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Sebenta DC II / Sociedades Comerciais 2017/2018 DNB

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Introdução ... 3

Evolução Histórica até à Atualidade ... 3

NOÇÃO DE SOCIEDADE ... 8

Princípios Gerais das Sociedades ... 9

Elementos das Sociedades... 10

Tipos Societários ... 15

Personalidade Jurídica das Sociedades ... 23

Capacidade Jurídica das Sociedades ... 30

CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADES ... 36

Processo de Formação de Sociedades ... 40

Situações pré-societárias ... 42

Sociedades Irregulares Por Incompletude ... 43

Sociedades Irregulares Por Invalidade ... 48

SITUAÇÃO JURÍDICA DE SÓCIO ... 50

Direitos e Deveres dos Sócios ... 51

Obrigação de Entrada ... 53

Obrigações Acessórias e as Prestações Suplementares. ... 58

Suprimentos ... 62

Direito à Informação... 67

Participação nos Lucros e nas Perdas ... 71

Reservas ... 77

DELIBERAÇÕES SOCIAIS ... 78

Ata – art. 63º ... 80

Deliberações Ineficazes – art. 55º ... 82

Deliberações Nulas – art. 56º ... 83

Deliberações Anuláveis – art. 58º ... 87

Disposições comuns à Nulidade e à Anulabilidade – art. 60º ... 92

Eficácia do Caso Julgado – art. 61º ... 93

Renovação da Deliberação – art. 62º ... 93

ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO ... 95

Governo das Sociedades = Corporate Governance ... 95

Modelos de Governo ... 95

Administração ... 97

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Situação Jurídica dos Administradores ... 101

Responsabilidade Civil dos Administradores para com a Sociedade ... 105

Fiscalização ... 110

MODIFICAÇÕES DAS SOCIEDADES ... 111

Alterações do Contrato ... 111

Fusão de Sociedades – art. 97º e ss. CSC ... 113

Cisão de Sociedades – art. 118º e ss. CSC ... 118

Transformação de Sociedades – art. 130º e ss. CSC ... 119

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Introdução

Menezes Cordeiro: Direito das Sociedades é o ramo jurídico-positivo que regula as Sociedades e as questões conexas.

➢ Ordena e legitima o funcionamento das realidades de que se ocupa.

➢ Disciplina as relações que se estabelecem entre os sócios e assegura eficácia erga omnes da atuação societária.

➢ Regula os bens sociais, assegura a administração e a representação. Dá corpo à existência e ao funcionamento das sociedades.

Sociedades:

• Civis Puras – art. 980º CC

o Lógica civil que tem enfoque no contrato de sociedade, levantando a questão da personalidade jurídica.

o Preocupação do legislador civil é centrada no Negócio Jurídico e não na

Instituição/Entidade.

▪ Januário: embora estas categorias não são antagonistas uma da outra, tendo o Negócio Jurídico sempre bastante importância.

• Civis sob forma Comercial – regem-se pelo CSC • Comerciais – regem-se pelo CSC

Abrangência e importância das Sociedades Civis é menor face às Sociedades Comerciais – que

têm uma dinâmica, regulação e complexidade próprias.

Sociedades Comerciais têm 2 elementos essenciais – art. 1º CSC: 1. Objetivo ser a prática de atos de comércio

2. Adoção formal de um dos 5 tipos societários contidos no CSC.

➢ MC: elemento determinante pois o art. 1º/4 estabelece que a entidade que

adote um tipo de sociedade comercial rege-se pelo Direito das Sociedades, mesmo quando tenha por objeto exclusivo a prática de atos não-comerciais.

➢ Formalização das Sociedades Comerciais serve valores de certeza e segurança jurídica no âmbito do comércio societário e de imediata aplicabilidade das normas na concretização dos diversos tipos.

Evolução Histórica até à Atualidade

Inicialmente as Sociedades Comerciais surgiram nos códigos de comércio, como um contrato entre outros.

• Ao longo do séc. XIX e XX ganharam uma projeção que levou à retirada dos códigos de comércio e ao surgimento de leis extravagantes a regular estas matérias.

Evolução “institucionalizante” ou organizativa levou a uma autonomia desde Direito dotado de fontes próprias, com normas técnicas, diferenciadas e desenvolvidas, enformando uma dogmática societária.

• Antes do séc. XIX apenas havia enfoque no Negócio Jurídico e só a partir desse século é que se começou a haver uma preocupação com a Instituição.

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o Passagem do contrato à sociedade enquanto pessoa jurídica passa pelo fenómeno da Personificação1 – apesar de hoje o CSC dá um tratamento jurídico específico aos fenómenos de pré-sociedade: quando ainda não há Sociedade com personalidade jurídica (art. 5º CSC).

MC: O conceito atual de Sociedade é recente e surge no ponto de encontro de três poderosos

institutos (fatores histórico-culturais):

• Contrato romano de sociedade (societas) –surge como um contrato que traduzia uma relação de cooperação, entre duas ou mais pessoas

• Personalidade coletiva – conceito que sofreu uma evolução técnico-jurídica no período do racionalismo.

• Companhias coloniais dos séc. XVII e XVIII – exploração colonial foi levada a cabo através de companhias privadas (Inglaterra e Holanda), o que levou a que estas fossem os antecedentes mais diretos das Sociedades Anónimas.

CODIFICAÇÕES OITOCENTISTAS

Code de Commerce, 1807 – só conhecia 3 tipos de Sociedades Comerciais (Sociedade em nome coletivo; Sociedade em comandita; Sociedade anónima). Modelo tripartido que veio a enformar os diversos códigos comerciais subsequentes.

Influência do Code de Commerce francês precedeu a do próprio Código Civil – sob o signo pioneiro, o século XIX fez avançar a dogmática das sociedades comerciais (particularmente a das sociedades anónimas que operariam como matriz das restantes) e todo o esquema jurídico-científico das organizações privadas adveio, precisamente, dessa época.

➢ A primeira geração de códigos comerciais cumpriu exemplarmente a sua missão: além de ter permitido estabelecer as bases de uma ordem comercial e económica nova, ela deu azo a uma doutrina comercialista.

EXPERIÊNCIA PORTUGUESA

Teve início com as Companhias Coloniais, sendo a primeira a Companhia de Lagos, de 1444, que não era uma verdadeira companhia por faltar uma estrutura interna e não possuírem órgãos diferenciados.

➢ Foi com os descobrimentos que estas Companhias verdadeiramente despoletaram, sendo de destacar: Companhia Portuguesa das Índias Orientais (1587), Companhia para a Navegação e Comércio com a Índia (1629), Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649).

Marquês de Pombal opera inúmeras reformas e desenvolve a criação de Companhias – Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755), Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba (1759), Companhia Geral dos Agricultores dos Vinhos do Alto Douro (1756), Companhia Geral das Reaes Pescarias do Algarve (1773) – tendo diversos objetivos.

➢ MC: Portugal teve protagonismo na expansão mas faltou uma ciência jurídica que desse corpo a companhias capazes. O próprio modelo de expansão, baseado na iniciativa do Estado, levou à publicização das companhias, no sentido de as fazer instrumentos da soberania do Estado.

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5 Código Ferreira Borges, de 1833, continha disposições gerais que eram o embrião das regras sobre sociedades.

• Introduziu figuras jus-societárias mas não iguais às francesas: Companhias, Sociedades

e Parcerias Comerciais.

A Lei 22 de Junho de 1867, numa situação reforçada por diversas experiências estrangeiras (nomeadamente a francesa), consistia numa lei extravagante sobre as Sociedades Anónimas.

➢ O número de sociedades anónimas cresceu rapidamente.

A discussão da reforma do Código Comercial começou, praticamente, logo após a aprovação do Código Ferreira Borges, sendo a aprovação do Código Civil de 1867 um dos impulsos a esta reforma.

Em 1888 surge o Código Veiga Beirão, que demonstra uma sistematização da matéria atinente às Sociedades Comerciais de forma articulada e evoluída. Incorporou também o regime das sociedades anónimas.

A Lei 11 de Abril de 1901, com origem na receção do regime alemão das sociedades de responsabilidade limitada, consistia numa lei extravagante sobre as Sociedades por Quotas2.

➢ Este tipo societário teve grande sucesso, devido à estrutura económica do país, assente em pequenas empresas e na possibilidade que as sociedades por quotas têm de dar corpo a agremiações de tipo familiar.

Apesar de até aos anos 80 o quadro das Sociedades Comerciais ter sido mais ou menos estável, a evolução do Direito Português das Sociedades foi, no séc. XX, marcado por quatro grandes temas que exigiram novos contributos jurídico-científicos: a) fiscalização, b) codificação, c) mobiliarização e d) europeização.

a) Problema da fiscalização dominou largamente a panorâmica do Direito das Sociedades quase até às vésperas da preparação do CSC de 1986.

b) Necessidade de reforma foi sentida devido à perceção que os diversos aspetos contemplados no texto de Veiga Beirão não poderiam acompanhar o dinamismo do Direito Societário.

• Além de reafirmar que aproveita a experiência portuguesa e quer adaptar-se à evolução

recente marcada pela evolução tecnológica e informática, também pretende acolher as soluções adotadas no âmbito do projeto europeu.

• Assume também a orientação de não bulir com os conceitos comerciais provenientes da tradição de Veiga Beirão, mas, tem uma feição codificadora e vem revogar o essencial das normas pré-vigentes sobre sociedades comerciais, ordenando o respetivo material em função de critérios jurídico-científicos.

As Sociedades Cooperativas autonomizaram-se e deixaram de ser Sociedades Comerciais em sentido próprio, aprovando-se o Código Cooperativo em obediência a princípios próprios.

➢ Januário: não havia necessidade dessa autonomização e não atentava contra a dogmática se o CSC comportasse as Sociedades Cooperativas como tipo autónomo.

2 Que a doutrina discute se é uma Sociedade Capital ou uma Sociedade Pessoa.

➢ Januário: Sociedades Capitais com regime próprio – devido à responsabilidade dos sócios ser limitada. O regime das responsabilidades tem consequência na caracterização do tipo.

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Ao longo dos anos, o CSC foi sofrendo alteração devido ao desenvolvimento doutrinário e jurisprudencial do Direito das Sociedades, bem como com a publicação de diplomas complementares.

c) Código dos Valores Mobiliários levou à mobiliarização das Sociedades, tratando as sociedades, particularmente as comerciais, enquanto entidades emissoras de valores mobiliários.

➢ MC: foi demasiado longe e prejudicou o mercado de capitais.

d) Foi devido às pressões de se alterar a legislação para mais facilmente acomodar-se a adesão

à CEE que, em 1986, a parte das Sociedades Comerciais do Código Veiga Beirão é revogada e

surge o CSC.

➢ O Direito das Sociedades tem uma acentuada influência do Direito da União Europeia pois os grandes operadores económicos europeus são Sociedades.

o A necessidade de transpor sucessivas diretivas societárias tem constituído um motor fundamental de progresso do Direito das Sociedades.

LIMITAÇÕES CIENTÍFICAS

O CSC não teve um tempo de laboração, de estudo e discussão muito longo o que leva a que tenha algumas incongruências e assintonias.

• Insuficiências da Parte Geral prendem-se diretamente com as limitações científicas existentes no momento da elaboração do Código, incorrendo em problemas sistemáticos que não foi possível solucionar.

1) Há casos de previsões normativas específicas da parte geral que só se aplicam a certos tipos e não a todos – há situações reguladas na Parte geral que só na aparência têm aplicação aos diversos tipos de Sociedades Comerciais;

• Ex: art. 84º CSC

o Januário: disposição estranha pois está na parte geral e refere-se a “ações e quotas”.3

2) Há matérias na parte especial (dos tipos) que deveriam estar na Parte Geral e não estão – o que implica repetições e remissões entre tipos – há matéria geral que não está no local sistematicamente apropriado, acabando por ter de se repetir várias vezes, a propósito dos diversos tipos societários.

O CSC foi sendo alterado ao longo dos anos, havendo grandes alterações em 2006/2007 com o Simplex, não apresentando resolução destes problemas.

➢ Januário: mas no geral é um bom edifício normativo.

O CSC, apesar da sua vocação codificadora, não regula toda a matéria relativa às Sociedades Comerciais e há diversos aspetos que ficaram fora do código, como a regulação de instituições de crédito e sociedades financeiras, sociedades gestoras de participações sociais e etc.

3Januário: Importante para as Sociedades unipessoais por quotas. Traz à colação os cados do

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7 • Surge cada vez mais a necessidade de intercalar e articular o CSC com o Código dos Valores Mobiliários (caso de OPAs – articulação estreita dos 2 no caso de sociedades abertas4)

• Outros diplomas, como Cód Reg Com, RNPC, CIRE e etc., têm também aplicação no âmbito das Sociedades Comerciais.

MC: Direito das Sociedades tem vindo a alargar as suas fronteiras, de tal modo que acolhe as próprias associações e outras realidades numa ideia de “sociedade em sentido amplo”.

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NOÇÃO DE SOCIEDADE

CSC não tem noção de Sociedade5

Coutinho de Abreu: O CSC diz-nos quando é comercial uma sociedade, não nos diz o que é uma

sociedade, pressupondo esse conceito.

O art. 1º6 pressupõe que ela já esteja dada.

➢ Mas, o CC apenas dá noção do contrato de Sociedade.

o Januário: noção do art. 980º CC7 é importante mas não pode ser absolutizada/sacralizada, no sentido de se faltar um elemento da mesma já não há uma sociedade.

o Esta noção, no âmbito do Direito das Sociedades Comercias, é o ponto de partida mas não o ponto de chegada.

▪ Parte-se dela a priori mas atende-se ao edifício típico da Sociedade em questão e se tal não pode fazer desconsiderar alguns elementos do art. 980º8

Dogmática do Direito das Sociedades é uma articulação entre o substrato obrigacional e o substrato organizacional

➢ Coutinho de Abreu: é legítimo falar-se de ato jurídico e de

sociedade-entidade.

o Mas entre ato jurídico constituinte e entidade societária há uma íntima ligação: o ato faz nascer a entidade, que assenta geneticamente nele e por ele é disciplinada.

o No entanto, a organização e funcionamento interno da sociedade são independentes do ato de constituição (sendo regidos pela legislação societária).

As fontes aplicáveis às Sociedade articulam-se num sistema complexo.

Têm de atender ao Direito imperativo e supletivo, designadamente:

5 José Ferreira Gomes: que no fundo é um instrumento jurídico para desenvolver um projeto empresarial. 6 Define o âmbito de aplicação e o que são Sociedades Comerciais.

Nº2 – Princípio da Tipicidade

• Foge ao princípio da autonomia privada devido a razões que ultrapassam os intervenientes e afetam o comércio jurídico, havendo uma necessidade de certeza e segurança para terceiros

o Januário: em princípio adota-se a tipicidade, mas dentro de cada tipo societário há possibilidade dos intervenientes se comporem com alguma amplitude.

• Tem a implicação que o CSC se aplique às Sociedades Civis sob a forma comercial e às Sociedades Comerciais.

7 Dá a noção do que é um contrato de sociedade, mas, está pensada para a Sociedade Civil e tem enfoque

no Negócio Jurídico de Sociedade.

➢ Em Direito das Sociedades Comerciais tem sempre de se articular a lógica contratual (ligada ao NJ) e a institucional (ligada ao ente jurídico criado).

o Quando se fala em Sociedades Comerciais não é necessariamente acerca de pessoas jurídicas – o CSC tem disposições para entes em personalidade jurídica

o Quando se fala no ente jurídico “Sociedade Comercial” não se pode esquecer o contrato que instituiu essa mesma sociedade.

8 Por exemplo quanto ao lucro: há casos de non-profit making companies.

➢ Caso dos ACE, que amplamente cabem neste conceito – considerando um “direito das pessoas coletivas comerciais”.

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9 ➢ às regras sobre os tipos, às regras da parte geral, às regras aplicáveis aos casos análogos e princípios e regras do CC (art. 2º CSC), à analogia e à norma criada dentro do espírito do sistema, ao contrato de sociedade e estatutos e às deliberações dos sócios.

➢ Contraposição entre elementos normativos e a factos derivados da autonomia privada.

o Art. 2º CSC

▪ Diretriz metodológica com sequência específica de aplicação, perante

uma lacuna.

Princípios Gerais das Sociedades

AUTONOMIA PRIVADA – apesar de ter vários níveis de delimitação • Januário: não tem aplicação plena.

o Dimensão aplicativa deste princípio está limitado pelo princípio da tipicidade, na fase da constituição da sociedade.

o Este princípio assume maior relevância na fase de constituição da sociedade. o No caso das SA, há autonomia privada em relação a cada modalidade – divisão

de competências entre órgãos pode ser conformada com alguma autonomia. BOA FÉ E TUTELA DA CONFIANÇA – a tutela da confiança é um princípio operante da boa fé, que exprime em cada situação concreta os valores fundamentais da ordem jurídica.

• Tem diversas manifestações, sendo uma delas os deveres de lealdade entre sócios e administradores e etc. a realidade societária exige que as pessoas possam confiar umas nas outras, pelo menos funcionalmente.

o Januário: CSC trata as situações com formalismo excessivo, pelo que o sistema tem de dar resposta a isto ao atender à materialidade subjacente.

PRINCÍPIO DA LEALDADE – a relação de lealdade envolve uma relação de confiança na qual o polo ativo

(que suscita a confiança) é o indivíduo leal.

Se decompormos os elementos em que assenta a lealdade há duas bases:

• Previsibilidade da conduta – elemento subjetivo da prognose; atuação de uma parte que suscita a convicção na outra de uma preferência, entrega e investimento.

• Correção da conduta – elemento objetivo; observância de bitolas corretas de atuação. Os deveres de lealdade têm uma grande importância no direito privado.

No direito societário a lealdade tem manifestações em:

➢ Lealdade dos sócios entre si, lealdade dos sócios para com a sociedade, lealdade dos administradores para com a sociedade, lealdade dos administradores para com os acionistas.

Essas manifestações evoluíram no plano jurisprudencial e doutrinal distinguindo-se três áreas: a) lealdade exigível aos sócios (nas relações entre si e nas com a sociedade – impressa no

seu status de sócios);

b) lealdade da sociedade para com os sócios, c) lealdade requerida aos órgãos societários.

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Estas manifestações podem ser reconduzidas às exigências básicas do sistema – os valores fundamentais são assegurados nas diversas decisões concretas, donde a aproximação ao princípio geral da boa fé permite a dogmatização da ideia de sistema.

IGUALDADE E JUSTIÇA DISTRIBUTIVA – aflora em institutos como os do art. 22º/3, 22º/1, 56º/1/a, 321º, 531º e etc.

• Januário: lógica do capital em que numa sociedade, quem tem maior percentagem de capital tem maior poder do que os outros.

• Há instrumentos que põe em crise este princípio – normas imperativas para evitar certas situações (como pacto leonino do art. 22º/3 CSC).

o O art 24º, dos direitos especiais, é compatível com o sistema atendendo ao que for disposto no contrato de sociedade e tem de ser enquadrado quanto às vicissitudes societárias.

CONTROLO DO DIREITO SOBRE A ECONOMIA – o Direito não está ao serviço da Economia, sendo conformado pelas relações de força que nesta se estabeleçam.

• O Direito defende a concorrência e tutela as minorias – art. 76º/1, 77º/1, 86º/1. • Economia é instável pelo que o Direito tem de a regular.

MODO COLETIVO – regras básicas não se dirigem a seres humanos mas a entes coletivos, existindo, então, uma autonomia funcional e patrimonial deste sujeito de direito (centro próprio

de imputação de normas jurídicas). Também há mecanismos de limitação do risco.

• Januário: associado à personalidade coletiva – funcionando pelo paradigma da pluripessoalidade e associado às responsabilidades.

Elementos das Sociedades

Não havendo definição de Sociedade no CSC, partimos da noção civil do art. 980º CC de onde se decantam os elemos próprios da Sociedade Comercial a partir dos da Civil.

PESSOAL – fator humano subjacente à pessoa considerada.

Exigência de um elemento pessoal traduzido na pluralidade de sócios radica na ideia de

societas como contrato e no desenvolvimento da sociedade como ente autónomo, irredutível a

uma realidade humana singular.

➢ Agrupamento de sujeitos que compõe a Sociedade.

Boa parte das regras próprias das Sociedades Comerciais têm a ver com a necessidade de

acomodar os interesses de várias e distintas pessoas.

Esta pluralidade nem sempre se verifica – devido a eventos naturais (morte) ou fenómenos jurídicos (exoneração) – mas a lei exige que essa pluralidade seja reconstituída (art. 142º).

➢ Um desvio a isto é a possibilidade de se criar Sociedades Unipessoais9 – no entanto, a estrutura das Sociedades está marcada em função dessa pluralidade, que é existencial.

9 Coutinho de Abreu:

• Sociedades supervenientemente unipessoais – em regra é transitório e é admitido pelo art. 1007º/d CC e 142º/1/a, 270º-A/2, 464º/3 CSC

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11 o A Sociedade Comercial, na base da pluralidade de sócios, dá azo a esquemas

organizativos suscetíveis de dar forma jurídica a empresas que seguem determinados fins e que se deviam a essa base.

o Esses esquemas organizativos podem ser utilizados fora dos condicionalismos para os quais foram pensados e a carga do termo “sociedade”, culturalmente, é preferível a figuras como o EIRL.

Januário: não podemos absolutizar o art. 980º, mas, a regra é ainda a pluralidade de sócios. • Funcionamento das sociedades comerciais está estruturado numa lógica de pluralidade

– mesmo nas sociedades unipessoais o paradigma é o da pluralidade

Art. 488º permite um número singular.

Art. 273º (mínimo na SA são 5 pessoas) é a exceção ao art. 7º (mínimo para uma sociedade são

2 pessoas)

PATRIMONIAL – conjunto de bens que servem a sociedade

As Sociedades dispõem de um património ou conjunto de bens – coisas e direitos – unificados em função de determinado ponto de vista, tal como as Sociedades Civis Puras.

➢ Sociedade representa uma organização humana, com objetivos patrimoniais.

Entidade que exige um património próprio

A Sociedade adquire o direito (de crédito) às entradas, pelo que esse elemento integrará sempre o acervo patrimonial.

➢ Não há Sociedades sem obrigações de entrada e, portanto, sem um património daí resultante.

o Sem esse elemento real, as sociedades despareceriam enquanto ente autónomo,

transformando-se em meras articulações de serviços.

➢ Património da entrada dos sócios passa a ser o património da sociedade

o

Inicialmente, o património é constituído pelos direitos correspondentes às

obrigações de entrada dos sócios.

o

Depois, à medida que vai correndo a vida da sociedade, o património social

vai-se alterando com a entrada e saída de outros direitos ou bens e de obrigações

pecuniariamente avaliáveis.

TELEOLÓGICO

– finalidade do ente coletivo

Januário: atividade económica que não seja de mera fruição, traduzindo-se na prática de atos de comércio.

• Sociedades originariamente unipessoais – previsto pelo art. 270º-A/1, 488º/1 Art. 7º/2 CSC

➢ Evolução do pensamento jurídico desde a impossibilidade de se criar uma Sociedade Comercial com apenas uma pessoa singular (que levou ao surgimento do EIRL) até à aceitação dessa possibilidade.

➢ Influência da doutrina no sentido de considerar a lógica institucional – e não a contratual, que impedia formar o contrato de sociedade (pois para um contrato é preciso mais partes do que apenas uma).

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• Uma sociedade só existe porque tem um fim, ao serviço de seres humanos.

o A não ter um objeto (exterior), nenhuma razão existe para a subsistência da sociedade: levando à sua dissolução, legalmente prevista.

• Deve traduzir-se na prática de atos de comércio – art. 1º/2 CSC

Coutinho de Abreu: atividade económica (i.e., uma série ou sucessão de atos de onde resulta um lucro patrimonial10) que os sócios se propõem a exercer mediante a sociedade (ou propõem que a sociedade exerça). Deve ser uma atividade certa ou determinada e traduzida na prática de atos de comércio.

Enquanto a Sociedade Civil pura visa o exercício comum de certa atividade económico (art. 980º CC) a Sociedade Comercial tem como escopo a obtenção de lucros.

➢ Obtenção de lucros é o Objeto Mediato/final de qualquer sociedade.

o Para além dele, cada ente societário terá um fim ou Objeto Imediato: a concreta atividade económica a que se irá dedicar.

O objeto da Sociedade deve constar obrigatoriamente dos seus estatutos – art. 9º/1/d CSC. • Deve manter-se durante toda a vida da sociedade, basta ver que a sua realização

completa ou a sua ilicitude superveniente constituem casos de dissolução imediata dos entres societários (art. 141º/c, d).

O objeto da sociedade condiciona as deliberações dos sócios, sob pena de violação dos próprios estatutos sociais e baliza a atuação dos administradores.

Pode abranger uma ou mais atividades principais (objeto principal da sociedade), atividades secundárias (considerada nos estatutos sociais de forma subordinada – só faz sentido perante a primeira – ex: atividade principal é comércio de peixe e a secundária é o embalar) e atividades acessórias (teia de atividades acessórias que dão corpo à atividade principal – ex: sociedade tem um objeto económico e contrata trabalhadores para o realizar).

Fim da sociedade: escopo da sociedade é a obtenção, através do exercício da

atividade-objeto social, de lucros e a sua repartição pelos sócios.

Doutrina italiana afirma que não basta lucro objetivo (obtenção de lucro) e também é

preciso o lucro subjetivo (divisão pelos sócios).

o LUCRO = ganho traduzível num incremento do património da sociedade, sendo um valor patrimonial distribuível.

o Estes lucros são da sociedade mas destinam-se a ser divididos/distribuídos/repartidos pelos sócios.

Sujeição a perdas: casos em que os sócios podem perder e não lucrar não está contemplada pelo

art. 980º CC mas deve integrar-se nos elementos que caracterizam a sociedade, extraindo-se do

art. 994º CC e do art. 22º/3

10 Não podem ser atividades de mera fruição, tendo por objeto atividades de simples desfrute, de mera

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FORMAL

– concreta configuração ou organização de que a Sociedade se reveste

Do elemento formal deriva a organização – Sociedades Comerciais implicam uma estrutura interna, com órgãos diferenciados e esquemas de representação.

Princípio da Tipicidade das Sociedades Comerciais conduz a:

A. Numerus clausus de sociedades – não são possíveis esquemas societários não previstos na lei. Torna-se possível, pela interpretação, apurar concretamente quantos e quais os tipos societários existentes.

B. Natureza delimitativa de cada tipo – regras de cada tipo não podem ser afastadas pela autonomia privada. Cada um dos tipos tem um regime fechado.

C. Limitação da analogia – não se pode recorrer à analogia para constituir tipos diferentes dos previstos na lei.

A finalidade da tipicidade societária11 corresponde a um fenómeno de institucionalização de

regras antes dispersas, limitando a liberdade contratual.

➢ Januário: independentemente do contrato de sociedade e da adoção de um tipo societário, existe uma margem de autonomia privada – as regras que caracterizam a arquitetura do tipo têm de ser respeitadas, fora isso há lugar à autonomia privada – há margem de realização do contrato que pode ser trabalhada.

o O modelo legal pode ser tomado como um contrato-quadro, com um

considerável espaço para a conformação contratual das sociedades.

Função formal de permitir normalizar as decisões e função substancial de eticizar as relações

materiais entre os intervenientes.

Na escolha do tipo social cabe às partes ponderar diversos vetores em presença – aspetos fiscais, organizatórios, responsabilidade patrimonial e etc.

➢ O tipo societário é integrado por normas que têm a ver com os pontos seguintes: conformação da firma; regime de responsabilidade por dívidas; regras básicas de participações sociais;

Uma sociedade que tem por objeto a prática de atos de comércio, ainda quando não adote

um dos referidos tipos, é sociedade comercial – apesar de irregularmente constituída quando

falte essa adoção.

Para uma sociedade ser Sociedade Civil há-de ter exclusivamente por objeto uma

atividade não comercial, é o que resulta dos art. 1º/3 e 4 CSC.

Mas essa sociedade civil pode ser Sociedade Civil Simples ou de Forma Comercial (são

sociedades civis mas adotam um tipo comercial, sendo-lhes aplicável o CSC – art. 1º/4

12

)

Uma sociedade com objeto mercantil deve adotar, e só pode adotar, um dos tipos de

sociedades comerciais do art. 1º/3 CSC.

11 Januário: Com este princípio pretende-se aferir do regime da responsabilidade dos sócios. Ou seja, se

podem, e em que termos, é que os sócios da sociedade podem ser responsabilizados pelas dívidas da sociedade

12 Há sociedades que não podem adotar nenhum tipo de sociedade comercial: sociedades de advogados

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Portanto, tendo isto em conta:

→ Sociedade é a entidade que, composta por um ou mais sujeitos (sócios) tem

um património autónomo para o exercício de atividade económica, a fim de

(em regra) obter lucros e atribuí-los aos sócios – ficando estes, todavia,

sujeitos a perdas.

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Tipos Societários

Pedro Maia

Princípio da tipicidade constitui uma restrição ao princípio da autonomia privada, em especial na sua vertente de liberdade contratual (mesmo para aquelas que se estabelecem por negócio jurídico unilateral, como as sociedades unipessoais por quotas, art. 270º-A e ss., e anónimas, art. 488º).

➢ Partes não podem celebrar contratos de sociedade comercial diferentes dos previstos na lei.

o Mas, art. 1º/3 CSC deixa intacta a liberdade de contratar em sentido estrito e a liberdade da escolha das contrapartes no contrato.

No entanto, ainda há um espaço de liberdade que varia consoante o tipo de sociedade em causa: ➢ Observando um tipo e respeitando as normas de caráter imperativo que o regulam, as

partes podem conformar livremente o conteúdo do contrato de sociedade.

Este princípio da tipicidade aplica-se às sociedades cujo objeto consista apenas na prática de atos de comércio e também às sociedades que tenham um objeto misto, i.e., tanto pratiquem atos de comércio como atos não comerciais por objetivo – resulta a contrario do art. 1º/4 CSC.

• Aplica-se às criadas por negócio jurídico.

o As criadas ope legis podem desviar-se dos tipos previstos no CSC.

• Aplica-se o regime das Sociedades Comerciais devido a terem um dos tipos do CSC (art.

1º/2 e art. 1º/1).

Justifica-se pela tutela da segurança jurídica, em especial os interesses de terceiros.

➢ Compreende-se que o legislador só conceda aos sócios o benefício da limitação da

responsabilidade mediante a observância por estes de um tipo cujo regime se encontra pré-fixado na lei, sendo por isso, conhecido de todos.

o Sócios: Também se compreende devido ao afastamento da possibilidade de constituição de sociedades atípicas, que é um acréscimo de segurança e certeza

para os sócios na sua relação jurídica com a sociedade.

o Sociedade: No fundo, também protege a própria sociedade (ex: conflito entre sócios e a sociedade) – garante que a sociedade existe para prosseguir o seu fim da melhor maneira possível.

o “Interesse comercial geral”: Interesse público devido às sociedades serem os

instrumentos fundamentais da economia dos nossos dia e na medida em que o princípio da tipicidade torna a sua intervenção no tráfico jurídico muito mais estável e certa.

CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS TIPOS LEGAIS SOCIETÁRIOS

O tipo de responsabilidade assumida pelos sócios revela-se um elemento fulcral para a definição de cada tipo de sociedade, mas, a par desse elemento, a estrutura organizatória (definida na lei para cada um dos tipos) também é um elemento fulcral na definição de cada tipo.

Existe uma relação de mútua implicação entre a estrutura organizatória e a natureza da

responsabilidade dos sócios em cada tipo de sociedade – devido ao equilíbrio interno de cada sociedade

(16)

16

1. Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante credores sociais

SNC – SOCIEDADES EM NOME COLETIVO; art. 175º

Respondem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada

Respondem perante os credores da sociedade pelas obrigações desta – responsabilidade subsidiária face à sociedade e solidária entre os sócios (art. 175º/1)

• “subsidiariamente” – significa que exaurido o património social podem os sócios responder pelas dívidas da sociedade

o = Responsabilidade Ilimitada

• “solidariedade” – esses sócios respondem pelas dívidas da sociedade a terceiros de forma solidária

o Nos termos de uma obrigação solidária em que interpelado um responde por todos, tendo depois direito de regresso.

LDA. – SOCIEDADES POR QUOTAS; art. 197º e 198º

Art. 197º/1 e 3

Respondem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada e pela realização das entradas dos seus consócios.

Não respondem perante os credores da sociedade o = Responsabilidade Limitada

Mas o art. 198º permite estipulações contratuais distintas em que um ou mais sócios podem

responder perante os credores sociais até determinado montante.

➢ Esta possibilidade vem impedir a afirmação que a irresponsabilidade dos sócios perante os credores sociais é uma característica essencial da sociedade por quotas.

o É um traço-regra de caráter supletivo

O elemento nuclear é a limitação da responsabilidade – sócios podem responder por dívidas da sociedade, mas nunca podem responder ilimitadamente por essas dívidas.

• Esse determinado montante, da limitação, tem de corresponder +/- à atividade social,

não podendo ser desajustado da faturação da sociedade, uma vez que tal pode servir para mascarar o regime das responsabilidades, passando a ser ilimitado.

Januário: margem parametrizada, em que o sócio pode admitir responder perante credores da sociedade.

➢ Esses parâmetros são dados por contrato e até ao montante máximo coerente com o capital social (senão desvirtuava-se a norma e teríamos uma SNC)

SA – SOCIEDADES ANÓNIMAS; art. 217º Sociedade duplamente limitada:

• Internamente – Respondem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada apenas; não respondem por nenhuma dívida além da sua própria obrigação de entrada (art.

217º)

(17)

17 Sociedades em comandita simples

Existem 2 grupos de sócios:

• Comanditados – assumem uma responsabilidade igual à dos sócios das sociedades em nome coletivo

• Comanditários – respondem apenas pela sua entrada (art. 465º/1)

Por isso se fala que esta pode ser uma sociedade de tipo misto ou híbrido – reúne numa mesma sociedade sócios com responsabilidade limitada e outros com responsabilidade ilimitada.

Sociedades em comandita por ações Responsabilidade iguais às Sociedades em comandita simples.

➢ Diferenças entre os tipos não é na sede das responsabilidades

2. Transmissão de participações sociais inter vivos

Transmissão da Participação Social = venda da percentagem que o sócio detém no capital social da sociedade.

➢ Ao vender tudo, deixa de ser sócio, pois a qualidade de sócio é inerente à detenção do capital social.

➢ Se vender e ficar com 1% ainda é sócio. ➢ Implica a substituição de sócios

Tem de conciliar interesses antagónicos:

• o interesse do sócio que pretende transmitir a sua participação (pretendendo máxima liberdade para essa transmissão, de forma a mobilizar quando e como quiser o seu património e poder desvincular-se do grémio social);

• os interesses dos restantes sócios e da própria sociedade (pretendendo impedir a transmissão quando tal for indesejável).

A solução encontrada para a composição de tais interesses difere do tipo de sociedade, pois a medida/intensidade desses interesses também não é a mesma em todos os tipos.

SNC – SOCIEDADES EM NOME COLETIVO; art. 182º/1 + 185º/1/a

Primazia ao interesse dos sócios subsistentes na sociedade em não passarem a ter, sem o seu expresso consentimento, um novo sócio.

➢ Devido às consequências negativas que podiam advir da entrada de um estranho (indesejado) na sociedade.

LDA. – SOCIEDADES POR QUOTAS; art. 228º/2 + 242º-A

Regime supletivo para a cessão de quotas difere, pois, consoante a pessoa do cessionário: ➢ É livre a cessão para o cônjuge, ascendente ou descendente, bem como para outro

sócio;

(18)

18

Nos casos em que a cessão não é livre, o consentimento é dado pela sociedade e não pelos sócios – deliberação em que sócio alienante não pode votar.

Este regime pode ser amplamente derrogado no contrato de sociedade – art. 229º

• Pode tornar mais fácil ou menos fácil a transmissão de participações – conformação da sociedade especificamente está na autonomia dos sócios, aproximando-as mais das sociedades pessoas ou sociedades capitais.

Tutelam-se os interesses dos sócios que permanecem mas também do que quer sair, pois aquele a quem é recusado consentimento terá sempre a possibilidade de realizar, ao menos parcialmente, o seu interesse – art. 231º

Difere das Sociedades em Nome Coletivo pois há casos em que não é necessário o consentimento (os do art. 228º/2) e a grande diferença é que na Sociedade por Quotas o consentimento é dado

pela sociedade e não pelos sócios.

SA – SOCIEDADES ANÓNIMAS; art. 328º É em princípio livre, basta o sócio querer alienar a sua ação

Art. 328º/2 limita (nunca exclui) a transmissão das ações nominativas, mas não as ações ao

portador.

➢ Sócios podem limitar mas nunca excluir (enquanto nos outros tipos societários pode haver essa exclusão).

➢ Sujeito aos prazos do art. 329º - se forem ultrapassados a transmissão é livre

Lei deixou reduzido âmbito para derrogação do regime da liberdade, por via do contrato – compreende-se esta solução devido à Sociedade Anónima estar gizada para a disseminação do seu capital, o que impõe a fácil circulação das ações.

SNC = mais difícil; autorização de todos os sócios Lda. = difícil; autorização da sociedade (exceto alguns casos) S.A. = menos difícil; nenhuma autorização (pode é haver alguma limitação)

Sociedades em comandita; art. 469º/1 + 475º + 478º

3. Estrutura Organizatória

Coutinho de Abreu: órgãos sociais são centros institucionalizados de poderes funcionais a

exercer por pessoa/pessoas com o objetivo de formar/exprimir a vontade juridicamente

imputável às sociedades.

SNC – SOCIEDADES EM NOME COLETIVO; art. 189º e ss.

Poder supremo sobre a sociedade pertence à coletividade de sócios – à assembleia de sócios. ➢ Este órgão pode deliberar sobre todos os assuntos – art. 189º

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19 Aos gerentes cabe a administração da sociedade – art. 192º (+ 191º, 193º)

2 órgãos: administração (Gerência) + deliberação (Assembleia Geral)

➢ Todos os sócios são gerentes, à partida, devido a cada sócio poder vir a responder com o seu património

o Oneração do sócio é de tal ordem que justifica ele poder tomar as decisões na vida societária que podem vir a impactar o património da sociedade que possam comprometer o património dos sócios.

LDA. – SOCIEDADES POR QUOTAS; art. 246º-252º e ss. Existe o órgão coletividade dos sócios – Assembleia de Sócios.

➢ Delibera de forma unânime por escrito (art. 54º) e pode decidir mediante deliberação

em assembleia geral (art. 247º)

o Conjunto imperativo de competências que não podem ser remetidas para outro órgão – art. 246º/1

▪ Conjunto de competências supletivas – art. 246º/2 Gerência: art. 252º + 261º

Pode ainda ter o órgão do conselho fiscal: art. 262º ADMINISTRAÇÃO: Gerente (art. 252º)

DELIBERAÇÃO: Assembleia Geral (art. 248º)

FISCALIZAÇÃO: Conselho Fiscal (art. 262º), ou, Fiscal Único (que, a ser, é ROC – art. 414º) • Se não tiver Conselho Fiscal pode ter Revisor Oficial de Contas atendendo aos requisitos

do art. 262º/2 – na SNC não há este órgão devido ao regime da responsabilidade e etc. • Não tem sempre este órgão de fiscalização – só nestes casos e atendendo ao volume de

negócios.

o Quando não tem este órgão quem fiscaliza são os próprios sócios. SA – SOCIEDADES ANÓNIMAS; art. 278º

Pode estruturar-se segundo 3 modalidades distintas – art. 278º/1 a) MONISTA/LATINA

➢ Administração: um só Órgão (Conselho de Administração ou Administrador Único – art. 390º e ss.)

➢ Fiscalização: Conselho Fiscal (art. 413º/1) b) ANGLO-SAXÓNICA

➢ Administração: um órgão (Conselho de Administração)

i. Parte desses membros do conselho de administração integra um outro órgão de fiscalização (Comissão de Auditoria – art. 423º-B)

ii. Membros da comissão de auditoria, que é um órgão de fiscalização da sociedade são simultaneamente administradores membros do conselho de administração.

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20

➢ Construído sobre o modelo monista, do qual difere apenas na parte em que destaca do conselho de administração um outro órgão a quem compete genericamente fiscalizar a atividade da administração da sociedade.

➢ Aparentemente mantém-se idêntico tanto o quadro de competências como o estatuto individual dos administradores e o funcionamento do conselho de administração.

➢ Fiscalização: ROC (art. 446º + art. 413º/2)

Conselho de Administração (com Comissão de Auditoria) + ROC c) DUALISTA/GERMÂNICA

➢ Administração: dois órgãos (Conselho Geral e de Supervisão + Conselho de Administração Executivo –> art. 434º e ss. + 424º e ss.)

➢ Fiscalização: ROC (art. 446º) CAE + CGS + ROC

Existe sempre um órgão de coletividade de sócios que não tem as mesmas competências em todas as estruturas admitidas por lei.

• Não tem de compor-se por todos os sócios e pode haver ações preferenciais sem voto (art. 343º/1 e 379º/2) ou exigir número mínimo de ações (art. 379º/2 e 384º/2/a). • Não podem deliberar fora dos casos previstos na lei, sobre matérias de gestão da

sociedade – a não ser no caso do art. 373º/3. Sociedades em comandita

Por remissão dos art. 474º (simples) e 478º (por ações) aplicam-se as disposições relativas às sociedades em nome coletivo e às sociedades anónimas, em tudo o que não for contrariado por normas específicas destes tipos.

(21)

21 Resumo

4. Número mínimo de sócios

Art. 7º/2 – comportando exceções

Exigência de mais: sociedades anónimas (art. 273º) + comandita por ações (art. 479º)

Dispensa do mínimo: sociedades por quotas unipessoais (art. 270º-A) + anónimas unipessoais

(art. 488º/1 + 481º/1)

TIPOS DOUTRINAIS DE SOCIEDADES COMERCIAIS Sociedades Pessoas

Importância decisiva é a pessoa dos sócios no exercício da atividade social, e têm na sociedade em nome coletivo o seu protótipo.

• Cariz personalístico reflete-se em diversos aspetos do seu regime jurídico como o da transmissão de participações sociais por negócio inter vivos, transmissão mortis causa, exclusão da sociedade (art. 186º), deliberações por unanimidade (art. 194º), todos os sócios são gerente e etc.

• Em todos estes aspetos é bem patente a importância que a pessoa de cada sócio assume nesta categoria de sociedades.

Sociedades de Capitais

Importância decisiva não é o sócio mas sim a sua “participação de capital” ou o seu contributo patrimonial para o exercício da atividade societária.

• O paradigma é do da sociedade anónima.

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22

E as Sociedades por Quotas?

Regime legal muito flexível levado pelo legislador atribuir caráter meramente supletivo a muitas das normas que regulam estas sociedades.

➢ Devido a tal, os sócios podem atribuir à sociedade um caráter iminentemente capitalístico ou vincadamente personalístico.

o Concretamente, uma sociedade por quotas tanto pode pertencer a uma categoria como à outra, tudo dependendo das opções tomadas pelos sócios.

Em abstrato, o modelo que o legislador seguiu foi o da sociedade por quotas personalística – não afastando os sócios o regime supletivo fixado no CSC, esta sociedade apresenta-se como uma Sociedade de Pessoas.

Pedro Maia: esta distinção tem uma utilidade didática, em sede de interpretação e integração da própria lei (em que pode ser útil ter presente o figurino personalístico ou capitalístico seguido pelo legislador) e em sede de interpretação e integração de (cada) contrato de sociedade (de forma a se encontrar o sentido das cláusulas inscritas no contrato de cada sociedade e para mais facilmente encontrar-se o regime aplicável quando houver uma lacuna).

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23

Personalidade Jurídica das Sociedades

Formado o substrato societário (com os elementos) e cumpridos outros requisitos (registo),

a lei atribui personalidade jurídica às sociedades comerciais (e civis de tipo comercial).

Todas adquirem personalidade com o registo

13

O desenvolvimento geral da doutrina da personalidade coletiva constituiu um dos fatores de

sedimentação das Sociedades14

• Em Direito, pessoa é sempre um centro de imputação de normas jurídicas, i.e., um pólo de direitos subjetivos, que lhe cabem e de obrigações que lhe competem.

o MC: Definição sistemática, técnica e funcional: permite numa fórmula sintética, a articulação da personalidade com o direito subjetivo e os demais níveis da ordem jurídica. É unitária.

Ao lado da personalidade coletiva, tendencialmente plena (boa para todos os efeitos, dentro do

princípio da especialidade), existe uma personalidade coletiva rudimentar (operacional, apenas para os concretos âmbitos que a lei lhe atribuir).

• Às pessoas rudimentares podem aplicar-se regras próprias da personalidade coletiva, mas, apenas aquelas que surjam expressamente com essa dimensão.

o Fora do que a lei preveja, a pessoa rudimentar é substituída pelos titulares efetivos dos bens em presença.

o O modo coletivo deve ser apurado caso a caso.

• Pode haver um modo coletivo imperfeito – constituem-se figuras afins às pessoas coletivas.

A pessoa coletiva prossegue objetivos práticos, surgindo dotada de um substrato: uma organização de pessoas que a sirvam, bens de afetação e um objetivo geral.

• Esse substrato põe-se em marcha antes do ato formal atributivo da personalidade. • Direito reconhece a esse substrato em jogo, mesmo sem ter um reconhecimento formal.

o Determinadas potencialidades, enquanto sujeito de direitos.

Domina na doutrina a compreensão técnico-jurídica da pessoa coletiva – a ordem jurídica atribui às Sociedades a qualidade de sujeitos de direito, de autónomos centros de imputação de efeitos jurídicos.

➢ É uma construção técnico-jurídica

o CA: sendo realidade15 e não ficção – as pessoas jurídicas não são tratadas “como

se” fossem homens; esta realidade é jurídica de criação pelo direito e não social-antropomórfica.

13 Quanto às (novas) sociedades resultantes de fusão ou de cisão, também adquirem personalidade com o registo

respetivo (art. 112º, 120º).

O mesmo se entende quanto às sociedades civis de tipo comercial, resultantes da transformação de sociedades civis simples (art. 130º/2, 6).

14 Quanto à cessação da personalidade: dissolução e a liquidação

➢ Uma vez constituída, a personalidade coletiva mantém-se até à superveniência de uma dissolução e ao término da liquidação.

➢ Com efeito, ainda que em liquidação, a sociedade mantém a sua personalidade (art. 146º/2): a extinção sobrevém, mesmo entre os sócios, com o registo do encerramento da liquidação (art, 160º/2).

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24

➢ Não tem carga ético-axiológica que a personalidade das pessoas singulares encerra, importando indagar o sentido-função (o porquê-e-para-quê da personalidade coletiva):

o Pessoa coletiva é meio simples e eficaz para prover a interesses coletivos ▪ Não é condição suficiente nem necessária: existem sociedades

unipessoais.

▪ Podem promover interesses pessoais (relativos à limitação de responsabilidade).

o Pessoa coletiva tem certos atributos e consequências (como a responsabilidade própria)

▪ Nada disto é exclusivo das pessoas coletivas – entes não personalizados, como sociedades antes do registo definitivo, também os podem ter.

Portanto, nem todos os sujeitos de direitos, deveres e situações jurídicas têm de ser pessoas –

personalidade coletiva, enquanto

conceito expressivo de autónoma subjetividade, não deve ser

absolutizada.

CA: Papel do conceito de “Pessoa Coletiva” é Normativo

• Conteúdo significativo mínimo de autónoma subjetividade jurídica auxilia em tarefas de interpretação, integração e aplicação do direito.

• Função ideológica – quanto à limitação da responsabilidade.

o Graças ao conceito de pessoa jurídica, a responsabilidade limitada pode ver-se

já não como “privilégio” (exceção ao princípio geral da ilimitada

responsabilidade patrimonial do devedor) e transforma-se, ela própria, na

aplicação do princípio geral (pois o património da pessoa jurídica sociedade

responde ilimitadamente perante os devedores).16

CONSEQUÊNCIAS DA PERSONIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES – art. 5º CSC

A sociedade é uma “pessoa”, uma entidade destinatária de normas jurídicas e, portanto, capaz

de ser titular de direitos subjetivos ou de se encontrar adstrita a obrigações.

➢ A sociedade pode autodeterminar-se, no espaço de legitimidade conferido pelos direitos de que seja titular e, deve agir, no campo das suas adstrições.

Quais as consequências de ser um polo de direitos subjetivos, que lhe cabem e de obrigações, que lhe competem?

1) As sociedades têm direitos e deveres próprios, irrepercutíveis nos sócios;

2) Os atos dos administradores, praticados nessa qualidade, sejam eles lícitos ou ilícitos, são imputados, apenas, à sociedade;

3) Pelas dívidas da sociedade respondem os bens desta;

4) Os credores individuais do sócio não podem responsabilizar os bens da sociedade: só a participação social;

5) O sócio não pode dispor dos bens da sociedade: só da sua participação social;

16 Januário concorda com Coutinho de Abreu

➢ Januário: todas as sociedades acabam por ser de responsabilidade ilimitada – a discussão gira em torno de saber até que ponto os sócios podem responder pelas dívidas da Sociedade (e se os sócios podem ser responsabilizados pelos credores).

(25)

25 6) Os credores da sociedade preferem sobre os bens sociais, no confronto com os credores

individuais dos sócios.

Quanto a deveres próprios, salientam-se as obrigações públicas, relacionadas com o RNPC, com a tributação e com a prestação de contas e as privadas, derivadas da lei e dos contratos celebrados através dos órgãos públicos.

No plano dos direitos próprios, irrepercutíveis nos sócios (1), há direito ao bom nome e à honra? Não há dúvidas quanto ao: Direito ao nome (à firma), que acompanha todas as sociedades comerciais, como elemento essencial – art. 9º/1/c CSC.

Art. 12º/2 CRP determina que as pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos direitos compatíveis com a sua natureza.

➢ MC: Não ficam por isso excluídos, o direito ao bom nome, o direito à honra.

o É possível concluir que a sociedade, por um lado, é titular de direitos de personalidade, como também tem a necessária capacidade para intentar uma ação que garanta que os mesmos estão a ser respeitados.

No direito ao bom nome/honra como uma proteção externa.

➢ As pessoas coletivas não têm um substrato humano que lhes permita o sofrimento da construção da dimensão interna, mas temos a dimensão externa: a dimensão da honra tem impacto na sua rentabilidade, na sua possibilidade de desenvolver a atividade comercial; tem impacto no bom nome/reputação na praça

Tendo em conta a existência deste direito, quando ele é violado surge como Dano Patrimonial ou Dano Não Patrimonial/Moral?

➢ Art. 484º CC

o Questão prévia é averiguar se este artigo é extensível às Sociedades Comerciais. ▪ Maioria da doutrina entende que sim, pois o Bom Nome da Sociedade

influencia a sua atividade comercial.

1. Para uma corrente jurisprudencial a ofensa do bom nome e reputação das sociedades comerciais apenas releva como dano patrimonial indireto17, não sendo por isso suscetível de

indemnização por danos não patrimoniais.

• Invocando-se que o bom nome e reputação das sociedades comerciais apenas interessam na medida da vantagem económica que deles podem retirar

• STJ 27/11/2003; STJ 9/6/2005; STJ 23/1/2007

17 STJ, 6 de julho de 2011, Rel. Gabriel Catarino

➢ A ofensa do bom nome e reputação das sociedades comerciais só releva enquanto dano

patrimonial indireto – não é suscetível de indemnização por danos não patrimoniais.

➢ O bom nome e a reputação das sociedades comerciais apenas interessam na medida da

vantagem económica que deles podem retirar TRG, 16 de fevereiro de 2017, Rel. Higina Castelo

➢ Este Acórdão admite que as pessoas coletivas possam ter direitos de personalidade, como ao crédito ou ao bom nome, mas que jamais estes possam causar danos não patrimoniais. Quanto muito, podem causar danos patrimoniais indiretos

(26)

26

2. Para outra corrente, é possível reconhecer às sociedades comerciais o direito a indemnização por danos não patrimoniais

• São sujeitos autónomos de direito, dotados de personalidade jurídica e têm interesse em defender o seu bom nome comercial, o seu prestígio, a sua credibilidade, enfim, a sua imagem, pois daí pode depender em grande medida o sucesso da sua atividade • STJ 5/10/2003; STJ 12/2/2008; STJ 21/5/2009; STJ 12/5/2010; STJ 17/6/2010

António Pinto Monteiro: danos não patrimoniais não são transponíveis para as pessoas coletivas, pois elas não têm as características da pessoa humana (as sociedades não choram).

➢ A própria índole do dano não patrimonial pressupõe que a vítima possa sofrer, ter dores, ter sentimentos e emoções. O dinheiro com que se visa compensar esse dano também pressupõe estes sentimentos – ou seja, pressupõe a capacidade de chorar e de rir ➢ As pessoas coletivas não podem sofrer danos de natureza não patrimonial, posição mais

adequada ao princípio da especialidade de fim dessas pessoas

o Portanto, não pode valer na mesma lógica e tem de se valorar de forma

diferente, como dano patrimonial indireto.

E se o dano for produzido em duas esferas distintas (dum sócio e da sociedade)?

Além da Sociedade, o Sócio pode pedir uma indemnização – mas tem de ser aferido que através do ataque à sociedade o sócio sofreu repercussões na sua esfera jurídica.

➢ Ex: sociedade e sócio têm mesmo nome.

A personalização das sociedades significa, no fundo, que os direitos e deveres dos seus sócios são tratados em modo coletivo.

➢ Ou seja: embora os seres humanos sejam sempre, em última análise, os únicos destinatários possíveis de normas jurídicas, a personalidade coletiva permite que, através de novos jogos de normas, os direitos e deveres daí resultantes sejam exercidos e acatados através de uma organização própria.

LEVANTAMENTO/DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Separação da pessoa coletiva dos seus sócios (outros autónomos sujeitos de direito) não deve obnubilar-nos.

➢ A sociedade não vive por si e para si, antes existe por e para os sócios sendo instrumento destes.

Esta substancialista consideração da personalidade coletiva abre vias à desconsideração da personalidade coletiva, levando por vezes ao levantamento do véu da personalidade que derroga o princípio da separação.

• Menezes Cordeiro: Instituto que surgiu a posteriori para sistematizar e explicar diversas soluções quanto a problemas da personalidade coletiva.

o Este instituto surge como consequência da personalidade coletiva. o Na sua origem encontra-se uma multiplicidade de casos concretos. Desconsideração da Personalidade Coletiva das Sociedades: derrogação ou não observância da autonomia jurídico-subjetiva e/ou patrimonial das sociedades em face dos respetivos sócios.

Tal desconsideração legitimar-se-á através do recurso a operadores jurídicos como a

interpretação teleológica de disposições legais e negociais e o abuso do direito, auxiliado

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27

pela conceção substancialista, não formalista nem absolutizadora da personalidade

coletiva (não há fronteira intransponível entre sociedade e sócios).

Grupo de Casos de Imputação – determinados conhecimentos, qualidades ou comportamentos

de sócios são referidos ou imputados à sociedade e vice-versa.

➢ Ex: trespassário cria sociedade unipessoal para violar obrigação de não concorrência; venda da totalidade das participações sociais não se identifica com a venda da empresa social; venda de bens a filhos ou netos (art. 877º); nulidade ou anulação de certos negócios jurídicos inoponíveis a terceiros de boa fé (art. 291º) como as exceções extra-cartulares; conflito de interesses.

Grupo de Casos de Responsabilidade

– regra da responsabilidade limitada (ou da não

responsabilidade por dívidas sociais) que beneficia certos sócios pode ser quebrada.

Confusão de Esferas/

Mistura de Patrimónios

Quando, por inobservância de certas regras societárias, não há clareza quanto à separação entre o património da sociedade e o do sócio ou sócios.

➢ Ocorre frequentemente nas sociedades unipessoais.

Januário: sistema não pode aceitar uma promiscuidade entre sociedade e sócios.

Frequentemente circulam bens de um património pessoal para um património social, sem registos contabilísticos e etc. tornando-se inviável distinguir com rigor os patrimónios dos sócios e da sociedade e controlar a observância das regras relativas à conservação do capital social.

➢ Estando a Sociedade insolvente, não poderão os sócios opor aos credores sociais a responsabilidade limitada (perante a sociedade) e irresponsabilidade pelas dívidas societárias por desrespeitaram o princípio da separação, não havendo que observar a autonomia patrimonial da sociedade.

Subcapitalização

material manifesta

É relevante quando uma sociedade tenha sido constituída com um capital insuficiente.

➢ A insuficiência é aferida em função do seu próprio objeto ou da sua atuação, surgindo, nesses moldes, como tecnicamente abusiva.

➢ Sociedade não dispõe de capitais próprios e suficientes para o exercício da respetiva atividade.

o Pode ser originária ou superveniente. Cumpre distinguir entre:

• Subcapitalização Nominal – sociedade considerada tem capital formalmente insuficiente para o objeto ou para os atos a que se destina;

• Subcapitalização Material – há efetiva insuficiência de fundos próprios ou alheios. Sócios abusam da personalidade coletiva da sociedade quando a introduzem no comércio jurídico ou a mantêm nele, apesar de sofrer de subcapitalização material (= evidente, reconhecível pelos sócios).

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28

Além da inadequação abusiva, exige-se ainda uma explicitação dos seus fundamentos – como o intento de prejudicar os credores, os administradores praticarem falências evitáveis ou retardando prejudicialmente falências inevitáveis.

• Subcapitalizada, ao cair em insolvência serão os sócios chamados a responder ilimitadamente (todos, se inicial; os sócios controladores se superveniente).

Mota Pinto discorda desta solução pois a lei apenas exige que a sociedade esteja dotada com o capital mínimo, sem exigir adequação do capital relativamente ao objeto social.

➢ Coutinho de Abreu responde que a questão não é de legalidade estrita e que tal não impede o abuso da personalidade coletiva pois o prejuízo é dos credores, sendo a possível responsabilidade dos sócios para com os credores e não para com a sociedade (é externa).

Descapitalização Provocada por Sócios

Sócios levam património para nova sociedade para escapar à execução do mesmo por dívidas da antiga sociedade.

Atentado a Terceiros e Abuso da Personalidade

Situações em que a personalidade coletiva é utilizada de modo ilícito ou abusivo para prejudicar terceiros.

➢ Não basta a ocorrência de prejuízos a terceiros, para haver levantamento da personalidade jurídica será necessário uma utilização da mesma contrária a normas ou

princípios gerais, incluindo a ética dos negócios.

O abuso da personalidade jurídica é uma situação de abuso do direito ou de exercício inadmissível de posições jurídicas.

➢ Não se permite a utilização da sociedade como instrumento de inflição de danos aos credores

Se se verificar este abuso há ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade portanto estão verificados

os pressupostos para responsabilizar os sócios para com os credores sociais (apesar de ser a

sociedade a devedora e pese embora o “princípio da separação”

18

).

Verifica-se que, no seu conjunto, a jurisprudência relativa ao levantamento manteve típicas características civis.

Não são invocados institutos novos nem especiais princípios societários: os problemas têm sido resolvidos através do mérito dos factos e com apeto jurídico-positivo às cláusulas civis de boa-fé e bons costumes.

O problema do levantamento da personalidade coletiva, atendendo às constelações de casos típicos, tendem a ser explicados por:

18 Doutrina portuguesa importa tal solução da Alemanha, que com o Acórdão Trihotel levou a esta

construção – antes o fundamento da responsabilidade dos sócios era o desrespeito dos deveres de lealdade dos sócios para com a sociedade.

➢ De facto, estes deveres também são violados pelo que esses sócios desleais ainda podem ter de responder perante a sociedade (internamente). Mas perante os credores sociais é através do mecanismo da desconsideração da personalidade coletiva.

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29 • Teoria Subjetiva – autonomia da pessoa coletiva é afastada quando houvesse abuso da sua forma jurídica com vista a fins não permitidos, exigindo um abuso consciente da pessoa coletiva.

o Tem sido rejeitada pois a exigência do elemento subjetivo específico geraria dificuldades de prova.

• Teoria Objetiva, incluindo versões institucionais – sindica-se a má intenção do agente e, a partir dessa primeira fase, o instituto depende da pura contrariedade ao ordenamento.

• Teoria da Aplicação das Normas – não se trata de problema geral de personalidade coletiva mas sim de aplicação de diversas normas jurídicas. Quando por via do seu escopo estas tivessem uma pretensão de aplicação absoluta ou visassem atingir a realidade subjacente à própria pessoa coletiva, aplicar-se-iam.

• Teorias Negativas – negam a autonomia do levantamento da personalidade, enquanto instituto

• MC – as diversas teorias documentam facetas próprias do levantamento, correspondendo a progressões da mesma ideia. Elas não se opõem: completam-se. Este é um instituto de enquadramento. As diversas teorias (de Serick e Müller-Freienfelds) documentam facetas próprias do levantamento, complementando-se.

No fundamental,

• o

Levantamento traduz uma delimitação negativa da personalidade

coletiva por exigência do sistema,

ou seja, exprime situações na quais, mercê de vetores sistemáticos concretamente mais ponderosos, as normas que firmam a personalidade coletiva são substituídas por outras normas.

É o instituto pelo qual, em circunstâncias muito especiais, é possível não ter em conta as normas que sustentam a personalidade coletiva, de modo a imputar as obrigações da sociedade às pessoas singulares que lhe sirvam de suporte: seja aos administradores, seja aos sócios, conforme as circunstâncias.

➢ O levantamento opera por exigência marcada da boa fé, ou seja, dos valores fundamentais do ordenamento jurídico, de tal modo que a invocação, pelos sócios ou pelos administradores da sociedade considerada, da personalidade, se configure como um abuso do direito.

Referências

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