes. A pesquisa possui termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos participantes. A amostra foi selecionada de forma aleatória, em 5 bairros da cidade, sendo eles Centro, Champagnat, Santo André, São Cristóvão e Santa Catarina.
Os dados foram tabulados e realizou-se análise estatística descritiva para dados paramétricos e analítica com correlações de Pearson e análise de regressão múltipla com nível de significância de 95%. Software SPSS Statistics 20 (IBM).
3 RESULTADOS E ANÁLISE
Através das amostras avaliadas no presente estudo observou-se predominância de entrevistados do gênero feminino (58%), com idade média de 44,3 anos, sendo a mínima 12 anos e a máxima 88 anos. Todos os participantes possuem escova de dente própria, e destes 8,5% realiza escovação apenas uma vez ou menos por dia, 19,4% realiza duas vezes ao dia, 64,4% realiza três vezes ao dia e 7,7% mais que 3 vezes ao dia. Um total de 50,9% dos entrevistados afirmou não fazer uso de fio dental.
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Em relação ao uso de próteses dentárias observou-se que 33,2% dos indivíduos avaliados utilizam próteses inferiores (totais e parciais removíveis) e 41,2% utilizam próteses superiores (totais e parciais removíveis). Destes 27,7% não estão satisfeitos com suas próteses e 19,2% afirmam ter dificuldades de alimentação ou de fala possivelmente associadas às próteses deficientes.
O índice CPO-D da amostra teve média de 11,44, sendo 0,53 para dentes cariados, 9,41 para dentes perdidos e 3,16 para dentes obturados. Não houve diferença estatística entre o CPO-D entre os gêneros feminino e masculino.
Nos estudos epidemiológico do Ministério da Saúde do Brasil, em 1986, 2004 e 2010, houveram grandes diferenças no índice entre as faixas etárias, que foram divididas em 18 a 36 meses; 5 anos; 12 anos; 15 a 19 anos; 35 a 44 anos e 65 a 74 anos. Indicando uma maior idade a um maior índice, conforme figura 1.
Figura 1 Médias de CPO-D segundo grupos de idade no Brasil. Fonte: Fonte: Brasil, 1988, 2004, 2010.
Comparando os estudos em âmbito nacional e na presente pesquisa, podemos observar diferença entre as faixas etárias, devido muitas vezes ao uso de prótese por pessoas de mais idade, e pela maior atenção à saúde bucal em jovens e crianças. Como demostra a figura 2, onde cada ponto significa um participante, no eixo horizontal demarca sua idade e no eixo vertical seu índice D, podemos ver que neste estudo também, quanto menor a idade menor o CPO-D. 6,9 12,7 22,5 27,2 0 2,78 6,17 20,13 0 27,79 2,1 4,2 16,3 0 27,1 0 5 10 15 20 25 30
12 anos 15-19 anos 35-44 anos 50-59 anos 65-74 anos
CPO -D Idade 1986 2003 2010
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Odontologia, Nível V, da IDEAU, Getúlio Vargas, 2016.
Em análise de regressão múltipla observamos que apenas a escolaridade tem efeito mais fraco no CPOD quando controlado para renda e idade. Nesse caso a renda não influencia significativamente no CPOD (p=0,28) enquanto a escolaridade tem um papel mais discreto (Beta=-0,14, p=0,009). O maior preditor para esse modelo foi a idade (Beta=0,64, p<0,001). Esse modelo contabiliza por aproximadamente 53% da variabilidade (R²=0,534) do CPOD da população. Tendo assim uma correlação forte entre idade e CPO-D, devido a maior contribuição dos dentes perdidos.
A OMS, propôs metas no âmbito de saúde bucal para os anos de 2000 e de 2010, e escolheu a idade de 12 anos como a idade de monitoramento global da cárie. Estas metas propuseram que em 2000 o índice CPO-D aos 12 anos deveria ser menor ou igual a 3,0 e que para o ano de 2010 deveria ser menor que 1 (FEDERATION DENTAIRE INTERNACIONALE, 1982).
Nos estudos brasileiros o índice CPO-D aos 12 anos de idade foi, conforme figura 1, de 6,9 em 1986, 2,8 em 2003 e 2,1 em 2010. Desta maneira em 2000 o país conseguiu atingir a meta prevista mundialmente, todavia em 2010 nenhuma das regiões brasileiras alcançou a proposta e dentre as capitais, apenas a cidade de Florianópolis/SC, com índice de 0.77, superou o objetivo (BRASIL, 1988, 2004,2010). Figura 3
__________________________________________________________________________________________ Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 8 Figura 3 Índice CPO-D em 2010, aos 12 anos de idade, nas regiões brasileiras. Fonte: Brasil, 2010.
A região norte brasileira foi a região com índice mais alto aos 12anos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2012 realizada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região norte é a que acaba por ter mais baixos indicadores de qualidade vida, assim demonstrando que a qualidade de vida em geral, causa impacto no índice.
Podemos verificar que, segundo o Atlas da FDI versão 2009, outros países sul americanos tiveram índices dentro das metas da OMS, em pesquisas anteriores ao ano 2000, como demonstra a figura 4.
3,16 2,63 2,63 2,06 1,72 0,77 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste Florianópolis
CPO
__________________________________________________________________________________________ Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 9 Figura 4 Índice CPO-D aos 12 anos, em países sul-americanos. Fonte: FDI, 2009.
O mesmo atlas atribui um índice global em 2.0, enquanto, estudos da CAPP - The WHO Oral Health "Country/Area Profile Programme" (desde 2011, Country/Area Profile Project), considerando 209 países mostram valores um pouco menores. Figura 5
Figura 5 Índice CPO-D Global aos 12 anos. Fonte: CAPP.
3,4 4,7 2,8 1,9 2,3 3 3,8 2,9 1,9 2,5 2,1 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 CPO -D 1,86 1,67 1,61 1,74 2,78 2,43 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 CPO -D Estudo
CPO-D Global
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A vida saudável e consequentemente a saúde, tem nexo com o grau de instrução, ao envolver a ideia de que um indivíduo com grau de instrução mais alto, tem potencial de influenciar favoravelmente na sua saúde, devido a seu acúmulo de conhecimento. Estas pessoas com maior aquisição educacional ocupam melhores condições de trabalho, moradia e possuem renda mais alta, o que acaba por melhorar sua qualidade de vida, e consequentemente seus níveis de saúde (ANTUNES & PERES, 2013).
Devido a isto, foi abordado o grau de escolaridade dos indivíduos participantes, nos quais o grupo fundamental incompleto teve o maior CPO-d, enquanto os grupos fundamental completo, médio completo e superior completo foram menores e iguais entre si, segundo figura 6, confirmando assim a teoria de que um nível de instrução maior tem impacto positivo na saúde. Figura 6
Figura 6 Correlação entre renda e CPO-D no munícipio de Getúlio Vargas/RS Fonte: Acadêmicos do Curso de Odontologia, Nível V, da IDEAU, Getúlio Vargas, 2016.
Em análise de regressão múltipla observamos que apenas a escolaridade tem efeito no CPOD quando controlado para renda. Nesse caso a renda não influencia significativamente no CPOD (p=0,62) enquanto a escolaridade tem um papel importante (Beta=-0,48, p<0,001). Devemos manter em mente, porém, que esse modelo apenas contabiliza por aproximadamente 24% da variabilidade (R²=0,243) do CPOD da população.
17,45 8,81 6,82 5,78 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Fundamental Incompleto Fundamental Completo Médio Completo Superior Completo
CPO
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Antunes e Peres, 2013 e Fejersjov e Kidd 2011, relatam que pessoas com um menor poder socioeconômico acabam por ter menor informação sobre saúde, prevenção e escolhas alimentares, e assim são enquadrados mais facilmente em grupos de risco.
Poder socioeconômico pode ser relacionado ao IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, comparamos alguns índices CPO-D aos 12 anos de alguns países, de IDH muito alto, alto, médio e baixo, conforme relatório do Atlas Mundial de Saúde Oral da FDI.
Países com IDH muito alto, obtiveram índices mais baixos, dentro das metas da OMS para 2010 no qual o CPO-D deveria ser menor que 1.0, mostrando assim certa relação entre o poder econômico e saúde bucal. Porém, alguns países com IDH baixo e médio também tiveram índices baixos, o que leva a pensar que, como a cárie dental é uma doença multifatorial, sendo a dieta um dos fatores causais, países com níveis altos de pobreza e consequente IDH baixo, possuem índice CPO-D menor devido ao baixo consumo de produtos cariogênicos e industrializados. Assim o fator socioeconômico pode sofrer distorções perante o índice, uma vez que tanto países ‘ricos’ quanto ‘pobres’ podem obter índices baixos, porém por motivos diferentes. Figura 7 e 8
Figura 7 CPO-D aos 12 anos de idade em alguns países com IDH Muito Alto. Fonte: Atlas da FDI, 2009
1,7 0,8 0,9 0,7 0,7 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8
Noruega Austrália Suiça Dinamarca Alemanha
CPO
-D
__________________________________________________________________________________________ Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 12 Figura 8 CPO-D aos 12 anos de idade em alguns países com IDH baixo. Fonte: Atlas da FDI, 2009
Na presente pesquisa, foram separados quatro grupos pela renda familiar, sendo o Grupo 1 com salário familiar de até R$1627,00, Grupo 2 de R$1628,00 até R$4882,00, Grupo 3 de R$4883,00 até R$8136,00 e Grupo 4 acima de R$8136,00. O Grupo 1 teve o maior CPOD, enquanto os outros grupos tiveram CPOD menores e foram iguais entre si, conforme figura 9. Neste caso o poder econômico influenciou no índice, provavelmente, devido à falta de instrução e motivação à prevenção de saúde, conforme Antunes e Peres 2013 prevê.
Figura 9 CPO-D por grupo de renda no munícipio de Getúlio Vargas/RS. Fonte: Acadêmicos do Curso de
0,7 1,3 2,2 2,8 3,1 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Haiti Zimbabue Mali Camarões Madagáscar
CPO
-D
Países com IDH Baixo
14,37 9,56 9,24 7 0 2 4 6 8 10 12 14 16
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4
CPO
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O questionário Oral Health Impact Profile (OHIP), tem por objetivo avaliar o impacto de problemas bucais na qualidade de vida. Originalmente composto por 49 itens (OHIP-49), foi criada posteriormente uma versão simplificada do OHIP-49, com 14 itens, sendo dois itens em cada uma das dimensões: limitação funcional, dor física, desconforto psicológico, incapacidade física, incapacidade psicológica, incapacidade social e desvantagem social, sendo este conhecido por OHIP-14 (ALVARENGA et al., 2011).
A aplicação do questionário OHIP-14, conforme figura 10, obteve uma maior média para a dimensão desconforto psicológico, e a menor média para desvantagem social, tendo uma média total de 9,95.
DOMÍNIOS N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Limitação Funcional 366 0 7 0,90 1,323 Dor Física 374 0 7 1,66 1,824 Desconforto Psicológico 376 0 10 2,19 2,132 Incapacidade Física 376 0 10 1,36 1,723 Incapacidade Psicológica 375 0 7 1,52 1,693 Incapacidade Social 376 0 10 1,48 1,751 Desvantagem Social 376 0 10 0,82 1,448
TOTAL PONTO CORTE (>3) 376 0 14 0,81 1,931
TOTAL OHIP 376 0 44 9,95 9,457
Figura 10 OHIP-14 em indivíduos do munícipio de Getúlio Vargas/RS. Fonte: Acadêmicos do Curso de Odontologia, Nível V, da IDEAU, Getúlio Vargas, 2016
Segundo a OMS, qualidade de vida é definida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”, para avaliar qualidade de vida, foi desenvolvido um questionário chamado WHOQOL, com sua versão inicial com 100 questões, sendo posteriormente elaborada uma versão curta com 26 questões. Estas são dividias em 4 domínios, sendo eles físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente (FLECK et al, 2000). Entre os domínios do questionário, na presente pesquisa o domínio Físico obteve a maior média, e o domínio social teve um número máximo. Figura 11
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Descriptive Statistics
Domínios N Mínimo Máximo Média Desv. Padrão
WHOQoL Questão 1 375 1 5 3,8 0,669 WHOQoL Questão 2 376 1 5 3,8 0,775 WHOQoL FÍSICO 376 2,00 7,86 3,9 0,58724 WHOQoL PSICOLOGICO 376 1,67 5,00 3,8 0,52847 WHOQoL SOCIAL 376 1,00 17,33 3,8 1,01508 WHOQoL AMBIENTE 376 1,00 7,13 3,6 0,62103
Figura 11 WHOQoL-bref em indivíduos do munícipio de Getúlio Vargas/RS Fonte: Acadêmicos do Curso de Odontologia, Nível V, da IDEAU, Getúlio Vargas, 2016
O dados totais de OHIP e WHOQoL domínio físicos tiveram correlação fraca.
4 CONCLUSÃO
O índice CPO-D pode ser influenciado por indicadores de socioeconômicos e de qualidade de vida. Porém, estes fatores podem ter distorção ao serem correlacionados ao índice, por exemplo, uma população com poder de renda menor, poderá ter índice igual ou mais baixo que populações de alta renda.
Isto pode ocorrer, devido a doença cárie, norteadora do índice, ser multifatorial, e a dieta ser um de seus fatores predispostos. Quando não há ou há baixo consumo de alimentos cariogênicos, devido ao menor poder de aquisição, o índice será baixo devido à falta de um dos elementos da tríade etiológica da cárie.
Ainda assim, o poder econômico pode afetar negativamente o índice pela fato de que muitas vezes pessoas carentes, tem menor informação sobre saúde, e assim se enquadram mais facilmente em comportamentos de risco ao não tomar medidas de prevenção de saúde. Como foi o caso do presente estudo, que ocorreu em um munícipio brasileiro, país com índice de desenvolvimento humano alto e alta demanda de produtos industrializados e cariogênicos, onde o grupo com a menor renda obteve o maior índice.
A escolaridade mostrou-se capaz de interferir no índice, ao demonstrar neste estudo que quanto menor o grau de instrução do indivíduo, menor seu conhecimento sobre saúde e prevenção, assim elevando a média do índice.
Contudo a idade ainda é o fator com maior capacidade de afetar o índice, pois entre as faixas etárias, existe uma grande diferença, devido a mudança de comportamento entre a antiga odontologia mutiladora para uma odontologia conservadora, focada na prevenção.
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ANTUNES, José L.F.; PERES, Marco Aurélio. Epidemiologia da saúde bucal, 2. Ed. São Paulo: Santos, 2013.
ANTUNES, José L.F.; NARVAI, Paulo Carpai; Políticas de saúde bucal no Brasil e seu impacto sobre as desigualdades em saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 2010 44(2):360-5.
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BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Projeto SB Brasil 2003: condições de saúde bucal da população brasileira 2001-2003: resultados principais. Brasília: MS; 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal.
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12-year-olds: 2015. Disponível em: < https://www.mah.se/CAPP/Country-Oral-Health-Profiles/According-to-Alphabetical/Global-DMFT-for-12-year-olds-2011/>. Acesso em: 02/jun./2016.
FEDERATION DENTAIRE INTERNACIONALE. Global Goals for Oral Health in the year
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