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Validação de Limpeza de Equipamentos Multipropósitos para Formas Farmacêuticas Líquidas: Caso da Zidovudina Xarope

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Academic year: 2021

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Aceptado el 19 de septiembre de 2005

PALAVRAS-CHAVE: Equipamento Multiuso, Formas Farmacêuticas Líquidas, Validação de Limpeza, Xarope, Zidovudina,

KEY-WORDS: Cleaning Validation, Liquid Pharmaceutical Forms, Multiproduct Facility, Syrup, Zidovudine.

* A quem toda correspondência deverá ser enviada. E-mail: ruialencar@yahoo.com.br

Validação de Limpeza de Equipamentos Multipropósitos para Formas

Farmacêuticas Líquidas: Caso da Zidovudina Xarope

João Rui B.de ALENCAR 1,2,*, Regina C. C. JIMENEZ 1, Rebeca SANTOS 1,

Selma V.V. RAMOS 1, Marco Aurélio O. de OLIVEIRA 1,

Amanda T.C. OLIVEIRA 1, Leduar G. de LIMA 1& Pedro J. ROLIM NETO 1,3 1Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco S/A - LAFEPE, Recife - PE, Brasil

Largo de Dois Irmãos, 1117 - CEP. 52171.011 - Recife - PE, BRASIL

2Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Centro de Tecnologia - Escola de Química Ilha do Fundão, Bloco E, 21949.900 - Rio de Janeiro - RJ - BRASIL

3Universidade Federal de Pernambuco - UFPE - Departamento de Ciências Farmacêuticas Av. Prof. Artur de Sá, S/N - Cidade Universitária - 50740.521 - Recife - PE-BRASIL

RESUMO. Neste trabalho apresenta-se uma estratégia para validação de limpeza de formas farmacêuticas líquidas. O produto escolhido para avaliação da estratégia foi a zidovudina, um medicamento antiretroviral apresentado na forma de xarope, produzido numa unidade multipropósito pelo LAFEPE® (Recife -PE, Brasil). Como método analítico para quantificação dos resíduos, utilizou-se um método validado por via espectrofotométrica cujo limite de quantificação de zidovudina foi de 0,89 ppm. A validação de limpe-za foi avaliada através da análise de águas de enxágüe. As concentrações residuais de zidovudina encon-tradas após a limpeza foram inferiores a 4,4 ppm, sendo que o critério de aceitação da limpeza utilizado foi de 5,7 ppm.

SUMMARY. “Cleaning Validation of Multiproduct Facility for Liquid Pharmaceutical Forms: Zidovudine Syrup

Case”. This work presents a strategy for cleaning validation of pharmaceutical liquid forms. The product chosen for evaluation was zidovudine syrup, an antiretroviral medicine produced in a multiproduct facility by LAFEPE® (Recife - PE, Brazil). The analytical method used for quantification of residues was spectrofotometry with quantification limit of zidovudine of 0.89 ppm. The cleaning validation was evaluated through the rinse sampling. The residuals concentrations of zidovudine were inferior to 4,4 ppm, while the acceptance criteria for cleaning validation was 5,7 ppm.

INTRODUÇÃO

A Zidovudina (AZT) é uma das drogas mais antigas e consagradas quando se trata do com-bate ao vírus da AIDS. Disponível comercial-mente na forma de cápsulas, xarope e solução injetável a zidovudina foi produzida, inicialmen-te, pelo laboratório GlaxoSmithKline sob o no-me de Retrovir®, e ao lado de outras drogas, tais como a estavudina, didanosina, lamivudina, constituem um grupo de substâncias - os antire-trovirais - sujeitas a controle especial e princi-pais responsáveis pelo estado avançado de con-trole da doença. Não menos rigoroso é o pro-cesso produtivo de medicamentos à base destes princípios ativos, em quaisquer formas far-macêuticas. A validação de limpeza dos equipa-mentos integrantes do processo produtivo de medicamentos antiretrovirais é requisito impres-cindível para assegurar que os produtos tenham

a eficácia e segurança esperada. Trata-se de um processo utilizado para assegurar que os proce-dimentos de limpeza de equipamentos, efetiva-mente removam os resíduos existentes até um nível de aceitação pré-determinado, garantindo que, após a limpeza dos equipamentos, o próxi-mo produto fabricado não contém nenhuma substância do produto anterior, isto é, que não haja contaminação cruzada 1,2.

Várias metodologias de validação de limpeza de equipamentos tem sido testadas 3-8, porém,

cada indústria tem desenvolvido seus próprios critérios e metodologias 9. Em artigo recente 10,

pesquisadores estabeleceram uma sistemática para validação de limpeza de equipamentos aplicada ao processo de fabricação de cápsulas de zidovudina produzidas por uma indústria far-macêutica pública no nordeste do Brasil. Apesar dos trabalhos anteriores, muito pouco ainda tem

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sido publicado sobre os métodos adotados nas indústrias para validação de seus processos de limpeza na indústria de medicamentos o que re-monta o caráter inovador do presente estudo.

Neste trabalho os autores uma estratégia pa-ra validação de limpeza de equipamentos de formas farmacêuticas líquidas aplicada ao pro-cesso de produção de zidovudina na forma de xarope do LAFEPE® - Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco S/A (Recife-PE, Bra-sil), medicamento inegrante da terapia antiretro-viral distribuído na rede pública pelo Sistema Único de Saúde do Brasil.

Uma das características principais da limpeza de equipamentos é que ela envolve tanto o pro-duto finalizado quanto o próximo propro-duto a ser fabricado no equipamento já limpo. Dentro dos princípios de Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos produtos reconhecidamente alta-mente sensibilizantes, como os antibióticos pe-nicilínicos, cefalosporínicos, não-beta lactãmi-cos, produtos oncológilactãmi-cos, produtos hormonais, por exemplo, devem ser fabricados em áreas exclusivas e independentes de outras classes de medicamentos, tendo em vista sua toxicidade. No presente estudo a indústria farmacêutica possui uma unidade produtiva de formas far-macêuticas sólidas exclusiva para a produção dos seus medicamentos antiretrovirais. Por outro lado, a mesma indústria, também produz um outro antiretroviral a zidovudina na forma de xarope que é fabricado numa unidade multi-propósito de formas farmacêuticas líquidas, que dada a sua baixa demanda torna inviável a fa-bricação numa planta de líquidos exclusiva para este fim.

Com a estratégia apresentada, o trabalho ganha também o objetivo de dar suporte e obter evidências que a fabricação do medicamento zi-dovudina xarope numa unidade multi-propósito poderá ser mantida e continuada sem prejuízo da integridade dos demais produtos fabricados na unidade. Desta forma, a escolha da zidovudi-na como forma de se avaliar o grau de limpeza dos equipamentos do processo de fabricação de formas farmacêuticas líquidas, não se prende so-mente a suas propriedades físico-químicas, mas e também, porque se constitui um produto úni-co da classe dos anti-retrovirais, supostamente altamente ativo, que é produzido numa unidade multi-propósito, para outras classes de medica-mentos, utilizando o princípio da produção em campanha, que pode ser utilizado, desde que, sejam tomadas todas as precauções de validação de limpeza e se garanta a inexistência de

conta-minação cruzada. Outro fator de escolha é, ima-gina-se, que a contaminação cruzada possa fa-vorecer a resistência a medicamentos anti-retro-virais os quais só dificultaria ainda mais a difícil terapia de combate a doença.

METODOLOGIA

A estratégia adotada neste trabalho, assume que estão disponíveis procedimentos operacio-nais padrnonizados para a limpeza de cada equipamento envolvido no processo, bem como operadores treinados para a adequada execução dos mesmos. Com esta premissa este trabalho consumiu as seguintes etapas:

Validação da Metodologia Analítica

A primeira etapa do processo de validação de limpeza adotado neste trabalho, foi assegurar que a metodologia analítica utilizada para quan-tificação de resíduos do princípio ativo, respon-de arespon-dequadamente nos níveis respon-de concentração próximos aos critérios de aceitação da limpeza. A metodologia analítica para determinação do teor de zidovudina xarope 10 mg/mL inscrita na farmacopéia Americana é via cromatografia lí-quida de alta eficiência (HPLC) 11. Neste

traba-lho, buscou-se a validação e utilização de uma metodologia alternativa, via espectrofotometria, aplicável tanto para doseamentos de rotina de produtos acabados ou de produtos em proces-so, quanto dos possíveis resíduos de zidovudina presentes no fluido de enxágüe dos equipamen-tos: A metodologia atende também ao critério de minimização do tempo das análises necessá-rias para validação da limpeza, uma vez que, tal parâmetro, possibilita um melhor uso das insta-lações de produção e a redução do tempo ne-cessário para troca de produtos. Utilizou-se um espectrofotômetro da marca SHIMADZU®, mo-delo UV-2401 PC equipado com detector ultra-violeta e cubetas de quartzo de 1,00 cm de ca-minho óptico e Zidovudina USP do lote “G” co-mo substância química de referência

A metodologia validada consiste basicamente em pipetar 10 mL do xarope de zidovudina e transferência para balão volumétrico de 100mL completando-se o volume com água destilada; após homogeneização, transfere-se 1mL para balão volumétrico de 100 mL e novamente com-pleta-se o volume com água destilada; esta so-lução terá aproximadamente 0,01 mg/mL; após homogeneização, procede-se leitura no espec-trofotômetro a 268 nm usando água destilada como branco.

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O procedimento analítico foi validado con-forme a legislação sanitária em vigor no Brasil

12. Foram avaliados parâmetros de linearidade,

precisão, exatidão, robustez e os limites de de-tecção e quantificação do método. A curva de li-nearidade obtida ao final da validação da meto-dologia analítica, foi utilizada para fornecer os níveis de concentração residuais das últimas águas de enxágüe dos equipamentos, conforme será descrito no item Critérios de Aceitação da Validação de Limpeza.

Processo de Fabricação

A Tabela 1 apresenta a formulação do produ-to e a função dos componentes na formulação. O processo de fabricação consiste na pesagem de cada componente e em reator com capacida-de acapacida-dequada para 1000 L, munido capacida-de agitador adiciona-se aproximadamente 500 litros de água purificada previamente aquecida a cerca de 45 °C para dissolução inicial do benzoato de sódio. Na seqüência e sob agitação adiciona-se a zido-vudina, o açúcar e a glicerina. Após completa dissolução, resfria-se a mistura até cerca de 25 °C e adiciona-se os demais componentes: ácido cítrico e essência de morango, completando-se o volume do reator para 1000 litros. A mistura é filtrada em membrana de 50 µm e após análises de controle em processo o produto é envasado em frascos de vidro âmbar de 200 mL.

Documentação do Processo de Validação

A validação é um ato documentado que ates-ta que qualquer procedimento, processo, equi-pamento, material, operação ou sistema, real-mente conduz aos resultados esperados 13. No

presente trabalho pretendia-se avaliar e garantir que os procedimentos de limpeza dos equipa-mentos já implantados, atendem aos requisitos das boas práticas de fabricação e não produzem quaisquer evidência de contaminação cruzada. Para tanto, o processo de validação foi

planeja-Matéria-Prima Função do Componente

na Formulação

Zidovudina Princípios Ativos Benzoato de Sódio Conservante Açúcar Edulcorante Glicerina Agente solubilizante Essência de Morango Edulcorante Ácido Cítrico Antioxidante

Água Purificada Veículo

Tabela 1. Composição do Produto Zidovudina e Função dos Componentes na Formulação.

do por uma equipe multidisciplinar, com profis-sionais das áreas de garantia da qualidade, pro-dução, manutenção e controle de qualidade. Os resultados dos testes de validação estão conden-sados em documento específico chamado rela-tório de validação os quais são reavaliados anualmente.

Procedimentos de Limpeza dos Equipamentos

Os procedimentos de limpeza são executa-dos a partir do reator de manipulação onde são empregados detergentes sob fricção e água po-tável. A água potável, armazenada no reator, é bombeada por todo o circuito até os bicos de enchimento da máquina de envase até seu com-pleto descarte, conforme Fig. 1. Num segundo momento, é feito novo enxágüe do mesmo cir-cuito com água purificada. O volume de água utilizado no processo de limpeza dos equipa-mentos é, em média 4000 litros. Após este pro-cesso de enxágüe, as partes móveis são des-montadas e ainda submetidas a lavagem isola-damente sem controle do fluxo de água.

Critérios de Aceitação da Validação de Limpeza

Um aspecto essencial na validação de limpe-za é determinar quanto de limpelimpe-za é suficiente. Apesar de, oficialmente, não endossar critérios adotados por indústrias farmacêuticas, o FDA (Food Drug Administration) dos Estados Unidos da América, faz referência a critérios adotados pela empresa Eli Lilly que estabelece os seguin-tes critérios 14: (a) O equipamento deve estar

vi-sualmente limpo; (b) Qualquer agente ativo do produto após a limpeza deve estar presente em níveis máximos de 10 ppm ou 10 µg/mL do produto após a limpeza em relação ao produto subseqüente. Ou (c) Qualquer agente ativo do produto após a limpeza deve estar presente em níveis máximos de 1/1000 da dose mínima diá-ria da substância ativa em relação à dose máxi-ma diária do produto subseqüente, calculado de acordo com a equação (1):

1 Z

L1 = . (1)

1000 W

Onde: L1= Limite no produto subseqüente em µg/mL (ppm), Z = Dose Mínima Diária do Produto a Ser Limpo e W = Dose Máxima Diária do Produto Subseqüente. Tendo como referên-cia as orientações acima os critérios de acei-tação da limpeza foram fixados.

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Visual

O controle visual foi feito por análise ma-croscópica, sob iluminação adequada, tendo co-mo critério de aceitação o equipamento está vi-sualmente limpo, isento de rastros ou partículas visíveis a olho nu.

Físico-Químico

Para escolhermos o limite de aceitação da quantidade de resíduos do princípio ativo en-contrado no equipamento após a limpeza leva-mos em conta o produto subseqüente, que no nosso caso foi uma suspensão antiácida de hi-dróxido de alumínio a 6,2%, fabricada após três lotes seqüenciais de zidovudina.

Para calcular o limite da substância ativa no produto subseqüente a ser fabricado é necessá-rio conhecer o valor da dose mínima diária da substância que está sendo limpa (Z), e a dose maxima diária do próximo produto a ser fabri-cado (W), conforme equação (1). Desta forma obtemos: Z = (5mL/dose) x (4doses/dia) x (10 mg/mL) = 200 mg/dia de zidovudina e W = (5 mL/dose) x (7 doses/dia) = 35 mL/dia de hidró-xido de alumínio.

Com estes números e utilizando a equação (1), obtemos o limite procurado L1 = 5,7 µg/mL ou 5,7 ppm, valor inferior ao limite sugerido de 10 ppm no Guia para Inspeções de Processos de Limpeza do FDA (Food and Drug Adminis-tration) 1. Como o limite de quantificação do

método analítico foi de 0,89 ppm (como vere-Figura 1. Fluxograma do Processo e Pontos de Amos-tragem da Validação de Limpeza.

Produto Concentração Dose Máxima Limite (L1),

Subseqüente mg/mL Diária (µg/mL) Pirazinamida 30 mg/mL 23,3 mL (*) 8,6 Salbutamol 0,4 mg/mL 20 mL 10,00 Mebendazol 20 mg/mL 10 mL 20,00 Polivitaminas 7,49 mg/mL (**) 15 mL 13,33 Sulfato ferroso 25 mg/mL (***) 9 mL 22,22

Tabela 2. Critério de Aceitação para outros produtos subseqüentes fabricados na mesma unidade.

(*) Equivale a 700 mg/dia; (**) Em Vitamina C, (***) Em Ferro Elementar.

mos adiante), implica que podemos utilizar o li-mite calculado de 5,7 ppm como o critério de aceitação da limpeza, pois o método possui a devida sensibilidade para quantificar resíduos de zidovudina nestes níveis de concentração.

Caso tivéssemos outro produto subseqüente distinto do hidróxido de alumínio dentre os pro-dutos que são fabricados na unidade, teríamos outros valores limites para o parâmetro L1. A Tabela 2 apresenta estes limites para outros pro-dutos subseqüentes:

Observa-se da Tabela 2 que para todos os casos de outros produtos subseqüentes, o valor do limite obtido é superior ao caso real aqui es-tudado do caso do hidróxido de aluminio o que configure a este, uma situação mais conservado-ra quando se pretende gaconservado-rantir a qualidade da limpeza dos equipamentos.

Microbiológico

Os limites de aceitação do Controle Micro-biológico da solução de enxágüe coletada nos 14 pontos da linha de produção foram os mes-mos utilizados para o controle da água purifica-da, isto é, não devem permitir uma contagem de bactérias heterotróficas maior que 100 UFC/ml além de garantir a ausência de patóge-nos através de metodologias farmacopéicas 15.

Amostragem e Procedimentos Analíticos

As principais vantagens no uso de amostras retiradas na última enxágüe dos equipamentos estão relacionadas ao fato de que estas cobrem grandes áreas e torna possível, a amostragem em locais de difícil acesso. Essa vantagem se acentua, se o fármaco for solúvel no solvente utilizado, uma vez que, espera-se, que a quanti-dade do fármaco presente na superfície dos equipamentos, normalmente avaliada através de amostras coletadas por swabs, seja muito mais baixa que a presente no fluído de enxágüe 16.

Quando se utiliza amostragem do último en-xágue, obtém-se das amostras analisadas uma concentração que se imagina estar relacionada com o nível resídual do fármaco que acabou de

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ser fabricado e que ainda está presente nos equipamentos. Estes resíduos são, pois depen-dentes da quantidade do fluido de enxágüe uti-lizada no procedimento de limpeza.

No presente estudo, utilizou-se o método de amostras do fluido de enxágüe, salientando que tal fluido foi água purificada. A utilização deste método justifica-se, tendo em vista a solubilida-de do fármaco zidovudina, da orsolubilida-dem solubilida-de 25 mg/mL à temperatura de 25 °C, bem superior à própria concentração do produto final na forma de xarope que é 10 mg/mL. Outro ponto a favor da escolha do método de águas de lavagem foi que a metodologia analítica validada foi desen-volvida utilizando a mesma água purificada co-mo fase móvel sem prejuízo da eficácia do mé-todo.

Os procedimentos de limpeza foram aplica-dos após a finalização do envase de três lotes consecutivos do produto zidovudina xarope, sendo recolhidos, após verificação do atendi-mento ao critério de aceitação visual, em cada ponto de amostragem, um volume de 400 mL (2 x 200 mL) utilizando frascos de vidro esteriliza-dos. Foram avaliados 14 pontos do circuito de produção, desde o reator de manipulação até os bicos de enchimento da máquina de envase, conforme fluxograma de processo apresentado na Figura 1. Para cada amostra coletada, filtrou-se e procedeu-filtrou-se a leitura direta da absorbância no espectrofotômetro. De posse da curva de li-nearidade do método analítico, obteve-se a con-centração equivalente a cada uma das absorbân-cias.

Critérios de Aceitação - Determinação dos Resíduos de Limpeza

Seja Va o volume em litros do fluido

utiliza-dos no processo de lavagem destes equipamen-tos; seja Vb litros o tamanho do lote do produto

subseqüente; seja Cb a maior concentração

den-tre as amostras coletadas e analisadas e Cf, a

concentração máxima do produto que está sen-do limpo no produto subseqüente, para se con-siderar a a inexistência de contaminação cruza-da.podemos relacionar estas variáveis através das seguintes desigualdades 17.

Cb Va

Cf= x (2) CfL1 (3)

F Vb

onde L1 é o limite no produto subseqüente em

µg/mL (ppm) calculado pela equação (1) e F um fator de recuperação igual a 0,7 conferindo ao método uma maior margem de segurança.

Após a determinação da maior concentração

obtida em todos os pontos analisados e supon-do ser esta a concentração uniforme por tosupon-do o circuito e, de posse dos volumes médios de água de lavagem (Va=4000 litros) e do volume do lote de hidróxido de alumínio, produto sub-seqüente, (Vb = 5000 litros) pode-se obter a concentração residual - Cf - para a zidovudina pela equação 2 e compará-las ao limite L1 atra-vés da equação (3).

RESULTADOS

Validação da Metodologia Analítica

A curva de linearidade do método analítico, absorbâncias versus concentração, apresentou-se adequada na faixa de concentração estudada de 1 a 15 ppm, obtendo-se um coeficiente de correlação para um modelo linear da curva mé-dia de R2= 0,9997, com equação característica Y

= 0,0364.X-0,0022, onde Y representa as leitu-ras das absorbâncias e X a concentração de zi-dovudina presente nas soluções expressas em ppm ou µg/mL. Os dados para construção da curva de linearidade do método analítico estão apresentados na Tabela 3. Concentração (ppm) Absorbâncias (n=3) CV X Y + desvio padrão (%) 1,0 0,034 ± 0,00170 4,330 2,0 0,071 ± 0,00100 1,333 5,0 0,177 ± 0,00142 0,710 7,5 0,278 ± 0,00278 1,450 10,0 0,367 ± 0,00194 1,300 12,5 0,454 ± 0,00187 0,270 15,0 0,551 ± 0,00414 1,460 Tabela 3. Linearidade do Método Analítico Espectro-fotométrico (3 curvas).

Os limites de quantificação (LQ) e detecção do método analítico foram calculados com base na equação da reta apresentada acima e equações 4 e 5 previstas no regulamento especí-fico (Brasil 2003 b).

10 . σ 3,3 . σ

LQ = (4) LD = (5)

S S

onde σ é desvio padrão médio dos três níveis de concentração mais baixos da curva de linea-ridade e S é o coeficiente angular da equação característica. Os valores dos limites de quantifi-cação e detecção, obtidos desta forma foram respectivamente 0,89 e 0,29 ppm. E ainda, além de especificidade, isto é, não influência do pla-cebo preparado só com os excipientes da for-mulação, precisão e exatidão adequadas.

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A precisão do método foi avaliada através da repetibilidade de seis amostras individuais. Os resultados estão agrupados na Tabela 4.

Amostra Absorbância Concentração %

01 0,364 94,97 02 0,362 94,44 03 0,362 94,44 04 0,362 94,44 05 0,364 94,97 06 0,362 94,44 Média 0,363 94,62 CV% 0,28 0,29

Tabela 4. Avaliação da Precisão, através da repetibili-dade.

A exatidão é avaliada pela equação (5) (Bra-sil, 2003b) e mede a resposta do método em re-lação a concentrações teóricas. No presente tra-balho esta foi avaliada em triplicata em dois dias distintos nas concentrações de 50, 100 e 150% do valor rotulado; os seus resultados estão agru-pados nas Tabelas 5 e 6.

ConcentraçãoMédia

Exatidão = . 100% (5) ConcentraçãoTeórica

A especificidade do método foi avaliada me-diante a leitura da absorbância de soluções pre-paradas a partir de um placebo composto pelos excipientes do medicamento, seguindo o mes-mo procedimento. Para ames-mostras em triplicata, todas as leituras obtidas apresentaram valor “ze-ro” de absorbância, indicado a especificidade do método.

Validação de Limpeza. Determinação de Resíduos de Zidovudina

Para verificação do grau de limpeza dos equipamentos do processo, a equação que re-presenta a linearidade do método analítico - Y = 0,0364.X-0,0022 - foi escrita da forma X = 27,473.Y+0,0604, para determinação das con-centrações associadas a cada uma das leituras

Concentração % Dia Concentração % Média CV%

50 1 55,18 55,44 54,68 55,10 0,700 100 1 98,73 98,98 98,73 98,81 0,1400 150 1 146,83 147,84 146,33 147,00 0,590 50 2 50,39 50,13 51,19 50,57 1,100 100 2 98,14 99,20 98,40 98,47 0,560 150 2 147,94 151,99 151,99 151,10 1,020

Tabela 5. Avaliação da Exatidão do Método Espectrofotométrico - entre dias.

Concentração Média Exatidão

% dos Dias %

50 52,83 105,66

100 98,64 98,64

150 149,05 99,36

Tabela 6. Avaliação da Exatidão do Método. das absorbâncias das soluções com os resíduos de zidovudina.

Todos os equipamentos envolvidos no pro-cesso foram aprovados no critério de “visual-mente limpo”, isto é, não se observou a olho nu a presença de quaisquer resíduos do medica-mento em todas as corridas. A Tabela 7 detalha as concentrações (Cf), obtidas em cada um dos pontos amostrados dos equipamentos, conside-rando o fator de recuperação F de 70%. E os vo-lumes médios de água de enxágue - Va=4000 litros - e o volume do lote padrão de hidróxido de alumínio, produto subseqüente, - Vb = 5000 litros.

Os dados farmacocinéticos da zidovudina afirmam que trata-se de um fármaco com volu-me de distribuição no organismo da ordem de 1,6±0,6 (L/kg), o que, para um homem típico de 70 kg, representa um volume da ordem de 112 ± 42 (L) 18; outra informação importante para

avaliar a significância dos níveis residuais de zi-dovudina após a validação de limpeza, é que a menor concentração de zidovudina capaz de ainda promover alguma atividade farmacológica num indivíduo normal é igual a 0,001 µg/ML 19.

Baseado nestas informações e observando da Tabela 7, que a maior concentração encontrada nas análises da validação de limpeza foi de 4,4 µg/mL (4,4 ppm) (1º lote), estimou-se a concen-tração plasmática da zidovudina absorvida aci-dentalmente na forma de contaminação cruzada da seguinte forma:

µg mL 1 µg

4,4 x 5,0 x mL–1= 0,000196

mL 112000 mL

Observando que todo o resíduo de zidovudi-na absorvido chega izidovudi-nalterado à corrente

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san-güínea e que a dose administrada do produto subseqüente foi de 5 mL.

O valor encontrado de 0,000196 µg/mL é cer-ca de 80% menor que a menor concentração (0,001 µg/mL) capaz de causar ação farmacológi-ca. Portando os níveis residuais do fármaco após a limpeza atendem aos critérios de aceitação aqui apresentados. Vale salientar que a grande maioria dos pontos de amostragem apresenta-ram valores residuais do fármaco ainda menores que os considerados no cálculo acima, o que re-presenta uma condição mais conservadora.

Avaliação Microbiológica

Do ponto de vista microbiológico, as águas de lavagem recolhidas ao final de cada lote fa-bricado de zidovudina xarope, foram avaliadas para verificação da contagem de bactérias hete-rotróficas e presença de microorganismos pa-togênicos. Os resultados das amostras de cada lote estão apresentados na Tabela 8. Analisando os números desta tabela, observa-se que há pe-quena variabilidade entre lotes; apesar de

valo-Ponto de Coleta Média da Média da Média da Desvio

Equipamentos (Vide concentração concentração concentração Padrão

Figura 1) 1º Lote (ppm) 2º Lote (ppm) 3º Lote (ppm) (σ)

REATOR Ponto 1 4,4 2,95 2,98 0,687 (Dreno Inferior) Ponto 2 BOMBA (Sucção) 0,29 0,42 0,40 0,07 Ponto 3 (Descarga) Ponto 4 FILTRO (Montante) 0,24 0,32 0,55 0,161 Ponto 5 (Jusante) Ponto 6 (Bico de Envase) Ponto 7 (Bico de Envase) Ponto 8 (Bico de Envase) Ponto 9

MÁQUINA (Bico de Envase)

DE ENVASE Ponto 10 2,81 2,20 1,89 0,468 (Bico de Envase) Ponto 11 (Bico de Envase) Ponto 12 (Bico de Envase) Ponto 13 (Bico de Envase) Ponto 14 (Bico de Envase)

Tabela 7. Médias das Concentrações Residuais determinadas experimentalmente entre lotes.

res um pouco superiores aos lotes analisados isoladamente, porém não comprometem os cri-térios de aceitação estabelecidos e conseqüente-mente a limpeza dos equipamentos.

CONCLUSÕES

O presente trabalho possibilitou a utilização de metodologias analíticas alternativas para a validação de processos de limpeza de equipa-mentos utilizados na fabricação de formas far-macêuticas líquidas. Através de método espec-trofotométrico, pôde-se quantificar os níveis re-siduais do medicamento antiretroviral.zidovudi-na após a limpeza destes equipamentos obten-do-se valores não superiores a 4,4 µg/mL. Tais níveis de concentração atenderam aos requisitos dos critérios de aceitação de visualmente limpos e inferiores a 5,7 ppm (µg/g) limite calculado do produto zidovudina no produto subseqüen-te. Pôde-se verificar também que os níveis resi-duais de zidovudina, ainda presentes nos equi-pamentos ou transferidos para o produto subse-qüente, estiveram em concentrações inferiores a

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menor concentração do fármaco capaz de pro-vocar qualquer ação terapêutica. A estratégia utilizada para validação da limpeza mostrou-se simples, rápida e eficaz podendo ser aplicada para outras formas farmacêuticas.

Os resultados da presente validação, forne-cem evidências que a fabricação do medicamen-to zidovudina xarope, produzida por campanha numa unidade multipropósito, não promove contaminação cruzada dos demais produtos de outras classes terapêuticas e, conseqüentemente, não compromete as boas práticas de fabricação e a desejada segurança dos medicamentos fabri-cados na mesma unidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ponto de Média Bactérias Média Bactérias Média Bactérias Desvio

EQUIPAMENTO Coleta Heterotróficas Heterotróficas Heterotróficas Padrão

(Vide Figura 1) 1 º Lote 2 º Lote 3º Lote (σ)

REATOR Ponto 1 Ausentes 0,52 UFC/ml 0,47 UFC/ml 0,2868

BOMBA Ponto 2 Ausentes 0,70 UFC/ml 0,30 UFC/ml 0,3511

Ponto 3

FILTRO Ponto 4 Ausentes 0,26 UFC/ml 0,86 UFC/ml 0,4410

Ponto 5 Ponto 6 Ponto 7 Ponto 8 MÁQUINA Ponto 9

DE Ponto 10 0,58 UFC/ml 0,37 UFC/ml 0,51 UFC/ml 0,1069 ENVASE Ponto 11

Ponto 12 Ponto 13 Ponto 14

Tabela 8. Desvio Padrão (σ) das Médias da Contagem de Bactérias Heterotróficas por lote.

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