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PERFIL DA CULTURA DO ALGODOEIRO ARBÓREO NO ESTADO DO CEARÁ

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Academic year: 2021

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PERFIL DA CULTURA DO ALGODOEIRO ARBÓREO NO ESTADO DO CEARÁ

Francisco das Chagas Vidal Neto (Embrapa Algodão / vidal@cnpa.embrapa.br), Paulo Augusto Vianna Barroso (Embrapa Algodão), José Wellington dos Santos (Embrapa Algodão), Gildo Pereira de Araújo (Embrapa Algodão)

RESUMO - A cultura do algodoeiro arbóreo na Região Nordeste do Brasil, como no Estado do Ceará, é uma incógnita, do ponto de vista de ações e políticas públicas, em função de suas características peculiares e da pouca representatividade econômica e política. Na verdade, pouco se sabe sobre a situação atual da cultura e, por conseguinte, da cadeia produtiva, no Estado do Ceará. A única informação disponível é encontrada nos relatórios de Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, realizados pelo IBGE, que fornecem apenas um retrato quantitativo sem, contudo, avaliar os aspectos produtivos e as inter-relações na cadeia produtiva. O trabalho realizado mostrou que, apesar da não interferência pública, ou mesmo da interferência pública contrária, a cadeia produtiva do algodão arbóreo ainda se mantém, mesmo de modo precário, garantindo ocupação e renda em áreas de extrema vulnerabilidade ambiente, limitante para a maioria das atividades agrícolas, nas microrregiões de Santa Quitéria, Itapipoca, Sertão de Senador Pompeu, Sertão dos Inhamuns e Chapada do Araripe. A qualidade e pureza varietal das sementes, bem como a comercialização da produção são deficientes e a assistência técnica inexiste.

Palavras-chave: algodão arbóreo, cadeia produtiva, Gossypium.

OUTLINE OF THE PERENNIAL COTTON CROP IN THE STATE OF THE CEARÁ

ABSTRACT - The culture of the perennial cotton in the Northeast Region of Brazil, as in the Ceará State, is an unknown, of the point of view of public actions and politics, in function of its peculiar characteristics and little economic and politics representation. In fact, little is known on the current situation of the crop and, therefore, on the productive chain, in the Ceará State. The only available information is found in the reports of Systematic Survey of the Agricultural Production, carried through for the IBGE, that supplies only one quantitative picture without, however, to evaluate the productive aspects and the Inter-relations in the productive chain. The carried through work showed that, despite the public not interference, or even of the contrary public interference, the productive chain of the perennial cotton still is remained, despite the precarious way, guaranteeing occupation and income in areas of extreme ambient vulnerability, restrictive for the majority of the agricultural activities, in the microregions of Santa Quitéria, Itapipoca, Sertões de Senador Pompeu, Sertões dos Inhamuns and Araripe plateau. The quality and varietal pureness of the seeds, as well as the commercialization of the production are deficient and the assistance technique inexists.

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INTRODUÇÃO

A cultura do algodoeiro perene (Gossypium hirsutum L. r. marie galante Hutch.) teve grande importância econômica e social no Estado do Ceará, pela geração de emprego e renda proporcionados. A cadeia produtiva caracterizava-se pelo sistema de produção na forma de lavoura de subsistência, em associação com culturas anuais ou forrageiras como o milho, o feijão e a palma, bem como com a pecuária. O algodão era produzido, na grande maioria, em regime de meiação, por agricultores familiares, com baixo nível de renda e instrução, altamente dependentes de políticas públicas e carentes de outras fontes, que têm na cultura sua principal fonte de renda (BARREIRO NETO et al., 1982). A comercialização contava com a participação direta dos corretores, que intermediavam a venda para as Usinas descaroçadoras e estas beneficiavam a matéria prima, transformando-a em óleo, margarina, tortas para ração animal, pluma e outros. A qualidade e pureza das sementes distribuídas para o plantio, constituídas de misturas, sempre foi um problema difícil de equacionar e que foi agravado com a entrada do algodão anual, proporcionando o aparecimento de tipos híbridos inter-raciais chamados de algodões Verdões, indesejáveis pela baixa qualidade da fibra. Após 1977, a área cultivada caiu continuadamente, em função de políticas de substituição por algodoeiro anual, períodos de secas e não renovação de lavouras velhas, culminando com a disseminação do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis Bohemam, 1843) (FREIRE, et al., 1999; MOREIRA et al., 1997). Apesar dos esforços empreendidos pelos órgãos de fomento e pesquisa, visando resgatar a cultura como atividade economicamente viável, não houve a resposta esperada e a atividade ficou entregue à própria sorte, de tal modo que a ausência de informação sobre a cadeia produtiva dificulta iniciativas para a organização do cultivo do algodoeiro arbóreo, ou mesmo do herbáceo. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento de informações atualizadas sobre distribuição geográfica e a cadeia produtiva do algodão arbóreo visando oferecer subsídios para a condução de políticas voltadas para o cultivo do algodão no estado do Ceará.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho é parte do projeto “Prospecção e caracterização de populações das espécies do gênero Gossypium nativas ou naturalizadas do Brasil”, coordenado Pela Embrapa Algodão e executado com recursos do Ministério do Meio Ambiente. Constou do levantamento in situ das áreas de ocorrência do algodão arbóreo, orientadas por informações obtidas juntas a Secretarias Municipais de Agricultura, comerciantes, Emater CE, produtores, cooperativas, usinas descaroçadoras de algodão e comerciantes locais. Para isto foi realizada uma expedição abrangendo grande parte do Estado do Ceará, em que foram realizadas 111 coletas, em 74 propriedades de 44 municípios, percorrendo 4216km, em 15 dias. De acordo com o roteiro traçado, foram realizadas coletas de sementes e material vegetal para a confecção de excicatas das espécies de Gossypium, para posterior caracterização e identificação, bem como entrevistas com os proprietários, com o preenchimento de um questionário em cada ponto de coleta das populações de Gossypium. O questionário contém questões relativas à localização geográfica, identificação do proprietário/mantenedor, do sistema de plantio e comercialização, além da estrutura da população e do ambiente em que a população está localizada. A identificação das espécies foi realizada a campo com base em características morfológicas das plantas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O roteiro percorrido para a realização das coletas procurou conciliar as disponibilidades de tempo e recursos, com a abrangência das principais microrregiões com possibilidades de existência da cultura. De todos estes municípios, destacaram-se pela presença de lavouras novas, tamanhos dos plantios e/ou interesse dos produtores: Acopiara, Campos Sales, Itapipoca, Tauá e Catunda. Além dos municípios visitados, contatos com compradores, produtores, extensionistas da Emater CE e técnicos regionais, indicam a ocorrência da cultura em: Miraima, Antonina do Norte, Saboeiro, Milha, Solonópole, Pentecoste, Assaré e Morada Nova, principalmente na forma de velhas capoeiras, algumas com mais de 20 anos. Dados não publicados do IBGE (2005) referentes à safra de 2004 incluem ainda os municípios de Apuiarés, General Sampaio e Groaíras e registram uma área total no Estado de 452ha, com uma produção de 88,14 toneladas de algodão em rama. Vale ressaltar que apenas no Distrito de Campos Sales conhecido como Carmelópolis, tivemos conhecimento do recebimento de 40 toneladas por um comprador local. Estes plantios estão situados em áreas de extrema aridez, solos rasos, com afloramento de rochas e normalmente em sopés de serras, condições limitantes ao cultivo de qualquer outra cultura.

De acordo com os dados, além das lavouras situadas em pequenas (38%) e médias/grandes propriedades (11%), o algodão arbóreo acha-se disseminado por todo o Estado, em cultivos domésticos de residências rurais (16%), residências urbanas (26%) ou em margens de estradas (26%). O cultivo doméstico para fins medicinais é uma tradição comum, não só no Ceará, mas até mesmo na Amazônia, para onde foi levado por imigrantes nordestinos (FREIRE et al., 1990). Além da comercialização de fibra (20%), o algodão arbóreo é utilizado ainda como planta medicinal (11%), pavio de lamparina (14%) e algodão de farmácia (6%). Quanto ao tipo de população, 45% das coletas foram classificadas como variedade local, 28% como fundo de quintal, 26% como beira-de-estrada e 1% como espontânea. As plantas de beira-de-estrada, oriundas do transporte do algodão, são indicativas de rotas de comercialização da matéria prima e cortam todo o estado.

Considerando-se apenas os plantios com finalidade comercial, 52% destinaram-se à comercialização da fibra, 10% ao pastejo e 38% encontravam-se sem destinação, devido à escassez e custo da mão-de-obra para colheita ou problemas de comercialização, ocasionados pelo fechamento das algodoeiras locais. O processo de comercialização mais comum se dá com a intermediação de comerciantes locais, chegando a existir até três intermediários entre o produtor e a Algodoeira, fazendo com que o produtor entregue o algodão a R$14,00/@ e a algodoeira receba a R$17,00/@. A algodoeira descaroça o algodão e faz o fluxo inverso, repassando o caroço para os respectivos intermediários, que repassam aos produtores como sementes, na forma de crédito, garantindo assim um vínculo da entrada da nova produção na safra seguinte (Fig. 1).

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↓↑

↓↑

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Figura 1. Diagrama representativo do fluxo de produção (↓) e distribuição de sementes e crédito (↑) na cadeia produtiva do algodão arbóreo no estado do Ceará.

Apesar da estrutura antiga e tradicional, esta cadeia gera emprego e renda nas regiões mais carentes do Estado. No ano de 2004, o Governo estadual proibiu a distribuição de sementes pelas algodoeiras, gerando insatisfação entre os produtores cujas terras não são aptas para o cultivo do algodão herbáceo, bem como entre as poucas algodoeiras que funcionam em condições precárias devido ao baixo volume de produção do algodão herbáceo. O controle de qualidade das sementes visando preservar a viabilidade e pureza varietal possibilitará a recuperação da qualidade da fibra, valorizando a produção. Uma alternativa seria a administração do sistema pelas algodoeiras, que distribuiriam as sementes nas áreas zoneadas, sob o disciplinamento, orientação técnica e fiscalização do Estado. A comercialização do produto como orgânico agregaria valores à cadeia produtiva.

A ocorrência de plantios de várias idades caracteriza a continuidade dos cultivos, apesar dos programas de incentivo para a erradicação da cultura iniciados logo após a chegada do bicudo-do-algodoeiro. A freqüência de 47% de lavouras com até 5 anos de idade indica que têm havido novos plantios. Os plantios com até 10 anos representam 85% das coletas. Foram encontradas lavouras produtivas com até 20 anos de idade.

As coletas foram realizadas em áreas variando desde poucas plantas, até 20 ha, com predominância na faixa de até 1ha (46%). Entre as lavouras, 79% tinham áreas de até 1ha, 7% entre 1 e 2 ha, 9% entre 2 a 5 ha e 5%, acima de 5ha.

As lavouras empregam o sistema de plantio tradicional, isto é, consorciado com culturas alimentares (milho e feijão) ou forrageiras (palma), nos dois primeiros anos. O algodão é plantado em

INTERMEDIÁRIO 1 PRODUTOR

INTERMEDIÁRIO 2

INTERMEDIÁRIO 3

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covas, no espaçamento aproximado de 2m x 1m a 2m x 2m. A origem e qualidade das sementes constituem um grande problema. Na verdade, estas são constituídas de misturas de algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L.r. latifolium Hutch.), mocó (Gossypium hirsutum L.r. marie galante Hutch.) e híbridos entre estas raças, oriundas das usinas de descaroçamento que compram o algodão, embora os produtores a tenham como algodão Seridó. Há produtores que realizam o descaroçamento manual que é facilitado pela ausência de línter nas sementes, enquanto outros plantam as sementes tal como são colhidas no capulho, quando o línter está presente. Por falta de orientação técnica, é comum o plantio deste tipo de algodão adjacente ou mesmo intercalado com cultivares como a CNPA 7MH e até algodões de fibras coloridas de origem desconhecida. O sistema de manejo não emprega adubo ou qualquer outro componente químico e não é realizado o controle de pragas. Isto oferece a possibilidade de valorização da produção, que pode ser considerada orgânica. Alguns produtores adotam a estratégia de colocar o gado para pastar no algodão a partir da rebrota (início de janeiro), até o início do mês de abril. A nova rebrota surgida após abril dará origem à produção, que se estende até o mês de dezembro. Segundo eles, a primeira rebrota sofre um grande ataque de pragas e parte da produção é perdida também pela abertura dos capulhos durante o período de chuvas. As principais pragas relatadas ou constatadas nas coletas foram o bicudo-do-algodoeiro (97,30%), Lagarta rosada (Pectinophora gossipiela Saunders) (93,92%), percevejo manchador (Oxycarenus hialynipennis) (97,30%). Segundo Beltrão et al. (1993), este sistema de cultivo é um dos mais eficientes do mundo em termos de energia cultural, daí sua importância nas regiões de baixa disponibilidade e consumo deste tipo de energia.

CONCLUSÔES

1. O cultivo do algodoeiro arbóreo ainda é praticado e fomentado pelas algodoeiras, que deste modo conseguem reduzir a capacidade ociosa e manter-se em funcionamento;

2. As principais áreas de produção situam-se nas microrregiões de Santa Quitéria, Itapipoca, Sertão de Senador Pompeu, Sertão dos inhamuns e Chapada do Araripe, no Estado do Ceará, em condições completamente adversas ao cultivo do algodão herbáceo, ou mesmo outra cultura;

3. A cadeia produtiva apresenta-se deficiente quanto à qualidade e pureza varietal das sementes, bem como à comercialização da produção e assistência técnica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARREIRO NETO, M. Causas da baixa produtividade das cultivares do algodoeiro mocó (Gossypim hirsutum L.r. Marie galante Hutch.) no Nordeste do Brasil. Campina Grande: Embrapa CNPA, 1982. 11 p. (Documentos, 43).

BELTRÃO, N. E. de M.; AZEVEDO, D. M.de; NÓBREGA, L. B. da; LACERDA, M. R. B. Estimativa da energia cultural na cotonicultura arbórea no Nordeste brasileiro, comprando-se o mocó tradicional com o precoce. Campina Grande: Embrapa CNPA, 1993. 18 p. (Boletim de Pesquisa, 29).

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FREIRE, E. C. Avaliação preliminar da coleção de algodoeiro arbóreo no Nordeste do Brasil. Campina Grande: Embrapa CNPA, 1990. 59 p. (Documentos, 38).

MEDEIROS, J. C.; AMORIM NETO, M. da S.; BELTRÃO, N. E. de M.; FREIRE, E. C. Zoneamento para a cultura do algodão arbóreo no nordeste. Disponível em: <http://www.cnpa.embrapa.br/> Acesso em: 20 de jun. de 2003.

MOREIRA et al. Decadência do algodoeiro Mocó e medidas para o seu soerguimento no Nordeste brasileiro. Campina Grande: Embrapa CNPA, 1997. 20 p. (Documentos, 43).

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