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SECRETARIA DE FINANÇASCONSELHO ADMINISTRATIVO FISCA - CAF PROCESSO/CONSULTA Nº 15.74464.8.14
CONSULENTE: CENTAURO SUPRIMENTOS E
SERVIÇOS LTDA
Av. Visconde de Suassuna, 735 –
Santo Amaro - – Recife/PE Inscrição municipal nº 244.893-9
RELATORA: CONSª:MÁRCIA MONTEZUMA
BATISTA BELO
REVISOR: CONSº: CARLOS FREDERICO
CORDEIRO DOS SANTOS
ACÓRDÃO Nº 089/2014
EMENTA: 1- CONSULTA FISCAL - SERVIÇOS DE LOCAÇÃO DE
BENS MÓVEIS - NATUREZA DO CONTRATO - ASSISTÊNCIA TÉCNICA - INCIDÊNCIA DO ISS.
2- A natureza da atividade de locação de bens móveis
consiste em obrigação de dar.
3- Atividades não constantes da lista de serviços anexa à
Lei Complementar nº 116/2003 não poderão ser tributados pelo ISS.
4- É válida a tributação de ISS sobre os serviços de
manutenção e de assistência técnica, em razão de expressa previsão na lista anexa à Lei Complementar 116/2003.
5- Consulta provida.
Decisão unânime.
Vistos, relatados, examinados e discutidos os presentes Autos, ACORDAM os Membros do Conselho Administrativo Fiscal, à unanimidade, na conformidade do voto da Relatora e das notas constantes da Ata de Julgamento, EM RESPONDER À CONSULTA
PROTOCOLADA SOB O Nº 15.15.74464.8.14, FORMULADA POR CENTAURO SUPRIMENTOS E SERVIÇOS LTDA., NO SENTIDO DE QUE a locação de bens móveis está fora do campo de incidência do ISS,
por não constar da Lista de Serviços anexa à Lei Complementar nº 116/2003, desde que o contrato de locação não estabeleça nenhuma obrigação de fazer.
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Continuação do Acórdão nº 089/2014A assistência técnica é um serviço, enquadrado no subitem 14.02 da Lei Complementar nº 116/2003, portanto, sobre ele incide o ISS, sendo obrigatória a emissão da NFSe.
C.A.F. Em 09 de outubro de 2014.
Márcia Montezuma Batista Belo – RELATORA
Carlos Frederico Cordeiro dos Santos – REVISOR
Elísio Soares de Carvalho Júnior
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RELATORA: CONSª: MÁRCIA MONTEZUMA
BATISTA BELO
REVISOR: CONSº: CARLOS FREDERICO
CORDEIRO DOS SANTOS
RELATÓRIO
Trata-se de consulta formulada por CENTAURO
SUPRIMENTOS E SERVIÇOS LTDA., pessoa jurídica de direito privado,
estabelecida na Avenida Visconde de Suassuna, nº 735, bairro de Santo Amaro, neste Município, inscrita no Cadastro Mercantil de Contribuintes da Prefeitura do Recife sob o nº 244.893-9 e no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica sob o nº 70.176.359/0001-08 que, por meio do processo protocolado sob o nº 15.74464.8.14, indaga a respeito da incidência do ISS sobre sua atividade de locação de máquinas copiadoras e multifuncionais, sem cessão de mão de obra, de acordo com contrato acostado aos autos.
Esclarece que cobra um valor fixo pelo aluguel dos equipamentos com uma franquia determinada da quantidade de cópias a serem tiradas, sendo cobrado também um valor pela unidade de cópias excedentes da franquia.
Ocorre que um de seus clientes questiona tal procedimento, alegando que o valor cobrado sobre as cópias excedentes caracterizaria serviço de reprografia. Alega que tais cópias são tiradas pelos próprios funcionários do locador, não sendo disponibilizado nenhum operador por parte do consulente.
É o relatório.
C.A.F. Em 24 de setembro de 2014.
MÁRCIA MONTEZUMA BATISTA BELO
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RELATORA: CONSª: MÁRCIA MONTEZUMA
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CORDEIRO DOS SANTOS
VOTO DO RELATOR
Indaga a consulente sobre a incidência do ISS sobre locação de máquinas copiadoras e multifuncionais, sem cessão de mão de obra.
Explica que cobra um valor fixo pelo aluguel dos equipamentos, sendo estabelecida uma franquia quanto à quantidade de cópias. Ultrapassada essa quantidade, é cobrado um valor por cada unidade de cópias excedente.
O contrato social da consulente, cuja cópia se encontra acostada às fls. 10 a 13-CAF-2ªinstância dos autos, estabelece que seu objeto social é “comércio varejista de material para escritório, informática, material de consumo para máquinas copiadoras, impressoras, equipamentos para automação de escritórios, venda, locação, consignação, comodato de máquinas copiadoras e serviços de manutenção em máquinas copiadoras serigrafia em geral”.
O contrato de locação de equipamento objeto da presente consulta (fls. 14 a 17-CAF-2ª instância) diz, em sua cláusula primeira, que tem por objeto a locação de equipamentos de sua propriedade. Na cláusula quinta, que trata das obrigações do locador, este se obriga a prestar assistência técnica durante o prazo de locação do equipamento.
Vale salientar que o fundamento último de validade com relação à incidência do ISS é o art. 156, III, da Constituição Federal, que estabelece a competência dos Municípios para instituir imposto sobre serviços de qualquer natureza, não compreendidos na competência tributária estadual, definidos em lei complementar.
Até agosto de 2003, quando passou a vigorar a Lei Complementar 116/2003, o Decreto-lei nº 406/68 definia os serviços sobre os quais incidia o ISS, tendo anexado ao seu art. 8º a lista de
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serviços tributáveis pelos Municípios. Posteriormente, o Decreto-lei 834/69 alterou alguns dispositivos, inclusive a mencionada lista, que recebeu nova redação com a Lei Complementar nº 56/87. A atividade de locação de bens móveis fazia parte daquela lista.
Houve inúmeras discussões doutrinárias sobre a exemplificatividade ou taxatividade da mencionada lista. Alguns entendiam que os serviços constantes da mesma seriam meros exemplos, não impedindo fossem tributadas outras atividades não constantes da mesma. Outros a reputavam taxativa, só incidindo o imposto sobre as prestações de serviços ali descritas.
Tal discussão perde o sentido após o STJ ter pacificado seu entendimento no sentido de que o caráter da lista de serviços seria taxativo, pois é a própria Constituição que determina a limitação do fato gerador do ISS, ou seja, o que seria qualificado como atividade passível de tributação por tal imposto. Destarte, o objetivo da lista seria o cumprimento do princípio constitucional da estrita legalidade tributária: é vedado aos entes tributantes exigir ou aumentar tributo sem que lei o estabeleça.
O STF comunga da mesma posição.
Para Sérgio Pinto Martins (Manual do Imposto Sobre Serviços. São Paulo. Malheiros, 1995, p. 181) “serviços
não constantes da lista não poderão ser tributados pelo ISS, nem se poderá aplicar a analogia para enquadrá-los (§ 1º do art. 108 do CTN), salvo quando a própria lista utilizar a expressão ‘e congêneres’ ou outra semelhante”.
Ricardo Lobo Torres (Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro. Renovar, 2002, p.360) considera que, para que o imposto possa ser cobrado, é necessário que o serviço conste da lista contida em lei complementar, que é taxativa em sua globalidade, admitindo, porém, a interpretação extensiva com relação a cada um dos serviços listados (RE 87.931, RTJ 89/281). No mesmo sentido se posiciona Walter Gaspar (ISS – Teoria e Prática. Rio de Janeiro. Lumen Juris, 1994, p. 31): “Assim, a lista é taxativa no geral e exemplificativa em
alguns de seus itens, onde constem expressões do tipo ‘e outros’ ‘e congêneres’ etc. Nos casos em que existam conflitos a dirimir, a própria lista encarrega-se de dirimi-los”.
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Com o advento da Lei Complementar 116/2003, que alterou a lista de serviços, foi retirada a atividade de locação de bens móveis. O subitem 3.01 da lista anexa à referida Lei Complementar, que dizia respeito a tal atividade, foi vetado pelo Presidente da República, sendo mantido o veto pelo Congresso Nacional. A motivação é que não se trataria de serviço (obrigação de fazer) mas sim de uma obrigação de dar.
Logo, a locação de bens móveis não está sujeita à incidência do ISS. Tal atividade se caracteriza pela entrega do bem ao locatário, por tempo determinado, para que ele o utilize segundo sua vontade e interesse, obedecida a finalidade a que se destina o bem, mediante o pagamento de um preço, sendo a coisa restituída ao locador findo o prazo contratual. É necessário que a natureza do contrato de locação não envolva qualquer obrigação de fazer, que configuraria serviço. Nesse sentido é a jurisprudência do STF e do STJ, senão vejamos:
STF -
"EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA. LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS ASSOCIADA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LOCAÇÃO DE
GUINDASTE E APRESENTAÇÃO DO RESPECTIVO
OPERADOR. INCIDÊNCIA DO ISS SOBRE A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. NÃO INCIDÊNCIA SOBRE A LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS. SÚMULA VINCULANTE 31. AGRAVO REGIMENTAL. 1. A Súmula Vinculante 31 não exonera a prestação de serviços concomitante à locação de bens móveis do pagamento do ISS. 2. Se houver ao mesmo tempo locação de bem móvel e prestação de serviços, o ISS incide sobre o segundo fato, sem atingir o primeiro. 3. O que a agravante poderia ter discutido, mas não o fez, é a necessidade de adequação da base de cálculo do tributo para refletir o vulto econômico da prestação de serviço, sem a inclusão dos valores relacionados à locação. Agravo regimental ao qual se nega provimento." ARE 656.709 AgR, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgamento em 14.2.2012, DJe de 8.3.2012
STJ -
EMENTA TRIBUTÁRIO IMPOSTO SOBRE SERVIÇO DE QUALQUER NATUREZA LOCAÇAO DE BENS MÓVEIS SÚMULA VINCULANTE 31/STF CONTRATO DE LOCAÇAO
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ASSISTÊNCIA TÉCNICA.1. Segundo a Súmula Vinculante 31/STJ, "é inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza ISS sobre operações de locação de bens móveis".2. É válida a tributação de ISS sobre os serviços de manutenção e de assistência técnica, em razão de expressa previsão na lista anexa à Lei Complementar 116/2003 (item que- "assistência técnica").3. O STF ainda não tratou definitivamente da questão envolvendo a conjugação de locação bem móvel e serviços acessórios, como o prestação de assistência técnica.4. A existência de prestação de serviço de assistência técnica, em caráter acessório ao contrato de locação de bem móvel, não justifica a incidência do ISS sobre o valor total da operação, sob pena de ofensa à Súmula Vinculante 31/STF.5. Recurso especial provido.
Nesse ponto vale transcrever parte do voto da relatora, Min. Eliana Calmon:
”Cuida-se de mandado de segurança impetrado por sociedade empresária, com objetivo de afastar a incidência de ISS sobre locação de bens móveis. O tribunal a quo confirmou a sentença, pela denegação da ordem, ao fundamento de que não se trata de simples locação de máquinas copiadoras, impressoras e outros equipamentos, pois o contrato firmado entre a sociedade empresária e o município também englobaria serviços de assistência técnica para manutenção das máquinas. Assim, por causa da prestação desse serviço, entendeu aquele tribunal tornar-se obrigatória a exação sobre o valor total da operação, adotando o critério da preponderância do serviço prestado. Para Min. Relatora, tal circunstância não justifica a incidência do ISS sobre a parcela referente à operação de locação "pura" de bem móvel, apenas permite a tributação sobre os serviços em questão, visto que não se aplica mais o critério da preponderância do serviço para definir a exação devida. Ademais, a partir do advento da Súmula Vinculante n. 31-STF, é inconstitucional a cobrança de ISS pelo Fisco sobre a totalidade do contrato de locação de bens móveis. Destacou que sempre há dúvida nos casos em que não se individualiza o quantum remuneratório para cada atividade, ou seja, não se delimita o valor da operação relativa à locação e à quantia devida a título de serviços de manutenção. Mas o STF ainda não tem solução definitiva para as situações de conjugação de locação de bens móveis e serviços. Dessa forma, assevera merecer reforma o acórdão recorrido, sob pena de ofensa direta ao referido enunciado vinculante, devendo a autoridade fiscal (o município) proceder à apuração do quantum devido apenas a título dos serviços de
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assistência técnica prestados, por meio do procedimento administrativo próprio ou retificação do auto infracional, respeitando-se o prazo decadencial do débito tributário. Com essas considerações, a Turma deu provimento ao recurso. REsp 1.194.999-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 26/8/2010.”
De acordo com o exposto acima, entendo estar a locação de bens móveis fora do campo de incidência do ISS, por não constar da Lista de Serviços anexa à Lei Complementar nº 116/2003, desde que o contrato de locação não estabeleça nenhuma obrigação de fazer.
A assistência técnica é um serviço, enquadrado no subitem 14.02 da Lei Complementar nº 116/2003, portanto, sobre ele incide o ISS, sendo obrigatória a emissão da NFSe.
É o voto
C.A.F. Em 09 de outubro de 2014.
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