Revisão de casos práticos
Determinado município realizou serviços e obras de rede de água
potável e esgoto de certo bairro, durante o primeiro semestre de
2018, o que resultou na valorização de 100 (cem) imóveis da
região. O custo total da obra correspondeu a R$ 5.000.000,00
(cinco milhões de reais). Instituiu, por decreto, a Contribuição de
Melhoria para pagamento em 30 dias criando como critério de
cobrança a valorização de cada imóvel.
Determinada instituição religiosa explora, em terreno de sua
propriedade, serviço de estacionamento para veículos, revertendo
toda a renda para manter suas finalidades essenciais.
Todavia, a municipalidade onde está instalada a instituição realizou
autuação fiscal cobrando o Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza exercícios fiscais dos últimos 5 anos sob o fundamento de
que esta atividade econômica, serviços de estacionamento, consta
da lista de serviços anexa à lei municipal tributária aplicável.
O prefeito do município X o Decreto nº 123, publicado em
20/09/2017, a fim de modificar os critérios relativos à apuração
da base de cálculo do IPTU, tornando-o mais oneroso para os
contribuintes daquele município. O decreto prevê que as
mudanças por ele inseridas só entrariam em vigor a partir do dia
01/01/2018.
Em razão de uma situação de calamidade pública, o Presidente da
República edita, em junho de 2018 uma Medida Provisória
instituindo empréstimo compulsório que passará a incidir a partir
do mês subsequente. Diante desse contexto:
- O Empréstimo Compulsório poderia ser criado por MP?
- Teria que ter sido atendido ao princípio da Anterioridade?
Determinado município criou um novo imposto que tem por fato
gerador a geração de poluição e a base de cálculo é a quantidade
de lixo produzida
- Esse Fato Gerador é possível?
- O Município possui competência constitucional para criar esse
imposto?
Conceito
Imunidades são as garantias constitucionais eu impedem a
instituição de tributos a determinadas pessoas ou
situações, de forma que a competência tributária dos
diversos entes não se aplique às situações protegidas pela
Constituição Federal
A Imunidade no tributo indireto
Entidades imunes como Igrejas, Sindicatos dos Trabalhadores, Instituições de Educação e Assistência Social sem fins lucrativos, são imunes no seu PATRIMÔNIO, SERVIÇOS e RENDAS. Mas e os tributos indiretos??
Essa matéria foi objeto do Tema 342 com Repercussão
Geral reconhecida no RE 608.872 relatado pelo Min. Dias
Toffoli
A Imunidade no tributo indireto
“(...) a imunidade tributária subjetiva se aplica a seus beneficiários na posição de contribuintes de direito, mas não na de simples
contribuintes de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do beneplácito constitucional a discussão acerca da repercussão econômica do tributo envolvido. (...) 4. Cuidando do reconhecimento da imunidade em favor de entidade de assistência
social que vendia mercadorias de sua fabricação (contribuinte de direito), admite o Tribunal a imunidade, desde que o lucro obtido seja
aplicado nas atividades institucionais. 5. À luz da jurisprudência consagrada na Corte, a imunidade tributária subjetiva (...) aplica-se ao ente beneficiário na condição de contribuinte de direito, sendo irrelevante, para resolver essa questão, investigar se o tributo repercute economicamente. 6. O ente beneficiário de imunidade tributária subjetiva ocupante da posição de simples contribuinte de fato – como
ocorre no presente caso –, embora possa arcar com os ônus financeiros dos impostos envolvidos nas compras de mercadorias (a
exemplo do IPI e do ICMS), caso tenham sido transladados pelo vendedor contribuinte de direito, desembolsa importe que juridicamente não é tributo, mas sim preço, decorrente de uma relação contratual. A existência ou não dessa translação econômica e
sua intensidade dependem de diversos fatores externos à natureza da exação, como o momento da pactuação do preço (se antes ou depois da criação ou da majoração do tributo), a elasticidade da oferta e a elasticidade da demanda, dentre outros. 7. A propósito, tal orientação alinha-se aos precedentes desta Corte no sentido de ser a imunidade tributária subjetiva constante do art. 150, VI, c, da
Constituição aplicável à hipótese de importação de mercadorias pelas entidades de assistência social para uso ou consumo próprios. Essas entidades ostentam, nessa situação, a posição de contribuintes de direito, o que é suficiente para o reconhecimento do beneplácito constitucional. O fato de também serem apontadas, costumeira e concomitantemente, como contribuintes de fato é
irrelevante para a análise da controvérsia. (...) 9. Em relação ao tema nº 342 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet, fixa-se a seguinte tese: “A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de contribuinte de
direito, mas não na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do beneplácito constitucional a repercussão econômica do tributo envolvido.”
A Imunidade no tributo indireto
Sobre esse assunto o STF já havia se manifestado na Súmula
591 que é de 1976:
Súmula 591 “A imunidade ou a isenção tributária do
comprador não se estende ao produtor, contribuinte do
imposto sobre produtos industrializados.”
A Imunidade e as Contribuições
A CF especifica que as imunidades são dos IMPOSTOS, no art. 150, VI, CF. Não se estende às contribuições
Tese com Repercussão Geral aprovada em 09/12/2015 – Tema 209):
“A contribuição para o Finsocial, incidente sobre o faturamento das empresas, não está abrangida pela imunidade objetiva
prevista no art. 150, VI, d, da Constituição Federal de 1988,
As obrigações acessórias e a imunidade
A imunidade é dos Impostos, jamais das obrigações acessórias
“Recurso extraordinário com repercussão geral. Imunidade recíproca. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Peculiaridades do Serviço Postal. Exercício de atividades em regime de exclusividade e em concorrência com particulares. Irrelevância. ICMS. Transporte de encomendas. Indissociabilidade do serviço postal. Incidência da Imunidade do art. 150, VI, a da Constituição. Condição de sujeito passivo de obrigação acessória. Legalidade. (...) 6. A imunidade tributária não autoriza a exoneração de cumprimento das obrigações acessórias. A condição de sujeito passivo de obrigação acessória dependerá única e exclusivamente de previsão na legislação tributária. 7. (...)”
Imunidade das entidades assistenciais: O
que diz a lei 9532/97
Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea "c", da Constituição, considera-se imune a
instituição de educação ou de assistência social que preste os serviços para os quais houver sido
instituída e os coloque à disposição da população em geral, em caráter complementar às atividades do Estado, sem fins lucrativos.
§ 1º Não estão abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital auferidos em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável.
§ 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este artigo, estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:
(...)
f) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou creditados e a contribuição para a seguridade social relativa aos empregados, bem assim cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes;
Imunidade das entidades assistenciais: O
que diz a lei 9532/97
Art. 13. Sem prejuízo das demais penalidades previstas na lei, a Secretaria da Receita Federal suspenderá o gozo da imunidade a que se refere o artigo anterior, relativamente aos anos-calendários em que a pessoa jurídica houver praticado ou, por qualquer forma, houver contribuído para a prática de ato que constitua infração a dispositivo da legislação tributária, especialmente no caso de informar ou declarar falsamente, omitir ou simular o recebimento de doações em bens ou em dinheiro, ou de qualquer forma cooperar para que terceiro sonegue tributos ou pratique ilícitos fiscais
Parágrafo único. Considera-se, também, infração a dispositivo da legislação tributária o pagamento, pela instituição imune, em favor de seus associados ou dirigentes, ou, ainda, em favor de sócios, acionistas ou dirigentes de pessoa jurídica a ela associada por qualquer forma, de despesas consideradas indedutíveis na determinação da base de cálculo do imposto sobre a renda ou da contribuição social sobre o lucro líquido.
Imunidade das entidades assistenciais:
Inconstitucionalidade da Lei 9532/97
“(...)4. São inconstitucionais, por invadir campo reservado a lei complementar de que trata o art. 146, II, da CF: (i) a alínea f do § 2º do art. 12, por criar uma contrapartida que interfere
diretamente na atuação da entidade; o art. 13, caput, e o art. 14, ao prever a pena se suspensão do gozo da imunidade nas hipóteses que enumera. 5. Padece de inconstitucionalidade formal e material o § 1º do art. 12 da Lei nº 9.532/97, com a subtração da imunidade de acréscimos patrimoniais abrangidos pela vedação constitucional de tributar.
6. Medida cautelar confirmada. Ação direta julgada parcialmente procedente, com a declaração
i) da inconstitucionalidade formal da alínea f do § 2º do art. 12; do caput art. 13; e do art. 14; bem como ii) da inconstitucionalidade formal e material do art. 12, § 1º, todos da Lei nº 9.532/91, sendo a ação declarada improcedente quanto aos demais dispositivos legais.
(STF, ADI 1802/DF - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator: Min. DIAS TOFFOLI. Julgamento: 12/04/2018 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno – Publicação 03/05/2018)
Da necessidade da Lei Complementar
Teses com Repercussão Geral - Tema 32“Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar.”
Ementa
IMUNIDADE – DISCIPLINA – LEI COMPLEMENTAR. Ante a Constituição Federal, que a todos indistintamente submete, a regência de imunidade faz-se mediante lei complementar.
(RE 566622 / RS - RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento: 23/02/2017 Órgão Julgador: Tribunal Pleno PUBLIC 23-08-2017)
Requisitos do CTN para a
imunidade subjetiva
- Não distribuir qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas a qualquer título
- Aplicar integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos objetivos institucionais
- Manter regular escrituração de receitas e despesas, de forma a assegurar a exatidão das informações
Imunidade x Locação de bens imóveis
Art. 150, §4º, CF: “§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o patrimônio, a renda
e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.”
Imunidade x Locação de bens imóveis
Sumula Vinculante 52: “Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.”
Súmula 70 CARF: “É imune ao ITR o imóvel pertencente às entidade indicadas no artigo 150, VI, c, da Constituição, que se encontra arrendado, desde que a receita assim obtida seja aplicada nas atividades essenciais das entidades”
Imunidade x Locação de bens imóveis
Cabe à Fazenda o ônus da prova do desvio da finalidade“O Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que não cabe à entidade religiosa demonstrar que utiliza o bem de acordo com suas finalidade institucionais. Ao contrário,
compete à Administração tributária demonstrar a eventual
tredestinação do bem gravado pela imunidade.”
Imunidade dos “e-books”
O STF reconheceu que a imunidade dos livros do art. 150, VI, ‘d’ se aplica também aos livros digitais e aos equipamentos utilizados para sua leitura
RE 330817/RJ, publicado 31.08.2017
Tese de Repercussão Geral 593 “A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo.”
Outras hipóteses
- Remuneração de padres e pastores é tributável
- Imunidade do ITBI na aquisição de bens imóveis (Informativo 720 do STF) - Casa paroquial
- Imóvel para recreação dos funcionários/sindicalizados - Estacionamento
Contatos
Professor Rubens Kindlmann
@kindlmann