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Na trilha da semiliberdade

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Academic year: 2021

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Na trilha da semiliberdade

Resumo

O texto refere-se à construção do trabalho na medida socioeducativa de semiliberdade, em Belo Horizonte. Para tanto, relata-se a experiência de elaboração e realização de atividades com os jovens em cumprimento dessa medida, ao mesmo tempo que se propõe uma reflexão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, enfatizando seus princípios de liberdade. Isso porque se constata que, ainda hoje, o tratamento dado aos adolescentes costuma reduzir-se à segregação e à privação de liberdade. Conclui-se que uma atenção quanto a isso, de maneira especial, na execução da semiliberdade, em que a precariedade de uma rede de proteção e políticas públicas em torno do jovem apresenta-se de forma contundente, é fundamental para que se possa acompanhá-lo também quanto ao seu direito à liberdade.

Palavras-chave: adolescente, adolescente autor de ato

infracional, socioeducação, semiliberdade, Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA.

Abstract

This paper is about the work in progress of a sentence of custody called 'semi-freedom', in Belo Horizonte. For that, is reported the experience of elaborating and realizing activities with the teenagers and young adults who are sentenced to the semi-freedom. At the same time, the paper proposes a reflection about the Brazilian Convention on the Rights of the Child (ECA – the acronym in portuguese), emphasizing its principles of freedom. The reason to do so, is that still today is noticeable that the treatment given to the young offenders is usually is reduced to a perspective of detention and segregation. One concludes that to be aware of this, specially in

Raquel de Melo Marinho

Mestre em Psicologia Social (PUC-SP), diretora de atendimento do Centro de Encaminhamento da Semiliberdade (Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo, Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais).

Autor para correspondência: Email: raquelmmarinho@ig.com.br M a rin h o

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the execution of the semi-freedom, where the precariousness of a protective network e public policy around these youngsters presents itself scathingly, is essential so one can work with them also about the moment of returning to their right to freedom.

Keywords: adolescent, young offender, juvenile justice,

semi-freedom, ECA.

Introdução

Inventar um jeito de executar a medida socioeducativa de semiliberdade, orientando-se pelo que preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):

Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial.

§ 1° É obrigatória a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

§ 2° A medida não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação (grifos nossos) (BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990).

Trata-se, portanto, de uma tarefa criativa, visto que a lei pouco fala de tal medida, mas não sem princípios. Ou seja, se a semiliberdade seria – e ainda é1 – uma construção a se fazer, seu alicerce é aquilo que norteia um conjunto inteiro de ações voltadas aos adolescentes autores de ato infracional e também às crianças e aos adolescentes como um todo.

Nesse sentido, torna-se necessário, por um lado, ficarmos atentos ao que a experiência pode nos ensinar e, por outro, recordarmos, a cada momento, que os princípios que norteiam o trabalho de responsabilização dos jovens – como o da incompletude

1 Embora o governo do Estado de Minas Gerais executasse, através de parceiros, a medida socioeducativa de semiliberdade, a construção de uma política a respeito é recente, datada de 2007.

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institucional, o da intervenção mínima, o da brevidade e excepcionalidade2 – são “princípios de liberdade”3.

Não é à toa que as atividades externas têm tanta importância na semiliberdade – no texto jurídico, como um dos raros pontos mencionados, e na fala dos próprios adolescentes, que sempre as reivindicam –, tornando-se o grande desafio do nosso trabalho.

Os primeiros passos

A criação do Centro de Encaminhamento da Semiliberdade (CES) é resultado de uma necessidade conjuntural – período em que não existiam vagas de semiliberdade em Belo Horizonte e que os próprios adolescentes apontaram o “anexo do CEIP4” como um lugar para iniciarem o cumprimento de tal medida. Afinal, onde estavam, na internação provisória, encontravam-se privados de liberdade, mas na semi estariam apenas restritos, com direito a uma maior5 circulação na cidade.

Encontrar locais para eles frequentarem, contudo, não se mostrou uma tarefa fácil. Usualmente, o espaço urbano revelou-se pouco interessado, quando não, fechado à presença dos jovens, ainda mais em cumprimento de medida socioeducativa.

A gente já paga imposto e também tem que ajudar? Por que o Estado não faz um clube só para esses meninos irem? – Fala de um diretor de um clube recreativo de Belo Horizonte, que recebeu um pedido nosso, para que os adolescentes pudessem lá passar uma tarde.

2 Marta de Toledo Machado entende que os princípios de brevidade e excepcionalidade não se referem apenas à medida de internação, mas a todo sistema socioeducativo. Conferir em MACHADO, 2006, p. 109.

3 COSTA, 2006, p. 454.

4 O anexo era um prédio vizinho ao Centro de Internação Provisória (CEIP), que foi construído, inicialmente, para abrigar mulheres e que estava abandonado.

5 Cabe lembrar que, na medida socioeducativa de internação, “salvo expressa determinação judicial em contrário”, também é possível a realização de atividades externas.

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E foi em um desses momentos iniciais, de grande dificuldade na viabilização das atividades externas, que os adolescentes colocaram fogo no televisor, no espaço de convivência do CES. Quer dizer, ao comportar como se estivessem na cadeia, os jovens exprimiam que estavam como presos – o que vai na direção oposta ao que acreditamos ser a socioeducação.

É, assim, em meio às chamas, que se antecipou o início das atividades do Livre Arbítrio (LAR) – um projeto de arte e cultura, cuja parceria estava em elaboração. Na sala tingida de preto – os restos do incêndio – ocorreu o primeiro encontro dos adolescentes com os arte-educadores. Aproveitando as marcas de fuligem, iniciaram o traço do projeto, transformando o espaço deteriorado pela violência em um painel grafitado. De fato, uma entrada fundamental, que introduz na instituição a rua por meio da arte, a arte de rua, presente nos grandes centros urbanos e a respeito da qual aqueles jovens não estavam alheios.

Em outras palavras, era preciso aproximar a cidade do CES, trazendo-a para a sala de “convivência”, quer dizer, possibilitando que a arte de rua, entendida como uma expressão essencialmente juvenil, pudesse se embrenhar na instituição, minimizando as diferenças entre o dentro e o fora e permitindo que os jovens fossem apenas jovens ou grafiteiros ou um diverso qualquer do infrator ou do prisioneiro.

Ampliando a semiliberdade

A proposta do LAR abarca oficinas internas e externas, palestras e passeios pela cidade.

As oficinas são ministradas por arte-educadores e variam entre a fotografia, o grafite, o rap, a música, a história em quadrinhos, o teatro, a arte reciclada – as mesmas modalidades que costumam ser ofertadas aos adolescentes nas comunidades6 da cidade.

Se as oficinas externas, claramente, dizem respeito à condição de circulação dos jovens pelo espaço urbano, as internas relacionam-se à oportunidade de experimentarem uma convivência.

6 Muitos dos arte-educadores do Livre Arbítrio já realizaram oficinas no Fica Vivo!, programa de controle de homicídios instalado nas comunidades de maior índice de violência em Belo Horizonte.

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Isso porque a impossibilidade de estarem juntos é muito falada na semiliberdade. Os adolescentes chegam dizendo que não podem ficar ali, pois alegam estar em guerra com aquele outro que já se encontra ou que vai chegar.

Como é então, para eles, jogar uma bola com outros, que supunham apenas guerrear? Como é se ver gostando de um que teria que odiar? Como é surpreender-se com o fato de que o outro também aprecia “isso”, pensa “aquilo” e vive “assim”? Como é ter a ocasião de refletir, conversar e até simbolizar as diferenças, que seja num “duelo de rimas”7?

Dessa forma, criar atividades internas cumpre variadas funções. Além de favorecer o convívio entre os adolescentes, cuida para não consistir numa distinção entre o fora e o dentro, para não permitir que a instituição se mantenha separada da cidade. O propósito é que essa também se faça presente no CES, com suas expressões e acontecimentos.

Nessa vertente é que se estabelecem ainda as palestras: atividades pontuais realizadas por convidados e que não necessariamente possuem o formato de uma exposição de ideias. Foi o caso, por exemplo, de uma enfermeira, professora da UNIFENAS-BH8, que conseguiu provocar uma animada conversa sobre sexualidade e prevenção às DSTs/AIDS9; dos alunos e professores do curso de Engenharia de Sistemas da UFMG10, que ensinaram a montagem de uma lanterna elétrica usando caixa de pasta de dente; de um cartunista da cidade de São Paulo, que propôs a criação de um fanzine, intitulado pelos próprios adolescentes de “Conexão Anexo”; de um pizzaiolo do Pizza

7 O “duelo de rimas” é exercitado por cantores de raps que, como os repentistas, vão improvisando uma resposta ao canto anterior, do colega.

8 Universidade de Alfenas, campi Belo Horizonte.

9Doenças sexualmente transmissíveis/síndrome de deficiência imunológica adquirida.

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Pezzi11, que contou como chegou na sua profissão, enquanto participou do preparo e degustação de pizzas na cozinha e refeitório etc.

Aliás, cabe falar que não é sem importância a realização das atividades internas por um parceiro – um outro diverso do CES –, uma vez que favorece o arejamento da instituição em geral, fazendo com que, afora os adolescentes, os funcionários e o próprio espaço físico não permaneçam no isolamento.

Isso porque o contato da instituição de semiliberdade com outros, que se mantêmexteriores a ela, faz com que se sustente um movimento, um eterno estranhamento com a estrutura e os procedimentos, com os quais se corre o risco de familiarizar e estancar.

Melhor dizendo, se a instituição não pode prescindir, até certo ponto, de algumas características que a definem como executora da medida socioeducativa de semiliberdade – quer dizer, que acolhe e acompanha adolescentes, na maior parte, que cometeram atos infracionais graves12 –, o parceiro ou convidado

tem mais condições de se preocupar apenas com as atividades e, portanto, muitas chances de propiciar que os adolescentes se desloquem do lugar do infrator.

Ao mesmo tempo, os funcionários e o espaço físico que “participam”13 dessas atividades, também sofrem interferências. Aos primeiros surgem perguntas sobre possibilidades de se estabelecer com os jovens um laço diferente da relação do executor

11Pizza Pezzi é uma rede de pizzarias em Belo Horizonte, especializada na venda de pizza em fatias.

12 A medida de semiliberdade, sendo restritiva de liberdade e anterior apenas à medida de internação, é uma medida gravosa e que, assim sendo, deve ser aplicada em resposta a atos graves ou a adolescentes que tiveram ocasiões anteriores de responder pelos seus atos em liberdade.

13 Podemos causar estranheza ao afirmarmos que o espaço fisíco participa. Entretanto, resolvemos manter assim, uma vez que, no mínimo, é certo que o espaço físico faz parte das atividades que nele ocorrem.

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com o infrator e o segundo acaba por se prestar a diversos usos, muito além dos propostos à execução de uma medida socioeducativa. Todavia, é nas oficinas externas e passeios que encontramos nossas maiores dificuldades. Afinal, aqueles que se dispõem a estar numa instituição para adolescentes autores de atos infracionais já demostram uma receptividade a se envolver com a questão. O que dizer, porém, da sociedade civil como um todo?

Rumo à socioeducação

O Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em 13 de julho de 1990, modifica a condição dos menores de idade no Brasil.

Até então, com o Código de Menores de outubro de 1979, crianças e adolescentes, diante de alguma situação que escapasse à regularidade14 – como abandono, maus-tratos, delinquência etc –, sofriam uma intervenção do Estado, que facilmente se reduzia a uma assistência punitiva, ou seja, à privação de liberdade nas antigas FEBEMs15.

Com o ECA, porém, crianças e adolescentes passam a ser considerados sujeitos de direitos e responsabilidades, estando sob a

doutrina da proteção integral. Isso significa não só o

reconhecimento de que os menores de dezoito anos merecem um tratamento diverso dos adultos – uma vez que estão em condição peculiar de processo de desenvolvimento –, mas também que a família, a comunidade, a sociedade em geral e o poder público16 são responsáveis por assegurar seus direitos.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

14Era tempo da doutrina da situação irregular. 15Fundações do Bem-estar do Menor.

16 O artigo 227 da Constituição Federal do Brasil menciona que “é dever da família, da sociedade e do Estado […]” e o artigo 4° do Estatuto da Criança e do Adolescente afirma que “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público […]”.

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alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Essa mudança no status das crianças e dos adolescentes – que de objetos de intervenção do Estado passam a ser sujeitos de direitos e responsabilidades e que todos se tornam responsáveis pela garantia de seus direitos – consistiu numa ruptura, numa verdadeira transformação político-cultural17.

Para termos a dimensão, vale lembrar a descrição das etapas históricas dos sistemas de responsabilização das crianças e dos adolescentes, feita por Emilio García Méndez18. A inicial, que se estendeu do nascimento dos códigos de penas judiciais da corte até 1919, caracterizava-se por um tratamento penal nitidamente retributivo19, que pouco distinguia menor de idade e adulto. Tal diferença resumia-se em atribuir ao primeiro – com idade entre sete e dezoito anos – um terço da pena correspondente àquela aplicada ao segundo, levando-se em consideração espécie igual de ato praticado. E como se tratava de privação de liberdade, crianças e adolescentes eram presos apenas por um tempo inferior ao de um adulto, mas nas mesmas instituições e submetidos a grande promiscuidade.

A etapa dois, denominada tutelar, durou setenta anos – de 1919 a 1989. Nela se diferenciavam menores e maiores de idade, ao se criar

17 Essa expressão é inspirada nessa passagem de Méndez, que está se referindo, de modo mais específico, à incorporação, pelo ECA, do garantismo penal, isto é, das garantias materiais e processuais que visam limitar a intervenção estatal na liberdade do indivíduo: “La derogación del viejo Código de Menores de Brasil de 1979 por el ECA en 1990, no constituyó ni el resultado de un rutinario proceso de evolución jurídica, ni una mera ‘modernización’ de instrumentos jurídicos. Existen hoy sobradas evidencias que demuestran que dicha sustitución resultó un verdadero (y brusco) cambio de paradigma, una verdadera revolución cultural” (2006, p. 16).

18 Jurista argentino, Acessor Regional do UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância – na América Latina e Caribe.

19 Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, retribuição, enquanto um termo jurídico, significa: “remuneração de um serviço, cumprimento de obrigações de uma parte em relação à outra; contraprestação” (In:

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uma legislação e uma administração específicas da questão menorista: os tribunais e as leis de menores que, no Brasil, foram representados tanto pelo Código de Menores de 1979, como pelo anterior, de 1927. No entanto, apesar dessa novidade relativa à distinção com os adultos, persistia nela um compromisso com o velho sistema, de prisão, calcado numa arquitetura de reclusão.

Com a aprovação da Convenção Internacional dos Direitos da Criança20, em 1989, começa uma terceira fase, determinada pelas necessidades de separação dos problemas de natureza social com os conflitos específicos às leis penais e de permissão da participação dos menores de dezoito anos através dos direitos de opinião e expressão. Acompanhando Méndez:

[…] Pero el carácter progressivo del concepto de participación contiene y exige el concepto de responsabilidad, que a partir de determinado momento de madurez se convierte no sólo en responsabilidad social sino además y progressivamente en una responsabilidad de tipo especificamente penal […ou socioeducativa21] (grifos nossos) (2006, p. 10).

Quer dizer, uma vez que as crianças e os adolescentes ganham o direito de participar dos assuntos que lhes dizem respeito, exprimindo seu pensamento e sua vontade, acabam por também vir a ter que responder pelas suas manifestações. Em outros termos, quando se concede que a criança e o adolescente tomem parte, seja da família, seja da sociedade ou do Estado, isso implica que eles passam a possuir aí, nesses arranjos sociais, direitos e, consequentemente, responsabilidades. Isso porque o direito delimita o que se pode, mas, ao delimitar o que se pode, acaba estabelecendo também o que não se pode. Aliás, vale lembrar

20Tal convenção considera que toda pessoa com até dezoito anos incompletos é uma criança.

21 Méndez defende que a responsabilidade dos adolescentes no Estatuto é do tipo penal, muito em função da presença do sistema de garantias do Direito Penal. Outros, entre os quais, Paulo Afonso Garrido de Paula – que é também Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo e co-autor do anteprojeto que deu origem ao ECA –, afirma que se trata de socioeducação: um tipo de resposta jurídica perante um ato ilícito cometido por um adolescente, que se configura enquanto algo novo, diferente das penas, dos interditos e das sanções e que buscaremos explorar mais à frente.

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o que Lacan diz nessa direção, no livro 20, sobre o direito de usufruto22:

“[…] O usufruto quer dizer que podemos gozar de nossos meios,

mas que não devemos enxovalhá-los. Quando temos usufruto de

uma herança, podemos gozar dela, com a condição de não

gastá-la demais […]”(grifos nossos) (2008 [1972-1973], p. 11).

Por fim, se o direito estabelece possibilidades e limites, podemos ler, com Méndez, que os menores de idade, uma vez que passam a ser considerados parte da sociedade, quer dizer, sujeitos de direitos, podem ser responsabilizados23.

Acontece, porém, que antes de 1990, o tratamento dado às crianças e aos adolescentes era de “mero caráter penal repressivo”24 ou tutelar, de um “paternalismo ingênuo”25. Consistia em práticas consideradas más ou práticas consideradas boas. Em qualquer uma delas, no entanto, não se fazia presente uma justiça, pois não se conjugava direitos e responsabilidades.

Aliás, cabe apontar que tanto na primeira etapa, quanto na segunda, os menores de idade, por razões que não se limitavam à prática ilícita, eram presos, ou seja, segregados do espaço urbano e da vida em sociedade.

22 Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, usufruto, enquanto um termo jurídico, significa: “direito conferido a alguém, durante certo tempo, de gozar ou fruir de um bem cuja propriedade pertence a outrem, de retirar-lhe os frutos e as utilidades que produz” (In: www.uol.com.br/dicionarios, acesso em 12/10/2010).

23 A discussão em torno da responsabilidade de crianças e adolescentes é importante e complexa, mas não é o foco desse nosso trabalho. Apenas em linhas gerais, gostaríamos de mencionar que Méndez diz sobre responsabilidade social e penal e Paula fala das medidas protetivas e socioeducativas. Se a responsabilidade penal e as medidas socioeducativas têm suas diferenças, a responsabilidade social assemelha-se às medidas protetivas. Isso porque a responsabilidade social diz respeito à garantia de direitos dos menores de dezoito anos e as medidas protetivas, que salientam a intenção da proteção integral e encerram apenas o caráter de intervenção educativa, chamam o Estado, a sociedade, a comunidade e a família a se responsabilizarem para com a efetivação ou resgate dos direitos da criança, por meio, respectivamente, da criação, inclusão e frequência nas políticas públicas e numa aposta de que assim se evita e/ou coíbe-se a prática de atos infracionais. Para mais informações, envolvendo também as ideias de castigo e responsabilidade subjetiva, ver MARINHO, 2009.

24Méndez, 2006, p. 11. 25

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Com o ECA, os jovens passam a ter os direitos do contraditório, da ampla defesa, de só ser privado de liberdade em último caso e por pouco tempo, entre outros. E é essa grande transformação que nos dá a dimensão do quão custoso é o nosso trabalho. Mesmo porque, modificar uma cultura, uma forma de ver e funcionar, não é algo simples, que se garante apenas com a promulgação de uma lei, muito embora ocorrida em 1990.

Afinal, ainda hoje é possível constatar as inúmeras dificuldades de aceitação, principalmente dos jovens em suas manifestações, em seus jeitos de saber e fazer. Ainda hoje eles costumam ser considerados menores, no sentido de diminuídos, inferiores26, ignorantes quanto à vida. Ainda hoje acontecem ocasiões em que os adultos não dão ouvidos aos adolescentes e insistem em chamá-los “aborrecentes”. Ainda hoje existe o estereótipo de que a adolescência é uma fase perigosa e que merece repressão.

Orientando-se pelo ECA, entretanto, a repressão necessária não se dirige à infância e juventude, mas somente à prática de atos ilícitos, que são desvalores sociais, contrários à vida em sociedade. Logo, quando crianças e adolescentes os cometem, não deixam de ser considerados responsáveis27, sendo responsabilizados através das medidas protetivas e socioeducativas, entre as quais encontra-se a encontra-semiliberdade.

A pergunta, no entanto, é: como a família, a comunidade, a sociedade e o poder público podem favorecer possibilidades de rompimento dos jovens com a prática ilícita, ao contrário de lhes querer ou lhes fazer segregados?

“[…] Por que o Estado não faz um clube só para esses

meninos irem?”

26 Isso explica a evitação atual do termo “menor”, quando não acompanhado da designação “de idade” ou “de dezoito anos”, entre as pessoas que trabalham com a infância e juventude.

27 Não se desconhece a divergência entre autores quanto à responsabilidade das crianças pela prática da infração. Embora não discordem que os resultados jurídicos de um ato infracional cometido na infância são as medidas protetivas, uns entendem-nas como responsabilização das crianças, mesmo que incidindo sobre os pais, a comunidade, a sociedade e o Estado, ou, melhor dizendo, entendem que a responsabilização social tem efeitos de responsabilização das crianças. Outros, porém, entendem as protetivas apenas como responsabilização do social, permanecendo as crianças isentas de responsabilidade (Conferir AMARAL E SILVA, 2006, p. 55).

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Nesse sentido, vale lembrar Paula que, ao explicar sobre a socioeducação, afirma que a intenção da responsabilização dos adolescentes é o rompimento com a prática ilegal, através de uma promoção social do autor da infração28, o que, por sua vez, implica a inevitabilidade de que as políticas e a cidade disponham-se a tomar os adolescentes enquanto cidadãos com direitos a, respectivamente, delas usufruir e nela estar.

Como semiliberdade?

É difícil apreender todas as variáveis que envolvem o cumprimento da medida de semiliberdade pelos adolescentes. Quando eles chegam, ficam restritos à instituição nos primeiros sete dias – tempo de conhecerem o funcionamento da medida, a equipe, as normas de convivência, de estabelecerem as primeiras conversas com o técnico de referência. Além disso, é um período de localização dos primeiros encaminhamentos, possíveis e necessários – como consultas médicas, retirada de documentação, contato com as últimas escolas onde os jovens estudaram –, e para as famílias se apresentarem e instaurarem alguns combinados de acompanhamento dos seus filhos.

A partir do oitavo dia, os adolescentes começam a frequentar também as atividades externas – as oficinas nas ruas29, na Associação Imagem Comunitária30, no Galpão Ponte Preta31 – e os

28 Paula usa essa expressão, “promoção social”, também referindo-se às crianças, na seguinte passagem: “Hoje […] pode-se afirmar que a exclusão de menores de dezoito anos de idade [da imputabilidade] resulta da concepção de que crianças e adolescentes merecem do Estado um atendimento diferenciado, potencialmente capaz de coibir a criminalidade infanto-juvenil e promover socialmente seu ator […]” (grifos nossos) (2006, p. 36).

Anteriormente ele havia dito algo semelhante, ao se levar em conta a realidade de um Estado de desvalor social: “[…] mormente considerando o desvalor social de uma sociedade marginalizante, a necessidade de promoção educativa do transgressor da norma, abrangendo os variados aspectos da vida humana, de modo a dotá-lo dos mecanismos internos e externos que permitam o enfrentar dos desafios do cotidiano sem os recursos da ilicitude” (grifos nossos) (Ibidem, p. 30). 29 A oficina de fotografia consiste numa saída com os jovens pelas ruas, com

máquinas fotográficas em punho e algumas ideias na cabeça.

30 A AIC é uma instituição voltada à democratização da comunicação. Para conhecer, acesse: www.aic.org.br.

31O Galpão Ponte Preta é uma associação esportiva e cultural na região do Horto, em Belo Horizonte.

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passeios das quintas-feiras, de esporte, lazer e cultura. Podem ainda inaugurar as visitas familiares de final de semana, que estão condicionadas às possibilidades de serem acolhidos pelos parentes em casa. Nesse período, entretanto, também se iniciam as evasões, as desistências dos jovens em prosseguir na instituição de semiliberdade. São, geralmente, em número considerável e nos mantêm atentos à assimilação dos motivos ou contextos em que elas ocorrem, para todo adolescente, quer nos comunicados de evasões enviados ao judiciário, quer em supervisões dos técnicos, ou em conversas com a equipe de agentes de segurança socioeducativos, ou em discussões de caso em reunião geral32.

E, embora alguns desses motivos nos apontem questões de trabalho, na orientação da equipe – que corre o risco, por exemplo, de repetir com os adolescentes33 – e numa certa tolerância com o tempo de cada um dos jovens, de consentimento com a medida34, vários nos dizem de nossas limitações. Entre elas estão, de forma contundente, as guerras entre os adolescentes, aquelas que, segundo eles, os impedem de ficar em qualquer uma das casas de semiliberdade e, no meio delas, as ameaças de morte.

Saudoso35 é um exemplo. Há dois anos ele está ameaçado na região onde mora porque presenciou o assassinato de seu amigo e poderia, então, se vingar ou delatar os criminosos. Ao procurar ajuda na justiça, junto de seu pai – com quem mora, além da irmã mais nova e sendo órfão de mãe –, foi encaminhado ao Programa de Proteção às Crianças e aos Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) que, de imediato, colocou a família numa moradia provisória, para dar início à construção das medidas de proteção à vida.

Constatou-se, porém, que o pai é um senhor de saúde bastante fragilizada e que depende da vizinhança, composta por

32De todos os funcionários da instituição.

33 Um dos casos discutidos em reunião geral apontava para o fato de que a instituição reforçava um lugar de inferioridade apresentado pelo próprio adolescente, por exemplo, permitindo que fosse sempre ele o responsável pela faxina, ao invés de exigir que uma escala de limpeza fosse organizada por todos os jovens. Dessa maneira, acolher a demanda dele, de ficar no lugar de quem serve aos outros, de quem fica subjugado, era não possibilitar que ele crescesse ou falasse em nome próprio ou se responsabilizasse pelas suas escolhas e posição.

34 Muitos adolescentes afirmam que a medida de semiliberdade não é para eles. Trata-se de uma medida que possibilita a circulação dos jovens pela cidade e exige que eles retornem para a instituição até determinado horário – o que é “muito difícil” para alguns, ao menos nos períodos iniciais.

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parentes e amigos, para se cuidar. Saudoso acabou em um abrigo, de onde fugiu, vindo parar na semiliberdade devido à prática de ato infracional.

Ou seja, Saudoso não concordou em ficar longe de sua família. A propósito, como pensar o dever da família, da sociedade e do Estado de assegurar às crianças e aos adolescentes a convivência familiar e comunitária? Viabilizar para que Saudoso, na semiliberdade, esteja com seu pai e irmã, em momentos bastante pontuais36, não é insatisfatório, uma vez que o mantém separado do local onde ele viveu e todos os seus parentes, inclusive os mais próximos, ainda vivem? Aliás, como é possível pensar a socioeducação, enquanto promoção social de Saudoso, se ele se mantém segregado do seu meio familiar? E mais, como achar que um jovem pode resistir em não retornar ao local da ameaça, se é lá que sua família está?

Vejamos este trecho escrito por ele em uma das atividades do Projeto Livre Arbítrio:

“Deitado na minha jega37, num fundo de uma cela. Olhando as estrelas, penso em meu pai, enquanto olho a janela. Pedindo para Deus, que dia vou voltar, chegar para o meu velho, a ele abraçar”.

O que queremos sublinhar é a precariedade do caso, que é apenas um da quantidade que nos chega, sem qualquer proteção da família38, da comunidade e da sociedade. Em outras palavras, situações que parecem impedir a conjugação do direito à vida com o direito à liberdade, do direito à vida com o direito à convivência familiar e comunitária, do direito à liberdade com o direito à convivência familiar e comunitária.

Manter Saudoso segregado não é mesmo suficiente e novos esforços são feitos em torno do caso com o estabelecimento de um diálogo com o PPCAAM, com a promotoria e o juizado na intenção de inventar outras saídas, que não impeçam o adolescente de conviver com seu pai e que o permitam responder pelo seu ato de maneira justa, isto é, apenas no tempo necessário de resposta pela

36 Como num passeio próximo à instituição, em fins de semana possíveis para os familiares se deslocarem até lá.

37 Palavra que segundo ele significa cama e conheceu na “cadeia”, na delegacia de adolescentes onde ficou quando apreendido.

38 Não são raros os casos de adolescentes sem família ou que os familiares não se dispõem a acompanhá-los no cumprimento da medida, preferindo que apenas o Estado cuide de seus filhos ou que os mantenha privados de liberdade.

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prática infracional e não pelo seu risco de morte, que existe há quase dois anos.

Assim sendo, a construção da execução da medida socioeducativa de semiliberdade em Belo Horizonte segue, mas com a dimensão de que ela depende39 de uma rede de proteção e de políticas ao redor dos adolescentes. Isso significa que ela segue sabendo que até mesmo o judiciário, a promotoria e o PPCAAM possuem seus limites, mas podem, junto com as medidas socioeducativas, junto com o sistema de responsabilização dos jovens autores de ato infracional, forçar um movimento, em toda a cidade, pela garantia dos direitos deles.

Por fim, a semiliberdade segue acompanhando os adolescentes rumo à socioeducação, sem se perder do intuito de conjugar responsabilidades e direitos.

Ampliando o Belo Horizonte

Era quinta-feira à tarde. Como de costume, uma das pedagogas do CES, a que é responsável por acompanhar o LAR nas atividades externas – participando da elaboração e execução delas – , voltava, em meio aos adolescentes, de uma sessão de cinema num

shopping de Belo Horizonte, localizado bem no centro da capital

mineira. A cena era a de uma mulher com seis jovens descendo a rua, em direção ao ponto de ônibus, enquanto o agente socioeducativo e a arte-educadora do Livre Arbítrio vinham um pouco mais atrás, conversando. De repente, surgem apressados dois policiais militares ordenando que os adolescentes encostassem no muro para serem revistados.

39 Talvez seja possível afirmar que a semiliberdade é a medida socioeducativa onde a precariedade à volta dos adolescentes se faz presente de modo mais evidente. A internação, por exemplo, conta com alguns recursos internos, que na semiliberdade não existem, dado que a idéia é mesmo contar com os meios da cidade. E nas medidas em meio aberto, os jovens e suas famílias encontram mais liberdade de manejar com certas situações. Por exemplo, um adolescente em liberdade assistida ou prestação de serviço à comunidade tem maiores chances de evitar a proximidade com um outro com quem arrumou um conflito, tem mais tempo de consentir com a medida ou até de ir se desvinculando da prática infracional, o que sabemos ser um processo, que não se conclui com a aplicação da medida, mas que começa com ela. Um jovem em semiliberdade, por sua vez, tem horário para retornar à instituição, depois de uma saída, e muitos se dizem pressionados pelos seus “chefes” no crime, devido ao fato de que, ora na instituição, não estão “trabalhando” – adolescentes que ainda não encontraram seus modos, na semiliberdade, de abandonar a prática infracional e que, por isso, acabam abandonando a medida.

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Sem entender os acontecimentos até ali, a pedagoga foi abordada por uma senhora que embarcava num coletivo, dizendo:

“– Nossa! Que medo deles fazerem algo com você! Ainda bem que eu chamei a polícia!”

“– Mas como? Eles estão comigo!” – respondeu ela, deixando a senhora confusa, dentro do ônibus que neste instante partia.

Foi quando a pedagoga se voltou para o muro da igreja, onde o agente e a arte-educadora já conversavam com os policiais. Eles, em meio a perguntas, afirmavam agir não sem razão, pois haviam recebido uma denúncia de que os jovens tentavam um assalto. Sem pestanejar, ela e seus colegas souberam que a atividade externa prosseguia, exatamente naquele momento, na necessidade de conversar, de transmitir o trabalho, a existência da semiliberdade e suas ações, de acompanhar os adolescentes pela cidade. Eles souberam aproveitar as oportunidades que se abriram, de esclarecer mal entendidos, de que os jovens pediam o vale-transporte e de que não se tratava de um roubo.

Enfim, eles puderam provocar e recolher os importantes efeitos que essa experiência no espaço urbano foi capaz de trazer para os que dela participaram. De surpresa, uma vez que os adolescentes não queriam assaltar, de conhecimento, dado que foi possível informar sobre a semiliberdade e a socioeducação, e de suscitar questões, já que os jovens acabaram por se perguntar sobre os modos como pediam o vale e foram interpretados, podendo ser críticos consigo e com os outros.

E é assim que hoje sabemos que toda atividade externa do CES é um importante recurso socioeducativo com uma dupla via: uma para os adolescentes, outra para a cidade. Isso porque se os jovens, através dela, podem tomar a dimensão do direito de circular por diversos lugares, da possibilidade de se interessarem por diferentes ofertas urbanas, a sociedade civil, ao estar com os adolescentes que acompanhamos, pode experimentar outras vivências com eles, bem distintas da prática infracional, abrindo-se, inclusive, ao que eles podem ensinar-lhe sobre as formas juvenis de experienciar a cidade e por ela circular.

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