• Nenhum resultado encontrado

Universidade Federal do Amazonas de Ciências do Ambiente Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Universidade Federal do Amazonas de Ciências do Ambiente Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA"

Copied!
75
0
0

Texto

(1)

UFAM

Universidade Federal do Amazonas Centro de Ciências do Ambiente

Programa de Pós

Sustentabilidade na Amazônia

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECOLÓGICAS PESQUEIRAS LOCALIZADAS

BARRAMENTO HIDRELÉTRICO Universidade Federal do Amazonas

Centro de Ciências do Ambiente

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECOLÓGICAS EM COMUNIDADES LOCALIZADAS EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE BARRAMENTO HIDRELÉTRICO NA AMAZÔNIA

LÍVIA MACIEL LOPES SILVA

MANAUS-AM 2014 PPG/CASA EM COMUNIDADES EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE NA AMAZÔNIA.

(2)

UFAM

Universidade Federal do Amazonas Centro de Ciências do Ambiente

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA PPG/CASA

LÍVIA MACIEL LOPES SILVA

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA, da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, área de concentração Política e Gestão Ambiental.

Orientadora: Dra. Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão Co-Orientadora: Dra. Carolina Rodrigues da Costa Doria

MANAUS-AM 2014

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECOLÓGICAS EM COMUNIDADES PESQUEIRAS LOCALIZADAS EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE

(3)
(4)

3 LÍVIA MACIEL LOPES SILVA

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECOLÓGICAS EM COMUNIDADES PESQUEIRAS LOCALIZADAS EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE

BARRAMENTO HIDRELÉTRICO NA AMAZÔNIA.

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA, da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, área de concentração Política e Gestão Ambiental.

Aprovado em 22 de Julho de 2014

BANCA EXAMINADORA

Dra. Sandra Noda

Universidade Federal do Amazonas

(Presidente da Banca)

Dra. Carolina Rodrigues da Costa Doria. Membro

Universidade Federal de Rondônia

PhD. Simone Athayde. Membro

University of Florida

(5)

4 DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os pescadores do rio Madeira, que utilizam dessa atividade como fonte de renda para sustento de suas famílias e que foram e são negligenciados pelas políticas públicas nacionais.

(6)

5 AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço a mim mesma por aceitar esse desfio e não esmorecer diante às inúmeras dificuldades que se apresentaram durante essa trajetória.

Às orientações da Dra. Maria Olivia Albuquerque e Dra. Carolina Doria.

À Carol Campos e Maria Alice pela paciência e imprescindível ajuda nas leituras e sugestões.

À fonte financiadora CAPES.

Ao curso de Pós Graduação Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas.

À Santo Antônio Energia S.A. pela concessão dos dados.

À todas as pessoas que de alguma forma contribuíram com este trabalho. E aos meus pais por serem os maiores incentivadores dos meus sonhos.

(7)

6 RESUMO

A pesca na bacia amazônica destaca-se pela riqueza de espécies e pela alta produtividade e para as comunidades ribeirinhas o pescado representa a fonte de subsistência mais expressiva, seja para consumo ou comércio. O crescimento populacional bem como o aumento do consumo energético é uma realidade evidente desde 2001, quando blecautes simultâneos ocorreram em grandes metrópoles do Brasil. Nesta perspectiva, o maior potencial hidrelétrico sub-explorado do Brasil está localizado nas regiões tropicais onde o plano de expansão de energia 2011-2020 do Brasil lançou um programa massivo de construção de barragens hidrelétricas, onde a maioria destas está focalizada na Amazônia Legal. Neste sentido, os impactos decorrentes da construção de UHEs, nos recursos hídricos e na ictiofauna são bastante conhecidos e discutidos por diversos autores. Este trabalho visa a contribuição ao conhecimento de feedbacks e interações entre os recursos pesqueiros e pesca em uma abordagem sistêmica, que representa um campo ainda pouco explorado e conhecido principalmente na região Amazônica. Somado ao conjunto de conhecimentos existentes sobre as barragens hidrelétricas, os recursos pesqueiros e a pesca na Amazônia. A área de estudo deste trabalho compreende o reservatório do Empreendimento Hidrelétrico de Santo Antônio, localizada nos trechos encachoeirados da Cachoeira de Santo Antônio e da Cachoeira do Teotônio no rio Madeira e no distrito de Jaci Paraná. Os resultados obtidos, diante das mudanças abruptas ocorridas nos ecossistemas das localidades estudadas, principalmente nos ecossistemas aquáticos dos rios Madeira e Jaci Paraná, permitem afirmar que a estrutura da pesca sofreu grandes impactos nas duas comunidades estudadas. Entretanto, como as localidades possuíam características estruturais diferentes, tanto na pesca quanto na organização social local, em alguns dos aspectos analisados, os impactos ambientais foram absorvidos de formas distintas pelos pescadores de cada localidade. A abordagem da discussão deste trabalho foi baseada na teoria de sistemas socioecológicos complexos que defende a ideia de que é preciso integrar todos os subsistemas ecológico, político, econômico e social em um único grande sistema, para se alcançar a sustentabilidade. Assim, a construção das UHEs causam impactos ecológicos que se refletem nos usuários, que por sua vez dependem dos recursos naturais e vice-versa, numa relação sistêmica.

Palavras-chave: rio Madeira, impactos ambientais, sistemas socioecológicos, hidroelétrica.

(8)

7 ABSTRACT

Fisheries in the Amazon basin is characterized by fish richness and the high productivity, and for riverine fishing communities, it is the most important livelihood activity, whether for consumption or trade. Population growth and the resulting increase in electricity consumption has been exacerbated since 2001, when simultaneous blackouts occurred in Brazilian big urban centers. The largest under-exploited hydroelectric potential in Brazil is located in the Amazon, where the Brazilian government has launched a massive program to build hydroelectric dams through its energy expansion plan for 2011-2020. The impacts resulting from the construction of hydropower plants, water resources and fish populations are well known and discussed by several authors. This paper combines and analyzes the environmental and socioeconomic impacts with a system’s approach, where the socioecological changes occur in a chain reaction, which ends on the users who depend on fishing resources. The study site comprises the reservoir of the Santo Antônio Hydroelectric Dam, ranging from of the rapids of Cachoeira de Santo Antônio and Cachoeira do Teotônio in the Madeira River, and the District of Jaci Paraná. The results evidenced abrupt changes on aquatic ecosystems in the Madeira and Jaci Paraná rivers. However, in spite of the fact that the fishing structure suffered major impacts in the two communities studied, for some of the aspects analyzed by this study, environmental impacts were absorbed differently by the fishermen of each locality because the cities had different fishing and social organization structural characteristics. The theoretical approach adopted for this research was based on the theory of complex social-ecological systems, which defends the idea that we need to consider and integrate the ecological, political, economic and social subsystems into a single larger system, to achieve sustainability. Thus, the construction of hydroelectric plants causes ecological impacts that are reflected on the human users who depend on natural resources and vice-versa, in a systemic feedback.

(9)

8 SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1 IMPACTOS ECOLÓGICO E SOCIOECONÔMICO DA CONSTRUÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS ... 14

2 OBJETIVO GERAL ... 20

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 20

3 MATERIAL E MÉTODOS ... 21

3.1 ÁREA DE ESTUDO ... 21

3.1.1 Caracterização da Área de Estudo ... 21

3.2 COLETA DE DADOS ... 22

3.3 ANÁLISE DOS DADOS ... 25

4 RESULTADOS ... 28 4.1 JACI PARANÁ ... 28 4.1.1 Caracterização Ecológica ... 28 4.1.2 Caracterização Socioeconômica ... 34 4.2 CACHOEIRA DO TEOTÔNIO ... 39 4.2.1 Variáveis Ecológicas ... 39 4.2.2 Variáveis Socioeconômicas ... 46 5 DISCUSSÃO ... 53 6 CONCLUSÃO ... 62 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 65 ANEXO I ... 73 ANEXO II ... 74

(10)

9 LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização geográfica do distrito de Jaci Paraná e da comunidade da Cachoeira do Teotônio. ... 22 Figura 2 - Entrevistas realizadas com os pescadores das localidades de Jaci Paraná (A) e Comunidade Cachoeira do Teotônio (B). ... 25 Figura 3 - Nível hidrológico do rio Madeira dos anos de 2009 a maio de 2014. Fonte: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) (Brasil – ANA, 2014). ... 29 Figura 4 - Imagens do lago do Mangeliona e desmatamento das margens do rio Jaci Paraná antes formação do Reservatório da UHE de Santo Antônio Energia SA. Fotos Livia Maciel L. Silva, 2011. ... 29 Figura 5 - Composição específica (em kg) de peixes das pescarias realizadas em Jaci Paraná. A) Período de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011; B) Período de POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013). ... 31 Figura 6 - Tipos de ambientes explorados nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na localidade de Jaci Paraná. ... 32 Figura 7 - Apetrechos utilizados para a pesca nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na localidade de Jaci Paraná. ... 33 Figura 8 - Produção pesqueira (kg) nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná. ... 37 Figura 9 - Captura por unidade de esforço (CPUE) nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná. ... 37 Figura 10 - Receita líquida (R$) da produção pesqueira nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná. ... 38 Figura 11 - Pescarias realizadas na Cachoeira do Teotônio no período que antecedeu o enchimento do Reservatório: pesca com fisga, nos pedrais (A) e; pesca com fisga nas burras (B), estruturas de madeira que eram montadas nas pedras da cachoeira, no período da seca e utilizadas nos períodos de enchente/cheia do rio Madeira. Fotos: Thiago Pires, Igor Sant’Anna. ... 40

(11)

10 Figura 12 - Imagens da Cachoeira do Teotônio antes da formação do reservatório da UHE de Santo Antônio Energia SA.. Agosto/2012 período de vazante do rio Madeira, Fotos Livia Maciel L. Silva. ... 41 Figura 13 – Cachoeira do Teotônio, Rio Madeira, Porto Velho. Imagens do reservatório da UHE de Santo Antônio Energia SA. 15 dias após o início do barramento (A)e dois anos após a formação do reservatório (B. Fotos Livia Maciel L. Silva. ... 41 Figura 14 - Composição específica (kg e %) das pescarias realizadas na Cachoeira do Teotônio. A) Período de Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio – PRER (de outubro/2009 a setembro/2011); B) Período de Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio – POSR ( outubro/2011 a setembro/2013). . 43 Figura 15 - Tipos de ambientes explorados e apetrechos utilizados para a pesca nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Cachoeira do Teotônio. ... 44 Figura 16 - Tipos de apetrechos utilizados para a pesca nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Cachoeira do Teotônio. ... 45 Figura 17 - Produção (kg) de pescado nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade da Cachoeira do Teotônio. ... 49 Figura 18 - Captura por unidade de esforço (CPUE) nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade da Cachoeira do Teotônio. ... 50 Figura 19 - Receita líquida (R$) da produção de pescado nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013)na comunidade da Cachoeira do Teotônio. ... 50

(12)

11 LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de registros realizados durante o monitoramento do desembarque pesqueiro nas localidades de Jaci Paraná e Cachoeira do Teotônio antes da formação do Reservatório (PRER) e dois anos após a formação do Reservatório da UHE Santo Antônio Energia SA. ... 23 Tabela 2 - Número de pescadores entrevistados nas localidades de Jaci Paraná e Cachoeira do Teotônio antes da formação do Reservatório (PRER) e reentrevistados dois anos após a formação do Reservatório da UHE Santo Antônio Energia SA. ... 25 Tabela 3 - Categorias de análise e a descrição das variáveis correspondentes utilizadas no estudo. ... 26 Tabela 4 - Categorias separadas por objetivos e o tipos de análise utilizada em cada variável. ... 27 Tabela 5 - Teste t-Student para as variáveis ecológicas nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná. ... 33 Tabela 6 - Média e desvio padrão do Número de anos dedicados à pesca Número de pessoas na família e Número de pescadores na família dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n = 10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n = 8. Fonte: Entrevistas aos pescadores. ... 34 Tabela 7 - Média e desvio padrão do tempo de deslocamento (minutos) do domicilio até o principal pesqueiro e frequência de pesca (Número de dias/semana) dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n = 10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n =8. Fonte: Entrevistas aos pescadores. ... 35 Tabela 8 - Número de desembarque, número de pescadores e número de dias pescados por ano e por período em Jaci Paraná: PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011), n=500; e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013), n =536. Fonte: Registro de Desembarque. ... 36 Tabela 9 - Média e desvio padrão do indicador social dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n=10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n = 8. ... 38 Tabela 10 - Frequência relativa do indicador social dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n=10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n = 8. ... 39

(13)

12 Tabela 11 - Frequência relativa de pescadores de Jaci Paraná registrados na Colônia de Pescadores e que participam de outras instituições nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n=10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n =8. Fonte: Entrevistas. ... 39 Tabela 12 - Teste t-Student das médias de riqueza especifica, composição epecífica, ambientes e apetrechos de pesca entre os períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Cachoeira do Teotônio. ... 45 Tabela 13 - Média e desvio padrão do Número de anos dedicados à pesca Número de pessoas na família e Número de pescadores na família dos pescadores entrevistados na Cachoeira do Teotônio nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n = 13 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n = 7. Fonte: Entrevistas aos pescadores. ... 47 Tabela 14 - Média e desvio padrão do tempo de deslocamento (minutos) do domicilio até o principal pesqueiro e frequência de pesca (Número de dias/semana) dos pescadores entrevistados na Cachoeira do Teotônio nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n = 13 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n =7. Fonte: Entrevistas aos pescadores. ... 47 Tabela 15 - Número de desembarque, número de pescadores e números de dias pescados por ano e por período na Cachoeira do Teotônio: PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013). ... 48 Tabela 16 - Média e desvio padrão do valor (R$) das despesas com a pesca na Cachoeira do Teotônio nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n=13 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013)n =7. ... 51 Tabela 17 - Frequência relativa dos indicadores sociais dos pescadores entrevistados na Cachoeira do Teotônio nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n=13 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n =7. ... 51 Tabela 18 - Resumo dos resultados obtido, para cada categoria analisada, entre os períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013), por comunidade. ... 52

(14)

13 1 INTRODUÇÃO

A pesca na bacia amazônica destaca-se pela riqueza de espécies, altos valores de produção, estimada em 150 mil toneladas por ano (PETRERE et al., 1992), e pela importância para o sustento das comunidades tradicionais e ribeirinhas. Essa atividade se concentra nas planícies onde os trechos dos rios são mais volumosos e nas zonas de contato das águas continentais e estuarinas que influenciam diretamente no tamanho e quantidade do pescado, essas áreas de inundações periódicas reúnem parte da base energética que sustenta os recursos pesqueiros explorados (BARTHEM e FABRÉ, 2004).

Para as comunidades ribeirinhas o pescado representa a fonte de subsistência mais expressiva, seja para consumo ou comércio (ISAC e BARTHEM, 1995; DORIA et al., 2012). A pesca realizada por essas comunidades na Amazônia é de extrema importância no cumprimento do papel social, pois esse ofício absorve parte da mão de obra ativa dos núcleos urbanos, reduzindo a taxa de desemprego e gerando cerca de 200 mil empregos diretos. (BARTHEM, 1999). Nessas comunidades a produção pesqueira muitas vezes é de pequena escala, mas exerce extrema importância para o abastecimento dos mercados regionais (BERKES et al., 2006; DORIA et al., 2008 GONÇALVES e BATISTA, 2008).

O pescado, nas regiões ribeirinhas, além de ser fundamental para a alimentação da população é a principal fonte de proteína com média estimada em 16kg/pessoa/ano. Essa taxa varia de acordo com as regiões da Amazônia, em cidades do interior da Amazônia Central, o consumo foi estimado entre 490 e 600 g/dia (BATISTA et al., 1998). Entretanto, esses valores nunca são considerados nos indicadores econômicos regionais, apesar de ser um dos mais elevados do mundo. (BATISTA e FREITAS, 1995; CERDEIRA et al., 1997; BATISTA, 1998; FABRÉ e ALONSO, 1998; RUFFINO, 2004; JÚNIOR e ALMEIDA, 2006).

Em Rondônia, segundo dados da Colônia de Pescadores Tenente Santana Z-1, o consumo de pescado na zona rural, distante da calha dos grandes rios, é de 3,88 kg/ano, em comunidades ribeirinhas esse valor pode chegar a 5 kg/família/dia em (DORIA et al., 2008).

O rio Madeira, responsável por parte da produção pesqueira e de grande contribuição na pesca de subsistência de muitas comunidades amazônicas (BARTHEM e GOULDING, 2007), é um dos principais tributários a margem direita

(15)

14 do rio Amazonas, grande em extensão e contribuição em vazão, transporte de sedimentos, além de importante rota de migração de peixes (LATRUBESSE et al., 2005). A produção potencial pesqueira do rio Madeira foi estimada em torno de 3,6 mil toneladas por ano (MPA, 2010) e a bacia do alto e médio rio Madeira representa 50% dessa produção (LIMA, 2012).

Em Rondônia a atividade pesqueira tem em Porto Velho um dos seus principais portos de desembarque, onde a produção pesqueira anual nos últimos 20 anos tem oscilado entre 377 e 1.628 toneladas/ano (DORIA et al., 2010; DORIA et al., 2012). Entretanto, os pequenos centros comerciais existentes entre Guarajá-Mirim e Porto Velho que são: Cachoeira do Teotônio, Jaci Paraná, Nova Mamoré, Fortaleza do Abunã e Abunã, são de extrema importância não apenas por sua produtividade, mas também pela representatividade na renda e subsistência de suas comunidades (DORIA et al., 2012).

Dentre esses centros se destacam os localizados em duas comunidades no trecho encachoeirado do rio Madeira, inseridas atualmente na área do Reservatório da UHE Santo Antônio: a comunidade da Cachoeira do Teotônio e o distrito de Jaci Paraná, localizadas nas proximidades da capital do estado de Rondônia, Porto Velho. Essas duas comunidades são formadas em sua maioria por pescadores profissionais e por aqueles que de alguma forma fazem uso do recurso pesqueiro como fonte de renda principal ou complementar ou como item alimentar principal de sua dieta.

1.1 Impactos ecológicos e socioeconômicos da construção de usinas hidrelétricas sobre as pescas e os recursos pesqueiros

1.1.1 Impactos ecológicos sobre as pescas e os recursos pesqueiros

O crescimento populacional bem como o aumento do consumo energético é uma realidade evidente desde 2001, quando blecautes simultâneos ocorreram em grandes metrópoles do Brasil (FEARNSIDE, 2004). Porém, para suprir a necessidade da população a baixos custos para o país, a produção de energia hidroelétrica vem sendo usada desde o século XIX, quando a primeira usina foi construída (PETRERE, 1992). Desde então pouco se tem feito para explorar novas fontes de energia, principalmente, por este método ter sido considerado por muito tempo como fonte renovável, disponível e economicamente viável (FEARNSIDE, 2013b).

(16)

15 Nesta perspectiva, o maior potencial hidrelétrico ainda sub-explorado do Brasil está localizado nas regiões tropicais, que possuem as bacias mais extensas do país (KEMENES, 2006). O país apresenta o terceiro maior potencial hidrelétrico das Américas e para manter o desenvolvimento e, consequentemente, a demanda energética, tem feito uso desse recurso às custas dos ecossistemas fluviais (PETESSE e PETRERE, 2012).

O plano de expansão de energia 2011-2020 do Brasil lançou um programa massivo de construção de barragens hidrelétricas, com a maioria destas localizada na Amazônia Legal, onde pelo menos 30 grandes barragens estão previstas para serem construídas ao longo de um período de dez anos (FEARNSIDE, 2013a).

As barragens planejadas na Amazônia (e em muitas outras partes do mundo) geram impactos que precisam ser quantificados, com ponderação realista de dos os benefícios esperados para que decisões racionais sejam tomadas (SILVA et al., 2010). Muitos dos impactos negativos desses empreendimentos recaem sobre as populações locais que vivem ao longo dos rios a serem represados, enquanto os benefícios se revertem para cidades distantes, por vezes, localizadas em outros países (FEARNSIDE, 2013 b). A conversão de um sistema lótico (água corrente) para um de água lenta ou lêntico, interfere na dinâmica dos ecossistemas aquáticos, reduzindo a velocidade do fluxo que altera a qualidade da água, tornando as condições ambientais semelhantes aos existentes em lagoas. Essas mudanças afetam todos os organismos que vivem na água, inclusive os peixes, que por serem importantes como fonte de alimento, renda e lazer, geram as maiores preocupações (PETESSE e PETRERE, 2012; FEARNSIDE, 2013 a). As perdas de espécies e a manifestação de outras novas, bem como a proliferação epidêmica de doenças tropicais, também são efeitos trazidos com essas mudanças (PETRERE, 1992; SANTOS 1995; FEARNSIDE, 2005; SILVA et al., 2010).

Para as comunidades ribeirinhas e para a ictiofauna local os danos são ainda mais severos. Inúmeros trabalhos vêm mostrando a redução e alteração na estabilidade dos recursos pesqueiros representadas pela perda e/ou substituição das espécies comerciais causadas por essas alterações (AGOSTINHO et al., 1993; ARAÚJO-LIMA et al., 1995; PETRERE, 1996).

A pesca efetuada em comunidades ribeirinhas do médio rio Madeira explota dentre 35 e 45 espécies (PEREIRA et al., 2001; PEREIRA e CARDOSO, 2003), porém, as espécies mais capturadas são os siluriformes, como a dourada

(17)

16 (Brachyplatystoma rousseauxii), considerada umas das principais espécies comerciais da região Amazônica pelo seu valor econômico (BATISTA, 2010). A piramutaba (Brachyplatystoma vaillanti) que, a partir dos anos 70, passou a ser explorada com intensidade representando importante fonte de renda para os ribeirinhos amazônicos (FABRÉ e BARTHEM, 2005), além da piraíba ou filhote, (Brachyplatystoma filamentosum) que também realiza grandes migrações para se reproduzir e é bastante representativa na pesca local pelo seu valor de venda. Com o barramento do rio Madeira, os grandes bagres tornam-se vulneráveis, já que são espécies que possuem característica migratória de longa distância. Vencer esse obstáculo é uma condição para que a migração aconteça (BATISTA, 2006) e isso poderá acarretar a diminuição ou até mesmo o desaparecimento dessas espécies (FEARNSIDE, 2013 b).

Somam-se ainda as espécies de Characiformes, como o pacu (Mylossoma spp; Myleus ssp.), tambaqui (Colossoma macropomum) e jatuarana/matrixã (Bryncon amazonicus/B. melanopterus) muito importantes para a comercialização e subsistência, além de abastecerem os mercados regionais (LIMA, 2010). Essas espécies mais especialistas poderão ser prejudicadas, pois, com a alteração do ambiente, a disponibilidade dos recursos vitais também será alterada afetando a disponibilidade dessas espécies (SILVA et al., 2010; PETESSE e PETRERE, 2012), o que irá contribuir para a diminuição da renda das famílias ribeirinhas.

Além disso, o surgimento de espécies que são favorecidas pela capacidade de reprodução em águas lênticas (KEMENES, 2006; PETRER, 2004) nem sempre possuem valor comercial significativo a ponto de manter a renda do pescador nos níveis alcançados antes da mudança provocada no ambiente, já que alguns siluriformes (bagres ou peixe liso) são as espécies que possuem valores comerciais similares ou maiores que outros tipos de proteína (SANTOS & SANTOS, 2005). 1.1.2 Impactos socioeconômicos sobre as pescas e os recursos pesqueiros

As atividades humanas influenciam em vários graus a dinâmica ecossistêmica, na medida em que as pessoas necessitam dos recursos e serviços fornecidos pelos ecossistemas. Desse modo, pode-se entender o mundo, regiões e comunidades como um sistema sócio-ecológico, que está em constante transformação, refletindo a interação dos processos físico, ecológico e social (CHAPIN et al., 2009).

(18)

17 As comunidades tradicionais ribeirinhas são caracterizadas por dependerem dos recursos naturais, terem vasto conhecimento sobre o ambiente em que vivem e transmiti-lo de geração em geração, possuírem noção de território, espaço e uso dos mesmos e por dependerem das atividades de subsistência, de alta produtividade ou não, exercidas no local (DIEGUES e ARRUDA, 2001).

Nem sempre aquilo que o ecossistema oferece como bem ou serviço é comercializável, ou tem preço direto, como, por exemplo, o fitoplâncton de uma represa. Muitas vezes o valor é intrínseco, pois, direta ou indiretamente, serve de alimento para os peixes e estes sim são comercializáveis (CERREGATO e PETRERE, 2002) de modo que, todos esses fatores ambientais influenciam diretamente na renda dos pescadores que fazem da pesca sua fonte de renda e seu meio de subsistência.

Neste contexto, a implementação de um empreendimento de grande porte, como o de uma Usina Hidrelétrica, traz consequências socioambientais para as localidades onde são instalados (ROQUETTI, 2013). Estima-se que 60% dos rios pelo mundo possuam represas, e mais de 40 mil são consideradas de grande porte (PETESSE e PETRERE, 2012). Ribeiro (1987) define que projetos de grande escala possuem três dimensões inter-relacionadas: gigantismo, isolamento e caráter temporal. Juntas tais dimensões estão por trás das grandes consequências sociais e ambientais consideradas negativas. Definidos pelo mesmo autor como:

• Gigantismo - imensa demanda por recursos (monetário e ambiental) necessários à viabilização do projeto.

• Isolamento - território controlado que obedeça a lógica de produção do projeto.

• Temporalidade - relacionada com o controle do cronograma de execução que o projeto esta subjugado, independente da dinâmica do local de implementação. Prazos de execução da obra são priorizados em detrimento de tudo que diz respeito às condições locais.

O processo de planejamento da ocupação do território nacional tem priorizado o aproveitamento hidrelétrico dos corpos d'agua, enquanto outras atividades e formas de uso dos recursos são postas em segundo plano Quando certos aspectos são considerados de prioridade baixa a ponto de serem negligenciados no processo de

(19)

18 planejamento de empreendimentos, abre-se margem à ocorrência de impactos ambientais de maior grandeza (TEIXEIRA et al., 2006).

Associado as necessidades e demandas das grandes construções, a execução da obra em si, demanda grande quantidade de mão de obra, gerando incremento na oferta de emprego para as populações locais. Mas esses postos gerados em construções, além de serem temporários, pertencem as mais baixas posições do mercado de trabalho, e, além disso, parte dessa mão de obra quase sempre vem de fora (RIBEIRO, 1987). Isso gera aumento populacional flutuante, que em comunidades pequenas, vira um transtorno por não terem condições estruturais de suprir as necessidades de grandes populações (Zhouri e Oliveira, 2006 apud ROQUETTI, 2013).

Outro aspecto relacionado aos impactos trazidos com a instalação de empreendimentos de grande porte é a evasão das populações locais, isso ocorre por motivações pessoais ou mesmo pela realocação que os moradores são obrigados a fazerem por conta da impossibilidade de continuar nos locais. Esses reassentamentos são historicamente contestados e resultaram na existência de movimentos sociais e organizações não governamentais tendo o MAB (Movimentos dos Atingidos por Barragens) como o maior representante da reivindicação do “deslocamento compulsório” de populações predominantemente ribeirinhas como prova da insatisfação dessas populações que são realocadas (ROQUETTI, 2013).

O mundo está ameaçado por consideráveis danos ou perdas de muitos recursos naturais, incluindo a pesca. Todos os recursos utilizados por seres humanos são incorporados nos sistemas complexos sócioecológicos, compostos de múltiplos subsistemas organizados de formas distintas em diferentes níveis. Deste modo, todos os subsistemas interagem e produzem resultados para o sistema maior, que por sua vez, se retroalimenta podendo vir a afetar os subsistemas e seus componentes (OSTROM, 2009). Em sistemas aquáticos, por exemplo, a perda da diversidade pode criar sistemas frágeis facilitando impactos como eutrofização e explosão de espécies dominantes (CHAPIN et al., 1997).

Neste sentido, após uma perturbação, como o caso de uma usina hidrelétrica, o sistema que for capaz de se auto-organizar e se adaptar as novas condições irá apresentar alto potencial de resiliência (BERKES e TURNER, 2006) que segundo Folke et al., 2002, resiliência seria a capacidade, desse sistema sócioecológico, absorver impactos ou perturbações e manter a sustentabilidade de suas funções

(20)

19 fundamentais, estrutura, identidade e feedback, e diante de um novo contexto, reorganizar ou recuperar-se.

E conhecer as respostas dos usuários desse sistema, que foi fragilizado, é fundamental para propiciar o manejo dos recursos de forma mais efetiva e direcionada a sua manutenção ou recuperação da resiliência (MARSHAL e MARSHAL, 2007).

Neste sentido, os impactos decorrentes da construção de UHEs, nos recursos hídricos e na ictiofauna são bastante conhecidos e discutidos por diversos autores. Este trabalho associa e analisa os impactos ambientais e socioeconômicos como um sistema, onde a reação frente às mudanças ocorre em cadeia e finaliza nos usuários que dependem dos recursos pesqueiros. Deste modo objetiva-se contribuir com a geração de informações técnico-científicas que possam subsidiar a elaboração de políticas públicas a fim de facilitar a readaptação desses usuários à nova realidade imposta ou, no caso de novos empreendimentos, prevenir ou minimizar a ocorrência desses impactos.

(21)

20 2 OBJETIVO GERAL

Avaliar distúrbios ecológicos e socioeconômicos ocorridos em duas comunidades pesqueiras localizadas em área de influência de barramento hidrelétrico na Bacia do Rio Madeira, na Amazônia brasileira.

2.1 Objetivos Específicos

1. Caracterizar e avaliar ecologicamente e socioeconomicamente a atividade pesqueira em duas comunidades nos períodos pré (PRER) e dois anos após a formação (POSR) do Reservatório da UHE Santo Antônio.

2. Comparar os impactos ecológicos e socioeconômicos na atividade pesqueira nas duas comunidades nos dois períodos

(22)

21 3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

O rio Madeira é um rio tripartite, que drena porções dos territórios do Brasil (50%), da Bolívia (40%) e do Peru (10%). Ele é um dos cinco rios mais caudalosos do mundo, sendo responsável por cerca de 23% da área de drenagem e 15% da descarga líquida total da Bacia Amazônica (Martinelli et al., 1989; Furnas, 2005).

O Madeira é o principal tributário da margem direita do rio Amazonas em vazão e transporte de sedimentos (LATRUBESSE et al., 2005), é o segundo em termos de bacia de drenagem, representando aproximadamente 1.300.000 km², com uma descarga de cerca de 1 trilhão de m³/ano (Gibbs, 1967 apud GOULDING, 1979). Está dividido em quatro zonas: i. baixo rio Madeira, da jusante do rio Aripuanã até a foz do rio Amazonas; ii. médio rio Madeira que fica entre os rios Aripuanã e Machado; iii. alto rio Madeira, localizado entre a cachoeira de Santo Antônio e o rio Machado, e finalmente: iv. o trecho de corredeiras, Cachoeira do rio Madeira que vai de Porto Velho ate o rio Beni (GOULDING, 1979).

3.1.1 Caracterização da Área de Estudo

A área de estudo compreende o reservatório do Empreendimento Hidrelétrico de Santo Antônio, localizada nos trechos encachoeirados da Cachoeira de Santo Antônio e da Cachoeira do Teotônio no rio Madeira e no distrito de Jaci Paraná (Figura 1). A construção da barragem de Santo Antônio resultou na formação de reservatório de água, com área de 271km2, dos quais 164km2 são a própria calha do rio implicado. Dessa forma, a área de inundação corresponde a 107km2 de terras das margens do rio Madeira (RIMA da UHE Santo Antônio, 2005). Com aproximadamente 4.703 habitantes e 80 km de distância de Porto Velho (IBGE, 2007), o distrito de Jaci Paraná possui a bacia do rio Jaci Paraná, de grande extensão e contribuinte da margem direita do rio Madeira. Seus principais afluentes são os rios: Branco, São Francisco, Formoso, Capivari e do Contra. Destaca-se ainda, o rio Caracol e o igarapé do Jirau (DANTAS e ADANY, 2005).

A Cachoeira do Teotônio, antes da implantação do barramento, cobria toda a largura do rio Madeira, aproximadamente 700 metros no período da cheia. Um paredão elevado se estendendo da margem direita por aproximadamente 100 metros da praia a margem esquerda (GOULDING, 1979). A comunidade da Cachoeira

(23)

abrange as Vilas Teotônio e

dependiam economicamente quase que exclusivamente da pesca (DO

Figura 1 - Localização geográfica do distrito de Jaci Paraná e da comunidade da Cachoeira do Teotônio.

3.2 Coleta de dados

Os dados deste trabalho fazem parte do Banco de Dados do Laboratório de Ictiologia e Pesca (LIP) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e foram coletados durante a realização do programa de monitoramento da atividade pesqueira da Santo Antônio Energia SA.

A coleta de dados nas duas • Pré-enchimento

que vai de outubro de 2009 até o momento de fechamento do reservatório em setembro de 2011.

• Pós-enchimento

que compreende o período de outubro de 2011 a setembro 2013.

Para a caracterização e avaliação dos

atividade pesqueira e socioeconômicos nos pescadores nas duas comunidades antes e abrange as Vilas Teotônio e Amazonas com cerca de 80 famílias que viviam ali e que dependiam economicamente quase que exclusivamente da pesca (DORIA,

Localização geográfica do distrito de Jaci Paraná e da comunidade da

Os dados deste trabalho fazem parte do Banco de Dados do Laboratório de (LIP) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e foram durante a realização do programa de monitoramento da atividade pesqueira da Santo Antônio Energia SA., no período de Outubro de 2009 a setembro de 2013.

A coleta de dados nas duas comunidades compreenderam dois períodos:

enchimento do reservatório da UHE de Santo Antônio (PRER) que vai de outubro de 2009 até o momento de fechamento do reservatório em setembro de 2011.

enchimento do reservatório da UHE de Santo Antônio (POSR) preende o período de outubro de 2011 a setembro 2013.

Para a caracterização e avaliação dos impactos ecológicos ocorridos na socioeconômicos nos pescadores nas duas comunidades antes e 22 Amazonas com cerca de 80 famílias que viviam ali e que RIA, et al 2011).

Localização geográfica do distrito de Jaci Paraná e da comunidade da

Os dados deste trabalho fazem parte do Banco de Dados do Laboratório de (LIP) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e foram durante a realização do programa de monitoramento da atividade pesqueira

no período de Outubro de 2009 a setembro de 2013. períodos:

do reservatório da UHE de Santo Antônio (PRER) que vai de outubro de 2009 até o momento de fechamento do reservatório

do reservatório da UHE de Santo Antônio (POSR) preende o período de outubro de 2011 a setembro 2013.

ecológicos ocorridos na socioeconômicos nos pescadores nas duas comunidades antes e

(24)

23 após o enchimento do reservatório da UHE Santo Antônio, foram aplicados diferentes métodos:

(1) Registro diário do desembarque da pesca comercial realizado, por meio de entrevistas efetuadas com base em um questionário estruturado, durante o monitoramento de desembarque pesqueiro nos períodos de PRER e POSR.

Essas entrevistas eram realizadas nas localidades alvo do estudo nos pontos de desembarque ou nas residências dos pescadores e foram conduzidas por um coletor, que geralmente residia na localidade e tinha a função de aplicar diariamente questionários estruturados referentes ao desembarque comercial de cada pescador (Tabela 1). Os dados registrados durante as entrevistas objetivavam interceptar informações (amostrais) sobre a real atividade pesqueira exercida durante os dois períodos..

Tabela 1 - Número de registros realizados durante o monitoramento do desembarque pesqueiro nas localidades de Jaci Paraná e Cachoeira do Teotônio antes da formação do Reservatório (PRER) e dois anos após a formação do Reservatório da UHE Santo Antônio Energia SA.

Jaci Paraná Cachoeira do Teotônio Número de Registro de Desembarques PRER Número de Registros de Desembarques POSR Número de Registro de Desembarques PRER Número de Registros de Desembarques POSR 500 536 1.678 663

Os questionários utilizados no monitoramento de desembarque pesqueiro (Anexo x) continham informações sobre:

- Produção pesqueira (Kg), - Composição específica - Tipo de apetrecho

- Esforço de pesca (dias e número de pescadores) - Local de pesca

- Custos da pescaria (gelo, alimentação e combustível)

(1) Registro dos descritores socioeconômicos da pesca nas duas comunidades ocorrido durante entrevistas semi-estuturadas (Neto,

(25)

24 1994) que teve como instrumentos de coleta dois formulários (anexos I e II neste trabalho) contendo questões “abertas” e “fechadas” (Chizzoti, 1995), abordando aspectos sociais e econômicos relacionados com a caracterização da pesca.

Segundo Borg e Gall (1988) os questionários e entrevistas visam aprimorar as informações empíricas obtidas, entretanto, como a maioria dos métodos de coletas de dados, existem vantagens e restrições. Um importante ponto, que pode influenciar nos dados obtidos é o que o sujeito quer ou sabe informar (GIL, 1988). Em contra ponto quando existe interação do pesquisador com o entrevistado ou quando se sabe como extrair as informações do informante a probabilidade de sucesso aumenta. Outro fato que suporta a escolha desse método é a amplitude de pessoas e os baixos custos do processo (ISAAC e MICHAEL, 1982). A abordagem do método qualitativo de pesquisa, oportunizado pelas entrevistas, permite a compreensão dos indivíduos em seu contexto (GOLDEMBERG, 2002), facilitando a compreensão da atividade de pesca, e sua importância social e econômica para os pescadores das comunidades estudadas.

As entrevistas foram conduzidas pela autora deste trabalho junto aos pescadores das localidades dez dias após o represamento do rio em setembro de 2011 que foi caracterizado como período pré-enchimento do reservatório (PRER) e reaplicados dois anos após a formação do reservatório, período como caracterizado como pós-enchimento do reservatório da UHE da Santo Antônio Energia SA (POSR).

A seleção dos pescadores entrevistados no primeiro período do estudo (PRER) setembro de 2011 foi realizada no grupo de pescadores, homens e mulheres, que participavam do monitoramento da pesca realizado pelo LIP/UNIR, e que continuaram exercendo a atividade de pesca durante o período de enchimento do reservatório (Tabela 2).

Em setembro de 2013, dois anos após a formação do reservatório da UHE de Santo Antônio, retornamos às comunidades objetivando reentrevistar os mesmos pescadores que participaram em 2011 (Tabela 2) e para isso utilizamos o método conhecido como “bola de neve”, onde cada pescador entrevistado indicou outros a serem posteriormente entrevistados (ALBUQUERQUE et al., 2008) após a indicação, eram escolhidos os pescadores que foram entrevistados no período anterior.

(26)

Os dados de monitoramento do desembarque e análise socioeconômica bem como os questionários encontram

Laboratório de Ictiologia e Pesca (LIP) da UNIR.

Tabela 2 - Número de pescadores entrevis

Cachoeira do Teotônio antes da formação do Reservatór

dois anos após a formação do Reservatório da UHE Santo Antônio Energia SA. Jaci Paraná Número de Entrevistados PRER Número de Reentrevistados 10

Figura 2 - Entrevistas realizadas com os pescadores das localidades de Jaci Paraná (A) e Comunidade Cachoeira do Teotônio (B).

3.3 Análise dos dados Foram selecionadas duas socioeconômica, com suas respectivas

Os métodos para verificar se houve diferença significativa entre as variáveis econômicas, ecológicas e sociais registradas nos períodos PRER e POSR foram descritos de acordo as categorias e com os

Os dados de monitoramento do desembarque e análise socioeconômica bem como os questionários encontram-se disponíveis nos registros do Banco de dados do Laboratório de Ictiologia e Pesca (LIP) da UNIR.

Número de pescadores entrevistados nas localidades de Jaci Par Cachoeira do Teotônio antes da formação do Reservatório (PRER) e reentrevistados dois anos após a formação do Reservatório da UHE Santo Antônio Energia SA.

Jaci Paraná Cachoeira do Teotônio Número de Reentrevistados POSR Número de Entrevistados PRER Número de Reentrevistados 8 13

Entrevistas realizadas com os pescadores das localidades de Jaci Paraná (A) e Comunidade Cachoeira do Teotônio (B).

Foram selecionadas duas categorias ou dimensões de análise: com suas respectivas variáveis descritas na tabela 3.

Os métodos para verificar se houve diferença significativa entre as variáveis econômicas, ecológicas e sociais registradas nos períodos PRER e POSR foram

do as categorias e com os objetivos deste estudo (Tabela 4 25 Os dados de monitoramento do desembarque e análise socioeconômica bem e disponíveis nos registros do Banco de dados do

dos nas localidades de Jaci Paraná e io (PRER) e reentrevistados dois anos após a formação do Reservatório da UHE Santo Antônio Energia SA.

Cachoeira do Teotônio Número de Reentrevistados

POSR 7

Entrevistas realizadas com os pescadores das localidades de Jaci Paraná (A)

e: ecológica e

Os métodos para verificar se houve diferença significativa entre as variáveis econômicas, ecológicas e sociais registradas nos períodos PRER e POSR foram objetivos deste estudo (Tabela 4).

(27)

26 Tabela 3 - Categorias de análise e a descrição das variáveis correspondentes utilizadas no estudo.

Categorias Variável Descrição

E

co

gi

co

Composição de espécies Produção das espécies comercialmente rentáveis

Número de espécies Riqueza na captura das espécies economicamente rentáveis

Locais de pesca Heterogeneidade dos ambientes explorados na comunidade

Número de apetrechos de pesca Heterogeneidade dos aparelhos de pesca

Número de pescadores Pessoas que estão realizando essa atividade

So ci oe co m ic o

CPUE Captura pela unidade de esforço (Kg/pescador*dia)

Renda Renda líquida do entrevistado (em R$) adquirida com a venda do pescado

Produção Captura total

Valor das despesas com a pesca (R$) Soma dos gastos utilizados para uma pescaria

Fontes alternativas de renda Não depende exclusivamente da pesca

Número de anos dedicados à pesca

Indicadores sociais que caracterizam as comunidades e as mudanças Número de pessoas na família

Número de pescadores na família

Distância/tempo principal pesqueiro (minutos) Heterogeneidade de uso dos pesqueiros Frequência de pesca (dias/semana) Registro na colônia de pescadores Participação de outras instituições

(28)

27 Tabela 4 - Categorias separadas por objetivos e os tipos de análises utilizadas para cada variável.

Categoria Variável Análises

O bj et iv o 1e 3 E co gi co Composição específica

Teste t – comparação de médias entre os períodos (PRER e POSR)

Riqueza específica Ambientes de pesca Apetrechos de pesca Número de pescadores Produção

Anova Fatorial - análise de variância com pressuposto de Levene's

O bj et iv os 2 e 3 So ci oe co m ic o CPUE Receita

Valor das despesas com a pesca (R$) Média e Desvio Padrão

Fontes alternativas de renda Frequência Relativa

Número de anos dedicados à pesca

Média e Desvio Padrão

Número de pessoas na família Número de pescadores na família

Distância/tempo principal pesqueiro (minutos) Frequência de pesca (dias/semana)

Frequência Relativa

Registro na colônia de pescadores Participação de outras instituições

(29)

28 4 RESULTADOS

4.1 Jaci Paraná

4.1.1 Caracterização Ecológica

O rio Madeira, de um modo geral, sobe de setembro a março e baixa no período complementar. Em resumo, o rio sobe por seis meses e desce por seis meses (GOULDING, 1979). No período de cheia, suas águas chegam, em média, a 17,5 m (Figura 3). Com a formação da barragem, o nível das aguas no reservatório da UHE da Santo Antônio Energia SA, está variando entre o mínimo de 70m e o máximo de 72m (LEME Engenharia, 2005).

O rio Jaci Paraná margeia a localidade que leva seu nome. Este rio, antes da formação do reservatório, no período de vazante/seca, apresentava margens extensas, com praias e lagos próximos a essa localidade (Figura 4). O aumento do nível das águas no reservatório refletiu diretamente no aumento volumétrico do rio Jaci Paraná, que sofreu um leve barramento na sua foz, visto que é um tributário do rio Madeira.

Com isso, ficou evidente que uma área relativamente grande de mata ciliar, bem como de florestas primária e secundária de terra firme foi removida e inundada (Figura 4). Essa evidência é comprovada pela necessidade do deslocamento das famílias que residiam em suas margens e que hoje estão assentadas nas vilas: Nova Mutum e Buriti ou em outras localidades por elas escolhidas, que foram financiadas a partir dos recursos obtidos pela indenização recebida da empresa.

(30)

Figura 3 - Nível hidrológico do rio Madeira dos anos de 2009 a maio de 2014. Fonte: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) (Brasil

Figura 4 - Imagens do lago do Mangeliona e desmatament Paraná antes formação do

Livia Maciel Lopes, 2011

A inundação dessas áreas de florestas favoreceu algumas espécies de peixes que foram particularmente b alimentares, provenientes da vegetação do antigo ambiente terr inundado. 0 5 10 15 20 25 N íve l H id rol ógi co d o r io M ad ei ra e m ( m )

Nível hidrológico do rio Madeira dos anos de 2009 a maio de 2014. Fonte: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) (Brasil – ANA, 2014).

Imagens do lago do Mangeliona e desmatamento das margens do rio Jaci Paraná antes formação do Reservatório da UHE de Santo Antônio Energia

2011.

A inundação dessas áreas de florestas favoreceu, em primeiro momento algumas espécies de peixes que foram particularmente beneficiadas pelos recursos

provenientes da vegetação do antigo ambiente terrestre que se encontra Meses

29 Nível hidrológico do rio Madeira dos anos de 2009 a maio de 2014. Fonte:

ANA, 2014).

o das margens do rio Jaci eservatório da UHE de Santo Antônio Energia SA. Fotos

em primeiro momento, eneficiadas pelos recursos estre que se encontra

2009 2010 2011 2012 2013 2014

(31)

30 Verificamos mudanças ocorridas na riqueza específica, nos dois períodos, registrando maior diversidade de espécies capturadas no período de PRER, com um total de 51 espécies, sendo 12 delas responsáveis por 84,9% da produção desembarcada, enquanto que no POSR foram registradas apenas 44 espécies onde 8 delas foram responsáveis por 80% da produção desembarcada (Figura 5).

As ordens mais capturadas foram Characiformes seguidos pelos Siluriformes, sendo a ordem dos Characiformes a mais representativa nos dois períodos (PRER e POSR). No PRER os Characiformes foram representados, principalmente, pelas espécies: jatuarana (Brycon amazonicus) com 40,3%, curimatã (Prochilodus nigricans) com 10,7% e tucunaré-açu (Cichla peliozona) com 8,9%, da captura que, somadas representaram um total de 59,4% do total das espécies desembarcadas, no período PRER (Figura 5A).

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 C om pos ão e sp ec íf ic a ( % ) C om pos ão e sp ec íf ic a ( K g) Espécies A

(32)

31 Figura 5 - Composição específica (em kg) de peixes das pescarias realizadas em Jaci Paraná. A) Período de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011; B) Período de POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013).

As três espécies, citadas como as mais capturadas no período de PRER, continuaram sendo as mais desembarcadas no POSR, no entanto, houve inversão nas posições em relação ao percentual de captura. O tucunaré-açu foi a espécie mais capturada no POSR com 17,3%, seguido pela jatuarana, que diminui consideravelmente o percentual de captura, passando de 40,3% no PRER para 16,6% no POSR e a curimatã que apresentou aumento no percentual de captura com 12,8% no POSR. Na ordem dos Siluriformes o surubim foi a espécie que apresentou maior importância nos desembarques com captura total em torno de 6% nos dois períodos (Figuras 5 A e B).

A jatuarana, que é a espécie economicamente mais rentável, sofre uma grande diminuição não só na proporção de captura como também no volume de produção total, que diminuiu de quase 12.000 kg para pouco mais de 2.000 kg nos períodos PRER e POSR, respectivamente. O tucunaré e a curimatã, apesar de apresentarem diferenças no percentual de captura, não sofrem grandes variações na produção nos dois períodos (Figura 5 A e B).

Quanto aos tipos de ambientes de pesca utilizados pelos pescadores de Jaci Paraná, o rio (rio Jaci e Madeira) foi o principal local explorado no período PRER,

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 500 1000 1500 2000 2500 C om pos ão e sp ec íf ic a ( % ) C om pos ão e sp ec íf ic a ( K g) Espécies B

(33)

32 com 85% das pescarias realizadas neste ambiente. No período POSR, o rio continuou sendo o principal local de pesca, onde a exploração dos recursos pesqueiros ficou praticamente restrita a este ambiente onde ocorreu cerca de 94% das capturas.

Houve também um aumento da pesca nos lagos no período POSR (5,3%). Todavia, deve-se ressaltar que após a formação do Reservatório a área de delimitação dos lagos não era visivelmente definida, haja vista a sua incorporação na massa comum de água do reservatório. Verificamos in loco que os pescadores continuavam referenciando os locais de pesca como lago, por suas atuais pescarias se darem em locais do reservatório, geograficamente localizados nos mesmos pontos onde ficavam os antigos lagos. Os igapós-várzeas, enseadas e igarapés não foram explorados após a formação do reservatório (POSR) (Figura 6).

A malhadeira (fibra e algodão) foi o apetrecho de pesca mais utilizado na localidade de Jaci Paraná tanto no período de PRER quanto no de POSR, usada em 63,3% e 62,3% das capturas, respectivamente. Nota-se também, que nos períodos estudados, houve diminuição de quase 50% das capturas feitas com groseiras, outros apetrechos (linhada) foram utilizados em 2% e 3% das pescarias nos períodos PRER e POSR, respectivamente (Figura 7). O uso associado de vários apetrechos em uma mesma pescaria era comum entre muitos pescadores, caracterizando suas pescarias como multiespecíficas.

Figura 6 - Tipos de ambientes explorados nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 F re qu ên ca r el at iv a % Ambientes de Pesca PRER POSR

(34)

33 (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na localidade de Jaci Paraná.

Figura 7 - Apetrechos utilizados para a pesca nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na localidade de Jaci Paraná.

Apesar de algumas variações apresentadas nas variáveis ecológicas (riqueza, composição especifica, ambiente e apetrecho de pesca) nos dois períodos estudados, não há diferenças significativas nessas variáveis entre o período de PRER e POSR formação do Reservatório (Tabela 5).

Tabela 5 - Teste t-Student para as variáveis ecológicas nos períodos PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná.

Variáveis Valor de t Valor de p Graus de liberdade

Riqueza Específica 0,1569 0,8766 23 Composição Específica 1,1673 0,2550 23 Ambientes de Pesca 0,0000 1,0000 23 Apetrechos de Pesca 0,8579 0,3997 23 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 F re qu ên ci a re la ti va % Apetrechos de Pesca PRER POSR

(35)

34 4.1.2 Caracterização Socioeconômica

Os pescadores de Jaci Paraná são mais urbanos e boa parte não depende exclusivamente da pesca. A média de anos dedicados à atividade pesqueira foi de 26,3±11,41 anos no período de PRER e 25,3±12,5 anos no período de PORS (Tabela 6). Registrou-se cerca de 3,5 membros na família e 2,0 pescadores por família, tanto no período de PRER quanto no POSR. Poucas são as mulheres que trabalham com esta atividade, já que, por Jaci Paraná ser uma cidade de maior porte, existem alternativas de renda para as mulheres.

Tabela 6 - Média e desvio padrão do Número de anos dedicados à pesca Número de pessoas na família e Número de pescadores na família dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n = 10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n = 8. Fonte: Entrevistas aos pescadores.

Variáveis PRER POSR

Média±±±±Dp Média±±±±Dp Número de anos dedicados à pesca 26,3±±±±11,41 25,37±±±±12,46 Número de pessoas na família 3,5±±±±1,43 3,5±±±±1,41 Número de pescadores na família 2,0±±±±0,47 2,0±±±±0,53

Durante o tempo de estudo, esta localidade não apresentou conflitos entres os pescadores. Os conflitos revelados consistiam naqueles existentes entre os pescadores e a empresa Santo Antônio e foram relacionados à impossibilidade de utilização dos antigos locais de pesca durante o período da formação do Reservatório.

Durante os dois períodos estudados, a partir dos registros de 1.036 desembarques registrou-se uma produção total de 47.113,9 kg de pescado, dos quais 25.893,4 kg ocorreram no período de PRER e 21.220,5 kg de pescado no período de POSR (Figura 8).

Comparando os dois períodos, verificou-se uma redução de aproximadamente 19% na produção de pescado no período de POSR em relação do período de PRER. Também houve diferença nos meses de maior captura, quando comparados os dois períodos. Os meses que apresentaram as maiores capturas foram Agosto e

(36)

35 Setembro/2010, período de PRER, enquanto que no período de POSR foram os meses de Agosto e Dezembro/2012.

Antes do barramento, os pescadores de Jaci Paraná realizavam pescarias de médio a longo prazo e acampavam nas margens do rio Madeira, onde ficavam em média de 5 a 10 dias/pescaria, com um deslocamento médio de 628,0±0,5 minutos do domicilio até o principal pesqueiro (Tabela 7). Após a formação do Reservatório (POSR), a frequência de pesca por semana aumentou, passando de 4,8±1,87 dias/semana para 5,3±1,40 dias/semana (Tabela 7) e o deslocamento ficou significativamente menor com duração média de 247,5±216,2 minutos (Tabela 7), pois as pescarias tornaram-se diárias em função da perda das áreas de margens.

Tabela 7 - Média e desvio padrão do tempo de deslocamento (minutos) do domicilio até o principal pesqueiro e frequência de pesca (Número de dias/semana) dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n = 10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n =8. Fonte: Entrevistas aos pescadores.

Variáveis PRER POSR

Média±±±±Dp Média±±±±Dp Distância/tempo principal pesqueiro (minutos) 628,0±±±±1368,91 247,5±±±±216,18 Frequência de pesca (dias/semana) 4,8±±±±1,87 5,3±±±±1,40

Verificou-se que a média de dias pescados, por período, foi menor após o enchimento do Reservatório - POSR (71,62 ±55,89) quando comparada com o período de pré-enchimento – PRER (87,16 ±74,04) (Tabela 6).

De acordo com os registros de desembarque, após a formação do reservatório, houve diminuição na média mensal e no número total de pescadores registrados nos dois períodos. No período PRER foram registrados 251 pescadores, com média de 10,45±6,92, enquanto no período POSR foram registrados 206 pescadores, com média de 8,58±6,35 (Tabela 8). Entretanto, de acordo com o teste-t de Student, essa diferença no número de pescadores nos períodos estudados não foi significativa (t = 1,5767; p = 0,1285). O maior número de pescadores registrados ocorreu no mês de abril de 2010, com 31 pescadores monitorados.

(37)

36 Ressalta-se que este número não representa o número total de pescadores na área, considerando que o monitoramento do desembarque pesqueiro buscava registrar os pescadores que tinham maiores frequências nos desembarques mensais (Tabela 8).

Tabela 8 - Número de desembarque, número de pescadores e número de dias pescados por ano e por período em Jaci Paraná: PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011), n=500; e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013), n =536. Fonte: Registro de Desembarque.

Número de desembarque Número de dias pescados Número de pescadores

Período Período Período

PRER / POSR PRER / POSR PRER / POSR

Ano Ano Ano

Mês 2009 2010 2011 2012 2013 2009 2010 2011 2012 2013 2009 2010 2011 2012 2013 Jan 29 3 4 1 82 14 21 1 10 3 2 1 Fev 17 4 3 4 90 18 23 4 12 3 2 2 Mar 58 24 23 47 223 109 81 139 25 15 13 22 Abr 81 16 32 51 360 100 97 193 31 10 16 18 Mai 16 17 23 58 48 79 79 172 12 14 13 20 Jun 35 29 29 42 104 123 136 125 13 16 13 13 Jul 7 35 30 21 30 119 98 112 5 14 10 11 Ago 9 21 5 34 56 101 15 111 7 10 2 11 Set 11 24 4 20 76 56 13 42 6 6 2 4 Out 18 13 14 19 83 54 49 61 12 7 6 6 Nov 17 1 37 25 79 9 80 46 11 1 7 6 Dez 9 6 5 5 60 19 14 7 5 3 2 4 Média e DP 20,83 ±18,05 ±16,77 22,33 ±74,04 87,16 ±55,89 71,62 10,45 ±6,92 ±6,35 8,58

Assim como o número de pescadores, a média da CPUE também diminui do período PRER para o POSR, reduzindo de 12,40±14,31 para 10,95±10,45, respectivamente. Bem como a receita, que alcançava uma média de RS$ 316,65±464,01 no período PRER e diminuiu para RS$ 265,46±312,39 no período POSR.

Mesmo registrando redução nos valores médios de produção, CPUE e Receita, de acordo com a análise de Kruskal Wallis, apenas a Produção apresentou diferença significativa entre os períodos (χ21,1033 = 9.5338; p = 0,0020) (Figura 8),

(38)

37 diferente dos valores médios de CPUE (χ21,1033 = 0,01431; p = 0,9048) e Receita (χ21,1033 = 3,4791; p = 0,062) que não foram significativamente diferentes na comunidade de Jaci Paraná (Figuras 9 e 10, respectivamente).

Figura 8 - Produção pesqueira (kg) nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná.

Figura 9 - Captura por unidade de esforço (CPUE) nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná.

Mean Mean±SD PRER POSR Período -40 -20 0 20 40 60 80 100 120 140 P ro d u ç ã o ( K g ) Mean Mean±SD PRER POSR Período -5 0 5 10 15 20 25 30 C P U E ( k g /p e s c a d o r* d ia )

(39)

38 Figura 10 - Receita líquida (R$) da produção pesqueira nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) na comunidade de Jaci Paraná.

Após a formação do Reservatório (POSR) houve um aumento nas despesas de pesca dos pescadores da comunidade de Jaci Paraná (Tabela 9), entretanto, não houve diferença no percentual de pescadores que declaram obter fontes alternativas de renda nos dois períodos (50%) (Tabela 10).

Tabela 9 - Média e desvio padrão do indicador social dos pescadores entrevistados em Jaci Paraná nos períodos de PRER (Pré Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, de outubro/2009 a setembro/2011) n=10 e POSR (Pós Enchimento do Reservatório da UHE de Santo Antônio, outubro/2011 a setembro/2013) n = 8.

Valor das despesas com a pesca (R$)

PRER POSR Média±±±±Dp Média±±±±Dp 138,3±±±±106,87 236,4±±±±220,09 Mean Mean±SD PRER POSR Período -200 0 200 400 600 800 1000 R e c e ita ( R $ )

Referências

Documentos relacionados

Já para o cálculo da potência elétrica, utilizou-se a expressão (2.2), em que os valores de tensão e corrente aplicada ao conjunto motobomba foram adquiridos através

After analyzing all the procedures involved in the production process of GFRP profiles, it was concluded that it would be possible to improve the sustainability and

A estabilização do mRNA ocorre downstream dos neurónios deficientes em Stau2, salientando a importância da Stau2 na regulação da tradução (e da transcrição -

25 - “O sistema imune produz anticorpos contra proteínas na pele, chamadas desmogleínas. Estas proteínas mantém as células da pele agrupadas e a pele

Além da peculiaridade no desenvolvimento das atividades produtivas de acordo com Chaves (2006), as comunidades rurais Amazônicas são constituídas por

Isto significa que o monitor de pulsos avalia- do pode ser utilizado como uma ferramenta de controle da freqüência cardíaca nos portadores de marcapassos e desfibriladores, no

As comunidades ribeirinhas na Amazônia apresentam um modo particular de vida que se configuram em suas particularidades e singularidades em diferentes dimensões da vida social,

A PARCERIA na pesca comercial na comunidade Nossa Senhora das Graças é o sistema utilizado por grande parte dos pescadores, tanto na própria necessidade de um companheiro