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KEYNES: A CRÍTICA AO MODELO CLÁSSICO E A CRIAÇÃO DA MACROECONOMIA

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Academic year: 2021

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KEYNES: A CRÍTICA AO MODELO CLÁSSICO E A CRIAÇÃO DA MACROECONOMIA

BIELSCHOWSKY, Pablo 1 CUSTÓDIO, Marcos da Cunha 2

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Doutorando em Economia – UFF, Prof. da Escola Superior de Gestão e Tecnologia - UCB 2Mestrado em Economia Empresarial –UCAM, Prof. da ESGT- UCB.

1 INTRODUÇÃO

O debate sobre os agregados macroeconômicos remonta às origens da economia política. No entanto, a macroeconomia enquanto ramo específico da ciência econômica surge com a contribuição original de Keynes. Escrevendo em plena crise dos anos 1930, Keynes buscava compreender as causas do desemprego que assolava os países centrais. Segundo a teoria neoclássica tradicional, o desemprego seria criado pela recusa dos trabalhadores em vender sua força de trabalho, o que se chocava frontalmente com a realidade.

Após criticar a análise clássica do mercado de trabalho e a Lei de Say, Keynes argumenta que as decisões de produção determinam o nível de emprego, e que as expectativas de demanda no curto prazo determinam a decisão de produção. Em seguida, Keynes argumenta que a demanda corrente orienta as expectativas de curto prazo, e que a decisão de investimento determina a demanda corrente. Por fim, mostra como as expectativas de longo prazo determinam as decisões de investimento. Deste modo, as expectativas de longo prazo e de curto prazo determinam as decisões de investimento e de produção, que explicam o nível de emprego.

O presente artigo busca recuperar as principais contribuições de Keynes. A segunda seção apresenta o debate de Keynes com a economia clássica. A terceira seção apresenta os elementos centrais da “teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro” de 1936. A quarta seção analisa a teoria da formação da carteira de ativos no contexto de uma economia monetária. Por fim, a quarta seção recupera as principais propostas de Keynes para a reformas do capitalismo, decorrentes de sua nova abordagem teórica para o problema do desemprego.

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2. A CRÍTICA DE KEYNES AO MODELO CLÁSSICO

Keynes (1936) chama de “modelo clássico” a generalização do equilíbrio parcial Marshalliano para a análise dos agregados macroeconômicos realizada por Marshall, Hawtrei, Pigou e Robertson.

No capítulo 2 da Teoria Geral, Keynes caracteriza o “modelo clássico” por dois princípios: a análise do mercado de trabalho e a Lei de Say. A partir da crítica a estes dois princípios, Keynes irá construir o “Princípio da Demanda Efetiva” e sua teoria da decisão de investimento nos capítulos 3 a 15.

No “modelo clássico”, a maximização do lucro das firmas no curto prazo, segundo a regra W/P = PMgL(ND), associada à hipótese de produtividade marginal decrescente do fator trabalho, resulta na curva de demanda macroeconômica por trabalho decrescente ND(W/P). De outro lado, a maximização da utilidade dos trabalhadores, segundo a regra

UMg(W/P) = DesutilidadeMgL(NS), associada à utilidade marginal decrescente da renda e desutilidade marginal crescente do trabalho, resulta na curva de oferta macroeconômica de trabalho crescente NS(W/P). Supondo dadas a tecnologia e as preferências, então as curvas de oferta e demanda por trabalho se cruzam determinando o nível de emprego e salário real de equilíbrio. O emprego de equilíbrio, por meio da função de produção macroeconômica Y(N), determina a oferta agregada da economia. Deste modo, o equilíbrio no mercado trabalho determina o produto Y. Esta teoria implica que não existe desemprego involuntário.

A Lei de Say assegura que os custos (a renda Y gerada na produção) são gastos na compra do produto nacional Y. Portanto, a oferta cria sua própria procura. Deste modo, o equilíbrio do mercado de trabalho determina o produto nacional, que determina uma renda idêntica paga para as famílias, que se converte em uma demanda agregada igual à oferta. Uma vez que S≡I, a validade da Lei de Say implica em duas conclusões (corolários): (i) o aumento do investimento exige uma queda do consumo. (ii) A taxa juros iguala I e S1.

Keynes aceita a curva de demanda por trabalho marginalista, defendendo que em virtude da produtividade marginal decrescente do trabalho, o nível de emprego e o salário real estão inversamente relacionados. No entanto, afirma que a curva de oferta de trabalho não existe, criticando a hipótese de que o salário real é igual à desutilidade marginal do trabalho.

1 Segundo a teoria marginalista tradicional, a maximização dos lucros das firmas segundo a regra r/p = PMgK,

associada à hipótese de produtividade marginal decrescente do capital, resulta em uma curva de demanda por capital (investimento) decrescente em relação à taxa de juros. De outro lado, a desutilidade marginal crescente da espera resulta em uma curva de oferta de capital (poupança) crescente em relação à taxa de juros. Assim, a taxa de juros real iguala a poupança e o investimento através do mercado de crédito.

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Keynes argumenta que: (i) os trabalhadores não podem fixar o salário real (W/P), pois quando decidem o salário nominal, não conhecem os preços ex-post que serão definidos pelos empresários, e (ii) os trabalhadores não abandonam o emprego (não reduzem a oferta de trabalho) quando o salário real cai em virtude de um aumento dos preços. Para reforçar seu argumento, Keynes afirma que uma queda do salário nominal reduz o custo marginal, reduzindo os preços sem afetar o salário real – refutando a tese neoclássica de que uma queda do salário nominal resultaria em queda do salário real, equilibrando o mercado de trabalho.

Ao recusar a curva de oferta de trabalho, o equilíbrio do mercado de trabalho fica indeterminado, o que resulta na indeterminação do produto no modelo neoclássico. Para superar este problema, Keynes inverte o sentido da determinação emprego-produto, afirmando que é o nível do produto que, por meio da função de oferta agregada Z(N), determina o nível de emprego. Mas o que explica a determinação do produto?

Segundo Keynes, a Lei Say afirma que a oferta do produto Z cria uma demanda correspondente, de modo que Z(N) = D para qualquer nível de emprego. Assim, a Lei de Say confunde a identidade contábil entre o valor da produção e a renda nacional com o erro teórico de que toda a renda é gasta na compra do valor da produção. Keynes responde que a troca é uma transação bilateral (envolvendo de um lado um consumidor ou um comprador de bens de capital e do outro lado uma firma) na qual o ato de gastar uma magnitude de dinheiro realizado pelo comprador cria uma renda idêntica nas mãos do vendendor. Ademais, a lei de Say confunde a identidade contábil entre investimento e poupança com o erro teórico de que a poupança determina o investimento. Keynes responde que as decisões de compra (C+I) determinam a renda Y=C+I. Esta renda Y é distribuida sob a forma de salários (F) e lucros (L). A determinação da renda produz como resíduo uma poupança S = Y – C. Portanto, as decisões de gasto em consumo e investimento determinam a renda Y, e este processo cria uma poupança (igual ao investimento) como um resíduo.

A partir desta análise, Keynes formula o “Princípio da Demanda Efetiva”, afirmando que a expectativa de demanda determina o produto, a oferta agregada que os empresários decidem produzir. Mas o que determina a demanda esperada?

No plano estritamente teórico a demanda esperada é subjetiva e, portanto, indeterminada. No plano empírico, dada a propensão consumir c, o multiplicador ∆Y = (1/1-c)∆I mostra que a variação dos gastos em investimento determina a variação da demanda agregada e, portanto, da demanda esperada. Mas o que determina o investimento? Para Keynes o preço de oferta dos bens de capital e a quase-renda esperada destes ativos determinam a Eficiência Marginal do Capital (EMK). De outro lado, a prefêrencia pela

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liquides e a oferta de moeda são fatores que determinam a taxa de juros. A relação entre a EMK e a taxa de juros determina o investimento que (por meio do multiplicador) determina a demanda agregada. A expectativa quanto à demanda determina o produto esperado que, por meio da curva de oferta agregada, determina o emprego e o salário real.

Os corolários da Lei de Say implicam que um aumento do investimento deve ser acompanhado por uma redução do consumo e por um aumento da taxa de juros de modo a ampliar a poupança. Keynes mostra através do multiplicador que um aumento do investimento resulta em um aumento do consumo e da renda, produzindo como residuo um aumento correspondente da poupança. Keynes incorpora (com modificiações importantes) a curva de demanda por capital neoclássica I(r) no conceito de EMK. No entanto, substitui a curva de oferta de capital S(r) neoclássica e a teoria quantitativa da moeda por sua teoria da taxa de juros, mostrando que o juro, enquanto recompensa pela iliquidez, não esta relacionado com a propensão a poupar. Conclui então que um aumento da taxa de juros, ao reduzir os investimentos, resulta na queda da poupança e do consumo.

Deste modo, o argumento dos capítulos 3 a 15 da “teoria geral” se organiza a partir da controvérsia de Keynes com seus contemporâneos. Keynes substitui as curvas neoclássicas de demanda e oferta de capital por sua teoria da EMK e da taxa de juros, para determinar o investimento. Contrapondo-se à Lei de Say através do Princípio da Demanda Efetiva: (a) formula o multiplicador para mostrar que o investimento determina a demanda agregada, condicionando a demanda esperada, e (b) inverte o sentido da determinação demanda-produto no plano teórico para mostrar que a demanda esperada determina o produto esperado. Ademais, inverte o sentido da determinação produto-emprego na função de oferta agregada para mostrar que o produto esperado determina o nível do emprego, e adota a teoria da distribuição marginalista para mostrar que o emprego determina o salário real.

3 A TEORIA GERAL DO EMPREGO, DO JURO E DO DINHEIRO

Na teoria geral de 1936, Keynes buscava explicar o desemprego que assolava as economias centrais na década de 1930. O objetivo específico do livro era determinar variáveis que governo pode controlar, de modo a reduzir o desemprego.

O objeto de Keynes é a decisão de produzir um determinado volume produto, que deve ser tomada pelos empresários antes de iniciar a produção. Uma vez que a tecnologia é dada, este volume de produto determina o nível de emprego da força de trabalho na sociedade. Keynes mostra que as expectativas de longo prazo determinam as decisões de investimento,

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que determinam a demanda corrente, que orienta as expectativas de curto prazo, que determinam a decisão de produção. Deste modo, mostra como as expectativas de longo prazo e de curto prazo determinam as decisões de investimento e de produção.

No capítulo 3, Keynes constrói o “princípio da demanda efetiva”. Seu argumento será apresentado aqui em duas etapas, no plano teórico admitimos que a demanda esperada D esta dada, e no plano empírico consideramos os determinantes de D.

A função de oferta agregada2, Z = ⌽(N), indica que a decisão de produzir um volume de produto Z induz os empresários a contratarem uma determinada quantidade de emprego N. Admitindo que a demanda esperada3 D esta dada, o princípio da demanda efetiva significa que a demanda esperada D determina o produto esperado Z. Deste modo, a demanda efetiva é um equilíbrio em expectativas, que se estabelece no momento em que o empresário tem de decidir a quantidade de produto que irá produzir, antes de iniciar a produção (ex-ante). Se a demanda esperada é superior a oferta esperada [D>Z(N)], os empresários expandem o emprego N. De outro lado, se a demanda efetiva é inferior ao produto esperado [D < Z(N)], os empresarios contraem o emprego.

No plano empírico, a demanda esperada D é determinada pela demanda esperada por Consumo e por Investimento. Ademais, a demanda esperada por consumo depende do nível de emprego [C(N)]. Segue-se que a função demanda agregada é: D(N) = I + C(N), onde I é o investimento. Em equilíbrio, a demanda esperada é igual ao produto esperado: D(N) = Z(N). Portanto, Z(N) – C (N) = I. Deste modo, o investimento e a propensão a consumir C(∙) e a função de oferta agregada Z(∙) determinam o emprego de equilíbrio em expectativas. Este nível de emprego determina o salário real através da regra marginalista PMgL(N) = W/P.

2 No capítulo 4, Keynes explicita a relação entre a curva de oferta marginalista O(N) e sua curva de oferta Z(N),

como pO(N) = Z(N) + U(N); onde U(N) é o custo de uso associado a N. Cumpre destacar que a curva de oferta de Keynes é uma curva de oferta ex-ante, esperada, que indica a relação entre a relação entre o nível de produção que os empresários esperam produzir e o nível de emprego que deve ser contratado para esta tarefa.

3 No capitulo 3 da teoria geral, Keynes concebe o ponto de demanda efetiva como um equilíbrio onde as

expectativas se confirmam. Trata-se de uma falha expositiva do livro. O princípio da demanda efetiva analisa o momento da decisão de produção, antes que esta se inicie. Após o periodo de produção, as expectativas serão novamente formuladas para que seja tomada uma nova decisão de produção. No entanto “trata-se então, de qualquer forma, de um novo período, e o equilíbrio já terá perdido sua oportunidade” (Possas, 1986, p 299). Segundo Macedo e Silva (1995, p. 164), Keynes corrige esta definição no texto ex-ante e ex-post, onde “a demanda efetiva é claramente a demanda esperada pelos empresários”.

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67 D dada D(N) = I + C(N) Z(N) D Z(N) D(N) N N Z,D Z,D

Nos capítulos 8 e 9 Keynes analisa os fatores objetivos e subjetivos determinam propensão consumir (c). No capítulo 10, Keynes define a propensão a consumir c = ∆C/∆Y, afirma que c pode ser considerado dado, e argumenta que ∆Y = ∆C + ∆I, obtendo o multiplicador do investimento: ∆Y = [1/(1-c)]∆I. Deste modo, o investimento determina a demanda ex-post (renda) e, portanto, a demanda esperada ex-ante.

No capítulo 5, Keynes contrapõe as decisões de produção Z(N) orientadas pela expectativa de demanda (preço de produção) no curto prazo4, e as decisões de investimento I orientadas pela expectativa de rendimento Q no longo prazo.

Voltando ao capítulo 3, conclui-se que, dados a propensão a consumir e a função de oferta agregada, as decisões de produção Z(N) dependem basicamente das decisões de investimento. Para analisar as decisões de investimento, Keynes formula sua teoria da Eficiência Marginal do Capital e da taxa de juros, nos capítulos 11 a 15.

Os capítulos 11 e 12 apresentam a teoria da Eficiência Marginal do Capital. Segundo Keynes, o preço de oferta dos bens de capital PBK é o custo marginal de produção destes bens. De outro lado, renda esperada do bem de capital Q (o fluxo de renda Q1+...+Qn) é determinada pelo estoque de bens de capital e pela demanda do bem (observados e esperados). Nestas condições, a Eficiência Marginal do Capital é a taxa de desconto (e) que iguala o valor presente dos fluxos de quase-renda e o preço do bem de capital5: PBK = ∑Qt/et.

Segundo Keynes, em virtude da incerteza quanto à demanda efetiva no futuro, a expectativa de renda Q deve levar em conta tanto a probabilidade de um prognóstico, quanto o grau de confiança neste prognóstico. Nestas condições, o baixo grau de confiança inerente a qualquer prognóstico da demanda no futuro razoavelmente distante inviabilizaria a decisão de investimento, se esta fosse baseada apenas em cálculos racionais. Para “driblar a incerteza”,

4 Segundo Keynes, as decisões de produção podem ser corrigidas sem maiores dificuldades, quando se mostram

equivocadas. Por isso, a projeção das vendas realizadas quando não há motivo para esperar uma mudança se apresenta como um método razoavelmente seguro de formação das expectativas de curto prazo, o que resulta em certa estabilidade das expectativas e, portanto, do produto. Deste modo, a realização tem um impacto consideravel nas expectativas de curto prazo. O mesmo não ocorre com as expectativas de longo prazo.

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os empresários seguem a convensão de projetar o presente se não existem motivos para esperar uma mudança e de seguir a opinião geral do mercado. Esta convensão confere certa estabilidade à atividade econômica quando os negócios seguem em ritmo normal, no entanto quando crises violentas ou estagnações prolongadas rompem a convenção, a Eficiência Marginal do Capital fica sujeita a violentas flutuações decorrentes da incerteza que não pode mais ser ignorada.

Os capítulos 13 a 15 apresentam a teoria da taxa de juros, enquanto remuneração pela abstenção da liquidez. Keynes destaca três motivos para a demanda por moeda, o motivo transação MDT(Y) decorrente das operações de troca, o motivo precaução MDP(Y) decorrente da incerteza quanto a eventos na produção, e o motivo especulação MDE (r) decorrente da incerteza quanto ao nível da taxa de juros (expectativa de aumento da taxa de juros). Supondo dadas a oferta de moeda MS determinada pelo banco central e a demanda de moeda para transação e precaução determinada pela renda Y, então a taxa de juros r iguala a demanda de moeda para especulação com a oferta de moeda disponível para especulação. Deste modo, dada a curva de preferência pela liquidez, um aumento da oferta de moeda provoca uma queda da taxa de juros, resultando no aumento da demanda especulativa e (por meio do aumento da renda) da demanda para transação e precaução, que absorvem o aumento da oferta de moeda.

O capítulo 18 resume o argumento dos capítulos 3 a 15. O preço de oferta dos bens de capital e a renda esperada dos bens de capital determinam a eficiencia marginal do capital. A preferência pela liquidez e oferta de moeda determinam a taxa de juros r. A relação entre a eficiencia marginal do capital e a taxa de juros determina o nível de investimento (que se amplia até: e = r). Por fim, o nível de investimento I, a propensão a consumir c e a função de oferta agregada Z determinam o emprego N, que determina o salário real W/P. Deste modo, as decisões de investimento determinam as expectativas de demanda agregada, que determinam as decisões de produção, que determinam o nível de emprego.

4 A ECONOMIA MONETÁRIA DE PRODUÇÃO

No capítulo 17 Keynes constroi uma teoria da precificação dos ativos a partir de seu rendimento para reforçar sua análise da decisão de investimento. Opondo-se a teoria quantitativa da moeda, Keynes retoma seu conceito de economia monetária de produção, onde o ativo dinheiro funciona como um elo entre o presente e o futuro em condições de incerteza, de modo que a política monetária e a decisão de gastar a renda com moeda afetam a demanda

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e o emprego, sendo impossivel definir uma posição de equilíbrio sem levar em conta o dinheiro – como fazem os economistas clássicos e neoclássicos.

Keynes classifica o rendimento dos ativos em quatro tipos: a quase-renda q, o custo de conservação c, o prêmio de liquidez l e a variação no preço do ativo a. Admitindo por simplificação que c=a=0, então os ativos de capital rendem quase-renda Q, a moeda rende um premio de liquidez L, e os título rendem quase renda e premio de liquidez Q+L. A taxa de rendimento esperada dos ativos determina a formação da carteira de ativos, que determina a decisão de investimento.

Keynes argumenta que, se o rendimento esperado dos ativos de capital é superior ao rendimento esperado dos demais ativos, o investimento em ativos de capital provoca uma ampliação do estoque de bens de capital, reduzindo seu rendimento esperado. No entanto, não existe nenhuma força que reduza automaticamente o prêmio de liquidez da moeda, quando este se encontra em nível elevado. A moeda, justamente por possuir elasticidade-produção e substituição zero, serve de medida de valor para contratos e salários, e por isso funciona como um ativo que rende proteção contra a incerteza (tem alto prêmio de liquidez). Em momentos de elevada incerteza, mesmo que o governo amplie a oferta de moeda, os aplicadores podem preferir manter sua riqueza sob a forma de moeda do que aplicaá-la em ativos de capital, impondo um patamar mínimo para o prêmio de liquidez da moeda6.

5 AS REFORMAS DO CAPITALISMO

Ao longo dos capítulos 3-15 Keynes argumenta que, nos momentos de crise aguda ou estagnação prolongada, a ruptura das conveções obriga o empresário a encarar a incerteza quanto ao rendimento dos ativos de capital, resultando na instabilidade da EMK. De outro

6 Após a públicação da teoria geral, os seguidores diretos de Keynes na Inglaterra concentram sua análise na dinâmica econômica, como veremos mais adiante. A partir da crise da década de 1970 se consolida nos EUA uma segunda corrente de economistas seguidores de Keynes. Os maiores representantes desta escola são Davidson e Minsky. Davidson resgata a leitura do capítulo 17 a partir do conceito de economia monetária de produção, apresentada acima. De outro lado, Minsky (1985) formula uma teoria de precificação dos ativos e de formação da carteira semelhante a de Keynes, mas argumenta que a decisão de investimento em um ativo (que gera um fluxo de rendimento) é simultânea a escolha de financiamento do passivo (que gera um fluxo de obrigações). Deste modo, classifica as empresas conforme seu grau de vulnerabilidade (margem receita/juro-amortização) em empresas Hedge quando os rendimentos cobrem os juros e amortizações, Especulativas quando o rendimento paga os juros, mas não as amortizações, e Ponzi quando o rendimento não cobre sequer os juros. Segundo Minsky, nos momentos de crescimento, o alto rendimento esperado induz o financiamento especulativo, e os bancos aumentam o credito (ampliando o risco do ativo e a alavancagem do passivo bancário). Quando ocorre uma reversão das expectativas, o corte dos investimentos gera queda das receitas e os bancos racionam o crédito. O governo é obrigado a ampliar a liquidez para evitar uma desvalorização geral dos ativos e a aumentar os gastos públicos para sustentar a receita das empresas. Amparadas pela ação do estado, as empresas e bancos reduzem sua fragilidade, e a economia emerge mais robusta da crise.

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lado, a elevada incerteza se reflete em um elevado prêmio de liquidez da moeda. A combinação entre a estabilidade do elevado prêmio de liquidez da moeda e a instabilidade da EMK impede a retomada dos investimentos. Keynes defende diversas vezes ao longo da “teoria geral” uma política de redução da taxa de juros e aumento dos gastos públicos como formas de melhorar o “estado das expectativas”, permitindo a saída da crise.

No capítulo 16, Keynes argumenta que o lucro decorre da escassez do capital, atribuindo a crise da década de 1930 a onda de investimentos na década anterior. Isto significa que, além de inerentemente instável, o capitalismo tem limites “estruturais”, pois a necessidade de manter o capital escasso limita a expansão do sistema. No capítulo 24, Keynes defende que o estado deveria atuar decididamente para garantir o nível dos investimentos (públicos e privados), evitando que a queda do rendimento fornecida pela escassez do capital resultasse em retração dos investimentos. Isto significa que a determinação do nível dos investimentos deveria ser realizada pelo “estado” e não pelo “mercado”.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Keynes (1936), a relação entre o preço de oferta e a renda esperada dos bens de capital determina a eficiência marginal do capital. A relação entre a preferência pela liquidez e oferta de moeda determina a taxa de juros. A relação entre a eficiência marginal do capital e a taxa de juros orienta a decisão de investimento. Supondo dados a propensão a consumir e a função de oferta agregada, então o nível de investimento determina o produto e o emprego. Deste modo, as expectativas de longo prazo orientam as decisões de investimento, que determinam a demanda corrente, que serve de base para expectativas de demanda, que determinam as decisões de produção, que determinam o nível do emprego e dos salários reais. Keynes contribui com a teoria econômica ao mostrar que as expectativas de longo prazo e curto prazo determinam as decisões de investimento e produção, que determinam o nível de emprego em uma sociedade.

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71 REFERÊNCIAS

KEYNES, J.M. A teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. São Paulo, abril cultural, [1936] 1983.

MACEDO E SILVA, A. C. Lei de Say e Demanda Efetiva, Equilíbrio e Equilibrismo: Algumas Observações. Anais do Encontro da ANPEC, Salvador, 1995.

MINSKY, H.P.. Stabilizing an unstable economy. Londres: Yale university press, 1985. PIGOU, A.C. The classical stationary state. Economic journal, v.53, n.212, dez 1943.

POSSAS, M. Para uma releitura téorica da teoria geral. Pesquisa e Planejamento econômico, Rio de Janeiro, 16(2), 295-308, ago.1986.

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