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PROPOSTA PEDAGÓGICA DO 2º SEGMENTO DA EJA EM MANAUS/AM: IMPLICAÇÕES NAS PRÁTICAS DOCENTES

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Academic year: 2021

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IMPLICAÇÕES NAS PRÁTICAS DOCENTES

Maria Daise da Cunha Matos (UNIARA) Maria Betanea Platzer (UNIARA)

Resumo

Este trabalho, em processo de finalização, objetiva investigar as experiências e os desafios manifestados por um grupo de professores do turno noturno da rede de ensino municipal de Manaus/AM acerca da nova Proposta Pedagógica do 2º Segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), implementada no ano de 2012. Para desenvolvermos este estudo, de natureza qualitativa, realizamos análise de documentos oficiais e aplicação de questionário para 13 professores da rede de ensino municipal de diferentes áreas de conhecimento curricular que atuam no 2º Segmento da EJA (6º ao 9º ano). A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas municipais localizadas nas Zonas Sul e Leste da cidade de Manaus e a coleta de dados ocorreu no primeiro semestre de 2015. O referencial teórico foi norteado por estudiosos que apresentam debates relevantes envolvendo as temáticas da EJA, práticas de ensino e Proposta Pedagógica. Os resultados e análises parciais revelam que parte dos professores não participou da elaboração da nova Proposta do 2º Segmento da EJA. Por outro lado, há docentes que relatam ter participado do processo de elaboração, pois foram responsáveis pela seleção, análises e escolhas dos conteúdos para compor esse documento. Evidenciou-se também a necessidade dos professores repensarem suas práticas pedagógicas como possibilidade de aproximar seu trabalho a esse novo modelo de escolarização para a EJA. Defendemos a relevância da participação de professores na elaboração de uma Proposta pedagógica, pois, além de exercerem um papel fundamental no processo educativo, são responsáveis pela articulação do currículo que, por sua vez, expressa-se por meio de suas práticas pedagógicas. Os professores podem trazer para esta nova Proposta de ensino importantes contribuições a partir de sua formação, seus saberes, suas experiências, constituindo-se como um exercício de profissionalização e compromisso político com a educação.

Palavras-chave: EJA. Proposta Pedagógica. Currículo.

Introdução

Apresentamos neste trabalho, em fase de finalização, discussões envolvendo professores e a elaboração e implementação de uma nova Proposta Pedagógica para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas escolas do turno noturno da rede de ensino municipal de Manaus/AM em 2012. Essa Proposta Pedagógica, que se refere ao 2º Segmento (6º ao 9º ano), foi elaborada e aprovada pelo Conselho Municipal de Educação por meio do Parecer nº 018/CME em 11 de outubro de 2012. Inicialmente foi implementada em 11 escolas denominadas Escolas Polos no turno noturno. A partir do ano letivo de 2014 foi ampliada para 73 escolas municipais que passaram a ofertar apenas essa modalidade de ensino nas escolas noturnas. Trata-se de uma Proposta Pedagógica cujo objetivo é ofertar a jovens e adultos que não tiveram acesso à educação básica em idade correlata a conclusão de seus estudos por meio de uma educação de

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qualidade, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanísticos e democráticos, além de elevar o nível de escolaridade da população do município de Manaus/AM (SEMED-MANAUS, 2012). Essa Proposta se divide em 4ª fase (6º e 7º anos) e 5ª fase (8º e 9º anos), possuindo uma estrutura modular trimestral.

Inquestionável é a importância da legitimação da Proposta do 2º Segmento como política implementada pelo Poder Executivo, representando um avanço nas ações e programas direcionados a essa modalidade de ensino no município de Manaus. Avançar em uma nova concepção da EJA significa reconhecer que a garantia do direito humano à educação passa pela elevação da escolaridade de toda a população (HADDAD, 2007). A Proposta do 2º Segmento da EJA efetivada na rede de ensino municipal de Manaus modificou toda a sistemática administrativa e pedagógica utilizada durante décadas nas escolas no turno noturno da rede de ensino desse município, transformando a dinâmica do trabalho docente e consequentemente requerendo mudanças nas suas práticas pedagógicas, agora direcionadas para atender ao público da EJA.

A alteração dos tempos e horários das aulas foram elementos que provocaram desequilíbrio entre os professores dessas unidades escolares, pois se viram obrigados a repensarem suas aulas, metodologias, suas práticas, visto que estariam mais tempo nas salas expondo os conteúdos de suas disciplinas, especialmente os componentes curriculares de maior carga horária: Língua Portuguesa e Matemática.

Na EJA questiona-se a adequação das metodologias, currículos, tempos e espaços, material didático, avaliações, e, especialmente, concepções e práticas pedagógicas que valorizem as especificidades dos sujeitos, “[...] além da conquista da flexibilidade como um dos fundamentos que pauta qualquer projeto nesse sentido” (PEDROSO; MACEDO; FAÚNDEZ, 2011, p. 188).

Sampaio e Gallian (2013) defendem que uma proposta pedagógica se constrói de maneira coletiva com todos os segmentos da unidade escolar no sentido de apontarem objetivos e metas para o desenvolvimento de um processo educativo, mas que se formata com aquilo em que o grupo de educadores acredita e quer desenvolver em termos de aprendizagem com seus alunos, ou seja, não cabe ao professor apenas a execução do currículo. De acordo com Tardif (2002, p.230), “um professor de profissão não é somente alguém que aplica conhecimentos produzidos por outros [...] é um ator no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá”.

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Visando a identificarmos as experiências e expectativas de professores acerca da nova Proposta Pedagógica do 2º Segmento da EJA em Manaus, definimos os objetivos deste trabalho: a) identificar por meio de relatos de professores em que medida participaram da elaboração da Proposta Pedagógica 2º Segmento da EJA; b) conhecer os desafios das práticas docentes a partir desse novo modelo educativo para EJA.

Metodologia da pesquisa

O presente trabalho, aprovado pelo Comitê de Ética, (CAAE n.38517114.7.0000.5383), foi desenvolvido a partir de uma abordagem metodológica qualitativa. As discussões estão pautadas em estudos envolvendo as temáticas da EJA, práticas de ensino e proposta pedagógica. Para tanto, apoiamos nossas reflexões em autores como: Freire (1996), Tardif (2002), Haddad (2007), Sampaio e Gallian (2013).

Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2015 e aplicamos questionário, com perguntas fechadas e abertas, para 13 professores que atuam no 2º Segmento da EJA no turno noturno em duas escolas municipais de Manaus. Fizemos também a análise de documentos oficiais. Por questão ética, os nomes apresentados na pesquisa são fictícios.

Nova Proposta Pedagógica para o 2º Segmento da EJA: experiências, desafios e mudanças nas práticas docentes

A análise parcial dos resultados do questionário traz contribuições significativas para os objetivos deste trabalho. Verificamos, inicialmente, que esses professores possuem entre 11 a 20 anos de experiência na docência, mas passaram a atuar na EJA a partir dessa nova proposta; trabalham de 40h a 60h semanais; a maior parte é do sexo feminino; são graduados e pós graduados (lato sensu) e um professor realizou curso de mestrado.

No quesito participação na elaboração da Proposta Pedagógica do 2º Segmento da EJA, observamos que 08 professores afirmam não ter participado da elaboração da Proposta. Já 05 professores apontam que tiveram participação nesse processo, uma vez que foram convocados para analisar, selecionar e distribuir os conteúdos das diversas áreas de conhecimento para compor a Matriz Curricular da Proposta do 2º Segmento da EJA. O professor Marcio pontuou que as análises e escolhas dos conteúdos referentes a sua área de conhecimento (Ciências Biológicas) ocorreram na própria escola e

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posteriormente foram enviadas à Secretaria Municipal de Educação para compor o currículo oficial da Proposta. Essa participação traz importantes contribuições para a composição de uma Proposta de ensino, oportunizando aos docentes um momento de reflexão sobre o que consideram importantes para o processo de “ensinar, fazer, aprender, avaliar, prosseguir” (SAMPAIO; GALLIAN, 2013, p.182).

Os dados evidenciaram também que os professores estão se adaptando à Proposta, como, por exemplo, a professora Lupita, ao informar ainda estar se familiarizando com as novas diretrizes estabelecidas para o 2º Segmento da EJA.

As questões apontadas pelos professores revelam os limites e as possibilidades de sua participação na elaboração dessa Proposta. Em decorrência da ampliação repentina da Proposta em todas as escolas municipais do turno noturno em Manaus, contribuiu para a não participação de todos os professores nas reuniões de planejamento da Proposta, etapa anterior a elaboração e aprovação deste documento; portanto, não tiveram oportunidade intervir e de conhecer previamente a Proposta.

Observamos que os principais desafios expressados pelos professores a partir da implementação da proposta do 2º Segmento da EJA foram relacionados ao tempo destinado aos conteúdos, ou seja, muito conteúdo e pouco tempo para exposição. Outro elemento citado foi a diversidade do público atendido na EJA. De acordo com Vóvio et al (2010), os alunos que frequentam as salas da EJA formam um grupo bastante heterogêneo, tanto aos ciclos de vida, cultural, na sua disposição para aprender e em suas necessidades formativas. Trata-se de mais um desafio para a educação, pois integrar quantidade de alunos, faixas etárias, ritmos de aprendizagem, expectativas e necessidades diversas em um mesmo espaço e alinhar isso tudo a uma Proposta Pedagógica e com a responsabilidade de conduzir o processo educativo desses alunos são demandas que sobrecarregam o trabalho docente.

O livro didático ocupou espaço privilegiado nas falas dos professores como principal material didático. O destaque destinado ao livro didático pelos professores está consolidado nas práticas pedagógicas e estabelece estreita relação com currículo (GIMENO SACRISTÁN, 1998). Os professores afirmaram que o livro didático utilizado na EJA está descontextualizado da cultura e realidade vivenciada na escola, sugerindo a elaboração de um material (apostila) para apoio nas atividades pedagógicas, mas que esse material seja elaborado na escola, orientado por pedagogos, com conteúdos articulados com os saberes e a cultura local.

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Sobre mudanças nas práticas pedagógicas, os professores afirmam que a partir da implementação da Proposta Pedagógica tiveram que rever sua atuação docente, sugerindo formação continuada norteada pelas concepções inerentes a EJA e que possibilite aproximar suas práticas às teorias direcionadas a essa modalidade de ensino.

Considerações Finais

As reflexões apresentada apontam para a necessidade de ampliarmos o olhar para as mudanças que estão sendo propostas, cujo objetivo é ofertar uma formação inclusiva, qualitativa e igualitária ao público da EJA. Se há uma nova proposta formalizada, precisamos rever antigas práticas. “Ao produzir o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se dispõe a ser ultrapassado por outro amanhã” (FREIRE, 1996, p.28). Trata-se de um trabalho coletivo que poderá tornar-se legítimo se dialogado e compartilhado, experimentando-se mudanças e propondo outras e o ponto de partida pode ser incluir professores nas discussões na elaboração de propostas de ensino, mantendo um contínuo movimento de reflexão desses atores para análise e diagnósticos de acertos e possíveis desacertos.

Referências

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

HADDAD, S. Por uma nova cultura de Educação de Jovens e Adultos, um balanço de experiências de poder local. ANPED. .30 p. In: 30ª Reunião Anual da ANPED, 2007. Caxambu. Anais da 30ª Reunião Anula da ANPED, 2007.

MANAUS, SEMED. Proposta Pedagógica 2º Segmento de Educação de Jovens e Adultos. Manaus, 2012.

PEDROSO. A. P. F; MACEDO, J. G; FAÚNDEZ. M. R. Currículos e práticas pedagógicas: fios e desafios. In: SOARES, L. (org.). Educação de jovens e adultos: o que revelam as pesquisas. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p.183-210.

SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

SAMPAIO, M. M. F; GALLIAN, C. V. A. Currículo na escola: uma questão complexa. In: MARIN, A. J. (org.). Escolas, organizações e ensino. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2013.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. VÓVIO, C. L. Formação de educadores de jovens e adultos: a apropriação de saberes e práticas conectadas à docência. In: DALBEN, A. DINIZ, J. LEAL, L. SANTOS, L. Convergências e tensões no campo da formação docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

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