Revista Guitarra Clássica n7

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica Número 7 – Janeiro 2012 Número 7 – Janeiro 2012

Goran Krivokapic

Artur Caldeira

Johann Sebastian Bach

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica

Editorial:

No final do mês de Junho terá lugar a 14ª edição do Concurso e Festival Internacional de No final do mês de Junho terá lugar a 14ª edição do Concurso e Festival Internacional de Sernancelhe. Este é, indubitavelmente, um dos

Sernancelhe. Este é, indubitavelmente, um dos grandes festivais mundiais dedicados à guitarra.grandes festivais mundiais dedicados à guitarra. Basta ler Goran Krivokapic na sua entrevista: “

Basta ler Goran Krivokapic na sua entrevista: “ O festival e a competição estão num nível muitoO festival e a competição estão num nível muito alto, tão alto como qualquer Festival de topo na Europa ou nos Estados Unidos (…)”. alto, tão alto como qualquer Festival de topo na Europa ou nos Estados Unidos (…)”. FicaFica

portanto o convite a todos os

portanto o convite a todos os guitarristas para que participem neste festival.guitarristas para que participem neste festival.

Para incentivo dos guitarristas portugueses, a Revista Guitarra Clássica associou-se a este Para incentivo dos guitarristas portugueses, a Revista Guitarra Clássica associou-se a este grande evento e criou o Prémio RGC que visa premiar o mais destacado guitarrista luso em grande evento e criou o Prémio RGC que visa premiar o mais destacado guitarrista luso em prova. À semelhança do que acontece em tantos outros concursos por esse mundo fora que prova. À semelhança do que acontece em tantos outros concursos por esse mundo fora que premeiam os guitarristas seus conterrâneos, decidimos recompensar os melhores estudantes e premeiam os guitarristas seus conterrâneos, decidimos recompensar os melhores estudantes e profissionais da guitarra portugueses. Assim, para além da componente monetária associada profissionais da guitarra portugueses. Assim, para além da componente monetária associada

ao prémio, o vencedor terá igualmente

ao prémio, o vencedor terá igualmente um lugar de destaque nesta publicação.um lugar de destaque nesta publicação.

Esperamos que seja mais uma razão (há muitas) para participar num dos grandes festivais de Esperamos que seja mais uma razão (há muitas) para participar num dos grandes festivais de guitarra do mundo!

guitarra do mundo!

Pedro Rodrigues Pedro Rodrigues

Com a celebração dos dois anos de existência da Revista Guitarra Clássica tivemos a Com a celebração dos dois anos de existência da Revista Guitarra Clássica tivemos a oportunidade de estar à conversa com um dos guitarristas da nova geração mais na demanda oportunidade de estar à conversa com um dos guitarristas da nova geração mais na demanda da cena guitarrística mundial, Goran Krivokapic, oriundo de Montenegro e com um da cena guitarrística mundial, Goran Krivokapic, oriundo de Montenegro e com um impressionante currículo, que na actualidade lecciona o curso de pós-graduação na Academia impressionante currículo, que na actualidade lecciona o curso de pós-graduação na Academia Internacional de Guitarra de Koblenz, Alemanha. No contexto nacional temos Artur Caldeira, Internacional de Guitarra de Koblenz, Alemanha. No contexto nacional temos Artur Caldeira, professor na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, entrevistado por um professor na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, entrevistado por um

colaborador próximo da nossa equipa, Aires Pinheiro. colaborador próximo da nossa equipa, Aires Pinheiro.

Contamos com a habitual secção “Novas Gravações” por Tiago Cassola Marques, o qual nos Contamos com a habitual secção “Novas Gravações” por Tiago Cassola Marques, o qual nos habituou a um excelente trabalho de divulgação e crítica. Teremos também um

habituou a um excelente trabalho de divulgação e crítica. Teremos também um artigo de Pedroartigo de Pedro Rodrigues extraído da sua tese de doutoramento, focando a problemática da transcrição. Rodrigues extraído da sua tese de doutoramento, focando a problemática da transcrição. Naturalmente voltamos a incentivar os leitores interessados a escreverem para o correio Naturalmente voltamos a incentivar os leitores interessados a escreverem para o correio electrónico

electrónico revistaguitarra@gmail.comrevistaguitarra@gmail.com , , enviando as vossas opiniões, críticas e propostas deenviando as vossas opiniões, críticas e propostas de colaboração. Para isso, basta enviarem o vosso e-mail com

colaboração. Para isso, basta enviarem o vosso e-mail com o assunto “Espaço do Leitor”.o assunto “Espaço do Leitor”. Boas leituras! Boas leituras! João Henriques João Henriques

Índice:

Entrevista

Entrevista a a Goran Goran Krivokapic Krivokapic 44

Entrevista

Entrevista a a Artur Artur Caldeira Caldeira 99

A

A técnica técnica de de transcrição transcrição e e arranjo arranjo de de J. J. S. S. Bach Bach 1818 Novas

Novas Gravações Gravações 6262

Páginas

Páginas com com Música Música 6565

Equipa:

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Entrevista a Goran Krivokapic

Por João Henriques

Revista Guitarra Clássica

Revista Guitarra Clássica – – Em primeiro lugar, agradeço o facto de ter aceitado o convite.Em primeiro lugar, agradeço o facto de ter aceitado o convite. Conte-nos como começou a sua vida musical.

Conte-nos como começou a sua vida musical.

Goran Krivokapic

Goran Krivokapic -- Obrigado, bom, porObrigado, bom, por

ordem cronológica os meus professores ordem cronológica os meus professores foram Mico Poznanovic, Srdjan Tosic, Hubert foram Mico Poznanovic, Srdjan Tosic, Hubert Käppel, Roberto Aussel e finalmente Carlo Käppel, Roberto Aussel e finalmente Carlo Marchione. Quando era muito novo tinha Marchione. Quando era muito novo tinha uma guitarra de brincar, muito pequena de uma guitarra de brincar, muito pequena de facto, e um certo dia de alguma maneira facto, e um certo dia de alguma maneira parti-a. Estava definitivamente inutilizável, parti-a. Estava definitivamente inutilizável, quero dizer, com as cordas cortadas e tudo. quero dizer, com as cordas cortadas e tudo. Comecei na música como aluno a sério aos 8 Comecei na música como aluno a sério aos 8 anos. As minhas escolhas de instrumento ao anos. As minhas escolhas de instrumento ao princípio foram entre guitarra, piano e princípio foram entre guitarra, piano e violino, mas a guitarra tornou-se a escolha violino, mas a guitarra tornou-se a escolha mais fácil também porque era a opção mais mais fácil também porque era a opção mais em conta em termos financeiros. Fiz vários em conta em termos financeiros. Fiz vários testes como reconhecimento auditivo e testes como reconhecimento auditivo e testes escritos. Estudei um ano de solfejo, testes escritos. Estudei um ano de solfejo, ensinaram-nos a ler notas e mais tarde

ensinaram-nos a ler notas e mais tarde teoria.teoria.

R.G.C

R.G.C . - Tendo nascido nos Balcãs, qual é a sua opinião para explicar o facto de haver tantos. - Tendo nascido nos Balcãs, qual é a sua opinião para explicar o facto de haver tantos bons guitarristas dessa região?

bons guitarristas dessa região?

G.K.

G.K. - Em parte deve-se ao sistema de ensino da música. A escola de música era gratuita e- Em parte deve-se ao sistema de ensino da música. A escola de música era gratuita e continua a sê-la. Depois de estudar leitura musical no coro durante um ano teríamos de passar continua a sê-la. Depois de estudar leitura musical no coro durante um ano teríamos de passar um exame antes de poder começar a estudar um instrumento. A performance é levada a sério um exame antes de poder começar a estudar um instrumento. A performance é levada a sério desde o início onde temos de seguir um programa estruturado, tocando em público desde o início onde temos de seguir um programa estruturado, tocando em público frequentemente, pelo menos duas vezes por ano, em audições na escola e para os pais. frequentemente, pelo menos duas vezes por ano, em audições na escola e para os pais. Durante este período, continua-se a estudar solfejo, o instrumento e continuamos a participar Durante este período, continua-se a estudar solfejo, o instrumento e continuamos a participar no coro. Na Alemanha, nas escolas de música, os alunos tem 3 anos de teoria e mesmo assim no coro. Na Alemanha, nas escolas de música, os alunos tem 3 anos de teoria e mesmo assim tenho de perder metade das aulas a explicar teoria aos alunos.

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica R.G.C.

R.G.C. – Durante a consolidação da sua carreira musical enquanto jovem, quem foram as suas– Durante a consolidação da sua carreira musical enquanto jovem, quem foram as suas maiores influências?

maiores influências?

G.K

G.K. - As maiores influências durante a. - As maiores influências durante a minha juventude foram o John Williams, minha juventude foram o John Williams, Julian Bream, Konrad Ragossnig e até o Julian Bream, Konrad Ragossnig e até o Paco de Lucia ao início, mas a minha Paco de Lucia ao início, mas a minha primeira experiência musical foi ver o Ivo primeira experiência musical foi ver o Ivo Pogorelich na televisão e ouvir as suas Pogorelich na televisão e ouvir as suas gravações. Também segui a carreira do gravações. Também segui a carreira do violinista Sérvio e criança prodígio, Stefan violinista Sérvio e criança prodígio, Stefan Milenkovic, cuja carreira foi lançada Milenkovic, cuja carreira foi lançada quando tive a oportunidade de saber quem quando tive a oportunidade de saber quem ele era. O que mais admiro nestes músicos, ele era. O que mais admiro nestes músicos, é o nível de musicalidade em geral. Neste momento, estou numa fase musical e pessoal é o nível de musicalidade em geral. Neste momento, estou numa fase musical e pessoal diferente, mas o Ivo Pogorelich continua a ser uma figura que eu admiro muito. As suas diferente, mas o Ivo Pogorelich continua a ser uma figura que eu admiro muito. As suas gravações de Bach inspiraram o meu duo e do Vladimir Gorbach, Duo Cologne, a fazer gravações de Bach inspiraram o meu duo e do Vladimir Gorbach, Duo Cologne, a fazer transcrições de todas as “Suites Inglesas”. Outros pianistas que admiro e ouço muito são, transcrições de todas as “Suites Inglesas”. Outros pianistas que admiro e ouço muito são, Ashkenazy e Richter.

Ashkenazy e Richter.

R.G.C.

R.G.C. - Tendo já estado em Portugal várias vezes e sido premiado com dois segundos prémios- Tendo já estado em Portugal várias vezes e sido premiado com dois segundos prémios e um terceiro no Concurso Internacional de

e um terceiro no Concurso Internacional de Guitarra de Sernancelhe, qual é a Guitarra de Sernancelhe, qual é a sua opinião sobresua opinião sobre a cena guitarrística portuguesa?

a cena guitarrística portuguesa?

G.K.

G.K.- Das minhas idas ao concurso ou de visitas a amigos que vivem em Portugal, parece-me- Das minhas idas ao concurso ou de visitas a amigos que vivem em Portugal, parece-me que há uma vida guitarrística activa. Estive em Sernancelhe como concorrente, e gostei muito que há uma vida guitarrística activa. Estive em Sernancelhe como concorrente, e gostei muito das pessoas envolvidas tal como a comida! O festival e a competição estão num nível muito das pessoas envolvidas tal como a comida! O festival e a competição estão num nível muito alto, tão alto como qualquer Festival de topo na Europa ou nos Estados Unidos, e estou muito alto, tão alto como qualquer Festival de topo na Europa ou nos Estados Unidos, e estou muito contente por voltar ao Festival de Guitarra de Sernancelhe em Junho como artista convidado e contente por voltar ao Festival de Guitarra de Sernancelhe em Junho como artista convidado e também como membro do júri do concurso.

também como membro do júri do concurso.

R.G.C.

R.G.C. - Vivemos em tempos conturbados. A arte está mais uma vez a ser negligenciada como- Vivemos em tempos conturbados. A arte está mais uma vez a ser negligenciada como essência para o espírito humano e ignorada em favor de outras áreas. A União Europeia essência para o espírito humano e ignorada em favor de outras áreas. A União Europeia anunciou que está a prever lançar o maior apoio financeiro para a cultura na Europa mas só a anunciou que está a prever lançar o maior apoio financeiro para a cultura na Europa mas só a partir de 2014 até 2020. De que modo vê os eventos que tem acontecido um pouco por toda a partir de 2014 até 2020. De que modo vê os eventos que tem acontecido um pouco por toda a europa, com as populações a juntarem-se em protestos nas principais praças europeias? O que europa, com as populações a juntarem-se em protestos nas principais praças europeias? O que pode ser esperado em termos de futuro para a

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica G.K.

G.K. - Os protestos irão acontecer sempre, para o melhor ou para o pior, a arte não é- Os protestos irão acontecer sempre, para o melhor ou para o pior, a arte não é suficientemente apreciada e não lhe é dada uma

suficientemente apreciada e não lhe é dada uma posição relevante na sociedade.posição relevante na sociedade.

R.G.C.

R.G.C. - Sendo um dos jovens guitarristas com maior número de prémios em concursos- Sendo um dos jovens guitarristas com maior número de prémios em concursos internacionais, que importância dá aos concursos na vida d

internacionais, que importância dá aos concursos na vida d e um músico? e um músico?

G.K.

G.K.- Pode ser muito importante, mas é também muito pessoal. Para mim foi uma maneira de- Pode ser muito importante, mas é também muito pessoal. Para mim foi uma maneira de me formar enquanto músico mas não tem necessariamente de ser a única maneira de me formar enquanto músico mas não tem necessariamente de ser a única maneira de construir uma carreira ou de ganhar reconhecimento. Toda gente é diferente, conhecemos construir uma carreira ou de ganhar reconhecimento. Toda gente é diferente, conhecemos músicos que fizeram uma carreira com concursos mas também há gente que não fez concursos músicos que fizeram uma carreira com concursos mas também há gente que não fez concursos e desenvolveu uma carreira de igual modo. Para mim foi uma experiência muito e desenvolveu uma carreira de igual modo. Para mim foi uma experiência muito enriquecedora, conhecer pessoas de diferentes partes do mundo e como estes identificam a enriquecedora, conhecer pessoas de diferentes partes do mundo e como estes identificam a sua cultura e a arte de tocar guitarra, juntando-se todos num sítio em comum para o mesmo sua cultura e a arte de tocar guitarra, juntando-se todos num sítio em comum para o mesmo propósito e assim aprende-se muito sobre outras pessoas e sobre as tuas próprias propósito e assim aprende-se muito sobre outras pessoas e sobre as tuas próprias experiências, tal como o público. Em geral eu detestava tocar em concursos, quando experiências, tal como o público. Em geral eu detestava tocar em concursos, quando terminavam e se estivesse contente com o que tinha tocado e correndo a meu favor é terminavam e se estivesse contente com o que tinha tocado e correndo a meu favor é fantástico, se não, nem sempre é uma boa

fantástico, se não, nem sempre é uma boa experiência como depois de tocar um experiência como depois de tocar um concerto.concerto.

R.G.C

R.G.C . - Sente que se está a tornar num evento desportivo? . - Sente que se está a tornar num evento desportivo? G.K.

G.K.- Bom, para mim, às - Bom, para mim, às vezes sentia que sim. Quando estamos no palco vezes sentia que sim. Quando estamos no palco e temos medo que see temos medo que se torne nisso, começamos a pensar o que é que o júri está a avaliar quando às vezes pegam na torne nisso, começamos a pensar o que é que o júri está a avaliar quando às vezes pegam na

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caneta por cada erro que cometes, especialmente com tantos grandes músicos com maiores caneta por cada erro que cometes, especialmente com tantos grandes músicos com maiores facilidades técnicas. Olhando para o violino e o piano, parecem-se mais com desporto e eles facilidades técnicas. Olhando para o violino e o piano, parecem-se mais com desporto e eles estão à nossa frente em termos artísticos. Para um pianista, parece que ao ganhar um grande estão à nossa frente em termos artísticos. Para um pianista, parece que ao ganhar um grande concurso se irão abrir muitas portas, mas para um guitarrista não faz muita diferença ao concurso se irão abrir muitas portas, mas para um guitarrista não faz muita diferença ao ganhar um desses grandes concursos, portanto tem sido um modo de nos tornarmos ganhar um desses grandes concursos, portanto tem sido um modo de nos tornarmos conhecidos em todas as partes do mundo e de mais tarde tocar alguns concertos nesse local conhecidos em todas as partes do mundo e de mais tarde tocar alguns concertos nesse local do concurso em questão.

do concurso em questão.

R.G.C

R.G.C . - De um modo mais pessoal, como aborda uma nova . - De um modo mais pessoal, como aborda uma nova obra? obra? G.K.

G.K.– Primeiro estudo a história do compositor e ouço – Primeiro estudo a história do compositor e ouço outras obras dele ou dela, se precisa deoutras obras dele ou dela, se precisa de transcrição ou não, e faço sempre toda a edição sozinho. Penso no estilo e depois começo a transcrição ou não, e faço sempre toda a edição sozinho. Penso no estilo e depois começo a trabalhar na peça. Ao princípio, faço uma leitura à primeira vista, e se a textura for complexa trabalhar na peça. Ao princípio, faço uma leitura à primeira vista, e se a textura for complexa posso ter de usar outras técnicas para ficar a conhecer a peça, em algumas ocasiões é posso ter de usar outras técnicas para ficar a conhecer a peça, em algumas ocasiões é necessário um pouco de matemática para perceber a polirritmia ou os elementos métricos necessário um pouco de matemática para perceber a polirritmia ou os elementos métricos (por exemplo na música de Bogdanovich), se a peça for simples, então pode ser lida à primeira (por exemplo na música de Bogdanovich), se a peça for simples, então pode ser lida à primeira vista e analisada no momento.

vista e analisada no momento.

R.G.C.

R.G.C.- Quais os factores que o levam - Quais os factores que o levam à escolha de uma determinada peça? à escolha de uma determinada peça? G.K.

G.K. - Escolho as peças de que gosto, pode também ser algo que o organizador do concerto- Escolho as peças de que gosto, pode também ser algo que o organizador do concerto queria a fim da ocasião ou por uma outra razão (talvez relacionado com o tema ou o conceito queria a fim da ocasião ou por uma outra razão (talvez relacionado com o tema ou o conceito do festival), mas tento sempre escolher algo de

do festival), mas tento sempre escolher algo de que gosto e que me dê que gosto e que me dê prazer a estudar.prazer a estudar.

R.G.C.

R.G.C.- Tem preferências na música moderna? - Tem preferências na música moderna? G.K.

G.K.- A música de Bogdanovich - A música de Bogdanovich tem-me atraído muito nesta altura.tem-me atraído muito nesta altura. R.G.C.

R.G.C.- Dá preferência à música moderna em detrimento de - Dá preferência à música moderna em detrimento de música de outros períodos? música de outros períodos? G.K.

G.K.- Não, mas depende também do momento.- Não, mas depende também do momento. R.G.C.

R.G.C.- Qual é a sua opinião em termos de música de câmara? - Qual é a sua opinião em termos de música de câmara? G.K.

G.K. - Eu encaro como muito importante para o desenvolvimento de qualquer músico e das- Eu encaro como muito importante para o desenvolvimento de qualquer músico e das suas habilidades. No meu trabalho com o duo, com o Vladimir Gorbach, exploramos muito suas habilidades. No meu trabalho com o duo, com o Vladimir Gorbach, exploramos muito repertório que uma só guitarra

repertório que uma só guitarra normalmente não pode tocar.normalmente não pode tocar.

R.G.C.

R.G.C.- Considera-a essencial para o desenvolvimento de um - Considera-a essencial para o desenvolvimento de um músico? músico? G.K.

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica R.G.C.

R.G.C.- Gravou recentemente um novo CD para a Naxos com obras de Fernando Sor. Conte-nos- Gravou recentemente um novo CD para a Naxos com obras de Fernando Sor. Conte-nos como surgiu essa oportunidade.

como surgiu essa oportunidade.

G.K.

G.K. - Começou com o Norbert Kraft a propor a ideia, como um esforço da Naxos para a- Começou com o Norbert Kraft a propor a ideia, como um esforço da Naxos para a gravação de todas as obras catalogadas de Fernando Sor. Subsequentemente estudei o gravação de todas as obras catalogadas de Fernando Sor. Subsequentemente estudei o repertório para o CD e posso afirmar que até à data não tinha tocado muita música de Sor! repertório para o CD e posso afirmar que até à data não tinha tocado muita música de Sor!

R.G.C.

R.G.C.- Conte-nos os seus planos e os novos - Conte-nos os seus planos e os novos projectos para o futuro.projectos para o futuro. G.K.

G.K. - Para o Duo Cologne, a gravação das- Para o Duo Cologne, a gravação das “Suites Inglesas” de Bach e planos para uma “Suites Inglesas” de Bach e planos para uma futura digressão pelos Estados Unidos com futura digressão pelos Estados Unidos com a ajuda do nosso novo agente do Aranjuez a ajuda do nosso novo agente do Aranjuez Artistic Services. Neste momento vivo em Artistic Services. Neste momento vivo em Colónia e desde Setembro ensino os Colónia e desde Setembro ensino os candidatos de pós-graduação na Academia candidatos de pós-graduação na Academia Internacional de Guitarra de Koblenz. Por Internacional de Guitarra de Koblenz. Por este motivo tenho de lembrar toda gente este motivo tenho de lembrar toda gente que os próximos exames de admissão são que os próximos exames de admissão são em Maio de 2012. Espero também que seja em Maio de 2012. Espero também que seja lançado brevemente o meu novo CD a solo lançado brevemente o meu novo CD a solo com música de C.P.E. Bach, Haydn e José, com música de C.P.E. Bach, Haydn e José, como também um novo de CD de piano e como também um novo de CD de piano e guitarra com música de Dusan Bogdanovich guitarra com música de Dusan Bogdanovich (estreia) e Hofmeyr. Este último CD irá ser (estreia) e Hofmeyr. Este último CD irá ser com música inteiramente original para com música inteiramente original para piano e guitarra.

piano e guitarra.

R.G.C.

R.G.C.- Tem algum conselho para os jov- Tem algum conselho para os jovens guitarristas portugueses? ens guitarristas portugueses?

G.K.

G.K.- Não estudem! (brincadeira!), numa uma palavra ou num passo, para o desenvolvimento- Não estudem! (brincadeira!), numa uma palavra ou num passo, para o desenvolvimento como guitarrista, prestem muita atenção à articulação. Por exemplo, os diferentes aspectos como guitarrista, prestem muita atenção à articulação. Por exemplo, os diferentes aspectos que irão ajudar os alunos a progredir são, saber parar as cordas, cantar tudo antes de tocar, que irão ajudar os alunos a progredir são, saber parar as cordas, cantar tudo antes de tocar, depois tocar e copiar o que foi feito. Não escolham a opção mais fácil para contornar o depois tocar e copiar o que foi feito. Não escolham a opção mais fácil para contornar o problema se na verdade não resolve o mesmo ou por razões como facilitar a posição dos problema se na verdade não resolve o mesmo ou por razões como facilitar a posição dos dedos.

dedos.

R.G.C.

R.G.C. - Obrigado por ter dispensado algum do seu tempo connosco e desejamos-lhe um bom- Obrigado por ter dispensado algum do seu tempo connosco e desejamos-lhe um bom ano com excelente música.

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Entrevista a Artur Caldeira

Por Aires Pinheiro

Revista Guitarra Clássica

Revista Guitarra Clássica– Boa tarde Professor Artur Caldeira. Desde já muito obrigado por – Boa tarde Professor Artur Caldeira. Desde já muito obrigado por aceder participar nesta entrevista para a Revista Guitarra Clássica. Gostava de

aceder participar nesta entrevista para a Revista Guitarra Clássica. Gostava de saber, parasaber, para começar, como iniciou o seu percurso musical?

começar, como iniciou o seu percurso musical?

Artur Caldeira

-Artur Caldeira - Sei que isto é umaSei que isto é uma entrevista mas seria melhor se, na entrevista mas seria melhor se, na nossa conversa, puséssemos o título de nossa conversa, puséssemos o título de professor de lado. Também és professor de lado. Também és professor, somos afinal colegas e ficará professor, somos afinal colegas e ficará mais simpático se fizermos isto de uma mais simpático se fizermos isto de uma forma mais directa e pessoal. O meu forma mais directa e pessoal. O meu percurso musical foi sempre muito percurso musical foi sempre muito peculiar. Habitualmente, quem está peculiar. Habitualmente, quem está profissionalmente na música erudita, profissionalmente na música erudita, seja na actividade docente ou seja na actividade docente ou concertista, começou por frequentar concertista, começou por frequentar desde muito novo classes em desde muito novo classes em conservatórios ou academias. Pelo conservatórios ou academias. Pelo contrário, eu entrei para o ensino contrário, eu entrei para o ensino artístico oficial já adulto. No entanto e artístico oficial já adulto. No entanto e até aí, pratiquei um variado leque de até aí, pratiquei um variado leque de estilos musicais, como o fado, a música estilos musicais, como o fado, a música tradicional, o rock, o jazz… Inclusive já como jovem profissional. Depois deparei-me com o tradicional, o rock, o jazz… Inclusive já como jovem profissional. Depois deparei-me com o mundo da guitarra clássica. Era um mundo que se me oferecia e me mostrava as mundo da guitarra clássica. Era um mundo que se me oferecia e me mostrava as potencialidades daquele sensível instrumento. Foi aí que percebi ser esse o caminho que potencialidades daquele sensível instrumento. Foi aí que percebi ser esse o caminho que queria percorrer.

queria percorrer.

R.C.G.

-R.C.G. -Quais foram as suas maiores influências a nível Quais foram as suas maiores influências a nível artístico e musical? artístico e musical? A.C.

-A.C. - Precisamente devido àquele anterior e pouco habitual percurso, as minhas influênciasPrecisamente devido àquele anterior e pouco habitual percurso, as minhas influências foram inúmeras. Podia estar aqui a desfiar algo parecido com uma lista telefónica. Naquilo a foram inúmeras. Podia estar aqui a desfiar algo parecido com uma lista telefónica. Naquilo a que se chama a worldmusic, um conceito que eu valorizo bastante, o flamenco e as que se chama a worldmusic, um conceito que eu valorizo bastante, o flamenco e as sonoridades mediterrânicas apaixonaram-me desde logo. Sempre tive muita curiosidade em sonoridades mediterrânicas apaixonaram-me desde logo. Sempre tive muita curiosidade em absorver esses estilos, as rítmicas, as harmonias e as cores dessa música. Existem grandes absorver esses estilos, as rítmicas, as harmonias e as cores dessa música. Existem grandes artistas da música erudita que vêm a fazer algo dentro da worldmusic, conseguindo atingir artistas da música erudita que vêm a fazer algo dentro da worldmusic, conseguindo atingir

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patamares de qualidade musical do melhor que há. No entanto é evidente que a guitarra patamares de qualidade musical do melhor que há. No entanto é evidente que a guitarra clássica me tocou mais. Quando ouvi discos de Andrés Segóvia ou de Julian Bream foi como clássica me tocou mais. Quando ouvi discos de Andrés Segóvia ou de Julian Bream foi como assistir a uma pequena orquestra dentro das seis cordas da guitarra. A capacidade tímbrica, a assistir a uma pequena orquestra dentro das seis cordas da guitarra. A capacidade tímbrica, a expressão do instrumento fascinavam-me. A guitarra não tem a amplitude harmónica do pia expressão do instrumento fascinavam-me. A guitarra não tem a amplitude harmónica do pia nono mas terá certamente muito mais potencialidades tímbricas e expressivas. Todavia há alguém mas terá certamente muito mais potencialidades tímbricas e expressivas. Todavia há alguém que, juntamente com o instrumento em si, me influenciou decisivamente na, digamos, opção que, juntamente com o instrumento em si, me influenciou decisivamente na, digamos, opção profissional por esta área: o Professor José Pina. E o que mais me fascinou quando comecei a profissional por esta área: o Professor José Pina. E o que mais me fascinou quando comecei a estudar com ele foi a sua forte personalidade musical, uma autoridade artístico-pedagógica estudar com ele foi a sua forte personalidade musical, uma autoridade artístico-pedagógica fantástica e um saber extraordinário. Os resultados dos seus ensinamentos saltavam à vista. E fantástica e um saber extraordinário. Os resultados dos seus ensinamentos saltavam à vista. E depois uma qualidade tímbrica e amplitude sonora que me mostrava quando, nas aulas, me depois uma qualidade tímbrica e amplitude sonora que me mostrava quando, nas aulas, me exemplificava qualquer trecho… Tudo isso me deu uma motivação extrema. Eu ambicionava exemplificava qualquer trecho… Tudo isso me deu uma motivação extrema. Eu ambicionava tocar assim. Depois, frequentei pela primeira vez um curso de Verão por ele ministrado em tocar assim. Depois, frequentei pela primeira vez um curso de Verão por ele ministrado em Matosinhos em 1987, onde vi os seus alunos mais adiantados. Observei que era um naipe de Matosinhos em 1987, onde vi os seus alunos mais adiantados. Observei que era um naipe de alunos alargado, mas todos eles tocavam muito bem, ou

alunos alargado, mas todos eles tocavam muito bem, ou seja, segundo conceitos que eu passeiseja, segundo conceitos que eu passei a achar fundamentais: uma mecânica muito bem trabalhada, uma excelente sonoridade, a achar fundamentais: uma mecânica muito bem trabalhada, uma excelente sonoridade, cuidado extremo com as digitações e fortes conhecimentos expressivos e estilísticos. Via-se cuidado extremo com as digitações e fortes conhecimentos expressivos e estilísticos. Via-se uma unidade, uma identidade de classe, a marca de um mestre. Por isso, era esse professor uma unidade, uma identidade de classe, a marca de um mestre. Por isso, era esse professor que me interessava. Não quero com isto dizer que tenhamos de ser imitadores de um que me interessava. Não quero com isto dizer que tenhamos de ser imitadores de um professor. Porém, se numa classe não existe essa marca, essa identidade, significa que talvez o professor. Porém, se numa classe não existe essa marca, essa identidade, significa que talvez o professor não seja o líder de

professor não seja o líder de que precisamos na nossa formação.que precisamos na nossa formação.

R.C.G.

-R.C.G. - Foi durante vários anos professor de Conservatório de Música do Porto, ondeFoi durante vários anos professor de Conservatório de Música do Porto, onde desempenhou funções directivas entre 1997 e 1999. Qual a sua impressão sobre o ensino da desempenhou funções directivas entre 1997 e 1999. Qual a sua impressão sobre o ensino da guitarra clássica no nosso país, para os níveis de

guitarra clássica no nosso país, para os níveis de iniciação, básico e secundário? iniciação, básico e secundário?

A.C.

-A.C. - Ainda pertenço ao quadro de nomeação definitiva daquela prestigiada instituição. AAinda pertenço ao quadro de nomeação definitiva daquela prestigiada instituição. A procura de aulas de guitarra é intensa, há cada vez mais jovens a tocar, cada vez alunos mais procura de aulas de guitarra é intensa, há cada vez mais jovens a tocar, cada vez alunos mais novos a tocar bem, mas também há uma massificação que poderá ser prejudicial. O que devo novos a tocar bem, mas também há uma massificação que poderá ser prejudicial. O que devo salientar desde logo é a enorme disparidade de nível existente entre os alunos dos vários salientar desde logo é a enorme disparidade de nível existente entre os alunos dos vários conservatórios e academias existentes. Não estou aqui a pretender dizer que o Conservatório conservatórios e academias existentes. Não estou aqui a pretender dizer que o Conservatório de Música do Porto é melhor ou que outra escola é pior, não é isso que está em causa. O que de Música do Porto é melhor ou que outra escola é pior, não é isso que está em causa. O que está em causa é vermos um nível muito díspar nas várias instituições. Mesmo com as está em causa é vermos um nível muito díspar nas várias instituições. Mesmo com as diferenças existentes em várias formas de aprendizagem ou de “escola”, não se encontra diferenças existentes em várias formas de aprendizagem ou de “escola”, não se encontra sempre um nível dentro de parâmetros aceitáveis. Enquanto professor do Conservatório de sempre um nível dentro de parâmetros aceitáveis. Enquanto professor do Conservatório de Música do Porto integrei vários júris de exame para alunos autopropostos, que na realidade Música do Porto integrei vários júris de exame para alunos autopropostos, que na realidade não eram autodidactas, estudavam com alguém e muitas vezes em academias que apenas não não eram autodidactas, estudavam com alguém e muitas vezes em academias que apenas não tinham autonomia pedagógica para realizar esses exames. Aí fazíamos a nossa aferição nesta tinham autonomia pedagógica para realizar esses exames. Aí fazíamos a nossa aferição nesta

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matéria. Verificava-se constantemente que o nível geral dos alunos que nos chegavam para matéria. Verificava-se constantemente que o nível geral dos alunos que nos chegavam para esses exames era confrangedor. Por vezes apareciam alunos que

esses exames era confrangedor. Por vezes apareciam alunos que revelavam algum talento masrevelavam algum talento mas que estavam visivelmente mal orientados, sobretudo deficitários em técnica. E mais uma vez que estavam visivelmente mal orientados, sobretudo deficitários em técnica. E mais uma vez não pretendo dizer que tivessem de apresentar-se segundo os meus conceitos ou os conceitos não pretendo dizer que tivessem de apresentar-se segundo os meus conceitos ou os conceitos dos professores daquele Conservatório. O que se verificava era não existir qualquer conceito. dos professores daquele Conservatório. O que se verificava era não existir qualquer conceito. Com frequência recebíamos alunos para exame de 8º grau, ou seja, finalistas do Ensino Com frequência recebíamos alunos para exame de 8º grau, ou seja, finalistas do Ensino Secundário; muitos deles não conheciam o compositor da

Secundário; muitos deles não conheciam o compositor da obra que tentavam interpretar ou asobra que tentavam interpretar ou as características históricas onde se insere a música desse compositor. Depois para mim é características históricas onde se insere a música desse compositor. Depois para mim é inaceitável que alguns cheguem àquele grau sem nunca terem tocado Bach. Ainda existem inaceitável que alguns cheguem àquele grau sem nunca terem tocado Bach. Ainda existem conservatórios no país (oficiais) que não incluem Bach nos conteúdos programáticos de conservatórios no país (oficiais) que não incluem Bach nos conteúdos programáticos de guitarra. A não ser que isso tenha sido alterado há muito pouco tempo e eu não tenha tomado guitarra. A não ser que isso tenha sido alterado há muito pouco tempo e eu não tenha tomado conhecimento. O pretexto invocado consistia no facto de a música de Bach não ser original conhecimento. O pretexto invocado consistia no facto de a música de Bach não ser original para guitarra! E para piano, Bach escreveu alguma coisa? Óbvio que não, o piano não existia para guitarra! E para piano, Bach escreveu alguma coisa? Óbvio que não, o piano não existia sequer nessa altura, tal como não existia a guitarra. Mas que pianista se conhece que nunca sequer nessa altura, tal como não existia a guitarra. Mas que pianista se conhece que nunca tenha tocado Bach desde os primeiros graus da sua formação? Pelos corredores da ESMAE tenha tocado Bach desde os primeiros graus da sua formação? Pelos corredores da ESMAE ouço Bach em marimba, saxofone… E para estes não será original com certeza…

ouço Bach em marimba, saxofone… E para estes não será original com certeza…

R.C.G.

-R.C.G. - Essa resposta leva-me a outra pergunta: Como é que acha que seria possível resolver Essa resposta leva-me a outra pergunta: Como é que acha que seria possível resolver essa disparidade entre as classes das diferentes escolas? Será possível arranjar uma forma de essa disparidade entre as classes das diferentes escolas? Será possível arranjar uma forma de controlar essa disparidade?

controlar essa disparidade?

A.C.

-A.C. - Constatar e enunciar os problemas já é importante. Não tenho certamente a soluçãoConstatar e enunciar os problemas já é importante. Não tenho certamente a solução mas uma medida importante seria a uniformização de conteúdos programáticos. Não do mas uma medida importante seria a uniformização de conteúdos programáticos. Não do programa mas sim dos seus conteúdos. Afinal, em cada nível o que deve cada aluno ser capaz programa mas sim dos seus conteúdos. Afinal, em cada nível o que deve cada aluno ser capaz de fazer? Não se trata de obrigar toda a gente a tocar o mesmo mas sim definir critérios como: de fazer? Não se trata de obrigar toda a gente a tocar o mesmo mas sim definir critérios como: bases técnicas fundamentais, sonoridade, conhecimentos gerais de repertório… Sei que é bases técnicas fundamentais, sonoridade, conhecimentos gerais de repertório… Sei que é complicado reunir consensos nesta matéria. Mas algo

complicado reunir consensos nesta matéria. Mas algo terá de fazer-se.terá de fazer-se.

R.C.G.

-R.C.G. - Actualmente lecciona no ensino superior, nomadamente na ESMAE, Escola Superior de Actualmente lecciona no ensino superior, nomadamente na ESMAE, Escola Superior de Música e Artes de Espectáculo do Porto. Que impressão tem sobre o ensino superior da Música e Artes de Espectáculo do Porto. Que impressão tem sobre o ensino superior da guitarra em Portugal e sobre os estudantes que o

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica A.C.

-A.C. - Eu não pretendo entrar em qualquer espécie de polémicas e tudo aquilo que digo é deEu não pretendo entrar em qualquer espécie de polémicas e tudo aquilo que digo é de coração aberto e sem interesse em criar crispação ou qualquer tipo de rivalidade. No entanto e coração aberto e sem interesse em criar crispação ou qualquer tipo de rivalidade. No entanto e pelo que me vou apercebendo, penso que o ensino da guitarra a nível superior enferma mais pelo que me vou apercebendo, penso que o ensino da guitarra a nível superior enferma mais ou menos do mesmo mal que enferma o ensino básico e secundário. Há uma forte disparidade ou menos do mesmo mal que enferma o ensino básico e secundário. Há uma forte disparidade ao nível da formação. Convém lembrar que nem todos os anos lectivos fornecem alunos ao ao nível da formação. Convém lembrar que nem todos os anos lectivos fornecem alunos ao ensino superior com os requisitos necessários para o sucesso. O nível dos candidatos que ensino superior com os requisitos necessários para o sucesso. O nível dos candidatos que aparecem não é o mesmo todos os anos. E é evidente que quanto melhor a matéria-prima, aparecem não é o mesmo todos os anos. E é evidente que quanto melhor a matéria-prima, potencialmente melhor será o nível final dos alunos. E até posso considerar a hipótese de potencialmente melhor será o nível final dos alunos. E até posso considerar a hipótese de haver alunos (raros) que quase caminhariam por si só, possuindo grandes qualidades. Tudo o haver alunos (raros) que quase caminhariam por si só, possuindo grandes qualidades. Tudo o que necessitam é de um professor que os oriente bem e que os vá levando pelos trilhos certos, que necessitam é de um professor que os oriente bem e que os vá levando pelos trilhos certos, não o deixando “descarrilar”. Mas, ao nível do aluno médio, que é o que nos interessa, vejo não o deixando “descarrilar”. Mas, ao nível do aluno médio, que é o que nos interessa, vejo por aí muitas incongruências nos reportórios que lhes são distribuídos. Tenho observado, em por aí muitas incongruências nos reportórios que lhes são distribuídos. Tenho observado, em cursos de aperfeiçoamento, alunos de algumas instituições que ainda não sabem produzir cursos de aperfeiçoamento, alunos de algumas instituições que ainda não sabem produzir sonoridades equilibradas com os vários dedos da mão direita, não sabem ainda como devem sonoridades equilibradas com os vários dedos da mão direita, não sabem ainda como devem conservar as suas unhas para produzir um timbre de qualidade, não sabem movimentar conservar as suas unhas para produzir um timbre de qualidade, não sabem movimentar correctamente a mão esquerda ao longo do braço da guitarra, não sabem posicionar os dedos correctamente a mão esquerda ao longo do braço da guitarra, não sabem posicionar os dedos correctamente, não têm no fundo uma sólida técnica de base e, no entanto, já lhes são correctamente, não têm no fundo uma sólida técnica de base e, no entanto, já lhes são entregues obras que deveriam ser provavelmente destinadas aos melhores finalistas, obras de entregues obras que deveriam ser provavelmente destinadas aos melhores finalistas, obras de grande dificuldade técnico/artística. Eu sei que à partida os objectivos dos vários cursos são grande dificuldade técnico/artística. Eu sei que à partida os objectivos dos vários cursos são diversos: uns pretendem formar na vertente performativa e outros

diversos: uns pretendem formar na vertente performativa e outros na vertente pedagógica. Nana vertente pedagógica. Na segunda hipótese, por muita pedagogia que se possa aprender, como pode ensinar bem quem segunda hipótese, por muita pedagogia que se possa aprender, como pode ensinar bem quem não toca bem? E devo lembrar que todos fornecem os mesmos graus académicos. O grau de não toca bem? E devo lembrar que todos fornecem os mesmos graus académicos. O grau de licenciatura é igual para todos. Ao nível do mestrado passa-se mais ou menos o mesmo, pode licenciatura é igual para todos. Ao nível do mestrado passa-se mais ou menos o mesmo, pode

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atingir-se aquele grau académico realizando exames com um programa exigente de sessenta atingir-se aquele grau académico realizando exames com um programa exigente de sessenta minutos por ano lectivo ou passar os dois anos a tocar quarenta minutos de música. O grau minutos por ano lectivo ou passar os dois anos a tocar quarenta minutos de música. O grau académico atingido é o mesmo. Com toda a certeza quem se forma na vertente pedagógica académico atingido é o mesmo. Com toda a certeza quem se forma na vertente pedagógica terá até melhor acesso à carreira no ensino do instrumento. Note-se que presentemente um terá até melhor acesso à carreira no ensino do instrumento. Note-se que presentemente um professor é admitido e avaliado sobretudo de forma

professor é admitido e avaliado sobretudo de forma documental, quase nunca é avaliada a documental, quase nunca é avaliada a suasua prestação artística. Tempos houve em que se realizavam provas públicas, como no prestação artística. Tempos houve em que se realizavam provas públicas, como no Conservatório de Música do Porto. Eram quatro dias de provas, com trabalhos escritos, aulas Conservatório de Música do Porto. Eram quatro dias de provas, com trabalhos escritos, aulas públicas, recital, peça imposta com uma semana de antecedência… A meu ver, um professor públicas, recital, peça imposta com uma semana de antecedência… A meu ver, um professor de instrumento deve possuir, ao contrário de um professor de uma outra cadeira qualquer, de instrumento deve possuir, ao contrário de um professor de uma outra cadeira qualquer, ferramentas que lhe permitem a cada momento exemplificar aquilo que os alunos estão a ferramentas que lhe permitem a cada momento exemplificar aquilo que os alunos estão a tocar. O professor deve servir de exemplo ao nível da execução instrumental. Tal como o eram tocar. O professor deve servir de exemplo ao nível da execução instrumental. Tal como o eram os mestres de antigamente. Aprende-se muito vendo o mestre. Por isso, um professor de os mestres de antigamente. Aprende-se muito vendo o mestre. Por isso, um professor de instrumento só o deveria ser com uma

instrumento só o deveria ser com uma sólida formação nesta vertente.sólida formação nesta vertente.

R.C.G.

-R.C.G. -Como vê a implementação do processo de Bolonha no ensino superior da música emComo vê a implementação do processo de Bolonha no ensino superior da música em Portugal?

Portugal?

A.C.

-A.C. - Bolonha não trouxe nenhum benefício a este ramo de ensino. Pelo contrário, veioBolonha não trouxe nenhum benefício a este ramo de ensino. Pelo contrário, veio prejudicar o seu nível. Os cursos passaram de uma licenciatura de quatro anos (a minha foi prejudicar o seu nível. Os cursos passaram de uma licenciatura de quatro anos (a minha foi ainda de cinco!) para três, ou seja, o número de anos do antigo Bacharelato. Quando isso ainda de cinco!) para três, ou seja, o número de anos do antigo Bacharelato. Quando isso aconteceu, um dilema deve ter surgido: ou os programas se reorganizam com menos tempo aconteceu, um dilema deve ter surgido: ou os programas se reorganizam com menos tempo para cada matéria, ou terão de ser reduzidos. Qualquer que tenha sido a opção tomada para cada matéria, ou terão de ser reduzidos. Qualquer que tenha sido a opção tomada resumiu-se à seguinte constatação: não se faz em três anos o que se pode fazer em quatro, resumiu-se à seguinte constatação: não se faz em três anos o que se pode fazer em quatro, sobretudo ao nível do desenvolvimento físico. Se se mantivessem os mesmos programas mas sobretudo ao nível do desenvolvimento físico. Se se mantivessem os mesmos programas mas divididos em três anos (ou seis semestres) tudo teria de ser visto mais superficialmente. Se se divididos em três anos (ou seis semestres) tudo teria de ser visto mais superficialmente. Se se pretendesse ter a mesma exigência em cada item, teria de se reduzir aos programas. Quem pretendesse ter a mesma exigência em cada item, teria de se reduzir aos programas. Quem tem o poder de decisão na estruturação do ensino em Portugal tende a tratar de igual modo o tem o poder de decisão na estruturação do ensino em Portugal tende a tratar de igual modo o que é diferente. O ensino artístico, nomeadamente na vertente performativa, tem que é diferente. O ensino artístico, nomeadamente na vertente performativa, tem especificidades que merecem atenção. Em muitas matérias podemos estudar com mais afinco especificidades que merecem atenção. Em muitas matérias podemos estudar com mais afinco nos dias anteriores aos exames e obter bons resultados. No estudo de um instrumento temos nos dias anteriores aos exames e obter bons resultados. No estudo de um instrumento temos de estudar todos os dias e esperar pacientemente pelos progressos. Para além disso a questão de estudar todos os dias e esperar pacientemente pelos progressos. Para além disso a questão da maturidade como intérprete (e como pessoa), quer na generalidade quer na especificidade da maturidade como intérprete (e como pessoa), quer na generalidade quer na especificidade do programa a estudar em

do programa a estudar em cada momento da formação, depende igualmente do factor cada momento da formação, depende igualmente do factor tempo.tempo. Neste aspecto, a avaliação semestral também não é, a meu ver, a melhor. E em áreas como o Neste aspecto, a avaliação semestral também não é, a meu ver, a melhor. E em áreas como o de medicina, o curso continua a ter licenciaturas de cinco anos, para além de tudo o que se faz de medicina, o curso continua a ter licenciaturas de cinco anos, para além de tudo o que se faz posteriormente.

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica R.C.G.

-R.C.G. - Agora chamam-lhe mestrado integrado. Agora chamam-lhe mestrado integrado. A.C.

-A.C. - Então passámos a chamar mestrado às antigas licenciaturas e licenciaturas aos antigosEntão passámos a chamar mestrado às antigas licenciaturas e licenciaturas aos antigos bacharelatos. Bastava terem convencionado: “O bacharelato passa a chamar-se licenciatura, a bacharelatos. Bastava terem convencionado: “O bacharelato passa a chamar-se licenciatura, a licenciatura passa a chamar-se mestrado e assim sucessivamente. Houve certamente pessoas licenciatura passa a chamar-se mestrado e assim sucessivamente. Houve certamente pessoas que envolvidas nessa discussão que deram os devidos alertas mas, como sempre, não terão que envolvidas nessa discussão que deram os devidos alertas mas, como sempre, não terão sido ouvidas. O que interessa é entrar na estandardização, digamos assim, na formatação que sido ouvidas. O que interessa é entrar na estandardização, digamos assim, na formatação que nos impõem, sem pensar se vale a

nos impõem, sem pensar se vale a pena ou não vale a pena ou não vale a pena.pena.

R.C.G.

-R.C.G. -O que pensa do actual O que pensa do actual estado da guitarra clássica em Portugal? estado da guitarra clássica em Portugal?

A.C.

-A.C. - Penso que não é muito relevante falar directamente do estado da guitarra clássica emPenso que não é muito relevante falar directamente do estado da guitarra clássica em Portugal. Relevante é falar do estado de Portugal. Porquê? Porque o estado do país afecta Portugal. Relevante é falar do estado de Portugal. Porquê? Porque o estado do país afecta obviamente tudo, inclusive a guitarra clássica. Se falarmos do ensino ou da procura desse obviamente tudo, inclusive a guitarra clássica. Se falarmos do ensino ou da procura desse ensino, podemos afirmar que está em franca ascensão, mas ainda muito nas zonas mais ensino, podemos afirmar que está em franca ascensão, mas ainda muito nas zonas mais urbanas e litorais, o interior continua esquecido. Onde existe um conservatório público no urbanas e litorais, o interior continua esquecido. Onde existe um conservatório público no interior? Existe em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa, todos eles agora até com ensino interior? Existe em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa, todos eles agora até com ensino integrado. Mas não há em Bragança, não há na Guarda, não há em Castelo Branco, não há em integrado. Mas não há em Bragança, não há na Guarda, não há em Castelo Branco, não há em Évora… Mas felizmente há muitas academias e algumas escolas profissionais e cada vez me Évora… Mas felizmente há muitas academias e algumas escolas profissionais e cada vez me telefonam de mais instituições a perguntar se há

telefonam de mais instituições a perguntar se há algum aluno que possa já leccionar, algum aluno que possa já leccionar, portanto,portanto, há muita procura de aulas de guitarra. Todavia, a excessiva massificação é perigosa e pode há muita procura de aulas de guitarra. Todavia, a excessiva massificação é perigosa e pode transformar o ensino artístico numa grande banalidade. É claro que a maioria não prossegue transformar o ensino artístico numa grande banalidade. É claro que a maioria não prossegue estudos artísticos. Se aprenderem a ser bons ouvintes já se consegue algo. É necessário estudos artísticos. Se aprenderem a ser bons ouvintes já se consegue algo. É necessário também saber se o que se ensina nas escolas faz com que as pessoas aprendam a ouvir, mas também saber se o que se ensina nas escolas faz com que as pessoas aprendam a ouvir, mas isso é outra questão. Se falarmos da actividade artística, ou seja, concertos, onde é que eles isso é outra questão. Se falarmos da actividade artística, ou seja, concertos, onde é que eles estão? Salas existem agora por todo o lado. Mas onde estão as estruturas coloquem de pé estão? Salas existem agora por todo o lado. Mas onde estão as estruturas coloquem de pé circuitos de concertos? Porque não se pratica, como noutros países, o mecenato directo ao circuitos de concertos? Porque não se pratica, como noutros países, o mecenato directo ao artista, comprando-lhe directamente concertos para depois se colocarem em várias salas? artista, comprando-lhe directamente concertos para depois se colocarem em várias salas? Tempos houve em que a Secretaria do Estado da Cultura teve esse papel. Portanto se o país Tempos houve em que a Secretaria do Estado da Cultura teve esse papel. Portanto se o país não decidir valorizar a cultura e a educação, de que vale o nosso esforço formativo?

não decidir valorizar a cultura e a educação, de que vale o nosso esforço formativo?

R.C.G.

-R.C.G. -Quais são os pontos fracos e os pontos fortes que destaca no panorama guitarrísticoQuais são os pontos fracos e os pontos fortes que destaca no panorama guitarrístico português?

português?

A.C.

-A.C. -Desde logo e como ponto forte destaco o crescimento da procura e da oferta ao nível doDesde logo e como ponto forte destaco o crescimento da procura e da oferta ao nível do ensino. Não apenas para formar mais músicos profissionais mas também bons ouvintes, bons ensino. Não apenas para formar mais músicos profissionais mas também bons ouvintes, bons melómanos e bons amadores que, embora seguindo outra profissão, acarinham

melómanos e bons amadores que, embora seguindo outra profissão, acarinham a música e vãoa música e vão aos concertos, compram CDs e são o público que nós queremos ter. Sem público não somos aos concertos, compram CDs e são o público que nós queremos ter. Sem público não somos

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nada. Agora, a questão de haver, de facto, mais instituições de ensino superior público do que nada. Agora, a questão de haver, de facto, mais instituições de ensino superior público do que escolas básicas e secundárias públicas, traz alguma preocupação. A pirâmide natural do ensino escolas básicas e secundárias públicas, traz alguma preocupação. A pirâmide natural do ensino básico para o ensino superior pode ficar invertida. Começa a existir dentro de portas básico para o ensino superior pode ficar invertida. Começa a existir dentro de portas demasiada oferta no ensino superior e quando a

demasiada oferta no ensino superior e quando a oferta é excessiva, o nível baixa oferta é excessiva, o nível baixa com certeza.com certeza.

R.C.G.

-R.C.G. - Sendo um guitarrista bastante activo do panorama guitarrístico nacional, quais osSendo um guitarrista bastante activo do panorama guitarrístico nacional, quais os conselhos que daria aos jovens que pretendem fazer uma

conselhos que daria aos jovens que pretendem fazer uma carreira como concertista? carreira como concertista?

A.C.

-A.C. -Eu privilegio a globalidade à especialidade. Entendo que a formação do músico deve serEu privilegio a globalidade à especialidade. Entendo que a formação do músico deve ser o mais abrangente possível. Não é porque se pratica música erudita que se deve deixar de o mais abrangente possível. Não é porque se pratica música erudita que se deve deixar de ouvir ou de praticar outras áreas musicais. Recordo-me de colegas que estiveram em ouvir ou de praticar outras áreas musicais. Recordo-me de colegas que estiveram em Inglaterra a estudar e que, encontrando-se em bares ao sábado à noite, viam os violinistas e Inglaterra a estudar e que, encontrando-se em bares ao sábado à noite, viam os violinistas e pianistas em bares de Jazz nas jamsessions… Ou reuniam-se para praticar um estilo de música pianistas em bares de Jazz nas jamsessions… Ou reuniam-se para praticar um estilo de música completamente diversa da que estavam a estudar. Penso que todas as experiências são completamente diversa da que estavam a estudar. Penso que todas as experiências são bem-vindas. Por outro lado, o conhecimento de estilos populares é muito útil na compreensão de vindas. Por outro lado, o conhecimento de estilos populares é muito útil na compreensão de algumas composições neles inspiradas. Lembro-me de John Williams afirmar numa entrevista algumas composições neles inspiradas. Lembro-me de John Williams afirmar numa entrevista ter alterado a sua interpretação da obra “Sevilla” de Albeniz após ter ouvido o guitarrista ter alterado a sua interpretação da obra “Sevilla” de Albeniz após ter ouvido o guitarrista flamenco Paco Peña a tocar uma

flamenco Paco Peña a tocar uma sevillanasevillana. E essa globalidade é uma coisa que se exige cada. E essa globalidade é uma coisa que se exige cada vez mais de nós. O conselho que daria é o de estar atento e ser selectivo ao nível da qualidade vez mais de nós. O conselho que daria é o de estar atento e ser selectivo ao nível da qualidade e não das áreas musicais. E a entenderam a postura e atitude adequadas a cada área musical. e não das áreas musicais. E a entenderam a postura e atitude adequadas a cada área musical. Tão importante como a formação artística é também o desenvolvimento pessoal. Dizia-me um Tão importante como a formação artística é também o desenvolvimento pessoal. Dizia-me um amigo já falecido (músico amador) que “cada um toca como é”. Raramente ouvi frase mais amigo já falecido (músico amador) que “cada um toca como é”. Raramente ouvi frase mais adequada, De facto, o que somos e como somos são provavelmente as maiores influências na adequada, De facto, o que somos e como somos são provavelmente as maiores influências na nossa aprendizagem e execução musical.

nossa aprendizagem e execução musical.

Enquanto alunos aconselho-os a tentarem perceber se estão no caminho certo, na forma Enquanto alunos aconselho-os a tentarem perceber se estão no caminho certo, na forma como são orientados, que assistam a masterclasses e observem quem toca e como toca. E que como são orientados, que assistam a masterclasses e observem quem toca e como toca. E que procurem saber de onde vêm os que têm melhor som, melhor técnica, melhor fraseio… E se procurem saber de onde vêm os que têm melhor som, melhor técnica, melhor fraseio… E se isso não os fizer mudar de professor, pelo menos fá-los-á ser mais exigentes com o seu isso não os fizer mudar de professor, pelo menos fá-los-á ser mais exigentes com o seu professor e com eles mesmos. Repito que não se trata de criar “seitas” seguidoras deste ou professor e com eles mesmos. Repito que não se trata de criar “seitas” seguidoras deste ou daquele professor mas sim de constatar factos. Volto a lembrar aquilo que eu vi em daquele professor mas sim de constatar factos. Volto a lembrar aquilo que eu vi em Matosinhos em 1986, quando fui assistir ao curso de Verão do Professor José Pina. Todos os Matosinhos em 1986, quando fui assistir ao curso de Verão do Professor José Pina. Todos os seus alunos presentes (bastantes) e cada um no seu nível, tocavam bem, percebia-se existir o seus alunos presentes (bastantes) e cada um no seu nível, tocavam bem, percebia-se existir o objectivo de determinado nível sonoro, técnico, de personalidade musical. Como é habitual objectivo de determinado nível sonoro, técnico, de personalidade musical. Como é habitual dizerem os que são anti-racismo, todos diferentes – todos iguais. Ali via-se o mesmo mas na dizerem os que são anti-racismo, todos diferentes – todos iguais. Ali via-se o mesmo mas na ordem inversa: todos iguais (nos conceitos, na identidade de classe) mas todos diferentes (na ordem inversa: todos iguais (nos conceitos, na identidade de classe) mas todos diferentes (na personalidade e no resultado artístico final). Sentia-se uma liderança e isto é fundamental. personalidade e no resultado artístico final). Sentia-se uma liderança e isto é fundamental.

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Várias vezes afirmei que se voltasse a estudar, voltaria a estudar com o mesmo professor, não Várias vezes afirmei que se voltasse a estudar, voltaria a estudar com o mesmo professor, não tinha qualquer dúvida disso. Felizmente isto veio a concretizar-se no mestrado. Durante vários tinha qualquer dúvida disso. Felizmente isto veio a concretizar-se no mestrado. Durante vários anos pensei em realizar este grau académico. Mas encontrar um curso que me preenchesse os anos pensei em realizar este grau académico. Mas encontrar um curso que me preenchesse os objectivos que perseguia, orientado artisticamente por alguém que acrescentasse algo objectivos que perseguia, orientado artisticamente por alguém que acrescentasse algo substancial, não era fácil. Entretanto na ESMAE foi criado o curso para a obtenção deste. Os substancial, não era fácil. Entretanto na ESMAE foi criado o curso para a obtenção deste. Os objectivos eram os que eu procurava e

objectivos eram os que eu procurava e o professor também.o professor também.

R.C.G.

-R.C.G. -Como escolhe um programa a interpretar num concerto? Como escolhe um programa a interpretar num concerto? A.C.

-A.C. - Como sabes realizei oComo sabes realizei o mestrado com a vida e obra de Leo mestrado com a vida e obra de Leo Brouwer como pano de fundo. Das Brouwer como pano de fundo. Das várias coisas que li sobre este várias coisas que li sobre este personagem, há um conceito que personagem, há um conceito que retive a esse propósito. retive a esse propósito. Normalmente diz-se “Devemos tocar Normalmente diz-se “Devemos tocar para nós e se nos agradamos, para nós e se nos agradamos, agradamos aos outros”. Eu não agradamos aos outros”. Eu não partilho especialmente este partilho especialmente este conceito. Temos de tocar conceito. Temos de tocar obviamente para o público. E o obviamente para o público. E o conceito de Brouwer é o de que se conceito de Brouwer é o de que se tens mil pessoas no público, tens de tens mil pessoas no público, tens de tocar para essas mil pessoas. Isso faz tocar para essas mil pessoas. Isso faz com que tenhamos de orientar os com que tenhamos de orientar os nossos programas para o público que nossos programas para o público que iremos ter em cada concerto. Temos iremos ter em cada concerto. Temos uma alternativa: tocamos apenas o uma alternativa: tocamos apenas o que gostamos e arriscamo-nos a ficar em casa! Isto não significa propriamente fazer cedências que gostamos e arriscamo-nos a ficar em casa! Isto não significa propriamente fazer cedências a qualquer preço. Mas nem sempre os actores representam dramas estando tristes ou a qualquer preço. Mas nem sempre os actores representam dramas estando tristes ou comédias estando alegres. Por vezes não apetece. Uma das características da nossa actividade comédias estando alegres. Por vezes não apetece. Uma das características da nossa actividade é representar. E há muita música simples e de grande qualidade. É claro que se o concerto é é representar. E há muita música simples e de grande qualidade. É claro que se o concerto é inserido num determinado festival mais específico, podemos escolher um programa mais inserido num determinado festival mais específico, podemos escolher um programa mais profundo, teremos um público mais entendido. Mas se tocarmos noutros locais, teremos de profundo, teremos um público mais entendido. Mas se tocarmos noutros locais, teremos de apresentar outro repertório, ou correremos o risco de, em cem pessoas, ter dez interessadas e apresentar outro repertório, ou correremos o risco de, em cem pessoas, ter dez interessadas e noventa a bocejar.

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Guitarra Clássica Guitarra Clássica R.C.G.

-R.C.G. -Quais são os seus projectos a nível artístico para Quais são os seus projectos a nível artístico para o futuro? o futuro? A.C.

-A.C. - Eu continuo a considerar-me um guitarrista ecléctico. Por isso vou participando nosEu continuo a considerar-me um guitarrista ecléctico. Por isso vou participando nos projectos que me vão chegando e que me oferecem pelo menos as seguintes características: projectos que me vão chegando e que me oferecem pelo menos as seguintes características: qualidade musical, bom ambiente de trabalho e prazer em fazer música. São os primeiros qualidade musical, bom ambiente de trabalho e prazer em fazer música. São os primeiros requisitos que procuro. A formação que mais me agrada é o duo de guitarras. O nível de requisitos que procuro. A formação que mais me agrada é o duo de guitarras. O nível de dificuldade do repertório pode ser tão grande como o de guitarra solo e interagir com alguém dificuldade do repertório pode ser tão grande como o de guitarra solo e interagir com alguém fascina-me mais do que interagir comigo próprio. O trabalho solitário não é algo que me fascina-me mais do que interagir comigo próprio. O trabalho solitário não é algo que me agrade preferencialmente. O duo de guitarras é uma formação muito equilibrada sobretudo ao agrade preferencialmente. O duo de guitarras é uma formação muito equilibrada sobretudo ao nível do volume sonoro. Falando no passado e justificando o prazer que sinto no duo de nível do volume sonoro. Falando no passado e justificando o prazer que sinto no duo de guitarras, afirmo que as duas situações em que melhor me senti em palco até hoje guitarras, afirmo que as duas situações em que melhor me senti em palco até hoje aconteceram no período em que toquei em duo

aconteceram no período em que toquei em duo com o Professor José Pina, nomeadamente nocom o Professor José Pina, nomeadamente no Festival de Guitarra de Santo Tirso e no Palácio de Santana em S. Miguel, nos Açores. Neste Festival de Guitarra de Santo Tirso e no Palácio de Santana em S. Miguel, nos Açores. Neste último, para além do prazer de tocar na formação preferida e com alguém que me transmitia último, para além do prazer de tocar na formação preferida e com alguém que me transmitia segurança, todo o entorno contribuiu: a

segurança, todo o entorno contribuiu: a acústica e estética da sala, o acústica e estética da sala, o público… Foi como comerpúblico… Foi como comer um prato de tal maneira bem confeccionado que no final te faz soltar um “AAAHHH” de um prato de tal maneira bem confeccionado que no final te faz soltar um “AAAHHH” de satisfação. Raramente se consegue tal nível de satisfação num concerto. Como disse, o satisfação. Raramente se consegue tal nível de satisfação num concerto. Como disse, o entorno contribuiu mas os principais factores foram os de

entorno contribuiu mas os principais factores foram os de tocar com quem toquei e em duo detocar com quem toquei e em duo de guitarras. Será por isso sempre esta formação

guitarras. Será por isso sempre esta formação o projecto que mais o projecto que mais perseguirei.perseguirei.

R.C.G.

-R.C.G. - Já há guitarrista para o duo? Já há guitarrista para o duo? A.C.

-A.C. - Estou a falar mesmo no abstracto. É evidente que se me perguntarem “Com queEstou a falar mesmo no abstracto. É evidente que se me perguntarem “Com que guitarrista gostarias de tocar?” eu responderia “com o Professor José Pina”. Não tenho guitarrista gostarias de tocar?” eu responderia “com o Professor José Pina”. Não tenho qualquer relutância em dizer isso. Sobretudo porque me agrada não ter de tocar sempre da qualquer relutância em dizer isso. Sobretudo porque me agrada não ter de tocar sempre da mesma forma. Os músicos não são

mesma forma. Os músicos não são máquinas. E num determinado momento a expressão mudamáquinas. E num determinado momento a expressão muda e os dois têm de saber ajeitar-se a esse momento. Não é fácil encontrar tal cumplicidade e os dois têm de saber ajeitar-se a esse momento. Não é fácil encontrar tal cumplicidade musical noutra pessoa. E a experiência que tive mostrou-me que não houve uma imposição musical noutra pessoa. E a experiência que tive mostrou-me que não houve uma imposição expressiva no que tocámos juntos. Houve uma orientação, claro. Quem sabe mais sente-se expressiva no que tocámos juntos. Houve uma orientação, claro. Quem sabe mais sente-se sempre na obrigação de orientar e os outros só têm de agradecer essa orientação. Mas se as sempre na obrigação de orientar e os outros só têm de agradecer essa orientação. Mas se as alterações expressivas partissem de mim em determinado momento dos concertos, eu sabia alterações expressivas partissem de mim em determinado momento dos concertos, eu sabia que quem estava ao meu lado reagiria em conformidade. Uma coisa é tocar com músicos. que quem estava ao meu lado reagiria em conformidade. Uma coisa é tocar com músicos. Outra é tocar com outros…