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Situação e principais entraves
ao uso de métodos alternativos aos
agrotóxicos no controle de pragas
e doenças na agricultura
Clayton Campanhola W agner Bettiol
Em capítulos anteriores foram apresentadas características de m étodos de controle de pragas e doenças de plantas que podem substituir o uso dos agrotóxicos. Entretanto, para a maioria das práticas desenvolvidas, o nível de adoção pelos agricultores ainda está aquém do seu potencial, por uma série de razões que serão discutidas neste capítulo.
Para visualizar melhor a situação em que se encontra cada uma das tecnologias abordadas, as Tabelas 1 e 2 resumem a extensão do uso de cada uma delas.
Pode-se observar que o nível de adoção das tecnologias alterna tivas de controle de pragas agrícolas pelos agricultores é baixo em relação ao seu potencial de uso, mesmo considerando que as pragas não ocorrem com a mesma intensidade em todas as regiões do país (Tabela 1). A grande maioria das tecnologias levantadas (80% ) é utilizada em menos de 10% da área total de
2 6 8 : : i : M é to d o s A lte rn a tiv o s de C o n tro le F ito s s a n itá rio
Tabela 1. Situação de uso das práticas alternativas de controle de pragas na a g ricu ltu ra . S i t u a ç ã o de u s o p r á t i c o *
• A
P r á t i c aA
(C o l.) <» (C o l.)Controle biológico da broca-da-cana-de-açúcar Controle biológico da lagarta-da-soja
Controle biológico dos pulgões-do-trigo Controle biológico da traça-do-tomatelro Controle biológico de percevejos em soja
Controle biológico das clgarrinhas-das-pastagens
Controle biológico da cigarrinha-da-folha-da-cana-de-açúcar Controle biológico da lagarta-do-cartucho-do-milho
Controle biológico do mandarová-da-mandioca Controle biológico da cochonilha Orthezia sp dos citros Controle biológico do pulgão-do-fumo
Controle biológico da broca ou moleque-da-bananeira Controle biológico da broca-do-café
Controle biológico da mosca-dos-chifres
Controle biológico da vespa-da-madeira em espécies de Pinus Controle biológico da mosca-da-renda da seringueira
Controle biológico de cochonilhas, fumagina e
outros fungos de revestimento pelo caracol rajado em citros Controle biológico de larvas de lepidópteros
Controle cultural do bicudo da cana-de-açúcar
Manejo de cupins e outras pragas de solo em cana-de-açúcar Controle da broca da laranjeira com a planta armadilha Maria preta Monitoramento e controle de pragas com o uso de feromônios sintéticos
Manejo integrado de pragas na cultura do dendê
Termoterapia de frutos para controle das moscas-das-frutas_________
( I n t .) X X X (E x p .) X X X X X X X X X X X X X (In t.) = uso interrompido - (E x p .) = uso experimental - (C o l.) = uso por colonização
S itu a ç ã o e p rin c ip a is e n tra vé s ao uso de m é to d o s a lte rn a tiv o s : 269
Tabela 2. Situação de uso das práticas alternativas de controle de doenças na agricultura. S i t u a ç ã o de u s o p r á t i c o ^
P r á t i c a
A
o.'®\>
Controle da tristeza-dos-citros por meio da premunização com estirpes fracas do vírus da tristeza
Uso de T ric h o d e rm a para o controle biológico do tombamento em fumo
Uso de Trichoderm a viridepara o controle biológico da podridão das raízes da macieira
Controle biológico do mal-das-folhas da seringueira Controle biológico da lixa-do-coqueiro
Controle biológico de Botrytis na cultura do morango com Gliocladium roseum
Controle biológico do mosaico-da-abobrinha tipo moita por premunização
Controle cultural e biológico da vassoura-de-bruxa do cacaueiro Controle de oídio (Sphaerotheca fuliginea) da abobrinha e do pepino com leite cru
Controle de doenças de plantas com biofertilizantes
Solarização do solo para o controle de fitopatógenos habitantes do solo
Coletor solar para desinfestação de substratos para produção de mudas
Tratamento térmico e desinfecção de instrumentos de corte para controle de raquitismo da soqueira e a escaldadura das folhas Termoterapia em videira
Utilização da luz UVC para controle de podridão de maçãs em pós-colheita Eliminação de determinados comprimentos de onda para
0 controle de fungos fitopatogênicos em casa de vegetação
Controle de plantas invasoras por meio de descargas elétricas_______
X X X X X X
cada cultura. Há duas exceções no caso do controle de pragas em que a prática alternativa de controle é realizada em grande parte da área cultivada com a cultura. A primeira exceção é o controle biológico da broca-da-cana-de-açúcar, cujo sucesso decorre do envolvim ento das próprias usinas e destilarias que pro duzem 03 inim igos naturais - vespas parasitóides - em seus laboratórios e fazem liberações inundativas todos os anos. E a segunda, é o controle biológico dos pulgões do trigo, que se trata de controle biológico clássico coordenado pela Embrapa Trigo, no Rio Grande do Sul, em cooperação com técnicos da Emater e com associações de produtores rurais. Cabe ressaltar que uma terceira prática utilizada em mais de 10% da área cultivada com soja é o controle da lagarta-da-soja com o
Baculovirus anticarsia. Os fatores preponderantes para o seu sucesso podem ser
atribuídos às constantes pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Soja, visando ao apri moramento da tecnologia e à com ercialização do produto form ulado por empresas privadas.
Para as doenças de plantas, o destaque de uso de técnica alterna tiva é o controle da tristeza dos citros por meio da premunização com estirpes fracas do vírus da tristeza. Isto se deve às características do método alternativo, pois praticamente todas as mudas de laranja ©Pera' comercializadas no país são premunizadas, isto é, já carregam o vírus fraco da tristeza. Outro destaque é o tratam ento térm ico de toletes ou gemas isoladas de cana-de-açúcar, tecnologia bastante empregada para a formação de viveiros de mudas. Essa tecnologia está totalm ente disponível para os produtores e é utilizada em grande escala pelas empresas produtoras de cana. Entretanto, mesmo sendo eficientes, as demais técnicas alternativas de controle de doenças são utilizadas em menos de 10% da área total de cada cultura (Tabela 2). No caso da tristeza dos citros e da term oterapia da cana-de-acúcar, a adoção das tecnologias alternativas é alta porque não exis tem outras formas de controle da doença. Entretanto, para diversas outras doen ças para as quais existem métodos alternativos, o uso de agrotóxicos lim ita a incorporação de outras tecnologias fitossanitárias nos sistemas produtivos.
No caso do controle de doenças, onde o uso de fungicidas é in fe rior ao uso de inseticidas para o controle de pragas, existe um grande número de variedade s resistentes às doenças à disposição dos agricu lto re s. Nesse caso, o c o n tro le g e n é tic o é de enorm e im p o rtâ n cia . Esse fa to pode ser ilu stra d o com alguns exem plos, tais como: programa de m elhoram ento da cana-de-açúcar, onde a característica de resistência às principais doenças é um dos prim eiros atributos avaliados; im ediatam ente após o aparecim ento do cancro da haste e do oídio da soja, foram selecionadas variedades resistentes a essas doenças; m elhoram ento do m ilho, onde a resistência a diversas doenças é considerada durante o processo seleção genética . Além do controle genético, a prática de rotação de culturas, larga mente recomendada pelos fitopatologistas, contribui para reduzir o uso de fungicidas.
Um aspecto im p o rta n te a ressaltar é que geralm ente o co n tro le biológico clássico, ou por colonização de inim igos naturais, é coordenado por ins titu içõ e s oficiais, mas no caso do controle biológico do pulgão do fum o com fungo e n to m o p a to g ê n ico , a em presa Souza Cruz assum iu a m ultip lica çã o e coordena ção das liberações do fungo.
Embora m uitas práticas alternativas tenham , até o m om ento, sido usadas quase que e xclu siva m e n te para o c o n tro le das pragas e doenças mais im p o rta n te s de determ inad as c u ltu ra s , é recom endável que para cada c u ltu ra haja a integração de m étodos a lte rn a tivo s de co n tro le para to d o o com plexo de organism os n o civo s, utilizando-se os princípios do manejo integrado de pragas (MIP^). C ontudo, no delineam ento das tá tica s de uso do MIP é im portante co n si derar a possibilidade das pragas e fito p a tó g e n o s desenvolverem m ecanism os de resistência aos agentes biológicos de co n tro le , os quais deixam de te r a e fic iê n cia necessária.
M uitos autores descreveram as lim itações de diferentes nature zas para o uso do MIP (Zaiom, 1993; Campanhola et al., 1995). É im portante notar S itu a ç ã o e p rin c ip a is entravés ao uso de m é to d o s a lte rn a tiv o s - 271
' É Im p o rta n te registrar que está se utilizando o te rm o "p ra g a s" no seu sentido mais am plo, o qual Inclui os fito p a tó g e n o s, além dos Insetos danosos às plantas cu ltiva d a s.
que as mesmas limitações que existem no uso do MIP também são válidas para o uso de técnicas e práticas alternativas de controle de pragas e doenças, pois estas fazem parte das estratégias mais amplas do manejo integrado. Muitas das limitações apon tadas pelos autores acima são válidas ao país e serão levadas em conta na aborda gem que se apresenta em seguida. Com o objetivo de facilitar o entendimento de suas particularidades e possíveis inter-relações, os entraves existentes foram agrupados nas seguintes modalidades: técnico-científicos, institucionais, econômicos, sociais, legais e educacionais.
Técnico-científicos. Esses entraves referem-se à escassez de conhecimento em mui tos temas específicos, podendo-se destacar os seguintes:
♦ pesquisa sobre a biologia de insetos-pragas e fito p a tó g e n o s, de seus ini migos naturais e suas interações nos agroecossistem as;
♦ pesquisa sobre m étodos alternativos de controle de pragas e doenças na agricultura;
♦ pesquisa e desenvolvim ento de m étodos eficientes e econôm icos na pro dução de inimigos naturais para uso em controle biológico;
♦ identificação e caracterização dos efeitos positivos e negativos da integração dos diferentes m étodos de controle;
♦ determinação de níveis de dano econômico de pragas e doenças de plantas; ♦ m ultiplicação e form ulação de agentes m icrobianos de controle biológico
de pragas e doenças de plantas;
♦ desenvolvim ento de sistemas de alerta de ocorrência de pragas e doenças de plantas, por m icrorregião;
♦ desenvolvim ento de modelos m atem áticos para previsão de ocorrência de pragas e fitodoenças; e
♦ condução de pesquisa interdisciplinar, principalm ente para se entender a origem dos fatores que levam à ocorrência de pragas e doenças agrícolas e fazer-se as devidas correções de caráter preventivo e não apenas utilizar
medidas de controle depois que as pragas e doenças já se instalaram nas lavouras. A com plexidade dessas ações requer uma abordagem holística dos sistemas produtivos e, conseqüentem ente, a interação entre diferen tes áreas do conhecim ento.
Institucionais. Os entraves institucionais referem-se tanto ao setor público, como ao setor privado, sendo que as ações que cabem a cada um depende do grau de envolvimento do Estado em cada uma. Entre os entraves institucionais, destacam-se:
♦ pouca divulgação dos m étodos alternativos de controle de pragas e doen ças de plantas;
♦ p o u c a tra n s fe rê n c ia a o s a g ric u lto re s de m é to d o s a lte rn a tiv o s de c o n tr o le de p ra g a s e d o e n ç a s de p la n ta s ;
♦ políticas agrícolas existentes que estim ulam o uso de agrotóxicos. Por exem plo, a política de suporte aos preços dos produtos agrícolas contribui para a m axim ização da produtividade, que por sua vez estim ula o aum en to do uso de agrotóxicos (Zalom, 1993).
♦ inexistência de padrões mínimos para o controle de qualidade dos inim i gos naturais, principalm ente dos m icrorganism os, na linha de produção e na com ercialização;
♦ escassez de levantam entos sistem áticos de populações de pragas e doen ças nas diferentes m icrorregiões e inexistência de sistema de alerta de sua ocorrência;
♦ pouca interação entre pesquisadores e extensionistas do setor público e técnicos privados que prestam assistência aos agricultores, com o o b je ti vo de aum entar as ações interinstitucion ais no uso de m étodos alternati vos de controle de pragas e doenças de plantas; e
♦ inexistência de processo de licenciam ento para os agricultores que usam o MIP.
Econômicos. Apresentam -se os entraves econ ô m ico s ao uso mais generalizado dos m étodos alternativos de controle de pragas e doenças de plantas, observan do-se ta n to o lado do a g ric u lto r, com o das em presas que atuam no co n tro le fitossanitário:
♦ os agricultores recorrem quase que exclusivam ente aos agrotóxicos para o controle de pragas e doenças das plantas cultivadas. Isso porque esses produ tos são bem divulgados, além de serem de fácil utilização e mostrarem eficiên cia de controle no curto prazo;
♦ os inim igos naturais são mais específicos que os agrotóxicos, e portanto representam um mercado menor, o que não estim ula grandes empresas a entrarem nesse negócio;
♦ os danos cosm éticos nos produtos agrícolas decorrentes do uso de m éto dos alternativos de controle de pragas e doenças podem resultar em me nores preços dos produtos no mercado. Porém, o hábito dos consum ido res está mudando, os quais têm pagado um diferencial de preço por ali m entos produzidos sem o uso de agrotóxicos, mesmo que estes tenham aparência inferior a dos alim entos convencionais;
♦ os a g ricu lto re s têm a percepção de que o MIP e o uso de te cn o lo g ia s a lte rn a tiv a s de c o n tro le de pragas e doenças não oferecem vantagens co m p a ra tiva s a c u rto prazo em relação ao c o n tro le quím ico, p rin c ip a l m ente porque há necessidade de m ais m ão-de-obra para a realização das am ostragen s e para o m o n ito ra m e n to da ocorrê n cia de pragas e doenças e seus inim igos naturais (Zaiom , 1 9 9 3 ). Além disso, esse acom panha m e nto m inucioso g eralm ente requer a c o n tra ta ç ã o de assistên cia té c n ic a especializada. É bom lem brar que no caso do c o n tro le quí m ico, os próprios vendedores de a g ro tó x ic o s prestam a ssistência té c nica g ra tu ita aos a g ric u lto re s ;
♦ os agricultores associam um maior risco de perdas na produção com o MIP e com as tecnologias de controle alternativo de pragas e doenças. Por
esta razão, quando os preços dos produtos agrícolas são elevados, há uma tendência ao aum ento do uso de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças agrícolas. Poderia se pensar em uma política pública que oferecesse incentivos financeiros para quem adotasse o MIP.
Sociais. Há dois entraves sociais principais que se quer enfatizar:
♦ o primeiro e principal entrave social ao uso de tecnologias alternativas no controle de pragas e doenças de plantas é a "cultura do controle químico” presente nos agricultores e nos técnicos e pesquisadores das Ciências Agrárias, que incorporaram o uso de agrotóxicos como a única alternativa viável para o controle de pragas e doenças agrícolas, gerando dependência desses produtos. Neste caso, medidas legais que restrinjam ou eliminem o uso de agrotóxicos po dem ser menos eficientes que o investimento na educação dos agricultores e dos pesquisadores e técnicos que atuam no tema.
♦ o segundo entrave é o com portam ento individualista dos agricultores. A utilização de técnicas alternativas de controle de pragas e doenças exige maior cooperação entre os agricultores, pois para que elas sejam efetivas devem ser utilizadas em toda uma região, de modo a dim inuir a dispersão e a disseminação das pragas e doenças de plantas entre lavouras subm e tidas a diferentes sistemas de manejo fitossanitário.
Legais. Em relação aos entraves legais, pode-se mencionar os seguintes:
♦ inexistência de aparato legal adequado para a produção, registro e uso de inim igos naturais produzidos com ercialm ente^. Mesmo nos casos onde há S itu a çã o e p rin c ip a is e n tra vé s ao uso de m é to d o s a lte rn a tiv o s 2 7 5
^ Há duas exceções. A prim eira, é a Portaria N orm ativa no. 1 3 1 , de 03/1 1 /1 9 9 7 , do IBAM A, que estabelece as co ndições para registro e avaliação am biental de agentes m icrobianos vivos de o c o r rência natural em pregados no co n tro le de um o u tro organism o vivo considerado nocivo. Entretan to , essa Portaria não aborda o u tro s tip o s de agentes de b io co n tro le que podem ser usados na a g ri cu ltu ra . E a segunda exceção é a Portaria no. 12 1 , de 0 9 /1 0 /1 9 9 7 , da Secretaria de Defesa Agropecuária do M in isté rio da A g ricu ltu ra , que estabelece as exigências para o registro de sem ioquím icos (ferom ônios, alom ônios e cairom ônios), que são substâncias quím icas em itidas por plantas e anim ais que m o d ifica m o co m p o rta m e n to dos organism os receptores.
regulam entação, ainda não há protocolos oficiais que orientem a realização dos testes exigidos, o que dificulta a aplicação da legislação; e
♦ inexistência de apoio ou incentivo legal ao uso de Inimigos naturais ou outras alternativas de controle de pragas e doenças de plantas.
Educacionais. Entre os entraves educacionais, destacam-se: ♦ baixo nível educacional dos agricultores;
♦ baixa aceitação pelos consum idores de danos cosm éticos nos alimentos; ♦ baixo nível de conhecim ento e de inform ação dos produtores quanto ao
MIP e quanto ao uso de práticas alternativas de controle;
♦ re lu tâ n c ia dos a g ric u lto re s na a d o çã o do m o n ito ra m e n to do nível populacional de pragas e dos inim igos naturais nas lavouras e áreas adja centes; e
♦ deficiência na form ação dos estudantes de Ciências Agrárias, de consul to re s técnicos e do pessoal da extensão rural quanto à prática do MIP e ao uso de m étodos alternativos de controle de pragas e doenças de plantas. 0 que com plica mais o cenário é que o MIP não é um pacote pronto para ser utilizado em qualquer situação, mas requer observações e acom pa nham ento constantes do desenvolvim ento das lavouras e das pragas e doenças, estabelecendo-se relações entre causas e efeitos, e interpretan do-se o funcionam ento dos agroecossistem as.
Cabe salientar que pouco adianta tra ta r da solução desses entra ves de m odo parcial. Para cada cu ltiv o , em determ inado ecossistem a e sob determ inadas condições socioeconôm icas, deve-se buscar solucionar aqueles entraves que sejam os mais com prom etedores a curto prazo, para depois tratar dos que sejam considerados menos relevantes.
Apesar desses entraves, deve-se levar em conta os aspectos p o sitivo s do uso de m étodos a lte rn a tivo s de co n tro le de pragas e doenças
agropecuárias. Quando com parados aos agrotóxicos, esse co njunto de m étodos praticam ente elimina os riscos de contam inação am biental, os riscos às saúdes hum ana e animal, causam menor im pacto na biodiversidade e geram m enores desequilíbrios biológicos por praticam ente não interferirem nas populações não- alvo. Por essas razões, com o enfatiza Ragsdale (2000), o uso de a g ro tó xico s será cada vez mais restrito, cedendo lugar a outras alternativas de c o n tro le . A situação almejada seria incorporar esses m étodos em um sistema mais abrangente que o MIP e do qual o MIP^ faria parte: o sistema de manejo in te g ra d o dos cu ltivo s, que agrega o estado nutricional das plantas e a ciclagem de nutrie n te s, a diversidade biológica nos com partim entos solo e plantas, a conservação de hab ita ts para inim igos naturais e m icrorganism os antagônicos, o uso de c u ltiv a res resistentes a pragas e doenças, a m anutenção adequada das co ndiçõe s físicas e químicas dos solos, o uso adequado da água de irrigação e a qualidade das águas superficial e subterrânea e a interdependência de todos esses c o m p o nentes. Essa nova visão envolve tam bém uma profunda revisão do c o n c e ito de controle fitossanitário: opta-se pela adoção de medidas preventivas com o obje tiv o de d ificu lta r a ocorrência de pragas e fitopatóg enos em níveis populacionais que causem danos econôm icos ao invés de se utilizar medidas cu ra tiva s, que são usadas apenas quando as pragas e doenças já ocorrem em níveis e co n o m i cam ente indesejáveis. Ou seja, busca-se corrigir as causas ao invés de utilizar medidas a p o s te rio ri para dim inuir os e feitos provocados pela ocorrê n cia de pragas e fitopatóg enos. Sob essa perspectiva, o uso de m étodos a lte rn a tiv o s de controle fitossanitário constitui-se em um estágio interm ediário rum o ao manejo integrado dos cultivos.
Uma questão fundam ental no uso de insumos alternativos para o controle de pragas e doenças de plantas é que eles não podem gerar dependên cia dos agricultores em relação a grandes corporações que comercializam insum os. S itu a ç ã o e p rin c ip a is e n tra vé s ao uso de m é to d o s a lte rn a tiv o s ; 1 1 1
3 Não 0 MIP dependente do co n tro le quím ico, mas o MIP b io in te nsivo ou fu n d a m e n ta d o no m aior equilíbrio biológico.
Uma possibilidade é os agricultores se unirem por meio de cooperativas ou associa ções e administrarem a produção de seus próprios insumos.
No que se refere ao uso de inim igos n a tu ra is gene tica m e n te m odificados ou biotecnológicos, cabe com entar que desde que a eles sejam incorporados atributos desejáveis, tais com o: maior to le râ n cia às condições de baixa umidade e a lim ites m áxim os e mínimos de tem peratura, m aior capacidade de dispersão de parasitóides, maior patogenicidade de m icrorganism os, resis tência de plantas a insetos-pragas e patógenos, para c ita r apenas alguns exem plos, e desde que sejam devidam ente avaliados quanto aos seus possíveis e fe i tos indesejáveis no homem e no meio am biente - d istúrbios em organism os não- alvo, não se pode a p rio ri descartar as inúmeras va n ta g e n s que os inim igos naturais geneticam ente m odificados podem trazer ao co n tro le biológico de pra gas e doenças de plantas, principalm ente no sentido de a u m entar a sua eficiên cia e abrangência geográfica. Um exem plo concreto no co n tro le de pragas é a transferência do gene da endotoxina do Bacilius th u rin g ie n sis em cultivares de m ilho, algodão, tom ate e outras. Com isso, as plantas tran sg ê n ica s tornam -se resistentes a m uitas lagartas que atacam essas culturas; porém , o m aior proble ma a ser enfrentado é quanto à resistência das pragas: na m edida em que se usam exclusivam ente plantas transgênicas que produzem a e n d o to xin a do B .t., a seleção de indivíduos resistentes das pragas torna-se m u ito m aior trazendo com o conseqüência uma queda na eficiência de controle.
Por ú ltim o , é im p o rta n te re g is tra r q u e a p e n a s p e s q u is a , capacitação de técnicos e agricultores e disponibilidade te c n o ló g ic a não são condições suficientes para o sucesso no uso de práticas a lte rn a tiva s de c o n tro le: há necessidade de uma interação fo rte e ética entre as in s titu iç õ e s públicas e privadas no sentido de romper o padrão exclusivam ente quím ico de controle fitossanitário e abrir espaço para o uso de práticas e te cn o lo g ia s que sejam social e am bientalm ente mais adequadas.
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