• Nenhum resultado encontrado

À CORREGEDORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "À CORREGEDORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

1

À CORREGEDORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Ref.: Pedido Acesso à Informação nº 594581412694

CONECTAS DIREITOS HUMANOS, já qualificada no pedido de acesso à informação em referência, representada neste ato por seu diretor adjunto, Marcos Fuchs, vem, respeitosamente, com fundamento no artigo 15 da Lei Federal nº 12.527/2011 e no artigo 19 do Decreto Estadual de São Paulo nº 58.052/2012, interpor o presente

RECURSO

em face da resposta ao pedido de informações solicitado ao Comandante da Polícia Militar de São Paulo, pelas razões que passaremos a expor.

(2)

2 I – TEMPESTIVIDADE

De início, verifica-se que o presente recurso preenche o requisito da tempestividade, uma vez que a resposta do Comando da Polícia Militar ao Recurso impetrado pela recorrente foi recebida em 10 de novembro de 2014.

É cediço que o Decreto estadual nº 58.052/2012, que regulamenta Lei de Acesso à Informação no âmbito do estado de São Paulo, estabelece o prazo de 10 (dez) dias para interposição de recurso, como se vê em seu artigo 19:

“Art. 19. No caso de indeferimento de acesso aos documentos, dados e informações ou às razões da negativa do acesso, bem como o não atendimento do pedido, poderá o interessado interpor recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua ciência.”

No mais, o artigo 92 da Lei Estadual 10.177/1998, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Estadual e tem aplicação subsidiária (art. 2º), determina que “os prazos serão computados excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do vencimento”, e que “só se iniciam e vencem os prazos em dia de expediente no órgão ou entidade”. Não havendo expediente útil do órgão estadual no feriado municipal da Consciência Negra, torna-se válido apretorna-sentar o pretorna-sente recurso na data de hoje.

Portanto, a apresentação deste recurso obedece ao prazo de dez dias exigido pela legislação que disciplina o tema, sendo plenamente tempestivo.

II – OS FATOS

No dia 26 de setembro de 2014 (Doc. 01), se valendo da Lei de Acesso à Informação Pública, a recorrente enviou ao Comando da Polícia Militar pedido de acesso à informação relativo aos responsáveis da Polícia Militar pelas operações das forças policiais durante as manifestações ocorridas durante o período da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, em 2014.

(3)

3

Especificamente, foi solicitado o nome completo do comandante das operações nas seguintes nove ocasiões:

1. Manifestação Popular “Copa sem povo, tô na rua de novo” - ocorrida em 15/05/2014. Local de Início: Praça do Ciclista, Avenida Paulista – Bela Vista.

2. Reivindicação Grevista “Greve dos Metroviários” – ocorrida em 06/06/2014. Local: Metrô Ana Rosa.

3. Manifestação Popular “Grande Ato 12 de Junho Não Vai Ter Copa” – ocorrida em 12/06/2014. Local: Metrô Carrão.

4. Reivindicação Grevista “Greve dos Metroviários” – ocorrida em 12/06/2014. Local: Metrô Tatuapé.

5. Manifestação Popular “Não Vai Ter Tarifa” - ocorrida em 19/06/2014. Local de Início: Praça do Ciclista, Avenida Paulista – Bela Vista.

6. Manifestação Popular “11º ato Se não tiver direitos, não vai ter Copa” - ocorrida em 23/06/2014. Local de Início: Praça do Ciclista, Avenida Paulista – Bela Vista.

7. Reunião Pública “Ato Libertem nossos presos políticos” - ocorrida em 26/06/2014. Local: MASP, Avenida Paulista – Bela Vista.

8. Reunião Pública “Ato democrático pela libertação dos presos políticos Fábio e Rafael” - ocorrida em 01/07/2014. Local: Praça Roosevelt – SP.

9. Reunião Pública “Grande Formação de Quadrilha pelos Presos Políticos” - ocorrida em 12/07/2014. Local: Praça Roosevelt – SP.

A resposta encaminhada em 24 de outubro pelo órgão ora recorrido negou acesso à solicitação com base na Portaria PM6-3/30/13 de 10 de outubro de 2013 (Doc. 01), por entenderem se tratar de “‘Documentos sobre atuação administrativa, financeira, logística e operacional’, classificado como "secreto", e [...] ‘controle e distribuição de efetivo existente’, como ‘reservado’”.

Inconformada com a alegação apresentada pela recorrida, a requerente apresentou recurso em 05 de novembro para obter acesso às informações negadas pela Polícia Militar

(4)

4

(Doc. 01), a resposta ao recurso foi apresentada em 10 de novembro de 2014, no qual a instituição militar manteve a negativa de acesso com base na mesma Portaria PM6-3/30/13.

De fato, como será exposto, as informações trazidas na resposta não atendem aos dispostos na legislação federal de acesso à informação, não lhes restando alternativa senão a interposição do presente Recurso, para que o direito constitucional de acesso à informação finalmente seja efetivado. Assim vejamos.

III – O DIREITO

a) Negativa de acesso às informações com base na portaria de classificação. Na resposta à solicitação do pedido de informação e ao recurso realizado pela recorrente, a Polícia Militar alegou que o pedido não poderia ser contemplado por se tratar de material classificado como secreto e reservado pelo Comandante Geral da Polícia Militar através da Portaria PM6-002/30/13.

De acordo com a resposta apresentada pela recorrida em 10/11/2014:

Traz o recorrente que, há indícios que houve cerceamento do exercício do direito de associação, de livre expressão, de circulação dos manifestantes e de livre exercício de greve – direitos assegurados pela Constituição Federal – pela Polícia Militar em determinados protestos e reivindicações populares que ocorreram durante esse período na cidade de São Paulo. Importante se faz, primeiramente registrar que, a Polícia Militar, tem entre os seus preceitos, a valorização e a preservação da vida e da integridade física, sendo certo que não compactua e não aprova qualquer ato que esteja em desacordo com a legislação e ainda, caso ocorra tais atos, por inciativa própria, instaura os competentes processos investigatórios e apuratórios. Se ocorreu como o Recorrente relatou, ou seja, cercerceamento do exercício do direito de associação, de livre expressão, de circulação dos manifestantes e de livre exercício de greve, tais fatos foram alvo de

(5)

5

apuração interna, sendo instaurado o competente inquérito policial militar, o qual, após instruído é encaminhado ao Ministério Público para as demais providências julgadas cabíveis.

Desta forma ainda, necessário se faz registrar novamente que a competência para o Comandante Geral elaborar a Portaria PM6-3/30/13, está prevista no artigo 33, inciso I, letra "d", do Decreto nº 58.058, de16MAI12, ainda estipula que os documentos, dados e informações relacionadas a "Controle e distribuição de efetivo existente", foram classificados como "reservado", resultando no acesso restrito a tais expedientes pelo período de 5(cinco) anos. Não havendo que se questionar a legitimidade para tal.

A classificação das manifestações, não tem o mesmo seguimento na Polícia Militar, pois, a princípio, o policiamento preventivo e repressivo, é de responsabilidade do Comandante da Companhia e Batalhão do local dos fatos, não tendo um Comandante designado para tal operação, e, caso tenha sido necessário a presença do Batalhão de Choque, o Comandante é aquele que estiver à frente do pelotão no local dos fatos, sendo independentes os comandamentos, muito embora atuem em conjunto.

Primeiramente, cumpre ressaltar que o pleito da recorrente não se adequa às hipóteses classificadas pela Portaria, ainda que este instrumento se valha de critérios genéricos e obscuros para determinar o que é de acesso público e o que é de acesso sigiloso.

Assim, à luz da legislação de acesso à informação, a resposta encaminhada corresponde à negativa de acesso não justificada. A legislação contém hipóteses muito bem delineadas que justificam o sigilo, como se vê no artigo mencionado do Decreto Estadual nº 58.052/2012.

De acordo com tal previsão, são passíveis de classificação informações “imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado”. Ainda, o decreto define as circunstâncias em que uma informação pode ser considerada fundamental à garantia da segurança, sendo aquelas cuja divulgação possa: “I- pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território nacional; II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros

(6)

6

Estados e organismos internacionais; III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população; IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do País; V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas; VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégico nacional; VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares; VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações”.

Logo, apenas são cabíveis classificação daquelas informações que (i) coloquem em grave risco a segurança da sociedade ou do Estado e (ii) incidam nas hipóteses listadas nos incisos do referido artigo.

Em outras palavras, a legislação exige que a publicidade da informação ameace de modo irrefutável a segurança da sociedade ou do Estado. Se e somente se isso ocorrer, devem ser verificadas, em um segundo momento, as situações que justificam a restrição da divulgação.

Essa é a única interpretação possível da letra da lei. Qualquer entendimento contrário a esse resultaria no completo esvaziamento de uma legislação que é fruto e símbolo de uma nova lógica de gestão da coisa pública. Não é difícil imaginar um cenário de total ineficácia da lei caso os órgãos públicos encaixassem quaisquer solicitações de informações enquadrando-os em critérios genéricos classificados como sigilosos, sem embasar como elas poriam em risco a segurança do Estado ou da sociedade, pressuposto absoluto para a exceção à publicidade.

Cabe salientar que a solicitação do pedido de acesso à informação objeto do presente recurso refere-se à fatos passados, não há fundamento para justificar como isso pode ser prejudicial para a estratégia e segurança da Polícia Militar. São informações de caráter público que deveriam ser publicizadas de pronto, visto que não ensejam, sob qualquer ângulo, comprometimento da segurança da sociedade ou Estado.

(7)

7

É cristalino que a resposta do Comando da Polícia Militar também não explica de que maneira tal informação poderia colocar em risco a segurança da sociedade ou comprometer atividades de inteligência. Ainda na absurda hipótese de essa situação se enquadrar em um dos motivos estabelecidos no Decreto, caberia ao Poder Público justificar em que medida a publicidade da informação requerida poderia vir a ferir os incisos legais mencionados.

No caso em apreço, a resposta ora impugnada deixou de apresentar o Termo de Classificação de Informação e o código de indexação do documento classificado, informações previstas como obrigatórias na Lei de Acesso.como exige o artigo 31 do Decreto nº 7.724/2012. E esse Termo exige o preenchimento do “código de indexação”, conforme o anexo do Decreto citado. Basta uma simples espiadela na resposta ora recorrida para que se constatar que nenhuma das duas previsões legais foi cumprida.

Inegável, portanto, que a negativa de acesso à informação ora combatida fere a lei que trata do tema em diversos dispositivos e, o que é ainda mais grave, ofendendo a própria essência da norma.

No mais, se toda e qualquer informação relativa a operações policiais for considerada “questão de segurança” ou de “inteligência”, por serem inerentes à “atuação administrativa, financeira, logística e operacional" e ao “controle e distribuição de efetivo existente”, o Comando da Polícia Militar, pela própria essência de seu trabalho, acabará ficando imune à nova legislação, que torna a transparência a regra e o sigilo a exceção. Assim, a exigência imposta pela lei deve ser cumprida por toda e qualquer entidade pública, sob pena de que a elas seja conferida uma indevida discricionariedade capaz de impossibilitar o acesso a determinadas informações.

Vale dizer que não se pode conferir aos órgãos públicos verdadeiro cheque em branco por meio do qual bastaria alegar uma pseudo proteção à segurança para driblar a Lei. As possibilidades de restrição ao acesso devem mesmo ser excepcionais já que a legislação de acesso à informação pública visa concretizar, de uma vez por todas, o direito constitucional à informação.

(8)

8

No mais, é imprescindível que seja disponibilizado o comandante das operações, ainda que seja aquele “comandante [...] que estiver à frente do pelotão no local dos fatos”.

Como se vê sob qualquer ótica, a negativa de acesso à informação carece de fundamentação idônea, merecendo, pois, que se dê provimento a este recurso e restabeleça o espírito da Lei de Acesso à Informação, para que sejam fornecidas as informações requisitadas, que são de interesse público.

b) Existência de Direito Líquido e Certo de Acesso à Informação.

O Direito à informação está previsto na Constituição Federal no art. 5º, XXXIII, que dispõe, in verbis:

Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu

interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

É cediço que, além desse direito fundamental, a Constituição também prevê o princípio da publicidade, que deve ser aplicado a todos os órgãos da Administração Pública, conforme disposto em seu artigo 37.

Tais dispositivos regulam o direito líquido e certo de todo cidadão de ter acesso à informação. Este direito inclui tanto a obrigação dos órgãos públicos de disponibilizar certas informações, independentemente de requerimentos, quanto a necessidade de garantir o acesso às informações que lhes forem solicitadas.

A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei nº 12.527/2011) foi promulgada com o intuito de regulamentar esses dispositivos constitucionais garantindo, assim, o acesso ao direito à informação, estabelecendo um novo marco paradigmático em que a transparência é a regra, e o sigilo, exceção.

(9)

9

A recorrente, diante do arcabouço jurídico que regulamenta o direito constitucional de acesso à informação, se valeram dos procedimentos previstos tanto na Lei nº 12.527/2011 como no Decreto Estadual que a regulamenta:

Artigo 2º - O direito fundamental de acesso a documentos, dados e

informações será assegurado mediante: I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção; Como se vê, a resposta ao pedido de informação viola expressamente não somente a Lei de Acesso à Informação Pública, como também o próprio Decreto estadual regulamentador. Pior, viola no cerne alguns dos princípios mais caros à Constituição Federal de 1988, como já exposto.

Conclui-se, sem equívocos, ser cristalino o direito das signatárias em obter todas as informações requeridas e, no mesmo sentido, é evidente o descumprimento das normas que disciplinam o tema por parte do órgão competente.

IV – CONCLUSÃO E PEDIDO Por todo o exposto, requer-se:

a) Seja recebido e provido o presente recurso para que, no prazo de cinco dias, conforme previsto no parágrafo único do art. 19 do Decreto Estadual nº 58.052/2012, sejam fornecidas as informações solicitadas no Pedido de Informação realizado.

b) Subsidiariamente, caso mantida a classificação das informações, seja disponibilizado o Termo de Classificação de Informação e o Código de Indexação, contendo a decisão que os classifica, informando o grau de sigilo, o assunto, o fundamento legal da classificação, o prazo de sigilo e a autoridade classificadora, nos termos do artigo 28 da Lei nº 12.527/2011.

(10)

10

c) Alternativamente, caso o procedimento de classificação tenha respeitado os parâmetros normativos, solicita-se a desclassificação das informações, sendo disponibilizados os nomes dos comandantes das operações das dez manifestações elencadas no pedido de acesso à informação.

São Paulo, 21 de novembro de 2014.

MARCOS FUCHS

Diretor Adjunto da Conectas Direitos Humanos rafael.custodio@conectas.org

CPF: 049.823.058-97

Referências

Documentos relacionados

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento

patula inibe a multiplicação do DENV-3 nas células, (Figura 4), além disso, nas análises microscópicas não foi observado efeito citotóxico do extrato sobre as

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

To demonstrate that SeLFIES can cater to even the lowest income and least financially trained individuals in Brazil, consider the following SeLFIES design as first articulated

A iniciativa parti- cular veiu em auxílio do govêrno e surgiram, no Estado, vá- rios estabelecimentos, alguns por ventura falseados em seus fins pelos defeitos de organização,

Este estudo tem o intuito de apresentar resultados de um inquérito epidemiológico sobre o traumatismo dento- alveolar em crianças e adolescentes de uma Organização Não

Para tal, iremos: a Mapear e descrever as identidades de gênero que emergem entre os estudantes da graduação de Letras Língua Portuguesa, campus I; b Selecionar, entre esses

Realizar esse trabalho possibilita desencadear um processo de reflexão na ação (formação continuada), durante a qual o professor vivencia um novo jeito de