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Lendas urbanas: a cidade também é feita de histórias

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Academic year: 2021

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Lendas urbanas: a cidade também é feita de histórias

Gabriela Sitta Giana Bess

Este trabalho apresenta uma proposta de tarefa de leitura para o 7º ano do Ensino Fundamental. Tal tarefa integra um projeto maior que tem como objetivo refletir sobre como as lendas urbanas se constituem culturalmente e, no contexto da aula de Língua Portuguesa, sobre como elas se estruturam discursivamente.

BASE TEÓRICA

Naujorks (2011), em uma perspectiva enunciativa, define a leitura em termos de produção de sentido. Tomar a leitura como modalidade enunciativa implica colocar em primeiro plano a subjetividade da linguagem. Nesse sentido, o sujeito insere a sua presença no discurso, direcionando-se a um interlocutor, e a situação em que esse movimento se configura também é relevante. De forma complementar, é necessário considerar o referente, aquilo de que trata o discurso.

Por sua vez, Rottava (2003) e Leffa (1999) tomam a leitura como um processo interativo que envolve leitor e escritor e tem o texto como mediador da construção de sentidos. Além do autor e do leitor, há o propósito e o contexto de comunicação. Isso significa que a leitura (e a construção de sentido) está inserida em práticas culturalmente construídas. Desse modo, o estudo de textos deve ir além do contexto de sala de aula, refletindo sobre os diferentes discursos sociais.

Além da perspectiva enunciativa e da noção de que a leitura é um processo interativo, consideramos aqui o que pontuam Kleiman e Moraes (2001) a respeito da interdisciplinaridade. Para essas autoras, todos os professores são professores de leitura, já que ela é objetivo e instrumento para a aprendizagem. Assim, trabalhar sob uma perspectiva interdisciplinar envolve refletir sobre intertextualidade, considerando que os textos estão sempre em relação uns com os outros. De maneira semelhante,

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Simões et al (2012) defendem que a interdisciplinaridade permite a integração de conhecimentos.

METODOLOGIA

Este projeto de leitura é desenvolvido para uma turma de 7º ano do Ensino Fundamental. O projeto busca levar os alunos a pensar em lendas urbanas de Porto Alegre, refletindo sobre como o imaginário popular interfere no modo como percebemos e interagimos com a cidade. A ideia é considerar como as lendas urbanas se constituem culturalmente e, no contexto da aula de Língua Portuguesa, como se estruturam discursivamente.

A proposta é identificar e refletir criticamente sobre elementos do gênero narrativo lenda, como autoria e contexto histórico. Também é fundamental promover uma reflexão sobre a forma como são contadas as lendas (por escrito ou oralmente). Espera-se que o professor incentive os alunos a pensar nos recursos necessários para contar uma lenda, observando convenções e variedades linguísticas. Ademais, como estarão em jogo lendas de Porto Alegre, pode-se compará-las com outras lendas a fim de buscar semelhanças e diferenças em sua constituição.

Uma reflexão aprofundada sobre lendas urbanas propicia um ambiente rico para discussões com as disciplinas de História, Geografia, Artes e Teatro, por exemplo. Passeios por lugares históricos da cidade também seriam uma atividade possível, especialmente interessante por mobilizar a comunidade local, o que contribui para a valorização do espaço da escola e para a interação entre práticas sociais e práticas de ensino. No caso específico deste projeto, a mobilização da comunidade é relevante porque os membros da comunidade detêm o conhecimento sobre as lendas urbanas, de modo que o contato dessas pessoas com os alunos é muito valioso para as atividades propostas.

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Figura 1 – Mapa conceitual do projeto

Atividade

A atividade de leitura proposta situa-se em um planejamento de unidade de ensino maior. A etapa escolhida para ser desenvolvida aqui é uma tarefa inicial. Para focalizar o assunto e ativar conhecimentos prévios, o professor pode perguntar à turma sobre a sua familiaridade com as lendas. Além disso, pode fazer um convite à formulação de hipóteses sobre por que essas histórias são contadas. Na sequência, um vídeo sobre a lenda da rua do Arvoredo é mostrado1, a fim de apresentar a narrativa e

situá-la na cidade de Porto Alegre. O professor também propõe que os estudantes reflitam sobre como a história pode ter acontecido, pensando em como o fantástico se relaciona com a realidade. Para sistematizar os conteúdos, os estudantes elaboram um resumo do vídeo.

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Na sequência, os estudantes devem ler uma versão escrita da lenda, publicada em um infográfico de jornal.2 Nessa leitura, espera-se que o professor chame a

atenção dos alunos para as distinções entre a oralidade e a escrita, bem como que aponte as informações que aparecem nos textos. Nessa etapa é que se dá a

2 Disponível em:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2017/07/oito-lugares-sinistros-de-porto-alegre-veja-as-lendas-urbanas-mais-famosas-cjad05rjq018p01np7ia26o1r.html, acesso em 11

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compreensão inicial do gênero lenda. A ideia é que o professor explore as possibilidades e características desse gênero a partir da leitura do texto de jornal e do vídeo exibido. Em seguida, o professor orienta a elaboração conjunta de um glossário com o vocabulário desconhecido. Como o texto faz menção a um diretor de cinema, o professor apresenta uma pequena biografia dele e de sua obra, além perguntar aos alunos os motivos pelos quais o autor do texto escolheu citar tal diretor.

Como forma de reflexão sobre o gênero, os alunos devem ser levados a considerar, por escrito, se a história do açougueiro da rua do Arvoredo é uma lenda e por quê. Só depois é que o professor fornece definições de lenda e lenda urbana. Então, os alunos devem comparar as suas respostas com as definições. Ao longo do processo, é interessante conversar sobre o vocabulário e incentivar os estudantes a pesquisar termos desconhecidos. Na definição de lenda (abaixo), em especial, há termos que podem ser difíceis para uma turma de 7º ano, como “contemporaneidade”. Portanto, vale a pena trabalhar com uma breve lista de palavras, preparando os estudantes para a leitura.

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Após, em grupos, os estudantes listam os elementos que fazem da história uma lenda, para, na sequência, contarem uma lenda que conhecem ao seu grupo. Depois, cada grupo deve escolher uma das lendas compartilhadas pelos seus membros e narrá-la em um parágrafo, que será entregue ao professor. O objetivo é refletir sobre as diferenças entre contar e escrever uma história.

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Recursos linguísticos também devem ser explorados para dar início à formação estrutural das histórias: o professor deve apresentar aos estudantes trechos de lendas urbanas e eles devem identificar relatos sobre o tempo presente, ações pontuais no passado e ações recorrentes no passado. Também é possível utilizar a produção inicial (os parágrafos produzidos pelos alunos) para verificar que recursos eles já possuem para a escrita de narrativas. Posteriormente, o professor deve conduzir uma discussão a respeito dos tempos verbais mais usados para se narrar uma lenda, bem como sobre as conjunções mais utilizadas em narrativas, as noções de desenvolvimento de enredo, clímax, personagens, tempo e espaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou parte de um projeto de leitura para uma turma de 7º ano. A tarefa detalhada busca propiciar uma compreensão inicial do gênero lenda urbana. Ao final do projeto, os estudantes devem ser capazes de criar suas próprias narrativas fantásticas que reflitam formas de experienciar a cidade. Sustentam o projeto a perspectiva enunciativa que põe em cena a subjetividade da linguagem

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(NAUJORKS, 2011), a noção de que a leitura é um processo interativo (ROTTAVA, 2003; LEFFA), bem como a interdisciplinaridade (KLEIMAN; MORAES, 2001).

REFERÊNCIAS

KLEIMAN, A. B.; MORAES, S. S. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Mercado das Letras: Campinas, 2001.

LEFFA, V. J. Perspectivas no estudo da leitura: texto, leitor e interação social. In: LEFFA, V.J., PEREIRA, A.E. (Orgs.) O ensino da leitura e produção textual: alternativas de renovação. Pelotas: Educat, 1999. p.13-37.

NAUJORKS, J. Leitura e enunciação: princípios para uma análise do sentido na linguagem. 2011. Tese (Doutorado em Teorias do Texto e do Discurso), Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011.

ROTTAVA, L. A leitura e a escrita como processos interrelacionados de construção de

sentidos em contexto de ensino/aprendizagem de português como L2 para hispano-falantes. 1. ed. Ijuí: Editora da UNIJUI, 2003. v. 01. 248p . (cap 2)

SIMÕES, L.; RAMOS, J.; MARCHI, D.; FILIPOUSKI, A. M. Literatura e autoria: planejamento em Língua Portuguesa e Literatura. Erechim: Edelbra, 2012.

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Gabriela Sitta

Jornalista e graduanda de licenciatura em Letras com habilitação em Português pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Giana Bess

Graduanda de licenciatura em Letras com habilitação em Português e Inglês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Referências

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