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Dimensões conceituais da mudança institucional nas correntes institucionalistas das ciências sociais

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

CARLOS EDUARDO ESCOBAR BINS

DIMENSÕES CONCEITUAIS DA MUDANÇA INSTITUCIONAL NAS CORRENTES INSTITUCIONALISTAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

PORTO ALEGRE 2019

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CARLOS EDUARDO ESCOBAR BINS

DIMENSÕES CONCEITUAIS DA MUDANÇA INSTITUCIONAL NAS CORRENTES INSTITUCIONALISTAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Octavio Augusto Camargo Conceição

PORTO ALEGRE 2019

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CARLOS EDUARDO ESCOBAR BINS

DIMENSÕES CONCEITUAIS DA MUDANÇA INSTITUCIONAL NAS CORRENTES INSTITUCIONALISTAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Economia.

Aprovado em: Porto Alegre, 30 de maio de 2019. BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Prof. Dr. Octavio Augusto Camargo Conceição - Orientador UFRGS

____________________________________ Prof. Dr. Pedro Cezar Dutra Fonseca

UFRGS

_____________________________________ Prof. Dr. Silvio Antônio Ferraz Cário

UFSC

_____________________________________ Prof. Dr. Herton Castiglioni Lopes

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RESUMO

As instituições são consideradas elementos centrais na determinação do desenvolvimento econômico dos países. É necessário, portanto, que se enfatize a importância dos processos de mudança institucional nesse fenômeno. O objetivo deste trabalho é analisar as concepções de mudança institucional existentes nas diferentes abordagens institucionalistas nas Ciências Sociais, expondo vertentes da Economia, Sociologia e Ciência Política. Partimos da classificação das concepções de mudança institucional como exógenas ou endógenas, a depender das possibilidades de agência dos indivíduos no processo ou das mudanças como derivadas de fatores externos às ações dos agentes. Identificamos também uma convergência nos escritos recentes das abordagens econômicas no sentido de uma concepção evolucionária do processo de mudança institucional.

Palavras-chave: Economia institucional. Institucionalismo. Mudança institucional.

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ABSTRACT

Institutions are considered a central element in defining a country status regarding economic development. It is necessary, therefore, to emphasize the importance of the institutional change process in this circumstance. The purpose of this work is to analyze the conceptions of institutional change in the different approaches in the social sciences, presenting strands in economics, sociology and political science. We start categorizing the conceptions of institutional change as exogenous or endogenous, depending on the possibility of agency by the individuals in the process or if the change is derived from factors external to agents action. We identify as well a convergence in recent writings in institutional economics towards a evolutionary conception of the process of institutional change.

Keywords: Institutional economics. Institutionalism. Institutional change. Evolutionary

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 6

2 CONCEPÇÕES EXÓGENAS DE MUDANÇA INSTITUCIONAL ... 11

2.1 NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL ... 11

2.2 NOVO INSTITUCIONALISMO DA ESCOLHA RACIONAL ... 19

2.3 NOVO INSTITUCIONALISMO NA SOCIOLOGIA ECONÔMICA ... 29

3 CONCEPÇÕES ENDÓGENAS DE MUDANÇA INSTITUCIONAL ... 36

3.1 NOVO INSTITUCIONALISMO DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL ... 36

3.2 INSTITUCIONALISMOS HETERODOXOS NA ECONOMIA ... 43

3.3 INSTITUCIONALISMO HISTÓRICO ... 50

4 INSTITUCIONALISMO E ABORDAGENS EVOLUCIONÁRIAS ... 61

4.1 ORIGENS TEÓRICAS DAS ABORDAGENS INSTITUCIONALISTAS ... 61

4.2 A PERSPECTIVA EVOLUCIONÁRIA NA ECONOMIA ... 68

4.3 A POSSÍVEL CONVERGÊNCIA EVOLUCIONÁRIA ... 75

5 CONCLUSÕES ... 78

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho proposto se justifica, em primeiro lugar, pela defesa por parte dos autores institucionalistas das mais variadas correntes de uma abordagem multidisciplinar. Nesse sentido, por exemplo, tanto as vertentes que se apresentam com seguidoras da tradição institucionalista econômica original e a nova economia institucional (WILLIAMSON, 1995; ACEMOGLU; ROBINSON, 2013; GREIF; LAITIN, 2004; NORTH, 1990; CHANG; EVANS, 2005), citando apenas o campo da Economia, apresentam uma defesa da compreensão dos fenômenos institucionais a partir de instrumentos teóricos das variadas Ciências Sociais, não se limitando apenas a uma perspectiva analítica economicista. Nas demais Ciências Sociais, também, pode se observar tal argumentação em prol de tal interdisciplinaridade, como (NEE, 2005) e (MAHONEY; THELEN, 2010), nos campos da Sociologia e da Ciência Política, respectivamente.

Apesar da ênfase em abordagens que incorporem aspectos das diversas Ciências Sociais, é comum que nas suas análises das vertentes teóricas de campos distintos os autores recorram a excessivas simplificações. Propõe-se então, no presente trabalho, uma análise que considere as vertentes que se apresentam dentro de cada um dos campos. Buscamos evitar com essa posição, por exemplo, recair em afirmações como as presentes em Hall e Taylor (1996), ao considerarem as abordagens de escolha racional e o institucionalismo na economia como sinônimos.1

Hodgson (2007) chega a propor que estaria ocorrendo uma mudança ontológica que beneficiaria a difusão da abordagem institucionalista nas ciências sociais em geral e na economia em específico. Isso se daria pela percepção de que a sociedade não pode ser considerada um simples conjunto de indivíduos, mas que ela inevitavelmente é composta por sistemas de regras através dos quais esses indivíduos interagem e se comunicam. O autor chega a afirmar, assim, que “there is some evidence to suggest a possible gestalt shift in the social sciences, where rules are seen as constitutive of social relations and social reality” (HODGSON, 2007, p. 17). Colander et al. (2004),

1 Os autores afirmam, nas suas notas, que “we might also identify a fourth such school, the ‘new

institutionalism’ in economics. However, it and rational choice institutionalism overlap heavily and so we treat them together in this brief review” (HALL; TAYLOR, 1996, p. 25).

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analogamente, acreditam que a ciência econômica estaria se modificando, se afastando dos pressupostos considerados básicos. Um desses desenvolvimentos - no interior do mainstream - seria justamente como “evolutionary game theory is redefining how institutions are integrated into the analysis” (p. 496).

Ademais, Hodgson (2007) postula que pelo abandono de pressupostos irrealistas, as abordagens institucionalistas apresentariam um instrumento analítico mais geral do que as teorias neoclássicas. Nesse sentido, ele afirma que “institutional and evolutionary economics involves an extension and deeper understanding of the principle of relative scarcity and thus, in this respect at least, is more general than the neoclassical position” (HODGSON, 2007, p. 18). As abordagens evolucionárias aplicadas às ciências sociais, ainda, como será explicitado, apresentariam um retorno às origens na Economia e na compreensão da ação humana como um todo. Vanberg (2004), similarmente, afirma que

[…] as economics is developing into a general social science, applicable to the non-market as well as to the market realm, and as it aims at explaining political and institutional phenomena no less than market behavior, it can no longer avoid to face the challenges that come with adopting a more complex behavioral paradigm (p. 21).

Tal paradigma comportamental mais complexo seria, justamente, a compreensão evolucionária do comportamento humano, em oposição aos pressupostos de racionalidade.

Uma segunda justificativa teórica da investigação proposta se dá pela ênfase apresentada por economistas, como (ACEMOGLU; ROBINSON, 2013; CHANG; EVANS, 2005; NORTH et al., 2009), no papel do arcabouço institucional na definição das possibilidades de desenvolvimento econômico por parte dos países. A estrutura institucional adotada, por exemplo, permitiria amplo acesso por parte dos agentes aos recursos econômicos ou apoiaria a apropriação de renda por parte de grupos sociais específicos através de rent-seeking, bloqueando trajetórias de desenvolvimentos econômico, como em Acemoglu et al. (2005) e North et al. (2009).

Mesmo economistas que concentram suas pesquisas nos temas referentes ao desenvolvimento econômico, sem apresentar uma perspectiva que possa ser

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considerada institucionalista, enfatizam o papel das instituições na determinação do processo de desenvolvimento e dos níveis de renda. Entre tais autores podemos citar Rodrik, Subramanian e Trebbi (2002), que consideram geografia - pela sua influência no clima, dotação de recursos naturais, custos de transporte e difusão de conhecimento -, integração através do comércio internacional - entendendo a possibilidade de inserção nos fluxos de comércio como fator determinante do aumento de produtividade - e as instituições como fatores motivadores das diferenças entre as nações em relação ao seu desenvolvimento. A resposta, para os autores, dentre essas três possibilidades consideradas, estaria no fator institucional. Nas palavras deles, os resultados obtidos são no sentido de que “the quality of institutions trumps everything else. Once institutions are controlled for, integration has no direct effect on incomes, while geography has at best weak direct effects” (RODRIK; SUBRAMANIAN; TREBBI, 2002, p. 4).

Tal motivação para a pesquisa proposta se coloca nos termos de que se o arcabouço institucional de um determinado país é importante determinante das suas possibilidades de crescimento, nos casos em que tal estrutura institucional é oposta a tal processo seria indicado de que forma elas poderiam ser modificadas para que essa incompatibilidade seja superada. Muitas vezes, contudo, as discussões se concentram em mudanças radicais, e não em mudanças incrementais gestadas dentro dos sistemas (GREIF, 2004; MAHONEY; THELEN, 2009). Portanto, faz-se necessária a compreensão das mudanças institucionais procuradas conscientemente pelos agentes em uma sociedade buscando finalidades específicas, nesse caso o desenvolvimento econômico. É central, portanto, não apenas a consideração da estrutura institucional como dado, mas justamente as possibilidades e instrumentos considerados nas apreciações teóricas sobre a mudança institucional em razão da necessidade de modificá-la.

Pretendemos, assim, demonstrar as interpretações institucionalistas sobre a mudança institucional nas Ciências Sociais, com exposição de autores contemporâneos tanto da Economia quanto da Sociologia e da Ciência Política. Seguimos, dessa forma, as classificações adotadas por Hall e Taylor (1996) e Nee (2005). Hall e Taylor (1996) dividem as abordagens institucionalistas entre

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Institucionalismo Histórico, Institucionalismo Sociológico e Institucionalismo da Escolha Racional. Nee (2005) se refere ao Novo Institucionalismo da Análise Organizacional, o Novo Institucionalismo Econômico-sociológico e a Nova Economia Institucional. Adicionamos a essa classificação as abordagens institucionalistas heterodoxas na Economia.

Objetivamos, dessa forma, através da revisão bibliográfica de autores de tais vertentes teóricas, reconhecendo as heterogeneidades entre elas, buscar possíveis pontos de confluência, de forma que tais pontos de contato sirvam aos propósitos de multidisciplinaridade enfatizados anteriormente. Para tanto, expomos também as origens teóricas que inspiram as abordagens institucionalistas, de maneira a inquirir se há intersecções entre elas. Buscamos também as justificativas usadas pelos autores precursores das perspectivas evolucionárias na Economia e os possíveis desenvolvimentos de autores sem influência fundadora de autores adeptos da concepção evolucionária, com a ideia defendida por Hodgson (2007) de que estaria ocorrendo uma mudança de posicionamento na profissão de economista em direção ao institucionalismo evolucionário.

No capítulo seguinte a esta introdução apresentaremos as abordagens exógenas da mudança institucional, consideradas assim por permitirem nenhuma ou muito pouca importância à agência dos indivíduos no processo de mudança institucional, seja por considerar tais modificações decorrentes de adaptações devido a uma perspectiva de eficiência ou de adequação cultural. Entendemos por exógenas, assim, não apenas as abordagens que desconsideram elementos culturais ou sociais no processo de mudança institucional, mas também aquelas que consideram tais aspectos, os definindo como compulsórios sobre as ações dos indivíduos. Compreendemos, então, que as instituições podem ser entendidas como social e culturalmente determinadas, mas o processo de mudança, ao seu passo, ser entendido exogenamente. Dessa forma, separamos as abordagens pela forma como as teorias postulam a mudança institucional, como endógenas ou exógenas, não por sua concepção sobre as instituições. Nesse capítulo, portanto, estão expostas, cada um em uma seção, a Nova Economia Institucional, o Novo Institucionalismo da Escolha Racional e o Novo Institucionalismo na Sociologia Econômica.

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O capítulo seguinte, por sua vez, contém as apresentações das teorias endógenas da mudança institucional, em oposição às constantes no capítulo anterior, por manifestarem a importância dos indivíduos como dotados de agência e determinantes também do ambiente institucional, não apenas como determinados por ele. São expressas, assim, posições teóricas de autores ligados ao Novo Institucionalismo da Análise Organizacional, as abordagens heterodoxas institucionalista na Economia e o Institucionalismo Histórico, também cada um em uma seção.

No penúltimo capítulo, a primeira seção é dedicada às origens teóricas das abordagens institucionalistas nas Ciências Sociais. Na seção seguinte buscamos demonstrar as perspectivas evolucionárias originárias aplicadas ao estudo de fenômenos de natureza econômica. Por fim, a última seção deste capítulo contém a contribuição de autores ligados a outras tradições intelectuais que utilizam conceitos evolucionários aplicados ao institucionalismo, com a intenção de avaliar a possibilidade de convergência dos institucionalismo nas Ciências Econômicas no sentido de uma abordagem evolucionária. O último capítulo, finalmente, apresenta as conclusões.

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2 CONCEPÇÕES EXÓGENAS DE MUDANÇA INSTITUCIONAL

Apresentaremos neste capítulo as abordagens exógenas da mudança institucional, consideradas assim por permitirem nenhuma ou muito pouca importância à agência dos indivíduos no processo de mudança institucional, seja por considerar tais modificações decorrentes de adaptações devido a uma perspectiva de eficiência ou de adequação cultural. É importante notar, contudo, que as escolas teóricas apresentadas não apresentar percepções homogêneas, como por exemplo North, que é reconhecido como o principal membro da Nova Economia Institucional, mas se diferencia significantemente das abordagens padrão relacionadas a tal vertente.

2.1 NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

A escola de pensamento mais conhecida, no campo da Economia, em relação ao estudo das instituições é a Nova Economia Institucional. É de um membro desse grupo, também, a definição de instituição mais amplamente utilizada nas Ciências Sociais como um todo, qual seja, a de instituições como regras do jogo, de North (1990). Como se poderia supor, contudo, a abordagem de seus integrantes em relação à mudança não é homogênea, havendo diferenças nos objetos e objetivos. Há, ainda assim, alguns pontos de convergência entre tais autores em relação aos pressupostos da teoria econômica ortodoxa, abandonados pela maioria dos membros da filiação teórica apresentada.

Apresentaremos os autores em ordem decorrente das proximidades analíticas entre eles, como por exemplo autores que desenvolvem reflexões acerca do processo de formação e desenvolvimento nas economias capitalistas. Primeiramente, assim, é preciso demonstrar que parte dos economistas da vertente em questão, como Williamson em sua obra The economic institutions of capitalism de 1985, partiram do pressuposto de que as instituições formais, desempenham a função de reduzir os custos de transação decorrentes das assimetrias de informação, comportamento oportunista, especificidade dos ativos e incerteza. As regras informais, por outro lado, estariam em um nível de análise no qual a teoria dos custos de transação consideraria como externa a suas ponderações.

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A abordagem de Eggertsson (2009) enfatiza os principais elementos de uma política institucional - entendida aqui no contexto de seus efeitos sobre a tecnologia social. O primeiro grupo seria o dos atores, que podem ser os “rule makers, right holders, and duty bearers” (p. 5). O grupo dos instrumentos de política são as regras, os mecanismos de enforcement e a persuasão com o objetivo de modificar modelos mentais. Por fim, as estratégias a disposição de qualquer um dos tipos de atores são “positive theories, their normative theories, and their power resources” (idem).

Em outra obra, Eggertsson (2005) afirma que o não aproveitamento, por parte de uma série de países, das possibilidades de desenvolvimento é decorrente de instituições sociais imperfeitas. As instituições, aqui, agiriam no sentido de coordenação de comportamento, afetando os custos de transação e contendo ou destravando a atividade econômica. Os modelos institucionais adotados, contudo, não podem ser entendidos como perfeitos, uma vez que a escolha da estrutura social se dá entre os modelos disponíveis, que podem, muitas vezes, ser inadequados. O autor distingue, novamente, entre tecnologias físicas, que teriam as características de bens públicos, e as tecnologias sociais, que precisam acompanhar as anteriores para que o processo de desenvolvimento seja bem-sucedido. As tecnologias sociais seriam as responsáveis pela ocorrência de resultados sociais específicos.

A forma como a reforma dos sistemas econômicos ocorre para permitir a elevação dos níveis de renda se dá num contexto no qual

[…] relative economic backwardness or imperfect institutions are sustained by social equilibria, when exogenous shocks and new social models are the chief forces destabilizing such equilibria, and when history, political economy, and incomplete knowledge constrain the potential reform path (EGGERTSSON, 2005, p. 191).

Seria nesse ambiente em que se daria a política institucional, entendida como “the art of implementing social technologies to create new institutions or remedy existing ones” (EGGERTSSON, 2005, p. 27).

Instituições inadequadas para o crescimento seriam resultado das restrições ou interesses dos líderes políticos e suas coalizões de poder, assim como pelos problemas de microlevel incompatibility, macro level incompatibility e ideological drift. O

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primeiro se observa quando não há mecanismos para resolver os conflitos decorrentes entre os perdedores e ganhadores com a aplicação da nova regra. O segundo tem origem no desconhecimento das relações existentes entre os diferentes componentes de um sistema social e os efeitos destes sobre os outros. Os dois primeiros problemas, ainda, poderiam ser evitado se houvesse das suas consequências entendimento por parte dos proponentes de reformas institucionais. O terceiro se daria, por outro lado, justamente pela mudança de percepção por parte dos agentes, uma vez que os modelos sociais e o próprio conhecimento se modifica e divergências são comuns.

Nessa abordagem, portanto, Eggertsson (2005) argumenta que as instituições sociais se modificam por três razões que podem se sobrepor: mudanças no equilíbrio de poder, novas circunstâncias materiais ou mudança na percepção dos modelos sociais (p. 36). Ruttan (2003), nesse sentido, afirma que a busca por conhecimento nas ciências sociais tem sua origem no interesse pela mudança institucional. Assim, avanços nessas ciências reduziriam o custo dessas mudanças. É importante notar, aqui, contudo, que Ruttan distingue instituições - no aspecto formal - do endownment cultural - no aspecto informal. Os determinantes das regras formais, consequentemente também os mecanismos que levam a sua mudança, são “technological change [...], cultural endowments, factor endowments, and product demand” (RUTTAN, 2003, p. 6).

Tais elementos representariam os determinantes de “demanda” para a mudança institucional, ao passo que os elementos de “oferta” seriam justamente os avanços nas ciências sociais, e pelo seu papel para que se atinjam consensos em termos sociais. Os custos da mudança institucional seriam reduzidos, nesse sentido, pelo acúmulo de conhecimento nas ciências sociais de forma semelhante ao papel dos avanços científicos na redução dos custos das mudanças tecnológicas.

O modelo de mudança institucional proposto por North em seu livro Institutions, institutional change and economic performance considera instituições, como dito anteriormente, são compreendidas como “regras do jogo", ou ainda, como “the humanly devised constraints that shape human interaction” (NORTH, 1990, p. 3). As instituições podem, ademais, ser formais ou informais, e as organizações, por sua vez, seriam os jogadores.

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Nessa obra, North tem como objetivo demonstrar a relação entre desempenho econômico entre os países e a diversidade institucional e as organizações existentes em cada país. A trajetória de mudança institucional seria determinada, dessa forma, por

(1) the lock-in that comes from the symbiotic relationship between institutions and the organizations that have evolved as a consequence of the incentive structure provided by those institutions and (2) the feedback process by which human beings perceive and react to changes in the opportunity set (NORTH, 1990, p. 7).

As instituições teriam sua evolução derivada das percepções por parte dos agentes – as organizações - de benefícios que poderiam ser derivados pela modificação das regras jogo, uma vez que as possibilidades e oportunidades existentes em cada

momento são determinadas pela estrutura institucional vigente.

Para tanto, North (1990) reconhece que, sendo as instituições criadas pelos seres humanos, assim como sua mudança e evolução se dá por meio deles, é necessário que a teoria tenha o indivíduo como base. As instituições, contudo, teriam seu efeito no desempenho por meio de seu impacto nos custos de troca e produção, determinando, juntamente com a tecnologia, os custos de transformação e de transação (p. 6). Sua função seria, assim, “to reduce uncertainty by establishing a stable (but not necessarily efficient) structure to human interaction” (NORTH, 1990, p. 6).

O autor ressalta, contudo, que tal estrutura estável não pode ser confundida com imutável, posto que as instituições estão constantemente em mudança. North (1990) afirma que atualmente seria de mudança institucional rápida e aparente, mesmo que muitas vezes as mudanças na margem possam parecer lentas. Isso se dá porque a mudança institucional, para o autor, se dá muito mais comumente de forma incremental do que por meio de descontinuidades, que pode ter origem na mudança de regras, restrições informais, e seus mecanismos de efetividade e enforcement. Nesse sentido, seria muito mais simples modificar as leis do que os costumes e tradições. A mudança institucional incremental tem origem nas “perceptions of the entrepreneurs in political

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and economic organizations that they could do better by altering the existing institutional framework at some margin” (NORTH, 1990, p. 8).

Na segunda seção do livro, dedicada ao tema da mudança institucional, North (1990) postula que os agentes responsáveis pela existência e sentido de tal mudança são as organizações. É necessário notar, aqui, que o autor ressalta que as organizações são criadas com o objetivo de maximizar riqueza e renda e outras possibilidades definidas pela estrutura institucional de uma sociedade. Nesse sentido, os conhecimentos adquiridos pelos agentes seriam determinados, também, pela estrutura de incentivos existente. Dessa forma, o comportamento maximizador das organizações molda a mudança institucional por três meios: a demanda por investimentos em conhecimentos, a interação entre atividade econômica, estoque de conhecimento e estrutura institucional, e modificação incremental nas restrições informais como consequência das atividades maximizadoras das organizações. A mudança institucional, assim, teria como origem em “changing relative prices and preferences" (NORTH, 1990, p. 83).

A centralidade das mudanças de preços relativos, que determinariam as estruturas de incentivos da sociedade, e de preferências – cuja variação o autor não explica, mas relaciona com variações em preços relativos – faz com que, junto com o conceito de equilíbrio e path dependence, as origens da mudança institucional tenham que ser definidas em termos de mudanças exógenas, que ocorrem externamente às instituições e são, através das organizações, ponto de partida para que a estrutura anterior seja adaptada para dar forma a estrutura nova. O equilíbrio institucional, segundo North (1990)

[…] would be a situation where given the bargaining strength of the players and the set of contractual bargains that made up total economic exchange, none of the players would find it advantageous to devote resources into restructuring the agreements. Note that such a situation does not imply that everyone is happy with the existing rules and contracts, but only that the relative costs and benefits of altering the game among the contracting parties does not make it worthwhile to do so (p. 86).

Acemoglu e Robinson, outros importantes autores da Economia Institucional, também definem instituições, seguindo North, como “the rules of the game in a society

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or, more formally, are the humanly devised constraints that shape human interaction” (ACEMOGLU et al., 2005a, p. 388), mas enfatizando a diferença entre instituições políticas e instituições econômicas (2005a, 2005b, 2009, 2013). Nesse sentido, haveria uma forte influência das instituições dos dois tipos sobre a estrutura de incentivos percebida em uma sociedade, visto que as instituições são endógenas à sociedade. As instituições econômicas, desta forma, determinariam a estrutura de direitos de propriedade e a presença e funcionamento dos mercados, ao passo que as instituições políticas alocam o poder formal em uma sociedade, mesmo que o poder econômico seja também determinante de quem são os possuidores do poder de fato. São as instituições políticas, assim, que determinam quais grupo dentro de uma sociedade tem acesso aos recursos e as rendas por eles gerada (ACEMOGLU et al., 2005a).

Em um estudo histórico, relativo a influência do comércio atlântico no crescimento da renda da Inglaterra, Holanda, Espanha e Portugal nos séculos XVI a XIX (ACEMOGLU et al., 2005b), os autores apresentam as relações entre instituições políticas e econômicas nesse movimento para explicar as diferenças entre os dois grupos. Nessa visão, os ganhos derivados do comércio intercontinental, nos países com instituições políticas iniciais não absolutistas, desequilibraram as estruturas de poder existentes em direção aos estratos comerciais, que puderam, dessa forma, modificar a estrutura de poder existente e garantir a forma das novas instituições econômicas. Assim, as mudanças derivam indiretamente do comércio atlântico através das mudanças em instituições políticas. Em uma perspectiva mais teórica (ACEMOGLU et al., 2005b, 2013), os autores afirmam que as mudanças institucionais podem ser explicadas a partir de conflitos sociais resultantes da distribuição de recursos derivada da estrutura de instituições econômicas, por sua vez determinadas

pelas instituições políticas – tanto de jure quando de facto.

Por outro lado, Acemoglu e Robinson (2005), ao analisar as relações entre grupos de interesse, instituições políticas e controle de recursos econômicos no desenvolvimento das democracias, afirmam que a preferência dos atores pelas instituições políticas é determinada pois eles “anticipate the different actions that political actors will take under these institutions – thus, the resulting different policies and social choices” (p. 173). Essa importância deriva, segundo os autores, da

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centralidade das instituições políticas na distribuição do poder político de jure na sociedade, estabelecendo quais interesses - no sentido de qual grupo de poder eles atentem - vão ser contemplados pelas políticas públicas.

Tais instituições, contudo, apresentam soluções transitórias para a questão da distribuição de poder, uma vez que “this transitory nature might result from a variety of economic, social, and political shocks to the system” (p. 175). As mudanças observadas são derivadas das variações econômicas, sociais ou políticas que agem desequilibrando a distribuição de poder. Ao mesmo tempo, uma característica marcante das instituições são a durabilidade, no sentido de que elas determinam a distribuição do poder não apenas no presente mas também no futuro - até que a conjuntura faça sua alteração necessária.

A abordagem proposta tem como base, assim em dois aspectos determinantes em relação ao processo de mudança institucional. O primeiro é ser economic-based, ou seja “individual economic incentives as determining political attitudes, and we assume people behave strategically” (ACEMOGLU; ROBINSON, 2005, p. xii). O segundo é a ênfase na importância do conflito, no sentido de que “different groups [...] have opposing interests over political outcomes, and these translate into opposing interests over the form of political institutions” (ACEMOGLU; ROBINSON, 2005, p. xii).

Em outra obra posterior, Acemoglu e Robinson (2013) afirmam que as diferenças de renda - a desigualdade - entre os países se deve às diferenças existentes entre as instituições dos distintos países. Aqui, o desenvolvimento ou subdesenvolvimento de determinada nação depende das instituições políticas e econômicas observadas e dos incentivos que estas geram. Nessa abordagem,

[…] economic institutions shape economic incentives: the incentives to become educated, to save and invest, to innovate and adopt new technologies, and so on. It is the political process that determines what economic institutions people live under, and it is the political institutions that determine how this process works (ACEMOGLU; ROBINSON, 2013, p. 50).

As instituições - tanto políticas quanto econômicas - poderiam, aqui, ser classificadas entre instituições extrativas e instituições inclusivas.

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Simultaneamente, contudo, as instituições são resultado de um processo histórico idiossincrático, sendo determinadas, em grande medida, pela trajetória passada de um país. Isso levanta a pergunta, assim, de como se poderia agir, em termo de políticas, para adotar as instituições que apresentam os incentivos entendidos como condizentes com o desenvolvimento econômico. A origem da maior parte das desigualdades, ademais, teria origem no século XVIII, decorrentes dos processos derivados da Revolução Industrial (p. 54). A mudança, em grande medida, se daria na ocorrência de conjunturas críticas.

Como adiantado, North, Wallis e Weingast (2009) posteriormente modifica sua abordagem, ao ampliar seu conceito de instituição. Nessa nova interpretação, o autor parte do conceito de social order, definida como

[…] the way societies craft institutions that support the existence of specific forms of human organization, the way societies limit or open access to those organizations, and through the incentives created by the pattern of organization (NORTH; WALLIS; WEINGAST, 2009, p. 2).

Nessa perspectiva, instituições são compreendidas como regras do jogo, no sentido tradicional de leis formais e normas informais, mas vai além ao incluir seu papel de estruturar as crenças compartilhadas pelos indivíduos em uma sociedade. As instituições são consideradas também contexto-específicas, isto é, as mesmas instituições em diferentes contextos resultam em desfechos distintos. Organizações, por seu turno, são compreendidas como grupos específicos de indivíduos perseguindo uma combinação de objetivos por meio de ação parcialmente coordenada, sendo que cada organização também apresenta sua própria estrutura institucional interna. A eficiência adaptativa, nesse contexto, é potencialmente atingida pela destruição criadora associada a inovação e mudança e competição, aplicada aqui aos campos político e econômico (NORTH; WALLIS; WEINGAST, 2009, p. 253). Nesse sentido, uma estrutura institucional que permite um maior número de organizações viabiliza, através delas, a possibilidade de mais inovações nesses campos, que podem ser, posteriormente, selecionadas. Nas palavras de North, Wallis e Weingast (2009, p. 116):

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How does creative economic destruction affect politics? First, in the economy, it constantly changes the pattern of economic interests and therefore the pressures facing political officials; second, in the polity, political entrepreneurs continually adapt, advancing new ideas and creating new coalitions. As organizations form to pursue whatever ends they desire and creative destruction continually produces new patterns of interests within society, political organizations form to channel those interests into political action. Political entrepreneurs who lead political parties seek to advance new ideas and programs in ways that increase the likelihood of success over their rivals.

2.2 NOVO INSTITUCIONALISMO DA ESCOLHA RACIONAL

A característica mais comum encontrada na literatura em relação ao Novo Institucionalismo da Escolha Racional seria a perspectiva funcionalista adotada por seus proponentes (KNIGHT, 1992; ELSTER, 1997). A análise das instituições se basearia, primeiramente, na compreensão dessas pelo papel que ela desempenha em uma sociedade. Pode-se, dessa forma, derivar duas tradições analíticas, uma que compreende que os benefícios derivados são aproveitados por todos os membros da coletividade, e outra que as entendem como fontes de renda para determinados grupos no contexto da disputa, em uma sociedade, pelos recursos (KNIGHT, 1992). Nessa segunda visão, dessa forma, as mudanças institucionais derivariam de alterações ocorridas nas estruturas de poder, que deveriam ser adequadas no sentido de corresponder a nova distribuição de poder com a distribuição dos recursos - políticos ou econômicos.

A definição de instituições adotada tem semelhança com a proposta por North (1990), contudo apresenta, via de regra, uma maior especificação: é necessário que as instituições não sejam apenas regras do jogo, mas que sejam conhecidas por todos os agentes que dele participam. Os atores, no contexto das análises referentes às instituições políticas, agiriam, assim, avaliando as posições dos demais atores relevantes e suas próprias preferências e agindo de acordo com as interações entre elas, buscando um resultado factível e satisfatório considerando as preferências dos demais (WEINGAST, 2002). É interessante notar, não obstante, que há uma ideia de eficiência presente na construção das instituições nessa abordagem - a definição da ação parte da consideração da sua própria preferência quanto da preferência dos demais atores relevantes, na qual se implementa a conduta que implica no resultado

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mais próximo do ideal dadas as limitações impostas. As preferências, segundo Elster (1997), podem não necessariamente ser as reais, uma vez que, nas situações sociais de ação coletiva elas podem ser expressas de maneira distinta das preferências individuais do agente.

Isso não implica, na demonstração Miller (2000), que toda a ação entendida nos termos da escolha racional implica na eliminação da possibilidade de instituições disfuncionais. Nas palavras do autor,

[…] rational actors, in the aggregate, can choose dysfunctional institutions even when, as individuals, they perfectly understand what they are doing. Indeed, the most fundamental results in rational choice have given us good and sufficient reasons for expecting dysfunctional results from rational individual choices. (MILLER, 2000, p. 540).

O exemplo citado para respaldar tal afirmação é justamente o dilema do prisioneiro, no qual o problema de coordenação entre os jogadores leva a resultados Pareto ineficientes.

Em relação a isso, nota-se que a teoria dos jogos se apresenta como importante instrumento nas construções teóricas do institucionalismo da escolha racional. Com isso em mente, apresentaremos a seguir os modelos de três autores que se baseiam na teoria dos jogos e de uma perspectiva institucionalista de escolha racional, com a finalidade de exemplificar as abordagens dos proponentes dessa vertente teórica.

A exposição de Elinor Ostrom, em artigo com Xavier Basurto, enfatiza, como é comum na economia institucional, que o arcabouço teórico desenvolvido previamente e amplamente utilizado na Ciência Econômica é adequado para estudo de ambientes estáticos, mas que este falha no contexto de mudanças constantes - a realidade com a qual os autores buscam lidar (p. 318). Especificamente, advogam a importância da construção de instrumentos para análise da mudança institucional e buscam contribuir para tanto, com foco nas mudanças nos sistemas de regras.

(23)

O método desenvolvido por Ostrom para avaliar as mudanças em um sistema de regras é chamado pela autora de Institutional Analysis and Development framework2. O desenvolvimento desse mecanismo se dá com a intenção de

[…] identify the major types of structural variables that are present to some extent in all institutional arrangements, but whose values differ from one type of institutional arrangement to another. (OSTROM, 2011, p. 9).

As variáveis consideradas externas - condições biofísicas, atributos da comunidade e regras em uso - atuam sobre as situações de ação, que por sua vez tem efeitos nas interações, que determinam quais são os resultados. Os resultados, por sua vez, têm influência sobre tanto as variáveis externas quanto nas situações de ação, assim como as interações têm efeitos sobre as situações de ação. Ademais, os critérios avaliativos adotados pelos agentes intervêm sobre as interações e resultados. Tal relação pode ser vista na figura 1.

Figura 1 - Institutional Analysis and Development framework

Fonte: Ostrom e Basurto (2010, p. 10).

As situações de ação, nessa abordagem, consistem “in the social spaces where individuals interact, exchange goods and services, solve problems, dominate one another, fight [...] (OSTROM, 2011, p. 11).” Um elemento central dessa estrutura analítica seria identificar as situações de ação e as interações e resultados delas

2

A autora define framework como a forma mais geral de análise teórica, que busca relações genéricas entre variáveis consideradas, ao passo que a teoria especificaria os elementos determinados no framework são relevantes em cada caso específico.

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decorrentes, assim como a forma de avaliação de tais resultados. Busca-se, assim, com tal conceito analítico,

[…] isolate the immediate structure affecting a process of interest to the analyst for the purpose of explaining regularities in human actions and results, and potentially to reform them. (OSTROM, 2011, p. 11).

A centralidade das situações de ação se dá pois elas englobam uma série de variáveis como o conjunto de atores, as posições que eles ocupam, as ações possíveis e os resultados esperados delas, as informações que os atores dispõem, os custos e benefícios relacionados a cada comportamento, entre outros.

Os atores, por sua vez, são entendidos como indivíduos ou grupos que agem de forma associada. Agem, aqui, entendendo-se ação como “behaviors to which the individual or the group attaches a subjective and instrumental meaning” (OSTROM, 2011, p.12). A forma como se dá a ação, na compreensão da autora, é dependente das regras sob as quais determinam como são percebidos os fatores externos, os relacionamentos entre atores, a comunidade na qual se situa a ação. Elas expressam quais ações são exigidas, proibidas e permitidas, funcionando com o intuito de se obter regularidades de comportamento entre indivíduos. Dessa forma, “a deeper institutional analysis first attempts to understand the working rules and norms that individuals use in making decisions” (OSTROM, 2011, p. 18).

No artigo citado anteriormente, escrito com Xavier Basurto, com a intenção de desenvolver um instrumento analítico, os autores afirmam que a principal objetivo da análise de mudança institucional deve partir da apreciação das alterações nos sistemas de regras (OSTROM; BASURTO, 2011, p. 318)

As regras que afetam o comportamento são muitas vezes relativamente invisíveis, no sentido de que elas não são necessariamente escritas para que sejam seguidas, e nem todas as regras que são seguidas são registradas como leis. Seria preciso, assim, antes de se analisar os padrões de mudança, estabelecer como se dá a estrutura de regras existente. Isso exigiria, por sua vez, a distinção entre estratégias, normas e regras. Estratégias são planos que os atores seguem com a intenção de alcançar objetivos determinados, consideradas as informações que se têm disponíveis.

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Normas, por outro lado, são determinações sobre ações ou resultados que não tem como foco principal efeitos materiais de curto prazo, podendo muitas vezes ser internas ao próprio indivíduo, ainda que predominem as normas adquiridas no contexto social de interação. As regras, por seu turno, são enunciados contendo determinações, mas que ao contrário das normas são acompanhados por penalizações em caso de ações não conformantes.

As diferenças observadas entre as regras com as quais os grupos são expostos são decorrentes da diversidade entre os sistemas de regras, uma vez que diferentes camadas dos elementos descritos podem ser justapostas. Dessa forma, pressupõe-se que as interações humanas são compostas de sete elementos similares aos observados no contexto da teoria dos jogos:

Actors in positions choosing among actions at particular stages of a decision process in light of their control over a choice node, the information they have, the outcomes that are likely, and the benefits and costs they perceive for these outcomes. (OSTROM; BASURTO, 2011, p. 323).

Há, assim, uma série de regras associadas, que são as regras de posição, de fronteira, de escolha, de agregação, de informação, de payoff e de escopo.

As regras de posição determinam as posições ocupadas pelos atores e os limites no número de atores que podem ocupar cada posição. As regras de fronteira são as regras de entrada e saída, defendendo quem pode ocupar cada posição e em que contexto podem ser ocupadas ou desocupadas. As regras de escolha determinam quais ações devem, não devem ou podem ser tomadas pelos atores em um ponto particular do processo. As regras de agregação determinam quais agentes podem decidir quais ações ou conjunto delas devem ser realizadas. As regras de informação determinam quais informações estão disponíveis aos atores em relação às ações e seus resultados correspondentes. As regras de payoff determinam os custos e benefícios enfrentados pelos atores, considerando as ações realizadas e seus resultados. As regras de escopo, por fim, determinam quais resultados serão ou poderão ser afetados no contexto de cada situação. As mudanças se dão, nessa abordagem, portanto, nas regras acima descritas e nas interações existentes entre elas.

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Tais mudanças seriam diferentes, nesse sentido, das modificações nos fenótipos e genótipos que caracterizam a evolução das espécies, tendo em vista que aqueles processos podem ser tanto conscientes quanto inconscientes. Os processos conscientes podem envolver imitação, por imposição, por competição, ou por mudanças radicais no sistema biofísico, ao passo que os processos inconscientes envolvem o esquecimento, decorrente da dependência da linguagem, pela dificuldade de registro da totalidade do sistema de regras, ou por meio de adaptações em contextos em que o sistema biofísico se modifica de forma gradual.

O foco de Ostrom e Basurto (2011) a partir daí passa a ser as modificações partindo de uma situação base, buscando observar como se dá as modificações das normas e regras, classificando-as como exigindo, proibindo ou permitindo ações, e a forma como elas se transmutam com o tempo. Os autores seguem o blind-variation-selective-retention model de Campbell, no qual estão presentes três atributos: existe uma variedade de possíveis regras, as regras são selecionadas com base nos desempenhos comparativos nos ambientes e são mantidas as regras que tiverem accountability (OSTROM; BASURTO, 2011). Com base na tipologia apresentada, assim, é possível

[…] document the institutional configuration of a given action situation at time zero, track what rules and norms are selected (or not) based on a given set of evaluative criteria at time one, and capture which rules and norms are retained at time two and subsequent time periods. (2011, p. 334).

Aoki e Greif, ao seu passo, desenvolveram uma abordagem mais especificamente fundada na teoria dos jogos para a análise do processo de mudança institucional. Focaremos neste trabalho, contudo, nas exposições de natureza teórica apresentadas pelos autores. Dessa forma, Aoki (2007) confronta duas abordagens por ele percebidas na análise da mudança institucional: uma exógena - na qual os jogos de determinação das regras e os jogos operacionais seriam separados - e uma endógena - na qual esses dois tipos de jogos seriam integrados. Parte, para tanto, de uma definição de instituição na qual

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[…] an institution is self-sustaining, salient patterns of social interactions, as represented by meaningful rules that every agent knows and incorporated as agents’ shared beliefs about the ways how the game is to be played. (AOKI, 2007, p. 7).

É preciso, então, que as regras consideradas instituições em cada um dos domínios no qual os jogos se dão sejam um conjunto básico compartilhado por todos os atores. São unidas às instituições as crenças compartilhadas, de forma que poderiam permitir que agentes com racionalidade e habilidade de processamento de informações limitadas atinjam escolhas mutuamente consistentes (AOKI, 2007, p. 10).

Para que se torne possível incorporar tais aspectos diferentes no mesmo arcabouço analítico de teoria dos jogos Aoki (2007) apresenta quatro domínios interdependentes nos quais as interações entre os agentes se dariam - e assim nos quais se poderia formar múltiplos pontos de equilíbrio.

O primeiro desses domínios é o das trocas econômicas, onde são realizadas as transações de bens privados, notadamente através de contratos. Assim, a principal dificuldade encontrada nesse domínio seria justamente a garantia de tais contratos, que é comumente confrontada através de garantias por terceiras partes.

O segundo domínio é o das relações organizacionais. Aqui as organizações desempenham papel dual, uma vez que podem agir como atores no domínio econômico, bem como surgir como instituições em seu próprio, através de convenções organizacionais.

O terceiro domínio é o das relações políticas, no qual dois tipos de agentes interagem, o governo e agentes privados. O governo atua como responsável por prover bens públicos aos agentes privados, em troca de extração de renda por meio de impostos, por exemplo. A impossibilidade de rompimento de tal relação, contudo, por parte dos agentes privados implica uma assimetria de poder entre eles e o governo, de forma que existe aqui conflito entre interesses conflitantes.

O quarto - e último - domínio é o das relações sociais, dominado pela ação dos símbolos sociais - como linguagem e rituais. Podem ser consideradas instituições, aqui, os costumes sociais e as normas de comportamento garantidas pelas relações sociais dos demais agentes.

(28)

Em relação às possíveis conexões entre tais domínios, Aoki (2007) estabelece que “there can be two types of equilibrium linkages and thus institutional linkages: linked games and strategic complementarities” (p. 17). Jogos são linked se os jogadores coordenam suas estratégias em mais de um domínio com a intenção de advir payoffs maiores do que os possíveis agindo neles de forma independente, devido a existência de externalidades. Dessa forma, os elementos em um domínio podem ser percebidos pelos atores individuais como exógenos, mas serem decorrentes, na realidade, das interdependências entre domínios. As complementaridades institucionais, por sua vez, têm origem na perspectiva de que, mesmo inconscientemente, os agentes consideram instituições nos demais domínios como parâmetros decisórios no domínio no qual agem. Consequentemente, as relações estabelecidas entre as instituições nessas instâncias se tornam dependentes e se fortalecem umas às outras.

Posteriormente, o autor se volta a pergunta de como se dá o processo de transição institucional em um modelo baseado no equilíbrio. Primeiro, nota-se que podem existir jogadores desviantes do comportamento de equilíbrio, ao se contentar com resultados subótimos. Podem, também, ocorrer mudanças marginais na situação de equilíbrio na medida em que se joga o jogo, mas se “such drifts remain in a sufficiently close neighborhood of equilibrium [...], the summary representation of equilibrium common to all the players, thus an institution, will remain intact” (AOKI, 2007, p. 22). Isso se dá pois, em um determinado contexto de conhecimento compartilhado, diversas das escolhas possíveis podem ser excluídas sem consideração por parte dos jogadores.

Outra possibilidade seria, ademais, mudanças nos conjuntos de escolhas viáveis dos indivíduos, resultantes, por exemplo, do desenvolvimento de habilidades, aprendizado, inovações ou mudanças nas circunstâncias tecnológicas ou ambientais (AOKI, 2007, p. 23). Tais modificações, segundo o autor, podem ser caracterizadas como exógenas, mas nessa concepção podem ser consideradas como endógenas, sendo derivadas da repetição do jogo e das interdependências entre domínios afetando os parâmetros. A seleção da alternativa, não obstante, se dá por meio de

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[…] salient features of equilibrium as to form an institution may have precedents in the ex ante beliefs of some agents during the process of institutional crisis and reconstruction [...] depending on how learning, emulation, adaptation, reinforcement, resistance, and inertia interact across economic, political, organizational and social exchange domains. (p. 24).

Tais formas de mudança nas estruturas dos jogos são relacionadas, ainda, nas suas perspectivas dinâmicas, a três mecanismos: schumpeterian innovation in bundling, social embeddedness encompassing sequentially arising domains and dynamic institutional complementarities.

Também apresentando uma abordagem baseada na construção da teoria dos jogos, Greif (2004) postula uma estrutura conceitual e metodológica denominada historical and comparative institutional analysis (HCIA). Nas palavras do autor o modelo

[…] is historical in its attempt to explore the role of history in institucional emergence, perpetuation, and change; it is comparative in its attempt to gain insights through comparative studies over time and space; and it is analytical in its explicit reliance on context-specific micro models for empirical analysis. (GREIF, 2004, p. 80).

Instituições, aqui, são definidas pelo autor como restrições self-enforced de natureza não tecnológica de que influenciam as interações sociais e agem no sentido de promover regularidades de comportamento. Portanto, elementos abstratos criados pelos homens, como normas, crenças, regras e organizações. São propostos, ademais, distinções entre parâmetros, quase-parâmetros e variáveis, numa tentativa de dinamizar a análise da mudança institucional em um contexto de instituições como equilíbrio.

Nesse sentido, parâmetros são considerados exógenos às instituições consideradas, então quando eles se modificam, será gerado um novo conjunto de equilíbrio com novas instituições possíveis. Variáveis, por outro lado, são consideradas endógenas às instituições em questão. Greif (2004) questiona, porém, se não há a possibilidade de que determinadas instituições influenciem fatores externos aos diretamente considerados na sua análise. Assim, podem existir fatores paramétricos quando considerados os atributos de auto-perpetuação, mas mutáveis no longo prazo, e, portanto, variáveis (GREIF, 2004). Assim, tais quase-parâmetros teriam as

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características de variáveis no longo prazo e parâmetros no curto prazo, tendo em vista que se

[…] self-enforcing outcomes affect the values of one or more parameters supporting the observed equilibrium but in a manner that would only lead to long-term behavioral change, these parameters are best reclassified as quasi-parameters (GREIF, 2004, p. 634)

A distinção entre essas categorias, não obstante, seria feita pelo investigador com base no contexto específico da análise, uma vez que não há diferença exatamente definida entre os três.

Ainda, através da interação entre instituições, variáveis, quase-parâmetros e parâmetros, é possível que tais instituições tenham características de se reforçarem ou de se enfraquecerem com o tempo. A mudança institucional se daria, aqui, quando o grau de enfraquecimento que uma instituição gera sobre ela mesma através de seus efeitos sobre os quase-parâmetros atingisse um nível crítico no qual ela não fosse mais capaz de se sustentar.

Modificações marginais nos parâmetros, entretanto, não necessariamente implicariam mudanças nas instituições - mesmo que as mudanças sejam mais significativas seria possível que estas se mantivessem se os parâmetros continuarem no mesmo conjunto capaz de sustentar as instituições existentes. Tais resistências institucionais à mudança se derivam, segundo Greif (2004), por três razões. O primeiro deles seria a característica de conhecimento compartilhado das instituições, que em um contexto complexo de interação funcionaria como incentivo aos agentes para se manterem nos padrões já conhecidos e universais de comportamento3. Ainda, as instituições tenderiam a se manter inalteradas nesses contextos devido à incapacidade dos agentes de direcionarem atenção suficiente ao processo de observação e decisão, de forma que muitas mudanças paramétricas podem passar despercebidas pela maioria deles, dessa forma mantendo os padrões anteriores de comportamento. Por fim, devido às dificuldades de coordenação entre os agentes, mudanças pouco significativas fariam com que, já que desconhecendo o novo equilíbrio que poderia ser

3

Greif (2004) chega a afirmar que “just as market prices aggregate the economic agents’ private information, game theory reveals similar relationships between institutionalized rules of behavior and each individual’s private information” (p. 638)

(31)

selecionado dentre o conjunto de instituições possíveis, para evitar o risco de escolha equivocada, os agentes prefeririam se manter seguindo as regras anteriores.

2.3 NOVO INSTITUCIONALISMO NA SOCIOLOGIA ECONÔMICA

A sociologia econômica, como exposto por Smelser e Swedberg (2005) em sua introdução à esta abordagem, tem origem já com os fundadores da sociologia, no século XX (notadamente Marx, Weber e Durkheim). A criação dessa disciplina sociológica, segundo os autores, passa pela compreensão de que, ao contrário do que era - e em certa medida ainda é - postulado pela teoria econômica dominante de que o âmbito das relações econômicas não pode ser considerado descolado dos demais âmbitos que constroem a vida social dos atores, que são inseridos socialmente. Os principais objetos dessa tradição, segundo os autores são dessa forma

(1) the sociological analysis of economic process; (2) the analysis of the connections and interactions between the economy and the rest of society; and (3) the study of changes in the institutional and cultural parameters that constitute the economy’s societal context. (SMELSER; SWEDBERG, 2005, p. 6).

Destes, a linha de maior interesse para nosso trabalho é justamente a que enfatiza as mudanças institucionais e nos parâmetros culturais.

Ainda segundo Smelser e Swerdberg (2005), o interesse no estudo da economia a partir dos instrumentais sociológicos se deve, principalmente, ao artigo de Granovetter de 1985, intitulado “Economic action and social structure: The problem of embeddedness”, no qual ele postula que “economic actions are embedded in concrete, ongoing systems of social relations” (SMELSER; SWEDBERG, 2005, p. 15).

Na sua proposição de um arcabouço de análise das instituições econômicas como construções sociais, Granovetter (1992) afirma que sua construção tem como base três pressupostos sociológicos clássicos, quais sejam

(1) the pursuit of economic goals is normally accompanied by that of such non-economic ones as sociability, approval, status and power; (2) non-economic action (like all action) is socially situated, and cannot be explained by individuals motives alone; it is embedded in ongoing networks of personal relations rather than carried out by atomized actors [...]; (3) economic institutions (like all

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institutions) do not arise automatically in some form made inevitable by external circumstances, but are ‘socially constructed. (GRANOVETTER, 1992, p. 4). Simultaneamente, seria necessário que se escapasse das interpretações opostas, mas ambas simplificadoras, culturalistas ou funcionalistas (2017). Não se poderia recair nem numa análise na qual normas, regras e hábitos são seguidos automaticamente, nem em uma análise dos indivíduos atomizados agindo apenas pelo seu auto interesse. A solução para tal problema, proposta pelo autor, seria a da compreensão das instituições econômicas numa problemática de ação coletiva.

As instituições econômicas, ainda segundo Granovetter (1992), teriam construídas por indivíduos cujas ações seriam incentivadas ou restringidas pelas estruturas sociais e os recursos disponíveis nas redes nas quais eles se inserem. Contudo, pelos exemplos demonstrados pelo autor na sua elaboração, existe uma dependência nas características específicas dos atores considerados centrais e dos contextos em que eles agem, resultando em uma análise da trajetória idiossincrática específica em um exercício de descrição histórica.

Em uma obra mais recente, Granovetter (2017) apresenta a classificação da análise econômica em três níveis distintos. O primeiro seria o nível micro, da ação econômica individual. O segundo, o nível meso, dos resultados econômicos, sendo compreendidos como resultado dos comportamentos regulares observados nas ações individuais. O terceiro nível, macro, por fim, corresponderia ao das instituições.

O autor estabelece uma série de relações entre as normas, instituições e redes. As normas - as ideias compartilhadas sobre comportamentos ideais em determinadas situações - e as redes interagem no sentido de que quanto mais densa for a rede mais efetivas aquelas serão e mais fácil seria de se evitar desvios. Ademais, é enfatizada a importância daquilo que Granovetter chama de “weak ties”, uma vez que novas informações alcançariam os indivíduos por meio de outros com os quais se têm ligações mais fracas, posto que as relações mais próximas tendem a ter acesso aos mesmos círculos. Assim, as características das redes seriam importantes determinantes do grau de embeddedness e, consequentemente, das informações e opções de ação disponíveis.

(33)

Surge, na análise de um modelo de mudança institucional, o problema de determinação de qual caminho de ação institucionalmente prescrito será adotado pelo agente, uma vez que há uma sobreposição de redes e das possibilidades cultural e historicamente viáveis de escolha. O indivíduo se coloca em uma série sobreposta de papéis, sem ser possível estabelecer qual deles prevalecerá. Haveria de se considerar, ainda, o processo de formação histórica das próprias realidades culturais e ideológicas de uma sociedade ou grupo. A determinação do aspecto dominante acaba, como nos exemplos expostos em Granovetter (2017), podendo ser avaliado após a realização da transição - de forma que a análise não se pretende culturalista mas depende de características nesse sentido para justificar as trajetórias institucionais observadas.

Victor Nee (2005) busca apresentar as abordagens do novo institucionalismo na Economia e na Sociologia. Ele tem o objetivo, nas suas próprias palavras, de

[…] integrate a focus on social relations and institutions into a modern sociological approach to the study of economic behavior by highlighting the mechanisms that regulate the manner in which formal elements of institutional structures in combination with informal social organization of networks and norms facilitate, motivate, and govern economic action. (NEE, 2005, p. 49).

Precisa ser enfatizado, nessa abordagem, segundo o autor, que as relações interpessoais têm papel central na determinação das relações tanto nos mercados quanto nas firmas, tendo em vista que tais relações também implicam custos. A diferença entre a abordagem da embeddedness e da teoria dos custos de transação, aqui, difeririam na ênfase nos aspectos formais desta e nos aspectos informais daquela em relação aos elementos que atuariam sobre a questão da confiança em uma sociedade. As relações entre os componentes das relações entre as variáveis determinantes são demonstradas na figura 2.

(34)

Figura 2 – Relações entre as variáveis determinantes

Fonte: Nee (2005, p. 56).

Na sua caracterização comparativa entre os novos institucionalismos, Nee (2005, p.63) apresenta o que considera os elementos definidores da abordagem do Novo Institucionalismo da Sociologia Econômica. Primeiramente, a concepção comportamental compartilhada pelos teóricos desse campo seria a racionalidade context bound, com os atores motivados pelos seus interesses, formados pelas crenças compartilhadas, normas e relações em redes. As instituições seriam compreendidas como um sistema interrelacionado de elementos institucionais, formais ou informais, que facilitam, motivam e dirigindo a ação social e econômica. Se inserem, também, as arenas construídas socialmente nas quais os atores identificam e buscam seus interesses. Os atores seriam as organizações, com os indivíduos articulando seus interesses dentro dessas organizações ou das redes.

Em relação aos mecanismos de ação de nível macro, o autor enfatiza a regulação estatal, os mecanismos de mercado e os instrumentos de ação coletiva. Por sua vez, em relação aos mecanismos micro, como expresso na definição dos atores nessa visão, o autor apresenta a ação baseada nos interesses, operando no interior das organizações e redes. Nas palavras do autor

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[…] new institutional economic sociologists often focus on individual-level actors, whether entrepreneurs or employees. Agency and the pursuit of interests are facilitated, motivated, and governed by social relations, shared beliefs, norms, and institutions. (NEE, 2005, p. 64).

A questão da legitimidade seria responsável, em parte, pela explicação da difusão dos comportamentos no interior das organizações, ao mesmo tempo em que a sobreposição dos atores entre as organizações e redes permitiria que houvesse desvio do comportamento esperado num contexto onde prevalece o isomorfismo. A ação seria orientada, então, por “mimicking, conformity, and decoupling” (NEE, 2005, p. 65).

Dobbin (2005) afirma que, na abordagem sociológica em geral e na sociologia econômica por extensão, há a percepção de que grande parcela dos fenômenos de natureza econômica podem ser unicamente explicados pela sociedade, isto é, pelo contexto no qual se inserem. O poder explicativo desses fenômenos estaria, não obstante, nas duas abordagens: comparativa ou histórica - nas palavras dele, “social context shapes economic behavior—that modern rational behavior is learned, not innate” (DOBBIN, 2005, p. 26). Tais abordagens, na sociologia econômica, apontariam para a própria sociedade como resposta para as trajetórias institucionais, em um desenvolvimento histórico e baseado no acaso. São, não obstante, narrativas nas quais se buscam os determinantes das diferenças entre os objetos analisados ou a forma como se construiu uma realidade específica, não uma tentativa de construção de um modelo de mudança institucional.

Para o autor, não obstante, existem três vertentes, que entendem diferentes variáveis como determinantes. A primeira seria de tradição marxista, com ênfase no poder. A segunda, de tradição weberiana, sublinha as instituições. A terceira, e última, de tradição durkheimiana realça as redes sociais. A vertente com ênfase nas instituições ressalta o papel das convenções e os significados que os indivíduos dão a elas na ação econômica, ao passo que, nas redes, é frisado o papel das redes fornecendo modelos de comportamento para seus membros e agindo no sentido de constranger sua aplicação. Dobbin (2005) apresenta, portanto, uma descrição dessas tendências. Uma possibilidade, deste modo, seria a mudança institucional ter origem nas disputas internas de poder geradas pelo conflito decorrente da distribuição dos recursos em uma sociedade entre os grupos que a formam (p. 29).

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