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Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total responsabilidade de seu(s) autor(es).

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Academic year: 2021

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ENVELHECIMENTO, TURISMO RURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: A CRIAÇÃO DE OPORTUNIDADES DE FRUIÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL RURAL PELOS GRUPOS DE TERCEIRA IDADE.

Lívia Morais Garcia Lima UNICAMP – Campinas – SP - Brasil A presente pesquisa tem por objetivo investigar e analisar as formas pelas quais propriedades rurais históricas se preocupam em incentivar atividades voltadas para a terceira idade. Pretendemos propor perspectivas para a melhoria da qualidade de vida do cidadão idoso, através da realização da prospecção dos elementos potenciais para realização de atividades de educação patrimonial e na promoção do turismo para a terceira idade em fazendas históricas paulistas selecionadas. Está sendo realizado através do levantamento e análise dos programas educacionais e ações turísticas já implementadas no âmbito dessas propriedades e também pelo diagnóstico dos processos educacionais patrimoniais não-formais, e das estratégias turístico-culturais implementadas e relacionadas com as fazendas históricas paulistas. A metodologia da História Oral tem nos auxiliado na coleta do patrimônio imaterial e nos depoimentos dos proprietários e dos funcionários mais antigos das propriedades já visitadas. Aquelas que já os recebem dizem que são muito interessados, buscando informações novas e se mostram curiosos e participantes nas atividades oferecidas pelos anfitriões. Assim obtivemos algumas visões sobre o patrimônio, sua história, condições de preservação e sustentabilidade. Para melhor desenvolver tais aspectos é necessária uma maior conexão entre os elementos encontrados em cada fazenda participante e o que vem sendo discutido na bibliografia especializada visando à articulação de ações políticas para o turismo rural associado às novas contribuições na área da gerontologia social.

Palavras-chaves: Envelhecimento. Turismo. Patrimônio Histórico.

Pensando no turismo enquanto meio propulsor de experiências no âmbito do lazer e da cultura, que pretendo desenvolver a pesquisa e a análise das formas pelas quais os espaços históricos e de visitação se preocupam em criar e incentivar as atividades voltadas para a terceira idade.

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O envelhecimento populacional têm alcançado em quase todo o mundo, não apenas do ponto de vista numérico, “mas também pelo fato de o idoso passar a ser visto como um ator, e não mais um ser passivo, no conjunto de discursos produzidos pela sociedade” (CAMPOS, 2003, p. 16). Para a autora o entendimento do que seja o lazer e o turismo na terceira idade necessita da compreensão da velhice como continuidade de um processo natural da vida e da heterogeneidade bio-psico-social do indivíduo que a vivência. Ampliando esse conceito, podemos dizer que a velhice é construída pelo seu capital cultural e social, a estrutura biológica, suas crenças e seus valores, resultado de tudo aquilo que vivenciamos. Faz parte da heterogeneidade da velhice a proposta de vê-la como um fenômeno não só biológico, mas também construída socialmente e ver o velho consciente de sua importância como sujeito social.

O idoso se faz presente no debate sobre políticas públicas, nas interpretações dos políticos em movimentos eleitorais e até mesmo na definição de novos mercados de consumo e novas formas de lazer (DEBERT, 1999, p. 34), nelas incluindo-se o turismo.

Esta reflexão sobre o turismo como dimensão importante para o desenvolvimento humano vai ao encontro da abordagem feita sobre lazer de idosos, lembrando que as “experiências de lazer oferecem oportunidades para interação social de forma produtiva e, por extensão, conduzem aos benefícios da socialização” (HARAHOUSOU, 2000, p. 08). A autora considera que a disponibilidade de tempo livre permite que se aprendam novas atividades e se desenvolvam novos interesses, agora como parte de um grupo. Contudo, não é a atividade em si que leva à satisfação, mas a “percepção subjetiva do reconhecimento e da integração social a partir das atividades realizadas” (KOLLAND, 2000, p. 23).

Esta idéia ressalta que para se usufruir da velhice é preciso dispor de políticas adequadas que possam garantir o mínimo de condições de qualidade de vida, para os que atingem a velhice e sem dúvida, “o lazer representa um marco importante nessa disponibilidade” (SOUZA, 2002, P. 49). As atividades desenvolvidas pelas pessoas idosas precisam ter significado vital, dependendo da biografia e das condições de vida

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de cada um. (DOLL, 2007, p. 111). A leitura pode ser altamente significativa para alguém acostumado a fazê-la, mas um passatempo ocasional para os não aficionados. Para que uma atividade segundo o autor, seja significativa, ela precisa ter algum vínculo com a identidade da pessoa: profissão, biografia, metas, ideais, valores.

A promoção da boa qualidade de vida na idade madura excede os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como um empreendimento de caráter sócio-cultural (NERI, 1993, p.9). Isto é resultante, portanto, não só do estado biológico, mas também das condições para um envelhecimento bem sucedido, através de contatos pessoais e sociais fora dos limites de seu espaço cotidiano.

A presente pesquisa propõe discutir perspectivas para a melhoria da qualidade de vida do cidadão idoso, por meio de propostas de atividades de educação patrimonial e turismo cultural para a terceira idade, nos contextos das fazendas históricas paulistas selecionadas pelo projeto em Políticas Públicas já em andamento denominado: Patrimônio Cultural Rural Paulista: espaço privilegiado para pesquisa, educação e turismo (Centro de Memória UNICAMP/ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP), ao qual esta pesquisa está vinculada.

Tal Patrimônio Cultural Rural possui um perfil múltiplo, em escalas e tipologias, que contemplam não só as fazendas históricas e os complexos produtivos antigos, mas também usinas e barragens para a implementação das pioneiras redes de produção e distribuição de energia elétrica no campo e na cidade, pontes, diques, ferrovias, enfim, registros edificados no território agrário que se somam aos acervos artísticos, bibliotecas, arquivos, equipamentos e máquinas, festas e arte popular, hábitos, costumes, crenças, lendas e modos de fazer.

Tratar as fazendas históricas paulistas como um objeto cultural, tematizando a partir delas uma série de referências e valores simbólicos para os grupos da terceira idade, é um dos objetivos dessa pesquisa.

O acompanhamento das atividades com os idosos nas fazendas históricas paulistas selecionadas durante a pesquisa confirma a Teoria da Seletividade Socioemocional e com esta pesquisa, pretendemos discutir que a qualidade de vida depende do modo como vivemos as diferentes idades e como as representamos. É

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importante afirmar que o idoso não forma um gueto protegido, precisando-se pensar como os idosos se apropriam dos espaços de lazer e dos espaços turísticos, segundo a idéia do não confinamento do idoso e a redução ativa de seus contatos sociais durante a velhice como algo positivo.

A Teoria da Seletividade Socioemocional (TSS) é uma teoria do comportamento social do curso de vida, sendo que a interação social é motivada tanto por necessidades humanas fundamentais, como por estados afetivos e psicológicos. A interação social permite a aquisição de informações, o desenvolvimento e a manutenção do autoconceito e a regulação dos estados emocionais. Dessa forma, a TSS assume que as pessoas idosas reduzem ativamente seus contatos sociais, contrastando com a teoria do afastamento1, pois a regulação emocional assume uma crescente centralidade entre os motivos sociais (CARSTENSEN, 2006, p. 84). Muitos autores discutem que a motivação para a interação social muda com o envelhecimento e são “estabelecidas preferências por companheiros mais próximos e laços positivos, e por parceiros familiares cuja chance de obter suporte e recompensa emocional é maior”. (ROOK, 2000, p. 41). A questão fundamental não é se as pessoas idosas, em média, são mais ou menos ativas do que as mais jovens, mas sim “se as pessoas idosas diminuem o nível de atividade relativa, comparadas consigo mesmas quando mais jovens” (CARSTENSEN, 2006, p. 79). Assim construímos um olhar um olhar positivo para esse acontecimento quando nos referimos à obrigação de idosos de participarem em atividades de lazer ou turísticas, só porque estão na denominada “terceira idade”. Devemos pensar em atividades que sejam estimulantes e interessantes para essa faixa etária, no sentido de serem experiências educativas e prazerosas.

Dessa maneira, a Teoria da Seletividade Socioemocional focaliza os mecanismos psicológicos que moderam tais mudanças, sustentando que a interação social é motivada por uma ampla variedade de metas (CARSTENSEN, 1992, p. 35). As preferências quanto a parceiros sociais e quanto a comportamentos sociais mudam

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Na Gerontologia, a Teoria do Afastamento sustenta que a redução do contato social na velhice representa um mecanismo adaptativo por meio do qual a pessoa dissocia-se da sociedade e a sociedade dissocia-se da pessoa (NERI, 2001, p. 116).

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de modo previsível ao longo do curso de vida. A autora constata que as relações sociais começam a ser conscientemente restringidas na velhice, com um maior valor adaptativo da redução da atividade e que mudanças no comportamento social na terceira idade provêm das oportunidades disponíveis no ambiente.

Frente a eventos estressantes, o indivíduo utiliza mecanismos de avaliação e enfrentamento. Assim a Teoria da Seletividade Socioemocional pode ser vista como uma estratégia adaptativa durante a velhice, na qual existe esforço para controlar a reatividade fisiológica e psicológica e a interação social que é cada vez mais motivada pela regulação da emoção e menos motivada pela possibilidade de obtenção de informação ou pelo atendimento das necessidades de afiliação com parceiros sociais desconhecidos.

Está sendo utilizado na atual pesquisa o método biográfico da História Oral com entrevistas abertas e a transcrição de entrevistas realizadas com proprietários, moradores e funcionários das fazendas para a coleta de informações sobre patrimônio imaterial e as atividades educativas a ele relacionadas, que permitam a proposição de atividades de educação patrimonial e de turismo cultural rural voltadas para a Terceira Idade, sempre acompanhadas de observação participante e diário de campo.

Esta pesquisa justifica-se pela construção de um conhecimento sobre a cultura material e imaterial de espaços privados anteriormente inacessíveis aos pesquisadores das diferentes disciplinas que integram a equipe da pesquisa e pelas contribuições que dará através de encontros e discussões que envolvam diretamente os proprietários das fazendas históricas, nas quais estes apresentarão as necessidades e expectativas comuns, para a criação de um modelo que possa ser utilizado no atendimento à população idosa.

Sem programas específicos para cada propriedade rural e eficazes para comunicar os sentidos do passado e do presente, bem como para atrair visitantes para formas de observação e compreensão, em processo de extinção, há um grande perigo de que o patrimônio cultural seja tão mercantilizado, que chegue a perder seu potencial de atração educativa para a maioria dos observadores.

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A bibliografia levantada na área da Gerontologia juntamente com a pesquisa de campo tem demonstrado que o envolvimento em relações sociais satisfatórias na velhice tem valor preditor negativo de mortalidade, após ajustes para fatores de risco biomédicos e comportamental. Os relacionamentos sociais influenciam a saúde e bem estar ao longo da vida e seus efeitos são evidentes em múltiplas dimensões da saúde e, portanto otimizá- los seria fonte para saúde e bem estar.

Assim as pessoas idosas, quando indagadas sobre seus relacionamentos sociais nas conversas em trabalho de campo, os descrevem como satisfatórios, encorajadores, plenos e as escolhas de parceiros sociais mais prováveis na velhice são os amigos de longa data ou as pessoas amadas, porque elas têm maior probabilidade de oferecer experiências positivas e afirmar o self, em lugar da ampliação da rede de relações ou da busca de informações e de status, que são objetivos típicos dos mais jovens. Dessa forma podemos afirmar que há investimento social seletivo diminuindo o tamanho e priorizando qualidade de rede social.

Portanto, podemos indicar como primeira constatação dessa pesquisa ainda em andamento, que as propostas de turismo cultural ou educação patrimonial para a terceira idade devem ser elaboradas visando o atendimento de grupos reduzidos formados segundo o desejo e a seleção dos próprios idosos para que sua efetividade e prazer alcancem os níveis desejados. A oferta de turismo de massa para essa faixa etária e para os espaços patrimoniais das fazendas se mostra desaconselhável tanto para o público a ser atendido como para os espaços turísticos e serem explorados.

BIBLIOGRAFIA:

CAMPOS, T. de J. (2003) Lazer e Terceira Idade: contributos do Turismo no âmbito

do Programa Clube da Melhor Idade. Dissertação (Mestrado). Programa de

Pós-Graduação em Gerontologia. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP. CARSTENSEN, L. (2006) Aging and the intersection of cognition, motivation, and emotion. In: Birren, J. E and K. W. S. (Eds). Handbook of the Psychology of Aging, 6 Edition. San Diego, Cal.: Academic Press/Elsevier.

DEBERT, G.G. (1999) A reinvenção da velhice: socialização e processos de

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DOLL, J. (2007) Educação, Cultura e Lazer: Perspectivas de velhice bem-sucedida. In: NERI, A. L. (Org). Idosos no Brasil: Vivências, Desafios, e Expectativas na

Terceira Idade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Edições SESC.

HARAHOUSOU, Y. (2000) Ocio como potencial para el desarollopersonal e social de las personas de avanzada edad. In: CABEZA, M. C. (org). Ocio e desarollo

humano. Espanha: Bilbao.

KOLLAND, F. (2000). Angewandte Gerontologie in Schlusselbegriffen. Stuttgart,: Kohlhammer.

NERI, A. L. (2001) Desenvolvimento e Envelhecimento: Perspectivas Biológicas,

Psicológicas e Sociais. Campinas, SP: Papirus.

ROOK, K. S. Handbook of Health Psychology and Aging. Optimizing Social

Realtionships as a Resource for health and well-being in later life, 2000.

SOUZA, H. M. R. (2002). Turismo na Terceira Idade. Expectativas e Realidades. 134f. Dissertação (Mestrado em Comunicação). ECA – Escola de Comunicação e Artes. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.

Mini currículo: Mestranda em Gerontologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Possui bacharelado em Turismo pela UNESP. Email: liviaomorais@hotmail.com

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