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Apoio Cultural. Prefeitura Municipal de Rio do Sul Milton Hobus Prefeito. Garibaldi Antonio Ayroso Vice-Prefeito

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Academic year: 2021

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Apoio Cultural

Prefeitura Municipal de Rio do Sul Milton Hobus

Prefeito

Garibaldi Antonio Ayroso Vice-Prefeito

Fundação Cultural de Rio do Sul Vanir Maria Círico Raizer

Superintendente Projeto Gráfico / Capa Ivan Weber Barbosa Revisão

Prof. Olímpio Tambosi Fotos Autores

Fotógrafo: Flávio Manoel Catia Dagnoni

cdagnoni@bol.com.br (47) 9998-0718 | 88110275 Rodrigo Wartha

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Catia Dagnoni

Rodrigo Wartha

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Todos os direitos desta obra e o conteúdo reservados é de responsabilidade de seus autores.

Editora

News Print Gráfica e Editora Ltda.

Av. La Salle, 1240 - Bairro Nossa Senhora de Fátima - Xanxarê - SC (49) 3433-1126

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Bibliotecária Marta Rejane Trindade de Lima - CRB 14/996 Dagnoni, Catia; Wartha, Rodrigo.

Rio do Sul em Imagens: da colonização à emancipação político-administrativa - 1892-1931 / Catia Dagnoni; Rodrigo Wartha; revisão Olímpio Tambosi. - Rio do Sul: News Print, 2011

164p. : il.

Inclui Bibliografia

Apoio Cultural da Prefeitura Municipal de Rio do Sul, Fundação Cultural de Rio do Sul

ISBN: 978-85-60350-23-0

1. História de Rio do Sul. 2. História do Alto Vale do Itajaí. I. Título. II. Autor

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SUMÁRIO

Prefácio ...07 Agradecimento ...11 Apresentação ...13 Introdução ...19 CAPÍTULO I COLONIZAÇÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ ...21

Emil Odebrecht ...23

Francisco Frankenberger ...25

Alto Vale do Itajaí ...26

Fundação da Colônia Rio do Sul ...33

CAPÍTULO II FRENTES DE COLONIZAÇÃO ...51

Basílio Correa de Negredo ...53

Colonização ...54

A Comunidade Xokleng no Alto Vale do Itajaí ...80

CAPÍTULO III NOS BASTIDORES DA EMANCIPAÇÃO ...95

Ermembergo Pellizzetti ...97

O Fator Geográfico como Base para o Movimento Emancipacionista ....99

O Fator Econômico como Base para o Movimento Emancipacionista ..110

O Movimento Emancipacionista ...129

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PREFÁCIO

Quando o outro se transforma em convivência, a relação obriga a que o pesquisador participe de sua vida, de sua cultura. Quando o outro me transforma em um compromisso,

a relação obriga a que o pesquisador participe de sua história. (BRANDÃO, 1987, p. 12) A constatação de Carlos Rodrigues Brandão expressa em breves palavras em fidelidade e maestria a obra: Rio do Sul em imagens: da

colonização à emancipação político-administrativa, assim como o

histórico e vida de seus autores.

Ler uma história é tarefa muito árdua e delicada, pois esta carrega em suas entranhas todo o movimento e respirar de vidas que, entretecidas nos labores, lutas, dores e prazeres do cotidiano, foram definindo o tracejado de um espaço sem fronteiras, uma vez que suas margens se encontram e se perdem nas margens de outras histórias.

Enganam-se os que, movidos por afoiteza e olhares limítrofes, reduzem a história a uma mera sequência lógica de fatos, datas e/ou uma sucessão das conquistas do poder e dos atos de poder.

Martin Buber rompe com essa visão reducionista e utilitarista quando situa a história como o “encadeamento das responsabilidades do poder no decorrer do tempo” (1982, p.121). O autor desloca a percepção de história de uma leitura linear para uma leitura sistêmica e, desvela outra faceta, que na verdade, é o substrato que a move e produz, ou seja, as diferentes conjugações, enquanto presenças e ausências, das responsabilidades do poder no distender-se nos tempos/espaços/lugares.

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Rio do Sul em Imagens

descobertas, embates, construções, ausências e presenças de sujeitos ora enaltecidos, ora invizibilizados, como visto nesta obra de forma particular, a partir e na socialização de um primoroso e valioso acervo fotográfico, pode ser lida por muitos ângulos e matizes.

As inúmeras contribuições dos povos habitantes da terra, como os Povos Laklãnõ Xokleng, Guarani e Kaingang; as raízes do pensamento e cultura européias, assim como as demais culturas e etnias, se fizeram e fazem presentes na tessitura histórica do Alto Vale do Itajaí.

De acordo com Wagner, muitas vezes em resposta aos urgentes desafios do cotidiano, “ao abrirmos trilhas na floresta ameaçadora, não atentamos para a riqueza e respostas já presentes nas margens”. A história de Rio de Sul, captada em imagens e disponibilizada em gratuidade e compromisso na presente obra, registra diferentes nuances e perspectivas, que solicitam por ser revisitados, visibilizados e ressignificados, uma vez que na sua origem, compõe o todo dilacerado e sacrificado ao se construir a trilha. Este é o convite e desafio que os autores desta obra fazem no decorrer deste trabalho.

Em meio a dores e alegrias, perdas e conquistas - marcas históricas de uma cidade que já completou 80 anos - a vida se faz presente em seu eterno (re)nascer. Novos olhares, leituras e possibilidades vão sendo gestados. Uma profunda reflexão é desencadeada em relação à identidade, futuro e participação/emancipação dos sujeitos que a constituem.

Essas reflexões começam a encontrar eco em diferentes pontos da comunidade, da academia e poder instituído, onde um outro paradigma com novas perspectivas, abordagens e inclusões vai sendo construído em meio a diferentes iniciativas que se apresentam no cotidiano.

O desafio de Buber (1982, p.121), permanece latente: “História não é a sucessão das conquistas do poder e dos atos do poder, mas é o encadeamento das responsabilidades do poder no decorrer do tempo”.

Em sintonia com os autores da obra, que ora tenho a honra de prefaciar, Buber mobiliza reflexões e ações que venham a configurar, no encadeamento das responsabilidades do poder de muitos, uma história que possa revelar a participação, contribuição e interesses

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Da colonização à emancipação político-administrativa - 1892-1931

Seja este o intento e compromisso de todos e todas, que tiverem o privilégio e alegria de acessar ao respirar de vidas, sonhos, dores, labores, cores, sabores e saberes, que nele se refugiam, à espera de quem os saiba acolher, interpretar, ressignificar, compartilhar e reconstruir.

Outono de 2011.

Profª. Dra. Lilian Blanck de Oliveira PPGDR/GPEAD/FURB

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AGRADECIMENTO

Nosso agradecimento pelo incentivo e colaboração à Fundação Cultural de Rio do Sul, em especial, à Superintendente Vanir Maria Círico Raizer, aos Funcionários do Museu Histórico Cultural e Arquivo Público Histórico: Rodrigo Farber; Marisa dos Santos e Loeri Maas e ao funcionário que há muitos anos vem participando ativamente com sua arte, Ivan Weber Barbosa e a todo corpo de funcionários e professores que, de alguma forma, sempre incentivam os projetos e atividades desenvolvidos pelo departamento de História.

O nosso muito obrigado à professora Lilian Blanck de Oliveira, que, prontamente, atendeu nossa solicitação para realização do prefácio, uma apaixonada pela pesquisa, deixamos nosso agradecimento especial.

Agradecemos também ao Prefeito Municipal de Rio do Sul Milton Hobus e ao Vice-Prefeito Garibaldi Antonio Ayroso, que perceberam e identificaram a importância da pesquisa e da preservação e conservação da história regional. Um exemplo está na construção de um novo espaço para o Arquivo Público Histórico e no incentivo de trabalhos como esse.

À Faculdade Ação e Colégio Energia de Rio do Sul, que, prontamente, em nome de seus Diretores, funcionários e professores, apoiaram o projeto.

Construímos muitas amizades no decorrer de nossas pesquisas, amigos que nos apoiaram e nos dedicaram tempo, refletindo os objetivos de nossos projetos, um grande abraço a Carmiro Dagnoni, Cintia Dagnoni, Diogo O. Beber, Douglas Werner, Elisabete Cavilha, Elizete Aragão Pereira, Flávio F. de Andrade, Flávio Manoel da Silva, Franciane Giese, Lindamir Alegri, Luciana Juceli Alegri, Luciana Schneider, Luciano Marchi, Marta Rejane Trindade de Lima, Martin Kreuz, Olimpio Tambosi, Rafael Bull, Silvio D. Zanqueta, Valdecir Butzke,

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Rio do Sul em Imagens

Vanelir Dagnoni (in memorian), Vanessa Nicoceli e Wilson de Lima Sousa.

Agradecemos também à Associação de Escritores do Alto Vale do Itajaí e aos nossos familiares, pela participação no dia a dia e por ter nos apoiado e compreendido a ausência e o comprometimento com a pesquisa.

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APRESENTAÇÃO

Diante de Rio do Sul completar 80 anos de emancipação politico-administrativa no dia 15 de abril de 2011 e da vasta documentação encontrada sobre a colonização do Alto Vale do Itajaí no Arquivo Público Histórico de Rio do Sul, na condição de funcionários pudemos observar que muito material ainda não foi trabalhado, o que nos levou a um interesse renovado na investigação do assunto. Questões sempre nos são colocadas: Como era a vida em Rio do Sul há cem anos? Qual a influência dos rios na ocupação do espaço geográfico? Como se deu o processo de emancipação da cidade?

Tivemos o auxílio de novas fontes que trouxeram à luz o assunto, graças aos arquivos históricos regionais (Arquivo Público Histórico de Rio do Sul e Arquivo Histórico José Ferreira da Silva de Blumenau), que contêm acervos preciosos, onde se encontram, por exemplo, o diário de Francisco Frankenberger, datado de 1890 a 1900; pesquisas de diversos colaborados de nível regional, documentos do pesquisador Victor Lucas, relatos do agrimensor Emil Odebrecht, entre outros.

Além destes documentos escritos, outro documento nos instigou a pensar a história. Questionando-nos quase que diariamente e surgindo como fonte documental que em determinada situação pode ser única: A fotografia.

A atração que a imagem exerce é simplesmente fantástica, aumentada e difundida ainda mais com a popularização dos meios de comunicação. A máxima, uma imagem vale mais que mil palavras, faz-se valer nesta obra. Fotos velhas e amareladas, desgastadas com o tempo, passam aqui a decodificar o passado de Rio do Sul, do processo colonizador à emancipação. Fotos estas que foram criadas na época em que possuíam algum sentido, ou melhor, deram-lhes um sentido. Festas, inaugurações, casamentos entre outros foram momentos que atravessaram décadas para chagarem até nós materializados em forma

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de fotografia.

Mas ao mesmo tempo em que estas fotos foram feitas (pois além do ato de fotografar, existe o ato de revelar, esperar pela fotografia e então socializá-la com as pessoas para qual tal foto faz sentido) elas também ganharam significado social. Pois possuem um impacto social bastante grande, da mesma forma como um livro, um pronunciamento ou um manifesto o contexto diz muito. Talvez, seja o contexto o elemento principal para a criação de uma foto. Tanto o objeto que está sendo fotografado como a forma que o fotógrafo elegeu para fotografá-lo é influenciado pelo momento histórico. Sendo assim, na maioria das vezes, a fotografia faz sentido somente em certo contexto, e fora deste, corre o risco de perder o seu significado social, passando a ser somente uma entre outras, ou então ser resignificada.

Estas fotografias, ao serem criadas, em sua maioria noventa, cem anos atrás, possuíam um sentido específico, quase que unânime em sua leitura. Dado o contexto. Observando-as agora, como pessoas do século XXI lançamos outros olhares que criam novas perguntas, pois desnaturalizam situações antes naturalizadas. Por que as fotos foram tiradas nestes locais? Por que as pessoas estão nesta disposição?

Muitas destas fotografias já foram publicadas em livros e revistas, mas em sua grande maioria estão arquivadas no Arquivo Público Histórico de Rio do Sul esperando para serem deleitadas, e por isso resignificadas sob o olhar subjetivo de cada pessoa. Assim desencadeando mais questões.

Ao fazer opções, criamos um olhar singular e específico sobre o passado de Rio do Sul, talvez por isso possamos ter deixado alguns fatos (e fotos) de lado e exaltados outros. Risco inerente ao ofício do historiador.

Utilizamos uma metodologia mais abrangente e geral, portanto, menos rígida, tendo em vista o público ao qual esta obra é destinada. A verdadeira razão desta pesquisa que culminou com a publicação deste livro é a difusão do conhecimento da história de Rio do Sul. Por isso, um livro para o público em geral. Isto explica a sua forma de criação, a linguagem de fácil acesso e a utilização do recurso visual como uma forma de diálogo com o leitor.

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pode comprovar diversos fatos, sendo utilizada como excelente fonte histórica e rica fonte de pesquisa, contribuindo para a construção de um imaginário específico, influenciando na percepção dos leitores sobre determinada época, desencadeando dúvidas até então inimagináveis, despertando os mais diversos sentimentos dos porões da alma humana. Quem não se horroriza com as fotografias do holocausto? Quem é capaz de passar indiferente à doçura e singeleza dos olhares de Chaplin?

No entanto, existe muito mais em comum entre ambas. É o fato da opção. Sempre que o fotógrafo cria, constrói uma fotografia ele dá ênfase para tal. O ato de dar ênfase em uma imagem, criando uma foto faz com que ele focalize seu trabalho em uma imagem específica e entre outras coisas ignora as demais.

O ato de “ignorar” algumas coisas por parte dos fotógrafos pode ser pensado a partir de diversas perspectivas. Ao analisarmos as fotografias familiares das primeiras décadas do século XX, observamos quase sempre a presença de famílias em locais privados, onde o pai está sentado no centro e a mãe e os filhos se colocam atrás. Estas fotografias representam a presença de uma família patriarcal em uma sociedade onde somente o homem possuía vida pública, em uma época onde as famílias, em sua grande maioria, eram agricultoras e a religião cristã lançava valores que determinava a conduta social. Estas fotografias portanto, refletem sobretudo uma época, a forma de viver, pensar e construir das pessoas em Rio do Sul. Para os fotógrafos deste período, aquela foto era uma foto tradicional, padrão, clássica, portanto, normal.

Hoje, mais de cem anos depois, ao analisarmos estas fotos várias questões nos surgem. A inquietação é constante. Os Porquês? e os Como? aparecem e reaparecem, mas ao mesmo tempo em que instiga, a fotografia também pode nos trazer conforto e respostas.

Independente de qual seja o tempo em que viva, historiador e fotógrafo estão inseridos em um contexto histórico. Portanto, é sempre a partir do presente que suas obras são criadas. Tanto um quanto outro, trabalham a partir do momento presente, do seu contexto e por isso, por serem pessoas inseridas em uma sociedade que possui suas especificidades, a leitura de mundo destes profissionais é influenciada

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pelo cotidiano em que vivem. Sempre haverá aspectos em que ambos tenham tido como normais. Seja a utilização de bicicletas, o corte de cabelo, a indumentária ou a aceitação passiva da banalização da vida. Pois tudo isto é uma construção social. Normal no sentido de construído e, na maioria das vezes, aceito pela sociedade.

Portanto, tal como a história, a fotografia é uma opção por determinada cena (para o fotógrafo) ou objeto de estudo (para o historiador). Exaltar um ato é sempre anular, invisibilizar, ignorar ou naturalizar outro, nem que for apenas por determinado momento. Mas é.

A fotografia somente chegou às classes populares com o passar do tempo e o consequente acesso financeiro. Com isto, queremos dizer ao leitor que ao ler esta obra precisa ter em mente que, quase sempre estas fotografias são de pessoas extremamente abastadas para a época. A fotografia tem também uma conotação de distinção social, sendo mais um elemento que contribui na separação de classes, garantindo status aos mais afortunados. Portanto, o leitor precisará de atenção em cada fotografia e deverá lançar um olhar crítico. Pois ao fotografar, o fotógrafo aponta o seu ponto de vista e/ou dos fotografados, que atuam como atores sociais quando a fotografia não é espontânea, tornando-se um ato de criação. A forma como se deixam fotografar, a forma como se comportam, a disposição perante as câmaras, as pessoas que podem ser fotografadas, entre outros aspectos, fazem dos fotografados personagens que criam os fatos. O ato de ocultar ou exaltar dão às pessoas fotografadas o poder de representar-se para a sociedade.

Diferentemente, hoje, vivemos em um mundo em que cada vez mais a imagem faz parte do nosso cotidiano, influencia e é influenciada por ele. A imagem passa a ganhar uma conotação de status que aumenta diariamente. A dúvida que surge é: Que tipo de imagem devemos difundir, discutir e problematizar em toda a sociedade? De uma artista famosa que possua na sua beleza seu maior mérito ou

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fotos denúncia, ao melhor estilo de Sebastião Salgado1?

A fotografia aqui é utilizada como um mecanismo que tem como pretensão despertar no leitor um sentimento de desejo pelo conhecimento da história de Rio do Sul. E através dela levá-lo a buscar outros meios e formas de ampliar o seu conhecimento.

Não utilizamos aqui a fotografia apenas como ilustração, ou mero objeto que comprova um fato. Como apontamos, ela possui uma função muito maior que isto. Sendo que suas ausências, representações e obviedades podem apontar para muitas outras situações, dependendo das questões que lhes são feitas.

Com este trabalho, acreditamos que esta forma seja apenas uma das formas do conhecimento chegar ao público em geral. Pois o conhecimento que é construído nas Universidades precisa ultrapassar os muros das instituições e chegar ao público. Esperamos que este livro possa colaborar neste sentido. Não como fonte única para o conhecimento histórico de Rio do Sul e região, mas como uma ferramenta que possa ajudar na construção do conhecimento e na consolidação da identidade do povo de Rio do Sul e Alto Vale do Itajaí.

1 Sebastião Salgado é um fotógrafo brasileiro e a sua fotografia documental é direcionada para a denúncia das condições de extrema pobreza, miséria, exploração e abandano, a qual alguns grupos humanos são submetidos. Realizando trabalhos e exposições pelo mundo.

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INTRODUÇÃO

Esta publicação objetiva um estudo da colonização de Rio do Sul no período de 1892, início da chegada dos primeiros imigrantes a 1931, emancipação da cidade. Isto através de imagens.

A ideia da realização deste trabalho surgiu há alguns anos e amadureceu ao longo de leituras e organização do acervo fotográfico, realizado no Arquivo Público Histórico de Rio do Sul. Aumentando o interesse por este trabalho, quando no decorrer dos estudos, deparamo-nos com o Diário de Francisco Frankenberger, relatando sobre sua chegada à região, de 1890 a 1900.

Pretendemos, acima de tudo, através das fotografias presentes no acervo do Arquivo Público Histórico de Rio do Sul, abrir caminhos para uma reflexão sobre a colonização de Rio do Sul, realizada por imigrantes e descendentes, bem como seus embates com a comunidade indígena Xokleng.

Recaindo o estudo, no período de 1892, início da colonização, até 1931, início de grande desenvolvimento do comércio e indústria, ocasionando a emancipação em Rio do Sul. Ressaltamos que ao tomar a iniciativa de realizar um estudo que nos remete a uma série de pontos relativos a uma parcela da história regional, onde com este conhecimento o indivíduo fortalece a sua identidade, proporcionando, condições de entender e ao mesmo tempo possibilitar, os elementos que façam recriar, no caso em estudo, a colonização da cidade.

A colonização do Alto Vale do Itajaí teve a iniciativa de particulares ou empresas interessadas na riqueza de suas terras. A visão dos empreendedores particulares e sociedades colonizadoras trouxe muitos lucros para diversos colonos, pois as vias de comunicação puderam ampliar o comércio, a indústria e a produção agrícola, para mercados do litoral e planalto.

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Itajaí, aborda parcela do processo colonizador da região. O início das fundações de núcleos coloniais. O início dos trabalhos de Emil Odebrecht e a ligação construída entre a Colônia Blumenau e o Planalto Serrano criando a primeira passagem carroçável entre Blumenau e Lages, construindo assim o início do que viriam a ser as estradas que dariam base para a criação de vários municípios posteriormente, entre eles Rio do Sul, assim dando feição do traçado da malha viária e influenciado na ocupação do espaço. E ainda a influência de Francisco Frankenberger, como primeiro imigrante a construir uma roça e lançar as bases da colonização ainda no século XIX.

O segundo capítulo, Frentes de Colonização relata o estabelecimento dos imigrantes, bem como a ocupação do espaço, seus anseios e suas esperanças. O crescimento populacional e econômico de Rio do Sul. As particularidades da geografia do município no processo de imigração a consequente centralização das atividades na cidade e o seu despontar como grande núcleo da região. A presença de Basílio Correa de Negredo a balsa como um dos meios que influenciou o desenvolvimento e crescimento populacional. Com destaque para a comunidade Xokleng no Alto Vale do Itajaí.

Nos Bastidores da Emancipação, terceiro capítulo, relata a forma como o V Distrito de Blumenau chamado à época de Bella Alliança consegue se desvincular da sede e se emancipar politicamente, uma vez que antes mesmo da emancipação, a cidade possuía vida própria e mais que isto, despontava como a grande cidade do Alto Vale do Itajaí. O surgimento de Ermembergo Pellizzetti como maior nome na luta pela emancipação.

Verá o leitor que este livro, diferentemente dos demais não possui considerações finais. Estas ficam para uma reflexão. Cada um dos leitores dará o seu veredito final. Pensamos com isto, em não influenciar neste sentido, dando liberdade, assim, para que o leitor crie a sua percepção sobre o passado aqui descrito e relatado com o auxílio de imagens.

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CAPÍTULO I

COLONIZAÇÃO DO ALTO

VALE DO ITAJAÍ

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EMIL ODEBRECHT

Emil Odebrecht veio da Prussia2, chegou ao Brasil com 20

anos de idade, nasceu no ano de 1835. Era engenheiro e recebeu a tarefa de realizar uma ligação de Blumenau até o Planalto Serrano, desenvolvendo esta atividade de 1860 a 1880.

Em 1863, Emil Odebrecht iniciava uma de suas expedições para o Planalto Serrano, a fim de reconhecer o local, tal como observado por Pellizzetti (1981, p. 96) “Emil Odebrecht, conseguiu meios necessários para que se procedesse a exploração de um caminho que comunicasse Blumenau a Curitibanos”. Odebrecht realiza então três expedições para ligação com o Planalto. As expedições são assim descritas por Peluso:

essa primeira expedição nenhum fruto produziu, além do conhecimento do território. No ano seguinte, realizou uma expedição a Lages e Curitibanos, obteve os elementos necessários para proceder a exploração de um picadão que ligasse Blumenau a Curitibanos. Somente em 1867, Emil Odebrecht tornou a passar pelo território de Rio do Sul, deixando, após sua passagem, a picada que, em 1874, se transformou no picadão de cargueiros que, durante muitos anos, foi a única ligação de Blumenau com o Planalto. (PELUSO, 1942, p. 20-21).

O picadão deixado então por Emil Odebrecht foi utilizado em primeiro lugar pela corrente de povoamento que se encontrava no Vale do Itajaí, onde o crescimento ia para outros pontos, outras terras.

2 Ao longo da história a Prússia foi um território que possuiu diversas formas de organização política. Tendo sido reino, estado independente, feudo entre outros e abrangendo vasta área do centro-oeste europeu. Tendo sido dissolvida no início do século XX. Atualmente esta região abriga países como a Polônia e a Alemanha.

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FRANCISCO

FRANKENBERGER

Francisco Frankenberger, o primeiro imigrante alemão a se fixar no Alto Vale do Itajaí, na localidade conhecida como Braço do Sul (hoje Rio do Sul), em 7 de setembro de 1892, iniciando assim, a colonização desta localidade, conforme relatório final sobre o início da colonização (1992)3 e Lei n. 3.4034 . Francisco nasceu em Hilbershausen, Comarca

de Wuerzburg, na Baviera, Alemanha, no dia 4 de outubro de 1856. Ocupou ali o cargo de Buergermeister (Prefeito).

Vem para o Brasil, faz contato com o Padre José Maria Jacobs, Pároco de Blumenau, de quem se torna um grande amigo. Chegou a substituir o Padre algumas vezes nos encontros paroquiais de domingo. Convidado pelo Padre Jacobs, no início dá aulas na Escola São Paulo, de Blumenau, onde permaneceu durante três anos. Francisco Frankenberger foi visitar o Alto Vale do Itajaí, onde adquiriu terras que pertenciam ao Estado de Santa Catarina. Foi o lote nº 72, na localidade de Matador, localidade que alguns anos mais tarde os imigrantes alemães e descendentes vão chamar de Bella Alliança, pela união dos rios Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste, formando o rio Itajaí-Açu naquela localidade.

Francisco Frankenberger revela-nos em seu diário, uma forma de registro do seu dia a dia, como era o modo de pensar dos integrantes da colônia. Francisco faleceu em Rio do Sul no dia 09 de fevereiro de 1931, aos 75 anos.

3 Relatório Final Sobre o Início da Colonização de Rio do Sul. Rio do Sul, 11 jun. 1992. 4 RIO DO SUL. Prefeitura Municipal de Rio do Sul. Lei n. 3.403, de 02 de setembro de 1999.

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ALTO VALE DO ITAJAÍ

Inicialmente, colocaremos a chegada de imigrantes europeus à região, foco da pesquisa – o Alto Vale do Itajaí – dentro do quadro geral da colonização no sul do Brasil, no século XIX. Tomamos como ponto de partida o casamento do herdeiro da coroa portuguesa, Pedro de Bragança, com princesa de casa germânica, Leopoldina de Habsburgo, sob cuja influência teve início a colonização alemã. Vários núcleos foram fundados com imigrantes alemães, sendo a Colônia Leopoldina, na Bahia, o primeiro deles. Seguiu-se a fundação de outras colônias em Minas Gerais, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Paraná. Porém, os Estados que à época mais receberam contingentes imigratórios formados por alemães foram o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Os imigrantes alemães que chegaram às duas províncias meridionais no século XIX, instalaram-se nas áreas de floresta – e isto é importante reter a partir daqui – entre o planalto formado pela Serra do Mar e o litoral. Tratava-se de lugares de povoamento escasso e era necessário garantir sua posse política diante da instabilidade da demarcação das fronteiras no Sul. Por outro lado, a fundação das duas colônias no Rio Grande do Sul, São Leopoldo, criada em 1824 e São Pedro de Alcântara, em Santa Catarina, datada de 1829, ambas representando um padrão novo de colonização no país, permite entrever que se tratava de uma estratégia para dar apoio ao Império brasileiro inaugurado com a Independência, proclamada por Dom Pedro I em 1822. Ao novo governo, interessava o apoio de um sistema socioeconômico baseado em pequenas propriedades rurais, em contraste às grandes áreas monocultoras que sustentavam a economia e a política do Brasil colonial e formavam focos de apoio a Portugal.

As primeiras colônias fundadas nas províncias sulinas foram de iniciativa do governo imperial, mas, a partir de 1830, ficou proibida

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a despesa do Império com a colonização estrangeira, o que traduz o conflito de interesses no Senado, em que a pressão dos cafeicultores, por exemplo, empenhava-se em impedir a concessão de terras a pequenos proprietários independentes, interessados que estavam os fazendeiros na vinda em massa de imigrantes para substituir como mão de obra os escravos africanos. O impasse foi resolvido em 1834, quando se transferiu para o âmbito das províncias a questão do povoamento e da colonização. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, como dito acima era preciso abrir vias de comunicação entre o litoral e o planalto e, nesse ponto, para deixar bem claro o pano de fundo de nosso trabalho, repetimos de Seyferth (1974, p. 31) a afirmação tirada do estudo clássico de Leo Waibel em seus Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil que, o que interessava tanto ao governo imperial, quanto à administração provincial, era fomentar a colonização com pequenos proprietários livres “que cultivassem as terras de mata com auxílio das respectivas famílias e que não estivessem interessadas nem no trabalho escravo, nem na criação de gado”, esta última atividade caracterizando os latifúndios luso-brasileiros, em Santa Catarina por exemplo, tanto em Lages, na serra, quanto ao longo do litoral.

Para penetrar no interior recoberto pela mata atlântica era necessário acompanhar o curso dos rios, das nascentes no planalto até a foz, e se instalar nos vales; foi o que caracterizou a colonização ao longo do Rio dos Sinos (colônia São Leopoldo no Rio Grande do Sul) e do Itajaí (Santa Catarina). Nesta última província, a comunicação entre Lages e a capital, Desterro, era precaríssima, sem estrada, só contando com as picadas abertas pelos tropeiros que conduziam o gado desde Vacaria, no Rio Grande do Sul, passando pelos campos de Lages, até São Paulo5. Foi por esta razão que se criou a colônia São

5 Graças a essa atividade, de fornecer gado para as fontes auríferas e de pedras preciosas e para as fazendas que pontilhavam em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, que os bandeirantes paulistas criaram os três núcleos de povoamento mais antigos de Santa Catarina: São Francisco (1658), Desterro (1673) e Laguna (1684). Na historiografia brasileira trata-se das “entradas” e “bandeirantes”. As “entradas” seriam aquelas expedições oficiais, encarregadas de reconhecer o interior, numa primeira etapa. O litoral de Santa Catarina, pela sua elevada população indígena, passou a ser o palco da investida de inúmeras expedições de caça ao índio. Assim, o litoral percorrido por essas “bandeiras” passou a ser conhecido e de conhecimento o interesse pela posse e consequente ocupação, de São Francisco, Desterro e Laguna. (PIAZZA, 1983).

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Pedro de Alcântara, em frente à ilha de Santa Catarina, onde se localiza a capital. Carecendo esta colônia de rio navegável para escoamento da produção dos colonos ali instalados pela política imperial, seus moradores – imigrantes alemães – em boa parte vindo povoar as terras do baixo e do médio Vale do Itajaí6.

“No Vale do Itajaí, as primeiras colônias foram criadas por lei provincial de 1835, mais precisamente no rio Açu e no rio Itajaí-Mirim, tendo sua sede em Itajaí. Cumprindo a lei dois arraiais, foram fundados Pocinho e Tabuleiro, e, depois, mais dois outros arraiais no próprio Pocinho e nas nascentes do Ribeirão Conceição”. (PELUSO, 1991, p. 261). Em 1845, teve início a colonização particular no Vale do Itajaí, com a fundação de colônia belga em Ilhota, dirigida por Charles van Lede. Em 1850, foi fundada a colônia Blumenau como empreendimento particular de Hermann Otto Bruno Blumenau que, em seu idealismo, contou com o apoio pessoal do Imperador Pedro II. Na escolha do lugar para instalação de uma colônia, Hermann Blumenau – o Dr. Blumenau, como se tornará conhecido na região por ter defendido tese de doutorado em química, contou com as informações sobre o lugar – o clima e as culturas que fossem mais apropriadas ao plantio, justamente de um colono vindo de S. Pedro de Alcântara, Pedro Wagner, instalado às margens do Itajaí-Açu desde 1848, a ponto de, quando suas terras posteriormente foram englobadas na jurisdição da colônia Blumenau, ele vir a ser conhecido ali como “o pioneiro”.

Sobre a área em que vieram a se estabelecer colônias às margens do rio Itajaí, existe depoimento de um dos primeiros moradores locais, colhidos por Giralda Seyferth no jornal Novidades, da cidade de Itajaí, em edição de 1907. Convém reter desde já este cenário. Contou Antônio Costa Flores, provavelmente rememorando a década de 1850, que:

6 Não sem motivo o geógrafo Victor Peluso designou a antiga colônia São Pedro Alcântara, “centro emissor de gente”, pelo fato de, se economicamente ela não foi bem sucedida, sua população ter se espalhado por toda a Província de Santa Catarina, constituindo o tronco de boa parte das famílias de negócios catarinenses.

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nas margens do Itajaí-Mirim, em Canhanduva, em Itoupava, e até uns 10 quilômetros de distância do Itajaí nessa direção se deparavam diversos moradores, alguns bastante antigos, ou de importância... Nos vastíssimos terrenos que hoje abrangem os municípios de Brusque, e de Nova Trento e o de Blumenau, do Belchior para cima, tudo era mata virgem: não havia nenhum habitante, a não ser os selvagens [...] O povoamento do nosso território não se estendia mais de 6 a 10 quilômetros de distância da praia do mar ou das margens dos rios pelos motivos seguintes: a população era muito pouco numerosa; encontrava nos exíguos terrenos que explorava satisfação às suas modestas ambições; não dispunham de vias de comunicação terrestre bastando dizer que quase não havia outro caminho regular, além do que marginava o litoral; cousa alguma atraía para o sertão longe da costa; e – motivo principal – temiam os ataques dos bugres. (SEYFERTH, 1974, p. 40).

A região do Vale do Itajaí – uma entre as oito regiões que compõem a geografia do Estado Catarinense7 – foi colonizada por

diversas correntes migratórias. Inicialmente, para estabelecer-se junto à foz do rio, chegaram os lusos brasileiros e, a partir de 1850, os alemães e italianos8 e, ainda outros imigrantes em menores grupos, de

diferentes nacionalidades. Esse Vale acabaria possuindo características próprias dentro do Brasil, tanto pelas etnias dos imigrantes ali estabelecidos, como pelo fato de trazerem a experiência do trabalho em pequenas propriedades de terra e de serem praticantes da policultura, empenhando-se em realizar o seu ideal de possuir terra própria e liberdade.

A colonização duradoura propriamente, isto é, bem sucedida, no Vale do Itajaí teve início em 1850, com a fundação da colônia Blumenau, seguida em 1851 pela fundação da colônia Dona Francisca (Joinville) no Vale do Itapocu, e em 1860 pela fundação da colônia Brusque às margens do rio Itajaí - Mirim, esta última por iniciativa não

7 As demais regiões que compõe o território catarinense são: Litoral, Nordeste, Planalto Serrano, Planalto Norte, Sul, Meio-oeste e Oeste. (www.sc.gov.br/conteudo/santacatarina/ geografia/paginas/regioes.htm acesso em: 16 de fev. 2011).

8 Apesar da criação da nação Italiana e Alemã ocorrer após a segunda metade do século XIX, utilizaremos aqui os termos italianos e alemães para designar os imigrantes oriundos das regiões que compõem atualmente Alemanha e Itália.

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de particulares, como as duas outras, mas, por obra do governo da Província de Santa Catarina.

Segundo Peluso (1942) “o desenvolvimento da colônia Blumenau fez sentir a necessidade de comunicação com o planalto, impondo-se a conquista das terras que se encontravam rio acima”. Para nos situarmos no ambiente geográfico em que rio e serra cada vez mais ocuparão o cenário, convém saber que “Santa Catarina é drenado por uma série de bacias hidrográficas, destacando-se a do Itajaí-Açu e a Bacia do Prata”. (PELLIZZETTI, 1985, p. 31). O avanço para o interior torna-se difícil pela escarpa da serra, entretanto, estradas foram construídas para subir o planalto serrano9.

Colonizadores descendentes dos primeiros imigrantes passaram a procurar o Alto Vale do Itajaí, pois, encontravam dificuldades em conseguir terras nas proximidades da sede (da colônia Blumenau) devido ao alto preço, ao esgotamento do solo e ao próprio aumento populacional que forçava a aquisição de novas áreas. Assim sendo, a migração interna intensificou-se a partir da segunda metade do século XIX.

Na década de 1890, a instalação da balsa para travessia do rio Itajaí do Sul em Südarm ou seja, Braço do Sul, despertou a vinda de novos colonos que se juntaram aos primeiros ali instalados, como Francisco Frankenberger, Basílio Correa de Negredo, iniciando o núcleo para o desenvolvimento da atual cidade de Rio do Sul.

Segundo D’Amaral (1950), conforme Pellizzetti (1985), “a colonização, porém, tomou vulto, com a constituição da Sociedade Colonizadora Federsen, Reif, Jensen e, mais tarde pela ação do Sindicato Agrícola do município de Blumenau, organizado em 1910, com o objetivo de fomentar a agricultura e a pecuária”.

O desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí em que se uniram os interesses e os esforços do governo, das companhias de colonização e a iniciativa empreendedora de indivíduos que trouxeram a influência europeia em diferentes épocas, fez-se tendo como base de apoio

9 Segundo Peluso (1942), com o início da colônia Blumenau, o seu desenvolvimento fez sentir a necessidade de novas comunicações com o planalto.

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imprescindível a abertura de estradas. Primeiro, para abrir novas áreas de colonização e povoamento e consolidar os limites no sul do país em favor do Brasil; depois, porque a produção dos colonos exigia mercados; finalmente, porque havia a promessa da exploração de novas riquezas, como veio a ser a madeira comercializada no Rio de Janeiro, onde explodia o ramo imobiliário, após a Proclamação da República.

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Map a do lev ant ament o do Rio It ajaí-Açu Ac er vo: F amília Odebrecht

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FUNDAÇÃO DA

COLÔNIA RIO DO SUL

O Vale do Itajaí tinha terras favoráveis à colonização por meio da instalação de pequenas propriedades rurais a serem trabalhadas por mão de obra familiar, com as quais se pretendia dar estabilidade social ao Império, até então estruturado na escravidão. Nesse ponto, convergindo as intenções do Dr. Blumenau, e as do imperador Pedro II, então ocupando o trono. Em 1848, Dr. Blumenau “na qualidade de procurador da Sociedade Protetora dos emigrantes Alemães no Sul do Brasil” (PIAZZA, 1983, p. 335), solicitou junto à Presidência da Província de Santa Catarina terras para colonização, tendo sido aprovado seu pedido. Voltou à Alemanha em 1849, onde publicou o volume “O Sul do Brasil em suas Relações com a Emigração e Colonização Alemã”, frisando o potencial do local que havia visitado na Província de Santa Catarina.

Para atrair pessoas, Dr. Blumenau divulgou através de propaganda espalhada pela Europa, que a vida na América poderia ser muito melhor do que as condições existentes na Europa naquele momento. É que, no início do século XIX, sobretudo nos estados germânicos, ocorrera notável crescimento da população, surgindo, consequentemente, dificuldades decorrentes da escassez de alimentos.

Sabe-se que as pessoas emigravam por falta de oportunidade econômica em sua terra natal, quando as corporações de ofício já representavam um gargalo muito estreito para absorver a superpopulação da época. Por outro lado, a indústria nascente também desalojava os artesãos tradicionais, deixando-os sem trabalho. Na América, o que se esperava, era ter terra própria e realizar seu ideal de liberdade política, religiosa e de iniciativa.

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Início do Século XX Uma das primeiras habitações na margem direita do Rio Itajaí do Sul

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Para atrair os insatisfeitos, o Dr. Blumenau divulgou então em jornais alemães a sua impressão, para estimular a imigração para o Brasil. Foi assim que publicou na Alemanha, no ano de 1851, a obra, intitulada; “Guia de Instrução aos Emigrantes para a Província de Santa Catarina”. Notemos que em 1850 ele já fundara a sua própria colônia e lhe interessava agora vender lotes de terra a colonos. Após ter elaborado seu projeto com relação à fundação de uma colônia na Província de Santa Catarina e divulgado os atrativos locais pela imprensa alemã, Dr. Blumenau consegue atrair apenas 17 pessoas – “oito homens solteiros, três homens casados, duas mulheres solteiras, duas mulheres casadas e duas crianças” de acordo com Silva (1988, p. 34).

Em 1852, portanto, dois anos depois de sua fundação, a colônia Blumenau já registrava a presença de 102 habitantes. “Neste ano começou o trabalho de medição e demarcação de lotes urbanos e rurais, às margens do Ribeirão Garcia, local destinado à sede da colônia”. (SILVA, 1988, p. 38). Em 1875, foi a vez de chegarem os imigrantes italianos e aqueles procedentes do Império Austro-Húngaro, mais precisamente do norte da atual Itália, da região de Trento.

Quanto aos imigrantes italianos, Rossi (1976) afirma que “o primeiro grupo de imigrantes que chegou a Blumenau no ano de 1875 experimentou certa decepção ao encontrar, ao invés de esperada cidade de Blumenau, um conjunto de ranchos e algumas casinhas de madeira”.

Os alemães fundaram colônias ao longo dos rios Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim, que escoavam o comércio de sua colônia para o porto de Itajaí. Blumenau impõe-se pela sua posição geográfica no extremo do rio Itajaí-Açu.

Os colonos alemães e italianos, em algumas décadas, transformaram a região outrora de mata vigem em localidades compostas por paisagens povoadas e cultivadas. Graças aos estabelecimentos agrícolas, o comércio se fortaleceu e empresas iam se estabelecendo, preparando a transformação da colônia em municípios.

Apesar das dificuldades, a colônia Blumenau foi se expandindo e se desenvolvendo. Em consequência, o município de Blumenau é criado pelo Governo da Província de Santa Catarina, pela Lei nº 860,

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de 04 de fevereiro de 1880. Somente em julho de 1882, é realizada eleição da primeira Câmara Municipal, e no dia 10 de janeiro de 1883 é oficialmente instalado o município. Em 1894 a estrada Blumenau-Curitibanos chegou a Lontras, no Alto Vale do Itajaí e a empresa Torrens de Colonização que a mediu e estruturou, fez a transferência de terras para os colonos.

A colonização seguia rumo à serra, caso de Rio do Sul, núcleo emergente no Alto Vale do Itajaí. O rio Itajaí-Açu desempenhou papel decisivo na fixação dos colonizadores, que teve início oficialmente no ano de 1892, com a chegada do primeiro colono, vindo de Blumenau, Francisco Frankenberger. Este se fixou em Rio do Sul, na localidade de Matador.

Com o início da abertura da estrada Blumenau-Curitibanos, com as expedições de Emil Odebrecht em 1863, e com o picadão pronto em 1874, Francisco Frankenberger se interessa pelas terras do Alto Vale do Itajaí. Frankenberger é o colonizador do Alto Vale do Itajaí, conforme relatório final sobre o início da colonização e Lei n. 3.403, já citados, o qual resolve emigrar para o Brasil através das propagandas espalhadas pela Alemanha, realizadas por Dr. Blumenau e nos jornais, onde escreviam que a vida na América poderia ser melhor. Veio inicialmente para Blumenau, mais depois se transfere para o Alto Vale do Itajaí, onde compra o primeiro lote, hoje na cidade de Rio do Sul, iniciando sua colônia. Escreveu um diário, em alemão, hoje um dos documentos mais importantes, conservado no Arquivo Público Histórico de Rio do Sul, datado de 1890 a 1900. Nele se encontra descrito o dia a dia da colônia em Braço do Sul, depois Bella Alliança (hoje Rio do Sul), como por exemplo, as plantações, tempo, nível do rio Itajaí-Açu, missas, viagens, doenças, visitas, passagem de tropas de gado.

Da medição de lotes a serem adquiridos pelos colonos e construção de caminhos provisórios entre Blumenau e Rio do Sul, “foi encarregada a Companhia Brasileira Torrens, em virtude de contrato firmado com o Governo Federal em 1890. Da medição de lotes para a construção de caminhos provisórios entre Blumenau e Rio do Sul, lotes adquiridos por colonos que aí se localizaram”. (PELUSO, 1999, p. 262). Em 1894, a estrada de rodagem fica pronta até Lontras, o que “elevou o seu povoamento, torna-se então de maior importância nessa região. Por esta via de

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transporte chegam os colonos”. (PELLIZZETTI, 1981, p. 102)

Devido aos esforços, dentro de poucos anos, povoaram-se os Vales do Taió, Rio do Oeste, do Trombudo, das Pombas, até o Canoas. “E a partir de 1913, destacando-se o serviço de Henrique Reif, a colonização transformou em florescentes núcleos, as terras banhadas pelo Lauterbach, pelo Pacabach, pelo Sandabach, pelo Cotias, até os Rios da Batalha e águas Negras”. (D’AMARAL, 1950 in: PELLIZZETTI, 1985). Ao trabalho do colonizador dessas empresas particulares, junta-se, por assim dizer, a atividade dos empreiteiros e construtores de estradas, como Victor Gaertner, Henrique Reuter, Gottlieb Reif, Willy Hering e tantos outros que realizaram sua contribuição.

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Braço do Sul (Rio do Sul) Braço do Sul (Rio do Sul) Início do Século XX Início do Século XX

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Braço do Sul (Rio do Sul) 1910

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Francisco Frankenberger, esposa e filhos

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Vista de Rio do Sul Década de 1930

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Bella Alliança Bella Alliança (Rio do Sul) (Rio do Sul) Década de 1920 Década de 1920 Balsa e passagem de Balsa e passagem de tropas de gado no Rio tropas de gado no Rio Itajaí do Sul. Na frente à Itajaí do Sul. Na frente à esquerda, residência da esquerda, residência da família Odebrecht. No família Odebrecht. No local, hoje se encontra local, hoje se encontra a ponte Curt Hering a ponte Curt Hering

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Bella Alliança (Rio do Sul) Década de 1920

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CAPÍTULO II

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BASÍLIO CORREA

DE NEGREDO

Nasceu em Nova Trento, no dia 14 de setembro de 1823, no atual município de Nova Trento. Casado com Joaquina Maria de Jesus, teve dois filhos Carlos e João. Em Rio do Sul, trabalhou no serviço de balsa e por trinta anos foi amigo do engenheiro Emil Odebrecht, que traçou linhas telegráficas, demarcou os limites do Estado de Santa Catarina, e media os lotes rurais e urbanos.

Basílio Correa de Negredo foi indicado pela Prefeitura de Blumenau, para trabalhar como balseiro em Braço do Sul (Rio do Sul), por volta de 1892.

Com seus dois filhos, Basílio contribuiu na construção da Capela de São João Batista, na margem esquerda do Rio Itajaí do Sul.

Basílio, um dos primeiros homens a se estabelecer em Rio do Sul, faleceu no ano de 1907, aos 85 anos de idade.

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COLONIZAÇÃO

Com a inauguração do processo colonizador em Santa Catarina, colonos estrangeiros foram chegando e se fixando às margens do Rio Itajaí-Açu e seus afluentes.

“No século XX, presenciamos a expansão das antigas colônias de imigrantes europeus e a chegada de elementos de origem semelhante, vindos das comunidades alemãs e italianas estabelecidas”. (PELUSO, 1991, p. 254).

A já existente Cia Hamburguesa de Colonização, que fora responsável pela introdução de imigrantes em Blumenau e Joinville, enviou Karl Fabri ao Brasil, “a fim de reassumir as negociações a respeito de um novo contrato sobre as áreas e modalidades de uma futura colonização de terras catarinenses”. (RICHTER, 1992, p. 20). Tal contrato, firmado em 1895, entre o governo de Santa Catarina e Karl Fabri, inaugurou nova etapa na história da colonização em Santa Catarina, sobre a qual lê-se: “A área onde foram instalados os colonos alemães em Blumenau, com o término da expansão da frente colonizadora para o Alto Vale do Itajaí, em 1897, era de 10.610km2, contendo onze distritos, inclusive a sede Blumenau”. (HERING, 1987, p. 33). Daí em diante, “enquanto que a colonização começa a interessar aos governos provinciais, a partir dos estímulos dados pelo governo imperial, várias companhias europeias procuram obter concessões de terras e outros contratos para proceder à colonização de áreas em todo o Sul. Essas companhias haviam descoberto uma nova fonte de renda”. (SANTOS, 1973, p. 49). Em 1897, foi transferida para a Sociedade Colonizadora Hanseática a incumbência de promover a colonização alemã no interior de Santa Catarina, numa “área territorial de 174874.75 hectares, oficialmente concedidas pelo Governo de Santa Catarina, além de terras devolutas situadas nos confins da concessão e tendo à frente, como diretor geral, José Deeke”. (DEEKE, 1995, p. 8). Depois

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da Cia Hamburguesa de Colonização, foi criada a Cia Colonizadora Hanseática, que, dentro dos mesmos propósitos de sua antecessora, fundou as colônias Hansa Hammônia e Hansa Humboldt. A primeira delas, Hansa Hammônia, abrangia as terras hoje pertencentes aos municípios de Ibirama, Presidente Getúlio, Vitor Meirelles, José Boiteux, Dona Emma e Witmarsum, e as localidades de Dalbergia, Serra dos Índios e Mirador, atual Terra Indígena (127.318,047 hectares). A Colônia Hansa Humboldt corresponde, atualmente, às terras do município de Corupá-SC, porém com pendências de terras ainda da época em que a sede da empresa de colonização estava localizada em Joinville.

As companhias colonizadoras organizavam a vinda de colonos, com instalações em lugares onde mais se beneficiassem e eles fossem necessários.

Porém, a expansão colonial, mesmo com a ajuda das companhias colonizadoras e também com o apoio do Governo, não apresentava, segundo Ribeiro (1997, p. 107) “aquele caráter de deslocamento de massas humanas de que se revestiu a marcha dos cafezais paulistas. Aqui o colono europeu, depois de conduzido a seu lote, permanecia isolado com a família, muitas vezes a considerável distância dos vizinhos mais próximos”.

O modelo de ocupação das terras para colonizar a província era uma só, tanto para as colônias particulares, como para as oficiais: visando à implantação de um sitema fundiário que privilegiava a pequena propriedade familiar, objetivando o povoamento do território com pequenos produtores rurais.

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Blumenau - Rio do Sul

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Braço do Sul Braço do Sul (Rio do Sul) - 1905 (Rio do Sul) - 1905 Redondezas da praça Redondezas da praça Getúlio Vargas, Rua Ruy Getúlio Vargas, Rua Ruy Barbosa. Escola pública, Barbosa. Escola pública, Igreja Católica e ao Igreja Católica e ao fundo à direita Farmácia fundo à direita Farmácia e Casa Baumgarten e Casa Baumgarten

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Bella Alliança (Rio do Sul)

Bella Alliança (Rio do Sul) Década de 1920 Década de 1920 Balsa que ligava o Centro Balsa que ligava o Centro ao Bairro Canoas, no ao Bairro Canoas, no Rio Itajaí do Oeste, onde Rio Itajaí do Oeste, onde hoje se encontra a ponte hoje se encontra a ponte Waldemar Bornhausen. Na Waldemar Bornhausen. Na frente esperando passagem, frente esperando passagem, carro da Padaria Brehsan carro da Padaria Brehsan

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Bella Alliança (Rio do Sul)

Bella Alliança (Rio do Sul) Década e 1920 Década e 1920 Passagem de tropa de gado Passagem de tropa de gado pelo Rio Itajaí do Sul pelo Rio Itajaí do Sul

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Rio do Sul

Rio do Sul Vista do Centro da cidade Vista do Centro da cidade Década de 1930 Década de 1930

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Emil Odebrecht (a frente com

Emil Odebrecht (a frente com a mão no bolso) com sua a mão no bolso) com sua turma, em uma expedição turma, em uma expedição

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Turma de Emil Odebrecht

Turma de Emil Odebrecht em uma expedição ao em uma expedição ao

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Turma de Emil Odebrecht,

Turma de Emil Odebrecht, em uma expedição ao em uma expedição ao

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Bella Alliança (Rio do Sul) Década de 1920

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Rio do Sul Década de 1930 Década de 1930 Casa localizada no Bairro Casa localizada no Bairro Barra do Trombudo Barra do Trombudo (hoje ainda se encontra (hoje ainda se encontra conservada) conservada) Servia como hotel Servia como hotel para os tropeiros para os tropeiros

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Bella Alliança (Rio do Sul)

Bella Alliança (Rio do Sul) Década de 1920 Década de 1920

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Rio do Sul

Rio do Sul Década de 1930 Década de 1930 Vista parcial de Rio do Sul Vista parcial de Rio do Sul Rua XV de Novembro e Rua XV de Novembro e Rua Ruy Barbosa , ao fundo Rua Ruy Barbosa , ao fundo Igreja Evangélica Luterana Igreja Evangélica Luterana

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A COMUNIDADE XOKLENG

NO ALTO VALE DO ITAJAÍ

Sobre o espaço considerado até aqui, pode-se afirmar que, “os colonizadores adentraram o espaço geográfico brasileiro, não levaram em consideração a posse de terras pelas numerosas tribos indígenas aqui radicadas”, conforme Goulart (2000, p. 25). Antes da chegada dos europeus, o território de Santa Catarina já se encontrava ocupado por comunidades nativas. A população indígena existente no início da colonização de Blumenau – era numerosa. Segundo Goulart, (2000, p. 26), viviam no Brasil cerca de “5 milhões de indígenas, ocupando o território há milhares de anos”. A presença de índios no Vale do Itajaí, na então Província de Santa Catarina, aparece continuamente registrada nos documentos que as colônias enviavam ao Governo Imperial. Hoje, porém, a população indígena encontra-se restrita a pequenas áreas espalhadas em algumas regiões do Estado, denominadas, tal como em todo o território nacional, de Terras Indígenas (TI).

Historicamente, em Santa Catarina habitam três grupos indígenas principais: Xokleng, Kaingang e Guarani. Pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê, os Xokleng possuem sua história mais remota em comum com os Kaingang. Ambos ocupavam parte do território do Sul do Brasil, sendo que os primeiros habitavam a Serra do Mar desde as proximidades de Curitiba até Porto Alegre. Mais primitivos do que os Tupi-guarani, os Xokleng viviam da coleta, principalmente o pinhão, da caça e da pesca, e não se fixavam de forma definitiva. Organizavam-se em dois períodos, verão e inverno, formando grupos semi-nômades, de 50 a aproximadamente 300 membros. Tinham uma estrutura cooperativa em que os grupos eram identificados por nomes pessoais e pinturas corporais.

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circulavam entre o litoral e o planalto catarinense, ao longo do rio Itajaí-Açu e seus afluentes.

À época da colonização do Vale do Itajaí por imigrantes europeus, cada colônia contou com um diretor responsável, cuja preocupação era que os índios se mantivessem afastados das frentes de colonização. A colonização europeia, nas proximidades e dentro das áreas então habitadas pelos indígenas, trouxe com o imigrante alemão e italiano, além de doenças que acabaram por dizimar os nativos, um período de conflitos.

Após tantos embates violentos ceifando a vida de milhares de pessoas, tanto imigrantes como indígenas, o governo brasileiro passou a ser criticado internacionalmente pelo extermínio destes povos originários. Como medida no ano de 1910, criou o SPILTN, Serviço de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais. Este órgão, de filosofia positivista tinha como proposta a atração das comunidades indígenas e a construção de áreas onde estas pudessem se estabelecer definitivamente, acabando assim com o nomadismo indígena, procurando evitar os conflitos com os colonos e ampliando as áreas de ocupação dos imigrantes.

As ações do SPILTN sobre a população Xokleng iniciaram logo que este órgão fora criado, mas sem muito sucesso de diálogo entre os integrantes deste órgão federal com o povo indígena. Em 1914, Eduardo de Lima e Silva Hoerhann chegou ao Alto Vale do Itajaí. Com a metodologia de atrair os indígenas através de presentes e alimentos, Hoerhann criou um posto de atração, que seguindo os preceitos do Serviço de Proteção ao Índio (assim denominado a partir de 1914), fazia com que os curiosos indígenas se sentissem atraídos pelas novidades colocadas pelos não-índios. Em setembro de 1914, Hoerhann entrou em contato com um pequeno número de indígenas Xokleng, iniciando um processo de diálogo conhecido como pacificação10.

O Governo de Santa Catarina, aparentemente conscientizado

10 O termo Pacificação deve ser relativizado, pois não é tido como unanimidade. Uma vez que este evento culminou com o isolamento da comunidade indígena desencadeando diversos problemas.

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do problema, no conjunto repassou à comunidade indígena 14.156,58 hectares de terras, situados ao longo dos rios Hercílio (ou Itajaí do Norte) e Plate, que moldam um dos vales formadores da bacia do rio Itajaí-Açu. Localizada em quatro municípios catarinenses: José Boiteux, Victor Meirelles, Doutor Pedrinho e Itaiópolis, em torno de 70% da área da Terra Indígena está dentro dos limites dos municípios de José Boiteux e Doutor Pedrinho. Inicialmente, denominada Posto Indígena Duque de Caxias, foi criada por Adolfo Konder, em 1926, que destinou aos Xokleng nesta época 20.000 hectares11.

A comunidade Xokleng habita desde 1914 uma área conhecida então, como Reserva Indígena Duque de Caxias, a hoje Terra Indígena Ibirama Laklãnõ, localizada a 260 km ao noroeste de Florianópolis e a 100 km a oeste de Blumenau. As denominações a partir de 1914, dadas ao grupo, foram as mais variadas: “Aweikowa”, “Xokleng”, “Xocrén”, “Kaingang de Santa Catarina”, “Aweikoma-Kaingang” e pejorativamente “Bugres” e “Botocudos”. Estas denominações recaem sobre a proximidade liguístico-cultural existente entre os Xokleng e os Kaingang. Atualmente o povo se autodenomina Laklãnõ Xokleng.

Xokleng significa “aranha” ou “taipa”, denominação que, segundo os índios foi inventada pelos brancos “por engano”. Entretanto, o termo “Xokleng”, popularizado pelo trabalho do etnólogo Silvio Coelho dos Santos, foi incorporado pelo grupo enquanto denominador de uma identidade externa, usada em suas lutas políticas junto à FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e aos meios de comunicação. E Laklãnõ como denominação étnica, isso é, gente do sol, gente ligeira ou povo que vive onde nasce o sol.

À medida que as frentes de colonização avançavam e tomavam o espaço da comunidade indígena, estes se afugentavam para o interior das matas. Contra o branco não se fazia guerra, mas sim, defesa do habitat original. Até a chegada dos brancos europeus, os Laklãnõ Xokleng não realizavam guerras pelo território ou pela

11 No entanto, reivindicações para uma revisão destes números, com uma posterior ampliação são realizadas frequentemente pela comunidade Xokleng. Segundo o Laudo Antropológico de identificação e delimitação de terra de ocupação tradicional Xokleng, realizado em 1998 pela FUNAI, a comunidade Xokleng historicamente ocupa uma área de mais de 37 mil hectares.

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comida. Contudo, todos os dias era praticada a caça. Abatiam animais necessários para breve consumo.

O grupo Laklãnõ Xokleng, que atualmente reside na Terra Indígena Ibirama Laklãnõ, tem uma população que soma mais de duas mil pessoas, nas sete aldeias (esta população corresponde aos Xokleng, Kaingang e Guarani) e demais habitantes segundo levantamento realizado pela FUNAI de José Boiteux em 2005. As sete aldeias são denominadas: Sede, Bugio, Figueira, Toldo, Palmeira, Coqueiro e Pavão. “Todos têm autonomia política, um cacique e um vice-cacique regional. Há também um cacique presidente (geral), que representa e dá a unidade da comunidade perante as instituições com as quais estabelecem relações políticas”, conforme Gakran (2005, p. 16). Os mesmos são escolhidos pelo voto direto, com mandato de três anos e direito à reeleição. Referente às condições de vida, seus habitantes apresentam queixas contínuas.

Entre os Laklãnõ, a maior parte dos domicílios abrigam famílias nucleares, eles estão próximos uns dos outros e formam micro-aldeias dentro de cada vila, denominadas pelos nomes da famílias extensas que as constituem. Assim irmãos, cunhados, noras e genros vivem próximos uns dos outros, trabalham juntos, caçam juntos. (GAKRAN, 2005, p. 16).

O índio não teve mais escolha: os locais de circulação não lhe garantiam mais o alimento, que era disputado pelo colonizador. “A frequência dos ataques era continua, pois ambos os lados se agrediam como forma de retaliação”. (HOERHANN, 2004, p. 65).

A área da Terra Indígena Ibirama Laklãnõ é toda acidentada, e somente muito tempo depois foi construída uma estrada que corta a Terra Indígena, seguindo o curso do Itajaí do Norte. A falta de uma infra-estrutura e de um planejamento maior faz com que a maioria dos homens da comunidade precisem trabalhar na cidade durante a semana, impossibilitando o desenvolvimento da agricultura na área.

Foi impossível evitar que os índios dependessem sempre mais da sociedade regional. Müller (1987, p. 23) coloca que com “a depopulação e o contato com os segmentos marginais da sociedade envolvente, a estrutura social dos Xokleng apresentou mudanças profundas.

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Parte do patrimônio cultural dos índios foi sacrificado. Continuam a falar a língua tradicional e a manter o sistema de nominação, com alguns arranjos”. Não lhes restou outra alternativa senão depender da sociedade que crescia ao redor. Seu território ficou menor; eles se tornaram sedentários e mudaram sua alimentação.

Uma das atividades econômicas no então Posto Indígena foi a extração do palmito. No final da década de 1950, a Terra Indígena constituía-se em área de grande concentração dessa palmeira. No decorrer da década de 1960, aconteceu uma grande exploração. Destacamos também a madeira, que sempre foi explorada, principalmente em meados de 1960, aumentando com a construção da Barragem Norte. Sendo assim, a reserva de madeira teve um fim trágico, extinguindo-se na década de 1980. Müller (1987, p. 26) frisa que “torna trágica a história do Posto Indígena de Ibirama no tocante ao extrativismo, é o grau de extorsão a que são submetidos os membros da comunidade indígena pelas articulações profundamente assimétricas a que se acham submetidos pelos sistema interétnico ali criado”. Acrescenta nosso entrevistado, Willi Dilli: “Quem vendeu a madeira e o palmito foi a própria comunidade indígena, porque não tinha recursos. Nós sofremos muito na mão dos brancos, com as autoridades, com a construção da barragem”.

Passando quase um século da convivência entre a comunidade indígena e a sociedade envolvente, pouco foi realizado para a efetivação de uma política regional (sócio-econômica) que garanta aos índios da Terra Indígena Ibirama Laklãnõ a dignidade por meio da subsistência. A década de 1960 foi marcada por uma série de problemas envolvendo o Posto Indígena, como a extração do palmito para industrialização e a extração da madeira, como já comentamos anteriormente. Como nos diz Berta Ribeiro (1987, p. 167): “A imagem do índio foi exaltada ou denegrida, servindo, simultaneamente, com metáfora da liberdade natural e como protótipo do atraso a ser superado no processo civilizatório de construção da nação”.

A legislação federal proibiu o uso dos recursos da flora e fauna nas terras indígenas, para conservação da mata atlântica. Muitas famílias já sofreram as consequências da fome. Santos (1997, p. 119) escreve que “no passado foram atraídos ao convívio com o branco

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com presentes e promessas. Agora, têm que pedir, comover, implorar”. A terra indígena hoje é cercada por cidades em amplo desenvolvimento econômico, onde os índios são forçados a manter contato com os centros urbanos, seja para comercialização do produto agrícola, ou para venda de artesanato.

Ainda que reduzidos, por vezes incompreendidos pela sociedade envolvente, os Xokleng de hoje continuam realizando reivindicações buscando garantias dos seus direitos. Saúde, educação e a polêmica demarcação das terras são os assuntos em pauta.

Referências

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