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RESUMO

Introdução: A doença renal crônica (DRC) cursa com perda progressiva e irreversível das funções renais. Com seu avanço, surgem manifestações clínicas

em vários sistemas. No presente estudo, avaliamos a função respiratória, a capacidade física e a qualidade de vida de pacientes com DRC em fase pré-dialítica. Métodos: Foram avaliados 12 pacientes não tabagistas, sem doenças respiratórias, participantes do Programa de Prevenção às Doenças Renais (PREVENRIM – NIEPEN/UFJF). Os pacientes foram submetidos à avaliação dos gases sangüíneos pela gasometria arterial, da função respiratória por meio da espirometria e manovacuometria, da capacidade física pelo teste de caminhada de seis minutos (TC6M) e da qualidade de vida pelo questionário SF-36. Além destes, foram coletados dos prontuários dados clínicos e laboratoriais. Resultados: Dos pacientes avaliados, três apresentaram distúrbio ventilatório leve, 50% apresentaram redução significativa da ventilação voluntária máxima (VVM) e do volume de reserva expiratória (VRE), 33,3% apresentaram redução significativa da pressão inspiratória máxima (Pimax) e pressão expiratória máxima (Pemax). Observamos uma redução da pontuação no questionário de qualidade de vida SF-36, principalmente nos domínios estado geral de saúde (56,5 ± 19,6) e vitalidade (71,2 ± 23,5). A distância percorrida no TC6M permaneceu acima de 75% dos valores preditos de normalidade. Houve diferença estatisticamente significativa entre os valores de hemoglobina e fósforo nos diferentes estágios da DRC e correlação entre variáveis de força e endurance muscular respiratória com a capacidade física. Conclusão: A função respiratória e a qualidade de vida em pacientes com DRC podem estar comprometidas nos estágios pré-dialíticos. Nossos resultados sugerem que os comprometimentos apresentados devem ser abordados nos estágios iniciais da doença.

Descritores: Doença renal crônica. Função respiratória. Capacidade física. Qualidade de vida. Pré-diálise.

ABSTRACT

Introduction: Chronic Kidney Disease (CKD) develops with progressive and irreversible loss of function. The progression of the disease usually associates

with clinical manifestations in various systems. In this study, we characterized the respiratory function, the physical capacity and quality of life of patients with CKD pre-dialysis. Methods: Twelve non-smokers patients without respiratory diseases and followed in the Program of Kidney’s Diseases Prevention (PREVENRIM - NIEPEN / UFJF) were evaluated. The patients was submitted the evaluated of arterial blood gases, the respiratory function by spirometry and manovacuometry, the physical capacity with the six minutes walk test (6MWT) and the quality of life by SF-36 questionnaire. In addition, clinical and laboratory data were collected from each patient. Results: Three patients had mild respiratory disorder, 50% had significant reduction of the maximum voluntary ventilation (MVV) and of the expiratory reserve volume (ERV), 33.3% showed reduction of inspiratory and expiratory pressures (Pimax and Pemax respectively). We observed a reduction on the outcomes of quality of life on SF-36 questionnaire, mainly the domains health general state (56.5 ± 19.6) and vitality (71.2 ± 23.5). The distance covered on the 6MWT kept 75% upper the predicts values. Moreover, there was a difference between the values of haemoglobin and phosphorus among the different stages of CKD and correlations between endurance and muscular respiratory strength variables and physical capacity. Conclusion: The respiratory function and the quality of life can be compromised in patients with CKD pre-dialysis, and should regularly be checked in the early stages of the disease.

Keywords: Chronic renal disease. Respiratory function. Physical capacity. Quality of life. Pre-dialysis.

Avaliação da Função Respiratória, Capacidade Física e Qualidade de

Vida de Pacientes com Doença Renal Crônica Pré-Dialítica

Evaluation of the Respiratory Function, Physical Capacity and Quality of

Life in Patients with Pre-dialysis Chronic Kidney Disease

Ruiter de Souza Faria, Vanessa Souza Assunção Silva, Maycon de Moura Reboredo, Natália Maria

da Silva Fernandes, Marcus Gomes Bastos, Leandro Ferracini Cabral

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Brasil.

Estudo realizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Nefrologia (NIEPEN) da UFJF. Apoio: Fundação IMEPEN - Brasil (Instituto Mineiro de Estudos e Pesquisas em Nefrologia).

Artigo Original

Recebido em 11/08/08 / Aprovado em 28/10/08

Endereço para correspondência:

Leandro Ferracini Cabral

Universidade Federal de Juiz de Fora

Cidade Universitária – Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina – Departamento de Fisioterapia 36036-900, Martelos, Juiz de Fora, MG, Brasil

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INTRODUÇÃO

Os rins são órgãos fundamentais para a manuten-ção da homeostase do corpo humano, executando funções importantes no organismo, como filtração glomerular (FG), produção e secreção de hormônios e enzimas, como a eritropoetina, a 1,25-dihidroxivitamina D, renina, entre outras. Sendo assim, com a queda progressiva da FG obser-vada na doença renal crônica (DRC), ocorre comprome-timento de, essencialmente, todos os outros órgãos do organismo e conseqüente perda das funções regulatórias, excretórias e endócrinas1,2.

A DRC já atingiu proporções epidêmicas e o crescimento do número de casos decorre do aumento da prevalência da diabete melito, da obesidade, da maior longevidade do ser humano, concomitantemente aos avanços diagnósticos e terapêuticos da ciência médica. Nos Estados Unidos da América, o número de pacientes com FG entre 15 e 59mL/min/1,73m2, ou seja, estágios

três e quatro da DRC, é cem vezes maior do que o de pacientes em terapia renal substitutiva (TRS)2,3.

Até o momento, existem poucos estudos que avaliem a função respiratória de pacientes com DRC4-6.

Sidhu et al.4 demonstraram que pacientes em estágio

cinco da DRC apresentaram anormalidades na função pulmonar, com melhora significativa seis meses após a realização de transplante renal4. Estes autores

demons-traram aumento da capacidade vital (CV) média, indican-do que os pacientes apresentaram alterações restritivas na função pulmonar que melhoraram após o transplante renal.

Paul et al.5compararam os volumes pulmonares de

crianças com DRC em fase pré-dialítica e em TRS com os de crianças saudáveis. Os resultados demonstraram que os valores médios de CV e do volume expiratório forçado no 1° segundo (VEF1) estavam reduzidos entre 38% e

52% dos pacientes, estando menores no grupo em fase pré-dialítica e maiores no grupo pós-transplante renal; e, ainda, o VEF1estava reduzido a 79% dos valores preditos

no grupo pré-dialítico. Estes autores concluíram que os volumes pulmonares estão freqüentemente reduzidos em pacientes com DRC e permanecem estáveis durante os procedimentos de diálise. Nestes pacientes, podem ocorrer mudanças na mecânica e na hemodinâmica pulmonar sem que eles apresentem sintomas importantes, mas seus efeitos podem provocar desordens na função pulmonar.

Kalender et al.6 compararam pacientes

pré-dialíticos com pós-transplantados e observaram que os valores da espirometria, exceto a capacidade vital forçada (CVF), e da capacidade de difusão de monóxido de carbono apresentaram-se menores no grupo de pré-dialíticos. Estes estudos indicam comprometimento da função respiratória em pacientes com DRC, porém não

podemos afirmar em qual estágio se iniciam essas alterações.

Em relação à força muscular respiratória, os pacientes em TRS apresentaram redução dos valores de pressão inspiratória máxima (Pimax) e pressão expiratória máxima (Pemax), que pode ser secundária na DRC. Em modelos experimentais, a miopatia urêmica tem sido mostrada como causa de redução da força muscular esquelética e do diafragma7,8. Outros autores descreveram

a redução da força muscular respiratória em pacientes submetidos à TRS, porém não existem estudos, até o momento, que avaliem os pacientes com DRC em fase pré-dialítica9-11.

Além das alterações musculares, pacientes em fase pré-dialítica apresentam redução da capacidade física, atingindo valores de aproximadamente 70% do predito. No início do tratamento dialítico, ocorre um declínio adicional de aproximadamente 20%, podendo afetar o desempenho nas atividades de vida diária e nas tarefas ocupacionais12-15.

Ademais, diversos autores têm demonstrado que pacientes com DRC apresentam considerável diminuição da qualidade de vida quando comparados à população geral, havendo associação entre a função renal e os escores de escalas que avaliam bem-estar e qualidade de vida16. Neste sentido, Walters et al.17observaram que os

pacientes já apresentam um importante distúrbio da qualidade de vida no início da terapia dialítica, associado à alta prevalência de anemia, desnutrição e sintomas depressivos. Apesar de os estudos apontarem para redução da qualidade de vida nos estágios iniciais da DRC, até o momento, não existem estudos que comparem os escores de qualidade de vida em pacientes nos diferentes estágios pré-dialíticos da DRC.

O objetivo deste estudo foi avaliar a função respiratória, a capacidade física e a qualidade de vida dos pacientes com DRC nos estágios pré-dialíticos e correlacionar as variáveis de função respiratória com a capacidade de exercício nestes pacientes.

PACIENTES E MÉTODOS

Pacientes

Foi realizado um estudo transversal no Centro de Atenção à Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, com amostra constituída de 12 pacientes com DRC, que fazem parte do Programa de Prevenção às Doenças Renais (PREVENRIM) do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Nefrologia da UFJF. Foram incluídos pacientes adultos (acima de 18 anos), em fase pré-dialítica, nos estágios três, quatro e cinco da DRC e que concordaram em

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participar do estudo através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídos do estudo pacientes tabagistas e/ou ex-tabagistas, com doenças pulmonares diagnosticadas, alterações cognitivas e osteomioar-ticulares que comprometessem a realização dos testes, angina instável, hipertensão arterial não controlada (pressão arterial sistólica ≥ 200mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 120mmHg) e em uso de medicamentos que influenciassem a função da musculatura respiratória, como esteróides ou ciclos-porina18,19. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora – CEP/UFJF.

Protocolo Experimental

Antes da realização dos testes, foram mensurados o peso e a altura dos pacientes para o cálculo do índice de massa corporal (IMC). Além disso, foi realizada gasometria arterial para avaliação do pH sangüíneo, pressão arterial de oxigênio (PaO2), saturação arterial de oxigênio (SaO2), pressão arterial de dióxido de carbono (PaCO2), concentração de bicarbonato (HCO3-) e excesso de base (BE).

Avaliação da Função Respiratória

Os testes foram realizados no mesmo horário do dia, no período da manhã, com espirômetro computadorizado SP7 Pulmowin2 (MRS/DATALINK, Montepellier, França). As orien-tações para execução das manobras foram realizadas conforme as recomendações da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para as Provas de Função Pulmonar20. Durante o exame, o paciente estava sentado, com a cabeça mantida em posição neutra e fazia uso de clipe nasal. Foram realizadas as manobras de capacidade vital lenta (CV), capacidade vital forçada (CVF) e ventilação voluntária máxima (VVM).

Na manobra de CV, o paciente realizou um mínimo de três respirações basais, seguidas por uma expiração completa, seguida por inspiração completa e concluiu com uma expiração relaxada, voltando ao volume corrente. Para aceitação do teste, pelo menos duas manobras de CV aceitáveis deveriam ser obtidas. Os volumes destas tentativas deveriam diferir menos que 0,10L um do outro, caso contrário, a manobra seria repetida. Além do mais, as duas maiores medidas da capacidade inspiratória não deveriam diferir mais de 0,060L.

Na manobra de CVF, o paciente realizou alguns ciclos basais de respiração e foi pedido que ele inspirasse comple-tamente e, depois, que fizesse uma expiração máxima forçada por um período mínimo de seis segundos, a menos que um platô evidente fosse observado na curva volume-tempo. Para acei-tação do teste, os dois maiores valores de volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1) e CVF deveriam diferir menos de 0,15L e a diferença entre o pico de fluxo expiratório (PFE) deveria ser menor que 10% ou 0,5L (o que for maior).

A VVM é o maior volume de ar que o indivíduo pode mobilizar em um minuto com esforço voluntário máximo. A manobra de VVM foi realizada em um período de dez a 15 segundos e o volume, neste período de tempo, foi extrapolado para o valor em um minuto. A unidade utilizada foi L/min.

Durante a manobra, o indivíduo foi estimulado a respirar tão rapidamente e profundamente quanto possível. Os volumes deveriam ser maiores que o volume corrente, mas menores que a CV. O paciente foi estimulado pelo avaliador a manter um ritmo constante e regular. A VVM foi determinada a partir de, pelo menos, duas manobras aceitáveis. O teste para VVM foi consi-derado aceitável quando o traçado de volume-tempo demons-trou que o padrão ventilatório foi regular em volume ou em freqüência respiratória e a linha de base no final da expiração no traçado volume-tempo permaneceu razoavelmente constante. O maior e o segundo maior valor deveriam diferir menos que 10%. Para avaliação da força muscular respiratória, foi realizada a manovacuometria, utilizando um manovacuômetro eletrônico (EMG System do Brasil Ltda., São Paulo, Brasil), modelo EMG_ECG_1. Foram realizadas três medidas, consi-derando um platô de dois segundos para seleção dos valores. Para mensuração da Pimax, o paciente realizou esforço inspiratório máximo, partindo do volume residual, e, para mensuração da Pemax, o paciente realizou esforço expiratório máximo, partindo da capacidade pulmonar total. A unidade utilizada foi cmH2O e o valor selecionado foi o maior encontrado na análise de três medidas com variação menor que 10% entre elas21,22.

Capacidade Física

A avaliação foi realizada pelo Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M), seguindo as recomendações da American Thoracic Society23. Antes de iniciar, o paciente foi orientado a caminhar o mais rápido possível, não sendo permitido corrida ou marcha a meio trote, durante seis minutos, ao longo de um corredor reto, com uma superfície dura e plana, de 30 metros de comprimento, marcada com uma fita adesiva a cada três metros. Durante o teste, o paciente podia diminuir a intensidade, parar e descansar se necessário, mas sem interrupção da contagem do tempo. Caso parasse para descanso, ele era motivado a retornar à caminhada o mais breve possível. Foram realizados dois testes com intervalos de 30 minutos, sendo utilizado o teste com a maior distância percorrida em metros.

Qualidade de Vida

Para avaliação da qualidade de vida, foi utilizado o questionário SF-3624. Este é composto de 36 itens que avaliam oito dimensões da qualidade de vida dos pacientes, a saber: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Para cada uma das oito dimensões, foi obtido um escore com valores entre zero (mais comprometido) e cem (nenhum comprometimento).

Auditagem do Prontuário

Foram coletados dos prontuários dos pacientes os seguintes dados laboratoriais: creatinina (mg/dL), uréia (mg/dL), potássio (mEq/L), hemoglobina (g/dL), hematócrito (%), cálcio (mg/dL), fósforo (mg/dL).

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Análise Estatística

Os dados foram descritos como média e desvio padrão ou porcentagem. Para comparação entre os estágios da DRC, foi utilizado o Teste t de Student para amostras independentes e, para análise da correlação entre as variáveis, foi utilizado o teste de correlação de Pearson. Para comparar dados mensurados por freqüência, foi utilizado o Teste do χ2 ou Teste de Fisher, conforme o tamanho da amostra. Foi considerado um nível de significância de p < 0,05. Utilizado software SPSS 13.0.

RESULTADOS

A Tabela 1 mostra os dados demográficos, clínicos e laboratoriais. Devido ao pequeno número de pacientes avaliados que pertenciam, com base no cálculo da FG, aos estágios três (n = 2) e quatro (n = 3), realizamos a união destes dois estágios para formação do Grupo 1 (G1), e os pacientes que compunham o estágio cinco (n = 7) formaram o Grupo 2 (G2) para posterior comparação entre os grupos G1 e G2.

Através dessa análise, nossos resultados demons-traram que as variáveis idade e IMC não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, porém os valores médios da hemoglobina dos grupos G1 (14,76 ± 1,21 g/dL) e G2 (12,55 ± 1,58 g/dL) estão acima dos níveis de referência para anemia (acima de 12 g/dL) e foram estatisticamente diferentes entre os grupos. Na análise do fósforo sérico, também observamos diferença

estatisticamente significativa entre os grupos G1 (3,66 ± 0,37 mg/dL) e G2 (4,37 ± 0,50 mg/dL). As demais variáveis não apresentaram diferença significativa entre os grupos G1 e G2 (Tabela 1).

Os parâmetros da espirometria lenta (porcenta-gem do predito) são demonstrados na Figura 1. Anali-sando a população geral, pacientes apresentaram a CV e a capacidade inspiratória (CI) dentro dos valores de normalidade, enquanto os valores de volume de reserva expiratório (VRE) apresentaram uma redução abaixo de 75% do predito em seis pacientes.

Tabela 1. Dados clínicos, demográficos e laboratoriais da população geral.

Figura 1. Dados da espirometria lenta da população geral:

Gráfico representando a média e o desvio padrão da porcentagem dos valores preditos para a capacidade vital (CV), capacidade inspiratória (CI) e volume de reserva espiratório (VRE) dos 12 pacientes com DRC.

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Os valores da espirometria forçada (porcentagem do predito) podem ser vistos na Figura 2. Na interpretação da espirometria, identificamos que dois pacientes apre-sentaram distúrbio ventilatório restritivo leve, um perten-cia ao estágio três e outro, ao estágio cinco. Um paciente do estágio quatro apresentou distúrbio ventilatório combinado.

Em relação à força muscular respiratória, quatro pacientes do estágio cinco apresentaram redução dos valores abaixo de 75% do predito. Dois pacientes apresentaram redução da Pimax e dois pacientes apresentaram redução da Pemax. Na VVM, observamos que seis pacientes (50% da amostra) apresentaram redução desta variável abaixo de 75% dos valores preditos (Figura 3).

Nos resultados obtidos no TC6M para avaliação da capacidade funcional, observamos que quase todos os pacientes apresentaram distâncias percorridas dentro dos valores preditos (Figura 4A), tendo somente um paciente do estágio cinco com redução da distância percorrida em relação ao valor predito (68% do predito)25.

Na avaliação da qualidade de vida através do ques-tionário SF-36, foi observado redução nos valores médios dos domínios estado geral de saúde (56,5 ± 19,6) e vita-lidade (71,2 ± 23,5). Os outros domínios não apresen-taram alterações (Figura 4B). A análise de correlação de Pearson com todos os pacientes estudados mostrou correlações estatisticamente significativas da VVM com a Pimax, da VVM com a distância percorrida no TC6M e da Pimax com a distância percorrida no TC6M (Figura 5).

Figura 2. Dados da espirometria forçada da população geral:

Gráfico representando a média e o desvio padrão da porcentagem dos valores preditos para a capacidade vital forçada (CVF) e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) dos 12 pacientes com DRC. A relação VEF1/CVF

está representada em porcentagem.

Figura 3. Dados da manovacuometria e da ventilacão voluntária

máxima da população geral: Gráfico representando a média e o desvio padrão da porcentagem dos valores preditos para a pressão inspiratória máxima (Pimax), pressão expiratória máxima (Pemax) e ventilação voluntária máxima (VVM) dos 12 pacientes com DRC.

Figura 4. A: Dados da capacidade física; B: Dados da qualidade de vida: Gráfico (A) representando a média e o desvio padrão dos

valores preditos para a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos (TC6M predito) e dos valores avaliados durante o teste de caminhada de seis minutos (TC6M avaliado) dos 12 pacientes com DRC. Gráfico (B) representando a média e o desvio padrão dsa pontuação dos domínios do questionário SF-36. CF = capacidade física, LAF = limitação por aspectos físicos, DOR = dor, EGS = estado geral de saúde, VIT = vitalidade, AS = aspectos sociais, AE = aspectos emocionais e SM = saúde mental.

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DISCUSSÃO

Neste estudo, foram avaliados pacientes com DRC na fase pré-dialítica nos estágios três, quatro e cinco. Observamos distúrbios ventilatórios classificados como grau leve em 25% dos pacientes avaliados através da espirometria forçada. Uma observação importante foi a redução dos valores de VVM e de VRE abaixo de 75% do predito em 50% dos pacientes avaliados. Isso demonstra que a capacidade de gerar níveis de ventilação mais elevados encontra-se comprometida.

Apesar destas alterações, não observamos redução na distância percorrida no TC6M, pois, apenas um paciente apresentou redução abaixo de 75% do valor pre-dito. Porém, segundo Fuhrmann et al.15, independente do

curso da DRC, a capacidade física diminui continuamente com sua progressão, sendo caracterizada pela redução da flexibilidade, distúrbios da coordenação, diminuição da força muscular e da resistência muscular periférica.

Em nosso estudo, a redução da VVM parece não interferir na capacidade de exercício numa atividade funcional de caminhada em terreno plano. Porém, cabe ressaltar que houve correlação positiva, estatisticamente significativa, entre a VVM e a distância percorrida no TC6M, indicando que os pacientes que possuíam a maior VVM apresentavam maior distância percorrida no TC6M. Estes dados assemelham-se aos encontrados por Chiang et al.26em estudo com pacientes com doença pulmonar

obstrutiva crônica, em que os autores observaram que um aumento na VVM se correlacionou com aumento na distância obtida no TC6M após tratamento com ventilação não invasiva por seis meses.

Observamos redução da Pimax em dois pacientes e da Pemax em outros dois pacientes. É importante ressaltar que estes pacientes eram do estágio cinco da DRC e apresentavam leve acidemia (pH = 7,33 ± 0,03 e HCO3- = 16,28 ± 4,27 nmol/L). Diversos autores

relataram redução da Pimax e da Pemax em pacientes com DRC submetidos à hemodiálise7-10 e à diálise

peritoneal7,11,19, demonstrando como causa de disfunção

da musculatura esquelética a deficiência de 1,25-dihidroxivitamina D, anemia, hipofosfatemia e má nutrição7,8, porém este foi o primeiro estudo que avaliou

em adultos no estado pré-dialítico a força muscular respiratória.

Quando comparamos os grupos G1 e G2, nossos resultados demonstraram que, apesar de os valores médios da hemoglobina dos grupos G1 e G2 estarem acima dos níveis de referência para anemia, foram esta-tisticamente diferentes entre os grupos. Também obser-vamos diferença estatisticamente significativa na análise dos níveis séricos de fósforo entre os grupos G1 e G2.

À medida que a DRC progride, ocorre diminuição da filtração glomerular e acúmulo dos níveis sangüíneos de fosfato. Concomitantemente, há uma elevação dos níveis séricos do hormônio da paratireóide (PTHi), que decorre da hiperfosfatemia e hipocalcemia secundárias à diminui-ção da produdiminui-ção renal de 1,25-dihidroxivitamina D. Estas alterações, denominadas de hiperparatireoidismo secun-dário, são responsáveis por várias manifestações sistê-micas da DRC, como, por exemplo, fraqueza muscular27.

Vários autores já demonstraram redução na qualidade de vida em pacientes com DRC submetidos à HD28-30 e à diálise peritoneal30-33. Segundo revisão

realizada por Valderrábano et al.34, diversos fatores se

associam à redução da qualidade de vida nestes pacientes, por exemplo, a idade, as comorbidades e a depressão, os quais também estão presentes durante o período de pré-diálise. Em nosso estudo, os domínios mais acometidos avaliados pelo questionário SF-36 foram estado geral de saúde e vitalidade. Não observamos alteração no domínio capacidade funcional e no domínio limitação por aspectos físicos do SF-36 nestes pacientes, o que confirma os resultados obtidos na avaliação da capacidade física.

A correlação entre a VVM, Pimax e distância percorrida no TC6M encontrada neste estudo demonstra que, quanto maior a capacidade de gerar força muscular inspiratória, maior é a capacidade de o indivíduo gerar ventilação. Além disso, quanto maior a capacidade de gerar ventilação, maior é a distância percorrida no TC6M. Isso indica que a progressão da redução da força e da

endurance muscular respiratória pode comprometer a

capacidade de exercício nos pacientes com DRC e sugere que estratégias de tratamento para a melhora da força e da endurance muscular respiratória devem ser aplicadas ainda no período pré-dialítico.

Uma limitação deste estudo foi o reduzido número de pacientes avaliados, o que inviabilizou a comparação efeti-va das efeti-variáveis entre os três estágios de evolução da DRC.

Figura 5. Correlação de Pearson entre dados da função

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CONCLUSÃO

Neste estudo piloto, pacientes com DRC em fase pré-dialítica apresentam redução da força e da endurance muscular respiratória, bem como redução da qualidade de vida. Entretanto, não ocorreu alteração da capacidade física. Nossos resultados sugerem que os comprome-timentos apresentados por estes pacientes devem ser abordados nos estágios iniciais da DRC.

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Referências

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