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Relator: Desembargador Saul Steil. Vistos etc.

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Academic year: 2021

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Agravo de Instrumento n. 4020930-17.2018.8.24.0900, Capital Agravantes : Luciano Hang e outro

Advogados : Victor Leal (OAB: 69684/PR) e outros

Agravado : Cooperativa de Trabalho Comunicacional Sul Relator: Desembargador Saul Steil

Vistos etc.

Luciano Hang e Havan Lojas de Departamentos Ltda interpuseram agravo de instrumento em face de decisão que, nos autos da ação de indenização por danos morais que movem em face da Cooperativa de Trabalho Comunicacional Sul (DESACATO), acabou por indeferir tutela de urgência consistente na retirada, em vinte e quatro horas, da notícia constante do endereço 'http://desacato.info/havan-disputa-mercado-gaucho/', bem como se abstenha de publica-la em meio físico ou digital sob pena de multa diária.

Disseram que, ao revés do que disse a notícia, o agravante Luciano Lang não é alvo contumaz da justiça, tanto que nunca foi condenado em definitivo, pois foi absolvido nos supostos ilícitos envolvendo tributos federais.

Ponderaram ser mentirosa a afirmação de que o BNDES financiou a expansão nacional da agravante Havan Loja de Departamentos, pois a instalação de uma única loja requer investimento de R$ 20.000.000,00, sendo que o total de empréstimos alcançados foram de R$ 20.600.000,00.

Consignaram que não representa vedação à retirada da matéria, o teor da decisão proferida na ADPF 130, mormente quando são mentirosas as notícias veiculadas.

Pugnaram pela concessão de antecipação de tutela recursal para a exclusão da matéria em 24 horas e, ao final, a reforma da decisão.

Ascenderam os autos. É o relatório.

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O recurso interposto preenche os requisitos extrínsecos de admissibilidade (§ 5º, do art. 1.003 e § 3º, do art. 1.007, ambos do CPC); de outro lado a insurgência encontra respaldo no inciso I, do art. 1.015, do CPC, razão porque dele conheço.

O inciso I, do art. 1.019, do CPC, faculta ao relator atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente a pretensão recursal.

Todavia, in casu, a antecipação da tutela recursal está condicionada a presença do risco de dano grave ou de difícil ou impossível reparação e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso, nos termos do enunciado no parágrafo único do artigo 995, do Código de Processo Civil.

Assim, para o sucesso da pretensão, deverá demonstrar o interessado que em decorrência da decisão recorrida, corre ele- interessado, risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, bem como, a probabilidade do provimento do recurso. Recorre-se aos tão cantados e dacantados perriculum in mora e o fumus boni juris.

A respeito, leciona Daniel Amorim Assumpção Neves:

"Tratando-se de efeito suspensivo ope judicis (impróprio), não basta o mero pedido do agravante, sendo indispensável o preenchimento dos requisitos previstos pelo art. 995, parágrafo único, do Novo CPC: probabilidade de provimento do recurso, ou seja, a aparência de razão do agravante, e o perigo de risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, demonstrada sempre que o agravante convencer o relator de que a espera do julgamento do agravo de instrumento poderá gerar o perecimento de seu direito." (Manual de Direito Processual Civil. Manual de Direito Processual Civil. 8ª ed. Salvador: JusPodivm, 2016 p. 1572/1573)

A antecipação da tutela é figura que vem insculpida no art. 300, do Código de Processo Civil, cuja concessão pressupõe, segundo a referida disposição legal, 'probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao

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É o que diz a doutrina, na voz de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery:

Requisitos para a concessão da tutela de urgência: [...] A primeira hipótese autorizadora dessa antecipação é o periculum in mora, segundo expressa disposição do CPC 300. Esse perigo, como requisito para a concessão da tutela de urgência, é o mesmo elemento de risco que era exigido, no sistema do CPC/1973, para a concessão de qualquer medida cautelar ou em alguns casos de antecipação de tutela.

Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris. Também é preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade do direito por ela afirmado (fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia do processo de conhecimento ou do processo de execução (Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: ed. RT, 2015, p. 857-858).

No caso dos autos, a pretensão é obter tutela recursal para retirar a notícia dita mentirosa do site mencionado

DA PROBABILIDADE DO DIREITO

Depois da leitura da peça de agravo, percebe-se que estão em debate dois direitos fundamentais, a saber, o direito à livre manifestação do pensamento em contraponto com a inviolabilidade da honra e imagem das pessoas.

O princípio da inviolabilidade está assim cunhado pela Carta Maior:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

De outra banda, o direito à livre manifestação de pensamento está assegurado no inciso IV do mesmo artigo, quando ele estabelece que é livre a

manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'.

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no caso concreto, vai preponderar sobre o outro.

No caso em escrutínio, não podermos perder de vista que estamos em estágio inicial da ação, na origem, sem que sequer tenha sido estabelecido o contraditório, o que faz preponderar, a meu sentir, a liberdade de expressão, mormente porque o fundamento da ação, e mesmo do pedido de tutela de urgência, é de que as notícias são mentirosas situação que, por ora não se encontra sedimentada nos autos.

Os agravantes trazem em seu socorro a afirmação de que o agravante Luciano Lang sofreu ação penal mas acabou absolvido pela prática de suposto crime fiscal, de modo que não poderia constar das informações que ele é condenado. Bem assim, trazem afirmação de que a Havan Lojas de Departamentos não se expandiu por obra de empréstimos suspeitos junto ao BNDES, ao revés do que sustenta a notícia veiculada.

Ocorre que sequer há parâmetros para aferição de um mínimo de verdade ou mentira sobre a notícia veiculada, e isto por uma simples razão, a saber, os agravantes não trouxeram com sua ação – nem com este agravo – a notícia que inquinam de mentirosa, o que dificulta sobremaneira suas pretensões.

Neste giro, o decote prematuro e indevido de uma notícia verdadeira – tomando em visto o direito à informação e o direito à descoberta da verdade - tem a mesma consequência nefasta da permanência de uma notícia mentirosa – tendo em vista o direito à intangibilidade da honra e imagem da pessoa. No limite argumentativo e principalmente probatório estabelecido neste agravo, portanto, não encontro fundamentos para alijar o site da informação, pela absoluta inexistência de parâmetros para avaliação, prevalecendo, por ora, o direito à informação.

Calha anotar:

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DE COMENTÁRIOS NO SITE DO FACEBOOK. ALEGAÇÃO DE OFENSA À HONRA E IMAGEM. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. Caso concreto em que os fatos noticiados decorrem da livre manifestação de pensamento da demandada. Não se vislumbra, de plano, a prevalência do direito à honra e imagem do cidadão. Necessária a oportunização do contraditório, antes de eventual deferimento da medida. NEGADO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº 70067704072, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 10/12/2015)

Para arrematar, já decidiu este Tribunal em casos semelhantes:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE VÍDEO EM REDE SOCIAL (FACEBOOK) CONTENDO RECLAMAÇÃO DE CONSUMIDOR SOBRE SERVIÇO PRESTADO. INTERLOCUTÓRIO QUE NEGOU O PEDIDO DE RETIRADA DO CONTEÚDO DA INTERNET. DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO EM TENSÃO COM DIREITO À HONRA OBJETIVA E À IMAGEM. RELATO PESSOAL DE CLIENTE INSATISFEITO COM PROVEDOR DE INTERNET. COMENTÁRIOS LEVEMENTE ÁSPEROS QUE, NO ENTANTO, RESTRINGIRAM-SE À QUALIDADE DO SERVIÇO PRESTADO. AUSÊNCIA DE ANIMUS DIFAMANDI. PRECEDENTES. PRIMAZIA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO ENQUANTO FUNDAMENTO DA DISCIPLINA DO USO DA INTERNET NO BRASIL. INTELIGÊNCIA DO ART. 2º, CAPUT, DO MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI N. 12.965/2014). ANÁLISE EM SEDE LIMINAR QUE, DADA A LIMITAÇÃO DO CONTRADITÓRIO, DEVE PRIVILEGIAR A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. PROBABILIDADE DO DIREITO NÃO DEMONSTRADA. TUTELA ANTECIPADA INDEFERIDA. INTERLOCUTÓRIO MANTIDO. RECURSO DESPROVIDO.

Desde que observadas as balizas constitucionais do exercício da liberdade de expressão, traduzidas, por exemplo, na preservação da honra e da imagem alheias, "o consumidor tem o direito de externar seu desagrado e inconformismo quando considera inadequado, insatisfatório ou defeituoso serviço que lhe foi prestado mediante remuneração." (TJRS, Apelação Cível n. 70058606708, Nona Câmara Cível, Rel. Des. Miguel Ângelo da Silva, j. 29/04/2015) (Agravo de Instrumento n. 4015780-10.2016.8.24.0000, de Videira, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. 6-6-2017).

Não encontro, pois, nesta fase de cognição, elementos probatórios suficientes para o provimento almejado, de sorte que o indefiro.

Prejudicada a análise do perigo de dano.

Por fim, insta salientar que a presente decisão não se reveste de caráter definitivo, mas de acordo com análise perfunctória, típica do provimento

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jurisdicional invocado, de modo que poderá ser alterado com maiores elementos, em decisão definitiva.

Diante do exposto, indefiro a tutela recursal invocada. Comunique-se a origem.

Intime-se a parte agravada para, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar a resposta que tiver podendo, inclusive, fazer juntar documentos que entender necessário (inciso II, do art. 1019, do CPC).

Florianópolis, 20 de agosto de 2018.

Desembargador Saul Steil Relator

Referências

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