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Alteração de cor de cimentos resinosos duais ativados com e sem o emprego da luz

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Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 25-31, jan./abr. 2009

ARTIGOS CIENTÍFICOS

ABSTRACT

The resin cements are the elected materials for cementation of restoration in pure ceramic for having the characteristic of been chemically activated, light-cure or dual-cure (both chemical and light-cure). Currently there is a preference for the dual-cure cement, since there are areas in witch the exposure to light be critical and the chemical activation guarantee an appropriate polymerization. However, these materials can suffer color changes, interfering with the esthetics results. This study evaluates color changes of 30 samples made with three dual-cure resin cements using or not the light. The samples were kept in distilled water and the color was measured after 15, 30 and 45 days using the equipment VITA Easyshade®. The information obtained was submitted to a statistical review Chi-Quadrado test indicating the presence of a statistically signifi cant difference between the study groups. The groups 1,3,4,5 and 6 demonstrated not having signifi cant color change in none of the avaliation time (p > 0,05), while the group 2 demonstrated a signifi cant change (p = 0,0). Conclusion: The initial avaliation of color of the resin cements did not corresponded to the color indicated by the manufacturers. Also, it was observed a difference in stability of color at the cement RelyX ARC while not using the light-cure.

Key words: Resin cements. Esthetics, dental. Dental

materials.

RESUMO

Os cimentos resinosos são materiais de eleição para a cimentação de restaurações cerâmicas puras, podendo ser quimicamente ativados, fotoativados ou com dupla polimerização. Atualmente há preferência pelos de dupla ativação, já que existem áreas em que a exposição à luz é crítica e o modo de ativação química garante uma polimerização mais satisfatória. Contudo, estes materiais podem sofrer alteração de cor, prejudicando os resultados estéticos. Assim, este estudo avaliou a alteração de cor de 30 amostras confeccionadas com três cimentos resinosos duais, utilizando ou não fotopolimerização. As amostras foram armazenadas em água destilada e a cor foi mensurada imediatamente e após 15, 30 e 45 dias, utilizando o aparelho VITA Easyshade®. Os dados foram submetidos à análise estatística (Teste Chi-Quadrado) indicando existir diferença estatisticamente signifi cante entre os grupos de estudo. Os grupos 1, 3, 4, 5 e 6 demonstraram não haver alteração de cor signifi cativa em nenhum dos tempos de avaliação (p > 0,05), enquanto que no grupo 2 existiu alteração signifi cativa (p = 0,0). Concluiu-se que a avaliação de cor inicial dos cimentos resinosos não correspondeu à cor indicada pelos fabricantes, bem como se observou uma diferença na estabilidade de cor do cimento RelyX ARC quando não se empregou a fotoativação.

Palavras-chave: Cimentos de resina. Estética dentária. Materiais dentários.

Carolina Baptista MIRANDA1, Cristal Fernandez de CARVALHO2, Juliana Vieira de BARROS2, Safi ra Marques de Andrade e SILVA3

Color change of resin cements dual-cure with and without use of the ligth

Alteração de cor de cimentos resinosos duais ativados com e

sem o emprego da luz

1. Doutora em Dentística. Professora Adjunta, União Metropolitana de Educação e Cultura, Salvador, BA, Brasil. 2. Graduanda em Odontologia, União Metropolitana de Educação e Cultura, Salvador, BA, Brasil.

3. Doutora em Materiais Dentários. Professora Adjunta, União Metropolitana de Educação e Cultura, Salvador, BA, Brasil.

Endereço para correspondência: Carolina Baptista Miranda

Rua dos Prazeres, 238

42700-000 - Lauro de Freitas - Bahia - Brasil E-mail: carolinabmiranda@terra.com.br

Recebido: 16/01/2009 Aceito: 20/03/2009

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Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 25-31, jan./abr. 2009 A Odontologia atual busca restaurações estéticas e materiais com propriedades mecânicas e físicas adequadas. Em função disso, existem hoje no mercado diversas opções de materiais estéticos indiretos que não utilizam metais como infra-estrutura de suporte, os quais passaram a ser realizados em virtude da evolução das técnicas adesivas4. Dentre estes materiais, grande destaque

deve ser dado às restaurações cerâmicas puras e de resina composta indireta, as quais têm sido amplamente realizadas. Para a cimentação destas restaurações, os cimentos resinosos são os materiais de primeira escolha devido principalmente a sua característica de adesividade1,6,14.

A base do cimento resinoso é o sistema monomérico Bis-GMA (Bisfenol-A metacrilato de glicidila) em combinações com monômeros de baixa viscosidade, além de cargas inorgânicas tratadas com um agente silano1,17,23,25. As partículas inorgânicas se

apresentam nas formas angulares, esféricas ou arredondadas, com conteúdo em peso variando entre 36 a 77%12 e diâmetro médio

variando entre 10 a 15 µm10.

Esses materiais têm como vantagens a integração adesiva a substratos, baixa solubilidade, facilidade de manipulação e estética compatíveis com as restaurações cerâmicas livres de metal. Quando associados aos sistemas adesivos podem se unir ao esmalte/dentina através de retenção micromecânica e aos materiais restauradores por ligação química e ou mecânica, aumentando a resistência do remanescente dentário, além de reduzir a microinfi ltração e promover maior conservação da estrutura11.

Como desvantagens dos cimentos resinosos pode-se citar que possuem um difícil selamento, uma espessura de fi lme maior que a dos cimentos tradicionais, apresentam uma possível penetração na interface dente/material, promovem com frequência uma leve sensibilidade à polpa e apresentam difi culdade de remoção dos excessos. Adicionalmente, trata-se de uma técnica meticulosa e crítica1,6,17,18,23.

Os cimentos resinosos podem ser classifi cados quanto ao tipo de tratamento da superfície dental em cimentos resinosos convencionais e cimentos resinosos autocondicionantes. Os cimentos resinosos convencionais têm essencialmente a mesma composição da resina composta, necessitando da prévia realização da técnica de condicionamento ácido e hibridização com sistema adesivo para que ocorra a união. No caso dos cimentos resinosos autocondicionantes, há uma combinação na sua formulação de componentes do cimento de ionômero de vidro e do cimento resinoso convencional. Em função disso, é possível obter a união química ao substrato dentário sem o emprego prévio da técnica de hibridização com sistema adesivo6.

Além disso, os cimentos resinosos atuais são divididos em classes, de acordo com o tipo de ativação: classe 1 - cimentos autopolimerizáveis (self-cured), quando a polimerização é iniciada pela mistura de um iniciador e um ativador; classe 2 - cimentos fotoativados, ou seja, quando a energia é fornecida a partir de fonte fotoativadora para uso intra-bucal (photo-cured) e classe 3,

base e catalisadora limitando assim o tempo de trabalho para o cirurgião-dentista. Já os cimentos resinosos fotopolimerizáveis, apresentam fotoiniciadores como a canforoquinona, que é ativada na presença de luz com comprimento de onda em torno de 470 nanômetros, levando assim ao início da polimerização do material. Os cimentos resinosos duais, por sua vez, desencadeiam o processo de polimerização com a mistura da pasta base e da pasta catalisadora, além de terem a possibilidade de associar a polimerização por meio de fontes de luz. Com a ativação pela luz do aparelho fotopolimerizador, há uma conversão maior dos monômeros em polímeros, o que confere melhores propriedades a esse tipo de material6,11,23,25. Estes cimentos de cura dual foram

desenvolvidos para serem utilizados sob restaurações estéticas, pois estes materiais restauradores permitem a passagem de luz, que irá iniciar a polimerização, cabendo à reação química a função de complementar a polimerização em regiões profundas onde a luz não é capaz de alcançar21. A aplicação de tempos de fotoativação mais

longos resulta em maior grau de conversão e, consequentemente, propriedades mecânicas e estéticas melhoradas28.

Estudos prévios têm demonstrado que ambos compostos resinosos (químicos e fotoativados) podem mudar a cor sobre tempo através de descoloração extrínseca ou intrínseca3,6,18,19,27.

Essa alteração da cor pode resultar no manchamento superfi cial, no manchamento marginal devido à microinfi ltração, em mudanças na morfologia superfi cial atribuída ao desgaste e degradação interna do material. A descoloração intrínseca é dependente do material e de difícil controle pelo cirurgião-dentista. Mostra-se também que restaurações indiretas estéticas em dentes anteriores alteram sua cor com o passar do tempo. Visto que as cerâmicas são materiais inertes e estáveis às alterações do meio, suspeita-se que os cimentos resinosos duais possam estar causando esta alteração3,12,19. Diante

do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a alteração da cor dos cimentos resinosos duais, utilizando ou não a luz como fonte de ativação.

MATERIAL E MÉTODOS

MATERIAL

Para a realização da pesquisa foram utilizados os seguintes materiais: cera laminada nº 7 NewWax (Technew, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), silicona de condensação industrial (Du Latex, São Paulo, SP, Brasil), água numa temperatura de 80 ºC, cimento dual RelyX ARC (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos) na cor A3, RelyX U100 (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos) na cor translúcido, AllCem (FGM, Joinville, SC, Brasil) na cor A2, fotopolimerizador (Dabi Atlante, Ribeirão Preto, SP, Brasil), placa de vidro, lâmina de vidro, espátula de manipulação nº 24 e o aparelho VITA Easyshade®

(Vident, Brea, CA, Estados Unidos).

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

Miranda CB, Carvalho CF de, Barros JV de, Silva SM de A e

CONFECÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA E DIVISÃO DOS GRUPOS

Para a obtenção dos corpos-de-prova foi confeccionada uma matriz de silicona de condensação industrial (Du Latex, São Paulo, SP, Brasil) com dimensões de 17 cm de diâmetro e 1,9 cm de espessura contendo 15 orifícios de 1,4 cm de diâmetro por 0,1 cm de espessura (Figura 1).

Figura 1 - Matriz de silicona utilizada para confecção dos corpos-de-prova.

Figura 2 - Composição e métodos de ativação dos cimentos resinosos utilizados nos diferentes grupos de estudo. Foram confeccionados 30 corpos-de-prova, divididos em 6

grupos de 5 corpos-de-prova cada, constituídos de diferentes cimentos resinosos com e sem o uso da luz (Figura 2).

Os cimentos foram manipulados segundo as recomendações do fabricante. Nos grupos 1 e 2, o cimento utilizado foi o RelyX ARC (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos). No grupo 1 o cimento foi manipulado por 10 segundos e fotopolimerizado por 40 segundos. No grupo 2 o cimento foi manipulado por 10 segundos e polimerizado por 10 minutos, sem o emprego da luz. Nos grupos 3 e 4, o cimento utilizado foi o RelyX U100 (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos). No grupo 3, o cimento foi manipulado durante 20 segundos e fotopolimerizado por 20 segundos e, para o grupo 4, o cimento foi manipulado durante 20 segundos e polimerizado por 5 minutos, sem o emprego da luz.

Já nos grupos 5 e 6, foi utilizado o cimento AllCem (FGM, Joinville, SC, Brasil). No grupo 5 o cimento foi manipulado por 10 segundos e fotopolimerizado por 40 segundos. No grupo 6, o cimento foi manipulado por 10 segundos e polimerizado sem o emprego da luz por 10 minutos. Todos os grupos foram manipulados em uma placa de vidro e inseridos no molde de silicona para obtenção dos corpos-de-prova.

AVALIAÇÃO DA ALTERAÇÃO DE COR

Após a confecção dos corpos-de-prova, estes tiveram a sua cor inicial imediata mensurada através do aparelho VITA Easyshade® (Vident, Brea, CA, Estados Unidos), que utiliza tecnologias de espectrofotômetro para tomada da cor, com base nas escalas VITA. Com os resultados mensurados, os corpos-de-provas foram armazenados em um recipiente plástico contendo

Grupo Cimento Composição Ativação

1 RelyX ARC Bis-GMA, TEGDMA,cargas de cerâmica e silica. Fotoativado 2 RelyX ARC Bis-GMA, TEGDMA,cargas de cerâmica e silica. Autopolimerizado 3 RelyX U100 Fibra de vidro, ésteres ácido fos-fórico metacrilato, TEGDMA, partícu-las inorgânicas. Fotoativado 4 RelyX U100 Fibra de vidro, ésteres ácido fos-fórico metacrilato, TEGDMA, partícu-las inorgânicas. Autopolimerizado 5 ALLCEM Monômeros metacrílicos, como TEGDMA e Bis-GMA, carga inorgânica, fotoini-ciador, co-inifotoini-ciador, catalisadores e pigmentos. Fotoativado 6 ALLCEM Monômeros metacrílicos, como TEGDMA e Bis-GMA, carga inorgânica, fotoini-ciador, co-inifotoini-ciador, catalisadores e pigmentos. Autopolimerizado

água destilada em temperatura ambiente, por um período total de 45 dias, sendo a cor mensurada a cada 15 dias. Os corpos-de-prova foram avaliados seguindo os mesmos critérios de armazenamento, prazo e condições de tomada da cor inicial.

ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

Os dados obtidos foram avaliados por meio do Teste Chi-quadrado, com nível de confi ança de 95%.

RESULTADOS

Os resultados obtidos com este estudo encontram-se dispostos na Tabela 1. Nesta é possível observar a coloração inicial e nos tempos de 15, 30 e 45 dias.

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Grupo Cimento Registro Imediato Registro após 15 dias Registro após 30 dias Registro após 45 dias 1 Rely X ARC B3 B3 B3 B3 1 Rely X ARC B3 B3 B3 B4 1 Rely X ARC B3 B3 B4 B3 1 Rely X ARC B4 B4 B4 B4 1 Rely X ARC B3 B3 B3 B4 2 Rely X

ARC B4 A3,5 A3,5 A3,5

2 Rely X

ARC B4 B4 A3,5 A3,5

2 Rely X ARC B3 B3 B3 A3,5 2 Rely X ARC B3 B4 B4 A3,5 2 Rely X ARC B3 B4 B4 B4 3 Rely X U100 B3 B3 B3 B3 3 Rely X U100 B2 B2 B2 B2 3 Rely X U100 A1 A1 B2 B2 3 Rely X U100 B2 B2 B2 B2 3 Rely X U100 B2 B2 B2 B2 4 Rely X U100 B2 B2 B2 B2 4 Rely X U100 B2 B2 B2 B3 4 Rely X U100 B2 B2 B2 B2 4 Rely X U100 B2 B2 B2 A1 4 Rely X U100 B2 B2 B2 A1 5 ALL CEM B4 B4 B4 B4 5 ALL CEM B4 B4 B4 B4 5 CEMALL B4 B4 B4 B4 5 ALL CEM B4 B4 B4 B4 5 CEMALL B4 B4 B4 B4 6 ALL CEM B4 B4 B4 B4 CEM 6 ALL CEM B4 B4 B4 B4 6 ALL CEM B4 B4 B4 B4

Tabela 2 - Presença ou não da alteração de cor para os diferentes grupos de estudo e tempos de avaliação.

Os presentes dados foram avaliados, considerando-se ou não a presença de alguma alteração de cor (Tabela 2 e Figura 3).

Grupo Registro Imediato Alteração de cor após 15 dias Alteração de cor após 30 dias Alteração de cor após 45 dias

1 B3 Não Não Não

1 B3 Não Não Sim

1 B3 Não Sim Não

1 B4 Não Não Não

1 B3 Não Não Sim

2 B4 Sim Sim Sim

2 B4 Não Sim Sim

2 B3 Não Não Sim

2 B3 Sim Sim Sim

2 B3 Sim Sim Sim

3 B3 Não Não Não

3 B2 Não Não Não

3 A1 Não Não Sim

3 B2 Sim Não Não

3 B2 Não Não Não

4 B2 Não Não Não

4 B2 Não Não Sim

4 B2 Não Não Não

4 B2 Não Não Sim

4 B2 Não Não Sim

5 B4 Não Não Não

5 B4 Não Não Não

5 B4 Não Não Não

5 B4 Não Não Não

5 B4 Não Não Não

6 B4 Não Não Não

6 B4 Não Não Não

6 B4 Não Não Não

6 B4 Não Não Não

6 B4 Não Não Não

continua

conclusão

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Nenhuma leitura correspondeu à cor do fabricante, sendo a cor inicial A3 para o RelyX ARC, transparente para o RelyX U100 e A2 para o AllCem.

Em seguida, estes dados foram submetidos à análise estatística com nível de confi ança de 95%, e avaliados por meio do Teste de Chi-Quadrado. Os resultados indicaram existir diferença estatisticamente signifi cante entre os grupos de estudo (Chi-Sq = 36,78; DF = 5; P-Value = 0,0). Assim, foi realizada uma avaliação para cada grupo separadamente. Os grupos 1, 3, 4, 5 e 6 demonstraram não haver alteração de cor estatisticamente signifi cante em nenhum dos tempos de avaliação (p > 0,05). Já no grupo 2 houve uma alteração de cor signifi cativa (Chi-Sq = 20; DF = 1; P-Value = 0,0).

Observando-se os dados é possível, ainda, aferir que no grupo 2 a alteração de cor foi crescente, aumentando com o decorrer do tempo. Os resultados de alteração de cor encontrados foram de 60%, 80% e 100%, respectivamente para os tempos de 15, 30 e 45 dias.

DISCUSSÃO

O conhecimento das propriedades físico-mecânicas do material de cimentação que se trabalha é de fundamental importância, uma vez que manipulações e aplicações incorretas podem resultar em grandes alterações das mesmas, comprometendo assim o desempenho físico e mecânico dos cimentos e, consequentemente, o desempenho clínico da restauração a longo prazo.17 Neste ponto, uma grande

preocupação com relação às propriedades dos cimentos resinosos diz respeito a sua incompleta polimerização, a qual pode ser identifi cada por meio de diversos métodos como o grau de conversão, que determina o percentual de duplas ligações e alterações na microdureza do material13,16,19,27. Outros

autores16-17 afi rmam que os principais problemas associados

a uma inadequada polimerização incluem propriedades Figura 3 - Número de amostras com e sem alteração de cor em cada grupo de estudo.

físicas insatisfatórias, aumento da solubilidade, presença de microinfi ltração marginal e consequente alteração de cor.

Diversos estudos têm demonstrado que os materiais resinosos sofrem alteração de cor devido à presença de determinados componentes químicos presentes nos mesmos e também em função de agentes externos2,3,5,19,24. Essa alteração

de cor pode ser medida através de um espectrofotômetro, que é um aparelho que mensura a refl exão e ou fatores de transmissão de comprimento de onda de um objeto num momento24. Outro

autor16 relata que a avaliação por meio de aparelhos como o

espectrofotômetro e calorímetro eliminam a interpretação visual subjetiva e devem ser utilizados para medir alterações de cor em materiais dentários.

Em relação aos fatores externos que infl uenciam na alteração de cor de materiais resinosos, dois pesquisadores15 relatam

que a mesma se dá pela exposição destes ao meio ambiente oral. As margens das restaurações indiretas, por exemplo, são as mais afetadas devido à exposição do material. Segundo autores19,27 existe uma alteração de cor visual, infl uenciada por

diversos fatores como: saliva, oxigênio, raios UV, mudanças de temperatura e corantes presentes nos alimentos. Vários estudos16 relatam também que fatores extrínsecos causam

manchamentos de tecidos orais e restaurações especialmente quando combinados com fatores da dieta como presença de café, chá e nicotina. O estudo de outros pesquisadores19,

mostram a tendência das resinas dentais para mostrar alterações de cor sobre períodos extensos, sendo a descoloração ao longo do tempo um fenômeno com mudanças evidentes contínuas através de observações periódicas. Neste trabalho, contudo, não se observou uma alteração de cor signifi cativa para a maioria dos cimentos avaliados.

Quando são considerados os fatores internos, de composição química, alguns estudos mostram que a alteração de cor de cimentos resinosos ocorre primordialmente devido à oxidação da amina, um componente necessário para iniciação da polimerização. Usualmente, em cimentos fotopolimerizáveis, a amina alifática é a mais utilizada, enquanto que em cimentos com polimerização química, a amina terciária aromática é a mais utilizada15,19. De acordo com esses estudos, a amina terciária

aromática é a que mais sofre o processo de oxidação e por isto os cimentos resinosos químicos sofrem maior alteração de cor quando comparados com os fotopolimerizáveis.

Atualmente, para se obter um maior grau de conversão, foram introduzidos no mercado os cimentos resinosos duais, ou seja, cimentos resinosos que se polimerizam por meio da luz azul visível em associação à reação química. Vários autores5,8,10,13

concordam que a ação dos dois sistemas de ativação (emissão de luz visível + reação química) aumenta o grau de conversão dos monômeros em polímeros e melhora as propriedades físicas dos cimentos. Contudo, para que ocorram os dois mecanismos de polimerização, os cimentos duais contém os dois tipos de amina e, teoricamente, estão mais sujeitos às alterações de cor.

Porém, alguns trabalhos2,3,9 têm demonstrado que quando

estes cimentos duais não são submetidos à fotopolimerização a

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resinosos duais apresentam uma instabilidade química maior devido à presença da amina terciária, podendo sofrer alteração de cor com o passar do tempo, prejudicando, assim a estética da restauração ao longo dos anos. Diversos autores7,19 acrescentam

que a amina terciária pode ter contribuído para a alteração de cor, pois diante da avaliação deles os cimentos resinosos fotopolimerizados tem menor tendência de alteração que os cimentos duais. Em contrapartida, outro estudo18 relata que os

cimentos fotoativos são menos estáveis à mudanças de cor do que os cimentos duais e que as cores mais claras mancham mais rapidamente que as escuras.

No presente trabalho, este resultado pode ser observado no grupo 2 em que não foi utilizada a fotoativação e o mesmo apresentou o maior grau de alteração de cor, especialmente comparado ao grupo 1, em que foi utilizado o mesmo cimento, porém com associação da fotoativação.

Este estudo mostra alteração de cor apenas em um dos grupos avaliados, correspondendo este, ao cimento RelyX ARC que não foi ativado por luz, discordando com outra pesquisa19,

que afi rma que houve mudança signifi cativa em todas as amostras, sendo estas de cimentos fotopolimerizados e os de presa dual. Diante destes resultados, supõe-se que este cimento apresenta componentes em sua composição, provavelmente agentes iniciadores, que o tornam mais suscetível à alteração de cor quando a polimerização não é iniciada também com o emprego de luz.

Diante do exposto, autores20 evidenciam que apesar de

possíveis melhorias em todas as variáveis envolvidas nas cimentações, cuidados adicionais devem ser tomados, uma vez que o ativador químico apresentou ação limitada no decorrer do tempo. Dessa forma, a fotoativação desses materiais, durante a cimentação de restaurações estéticas de resinas compostas indiretas, deverá ser bastante criteriosa.

Como discutido, é sabido que a polimerização inadequada de um agente de cimentação resinoso está associada com problemas como a sensibilidade, microinfi ltração e cáries recorrentes, suscetibilidade à degradação marginal, alteração da cor e reduções nas propriedades mecânicas26. Um grau

adequado de conversão do agente de cimentação é, portanto, importante para o sucesso clínico global. Indica-se, diante do exposto, que se realize preferencialmente uma polimerização inicial com luz para potencializar a conversão de monômeros em polímeros e, desta forma, assegurar longevidade e biocompatibilidade à restauração.

Concluiu-se que a avaliação de cor inicial dos cimentos resinosos não correspondeu à cor indicada pelos fabricantes, bem como se observou uma diferença na estabilidade de cor do cimento RelyX ARC quando não se empregou a fotoativação.

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

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Revista Innovation Vol. 4 - Num 1 - 2009.indd 31

Referências

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