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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS, DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS,

DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

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CONSULTA N.º 28 – CAOP Cível

OBJETO: Licitude da alienação de bens imóveis de empresa na qual o

sócio majoritário é casado sob o regime de comunhão universal de bens, sem a outorga do seu cônjuge virago e após a propositura de ação de divórcio.

INTERESSADA: Promotoria de Justiça perante a 13ª Vara Criminal de

Curitiba.

CONSULTA N. 28/2013:

1. Trata-se de consulta encaminhada em 25/07/2013, via e-mail, pela Assessora Jurídica Sra. Barbara Guimarães Rocco, a pedido da d. Promotora de Justiça Fernanda Guarnier Domiciano, da Promotoria de Justiça perante a 13ª Vara Criminal de Curitiba, a respeito de inquérito policial que apura a licitude da alienação de

bens imóveis de empresa na qual o sócio majoritário é casado sob o regime de comunhão universal de bens, sem a outorga do seu cônjuge virago e após a propositura de ação de divórcio.

Informou a consulente que o caso envolve sociedade limitada e que a cônjuge virago não é sócia da empresa, e que os bens eram de propriedade da pessoa jurídica e que foram alienados à outra empresa.

Além da licitude da alienação em razão da ausência de outorga uxória, questionou-se se a matéria pode ser discutida no juízo

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_____________________________________________________________________________________ cível ou nos autos de ação de divórcio, inclusive, com eventual bloqueio de bens.

É o que cumpria relatar, passo à manifestação.

2. Extrai-se do relato do caso apresentado pela consulente

que os bens imóveis em questão pertenciam ao patrimônio da

sociedade limitada e que foram alienados a partir de decisão tomada pela administração da empresa.

A sociedade empresária de responsabilidade limitada (art. 1.052 do Código Civil) é, em sua natureza, pessoa jurídica de direito privado (cf. artigos 40 e 44, inciso II, do Código Civil).

As pessoas jurídicas, independente do seu regime jurídico – se público ou privado -, são entidades constituídas por grupos de pessoas com interesses comuns que a lei atribui personalidade jurídica.

A partir da criação da pessoa jurídica – e, certamente, se forem respeitadas as formalidades legais -, esta passa a agir em nome próprio e não em nome de seus integrantes. Trata-se de uma ficção jurídica, que atribui à entidade a capacidade de agir de modo independente.

A respeito da matéria, destaca-se da doutrina do Min. Cezar PELUSO:

Pessoas jurídicas são entidades a que a lei atribui personalidade jurídica. A fim de realizarem finalidade comum, vários indivíduos juntam seus esforços e bens, mas, para agirem em unidade, é preciso que o grupo adquira personalidade, atuando em nome próprio, e não em nome de cada um de seus integrantes. Daí a regra segundo a qual a personalidade da pessoa jurídica não se confunde com a de seus integrantes universitas distat a singulis. Embora atendendo à imperatividade natural decorrente da natureza

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_____________________________________________________________________________________ gregária do homem, a pessoa jurídica é uma criação técnica, que reconhece o fato e o disciplina, daí afirmar Orlando Gomes que “a personalidade, isto é, a atribuição de capacidade jurídica à semelhança do que ocorre com as pessoas naturais, é uma ficção de

Direito, porque não passa de simples processo técnico (Introdução ao direito civil, 12 ed. Rio de Janeiro, Forense, 1996, p. 180). (PELUSO,

Min. Cezar. Código Civil Comentado Doutrina e Jurisprudência. Barueri, São Paulo: Manole, 5ª ed., 2011, p. 52).

A personalidade confere à pessoa jurídica a capacidade de contrair direitos e obrigações para si (cf. art. 1°, do CC).

Desse modo, os direitos adquiridos pela sociedade – na hipótese em apreço: a propriedade sobre os bens imóveis e o direito de aliená-la a terceiros -, pertencem, em regra, somente à empresa (art. 1.022, do CC).

Feita essa distinção, pode-se afirmar que o patrimônio

da sociedade empresária não se confunde com o patrimônio dos sócios, não obstante ele seja gerido pelos administradores.

Na sociedade limitada, a qualidade de sócio torna a pessoa física titular de quotas sociais, que variam de acordo com a sua contribuição no capital social (cf. art. 1.055, do CC).

As quotas de titularidade do sócio, por sua vez, integram o patrimônio da pessoa física e podem, eventualmente, ser objeto de discussão no momento da dissolução da sociedade conjugal.

Com a dissolução do vínculo conjugal, os cônjuges têm direito à meação sobre o patrimônio comum do casal e particular, dependendo do regime de bens aplicado.

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_____________________________________________________________________________________ No caso de um dos cônjuges figurar como sócio de sociedade empresária, a discussão durante o pedido de partilha deve recair, no que tange a essa parcela do patrimônio, exclusivamente sobre as quotas de sua titularidade.

Discute-se, no âmbito da jurisprudência, a forma mais adequada para a partilha de quotas sociais pertencentes a apenas um dos cônjuges.

Cuida-se de matéria interdisciplinar, que envolve especialmente questões de direito comercial.

Para o direito de empresa é vedada a alteração do contrato social para o fim de incluir um terceiro – no caso, o cônjuge meeiro – no quadro societário sem a anuência dos demais sócios.

Por essa razão, não é possível realizar a apuração do valor atual das quotas perante o capital social, partilhá-lo e promover a integração do cônjuge-meeiro ao quadro societário (cf. art. 1.002, do CC).

Diante desses casos, a jurisprudência tem considerado plausível que seja realizada permuta de bens ou então reconhecida a existência de uma sociedade interna entre os cônjuges para efeito de divisão dos lucros, se houverem, ao final de cada exercício, prolongando-se a “subsociedade” até que ocorra a liquidação da empresa (cf. art. 1.027, do Código Civil).

Com base nessa prerrogativa do cônjuge meeiro, os entendimentos jurisprudenciais são no sentido de considerar possível

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_____________________________________________________________________________________ que aquele exija – a partir da separação de corpos do casal – a prestação de contas pelos atos praticados pelo cônjuge/sócio.

Confira-se a jurisprudência:

APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO. LEGITIMIDADE ATIVA DA MEEIRA PARA HAVER PRESTADAS AS CONTAS DA EMPRESA DO QUAL O EX-MARIDO É SÓCIO COTISTA. HIPÓTESE DA OCORRÊNCIA DE "SOCIEDADE INTERNA ENTRE OS CONJUGES SEPARADOS E RELATIVAMENTE AS QUOTAS QUE PERTENCEM AO CÔNJUGE/SÓCIO DA PESSOA JURÍDICA. Em sendo a autora casada pelo regime de comunhão universal de bens e estando em processo de separação judicial e divórcio com um dos sócios da empresa Agropecuária Fertíla Ltda., incontroversa a sua condição de meeira das quotas sociais que o ex-marido possui na empresa. Em vista disso, não há óbice à pretensão deduzida na inicial, porque patente o direito da autora de ver prestadas as contas de bem que será partilhado entre ela e o ex-marido nos autos da ação de divórcio. E, enquanto não finalizada a partilha e existir bem em condomínio, administrado com exclusividade por apenas um dos cônjuges, perfeitamente possível o ajuizamento de ação de prestação de contas. Recurso provido, sentença desconstituída. (Apelação Cível Nº 70028328110, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Raupp Ruschel, Julgado em 25/08/2009)

APELAÇÃO CÍVEL. FAMÍLIA. AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA E PARTILHA DE BENS. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. PARTILHA DAS COTAS SOCIAS DE TITULARIDADE DO VARÃO EM SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. DIREITO DA CÔNJUGE VIRAGO À METADE DAS COTAS SOCIAIS DA EMPRESA, EM PECÚNIA, SEM QUE PASSE A SER TITULAR DAS COTAS FRENTE Á SOCIEDADE COMERCIAL. IMPOSSIBILIDADE DE PARTILHA DOS FRUTOS CIVIS - PRÓ-LABORE -, POR SE TRATAR DE REMUNERAÇÃO PESSOAL. OS LUCROS SÃO DECORRENTES DOS RENDIMENTOS DA EMPRESA, RELACIONADOS, PORTANTO, AO VALOR DAS COTAS SOCIAIS A QUE FAZ JUS A EX-MULHER. ADEQUAÇÃO DO QUANTUM A TÍTULO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, NA MEDIDA EM QUE, EM SE TRATANDO DE PARTILHA DE BENS, NÃO HÁ COMO NEGAR-SE O CONTEÚDO ECONÔMICO DE TAL TIPO DE DEMANDA. APELO DO RÉU PARCIALMENTE PROVIDO. APELO DA AUTORA PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70039994462, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 27/07/2011)

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_____________________________________________________________________________________ APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. Apesar de ser sócio-gerente da empresa, o embargante Marco não se obrigou pessoalmente, muito menos, solidariamente, ao assinar o contrato na qualidade de representante legal da empresa, tampouco, a embargante Lígia obrigou-se pessoal ou solidariamente, sendo apenas sócia minoritária da empresa e sequer fazia parte da sociedade na data em que foi pactuado o mútuo. É princípio basilar do direito de empresa que numa sociedade por cotas de responsabilidade limitada existe a separação entre o patrimônio da empresa e de seus sócios. Nesse tipo de sociedade, os sócios respondem pelas obrigações da empresa nos limites de suas quotas sociais, salvo nos casos em que poderá haver a desconsideração da personalidade jurídica, o que sequer foi aventado pelo credor, ora embargado. Aplicação da Teoria da Asserção. Assim, considerando que não houve a desconsideração da personalidade jurídica da executada, tenho que estão presentes as condições do art. 1.046 do CPC, de modo a considerar nula a penhora que recaiu sobre o imóvel de matrícula nº 13.752 do C.R.I, esbulhando assim o direito de propriedade dos embargantes, eis que o embargado deverá penhorar previamente o capital social da empresa e, na falta deste, postular a desconsideração da personalidade jurídica da empresa, a fim de penhorar o patrimônio pessoal dos sócios, até o limite do capital social a que se obrigaram. APELO IMPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70051120434, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, Julgado em 07/02/2013)

Portanto, diante de todo o exposto, acredita-se que, na qualidade de titular das quotas majoritárias da sociedade limitada, é licito ao cônjuge varão praticar atos pertinentes à administração de bens da empresa, independentemente do regime de bens do seu casamento e da existência de ação de divórcio anterior à alienação de bens.

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_____________________________________________________________________________________ Primeiro, porque o patrimônio da sociedade não se confunde com o patrimônio dos sócios, estando, em regra, fora do alcance da meação do cônjuge virago.

Segundo, porque o fato de ele ser casado sob o regime da comunhão universal de bens e de se encontrar em curso ação de divórcio poderia ensejar, somente, eventual exigência de prestação de contas para o cônjuge virago.

Diante dos questionamentos formulados, são esses, em tese, os esclarecimentos que entendemos adequados.

TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI

Procuradora de Justiça-Coordenadora

Samantha Karin Muniz

Referências

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