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Já não queremos a democracia? Uma aproximação desde a etnografia política à irrupção de Cabildo Abierto na política do Uruguai 1 2

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Academic year: 2021

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Já não queremos a democracia?

Uma aproximação desde a etnografia política à irrupção de Cabildo

Abierto na política do Uruguai

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Agustina Martiarena Pazos (PPGCPol - UFPel)

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Resumo:

Este artigo aborda a crise da democracia na atualidade da região, mais especificamente no caso do Uruguai. Crise que não pode ser explicada unicamente pelas variáveis procedimentais e institucionais, e que inclusive com os estudos da cultura política não parece explicada de forma satisfatória. Por isso, neste trabalho nos aproximamos de uma abordagem desde a etnografia política, buscando enriquecer a análise sobre os problemas da legitimidade da democracia e a desconfiança nas instituições como mediadoras entre sociedade e Estado. A etnografia política permite compreender os fenômenos com um caráter multifacetado. No nosso caso concreto, nos permitirá captar como a democracia ou a mediação institucional se manifesta para os atores, que significado eles lhe outorgam e como definem sua relação com a democracia.

1.Introdução

Vivemos em um momento de crise da democracia liberal, a qual se cristaliza diferentemente segundo as realidades nacionais. Um fenômeno tão atual e complexo requer explicações além de variáveis procedimentais e institucionais. A cultura política tem se aproximado a um entendimento melhor dessas realidades, iluminado sobre os valores e crenças da sociedade em relação à democracia.

Contudo essa abordagem ainda não resulta suficiente, esse trabalho propõe uma abordagem a partir de fontes secundárias para entender a particularidade do caso uruguaio e conseguir partir para um estudo da etnografía política. Como define Auyero (2019), a etnografia política baseia-se na observação em diversos espaços e instituições e em tempo real para detectar como os atores estudados agem, pensam ou sentem. Assim seria possível abordar os conceitos políticos e os significados sociais criados pelos próprios atores.

A crise da democracia aparece em vários países do planeta hoje em dia, com maior ou menor intensidade na última década aconteceram grandes avanços e recuos na qualidade das democracias. Essas mudanças afetam fortemente a América Latina, provavelmente por ser o

1 ​Trabalho apresentado para o evento 44º Encontro Anual da ANPOCS a ser apresentado no Simpósio de Pesquisa

Pós-Graduada 01 - A crise da democracia no Brasil e América do Sul: agendas de pesquisa, hipóteses e interpretações.

2 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

3Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ciência Política na Universidade Federal de Pelotas, sob orientação de

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continente mais desigual e violento, segundo, respectivamente,os informes de desigualdade da CEPAL (2016) e violência do Banco Mundial (2016).

Uruguai parece nunca encaixar nos padrões da região, seja pelos menores índices de desigualdade, enquanto o continente tem um índice Gini de 0.462% o país registra 0.391% em 2018 segundo a base de dados da Cepal, seja por ser definido como uma velha democracia de partidos, com uma sociedade institucionalista com o público e que entende os partidos políticos como mediadores entre sociedade e Estado. (LANZARO, 2012) Esses elementos não podem fazer pensar que o país é uma ilha e imune às mudanças.

Apesar da sua forte cultura política democrática, atualmente, vive uma mudança na cultura política. O apoio à democracia registrado por organismos de medição da opinião pública como Latinobarômetro (2018) mostra que Uruguai, apesar de ser um dos países com maior índice de apoio à democracia, passou de 70 a 61% da população que considera a democracia como sendo preferível a qualquer outro tipo de governo.

Os sentimentos da população em um contexto de insegurança econômica em um regime que não parece satisfazer suas necessidades, tendem a ser uma combinação perigosa para a democracia. As obrigações mínimas da democracia liberal são garantir a igualdade e a liberdade, que implicam necessariamente que os cidadãos tenham asseguradas satisfações mínimas para viver em sociedade. Quando a democracia encontra-se frágil, líderes, partidos ou movimentos contrários a esse regime podem aparecer como uma solução para alguns cidadãos.

Em vista disso, este trabalho, estudará como os líderes do partido Cabildo Abierto, representante da direita reinventada no país, entendem as principais instituições da democracia e como definem a liderança democrática. Colocando a lupa nas palavras que diversos atores utilizam nas declarações aos meios de comunicação ou nas suas redes sociais, em sites oficiais do partido na comunicação com a população em geral. Uma vez avançados nos estudos exploratórios, será possível delinear os grupos concretos para realizar observações e entrevistas etnográficas.

2.Cabildo Abierto, uma direita reinventada:

O partido Cabildo Abierto, é o mais novo do país, formado oficialmente o 10 de março de 2019. Surgido do ​Movimiento Social Artiguista​, fundado o 29 de novembro de 2018, trocou seu nome ao se registrar na Corte Eleitoral uma vez que o artiguismo é considerado por lei um bem comum que não pode ser utilizado por particulares. Assim, tomou o nome então dos locais de reunião onde Artigas se reunia com o povo oriental4​.

4 ​O formato de reunião em Cabildo Abierto foi típico das cidades colonizadas pela Espanha e a tradição foi mantida

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Apesar de não ter conseguido a presidência, o partido conseguiu se impor como a quarta força política5 do país - obtendo um 11% de votos no primeiro turno eleitoral -, o que resulta uma

novidade para o sistema de partidos uruguaio; rompendo não unicamente com o mesmo, mas também se colocando próximo à votação do tradicional Partido Colorado (12%).

Cabildo Aberto obteve três senadores e onze deputados nas eleições. Mediante sua incorporação à “ ​coalición multicolor​”​6​, conseguiu ocupar importantes cargos ministeriais no Poder

Executivo. Essa coligação foi criada após do primeiro turno, entre os partidos opositores à Frente Ampla (que ocupou o governo durante quinze anos), isto é, Partido Nacional, Partido Colorado, Cabildo Abierto, Partido Independiente e Partido Ecologista Radical Intransigente (em ordem de votação).

Outro elemento significativo é que pela primeira vez a direita mais conservadora não é representada por uma fracção de um partido tradicional, a dos seguidores do Pedro Bordaberry do Partido Colorado -filho de Julio María Bordaberry, último Presidente civil que quebrou junto com os militares a institucionalidade democrática em 1973. Apesar de não ter dados que indiquem essa “fuga” de eleitores é possível que esse eleitorado de direita, que perdeu o referente político em Bordaberry, perceba em Cabildo Abierto uma opção possível de representação das sua formas de ver a sociedade, mostrando, o movimento tendente à radicalização das direitas.

Os dados levantados pela empresa de opinião Pública Cifra (2019) indicam que há uma distribuição dos votos, se comparados com eleições anteriores, já que o 21% dos eleitores de Cabildo Abierto votaram nas eleições anteriores no histórico Partido Colorado (PC). Porém, são uma minoria os que escolheram o PC nas eleições anteriores. Essa mesma empresa mostra que o 38% do eleitorado do novo partido tinha votado no atual partido de governo Partido Nacional e um 24%, na Frente Ampla.

Resulta interessante observar que esse 24% dos eleitores de Cabildo Abierto que tiveram origem na Frente Ampla, entendido como o partido de esquerda do país ao novo partido de direita. Uma explicação possível é a apresentada pelo politólogo Yaffé (2019) quem afirma que pode ser explicada sobre todo entre os votantes de menores ingressos que se identificam com a figura de caudilho, figura que anteriormente estava materializada, segundo esse autor, em lideranças políticas como José Mujica ou Tabaré Vázquez.

Composto pelos mesmos membros que o movimento além do líder Manini Ríos aparecem, Guillermo Domenech, Marcos Methol, e Irene Moreira é possível ver uma identificação com uma direita mais conservadora.

5 ​Desde a criação do Frente Amplio, Uruguai tem três grandes forças políticas:os tradicionais Partido Nacional e

Partido Colorado originados ambos em 1836 e a Frente Ampla, formada pela união das esquerdas tradicionais em 1971 e setores de centro esquerda escindidos dos dois primeiros.

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Começando com Irene Moreira advogada esposa do ex-comandante em chefe, é filha do Coronel do Exército Roque Moreira quem foi instrutor de Guido Manini e candidato a Prefeito de Artigas nas última eleições. Assim como seu pai, Irene pertenceu ao Partido Nacional na sua trajetória política anterior e só saiu dele para apoiar o marido. Esse duplo vínculo assegurou que após as eleições se transformasse em Ministra de Vivienda, Ordenamiento territorial e Medio Ambiente.

Marcos Methol, filho de um prestigioso secretário do partido, é filho de um filósofo e importante político uruguaio do Partido Nacional e depois da Frente Amplio. Atualmente também é editor do jornal “La Mañana”, da família Manini, que segundo afirma na entrevista no semanário Voces em julho de 2020, não surge como porta voz do partido mas “ ​como vocero de una filosofía,

de um pensamento, que coincide com o de Cabildo Aberto ​” que vem a dar voz “​un pensamiento

artiguista, nacional, que enfatiza mucho en el interior del país, en la producción, en una forma de

pensar la cultura​.”.

Domenech, por sua vez, foi advogado durante a ditadura cívico-militar, e atualmente presidente do partido e senador da República. É filho de Gervasio Domenech, quem foi deputado pelo Partido Nacional. Domenech (2019) equiparou a Manini Ríos com o líder máximo da nação e orientou seu discurso para a população religiosa do país. No comício final da sua campanha à vice presidência no norte do país, afirmou: “​Durante 200 años nos faltó un conductor con verdadero

espíritu nacional, pero Dios nos ha mandado a Manini Ríos y tenemos un nuevo general para

encabezar a los artiguistas​.”.

Para finalizar a revisão dos principais atores políticos de Cabildo Abierto, é fundamental uma breve resenha do “condutor” e candidato a presidente. Guido Manini Ríos - que provém de uma família de direita nacionalista reaçionaria 7 - teve sua formação integral no exército, instituição

onde ingressou um ano antes do Golpe de estado de 1973, contando na época com 14 anos. Em uma entrevista ao programa de imprensa local ​De cerca (2019), a causa da sua candidatura à presidência, afirma que ingressou na política pela sua “vocação de serviço” e sua procura pela defesa do governo, em um momento que entendeu de “guerra”, na que queria ser participe.

Começa os estudos no liceu militar uma semana antes do Golpe de Estado, ao que se refere como dissolução do Estado e do Congresso. No programa, assegurou não entender muito sobre o assunto na época, já que “ ​así como la mayoría de los uruguayos continué mi vida normal​”. Segundo

seu depoimento, entendeu o que significou a ditadura quando começaram “as votações” -retorno da

7​Pedro, o avô do Guido; destacado político do Partido Colorado durante século XX, trabalhou duas vezes com o

presidente Batlle y Ordóñez, mas formou uma facção própria o Riverismo. O pai do Guido, Carlos, foi político riverista tanto ele como Pedro -avô do Gudo-, altos funcionário da ditadura de Terra em 1933, Carlos foi ministro no governo autoritário do Presidente Jorge Pacheco Areco em 1960 e embaixador no Brasil durante a ditadura cívico-militar. Hugo o irmão de Guido foi fundador do grupo ultra direitista “Juventud Uruguaya de Pie” (JUP), um grupo paramilitar que perseguiu comunistas entre 1960 e 1970.

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democracia- e se pensava nos novos rumos. Participou de poucos enfrentamentos e passou grande parte da sua carreira castrense como instrutor na academia militar.

Chegou a ser comandante em chefe das Forças Armadas, cargo que desempenhou de forma polémica até ser destituído em 2019, pelo então Presidente Vázquez, após criticar por escrito o Poder Judicial. Em entrevista ao programa radial “En Perspectiva” (rádio 1170), no dia 18 de março do mesmo ano, dias após seu retiro, argumentou que como Comandante em Chefe entendeu que era seu dever comunicar ao Ministro e Presidente as falhas do tribunal de honra, sobre um julgamento sobre crimes de ​lesa​humanidade durante a ditadura militar. Afirmou, também, que suas palavras foram “mal intencionadamente” interpretadas como questionamentos e desacato ao Poder Judicial, que a seu entender este poder “ ​en ciertos casos actuó más como venganza que como

justicia​”.

Uma vez destituído pelo presidente Vazquez, segundo suas palavras, teve a possibilidade de participar na “trincheira política”, aceitando o chamado a ser o candidato ao cargo mais alto do país, pelo novo partido Cabildo Abierto. Seu ingresso na vida política, para ele, não é outra coisa que a continuação da sua “vocação de serviço” com a pátria, que começa nas Forças Armadas e continua na vida política; se mostra na política do mesmo modo que no exército, ao serviço do país.

Nem de esquerda nem de direita, o lider de Cabildo Abierto se define como artiguista ​. Seguindo as práticas das direitas radicais, o ex-militar sente-se ameaçado por ambos. No seu

Twitter, ​o dia 28 de agosto, Manini compartilhando uma noticia do jornal da sua familia sobre a

firma de um acordo territorial, na segunda guerra mundial, entre a Alemanha nazista e a Rússia soviética, escreveu: “​La historia se repite​... ​órganos de prensa de la derecha como Búsqueda​ 8, se

suman a otros supuestamente de izquierda, y al Partido Comunista, para atacar con furia un día sí

y otro también a Cabildo Abierto​... ​Solo sus inconfesables intereses los unen​...”.

Na entrevista realizada por “VTV Noticias” afirma que tanto as direitas -possuidoras da grande mídia- e o Frente Amplio, o chamam de fascista por “pensar diferente”. Na sua avaliação, ambos tentam “sujar” o crescimento do partido, pretendem acabar com a imagem do seu assessor, Radaelli, dos ex-militares uruguaios condenados no Chile por associação ilícita, sequestro e homicídio no Uruguai do Eugenio Berríos 9​. Para ele, trata-se de um “vingança” contra os militares,

uma intromissão de outro país em um caso que foi arquivado no Uruguai.

Cabildo Abierto se apresenta como um partido político que tem como líder um militar de alta patente, cujo discurso de incorreção política tem larga data e vale-se disso para se colocar como diferente à classe política em crise. Assim como outros líderes da nova direita, Manini Rios se coloca como um candidato único e diferente.

8 Histórico jornal do país.

9 ​Berrios foi bioquímico chileno, ex-membro da DINA -serviço de inteligência da ditadura chilena- desapareceu após

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3. Revisando o conceito direita(s) em transformação

Morresi (2020) descreve a situação atual como um movimento de radicalização das direitas clássicas. Define as direitas clássicas como a nacional reacionária de tradição hispanista conservadora e católica e outra liberal conservadora com foco na economia de livre mercado. Ao se radicalizaram se conjugam as características de ambas, afetando a democracia mesmo sem se apresentarem como antidemocráticas.

Lopez Burian (2019) afirma que o sistema democratico está passando por uma “grande transformação”, que na América Latina evidencia os limites estruturais do fim do crescimento da economia dos ​commodities​. Ao mesmo tempo aparece uma direita com um discurso endurecido, associado ao pragmatismo não da tecnocracia, mas do “sentir comum” muitas vezes baseado em preconceitos, diminuindo a adesão à democracia e questionando as elites nacionais e transnacionais.

O autor adverte que estamos em uma era na que tudo pode ser dito para reivindicar a “incorreção política”, em uma onda na que aparecem os discursos iliberais, com vínculos e práticas populistas, xenófobas, nacionalistas com diferentes tons de neo autoritarismo. Essa nova direita caracteriza-se por possuir líderes apoiados pelas elites, classes médias em “crise de expectativas”, os auto percebidos como perdedores da globalização, e os cansados e os descontentes dos setores populares, que se sentem esquecidos.

Atualmente se vislumbra um clima de desencanto, receio e antipolítica que deixa aberta a porta para líderes salvadores e tendência à radicalização. Em este clima as direitas tradicionais podem virar ou ser superadas por ultra direitas, como Caetano (2019) define, com uma mistura de neo-patriotismo, ultraliberalismo económico, conservadorismo social e moral e militarização da condução do Estado. Reconfiguração que, para ele, vincula-se a diversos processos, tais como: a nova realidade económica com orientação liberal e auge do agronegócio e o extrativismo; aumento das correntes neopentecostais com sua agenda regressiva de direitos; e aumento de procura de autonomia na globalização.

Como concluiu a estudiosa do caso brasileiro Esther Solano (2020b), na mesma linha de Morresi, as duas direitas com matizes diferenciadas de neoliberalismo e neoconservadorismo se aproximam. Solano (2020) argumenta que as direitas radicais estão identificadas com a insatisfação económica e veem na imigração uma causa desse problema, com olhar religioso moralista, que as opõe - segundo eles - a minorias que minam a identidade nacional e limitam seus direitos - como homens brancos cristãos- e corroem o valor da meritocracia.

Mediante guerras culturais, a direita consegue moldar uma visão de mundo baseada no fundamentalismo moralista, inquisidor, que une um discurso de negação e demérito da política tradicional. Conseguindo politizar a antipolítica, que já está no ambiente, resulta uma ameaça desde dentro aos próprios valores democráticos que dizem vir a defender. (SOLANO, 2020).

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Manini Rios tem afirmado, em entrevista no programa De Cerca, coincidir com aspectos da direita como o da “ordem” e com os da “esquerda real”, a que se preocupa com os mais vulneráveis, e se opor a que chama “esquerda caviar” (segundo ele, financiada pelo Soros) que só procuraria o benefício próprio. Contudo olhando a estrutura do partido e como surge poderia poderia ser entendido como de direita. Como foi desenvolvido na seção anterior Cabildo Abierto parece estar composto de uma direita que ​a priori ​poderia ser entendida como nacional reacionária, ao reivindicar tradições que entendem como o artiguismo, mas não como neoliberal, uma vez que dizem representar aos mais infelizes, como diria o líder máximo da independência.

Na seguinte secção será testada esta forma de conceber as direitas comparadas ao olhar do partido. Na autodefinição do partido e nas intervenções públicas dos sus membros poderá ser entendido como definir o conceito de direita nesse grupo e começar a responder se realmente é uma ameaça para a velha democracia do país.

4. Nacionalismo e artiguismo no discurso de Cabildo Abierto:

Esta seção, possibilita a compreensão da visão de mundo do partido e particularmente do líder para depois comparar com os principais traços que definem novas direitas.

Cabildo Abierto em seu​site​oficial tem uma seção com uma breve autodefinição que ajuda a começar a iluminar sua visão da democracia. Define-se como um partido que: “ ​se presenta a la

sociedad para, dentro del más profundo respeto a la democracia y a la Constitución de la

República, ofrecer una oportunidad de acceso de los ciudadanos a la vida política del país​”.

Poucos são os partidos que na primeira linha da sua descrição remarcam o caráter democrático e de respeito à Constituição. Uma das possíveis motivações para tal esclarecimento seja a vinculação com a categoria militar, que junto com alguns civis foi a principal responsável pela ditadura que durante doze anos suspendeu a democracia e a Constituição. Junto com as consecutivas e polémicas irrupções do seu líder contra todos os poderes da República, o que em um país com tradição institucionalista pode ter no mínimo “custo político”.

A definição se aproxima com um elemento clássico das direitas ao afirmar seu compromisso com o resgate dos “ ​más ricos valores de nuestra sociedad, acuñados desde la época de la lucha por

la independencia del país, basados en las ideas originarias de José Gervasio Artigas ​.” Os valores e

patriotismo em termos do artiguismo aparecem novamente na biografía de Manini, visto que o ​site oficial do partido finaliza com a sua entrada na vida política. “ ​La opción democrática, me permite

ahora ejercer ese nuevo rol. Reivindicar el papel protagónico que tuvieron las ideas de Artigas en

el pensamiento del ser oriental y traerlo, en forma genuina, a nuestros días​.”.

O primeiro a ressaltar é a amplitude estratégica dos valores que diz resgatar, nenhum é mencionado, como única referência apelam à memória coletiva de um herói da independência.

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Artigas, a figura política máxima da independência do país é ao mesmo tempo umas das mais controversas. O artiguismo é a pedra fundamental que Cabildo Abierto e Manini utilizam para criar sua imagem patriótica e ao mesmo tempo associar o líder máximo com os valores conservadores pregados.

Cada geração de uruguaios rememora e projeta o legado político do artiguismo desde o olhar e interpretação de cada presente. De acordo com alguns autores, as sociedades democráticas necessitam uma inspiração do passado que os ajude a pensar o futuro, uma memória coletiva (Caetano; Ribeiro, 2015). No Uruguai as chamadas ​Instrucciones del Año 1913, para esses autores, apresentam as definições políticas mais relevantes do ​artiguismo ​e um exemplo de revolução

popular derrotada.

O mito fundacional começa com a constituição da República e acompanha a memória histórica do país até a atualidade. Essa ideia cobra mais força no “centenário” da independência, quanto as lutas ​artiguistas pela independência, ​na década de 1920, “elevam” a sua imagem à de

pater,​tanto do território como da região. O principal monumento de Artigas, construído em meio de uma praça com nome de independência, ao mesmo tempo que se construiu o Palácio Legislativo, configuram uma simbologia de afirmação de poder e culto ao líder.

A razão da comemoração da morte de Artigas em 1950, em uma época onde converge um clima de forte institucionalização da democracia e crescimento econômico, o líder foi consagrado de forma unánime. Entrada a seguinte década, volta a disputa de relatos enfrentados entre os setores em pugna: os grupos de esquerda com uma interpretação de caudilho agrário e revolucionário e a dos militares, o general-soldado.

Disputa que aumenta após o Golpe de Estado. Anos depois, os restos do líder são levados para a praça independência onde foi construído o mausoléu e foi comemorado em 1975 o “ ​año de la

orientalidad​” (Markarian; Cosse,1996). Orientalidade, o ​demos ​e seus valores, são inspirados na

visão de Artigas, segundo os militares, o que é observado na hora da decoração do mausoléu em que foram retiradas as frases do líder que poderiam ser interpretadas como suspeitosas e adversas a seu projeto político.

Como apontam Caetano e Ribeiro (2015), a disputa ficou na discussão entre historiadores e somente foi retomada no ano 2009, quando foi eleito o primeiro presidente de esquerda, Tabaré Vazquez. Este propõe retomar as frases suprimidas e com apoio do Poder Legislativo foram incluídas algumas: “​Mi autoridad emana de vosotros y ella cesa ante vuestra prescencia soberana​”,

​El despotismo militar será presisamente aniquilado con travas constitucionales que aseguren

inviolabe la soberanía de los pueblos ​” e finalmente “​se promoverá la libertad civil y religiosa en

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Essa disputa que pareceria ser a continuação daquela que começa em 1960 é a que Manini e Cabildo Abierto fazem referência. Na definição do artiguismo que Cabildo Aberto procura retomar, entendem que a da esquerda é limitadora do exército que é entendido como despótico. Por isso será necessário entender quais são os valores e crenças que Cabildo Abierto defende para carregar de conteúdo esse artiguismo. Não adaptar muito a imagem já existente de Artigas para sustentar seu neo-patriotismo com multiplicidade de interpretações permite um leque maior de seguidores. Como os valores de Artigas encontram-se fortemente arraigados na memória social, rememorado como gestor da pátria e da soberania, por isso poderá ser ampliado como fundador da, família na que Artigas é ​pater​.

4.1. Valores orientais no discurso de Cabildo Abierto

Os “mais ricos valores da sociedade” aos que Cabildo Abierto refere, na sua descrição, podem ser encontrados no site do Movimento Social Artiguista. Este movimiento se define como formado por “​orientales preocupados y comprometidos con el futuro del país​” e ao igual que Cabildo Abierto procura recuperar “​nuestros valores éticos, morales, culturales, educativos,

sociales, de honradez, de seguridad, que en forma lenta pero sin tregua con los años, hemos ido

perdiendo​”. A preocupação com valores “nossos” é uma caraterística da direita, enquanto na

Europa se tende a culpar os imigrantes, na América Latina o são as elites progressistas que estariam aliadas às elites estrangeiras que correriam os valores nacionais.

Esses valores que nutrem a ideia de nacionalismo em chave artiguista, desde o entendimento de soberania nacional dos “orientais”. Valores esses que segundo o partido foram se perdendo, apesar de não especificar como isso acontece, para entendê-lo tem que ser analisada a definição de cidadão no site de MSA. Nessa visão é central o conceito de cidadão como homem que “ ​nace en el seno de una familia ​” a qual é definida como a base da sociedade, uma vez que otorga os primeiros valores. São os valores da família os que esse grupo sentem ameaçados.

Esther Solano (2020b) questiona a esquerda brasileira de abandonar o plano do nacionalismo e a ideia de família como laço de comunidade. Uma vez esvaziados de conteúdo estas novas direitas tradicionais são as que vão preencher de sentido o nacionalismo e a família.

Um movimento parecido acontece no uruguai, apesar dos intentos do ex-Presidente Vázquez de preencher de conteúdo o artiguismo não conseguiu aprofundá-lo. Também contribuiu para o esvaziamento que a esquerda aumentou a agenda de direitos das minorias identitárias ao tempo que avança uma crise económica. Em momentos de crise económica as famílias são quem garante o sustento da população. Nessa situação a direita radical acaba associando a família com uma ideia da Nação cuja unidade viria a ser destruída pelas esquerdas.

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A defesa aparece no campo cultural, onde Manini Ríos mostra suas habilidades de estratégia militar. Incluso desde sua cadeira no senado tem acusado partidos ou movimentos sociais como sendo “​cipayos​10​” dos “centros de poder”. Assim como muitos líderes dessas novas direitas enxerga

políticos de esquerda, meios de imprensa e movimentos sociais como financiados por George Soros11​. Essas acusações têm sido dirigidas tanto a políticos do governo anterior até grupos de

feministas que organizam as passeatas todo 8 de março, no dia da mulher. Tais acusações rememoram a luta contra o “comunismo estrangeiro” dos militares e grupos extremas direitas, das décadas de 1970 e 1980, na região. No ​site​afirma-se que a dignidade humana deve ser defendida de “t​odo tipo de totalitarismo político, económico e social​”. O conceito de totalitarismo retoma a ideia que se tem de Artigas, de libertador dos povos livres, devolvendo a soberania ao povo oriental em combate com o estrangeiro.

Desde um olhar conservador o partido, opõem-se a ampliação dos direitos das minorias, as quais nessa visão rompem com a ideia da meritocracia. Sobre as minorias, uma das que aparece mais ameaçadoras é a comunidade LGBTQIA+, a que Manini tambem aponta como responsável pela diminuição demográfica do país. Nesse sentido, declarou ao semanário Voces, em 2019 “ ​No

quiero entrar en esa (em esse tema), pero los LGTB también son parte del problema ​.” Observa-se a

culpabilização de uma comunidade que luta por ter direitos iguais à maioria da população, afirmando que as minorias querem impor seus valores sob os da Nação.

Esse enfrentamento com as minorias ficou visível também em relação ao pré-referendum para a revogação da “Lei Integral para pessoas Trans 12​”, que Manini Rios apoiou porque “​No

estamos de acuerdo con la ideología de género que a toda costa se quiere imponer a nuestra

sociedad​” (Twitter Manini Ríos, 4 de agosto de 2019). Na mesma publicação afirma que o

referendum é fundamental porque o povo deve ser consultado ante esse tipo de leis, para que não sejam impostas. Apesar de que foram poucos os cidadãos que votaram a favor, o líder continua insistindo em culpabilizar a população LGBTQI+ e a “ideologia de gênero”.

Aquí novamente vemos a Manini com traços similares aos líderes da direita, os quais afirmam que a “ideología de género” - como chamam as reformas culturais - é uma ameaça mundial, como um elemento foráneo que tem seu equivalente ao “marxismo cultural”. (MORRESI, 2020) Apesar de que em cada país adquire seus próprios componentes, essa nova direita vê a base da “ideologia” que quer ser imposta não na Rússia soviética mas sim no continente, na Venezuela.

10 Insulto, que faz referência originalmente a aqueles indígenas submissos ao Império.

11 George Soros,​ inversionista húngaro de origem Judaica, mora nos Estados Unidos. É fundador da ​Open Society

Foundations que trabalha temas da chamada “agenda de direitos”. Para Manini é um “criminal” financiador da

“esquerda caviar”, a qual divide os uruguaios uma “perversidade que se ensina desde os primeiros anos da escola”. Ato de Manini em Paysandú, 17 de novembro de 2019. www.youtube.com/watch?v=6fjhXz0t0-0

12​Trata-se da Lei N° 19684 de 24 artigos, sobre saúde, educação, inclusão laboral, moradia, cotas e reparação pela

violência institucional. Menores de 18 anos só podem acessar a tratamento (sem ser cirurgia genital) com a aprovação dos pais.

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A ameaça das minorias aparece não só para modificar a essência nacional, mas também o fato de atentar contra os valores da meritocracia e da individualidade bem como serem contrários aos valores morais-cristãos. A questão da meritocracia aproxima essa visão à do neoliberalismo, uma vez que entendem o cidadão como homem livre e responsável de suas vitórias ou derrotas na economia não se culpabiliza ao sistema. A concepção da economía social, baseada no país produtivo é necessária a inclusão dos mais vulneráveis se vincula com que os indivíduos consigam viver do seu próprio esforço. Isto coincide com a observação de Solano (2020b) no sentido de que a adaptação de ajuda estatal mínima se vincula com discurso de empoderamento do “dono do seu próprio destino”.

Sobre a vida em comunidade, Cabildo Aberto entende a união dos “ ​hombres y mujeres que habitan su territorio ​” procurando unir todos os orientais na convivência, e “​enfrentando todo tipo

de divisionismo en la sociedad, que solo tiende a debilitarla y dejarla inerme ante cualquier

agresión​”. A análise dessa definição do ​site, ​a luz de um dos seus depoimentos sobre a importância das Forças Armadas, a fronteira entre o ámbito civil e o militar, mostra como a visão da história é contornada no entendimento de totalitarismos para Manini.

Em resposta ao programa “Quien es quien”, 2019, Manini colocou as Forças Armadas como as defensoras das normas ante o totalitarismo, uma vez que o entende como aquilo que vem a ser imposto e fortemente associado ao estrangeiro. Sem elas, a soberania seria enfraquecida e os -por ele chamados- centros de poder estrangeiro tomariam conta do país.

No senado o 14 de abril de 2020, Manini Ríos assim como falou anteriormente do Poder Judicial como vingativo, também do governo anterior: “​el pueblo uruguayo tiene derecho de no

seguir sumergido en el odio que unos pocos irradian hacia el resto de la sociedad haciéndolas

pagar por sus desvaríos sesentistas en los cuales costó muchísima sangre y nuestro país a nuestro

país​”. A guerra cultural e o uso da memória é uma das principais ferramentas das direitas na atualidade.

Em relação a sua postura na guerra cultural, na intervenção no senado o dia 14 de abril afirma: “​el pueblo uruguayo tiene derecho a saber la verdad y no la tergiversación de la historia

que se ha hecho, inclusos las nuevas generaciones incluso en los textos de estudio. ​” Essa postura

mostra uma procura de questionamento do governo de esquerda, no sentido de distorcer a história, conseguindo deslegitimar as Forças Armadas ao modificar o rol que tiveram na ditadura.

Impor uma versão “distorcida” e estrangeira de mundo, querer uma justiça vingativa fazem parte dos questionamentos de corrupção, assim como o abandono aos “mais infelizes”, e deixar a população na insegurança, estes são os principais questionamentos de Cabildo Abierto à esquerda que esteve no poder nos últimos 15 anos. Por isso seu slogan de campanha foi “ ​se acabo el recreo​”,

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“mão dura” em uma sociedade que entende como insegura, com políticos corruptos e com perda de valores tradicionais.

4.2. Um partido que quer voltar à segurança do século passado

Uma explicação do sucesso político de Manini é a mudança na percepção das principais preocupações dos cidadãos. Segundo os dados da pesquisa de opinião de Factum (2019), os principais problemas para os uruguaios antes das eleições, eram a segurança com um 47%, o emprego com um 17% e a educação com um 11%. A grande preocupação pela segurança que é menor que o ano anterior - 2018 foi indicada pelo 69% da população - é fundamental para entender o eleitorado do 2019.

A importância do do tema na agenda política viu-se no amplo apoio ao projeto de lei sobre a reforma constitucional chamada “​Vivir sin Miedo​”, impulsionada por um membro do Partido Nacional13​, com a finalidade de implementar medidas mais punitivas e uma militarização da

segurança interna. Os pontos principais da proposta eram o endurecimento das penas, as invasões domiciliares noturnas da polícia, a reclusão permanente e criação de uma guarda nacional formada por militares.

A reforma, consultada no momento da eleição, foi rejeitada em uma votação muito fechada, uma vez que o 47% do eleitorado deu seu apoio. Assim, ficou demonstrado que para grande parte da população a segurança é um valor fundamental a ser considerado, vendo na ideia de “combate”, “mão dura” e sua militarização uma solução desejável. O debate público em torno da segurança ainda tem um forte vigor, inclusive porque recentemente foi submetida pelo novo governo a votação uma Lei de Urgência, que modifica muitos artigos, e possui forte similaridade com as propostas da reforma.

Esta reforma ganhou maiores adesões dentro dos bairros mais ricos da capital e grande parte do interior do país. Em uma população que acha uma boa solução a “mão dura” com aqueles que transgridem as normativas legais, a figura de um ex-militar como Manini aparece como uma opção séria. Apesar de ter se posicionado contra alguns pontos da reforma, como a criação de uma guarda nacional de militares, Manini aparece como a figura da ordem e do punitivismo e como tal uma opção importante para esse eleitorado; em busca de uma figura firme que garanta que “se acabou o recreio” de quem comete crime, como pronunciava o ex-militar no seu discurso.

No programa radial “Quien es quien” de abril, Manini afirmou que vai restaurar a ordem, trazer segurança e respeito aos policiais, e no Noticiário de VTV declarou querer voltar à segurança tradicional do país, que segundo ele, começa a se deteriorar em 1980. Esse tipo de discurso, e

13 ​O promotor da reforma, político de longa trajetória, Jorge Larrañaga do Partido Nacional, é atualmente o Ministro do

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referência à transição democrática do país, por parte de um ex-militar mostram um perfil punitivista.

O forte punitivismo proposto pelo ex-militar, a ideia de respeito aos policiais se olhado junto a sua determinação de reconstrução dos valores tradicionais e combate ao estrangeiro - tão amplo que inclui partidos políticos e movimentos sociais - em uma população onde o 64% vê as Forças Armadas como uma instituição confiável, leva a pensar que esse tipo de discurso pode ser mais aceito.

5.Os seguidores de Cabildo Aberto

O médio de imprensa local, “CientoOchenta” foi como aparece o título do artigo “ ​Tras la

pista del General”​. O jornalista Diego Zas entrevistou a indivíduos que considerou chaves nos

primeiros atos políticos de Cabildo Abierto.

O primeiro entrevistado foi um mecânico do bairro Cerro -periferia da capital do país-descendente direto de imigrantes russos com atividade política desde 1960 no Partido Nacional. Esse militante tendeu a apoiar as fracções do centro até se desiludir e abandonar a atividade política e passar a anular o voto. Seu interesse na política voltou ao tomar conhecimento, por um amigo militar retirado, que Manini poderia ganhar as eleições, a quem definiu como “ ​aquel hombre que

fue arrestado por 30 días por declarar sobre el sistema de retiros de las Fuerzas Armadas​”.

Na sua conta no Facebook, é possível compreender melhor sua visão da política. Na sua descrição pessoal diz que seu trabalho foi ser “Marino dos de antes” na ​National Aeronautics and

Space Administration ​(NASA). Nada aparece sobre seu suposto trabalho na ​NASA ​na rede

facebook. Talvez seja uma expressão de vontade de ter trabalhado para uma das principais agências dos Estados Unidos, elemento paradigmático vindo de um descendente de russos que publica muito sobre nacionalismo e artiguismo.

As três últimas postagens do mecânico são de confronto com a esquerda, que entende como oposta ao capitalismo e à lógica do esforço próprio para melhorar a condição de vida, igualando ao comunismo e à vagabundagem e acusando-a de roubar o resultado do esforço dos outros 14​. Outras

postagens se utilizam de uma linguagem agressiva para com os imigrantes, que segundo ele vêm a se beneficiar do esforço dos uruguaios. Finalmente, acusa que membros do partido da esquerda são os que atentaram contra a democracia uruguaia, seja nas armas com a guerrilha em 1960, seja estando no poder central nos últimos quinze anos ou no governo da capital, nos últimos trinta anos.

Este discurso coincide em bastantes pontos com o do Manini, tais como rechaço à “esquerda caviar” como perseguidora dos seus próprios interesses, corrupta e contrária ao nacionalismo. Acusa ao ex-presidente Tabaré Vásquez de corrupção e enriquecimento pessoal particularmente na

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compra de um avião presidencial bem como de lavagem de dinheiro com a Venezuela -que representa o inimigo estrangeiro-. Afirma que o Mujica “ ​es peor ahora que cuando ʽasesinabaʼ

como guerrillero​” pois “enganou ao mundo inteiro” com uma imagem que não é, com apoios como

Kusturica15​, Soros e agências jornalísticas de várias partes do mundo. Concorda com Manini, de que

a esquerda pretende impor um modelo influenciado desde o exterior.

Chama as militantes feministas de “​femizurdas​16​”; reverência a Sara Winter17

particularmente nas entrevistas que ela concedeu no país. Em uma publicação que o Facebook cancelou por informação falsa, ele comentou “​¡Nos están comiendo la mente todos los que nos

pretenden distraer con que estamos bien entre putos, “tortilleras18”, aborteras, musulmanes,

terroristas, feministas y comunistas aprovechadores”. O ódio às minorias explicitado por este

seguidor, parece ir além do que o líder expressa.

Agora passamos ao depoimento de uma militante e atual deputada, que apesar de ter nascido no norte do país trabalhou na principal praia do litoral leste. Com seu marido, um militar, foi morar em um assentamento irregular em Montevidéu. Quando surgiu a possibilidade de regularizá-lo, aproximou-se com o ativismo bairrista, sendo a presidenta do movimento.

Militou previamente no Partido Nacional, chegando até a ser parte da fundação de setor partidário, junto ao hoje Ministro de Defensa, Javier García. Ao igual que os outros ficou desiludida com a política. No ano de 2018 tentou se retirar da atividade política até que conheceu a Iafigliola 19​,

fortemente vinculado à igreja católica. Sua relação durou pouco, pois ficou sabendo que estava prestes a ser formado um partido de militares e queria integrá-lo.

Cabe mencionar neste caso, a relação com o ex-militar Radaelli, quem a convidou a integrar o novo partido Cabildo Abierto e a sediar, no seu bairro o primeiro ato público. Começou a militar no partido porque diz coincidir com os valores. Manifesta-se contrária às cotas paritárias, ao aborto (por motivos religiosos) e não se manifesta sobre o matrimônio igualitário. Considera que Manini realizou um “ato de fé”, quando se mostrou contrário à Lei Trans, expressando quanto ele tem valores cristãos apesar de não demonstrá-los publicamente.

Procurando nas redes sociais – ela só apareceu no Twitter - não há resultados sobre os temas que mencionou na entrevista. Contudo, aparecem alguns resultados relevantes ao pesquisar as palavras segurança, controle, ordem, Pátria, Deus e Artigas, o que sugere um viés diferente. Seu

15 Emir Nemanja Kusturica, diretor e roteirista de cinema e músico de Sarajevo, fez um documentário sobre José Mujica 16 Zurdo em espanhol é sinónimo de canhoto em português, também expressão para quem apoia à esquerda na política. 17​Sara Winter -pseudonimo que coincide com o militante nazifascista britânica atuante durante a Segunda Guerra- foi

presa por financiar atos antidemocráticos, também investigada por disseminar​fake news​, que passou de ser feminista radical a defender pautas neoconservadoras como ser contraria ao aborto e o feminismo. ​Como aparece no ​site ​de notícias BBC. Disponivel em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53053329

18 ​Tortillera é uma forma preconceituosa de se referir às mulheres lésbicas. Alude à forma de cozinhar uma comida

típica, a “tortilla”, que tem que ser “virada” dos dois lados no seu preparo.

19​Integrante do Partido Nacional, da fração Corriente Social Cristiana, teve sucesso em parte da opinião pública por se

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Twitter foi aberto no 2012, mas só tem atividade política a partir de 2019, coincidindo com o período pré-eleitoral.

Não se encontram no Twitter posturas sobre sua visão contrária às cotas paritárias, ao aborto, à Lei Trans ou sua visão sobre a esquerda, quiçá porque nunca as publicou na sua rede social ou porque as apagou, seguindo as indicações de seu líder. Manini pediu, em julho de 2020, que os membros de Cabildo Abierto apaguem tudo o que pode ser escandaloso, 20 uma vez que “​ya

fue demostrado que hay personas pagadas para estudiar las redes [sociais] d ​e los cabildantes para

encontrar escándalos y publicar en los medios de prensa​”.

Consultada sobre se é feminista, respondeu ser “ ​feminista del lado de defender las mujeres, no del lado de las que llevan carteles de mataá a tu hermano, marido, sino defender a la mujer con

su papel de mujer, madre, esposa, abuela o trabajadora ​”​21​. Afirma, também, que não participaria

de passeatas, porque não acredita nelas. Apesar de não ser movida pelo ódio, parece se opor às mulheres que protestam cada 8 de março, pedindo ampliação de direitos, e concorda com Manini na “perversidade” ensinada para dividir as mulheres dos seus maridos.

Agora segue o depoimento de um ex-militar, atualmente assessor de comunicação da

Agencia Nacional de Vivenda​. Decidiu entrar no partido, porque junto aos seus conhecidos

-docentes, comerciantes e militares- estavam preocupados com que se estavam“ ​matando los

valores, la seguridad. Algunos comenzaron a decir que podríamos terminar como Venezuela ​”.

Neste militante se observa então uma posição punitivismo, resgate de velhos valores, combate ao extrangeiro e antimarxismo que rememora as direitas da América Latina na década de 1960. Aproximou-se ao Movimento Social Artiguista, quando ficou sabendo sobre a candidatura do Manini e começou a militar no interior do país.

O ex-militar participou no pré-referendum para revogar a Lei Trans, afirmando que: “ ​Los

que son trans, de la casa para adentro, que hagan lo que quieran. Tenemos muchos amigos

homosexuales, si son recatados y estan adentro de su casa y hacen su vida, claro que son señores

amigos​”. Para ele o problema é “​darles beneficios, autorizar a los menores a hormonizarse​”.

As declarações do ex-militar mostram coincidência com os principais valores do partido, a centralidade da família, ao afirmar que Manini pode mudar o fato de que “ ​los niños reciban esas

clases de género como muchos dicen ahora, de que se encierran profesores para hablar sobre

sexualidad sin que los padres sepan​”. O ex-militar parece ser movido por uma profunda rejeição à

“agenda de direitos” pois esta parece vir a questionar seu sistema de crenças e intervir na autonomia das famílias.

20 O pedido de Manini para controlar as redes ocorreu após o capitão de navio e membro do partido, Gaston Bianchi,

não conseguir assumir como vice presidente da Administración Nacional de Puertos, devido às denúncias sobre antigas críticas que fez no seu Facebook a membros da sua própria coligação, políticos em particular e desvalorizar feministas.

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Na sua rede social Facebook22​, no mês de junho de 2020, compartilha orgulhoso uma notícia

que trata do pedido de seu partido para destituir a um fiscal de corte; divulga uma imagem nacionalista e cristã do seu partido sobre a comemoração da primeira Constituição do país; e difunde uma imagem do dia dos pais criada pelo partido que reivindica os valores da família.

Uma das suas postagens do ex-militar mostra a indignação tanto dele quanto dos seus seguidores em relação à educação. Nessa postagem há um questionamento a uma professora do último ano do curso primário, coloca uma tarefa para seus alunos sobre a “ ​Marcha del Silencio​”​23

onde aborda a simbologia, a história por trás da passeata. Tanto ele quanto seus seguidores entendem isso como um ato de doutrinação, de “hemiplegia” da história recente e de violação da laicidade.

O ex-militar comentou em uma postagem que depois foi removida, que os Tupamaros foram os culpáveis da “crise institucional” de 1973, e que os militares ocuparam o poder seguindo o clamor popular. A grande defesa da democracia, para ele, apareceu pela via militar. Ele e seus seguidores acreditam que os jovens de hoje foram cooptados pela “classe política”, que igual que em aquela época procura enganar a população contra os militares. Para eles, os militares tiveram que “​defender la patria​” para evitar no Uruguai uma “Ditadura Castrista Comunista​ 24​” e hoje os

centros de ensino procuram criar outra história, uma na que os militares não defenderam a “pátria” de terroristas, e pelo contrário eles mesmos são acusados de terroristas. O ex-militar mostra não só grande preocupação, mas medo e indignação de ser governados por aqueles vê como terroristas. A guerra cultural é muito importante em esse grupo.

Finalmente o ex-militar, ao igual que os anteriores, questiona a Lei Trans baseando-se na Constituição, que versa “todos somos iguais” e que não será feito nenhum tipo de distinção entre os indivíduos. Nessa visão nenhum grupo deveria pedir igualdade e depois tratamento especial pela lei, e novamente aparece o temor de que os pais não possam decidir ou conhecer sobre seus filhos.

A partir dos elementos elencados, é possível criar um perfil provisório, a ser aprofundado em novas pesquisas de caráter etnográfico, do apoiador e seguidor do Manini. Em maior ou menor medida são igualados os valores cristãos aos nacionais; e devem ser defendidos da destruição impulsada pelo estrangeiro, materializado no que eles chamam “comunismo”, que teria capturado o poder para se enriquecer e vulnerabilizar à população, deixando atrás a meritocracia e o esforço próprio, e resultando em uma a população carente.

22 Extraido de https://www.facebook.com/ngianoni/posts/10158047736421885

23 A “Marcha del Silencio” é um evento realizado cada 20 de maio, quando mães e familiares de detidos e desaparecidos

na ditadura. Esses familiares andam acompanhados de todo quem queira participar, pelas principais ruas do país em total silêncio até ler o nome que levam em cada uma das placas que correspondem a cada pessoa detida desaparecida. Depois de ler cada nome se responde “presente”, é um pedido anual de busca com vida de seus familiares.

24 Em referência a Fidel Castro, quem instaurou uma nova forma de governo socialista em Cuba em 1959, após

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O comunismo para eles seria aquele que busca modificar a história e debilitar os militares, defensores dos valores tradicionais e da família. Em relação ao Partido Comunista, Cabildo Abierto vai além do confronto político partidário. Parece negar o PCU como partido político legítimo, sendo o único partido político não participou da comemoração dos 100 anos deste partido: “ ​en reunión de

Bancada de legisladores del Partido Cabildo Abierto, se resolvió NO PARTICIPAR del homenaje

al Partido Comunista en la Cámara de Representantes​.”.

6.Considerações finais

Após uma pesquisa inicial sobre a biografia dos principais expoentes do partido e sobretudo de seu líder, extraindo os valores centrais do partido e como elas ecoam nos seus seguidores, foi possível delinear a visão do político e sobretudo da democracia. Desse modo é possível concluir que um partido tão radicalizado, que prega tanto valores de antipolítica como de volta ao tradicionalismo resulta um questionamento aos avanços em qualidade da democracia.

Uruguai, como uma velha democracia de partidos conta com uma população que se enxerga unida em termos de cidadania e com uma alta confiança nas instituições democráticas. A democracia uruguaia está mudando “nos seus tempos e com pautas singulares”, mas emergem formas de participação não tradicionais assentadas no mal-estar social. Em um país tão institucional com centralidade dos partidos políticos é importante entender como eles passam de amortecedores do conflito social a serem entendidos como o problema. (Caetano; Selios; Nieto, 2019)

De um tempo para aquí, como aparece na introdução, a população começa a ter um desapego com a democracia e suas instituições. Nesse contexto, o surgimento de um partido que se vale do discurso antipolítico resulta uma novidade importante, pois desde a instituição que se esperaria fosse a mediadora entre sociedade e Estado, observa-se uma ameaça e mesmo a negação da democracia liberal.

Se os partidos tradicionais compostos por políticos de carreira são questionados como manipuladores, corruptos e desinteressados na representação por líderes que se colocam como fora do mundo político, a instituição dos partidos aparece fortemente questionada. Todos os integrantes de Cabildo Abierto, passaram por algum partido ou provêm de famílias envolvidas na política, então sua definição de outsiders não coincide com o passado de seus membros, podendo-se hipotetizar que essa definição tem relação com o objetivo de afirmar-se como um partido que tem desconfiança nas instituições políticas.

São características dessa antipolítica: a defesa férrea ao nacionalismo que somente eles representaríam -uma vez que os outros representam o estrangeiro- a defesa ao tradicionalismo como oposto à agenda de direitos, e o negacionismo da ditadura junto com a acusação aos poderes civis de vingativos. Poderia se cogitar que essa antipolítica tenderia a corroer a democracia desde dentro,

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pois nessa visão a mesma parece ter ficado para atrás, e os seus competidores são vistos como ilegítimos, não percebe os poderes como os garantes de libertade e igualdade, e finalmente nega a ampliação de direitos e a participação das minorias. A democracia parece ter sido reduzida tanto no demos como na ideia de um condutor de um reduzido grupo de “verdadeiros orientais”.

O objetivo do trabalho foi captar como esse grupo define, compreende e avalia a democracia. Isso permitirá, a nosso entender, trazer contribuições, com as novas luzes que a etnografia política pode brindar sobre a legitimidade e a qualidade da democracia. A partir desta aproximação inicial nos permitimos lançar umas primeiras hipóteses, tais como o significado da democracia para Cabildo Abierto que desde seus vínculos e retórica militar marca a importância da participação popular, do líder como condutor dos “mais infelizes”, dos valores tradicionais da nação e o menosprezo aos partidos políticos e às instituições democráticas.

Para terminar de avaliar essa direita reinventada é fundamental conhecer a visão dos seguidores de Cabildo Abierto. Uma particularidade do caso uruguaio é que a população costuma se identificar dentro do eixo político esquerda e direita, porém um aspecto novo é que na atualidade nota-se uma diminuição do tabú de se auto identificar como de direita. Assim, segundo a consultora Cifra (2019), o eleitorado de CA é auto identificado mais como sendo de direita, uma vez que o 59% se identifica dessa maneira e o 39% com o centro.

Para compreender as crenças dos seguidores é preciso além de dados estatísticos e de conhecimento da história política do país, começar a contornar o futuro trabalho etnográfico. Após ter delineada a concepção de mundo que o partido mostra, a partir de seus principais dirigentes, os próximos trabalhos revisarão entrevistas públicas a alguns dos seguidores e depois fará seu rastreio nas redes sociais onde podem ter expressado elementos que não apareceram nas entrevistas.

Em próximos trabalhos será aprofundada essa relação entre seguidores e líder para aprofundar as coincidência ou discrepância entre visões de mundo, definição da democracia e de instituições e suas consequências para a democracia uruguaia.

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Referências

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