Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Teles
maio de 2019 a agosto de 2019
Paula Sofia Siva Rocha
Orientador: Doutor João Manuel de Resende Coelho
Tutor FFUP: Prof. Doutora Manuela Morato
agosto 2019
Declaração de Integridade
Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado
previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As
referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam
escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente
indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de
referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio
constitui um ilícito académico.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 2 de outubro de 2019
Paula Sofia Silva Rocha
AGRADECIMENTOS
Chegando ao fim de mais uma etapa, não podia deixar de manifestar a minha gratidão por todos aqueles que permitiram a conclusão deste ciclo de estudos e que contribuíram para o meu crescimento profissional e acima de tudo pessoal.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, a todos os professores e funcionários, por tão bem me terem recebido e pela dedicação diária a fim de nos oferecer uma formação de excelência.
Agradeço aos amigos que nesta instituição fiz, pelo apoio, pelo companheirismo nos momentos mais difíceis e também nos mais felizes, e por tornarem todo este percurso indescritível. Aos amigos das origens que me viram crescer ao longo destes 5 anos e por sempre me motivarem a dar o melhor de mim.
De seguida, um profundo agradecimento à Comissão de Estágios, particularmente à Professora Manuela Morato, pela orientação, disponibilidade e prontidão no decorrer deste estágio.
Um agradecimento especial a toda a equipa da Farmácia Teles que me acolheu nestes 4 meses de estágio e que desde o primeiro dia se preocupou em me transmitir todo o conhecimento que estava ao alcance deles. Um obrigado especial ao Doutor João Coelho pela oportunidade de estágio, ao Doutor Raúl Grilo por todos os conselhos e pela preocupação demonstrada quanto à minha evolução e aprendizagem, à Doutora Mónica e à Doutora Susana por todos os ensinamentos transmitidos e por constituírem um exemplo de profissionalismo, ao Jorge, ao Hugo, ao Zé e ao Pedro pela paciência, compreensão e disponibilidade que sempre demonstraram em ajudar e esclarecer todas as minhas dúvidas, à Dona Emília pela simpatia, pela sabedoria e por toda a bondade e à Júlia pela energia e boa disposição. A todos o meu sincero obrigado por provarem que o espírito de entreajuda, um bom relacionamento entre a equipa e a boa disposição são a chave para construir um estabelecimento de excelência. Ao Pedro, namorado e melhor amigo, obrigada por seres o meu porto de abrigo de todas as horas, pelo apoio incondicional do o primeiro ao último dia e por nunca teres permitido que baixasse os braços. Obrigado por todos os dias me ensinares o verdadeiro sentido de amar. Por último, mas sempre em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha família, em especial aos meus pais e ao meu irmão, por estarem presentes em todos os momentos da minha vida, por todo o orgulho e fé que depositam em mim, pelo amor, pela paciência e por sempre apoiarem os meus sonhos.
A todos vocês, obrigada por tornarem este sonho possível!
RESUMO
Sendo a Farmácia Comunitária a face mais visível da profissão do farmacêutico e uma das portas de entrada para o Sistema de Saúde, torna-se primordial a passagem do estudante do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas por este serviço antes da conclusão do ciclo de estudos. O estágio profissionalizante em Farmácia Comunitária (FC) permite consolidar e complementar as competências adquiridas no decorrer do curso, proporcionando um crescimento pessoal e profissional.
A posição que adotamos nesta etapa permite-nos estabelecer proximidade e contacto com o cidadão, principal alvo da profissão, e dá-nos a oportunidade de intervir na promoção, preservação e restauro da saúde pública.
A Farmácia Teles foi o local por mim escolhido para a realização do meu estágio de 4 meses e pretendo, através deste relatório, dar a conhecer a minha experiência enquanto estagiária desta instituição de excelência. O documento encontra-se dividido em duas partes, uma primeira parte que retrata a minha experiência enquanto estagiária, as tarefas desempenhas, bem como as competências adquiridas, e uma segunda parte que integra de forma detalhada os projetos por mim desenvolvidos. A escolha dos temas resultou da carência de conhecimento e informação percetível na população relativamente a algumas temáticas. O primeiro projeto subordinado à sobreutilização de benzodiazepinas na sociedade, e o segundo tema relativo à importância da amamentação, tendo-se ambos revelado uma mais valia para a população em geral.
Consciencializada sobre o papel do farmacêutico enquanto intermediário de saúde e cada vez mais habilitada a desempenhar as suas funções, tenho em mim o desejo de continuar a praticar e a defender a profissão farmacêutica durante o meu percurso profissional.
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
...
iv
RESUMO ... v
ÍNDICE GERAL ... vi
LISTA DE ABREVIATURAS ... viii
ÍNDICE DE FIGURAS ... ix
ÍNDICE DE TABELAS ... x
ÍNDICE DE ANEXOS ... xi
PARTE A-‐ DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO ... 1
1. INTRODUÇÃO ... 1
2. FARMÁCIA TELES ... 1
2.1 LOCALIZAÇÃO, ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO .. 1
2.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO... ... 1
2.3 CARACTERIZAÇÃO DO UTENTE ... 2
2.4 RECURSOS HUMANOS ... 3
3. FONTES DE INFORMAÇÃO ... 3
4. GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA ... 4
4.1 SISTEMA INFORMÁTICO ... 4
4.2 AQUISIÇÃO DE MEDICAMENTOS E OUTROS PRODUTOS DE SAÚDE (MPS) ... 4
4.3 RECEÇÃO E CONFERÊNCIA DE ENCOMENDAS ... 5
4.4 CONTROLO DA AUTENTICIDADE DO MEDICAMENTO ... 6
4.5 ARMAZENAMENTO ... 7
4.6 GESTÃO DE STOCKS ... 8
4.7 CONTROLO DE PRAZOS DE VALIDADE (PV) ... 8
4.8 GESTÃO DE DEVOLUÇÕES ... 9
5. DISPENSA DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS DE SAÚDE ... 9
5.1 MEDICAMENTOS SUJEITOS A RECEITA MÉDICA (MSRM ... 10
5.1.1 PRESCRIÇÃO MÉDICA ... 10
5.1.2 MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS E ESTUPEFACIENTES ... 12
5.1.3 SISTEMAS DE COMPARTICIPAÇÃO ... 12
5.1.4 CONFERÊNCIA DE RECEITUÁRIO E FATURAÇÃO ... 13
5.2 MEDICAMENTOS NÃO SUJEITOS A RECEITA MÉDICA (MNSRM) ... 14
5.3 MEDICAMENTOS GENÉRICOS E PREÇOS DE REFERÊNCIA ... 14
5.4 OUTROS PRODUTOS DE SAÚDE ... 14
5.4.1 MEDICAMENTOS DE USO VETERINÁRIO ... 14
5.4.2 PRODUTOS COSMÉTICOS, DERMOFARMÁCIA E DE HIGIENE CORPORAL 15
5.4.3 PUERICULTURA ... 15
5.4.4 DISPOSITIVOS MÉDICOS ... 15
5.4.5 SUPLEMENTOS ALIMENTARES ... 16
5.4.6 MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS ... 16
5.4.7 PRODUTOS FITOTERÁPICOS ... 16
5.4.8 PRODUTOS DE ALIMENTAÇÃO ESPECIAL ... 17
6. SERVIÇOS E CUIDADOS PRESTADOS NA FARMÁCIA TELES ... 17
6.1 DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICOS E BIOQUÍMICOS ... 17
6.2 CONSULTAS DE NUTRIÇÃO ... 18
6.3 CONSULTA DE PODOLOGIA ... 18
6.4 RECOLHA DE MEDICAMENTOS-‐ VALORMED ... 18
6.5 PROGRAMA DE TROCA DE SERINGAS ... 18
8. CUIDADOS FARMACÊUTICOS ... 19
PARTE B-‐ APRESENTAÇÃO DOS TEMAS DESENVOLVIDOS ... 21
I.
UTILIZAÇÃO DE BENZODIAZEPINAS -‐ “NÃO DEIXE QUE OS ANSIOLÍTICOS TOMEM
CONTA DE SI” ... 21
1. ENQUADRAMENTO GERAL ... 21
2. FUNDAMENTO TEÓRICO ... 21
3. MECANISMO DE AÇÃO ... 21
4. ANSIEDADE E INSÓNIA ... 22
5. SEGURANÇA ... 23
5.1 TOLERÂNCIA, DEPENDÊNCIA E CRISES DE ABSTINÊNCIA ... 24
5.2 IDOSOS ... 25
5.3 DEMÊNCIA ... 25
5.4 INTERAÇÕES FARMACOLÓGICAS ... 26
6. ALTERNATIVAS ÀS BZD ... 26
7. MOTIVAÇÕES E OBJETIVOS PARA A REALIZAÇÃO DO PROJETO ... 28
8. INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA ... 28
9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 28
10. CONCLUSÕES ... 30
II.
AMAMENTAÇÃO: “UM AMOR QUE VEM DO PEITO!” ... 30
1. ENQUADRAMENTO GERAL ... 30
2. FISIOLOGIA DO ALEITAMENTO ... 31
3. ETAPAS DA LACTAÇÃO ... 32
4. COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO ... 32
4.1 MACRONUTRIENTES ... 33
4.2 MICRONUTRIENTES ... 34
4.3 COMPONENTES BIOATIVOS ... 35
5. MICROBIOMA INTESTINAL ... 36
6. BENEFÍCIOS DO LEITE MATERNO ... 37
7. AMAMENTAÇÃO EM PORTUGAL ... 37
8. MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS PARA A REALIZAÇÃO DO PROJETO ... 38
9. COCRETIZAÇÃO ... 38
10. CONCLUSÕES ... 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 40
LISTA DE TABELAS ... 46
ANEXOS ... 48
LISTA DE ABREVIATURAS
AIM- Autorização de Introdução no Mercado
ANF- Associação Nacional das Farmácias
ARS- Administração Regional de Saúde
DGS- Direção Geral de Saúde
DL- Decreto-Lei
DMT- Diabetes Mellitus
DT- Diretor Técnico
FC- Farmácia Comunitária
FT- Farmácia Teles
GABA- Ácido gama-aminobutírico
HMOs - Oligossacarídeos
INFARMED- Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.
MPS- Medicamentos e Produtos de Saúde
MNSRM- Medicamento(s) não Sujeito(s) a receita Médica
MSRM- Medicamento(s) Sujeito(s) a Receita Médica
OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
OMS- Organização Mundial de Saúde
PA- Pressão Arterial
PV- Prazo de Validade
PVP- Preço de Venda ao Público
TAG- Transtorno de Ansiedade Generalizada
TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental
TCC-I- Terapia Cognitivo-Comportamental para a Insónia
SI – Sistema Informático
SNC- Sistema Nervoso Central
SNS - Serviço Nacional de Saúde
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 -‐ Recetor do GABA e respetivos locais alvo ... 22
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1-‐ Cronograma das atividades desenvolvidas no estágio ... 46
Tabela 2 -‐ Equipa técnica da FT e respetivos cargos desempenhados ... 46
Tabela 3 -‐ Comportamentos típicos dos indivíduos que desenvolvem dependência ... 47
Tabela 4 -‐ Componentes intervencionais da Terapia Cognitivo-‐Comportamental para insónia
(TCC-‐I) ... 47
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo I-‐ Área exterior Farmácia Teles ... 48
Anexo II-‐ Área de atendimento ao público (c/ tensiómetro e balança) ... 48
Anexo III-‐ Gabinete de atendimento ao utente ... 49
Anexo IV-‐ Robot ... 49
Anexo V -‐ Inquérito desenvolvido no âmbito do projeto “Não deixe que os ansiolíticos tomem
conta de si” ... 50
Anexo VI – Folheto informativo desenvolvido no âmbito do projeto “Não deixe ... 51
Anexo VII -‐ Representação gráfica dos resultados obtidos no inquérito desenvolvido no âmbito
do projeto “Não deixe que os ansiolíticos tomem conta de si!” ... 52
Anexo VIII – Dados referentes a um estudo realizado pela Direção de Informação e
Planeamento Estratégico quanto à utilização de benzodiazepinas e análogos no ano de 2016 ....
... 54
Anexo IX – Manual desenvolvido no âmbito do projeto “Amamentação: Um amor que vem do
peito!” ... 55
PARTE A - DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO
1. INTRODUÇÃO
O estágio curricular constitui a última e talvez a mais enriquecedora etapa do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Revela-se essencial no término deste percurso, na medida em que nos permite por em prática todos os conhecimentos adquiridos ao longo destes 5 anos, permitindo ainda a aquisição de competências cruciais para o ingresso no mercado de trabalho. Escolhi a Farmácia Teles (FT) como o local para realizar este estágio, com início no dia 1 de maio e conclusão no dia 30 de agosto. Na tabela 1 encontram-se descritas as atividades realizadas no decorrer destes 4 meses. Ficou acordado de início o horário por mim a cumprir enquanto estagiária, que terá sido das 9h às 18h com interrupção para almoço entre as 13h e as 14h.
2. FARMÁCIA TELES
2.1 LOCALIZAÇÃO, ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E HORÁRIO DE
FUNCIONAMENTO
A FT localiza-se na Rua da Calçada da Feira dos Dez, número 97, na freguesia de Lourosa, concelho de Santa Maria da Feira, desde o seu ano de abertura em 1911, encontrando-se atualmente sobre a alçada do Dr. Raúl Grilo e do Dr. João Coelho. Recentemente remodelada e voltada para a tecnologia, a FT afirmou-se como uma das farmácias de eleição para a população que reconhece a dedicação e profissionalismo de todos os profissionais que integram a equipa. A sua localização próxima da estrada nacional N1, numa zona residencial e junto ao Largo da Feira dos Dez, local onde subsistem diferentes estabelecimentos comerciais e onde semanalmente se realizam feiras, contribui para uma vasta diversidade de utentes. Os utentes que frequentam a farmácia são em grande parte clientes fidelizados, o que permite aos profissionais de saúde realizar um aconselhamento e acompanhamento íntegro.
Encontra-se aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 23h, e aos sábados das 8h às 13h. Quinzenalmente encontra-se integralmente aberta durante todo o fim de semana e, para além disso, em conformidade com o plano de atendimento permanente do concelho emitido entre a Associação Nacional das Farmácias (ANF) e a Administração Regional de Saúde (ARS), periodicamente a farmácia assegura o serviço durante 24 horas. Os membros que integram a equipa da FT trabalham por turnos, sendo que estes são rotativos.
2.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO
Fruto de uma recente renovação, a FT, constituída por um piso único, possui instalações que cumprem as normas de segurança e conservação de medicamentos, satisfazendo ainda os requisitos de acessibilidade, comodidade e privacidade dos utentes de acordo com o ditado no Decreto-Lei no 75/2016, de 8 de novembro. [1]
Assim sendo, exteriormente inclui um letreiro luminoso com o respetivo nome e ainda uma cruz verde iluminada de forma a identificar facilmente a farmácia (AnexoI). [2] Para além disso, tal como a lei obriga, encontram-se devidamente expostas informações relevantes, como o nome do Diretor Técnico (DT), horário de funcionamento e ainda informação relativa às farmácias de serviço permanente. [1]O fácil acesso às instalações está assegurado dada a inexistência de
degraus e outros obstáculos na entrada.
Lateralmente à farmácia, existe uma porta através da qual é feito o rececionamento de encomendas de forma simplificar todo o funcionamento da instituição.
Interiormente o espaço obedece às normas de funcionamento e áreas mínimas legalmente estabelecidas nas Boas práticas Farmacêuticas (BPF) e é constituída por: [2]
• Área de atendimento ao público (Anexo II): trata-se de uma zona ampla onde se encontram expostos lineares de produtos de venda livre, estando estes categorizados essencialmente em dermocosmética, ortopedia e puericultura. Este espaço beneficia de um sistema de atribuição de senhas aos utentes de forma a tornar o atendimento ordeiro, um tensiómetro automático e ainda um medidor de altura e de peso. Dispõe ainda de 4 balcões, cada um equipado com um computador, e de uma pequena área didática dedicada às crianças;;
• Gabinetes de atendimento privados (Anexo III): locais onde são prestados alguns serviços farmacêuticos, como determinação e análise de parâmetros físicos e bioquímicos. Pode também ser utilizado caso o utente deseje um atendimento com maior privacidade. As consultas de nutrição e de podologia, serviços que a farmácia dispõe ao público, são realizadas em dois gabinetes reservados a esse fim;;
• Backoffice: local onde se procede à receção e verificação de encomendas e também ao armazenamento de medicamentos e produtos de saúde;;
• Laboratório: é realizada a reconstituição de fórmulas farmacêuticas orais líquidas, nomeadamente antibióticos. Neste local encontram-se armazenadas as matérias primas necessárias à sua preparação. A preparação de manipulados não é realizada nas instalações da farmácia, sendo da responsabilidade da Farmácia Barreiros;;
• Gabinete de Direção Técnica: local onde se procede à gestão dos assuntos burocráticos, análise de receituário e de faturas, e onde se realizam reuniões com delegados comerciais, delegados de informação médica e colaboradores;;
• Armazém: inclui um grande espaço onde são armazenados os excedentes e um robot, local que alberga grande parte da medicação;;
• Zona de Refeições;; • Instalações sanitárias;; • Zona de vestuário.
Como estagiária, durante todo o período deram-me a oportunidade de usufruir de todos estes espaços que compõe a farmácia.
2.3 CARACTERIZAÇÃO DO UTENTE
Como já referido, a maioria dos utentes que usufruem dos serviços prestados pela farmácia são clientes fidelizados. Apesar de servir uma população heterogénea, de diferentes faixas etárias e grau de escolaridade, é evidente uma maior afluência de idosos, polimedicados, portadores de patologias crónicas e/ou prolongadas. Deste modo, estamos perante um grupo de utentes que necessita de atenção reforçada por parte dos profissionais de saúde, aconselhamento mais rigoroso e ainda especial cuidado na linguagem adotada durante o atendimento de forma a
colmatar quaisquer dúvidas referentes à posologia e terapêutica instituída.
A FT dispõe de um sistema de Cartão de Fidelização que se encontra associado a uma ficha do utente onde consta informação pessoal relativa a cada utente e respetivo agregado familiar, e ainda o registo de toda a medicação dispensada e respetiva data de dispensa, o que permite ao farmacêutico a realização de um acompanhamento eficiente.
Como estagiária, tive a oportunidade e o privilégio de interagir com muitos utentes que se mostraram recetivos ao meu atendimento e aconselhamento, o que me permitiu afirmar na prestação de cuidados farmacêuticos, fortalecer as minhas valências e reforçar a relação utente- profissional de saúde. Em geral, demonstraram-se agradecidos, tanto pelo serviço prestado como pela disponibilidade em os ouvir, uma vez que muitos deles são idosos isolados que muitas das vezes se dirigem à farmácia para encontrar alguém com quem conversar.
2.4 RECURSOS HUMANOS
Os recursos humanos de uma farmácia, de acordo com o Decreto-Lei nº 307/2007, de 31 de agosto, encontram-se divididos em quadro farmacêutico e quadro não farmacêutico, sendo que o primeiro deverá ser constituído, pelo menos, por dois farmacêuticos assumindo um deles o cargo de DT, e o segundo deve ser integrado por técnicos de farmácia ou por outro pessoal habilitado. [3]
Diariamente a qualidade dos serviços prestados é assegurada por uma equipa de 11 profissionais, cujos cargos desempenhados se encontram descritos na Tabela 2. Trata-se de uma equipa dedicada, atenta aos seus utentes e respetivas necessidades, que tem como objetivo comum proporcionar um serviço de excelência e promover a saúde da população. O trabalho em equipa e a organização são também valorizados, prevalecendo uma atitude de entreajuda entre todos os profissionais.
3. FONTES DE INFORMAÇÃO
No sentido de auxiliar e otimizar o desempenho do farmacêutico, de acordo com o artigo nº 37 do DL 307/2007, a farmácia de oficina deve disponibilizar diferentes fontes de informação avançada sobre medicamentos. A biblioteca presente na farmácia, de acesso físico e/ou eletrónico, deve manter-se continuamente atualizada e organizada relativamente às indicações, contraindicações, interações, posologia e precauções relacionadas com o uso do medicamento. [4]
Fazem parte das fontes de informação de caráter obrigatório o Prontuário terapêutico (PT) e o Resumo das Características dos Medicamentos (RCM). Para além destas, são recomendadas algumas fontes complementares das quais fazem parte a Farmacopeia Portuguesa (FP) e Legislação Farmacêutica. [2]
A FT tem ao dispor dos profissionais as versões mais atualizadas do PT, a FP e o livro INDEX MERCK. Para além destes documentos, o software 4DigitalCar® permite ao farmacêutico a
realização de uma consulta rápida de informação fidedigna relativamente ao medicamento, tal como informação relativa à indicação terapêutica, posologia, contraindicações e interações, pelo que que se revela bastante útil, essencialmente no momento da dispensa do medicamento. Estes recursos foram bastante vantajosos no meu processo de aprendizagem no decorrer de
todo o estágio, sobretudo no momento de desenvolvimento dos projetos, tendo tido a oportunidade de contactar com todas elas.
4. GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA
Sendo a farmácia comunitária um ponto de atividade comercial, é essencial a realização de uma gestão eficiente de forma a garantir o bom funcionamento e a sustentabilidade da farmácia. Importante referir a necessidade de associar à componente comercial a componente ética na promoção da saúde pública.
4.1 SISTEMA INFORMÁTICO
Para a realização de uma boa gestão da farmácia é essencial a utilização de um Sistema Informático (SI) que permita a contínua atualização dos processos e da informação.
A FT utiliza como SI o 4DigitalCare®, tratando-se de um software recente, utilizado ainda por poucas farmácias e desenvolvido por uma equipa da qual faz parte o Doutor Raúl Grilo, que possibilita a gestão do produto durante todo o seu percurso, desde a sua entrada na farmácia até à sua saída.
Por se tratar de um programa muito intuitivo, em que todos os procedimentos e atividades decorrentes na farmácia encontram-se reunidos numa única plataforma, facilmente consegui adaptar-me ao mesmo e realizar várias tarefas durante todo o estágio. O mesmo programa permite que todos os profissionais consigam aceder de forma rápida e em tempo real, a partir de qualquer computador da farmácia, a todas as atividades e procedimentos que aí decorrem, incluindo consultar stocks, verificar qual o produto mais rentável, realizar encomendas, entre muitos outros, otimizando desta forma o processo de atendimento e gestão de encomendas. Durante o atendimento, quando nos é solicitado um produto que não se encontra disponível na farmácia, é possível, através deste SI, consultar em tempo real a sua disponibilidade nos diferentes fornecedores, e caso o produto esteja disponível é possível realizar uma encomenda instantânea e reservar o produto, evitando assim demoras para o utente naquele momento. A criação e gestão de fichas dos clientes é também uma funcionalidade vantajosa que o mesmo oferece, na medida em que possibilita a consulta do histórico de vendas e o acesso a informação pessoal de um cliente que tenha ficha criada.
Enquanto estagiária, diariamente acedi a este SI tendo-me facilmente adaptado a ele dado se tratar de um programa muito intuitivo e interativo. Através dele, no backoffice, efetuei e rececionei encomendas, procedi à gestão de prazos de validade e de stocks, efetuei devoluções, marcações de consultas de nutrição e podologia, entre outros. Durante o atendimento ao público, usufruí ao máximo das funcionalidades que o programa oferecia pelo que consultei o histórico de vendas do utente, realizei encomendas instantâneas, efetuei reservas e consultei ainda informação relativa aos medicamentos, como principais indicações terapêuticas e interações medicamentosas.
4.2 AQUISIÇÃO DE MEDICAMENTOS E OUTROS PRODUTOS DE SAÚDE
(MPS)
A aquisição de Medicamentos e de Produtos de Saúde é uma etapa fulcral no processo de gestão da farmácia condicionada por vários fatores, tais como, o poder económico da farmácia, o
histórico mensal de compras e vendas do produto, os níveis de stock, a sazonalidade do produto, a existência de bonificações, e ainda pelas normas legais impostas relativamente ao stock medicamentos genéricos. [5]
Os produtos podem ser adquiridos através de intermediários grossitas (distribuidores) ou diretamente aos laboratórios. A FT tem como principais distribuidores grossistas diários a Alliance Healthcare, Botelho & Rodrigues, Lda., Cooprofar, Empifarma e Udifarma, que asseguram a reposição de stocks e possibilitam a satisfação de encomendas realizadas no mesmo dia. Esta ligação a vários fornecedores permite a aquisição dos produtos ao melhor preço praticado no mercado e diminui ainda a possibilidade de rutura de stock.
Apesar de grande parte das encomendas serem realizadas a distribuidores, quer através do SI, quer através de contacto telefónico, certas encomendas negociadas podem ser feitas diretamente ao laboratório, nomeadamente à Alter. Estas encomendas são vantajosas na medida em que não incluem uma margem lucrativa para um distribuidor e, tratando-se de encomendas de elevadas quantidades, têm muitas das vezes condições comerciais vantajosas. De acordo com a relação entre o stock mínimo e máximo estabelecida para cada produto com base na média de vendas do mesmo, pode ser gerada uma encomenda diária automática e esta ser enviada ao fornecedor pré-definido na ficha do produto. Na FT este tipo de encomendas é realizado em dois momentos do dia. Durante o atendimento ao balcão, aquando de um pedido pelo utente de um produto que não se encontra disponível na farmácia, pode ser realizada uma encomenda instantânea para o fornecedor através do SI ou via telefónica, sendo que este é selecionado tendo em conta a disponibilidade do mesmo, o preço e a data e hora de entrega na farmácia. São ainda realizadas encomendas por Via Verde, tratando-se de um tipo especial de encomenda instantânea destinada a produtos que nem sempre se encontram disponíveis. Para tal, é necessário indicar um número de receita válido que contém o produto em questão, e caso estejam disponíveis, a encomenda é rapidamente satisfeita uma vez que estes provêm de um stock destinado a satisfazer as necessidades das farmácias neste tipo de medicamentos. Por estar incluída no grupo Elo Farma®, deve ser tido em consideração quais os produtos disponíveis nesse grupo que apresentam um preço mais atrativo.
No decorrer do estágio, procedi à realização de vários tipos de encomendas, essencialmente encomendas instantâneas e por via verde. Dada a complexidade inerente às encomendas diárias estas eram realizadas maioritariamente pelo farmacêutico responsável, no entanto também tive a oportunidade de pontualmente proceder à realização das mesmas.
4.3 RECEÇÃO E CONFERÊNCIA DE ENCOMENDAS
Os distribuidores procedem à entrega das encomendas no local de receção, através de uma porta lateral da farmácia de forma a facilitar o acesso e evitar perturbações da área destinada ao atendimento ao público. Os produtos são entregues em contentores apropriados, sendo que os medicamentos de frio são acondicionados em contentores térmicos de forma a garantir a sua conservação, devendo estes ser os primeiros a ser conferidos e armazenados.
Os MPS fazem-se acompanhar de uma fatura ou guia de remessa em duplicado, na qual encontra-se identificado o fornecedor, a farmácia e os produtos encomendados e enviados, bem
como os respetivos preços. Também se encontram especificados o Código Nacional do Produto (CNP) se disponível, o número da fatura, o valor total de Imposto de Valor Acrescentado (IVA), o Preço de Venda ao Armazenista (PVA), Preço de Venda à Farmácia (PVF), Preço de Venda ao Público (PVP) e o total a faturar.
Primeiramente procuramos a respetiva encomenda no SI com base no nome do fornecedor e número de identificação, ou, caso não tenha sido criada, esta deve ser gerada no sistema. De seguida, procede-se à conferência das quantidades enviadas através da leitura do código ótico presente nas embalagens de cada produto. Neste momento é também verificado o prazo de validade e analisado o preço de venda à farmácia (PVF) e o preço de venda ao público (PVP) em concordância com a percentagem de margem lucrativa desejada.
Para finalizar, é confirmado o número de produtos faturados bem como o custo total que consta na fatura, sendo esta posteriormente arquivada. Regra geral os produtos em falta vêm mencionados no final da fatura, devidamente justificada a sua falta na encomenda, e é gerada uma lista, podendo estes ser enviados para os produtos esgotados, adicionados à encomenda diária ou transferidos para outro fornecedor.
De acordo com a legislação específica para Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos, produtos sujeitos a um controlo mais rigoroso pelo INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.), na receção de encomendas estes medicamentos devem fazer-se acompanhar por um documento de requisição específico em duplicado e assinado pelo fornecedor. É da competência do farmacêutico responsável datar, carimbar e assinar o mesmo documento, enviar um exemplar novamente ao fornecedor, e arquivar o duplicado, que deve ser conservado por três anos, tal como a lei exige. [6]
Iniciei o meu estágio pela receção e conferência de encomendas com o objetivo de me familiarizar com o SI e contactar diariamente com os MPS disponíveis na FT de modo a reconhecê-los, o que me permitiu, posteriormente, realizar um atendimento mais consciente e informado.
4.4 CONTROLO DA AUTENTICIDADE DO MEDICAMENTO
No dia 9 de fevereiro de 2019, entrou em vigor a obrigatoriedade relativamente aos medicamentos de uso humano apresentarem nas suas embalagens dispositivos de segurança, com o objetivo de impedir a introdução de medicamentos falsificados na cadeia de abastecimento legal. Os dispositivos de segurança implementados consistem em: a) dispositivo de prevenção de adulterações, que permite verificar se a embalagem foi violada, assegurando deste modo a autenticidade do conteúdo;; b) identificador único, constituído por um código bidimensional (datamatrix) que se destina a garantir a autenticidade do medicamento e certificar que este provém do fabricante legítimo.
Todos os medicamentos de uso humano com Autorização de Introdução no Mercado (AIM) em Portugal classificados como medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) têm que incluir estes dispositivos de segurança, encontrando-se as exceções devidamente identificadas no Regulamento Delegado (UE) 2016/161, de 2 de outubro de 2015. [7]
Na FT o controlo destes dispositivos é feito em dois momentos, na receção e na dispensa do medicamento. Quando este é fornecido ao público, procede-se à desativação do identificador único, de forma a que esse mesmo identificador não possa voltar a integrar a cadeia de medicamentos.
4.5 ARMAZENAMENTO
Finalizada a receção da encomenda, de acordo com as características de conservação dos MPS procede-se ao armazenamento dos mesmos nos respetivos locais. Estes devem ser armazenados em condições de temperatura e humidade controladas e inferiores a 60% e 25ºC, respetivamente. Os medicamentos termolábeis devem ser armazenados no frigorífico a temperaturas compreendidas entre os 2ºC e os 8ºC. [2,8]
De forma a promover a organização da farmácia e a simplificar o processo de dispensa de um medicamento no momento do atendimento, a FT dispõe de diferentes zonas de armazenamento: • Robot (Anexo IV): O robot existente na FT, Apostore®, é responsável pelo armazenamento da quase a totalidade dos MSRM, incluindo medicamentos psicotrópicos e estupefacientes, e de alguns medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM), permitindo albergar um total de 20000 produtos. Constitui uma ferramenta de grande utilidade e valor para a farmácia, uma vez que permite agilizar o armazenamento dos produtos e durante o atendimento torna o processo de obtenção de medicamentos mais rápido, restando mais tempo útil para a realização de um aconselhamento íntegro ao utente. A utilização desta ferramenta evita erros de dispensa de medicamentos, contudo é impreterível verificar se o produto entregue corresponde ao solicitado, se corresponde à dosagem e unidades pretendidas, comparar o preço descrito na cartonagem com o que se encontra no software e ainda confirmar o prazo de validade. Para além disso, constitui uma importante ferramenta na gestão de stocks e prazos de validade, uma vez que o armazenamento é feito através de leitura ótica dos medicamentos à qual é associada a respetiva data de validade, permitindo que sejam dispensados primeiramente os medicamentos com prazo de validade inferior. • Área de atendimento ao público: de modo a captar atenção e suscitar o interesse do
utente, encontram-se nesta zona expostos maioritariamente MNSRM, produtos de dermocosmética, bucodentários, dietéticos, produtos de puericultura, e ainda artigos de ortopedia;;
• Backoffice: neste local a farmácia dispõe de diversas prateleiras e gavetas onde se encontram armazenados, por ordem alfabética de nome comercial, suplementos alimentares, infusões, produtos de uso veterinário, xaropes e ampolas, leites, fraldas, material de penso e outros dispositivos médicos, e ainda alguns produtos de dermocosmética cuja gama é reduzida;;
• Frigorífico: local onde se encontram armazenados produtos termolábeis, nomeadamente insulinas, certas vacinas, hormonas, gotas orais e oftálmicas;;
• Armazém: local onde é armazenado em prateleiras o excedente dos produtos quando não existe espaço no local de armazenamento habitual, principalmente produtos de puericultura e dermocosmética.
Na FT todos os produtos farmacêuticos estão armazenamos segundo os princípios FIFO (First
In, First Out) e FEFO (First-Expire, Fisrt Out) que garantem que os produtos pré-existentes, ou
com prazo de validade mais curto, sejam cedidos em primeiro lugar, pelo que os mesmos deverão ser dispostos numa posição anterior aos restantes. Desta forma é possível fazer uma gestão mais eficiente dos prazos de validade, reduzindo assim o risco de expirarem.
Ao longo de todo o estágio procedi ao armazenamento de MPS nos diferentes locais destinados a esse fim, seguindo sempre os princípios FIFO e FEFO, de forma a manter a organização dos produtos e a criar áreas atrativas para os utentes na zona de atendimento. Este trabalho permitiu- me familiarizar com o espaço e local de armazenamento de cada produto e assim criar a base para um atendimento e aconselhamento menos moroso e mais produtivo.
4.6 GESTÃO DE STOCKS
Para promover o bom funcionamento da farmácia e otimizar os lucros da mesma, é essencial realizar uma gestão de stocks eficiente, o que consiste na seleção, aquisição, receção, armazenamento e dispensa de produtos, de forma a garantir a disponibilidade dos mesmos ao utente, ao menor custo e num curto espaço de tempo. Assim sendo, o stock de MPS da farmácia deve ser gerido de acordo com as necessidades da mesma e preferência dos utentes, para que, quando solicitados, os produtos estejam disponíveis nas quantidades suficientes. Se por um lado
stocks elevados diminuem o risco de esgotamento, e dessa forma conseguimos garantir a
satisfação do cliente, por outro dificultam o seu controlo e existe o risco de expiração de validade e consequente desperdício. Pelo contrário, stocks inferiores permitem um controlo mais eficaz do produto existente e evita desperdícios, no entanto, uma rutura no stock pode comprometer o desempenho da farmácia.
Na FT esta gestão é rigorosamente realizada com auxílio do SI, que comunica diretamente com o robot, onde são registados os prazos de validade e ainda as vendas mensais de cada produto. Desta forma, na ficha informática de cada produto é possível definir um stock mínimo e um stock máximo de forma a que, quando o stock mínimo é atingido, seja gerada automaticamente uma encomenda. Assim, garantimos a constante reposição de stocks e conseguimos satisfazer as necessidades dos clientes. O software possibilita a consulta do histórico de vendas de um produto e a identificação de tendências de venda, o que permite à farmácia adaptar os stocks, por exemplo, à sua sazonalidade.
É fundamental verificar regularmente se os stocks informáticos correspondem aos stocks físicos.
Dado o período em que decorreu o meu estágio, houve a necessidade de reforçar o stock em diversos produtos, como por exemplo protetores solares, de modo a evitar ruturas. Participei também de forma ativa na gestão de stocks, comparando constantemente stocks informáticos e stocks reais, e sempre que detetava algum erro procedia à sua correção.
4.7 CONTROLO DE PRAZOS DE VALIDADE (PV)
É de extrema importância realizar um controlo de prazos de validade para garantir as condições de qualidade, eficácia e segurança dos produtos dispensados. Este controlo é conseguido na farmácia em dois momentos: diariamente, aquando da receção de encomendas, e no final de cada mês por emissão através do sistema informático de uma listagem onde constam os
produtos cuja validade expira nos três meses seguintes.
Quanto aos produtos que se encontram armazenados no robot esta gestão revela-se simples, uma vez que cada medicamento tem a si associado um prazo de validade. Quando este é expirado, o software gera um alerta e o produto é imediatamente retirado. Nos restantes produtos, a confirmação é feita manualmente e os produtos recolhidos são devolvidos ao respetivo fornecedor juntamente com a nota de devolução devidamente justificada. Como alternativa, estes produtos podem ser sujeitos a um regime de venda especial de aproximação de fim de prazo de validade.
No decurso do meu estágio conferi os prazos de validade no momento da receção dos produtos e também no momento da venda quando se tratava de produtos que não se encontravam armazenados no robot, de forma a garantir a segurança do medicamento.
4.8 GESTÃO DE DEVOLUÇÕES
Determinadas inconformidades podem obrigar à realização da devolução de produtos ao fornecedor, nomeadamente quando PV do produto é curto ou já se encontra expirado, quando o produto está danificado, quando se verificam alterações de preço, caso se trate de um produto que não corresponde ao pedido, um produto não encomendado ou ainda pedido por engano, embora também possa ocorrer por emissão de circulares suspensão de comercialização pelo INFARMED e circulares de recolha pelo detetor da AIM. Geralmente, as devoluções apenas são aceites se realizadas num prazo máximo de 2 dias após receção.
Através do 4DigitalCare® é emitida uma “Nota de Devolução” que contém o número da fatura original, o fornecedor, os produtos a devolver e as suas quantidades, o respetivo preço e o motivo da devolução. A nota de devolução é impressa em triplicado, sendo que o original e duplicado são enviados ao fornecedor juntamente com o produto, e o triplicado é assinado pelo responsável pela distribuição e posteriormente arquivado na farmácia.
Caso o fornecedor aceite a devolução, este emite uma “Nota de Crédito” à farmácia no valor dos produtos ou procede à troca dos mesmos por outros de igual valor monetário.
No decurso do meu estágio foi possível realizar vários processos de devolução ao fornecedor, tratando-se maioritariamente de produtos que não constavam na encomenda ou prazos de validade curtos/expirados. Tive ainda a oportunidade de assistir à recolha de determinados lotes de medicamentos anunciada através de uma circular de recolha. Considero que se trata de um procedimento essencial para assegurar a gestão de stocks e para garantir o uso seguro do produto.
5. DISPENSA DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS DE SAÚDE
Em farmácia comunitária, a dispensa de medicamentos e outros produtos de saúde constituiu uma das principais atividades exercidas pelo farmacêutico e acarreta grande responsabilidade para o profissional, pelo que deve ser realizada de forma crítica, segura e eficaz. Esta atividade pode resultar de uma prescrição médica, de um regime de automedicação ou ainda do aconselhamento farmacêutico. [2]
Sendo o farmacêutico o último profissional de saúde que contacta com doente antes de este iniciar a terapêutica, é da sua responsabilidade avaliar a medicação prescrita de forma a evitar
possíveis resultados negativos associados ao medicamento, facultar toda a informação necessária para o uso seguro e racional do medicamento e ainda esclarecer a importância da adesão à terapêutica instituída, prezando sempre uma linguagem clara.
O aconselhamento e a dispensa de MNSRM e de outros produtos farmacêuticos é merecedor de maior atenção, sendo necessário um cuidado especial na obtenção de informação adicional relativa ao doente e ao seu estado de saúde, nomeadamente doenças agudas ou crónicas, medicação habitual, e ainda informação relativamente às queixas do utente, de forma a satisfazer as suas necessidades da forma mais segura e eficaz.
Ao longo do estágio tive a oportunidade de desenvolver competências ao nível da dispensa e aconselhamento farmacêutico prezando sempre um aconselhamento responsável e certificando- me que o utente compreendia toda a informação transmitida relativa à terapêutica.
5.1 MEDICAMENTOS SUJEITOS A RECEITA MÉDICA
De acordo com a lei, são considerados MSRM medicamentos que possam constituir risco para a saúde do utente, direta ou indiretamente, quando utilizados sem supervisão médica, ou quando utlizados frequentemente em quantidades consideráveis para diferentes fins daqueles a que se destinam, contenham substâncias cuja atividade ou reações adversas sejam necessários aprofundar, ou caso se destinem à administração via parentérica. [5]
Desta forma, a sua aquisição obriga a apresentação de uma receita médica válida desenvolvida por um profissional de saúde habilitado, nomeadamente quando se trata de medicamentos manipulados, estupefacientes ou substâncias psicotrópicas, e outros produtos comparticipados, como adjuvantes do autocontrolo da diabetes mellitus e produtos dietéticos. [5,9]
A validação do receituário pelo farmacêutico deve ser realizada de forma cuidada e minuciosa para que a farmácia possa receber o valor referente à comparticipação dada pelo Estado ou de outros subsistemas de saúde, mas também, e mais importante, por questão de segurança para o utente.
5.1.1 PRESCRIÇÃO MÉDICA
A receita médica deve cumprir os requisitos obrigatórios determinados pela lei, devendo incluir a Denominação Comum Internacional (DCI) da substância ativa, dosagem, indicação da forma farmacêutica, apresentação ou tamanho da embalagem, quantidade e posologia. [5] A prescrição pelo nome comercial está autorizada quando não existem medicamentos similares ou caso não tenham medicamentos genéricos (MG) similares comparticipados. O prescritor pode ainda recorrer a uma das 3 exceções que justificam a prescrição através do nome comercial:
• Exceção A): quando se trata de medicação com margem ou índice terapêutico estreitos;; • Exceção B): em caso de suspeita de intolerância ou reação adversa a um medicamento
com a mesma substância ativa;;
• Exceção C): em caso de continuidade de tratamento por um período superior a 28 dias. [9]
Atualmente existe 3 modelos de receitas, sendo eles as receitas eletrónicas materializadas, eletrónicas desmaterializadas e manuais. [5]
legais: falência do sistema informático, inadaptação fundamentada do prescritor, prescrição ao domicílio ou prescrição máxima de 40 receitas por mês. Para ser considerada válida, a receita manual deverá incluir número;; local de prescrição e respetivo código ou vinheta identificação do prescritor;; nome e número de utente;; número de beneficiário da entidade financeira responsável e regime especial de comparticipação;; data e validade da prescrição médica;; e ainda assinatura do prescritor. Este tipo de receita médica não é renovável e é válida por um período de 30 dias após prescrição. Não podem ainda ser rasuradas, escritas com caligrafias diferentes, nem ser prescritas com canetas diferentes ou com lápis. Todos os produtos têm que ser dispensados em simultâneo e deverá ser impresso no verso da receita o registo dos medicamentos cedidos e solicitar a assinatura do utente. O farmacêutico que efetuou a dispensa deve
datar, carimbar e assinar no verso. [9]
Receita médica eletrónica materializada: é igualmente de caráter não renovável e tem uma validade de 30 dias, salvo se tratar de medicamentos destinados a tratamentos prolongados, podendo neste caso ter até 3 vias com validade até 6 meses. Tal como a anterior, podem ser prescritas um total de 4 embalagens por receita, e apenas 2 embalagens por medicamento. No caso de medicamentos se apresentarem sob a forma de embalagem unitária, podem ser prescritas 4 unidades de cada medicamento, ou 12 unidades, divididas pelas 3 vias, no caso de medicamentos destinados a tratamentos prolongados. [5,9]
Receita médica eletrónica desmaterializada: De acordo com o Despacho de 24 de fevereiro de 2016, a partir do dia 1 de abril de 2016 tornou-se obrigatória a prescrição eletrónica sem papel em todas as entidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS). [10]
O utente pode recebe-la sob a forma de guia de tratamento, por mensagem no telemóvel, ou então fazê-lo a partir da sua página do cidadão do SNS. Na prescrição consta o número da receita, o código de dispensa e o código de direito de opção. Evidentemente que se trata de um modelo vantajoso, na medida em que o prescritor pode prescrever um número ilimitado de produtos diferentes por receita médica e assim todos os produtos de saúde prescritos poderão constar numa única receita, permitindo ao utente realizar uma gestão eficiente de toda a sua medicação. Para medicamentos de tratamentos de curto e médio prazo, esta receita tem uma validade de 30 dias, no caso de tratamentos prolongados a sua validade é estendida até 6 meses. [5,9]
Revela-se ainda vantajoso, na medida em que não obriga ao aviamento completo da prescrição, podendo o utente optar por aviar apenas parte dos medicamentos. Ao farmacêutico, para além de facilitar bastante a conferência do receituário, facilita a deteção de possíveis erros de prescrição e aumenta a segurança no processo de dispensa, uma vez que a comunicação entre os profissionais de saúde é realizada de forma mais clara e eficaz.
A maioria do receituário que chega à FT encontra-se em formato eletrónico, no entanto é também frequente a prescrição manual devido a falência do SI. Constatei que as receitas desmaterializadas em formato de mensagem de telemóvel não são ainda muito aceites principalmente pelos mais idosos por não lhes ser possível visualizar qual a medicação ainda disponível, e dada a dificuldade que revelam em funcionar com o dispositivo.
5.1.2 MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS E ESTUPEFACIENTES
Designam-se por medicamentos psicotrópicos e estupefacientes todos os medicamentos que contenham as substâncias listadas no DL nº 15/93 de 22 de janeiro. [11] São medicamentos que exercem a sua ação ao nível do Sistema Nervoso Central (SNC), de elevada aplicabilidade clínica, e por isso utilizados no tratamento de diversas patologias psíquicas e no tratamento da dor.
No entanto, devido ao tráfico ilícito destas substâncias e ao risco de dependência que lhes está associado, exigem um controlo mais apertado. No caso de se tratar de uma receita manual ou eletrónica materializada, a prescrição destes produtos deve ser feita isoladamente. No momento da dispensa, é necessário registar o nome do médico prescritor, os dados do utente e do adquirente, sendo obrigatória a apresentação do cartão de identificação do último. [9]
O 4DigitalCare® facilita todo este processo, na medida em que, aquando da dispensa destes fármacos, automaticamente é gerado no computador um aviso de preenchimento do formulário. Após a dispensa, é impresso um documento com uma reprodução da receita, que contém o código do medicamento e a quantidade dispensa, bem como os dados do utente e do adquirente, que é posteriormente assinado pelo farmacêutico e arquivado por um período mínimo de 3 anos. Mensalmente, é emitida uma listagem dos psicotrópicos e estupefacientes dispensados, que deve ser enviada ao INFARMED até ao dia 8 do mês seguinte à dispensa, juntamente com uma cópia das receitas manuais. [9]
5.1.3 SISTEMAS DE COMPARTICIPAÇÃO
Com o objetivo de assegurar o acesso do medicamento a todos os cidadãos, o Estado assume o pagamento de uma percentagem do PVP. Esta comparticipação pode ser feita através de um regime geral ou de um regime especial, sendo que este último se aplica a determinadas patologias ou grupo de doentes. [9]
No regime geral, o estado paga uma percentagem do PVP de acordo com um dos seguintes escalões, sendo estes definidos consoante o grupo farmacoterapêutico, tal como descrito na Portaria nº 195-D/2015, de 30 de junho:
• Escalão A: 90% do PVP do medicamento;; • Escalão B: 69% do PVP do medicamento;; • Escalão C: 37% do PVP do medicamento;; • Escalão D: 15% do PVP do medicamento. [12]
No regime especial, a comparticipação é realizada em função do beneficiário ou em função da patologia. Tendo em conta o beneficiário, a comparticipação acresce de 5% ao Escalão A (obtendo uma comparticipação total de 95%), e 15% ao B (84%), C (52%) e D (30%) para os pensionistas do regime geral. A comparticipação pode também ser de 95% para todos os escalões, quando se trata de medicamentos cujos PVP são iguais ou inferiores ao 5º preço mais baixo do seu grupo homogéneo.
Medicamentos utilizados no tratamento de certas patologias ou por grupos especiais de utentes, possuem comparticipação definida por despachos próprios, podendo esta variar consoante as entidades que os prescrevem ou dispensam. Assim sendo, o prescritor deve indicar na receita o