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O Exame Nacional do Ensino Médio e seu papel para a efetivação dos objetivos da educação nacional

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Academic year: 2021

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educação nacional

Monike Gabrielle de Moura Pinto1 Ricardo de Aguiar Pacheco2

A década de 1990 no Brasil foi o período de uma reforma educacional que gera frutos ainda nos dias de hoje (Fonseca, 2003). Caracterizada como um período em que o país buscava a afirmação da Democracia e a sua inserção na dinâmica do mundo globalizado, o sistema educacional precisava ser modificado para que se formassem cidadãos em consonância com esse novo momento em que o país ingressara (Bittencourt, 2004).

O grande marco dessa reforma educacional brasileira se deu com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB (Brasil, 1996) seguida da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais/PCNs (Brasil,1997). Essa nova legislação tinha por objetivo formar cidadãos com competências e habilidades, não apenas como receptores de conteúdos e dados cristalizados, mas como seres críticos, com capacidade de problematizar e atuar em sua realidade de mundo globalizado.

Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado. (BRASIL, 2002, p. 9 - grifo nosso)

Observando sob a ótica de Zygmunt Bauman (1999), essas transformações se explicam pelo momento em que vivemos – que ele denomina de modernidade líquida

1Licenciada em História UFPE e bacharelanda em História na mesma universidade; PIBIC/CAPES.

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(que também recebe a alcunha de pós-modernidade ou contemporaneidade). Segundo esse estudioso, em contraposição à época moderna (que ele chama de modernidade

sólida) em que se prima pela ordem, por um projeto de mundo, a modernidade líquida

se caracteriza pela fluidez, pela constatação de que não é possível projetar o futuro. Levando isso para o campo educacional, a contemporaneidade é marcada por uma educação que se dirime do cargo de transmitir ao aluno a verdade sobre o mundo por meio dos conteúdos cristalizados, de ensinar-lhe um projeto de futuro, de formar o sujeito padrão. Buscando preparar o estudante para viver no mundo de constantes transformações e para respeitar as diferenças, como bem retrata o trecho do PCN acima destacado.

E nesse cenário de modificações do âmbito educacional no Brasil surge, no ano de 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Inicialmente, com a finalidade perceber a condição dos estudantes ao concluírem o ensino básico. O Documento Básico do Ministério da Educação (MEC, 2000) aponta que o ENEM se constituía fundamentalmente como um meio de avaliar se o estudante teria alcançado “o desenvolvimento de competências fundamentais ao exercício pleno da cidadania”.

Esse primeiro perfil dado ao exame nacional buscava caminhar de mãos dadas às pretensões da nova legislação educacional, que entende que as finalidades/objetivos da educação são “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1996, p.1 - grifo nosso) Nesse

sentido, o ENEM seria um mecanismo apropriado para perceber se o ensino básico estava cumprindo seu papel de formar cidadãos, seres críticos, conscientes e agentes ativos da sociedade. Tendo o exame, deste modo, seu foco direcionado ao aluno, que se constituía como o centro da formulação da prova.

No ano de 2009, o ENEM passa por uma grande modificação: passa a ser a principal porta de acesso ao ensino superior através do Sistema de Seleção Unificado -

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SiSU (BRASIL, 2010). Agora, o ENEM se aproxima do caráter dos antigos exames de vestibular, tendo em vista ter passado a ser o meio de avaliação e classificação para ingresso nas vagas do nível superior.

Sofrendo alterações no formato das provas, nas habilidades e conteúdos avaliados e em tantos outros aspectos,o exame acaba se instituindo como o principal instrumento de avaliação do sistema de educação como todo, e de cada aluno individualmente.

De maneira específica, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias será o alvo de nossa análise. Tendo como alvo as modificações nas orientações no que tange a disciplina de História, oriundas dos documentos legais que direcionaram e direcionam o Exame Nacional. Tendo em vista, o papel contundente de tal disciplina para a formação dos sujeitos.

Pesquisa sobre currículo

Como parte das pesquisas realizadas pelo Observatório do Ensino de História em Pernambuco (OBEHPE)3, o presente trabalho busca analisar como a disciplina de história é trabalhada no Exame Nacional do Ensino Médio, através da identificação das orientações dadas acerca da referida disciplina nos documentos legais que direcionam a avaliação nacional, para que possamos caracterizar a história defendida e o sujeito que se busca formar por meio do exame.

De forma pontual, nos interessa: investigar as transformações sofridas pelo Ensino de História ao longo dos anos; identificar as principais modificações do Exame Nacional do Ensino Médio ao se instituir como forma de acesso ao ensino superior, em seu aspecto geral, mas, sobretudo, na prova de Ciências Humanas e suas tecnologias; identificar as orientações dadas acerca da disciplina de História, presentes nos documentos legais que direcionam o Exame Nacional do Ensino Médio; e analisar se as

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principais reformulações sofridas no Exame têm corroborado de maneira positiva, ou não, para a efetividade dos objetivos da educação emanados pela legislação educacional vigente.

A fim de compreender o caráter do Exame Nacional do Ensino Médio a partir de 2009, quando passa a adotar o SiSU e se constituir como a principal avaliação nacional para acesso ao nível mais alto do ensino, inicialmente nos debruçamos sobre os documentos legais que fundamentaram e regulamentaram o Exame. A saber, a Portaria MEC nº 438, de 28 de maio de 1998, que instituiu o ENEM;o Documento Básico do ENEM, do ano de 2000; a Portaria Normativa nº 2, de 26 de janeiro de 2010, que estabeleceu e regulamentou o Sistema de Seleção Unificada; bem como a Matriz de Referência do ENEM, de 2009.

Também buscaremos identificar o cenário de construção desses documentos, as discussões que as precederam e que culminaram em sua elaboração, bem como os sujeitos envolvidos no processo de formulação e reformulação dessa avaliação nacional. Além disso, considerando que “o pesquisador é, antes de tudo, um leitor” (VALDEMARIN; SILVA, 2010, p.49), se constitui parte essencial na construção dessa pesquisa a leitura apurada da literatura pertinente ao tema proposto. Analisando as principais argumentações elaboradas por autores que discutem sobre a educação, de modo geral, e as políticas públicas do campo educacional e o ENEM, de maneira específica, para, dessa maneira, alicerçar teoricamente nossa investigação.

Faremos, ainda, a análise atenta de algumas provas do Exame realizadas nos anos de 2010, 2011 e 2012 (quando passa a utilizar o SiSU) mais especificamente em sua divisão “Ciências Humanas e suas tecnologias”,dando foco à disciplina de História. Essa ênfase dada à História se explica, sobretudo, por seu papel fundamental na formação do sujeito com competências plenas para exercício da cidadania, como bem sustenta Silva e Fonseca:

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Ao Ensino de História cabe um papel educativo, formativo, cultural e político, e sua relação com a construção da cidadania perpassa diferentes espaços de produção dos saberes históricos. Desse modo, no atual debate da área, fica evidente a preocupação em localizar, no campo da História, questões problematizadoras que remetam ao tempo em que vivemos e a outros tempos, num diálogo crítico entre a multiplicidade de sujeitos, tempos, lugares e culturas. (SILVA; FONSECA, 2010, p. 24)

Ao realizarmos o exercício analítico das provas, procuraremos perceber as principais modificações, no que tange o formato da prova e das questões, as habilidades e competências avaliadas, a interdisciplinaridade ou a divisão por áreas de conhecimento.

Por fim iremos analisar se as reformulações sofridas pelo ENEM trouxeram elementos de congruência ou de divergência em relação aos princípios, objetivos e finalidades que a legislação educacional – sobretudo a LDB e os PCNS – dá para a educação nacional.

O Enem como currículo

Partindo da análise dos documentos que fundamentam hoje e fundamentaram em outros momentos o Exame Nacional do Ensino Médio, e do cenário de formulação e reformulação da prova, espera-se identificar as principais modificações sofridas pelo Exame Nacional do Ensino Médio ao se instituir como a principal avaliação nacional para ingresso no Ensino Superior.

Após analisar a documentação regulamentadora do exame e discutindo seu cenário de construção, ao partir para o estudo das questões da prova de “Ciências Humanas e suas Tecnologias”, acreditamos que poderemos identificar com clareza os avanços e recuos do ENEM no que tange as orientações dadas pelos dois documentos principais de direcionamento da educação nacional (LDB e PCNs).

Para, dessa maneira, observarmos se o processo de modificação do ENEM corroborou de maneira positiva ou negativa para a efetividade dos princípios e objetivos

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da educação emanados pela legislação educacional vigente, sobretudo no que diz respeito à formação do cidadão crítico, político e agente social.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Felipe Quintão de. Bauman & a Educação. – Belo Horizonte: Autentica Editora, 2009. – Coleção pensadores & Educação.

ANDRIOLA, V. B. Doze motivos favoráveis à adoção do Exame Nacional do Ensino

Médio (ENEM) pelas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Ensaio: aval.

pol.públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 19, n. 70, p. 107-126, Jan./Mar. 2011. Disponível:<http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v19n70/v19n70a07.pdf>

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. – Rio de Janeiro: Zahar, 1999. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. – São Paulo: Cortez, 2004.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei nº 9394/1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996.

_______. Portaria MEC nº 438 de 28 de maio de 1998. Institui o Exame Nacional do Ensino Médio.

_______. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio – parte IV - Brasília: MEC, 1999.

_______. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2002.

_______. Matriz de Referência do ENEM. Brasília: MEC, 2009.

_______. Portaria Normativa nº 2, de 26 de janeiro de 2010. Institui e regulamenta o Sistema de Seleção Unificada.

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Setembro 2013. Doi: 10.1590/S0102-01882004000200010.

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Referências

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