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Restauração das galerias lenhosas ribeirinhas: uma revisão de casos de estudo

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Academic year: 2021

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Restauração de Galerias Lenhosas Ribeirinhas: Uma Revisão de "Casos de Estudo"

1Marta Carneiro, 2Filipa Pimentel, 3André Fabião, 4Maria da Conceição Colaço, 5André Ramos, 6Jorge Humberto Cancelae 1António Fabião

1Departamento de Engenharia Florestal. Instituto Superior de Agronomia, 1349-017 LISBOA 2Greenpeace International – European Unit, Chaussé de Haecht 159, B-1030 Brussels, BELGIUM

3Rua Luísa Mendes 366 r/c Dt.º, Murtal, 2775-119 PAREDE

4Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves. Instituto Superior de Agronomia, 1349-017 LISBOA 5Direcção Regional do Ambiente do Alentejo. Rua do Eborim 18-4º, 7000 ÉVORA

6Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral. Rua Antero de Quental 160-167, 3000 COIMBRA Resumo. A Ciência Florestal nunca desenvolveu doutrina para o restauro e condução silvícola de galerias florestais ribeirinhas. É por isso pertinente a investigação e experimentação que levem à conceptualização de metodologias para a recuperação destas formações. Neste contexto, foram realizados três ensaios de instalação de espécies lenhosas ribeirinhas em situações distintas, dois nas margens da ribeira de Valverde (Évora) e um na Lagoa dos Linhos (M. N. do Urso, Figueira da Foz). Foram determinados a sobrevivência e o crescimento nos primeiros meses, bem como a sobrevivência ao período estival. Os resultados foram diferentes nos dois locais, tendo-se verificado em Valverde uma sobrevivência muito baixa, atribuída ao tipo de orografia das margens, irregularidade de caudais e duração da estação seca. Na Lagoa dos Linhos, com declives suaves e níveis de água mais estáveis, a sobrevivência em geral foi elevada e o crescimento significativo. Palavras-chave: Crescimento; formação ripícola; lenhosas ribeirinhas; restauração; sobrevivência

*** Introdução

Os ecossistemas ribeirinhos apresentam características ligadas ao seu carácter de ecótonos de transição entre habitats distintos (BRINSON e VERHOEVEN, 1999; FERNANDES, 1995). Esta circunstância condiciona, aliás, as suas elevadas produtividade e instabilidade (DÉCAMPS & TABACCHI, 1992). As plantas lenhosas das margens enriquecem a cadeia trófica aquática com órgãos vegetais e insectos, enquanto o acesso à água e a composição da vegetação atraem para as margens uma grande diversidade de animais terrestres (HUNTER Jr., 1990; SMITH et al., 1997).

Em Portugal, a preferência do homem pela proximidade dos cursos de água conduziu, com frequência, ao desaparecimento de troços de galeria ribeirinha, por vezes de quase toda a faixa ripícola de uma bacia hidrográfica. Esta circunstância tem favorecido a instabilidade das margens e o desenvolvimento de plantas aquáticas no leito, bloqueando os caudais de cheia e contribuindo para inundações graves, de que tem havido exemplos recentes em Portugal (MOREIRA et al., 1999).

A ciência florestal tem dado pouca atenção ao restauro e gestão de galerias ribeirinhas, não obstante o valor económico de espécies arbóreas que aí se encontram e o papel desta vegetação no controlo dos efeitos das cheias. Nunca se desenvolveu uma doutrina coerente de intervenção que fundamente quer o restauro de faixas ripícolas, quer uma silvicultura multifuncional dessas áreas, como requerem as suas características. Neste contexto, o objectivo deste estudo consistiu em avaliar o sucesso inicial do restauro de galerias ribeirinhas através de técnicas comuns de repovoamento florestal, adaptando-as às características do habitat ribeirinho.

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Material e Métodos

Caracterização das áreas de estudo

Dois dos ensaios foram instalados em terrenos da Universidade de Évora, na margem esquerda das ribeiras de Valverde e Pêra Manca, na bacia do Sado. A área estava ocupada por montado de azinho ralo e era usada como aparcamento de gado. Segundo as normais climatológicas de Évora/Mitra, a temperatura média anual é de 15,4ºC, oscilando entre 8,4ºC (média de Janeiro) e 23,1ºC (Agosto). A precipitação média anual é de 664,6mm, com um período seco (Pmm < 2TºC) de 4 meses, entre Junho e Setembro (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, 1991). No 1º ensaio fez-se uma mobilização a 35cm de profundidade, seguindo-se a plantação à cova. No 2º fez-se apenas a abertura de covas de plantação de 20cm de diâmetro e 40-50cm de profundidade, com uma broca.

O outro ensaio foi instalado na Lagoa dos Linhos, na Mata Nacional do Urso, Figueira da Foz. A preparação do terreno consistiu na limpeza de vegetação invasora (Acacia spp.), sem mobilização. Segundo as normais climatológicas da Figueira da Foz, a temperatura média anual é de 15ºC, com médias mensais extremas de 10,1ºC (Janeiro) e 19,2ºC (Agosto). A precipitação média anual é de 627,1mm, com um período seco de 4 meses, de Junho a Setembro (FERREIRA, 1970). A instalação, por plantação e sementeira directa, fez-se em covas abertas com broca, como referido acima

Instalação

No 1º ensaio de Valverde (Valverde I) marcaram-se 30 parcelas quadradas de 16m de lado, fora das zonas ensombradas por azinheiras, repartindo-as por 3 blocos de 10 parcelas. Em cada bloco plantaram-se 5 espécies (Populus nigra, Fraxinus angustifolia, Platanus hybrida, Salix atrocinerea e Tamarix africana) no compasso de 2×2m, em parcelas distintas, com 2 repetições. A instalação concluiu-se em Fevereiro de 1997. No 2º ensaio da mesma área (Valverde II), foram marcados 2 blocos, cada um com 3 parcelas de composição mista de 10×14m com o lado maior ao longo do curso de água e situadas por forma a evitar o ensombramento. A distribuição das espécies em cada parcela (P. nigra, S. atrocinerea, Sambucus nigra, T. africana, F. angustifolia e Quercus faginea) seguiu as recomendações de GONZÁLEZ DEL TÁNAGO e GARCIA DE JÁLON (1998). A instalação decorreu em Janeiro de 1998, com o mesmo compasso do ensaio anterior.

Na Lagoa dos Linhos foi marcada uma área semicircular de cerca de 4000m2, dividida em 2 estratos: um núcleo central arborizado por plantação de composição mista, envolto por uma coroa circular arborizada por plantação e sementeira de composição pura. O compasso foi de 1,5×1,5m em todas as áreas, para favorecer um fechamento rápido do copado. O núcleo central foi subdividido em duas subparcelas, Aa1 e Aa2, arborizadas da seguinte forma: Aa1 com Q. faginea, Q. robur, S. atrocinerea, Crataegus monogyna, P. nigra e T. africana; Aa2 com A. campestre, P. nigra, S. atrocinerea, Q. faginea e Acer monspessulanum. A zona envolvente foi dividida também em duas subparcelas com uma espécie cada, subdivididas em áreas de plantação e de sementeira directa. Nas áreas Ab1 e Ab2 foi instalado Q. faginea e nas áreas Ab3 e Ab4 foi instalado A. campestre. A instalação terminou em Dezembro de 1999. Em todos os casos foram instaladas parcelas de estudo de 20 árvores, com as seguintes repetições: Aa1 e Aa2, 2 parcelas cada; Ab1, Ab2 e Ab3, 3 parcelas cada; Ab4, 4 parcelas. Recolha de dados

A sobrevivência (%) e crescimento (altura total) das plantas de Valverde I foram monitorizados na Primavera, Verão e Outono de 1997. Em Valverde II, a avaliação daqueles parâmetros foi feita na Primavera, Verão e Outono de 1998, a intervalos de cerca de 2 meses. Na Lagoa dos Linhos, a

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Resultados e Discussão Sobrevivência

No ensaio de Valverde I, só o freixo e a tamargueira sobreviveram ao Verão. As suas taxas de sobrevivência, 9 meses após a plantação, eram de 15,6% e 19,8% respectivamente, indicando má adaptação ao local. A maior parte da mortalidade ocorreu na Primavera, com extinção precoce do plátano, choupo e salgueiro (Figura 1). Em Valverde II, o bloco 2 foi inutilizado pela entrada acidental de gado, após 7 meses de monitorização. Ao fim de 1 ano, as taxas de sobrevivência no bloco 1 foram de 46,4% para F. angustifolia, 75% para T. africana, 71,4% para Q. faginea e 11,1% para S. atrocinerea. Não houve sobreviventes de S. nigra ou P. nigra. Entre o fim do Verão de 1997 e a instalação a precipitação foi de 648,8mm em 4 meses, contrastando com os 480,7mm no ano completo de 1998. Pode-se supor que as condições anteriores ao 2º ensaio foram largamente responsáveis pela sobrevivência elevada das espécies mais rústicas nos primeiros meses (Figura 2).

Na Lagoa dos Linhos, só na área Ab4 se verificou no fim do ensaio (Setembro de 2000) uma sobrevivência relativamente baixa (cerca de 30%). Nas restantes áreas, a taxa de sobrevivência atingiu quase 100%, observando-se mesmo este valor na área Ab2.

Figura 1 - Variação com o tempo das taxas de sobrevivência das espécies instaladas no ensaio de Valverde I

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Crescimento

A análise do crescimento no ensaio de Valverde I foi afectada pelo rápido desaparecimento de 3 das 5 espécies ensaiadas, como se pode confirmar pela Figura 3. As espécies F. angustifolia e T. africana, que sobreviveram mais tempo, tiveram um crescimento irregular, afectado pela pressão de roedores e pela dessecação das extremidades durante a estação seca. Contudo, o freixo (F. angustifolia) apresentou, no final do ensaio, alguns sinais de recuperação.

No ensaio de Valverde II observaram-se na maioria das espécies curvas de crescimento decrescentes com o tempo (Figura 4). O facto ficou a dever-se a razões semelhantes às apontadas acima para Valverde I, mas também a uma tendência confirmada empiricamente para uma mortalidade mais elevada nas plantas de maior dimensão inicial (por exemplo, em T. africana e P. nigra). A principal excepção a este padrão ocorreu em Q. faginea, mas os crescimentos desta espécie foram, ainda assim, modestos, tendo-se observado uma tendência marcada para a dessecação das folhas no Verão.

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Na Figura 5 apresenta-se a evolução do crescimento em altura média das diferentes espécies nas duas áreas de composição mista da Lagoa dos Linhos. Refira-se que o ligeiro decréscimo na curva de crescimento do S. atrocinerea pode explicar-se, em larga medida, pelo encurtamento das extremidades vivas, sobretudo por dessecação, seguido de emissão de novos lançamentos a níveis inferiores. Tomando como referência a primeira altura medida, verificou-se que, nestas áreas, a Q. robur destacou-se pela rapidez do crescimento, tendo aumentado entre a 1ª e a última medição cerca de 103%. O valor mais próximo foi obtido em C. monogyna, que aumentou apenas 46% da altura inicial. As restantes espécies quedaram-se por aumentos inferiores a 20%, ao longo do ensaio.

0 40 80 120 160 200 0 2 4 6 8

Meses após a instalação

Altura (cm ) Q. robur Q. faginea P. nigra T. africana C. monogyna S. atrocinerea 0 40 80 120 160 200 240 0 2 4 6 8

Meses após a instalação

Altura (cm ) A. campestre Q. faginea A. monspessulanum S. atrocinerea P. nigra

Figura 5 - Crescimento em altura das espécies instaladas nas áreas Aa1 (em cima) e Aa2 (em baixo) no ensaio da Lagoa dos Linhos

A Figura 6 representa o crescimento em altura de Q. faginea e A. campestre, na sementeira directa e na plantação, na Lagoa dos Linhos. No primeiro, a curva decrescente (sementeira), explica-se pela germinação de novas plantas entre a 4ª e 5ª medição, as quais afectaram negativamente a média. Por outro lado, em A. campestre, a curva correspondente à sementeira directa apenas aumentou ligeiramente, devido à elevada mortalidade estival.

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0 10 20 30

0 2 4 6 8

Meses após a instalação

Altura (cm ) Plantação Sementeira 0 20 40 60 80 0 2 4 6 8

Meses após a instalação

Altura (cm)

Plantação Sementeira

Figura 6 - Crescimento em altura de Quercus faginea (em cima) e Acer campestre (em baixo) de plantação e sementeira directa nas áreas de composição pura do ensaio da Lagoa dos Linhos

Conclusões

Em termos gerais, concluiu-se que se deveria optar, no restauro de galerias ribeirinhas através de métodos clássicos de arborização, pela mobilização não contínua do terreno (devido à susceptibilidade à erosão), pela instalação de Outono precoce (para tirar partido das primeiras chuvas) e, quando a situação de relevo for adequada, pela instalação por módulos de composição mista, repetindo aleatoriamente módulos distintos entre si ao longo das margens. Em função da frequente adversidade dos factores de meio, em clima mediterrâneo, parece preferível utilizar plantas e sementes com elevado padrão de qualidade e pertencentes a espécies de propagação fácil. Pelo menos nas situações de margem alta e secura estival pronunciada, a rega abundante no Verão, sempre que possível e economicamente razoável, parece recomendável. Com efeito, a grande diferença entre o ensaio da Lagoa dos Linhos e os de Valverde parece inteiramente atribuível à relação entre a morfologia das margens e a disponibilidade de água no solo.

Agradecimentos

O suporte financeiro para os ensaios foi obtido através dos projectos PAMAF 4059 ("Medidas de Valorização de Galerias Ribeirinhas e sua Avaliação no Contexto Agro-ambiental – MEVAGAR") e 4031 ("Ecologia e Ordenamento Cinegético de Anatídeos e Ralídeos no Baixo Mondego. Correlações

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Bibliografia

BRINSON, M.M., VERHOEVEN, J., 1999. Riparian Forests. In M. L. Hunter Jr. (Ed.). Maintaining Biodiversity in

Forest Ecosystems. Cambridge University Press. Cambridge.

DECAMPS, H., TABACCHI, E., 1992. Species richness in vegetation along river margins. In P. S. Giller, Hildrew,

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FERNANDES, J.P., 1995. Os ecossistemas ribeirinhos como elementos charneira de uma Política de Conservação

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FERREIRA, H.A., 1970. Normais Climatológicas do Continente, Açores e Madeira Correspondentes a 1931-1960.

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GONZÁLEZ DEL TÁNAGO, M., GARCIA DE JÁLON D., 1998. Restauración de Ríos e Riberas. Escuela Técnica

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MOREIRA, I., SARAIVA, M., AGUIAR, F., COSTA, J., DUARTE, M., FABIÃO, A., FERREIRA, T., LOUPA RAMOS, I.,

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SMITH, D.M., LARSON, B.C., KELTY, M.J., ASHTON, P.M. S., 1997. The Practice of Silviculture: Applied Forest Ecology.

Imagem

Figura 2 -  Variação com o tempo das taxas de sobrevivência das espécies instaladas no ensaio de Valverde II
Figura 3 -  Crescimento em altura das espécies instaladas no ensaio de Valverde I
Figura 5 -  Crescimento em altura das espécies instaladas nas áreas Aa1 (em cima) e Aa2 (em baixo) no ensaio da Lagoa dos Linhos
Figura 6 -  Crescimento em altura de Quercus faginea (em cima) e Acer campestre  (em  baixo)  de  plantação  e sementeira directa nas áreas de composição pura do ensaio da Lagoa dos Linhos

Referências

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