Perguntas e respostas sobre álcool e
Câncer
Nivaldo Barroso de Pinho – Coordenador da Divisão
de Apoio Técnico do HC I – INCA: Nutrição, Serviço
Social, Fisioterapia, Psicologia, Farmácia,
Fonoaudiologia
Presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição
Oncológica
Perguntas e respostas sobre álcool e Câncer
O álcool está entre os principais fatores de risco modificáveis para a morbidade, incapacidade e mortalidade humana no mundo [1].
Tem sido associado com mais de 200 morbidades
(neuropsiquiátricas, cirrose hepática, cânceres, doença cardíaca hipertensiva, síndrome alcoólica fetal e doenças infecciosas [1]).
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O consumo moderado de álcool foi inversamente associado ao risco de diabetes tipo 2 [2] e associações heterogêneas foram observadas para os subtipos de doença cardiovascular, com uma associação inversa com doença coronariana, e uma associação positiva com acidente vascular cerebral [3,4].
2. Baliunas, et al. Diabetes Care 2009, 32, 2123–2132. 3. Rehm, J.; Roerecke, M. Med. 2017, 27, 534–538. 4. Ricci, C.; et al. BMJ 2018.
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A cada ano, o álcool causa aproximadamente 3,3 milhões de mortes, ou seja, uma em cada 20 mortes no mundo [1].
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1. WHO. Global Status Report on Alcohol and Health, 2014.
▪ Uma melhor compreensão das vias metabólicas afetadas pelo consumo de álcool pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de intervenção (por exemplo, através da
identificação de alvos de farmacoterapia).
▪ Além disso, pode ajudar a identificar biomarcadores do
consumo de álcool facilitando estratégias preventivas precoces em indivíduos em risco de desenvolver morbidades relacionadas ao álcool.
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Em 2012, a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) listou tanto o álcool da bebida (ou seja, etanol) como seu principal metabólito, o acetaldeído, como substâncias indutoras de tumor (ou seja, carcinogênicas) em humanos.
• 3,6% de todos os cânceres, ou 389.100 casos, estão associados ao consumo de álcool (Seitz e Stickel 2007).
• Dentre outros, esofágico, laringe, faringe, estômago, colo-retal, fígado, pâncreas, pulmão, próstata, mama, sistema nervoso
central e cancros da pele.
(Berstad et al. 2008; Boffetta e Hashibe 2006; Brooks e Zakhari 2013; de Menezes et al., 2013; Haas et al., 2012; Kumagai et al., 2013; Longnecker et al., 1995; Nelson et al., 2013; Rota et al., 2014a; Watters et al., 2010).
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O risco de desenvolver um segundo câncer do trato aerodigestivo também é maior em pessoas que bebem álcool (Day et al. 1994; Lin et al. 2005; Saito et al. 2014).
A relação dose-resposta específica varia de acordo com o local de câncer.
Meta-análise de 16 artigos envolvendo 19 coortes de indivíduos com câncer de fígado (Turati et al. 2014).
• Relação linear entre a quantidade de álcool consumida e o risco de câncer de fígado comparando com não-bebedores.
• O consumo de 3 doses de bebidas alcoólicas/dia foi associado a um aumento moderado no risco. O consumo de 7 doses/dia foi associado a um aumento no risco de até 66%.
Risco de câncer de mama (Scoccianti et al. 2014) e (Kabat et al. 2011).
• Risco de câncer de mama positivo para estrogênio foi aumentado naqueles que beberam álcool.
• Risco de câncer de mama triplo-negativo foi reduzido entre os bebedores em comparação com mulheres que nunca haviam consumido álcool.
O consumo de álcool também está associado: • Menor risco de câncer:
• Tireoide (de Menezes et al. 2013)
• Carcinoma de células renais - consumo de apenas um
drinque por dia em homens e mulheres, e o maior consumo de álcool não conferiu nenhum benefício adicional. (Song et al. 2012)
• Estudo observacional retrospectivo de adenocarcinoma de cólon e reto indicou que o consumo moderado de álcool (menos de 14 gramas por dia) foi inversamente associada à incidência de câncer retal. Os pesquisadores também
descobriram que a ingestão moderada de cerveja e
especialmente vinho estava inversamente associada ao câncer colorretal distal (Crockett et al. 2011).
O consumo de álcool também está associado:
• Menor risco de câncer vários tipos de câncer no sangue :
• Linfoma não-Hodgkin (NHL) (Gapstur et al. 2012; Ji et al. 2014; Morton et al. 2005; Tramacere et al 2012). e
mieloma múltiplo (Andreotti et al. 2013).
• Baixo risco de desenvolver leucemia, doença de Hodgkin (Ji et al. 2014).
• Não esta associado ao aumento do risco de leucemia e que, de fato, o consumo leve (menor ou igual a uma dose por dia) estava associado a uma modesta redução de 10% na incidência de leucemia (Rota et al. 2014).
Considerações:
A influência real do consumo de álcool no crescimento do tumor e metástase é desconhecida em pacientes com câncer.
Modelos animais não permitiram conclusões gerais sobre o impacto do álcool no crescimento do tumor, na formação de
metástases e na progressão da doença, uma vez que os resultados diferiram significativamente dependendo tipo de tumor.
O modelo alcoólico utilizado, bem como a duração da
administração do álcool, quantidade de álcool administrada também são variáveis importantes e podem afetar o resultado geral.
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Efeitos do álcool na formação de metástases (animais): • Administração aguda de altas doses de álcool (imita o
consumo excessivo de álcool)
• Geralmente aumenta a incidência metástase, • Administração prolongada de álcool
• Sem efeito ou diminuiu a formação de metástases, dependendo da quantidade de álcool consumido pelo animal.
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Efeitos do álcool na formação de metástases (animais):
Alterações no endotélio vascular provocadas pelo álcool (0,2 % de etanol in vitro) promove a angiogênese e invasão e permite migração aumentada de células de adenocarcinoma através das camadas
unicelulares de células endoteliais de pulmão A549 humano, células de câncer da mama MDA-MB-231 e células de câncer do cólon
HCT116.
Em resumo
• Bem estabelecido
• Uso abusivo de álcool = variedade de cânceres, e essas associações continua a crescer.
• Está ficando claro que o álcool pode ter um efeito preventivo para certos tipos de câncer.
• O (s) mecanismo (s) pelo qual ele previne o câncer é desconhecido e é uma área para pesquisa.
• Além disso, o efeito prejudicial do uso abusivo crônico de álcool não pode ser desconsiderado.
Tipo de Câncer
Tipo de Estudo
Objetivo Risco (OR; 95% IC) Referência
Bexiga Caso-controle Comparar consumo
intenso com aqueles que nunca beberam
1,33 (1,06-1,66) Zaitusu et al., 2016
Tireóide Caso-Controle Comparar consumo leve, moderado e intenso com aqueles que nunca
beberam H: 2,22 (1,27-3,87) M: 3,61 (0,52-8,58) Hwang et al., 2016 Cavidade Oral Caso-Controle *Brasil Determinar o risco de câncer entre os consumidores severos. 3,25 (1,03 – 10,22) Andrade, Santos e Oliveira, 2015 Colorretal Meta-análise Comparar as categorias
com consumo elevado com consumo baixo
1,44 (1,13-1,82) Feng, et al., 2016.
Colorretal Meta-análise Determinar o risco independente para ca avançado em adultos jovens
3,69 (1,08-12,54) Lee et al., 2016
Mama Revisão Descrever FR dietéticos RR 7,1%
(5.5–8.7%) para cada 10 g/dia
Tipo de Câncer
Tipo de Estudo Objetivo Risco (HR; 95% IC)
Mama
Nechuta et al., 2016
Pool de estudos prospectivos
Associação de fatores de estilo de vida com sobrevida e
recorrência de mulheres sobreviventes de ca de mama ER + Ingestão diária de álcool 1,28 (1,01–1,62). Naso-faringe Chen et al., 2016
Retrospectivo Assosiação entre ingestão de álcool e prognóstico *SG: sobrevida global *SLD: sobrevida livre de doença Consumidores atuais SG: 1,24 (1,01-1,53) SLD: 1,30 (1,06-1,60) Consumo severa (≥14 doses/sem) SG: 1,47 (1,12-1,92) SLD: 1,39 (1,05-1,84) Consumo ≥20 anos SG: 1,30 (1,02-1,66) SLD: 1,36 (1,07-1,77)
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Os sobreviventes de câncer tem > riscos para desenvolver outro tumor (2,3) e outros problemas crônicos de saúde, como
hipertensão, diabetes mellitus e doença cardiovascular (4), além do risco potencial de recidiva do câncer primário.
Fatores genéticos, tratamento do câncer e fatores
comportamentais, como tabagismo, consumo de bebidas
alcoólicas, e fatores nutricionais contribuem para o crescentes riscos para a saúde dos sobreviventes do câncer (1, 5-7).
1. Siegel R, et al. CA Cancer J Clin 2012; 62: 220-41. 2. Dong C, Hemminki K. Int J Cancer 2001; 93: 155-61. 3. Garces YI, e al. Am J Clin Oncol 2007; 30: 531-9. 4. Shin DW, et al. Oncology 2008; 74: 207-15.
5. Browman GP, et al. N Engl J Med 1993; 328: 159-63. 6. Chiolero A, et al. Am J Clin Nutr 2008; 87: 801-9. 7. Ligibel J. J Clin Oncol 2012; 30: 3697-704.
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Beber álcool e fumar tabaco são os principais fatores de risco
modificáveis para o câncer. No entanto, pouco se sabe sobre se esses fatores modificáveis de sobreviventes de câncer estão associados à incidência recidiva de câncer primário (RCP).
27.762 sobreviventes de câncer elegíveis diagnosticados entre 1985 e 2007 foram investigados por RCP até o final de 2008, utilizando registros hospitalares e de base populacional de câncer.
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A associação entre beber, fumar e combinação beber e fumar (interação) no momento do primeiro diagnóstico de câncer e
incidência de RCPs (relacionados a álcool, e específicos relacionados ao tabagismo) foi estimado por meio de regressão de Poisson.
Comparando com quem “nunca bebeu e nunca fumou”, as
categorias “sempre bebeu e sempre fumou”, “bebe atualmente e
fuma atualmente” e “bebedor pesado e fumante pesado” tiveram 43 - 108%, 51–126% e 167–299% maior risco para todos, RCPs
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A interação de beber e fumar teve taxas de incidência
significativamente mais altas para os RCPs entre os que “nunca beberam e já fumaram” e “bebem atualmente e fumante atual”. “Sempre bebeu e sempre fumou” também tiveram
significativamente maiores para RCPs de esôfago e pulmão do que “nunca bebeu e nunca fumou”.
Perguntas e respostas sobre álcool e Câncer
Entre os sobreviventes de câncer, os bebedores atuais e os que nunca bebem têm risco de RCP quando combinados com o
tabagismo, enquanto os fumantes atuais e os que sempre
Perguntas e respostas sobre álcool e Câncer
O consumo excessivo de álcool e o tabagismo pesado foram
considerados como fatores de risco de RCP independentes. Para reduzir a incidência do RCP, é ser necessário reduzir ou
interromper o uso de álcool, parar o tabagismo e usuários duplos, especialmente usuários pesados, devem ser tratados como uma população de alto risco para mudanças comportamentais.
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150 pacientes com carcinoma de células escamosas da orofaringe • Neoplasias primárias síncronicas - 14% (21/150)
• Neoplasias primárias metacrônicas - 20,7% (31/150)
Objetivo: determinar o significado clínico da infecção por HPV em pacientes com carcinoma de células escamosas da orofaringe no Japão.
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•Devo evitar o alcool durante o tratamento do Câncer?
Tumor sincrônico - segundo tumor primário diagnosticado com intervalo de até seis meses em pacientes que já apresentavam um primeiro tumor primário.
Tumor metacrônico quando o segundo tumor primário é diagnosticado com intervalo superior a 6 meses.
second primary malignancies – intervalo de até 6 meses
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Objective: To clarify the incidence of concomitant esophageal cancers in patients with head and neck cancer (HNC), and to investigate which risk factors are responsible for this
association
134 patients with HNC underwent upper gastrointestinal endoscopy to detect esophageal cancer. A case-control study was designed to compare HNC patients with and without
Perguntas e respostas sobre álcool e Câncer
In summary, We conducted esophageal screening and found concomitant esophageal cancers in 12.7% of patients with HNC. A case-control study clarified that alcohol consumption but not smoking participates in the development of the second primary cancers of the
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•Devo evitar o alcool durante o tratamento do Câncer?
Objetivo: de elucidar os fatores que possam predizer o tabagismo persistente dos sobreviventes de câncer coreanos.
Metodo:Estudo transversal onde 130 adultos (≥19 anos) sobreviventes de câncer que eram fumantes no momento do diagnóstico de câncer entre 2007 e 2011. Foram categorizados em fumantes persistentes e os ex-fumantes, de acordo com a mudança no hábito de tabagismo entre o tempo de diagnóstico de câncer e o início da pesquisa. Fatores associados à persistencia de fumar foram avaliados usando a análise de regressão logística múltipla.
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•Devo evitar o alcool durante o tratamento do Câncer?
Conclusão: Fatores, como sexo feminino, baixa renda , uso de álcool, obesidade, presença de fumante nos domicílios , e maior tempo de tabagismo foram associados com o risco aumentado de persistência do tabagismo em sobreviventes de câncer
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Os sobreviventes de câncer
• >Riscos para um novo cancer (Dong C, Hemminki K. Int J Cancer 2001; Garces YI, et al. Am J Clin Oncol 2007)
• Potencial risco de recorrência do câncer primário e >Risco para
comorbidades (hipertensão , diabetes mellitus e doença cardiovascular (Shin DW, et al. Oncology 2008)
Os fatores comportamentais, como tabagismo, álcool, atividade física, e nutricionais contribuem para o aumento do risco á saúde dos sobreviventes do câncer (Siegel R, et al. CA Cancer J Clin 2012; Browman GP, et al . N Engl J Med 1993; Chiolero A, et al. Am J Clin Nutr 2008; Ligibel J. J Clin Oncol 2012).
Os comportamentos fumar e beber estão intimamente relacionados entre si nos sobreviventes de câncer (Chan Y, e al. J Otolaryngol 2004 ;Vander Ark W, et al. Laryngoscope 1997)
Uso combinado de cigarro e álcool após o tratamento de câncer tem efeitos sinérgicos negativos sobre a ocorrência de uma segunda neoplasia (Mayer DK, Carlson J.Nicotine Tob Res 2011).
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Devo evitar o alcool durante o tratamento do Câncer? Sim.Porque:
• É alto o risco para desenvolver um segundo tumor do trato aerodigestivo nos consumidores de álcool (Day et al. 1994; Lin et al. 2005; Saito et al. 2014).
• Uma elevada incidência de um segundo câncer primário em esófago é observado nos pacientes com Ca de CP(TincaniAJ, Brandalise N, Altemani A, et al. Head Neck .2000).
• Fatores, como sexo feminino, baixa renda , uso de álcool, obesidade, presença de fumante nos domicílios , e maior
tempo de tabagismo foram associados com o risco aumentado de persistência do tabagismo em sobreviventes de câncer.