RESULTADOS DE UM EXPERIMENTO SOBRE O CULTIVO DO TAMBAQUI,
COLOSSOMA MACROPOMUM CUVIER, 1818, NA DENSIDADE DE ESTOCAGEM
DE 10.000 PEIXES/HA
ANTÔNIO CARNEIRO SOBRINHO * FERNANDO REZENDE: M~LQ ** JOSÉ WILLIAM BEZERRA E SILVA ***
MARIA INÊS riA SILVA NOBRE ****
SUMMARY
RESULTS
OF AN EXPERIMENT ON THE MONOCUL TURE OF TAMBAQUI,COLOSSO.
MA MACROPOMUM CUVIER, 1818, IN THE STOCKING DESINTY OF 10,000 FisH/HA.This paper
analyzed the data about the monoculture of tambaqui, Colossoma macropo-mum Cuvier, 1818, in arder to evaluate their potential in intensive fishculture. Ali fish were fed with a commercial pelleted chicken ration. The assay was dane from August 1982 to August 1983 in two 350 saquare meter earthen pounds stocked with 350 fishes at the Ictiologi-cal Research Center Rodolpho von Ihering (Pentecoste, Ceara, Brazil). The stocking densi-ty was 10,000 fish/ha. Monthly sampling con-sisted of weighing and measuring 15 percent of the fish in the pound. The results, in graphs and tables, were compared with other studies and th~y denoted the excellent possibility of th~ monoculture of tambaqui in pounds in the Northeast of Brazil.RESUMO
Dois viveiros de 350m2, escavados no terreno natural, foram estocados com alevinos de tambaqui, Colossoma macropomum Cuvier, 1818, na densidade de 10.000/ha (350/viveiro). No início os peixes apre-sentaram comprimento total médio de 12,7cm, peso médio de 26g e biomassa de 9,1 kg (260kg/ha). Eles fQram alimentados com ração balanceada. comercial-mente vengjda para engorda de galináceos e com 19% de proteína bruta, fornecida na ba~e de 3% da biomas-sa, por dia, até o décimo més de cultivo, e 2% da bio-massa, por dia, nos dois meses restantes.
Mensalmente, 15%dos tambaquis em cada viveiro foram amostrados, obtendo-se comprimento total e peso médios dos mesmos. Com base neste óltimo dado, estimou-se a biomassa e reajustou-se a ração para o més seguinte.
A pesquisa, realizada no período de 20 de agosto de 1982 a 24 de agosto de 1983, apresentou, no final, tambaquis com 38,5cm de comprimento total médio e 1.2169 de peso médio; biomassa de 367,2kg (10.491 kg/ha); sobrevivência de 86,3%; ganhos médios de biomassa de 28,5kg/ha/dia e de peso individual de 2,9 g/dia e conversão alimentar final de 3,4: 1. Estes resultados evidenciam amplas possibilidades do cultivo do tambaqui com a tecnologia aqui testada.
INTRODUCÃO
o tambaqui, CololSOma macropomum Cuvier, 1818, originário da bacia amazônica, foi introduzido no Nordeste brasileiro em 1966, com o translado feito pelo Departamento Na-cional de Obras Contra as Secas (DNOCS) de 24 alevinos procedentes de Manaus, Amazonas (LOPES & FONTENELE4). Contudo, foi em
* Pesquisador do Centro de Pesquisas Ictiol6gicas Rodolpho von Ihering-Caixa postal 423-60035-Fortaleza, Ceará, Brasil.
** Médico-Veterinário do Centro de Pesquisas Ictiol6gicas Rodolpho von Ihering.
*** Engenheiro-Agrônomo do DNOCS/Diretor)a de Pesca e Piscicultura, Professor Adjunto da Uni-versidade Federal do Ceará e Bolsista do CNPq
- Caixa postal 423 - 60035 - Fortaleza,
Cea-rá, Brasil.
'*** Engenheira de Pesca do Centro de Pesquisas Ictiol6gicas Rodolpho von Ihering.
viveiros, sendo os peixes, em cada viveiro, con-tados e pesados. Retirou-se uma amostra de 15% dos indivfduos, obtendo-se o comprimento total dos mesmos.
Os dados do cultivo foram organizados em tabelas e gráficos, tomando-se os valores médios dos mesmos nos dois viveiros. Analisou-se com-primento total e peso, biomassa e ganhos de biomassa e de peso individual, produtividade, sobrevivência, consumo de ração e conversão alimentar.
No cálculo do ganho de biomassa, dividiu-se o acréscimo da mesma no mas, reajustada para 1 ha, pelo intervalo amostra I (dias). O ganho de peso individual, em g/dia, determinou-se pela divisão do ganho de peso (g) pelos nú-meros de indivfduos e de dias entre duas amos-tragens consecutr"as (intervalo amostra I). 1972, com o translado, ainda pelo DNOCS, de
74 alevinos da espécie, oriundos de Iquitos, Peru, que se iniciou a colossomicultura nesta Região (SILVA et alii6; SILVA9; BURGOS & SILVA1;SILVA&GURGEL11 ).
Em fevereiro de 1974 foi tentada a primei-ra propa.Qação artificial do tambaqui pelo DNOCS (LOVSHIN5), sem êxito. Contudo, em
fevereiro de
1977 foi obtida, com pleno suces-so, sua propagação artificial (SILVA et alii7L De lá para cá, o DNOCS desenvolveu ampla tec-nologia com esse objetivo, em todas suas fases (obtenção e incubação de ovos, larvicultura e alevinagem), sendo dar irradiada para outras ins-tituições nacionais (LOPES & FONTENELE4; WOYNAROVICH12).O tambaqui tem sido amplamente utilizado no Brasil em mono e policultivos, inclusive em consorciação com marrecos, galináceos, sufnos e bovinos, mostrando todo o seu potencial para a piscicultura nacional, principalmente a nor-destina (SILVA et alii6,8; SI LVA9; CEPTA2;
HERNANDEZ R.3"7BURGOS & SILVA1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAL E M~TODOS Crescimento em comprimento
As Tabelas 1 e Fig. 1 mostram que o cresci-mento em compricresci-mento do tambaqui foi acen. tuadoJ alcançando.. no finaL 3R5cm ReslJltann idêntico foi obtido em pesquisa semelhante, relatada Dor SILVA & GURGEL11.
Crescimento em peso e ganho de peso individual
As Tabelas 1 e Fig. 2 mostram que o cresci-mento em peso do tambaqui foi crescente e
acentuado,
atingindo
1.216gno final. SILVAet
alii8, em idênticas densidade de estocagem e condições de alimentação, obtiveram, para a mesma espécie, peixes com 1.052g, após 1 ano de cultivo.No Centro de PeSQUisas'e Treinamento em Aqüicultura (CEPTA) o tambaqui foi criado experimentalmente em condições idênticas ao do presente cultivo. Porém os peixes, no início, tinham 12g de peso médio e alcançaram 320g após 203 dias de criação (CEPTA2).
Como se vê na Tabela 1, o ganho de peso individual variou ao longo dos meses. Contudo, apresen10u tendência crescente até o sétimo mês e decrescente da í até o final. O ganho má-ximo (5~07g/dia) foi obtido no sétimo mês e o mínimo (1,13g/dia) ocorreu no segundo mês. Em média, os tambaquis ganharam 2,87g/dia. SI L V A et alii8 obtiveram 2,OOg/dia de ganho de peso individual para o tambaqui.
Dois viveiros 9~ 350m2 cada, escavados no terreno natural, foram estocados com alevinos de tambaqui, na densidade de 10.000/ha (350/ viveiro). Os peixes apresentaram, na estocagem, comprimento total médio de 12,7cm e peso médio de 26g. Antes da estocagem, os viveiros foram esvaziados, limpos e adubados com ester-co de bovinos, na base de 500g/m2.
Os tambaquis foram alirilentados com ração balanceada, comercialmente vendida para engorda de galináceos, contendo cerca de 19% de prote(na bruta, que foi fornecida na base de 3% da biomassa dos peixes, por dia, até o décimo mês de cultivo, sendo diminufda para 2% nos dois meses restantes. O alimento foi fornecido de segunda-feira a sábado, sendo lançado
direta-mente na água do viveiro.
Mensalmente, 15% <:Ios tambaquis, em cada viveiro, foram amostrados, obtendo-se compri-mento total (cm) e peso (g) médios dos mesmos. Com base neste último dado, estimou-se a bio-massa e reajustou-se a ração para o mês seguin-te. Nas amostragens usou-se técnicas descritas emSILVAetalii10.
O cultivo foi realizado no Centro de Pes-quisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering (Pente-. coste, Ceará, Brasil), pertencente ao DNOCS. Abrangeu o perfodo de 20 de agosto de 1982 a 24 de agosto de 1983. No final, esvaziou-se 0$
29 FIGURA 1-Curva Recresentativa dos Dados de Comcrimanto Total Médio do T ui. Colossoma Maqro/Jo-l' Ciên. A2ron.. Fortaleza. 20(1/2): páa. 25-31 jwtho/dezembro/l989 num. .1818.
L
INíCIO DO CULTIVO-
TEMPO Df CULTIVO (MESES>FIGURA 2-Curva Representativa dos Dados de Peso Médio do Tambaqui, Colossom. MBgropomum, Cuvier
1818
29
-. .
o
c
VI
VI C ~ O iFIGURA 3 -Curva Representativa dos Dados de Biomassa do Tambaqui, Colouo~ Magropomum, Cuvier. 181~
TABELA 2
Consumo de Ração e Conversão Alimentar Referentes ao Cultivo do Ta"1bag.ui. Colosmm8 macroDOmum Cuvie1. 1818, em Viveiros do Centro de Pesquisas Ictiol6gicas Rodolpho Von Ihering (Pentecoste, Ceará, Brasil), Perfodo
de 20.08.1982 a 24.08.1983. Tempo de cultivo (meses! Conversão alimentar Consumo de ração (kg) No m~ Acumulado
o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0,6: 1 1,0: 1 1,0: 1 1,1: 1 1,3: 1 1,7: 1 1.,e: 1 2,1 ( 1 2,6: 1 2,9: 1 3,0: 1 3.4: 1 7,1 16,6 24,2 39,1 64,6 103,8 116,9 178,2 177,2 192,5 136,6 156.5 7,1 23,7 47,9 87,0 161,6 256,4 372,3 560,5 727,7 920,2 1 .056,8 1 .213.3 REFER~NCIAS BIBLIOGRAFICAS1.BURGOS, P.F. de O.; SILVA, J.W.B. e.
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