OFÍCIO Nº 058/2011-GDSA
Palmas, 14 de junho de 2011.
A Sua Excelência o Senhor
Dr. Clenan Renaut de Melo Pereira
Procurador Geral de Justiça do Tocantins Palmas-TO
Senhor Procurador Geral,
Ao cumprimentar cordialmente Vossa Excelência, venho noticiar atos de improbidade administrativa do Governo do Estado, consistentes na reiterada burla à lei, e de descumprimento de ordem judicial emanada pelo STF, o que vem sendo feito desde a sua posse, podendo assim ser resumido:
- a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.125-TO, de autoria do PSDB/TO (ADI dos comissionados), patrocinada pelo advogado João Costa Ribeiro Filho, e origem do Acórdão datado de 10 de junho de 2010, cuja ementa informa, entre outros, que a obrigatoriedade de concurso público é instrumento de efetivação de igualdade, da impessoalidade e da moralidade administrativa, mas que a insubmissão a tal fez-se regra no Tocantins (4); que a criação de cargos em comissão para o exercício de atribuições técnicas e operacionais, que dispensam a confiança pessoal da autoridade pública no servidor nomeado, contraria o art. 37, inciso V da Constituição da República (6); e DEFINIU o prazo máximo de 12 (doze) meses, contados da data do seu julgamento, para que o Estado substituísse todos os nomeados ou designados naquela forma (9), O QUAL EXPIROU EM 09 DE JUNHO DE 2011, SEM QUE O GOVERNO CUMPRISSE A DETERMINAÇÃO DO STF, desafiando a intervenção federal por desobediência judicial (CRFB/88, art. 34, VI e 36); - passados quase 6 (seis) meses do mandato do atual governador, a sua única realização de impacto foi a demissão nos primeiros dias do ano de mais de
culminou na edição de mais de uma dezena de Medidas Provisórias, todas para adequar, por modificação e ampliação, as estruturas operacionais, as tabelas dos cargos em comissão e os seus respectivos subsídios nos órgãos da Administração Direta e Indireta do Poder Executivo, cujo saldo único foi a contratação de mais de 15.000 servidores para o exercício de cargo público comissionado/contratado;
- O Diário Oficial do Estado nº 3.394, de 02 de junho de 2011, p. 5, publicou o extrato do Termo de Compromisso de Serviço Público de Caráter
Temporário - Contrato nº 7.661/2011, do Processo nº2011/2300/002265,
relativo a um Assistente Administrativo contratado pela Secretaria da Administração com lotação na SETAS – Secretaria do Trabalho e da Ação Social, pelo período de 28/04/2011 a 27/04;2012, prorrogável por igual período, DANDO CONTA DE QUE HÁ ATÉ AQUELA DATA 7.661 CONTRATOS TEMPORÁRIOS (Lei 8429/92, art. 11, caput);
- A existência da espetaculosa quantidade de tais contratos, publicada até agora, NÃO É PARA ATENDER NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO (Lei Federal nº 8.745/1993 e Lei Estadual nº 1.978/2008), posto que a sua totalidade é de auxiliares, assistentes, agentes e técnicos administrativos, auxiliares, assistentes e técnicos operacionais, auxiliares de serviços gerais, motoristas, técnicos de recursos humanos – maioria esmagadora, mas também de arquitetos, engenheiros civis, ambientais, agrônomos e eletricista, jornalistas, contadores, economista, psicólogos, biólogos, veterinários fotógrafos, técnico em informática, em agropecuária, em contabilidade, em agrimensura, em eletricidade e saneamento ambiental, analista de turismo, analista jurídico, piloto de aeronave, mecânico de aeronave, fiscal de transito, almoxarife, etc. lotados nas Secretarias de Administração, SETAS, SSP Justiça e Cidadania, DETRAN, Defensoria e outros órgãos da administração direta e indireta, cujas estruturas operacionais e administrativas foram, desde a posse em 1º de janeiro de 2011, profunda e multiplamente modificadas, ampliadas e reestruturados à vontade pelo governo, via da mais da mais de dezena de Medidas Provisórias editadas e reeditadas, de toda sorte convertidas em lei pela sua maioria na Assembléia, nelas criando mais de seis mil cargos
- O sítio eletrônico do Governo do Estado, SECAD/SECOM, de 25/05/2011, informa existirem naquela data 6.100 contratos temporários. Ora, em apenas 7 (sete) dias depois dessa informação o número de contratos saltou de 6.100 para 7.661 (DOE nº3.394, acima informado). Estranhamente esses Contratos
são feitos em uma só via e somente são publicados com mais de quatro meses de atraso, e assim mesmo não todos, e destacam os seguintes
números cargos: 2.112 na Educação, 1.269 na Saúde, 239 na SSP Justiça e Cidadania e 2.480 para “demais atividades do Executivo;
- Até a presente data, em total desrespeito pela Constituição, pelas leis e pelos Princípios Gerais da Administração Pública, o governo não deu a devida publicidade no Diário Oficial do Estado aos contratos temporários feitos para a Educação (2.112) e para a Saúde (1.269), por ele mantidos na gaveta (Lei 8429/92, art. 11, IV e V);
- As contratações temporárias desrespeitam a Constituição Federal, as leis da República e a determinação do Supremo Tribunal Federal na decisão da ADI sobre os comissionados tocantinenses, eis que: a) elas não foram feitas para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, na forma do que estabelece a Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993 e da própria Lei Estadual nº 1.978 de 18 de novembro de 2008; b) foram criados, e estão vagos, 2.627cargos no Quadro dos Profissionais da Saúde no Estado pela Lei Estadual nº 2.446/2011, que modificou a Lei Estadual nº1.588/2005; c) existe um concurso válido e vigente para o Quadro da Saúde e da Educação com profissionais aprovados e classificados e que ainda não chamados; d) existia no início da atual gestão um concurso para o Quadro Geral que foi anulado pelo Governo, no que fez bem, mas que, quase seis meses depois, acintosamente não quis organizar outro certame para atender à demanda açodadamente criada; e) aquelas referentes à Saúde (1.269) e Educação (2.112), que o governo admite existir, até o momento não foram publicadas no Diário Oficial, e cujos servidores temporários estão trabalhando (relação anexa de fisioterapeutas e farmaceuticos e suas respectivas escalas de trabalho nas Unidades de Saúde do Estado; relatórios do Cadastro Nacional das Entidades de Saúde/CNES, estes últimos permanente e publicamente disponíveis na internet, e que contém o nome dos temporários, lá astutamente transmudados
grande profusão, em média de quase uma centena por dia, conforme publicações diárias no DOE, fato observado desde o início do mês de abril; g) os contratos temporários não foram rescindidos pelo governo até a data limite fixada pelo STF, dia 9 de junho de 2011, e ao que tudo indica, inclusive pela textual manifestação do governo nos referidos sites, não serão exonerados e continuarão no ilícito exercício de contrato.
Receia-se, fato em curso, que o governo do Estado, não dando a devida
publicidade aos contratos temporários existentes na Saúde, a par da ofensa ao ordenamento jurídico e às decisões judiciais do STF, também esteja mascarando a necessidade de pessoal naquela Secretaria até a expiração da vigência do concurso do Edital nº 01/2008, do Quadro da Saúde, homologado pelo Decreto nº 3.946/2010, publicado no DOE nº 3.063, de 26 de janeiro de 2010, o que deverá ocorrer em 25/01/2012.
Não dá para pacificamente conviver com as seguidas e abundantes arbitrariedades perpetradas pelo governo do Estado, tais a profusão de inconstitucionais edições de medidas provisórias, exonerações temerárias de servidores públicos comissionados, secundadas pela nomeação de quase a mesma quantidade da espécie; do acintoso engavetamento dos milhares de contratos temporários do Quadro da Saúde e da Educação, na pueril, mas criminosa, tentativa de esconder o mal feito, prejudicando direitos e criando privilégios espúrios para os seus.
Não se pode perder de vista a recente criação de desnecessários e inconstitucionais 2.840 cargos na estrutura da SETAS pela Medida Provisória nº 15/2011, um estupro legal, que só foi revogado pelo governo ante a imediata e enérgica reação da oposição nesta Casa de Leis.
Não dá para preterir os aprovados em concurso público, profissionais qualificados e habilitados da Saúde e da Educação, portadores do direito líquido e certo à nomeação no serviço público efetivo do Estado por nomeações e contratações temporárias ilegais. E tem mais: há notícia de temporários, sem respectivo registro no órgão profissional, exercendo cargo que tem tal exigência nas Unidades de Saúde do Estado.
O Estado não pode ficar à mercê de um governo que ostensivamente pratica a desobediência judicial, não respeita a lei, a ordem nem o cidadão.
Pedem-se urgentes, imediatas e saneadoras providências acerca do acima noticiado e documentado, e se coloca à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.
Atenciosamente,
Sargento Aragão - PPS Deputado Estadual