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O uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, Uruguai: um estudo dialetológico

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ESTUDOS EM LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA LINHA DE PESQUISA: VARIAÇÃO E MUDANÇA. SUNAMITA SÂMELA SIMPLÍCIO DA SILVA. O USO DO COMPLEMENTO INDIRETO DE 3ª PESSOA DO ESPANHOL DE MONTEVIDÉU, URUGUAI: UM ESTUDO DIALETOLÓGICO.. NATAL/RN 2017.

(2) SUNAMITA SÂMELA SIMPLÍCIO DA SILVA. O USO DO COMPLEMENTO INDIRETO DE 3ª PESSOA DO ESPANHOL DE MONTEVIDÉU, URUGUAI: UM ESTUDO DIALETOLÓGICO.. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem – Ppgel, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Orientadora: Profª Dra. Shirley de Sousa Pereira. NATAL/RN 2017.

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes CCHLA Silva, Sunamita Sâmela Simplício da. O uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, Uruguai: um estudo dialetológico / Sunamita Sâmela Simplício da Silva. - 2017. 107f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ciências Humanas, Letras e Artes. Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, 2017. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Shirley de Sousa Pereira.. 1. Espanhol (Uruguai) - Dialetologia. 2. Espanhol (Uruguai) Variação. 3. Espanhol (Uruguai) - Complemento indireto. 4. Língua espanhola (Uruguai). I. Pereira, Shirley de Sousa. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 821.134.2(899).

(4) SUNAMITA SÂMELA SIMPLÍCIO DA SILVA. O USO DO COMPLEMENTO INDIRETO DE 3ª PESSOA DO ESPANHOL DE MONTEVIDÉU, URUGUAI: UM ESTUDO DIALETOLÓGICO.. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem – Ppgel, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Orientadora: Prof.ª Dra. Shirley de Sousa Pereira. Aprovado em: ____/____/____.. BANCA EXAMINADORA. _______________________________________ Prof.ª Dra. Shirley de Sousa Pereira Universidade Federal de Pernambuco Presidente da banca. _______________________________________ Prof.ª Marco Antônio Martins Universidade Federal de Santa Catarina Examinador Externo. _______________________________________ Prof. Dr. Carlos Felipe da Conceição Pinto Universidade Federal da Bahia Examinador Externo.

(5) DEDICATÓRIA. À Deus, o autor da minha vida..

(6) AGRADECIMENTOS. Agradeço, primeiramente, a Deus, por tudo que fez, faz e ainda fará; Aos meus pais, Ríssia e Antonio, por terem oferecido a mim amor, respeito e educação, por todo o suporte e encorajamento que contribuíram na minha caminhada até aqui, por terem me ensinado os caminhos do Senhor e todos os valores que carrego comigo. Dedico-lhes cada conquista que alcancei e que ainda alcançarei; Aos meus irmãos, Tiara, Tiago e Raissa, que também foram grandes incentivadores da realização dos meus sonhos e se alegram comigo a cada vitória; Ao meu esposo, Nivaldo, por toda a paciência, incentivo, apoio, compreensão e amor; À minha orientadora, Shirley, por cada ajuda que me deu, a começar por acreditar no meu potencial e não desistir de mim quando eu mesma não acreditava. Por insistir para que eu participasse da seleção de mestrado, pelas orientações, pelas conversas, pela amizade. Com certeza, fez muita diferença na minha vida e me marcou de maneira especial; Aos meus professores que tanto me ensinaram e ajudaram na minha formação. Cada aula, cada trabalho, cada discursão agregou valor ao meu crescimento profissional; À UFRN por proporcionarem esta oportunidade de crescimento professional e, assim, poder seguir os meus sonhos; Aos meus amigos que me ajudaram a manter o bom humor mesmo diante de tantas dificuldades; A todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha caminhada..

(7) “Como são grandes as riquezas de Deus! Como são profundos o seu conhecimento e sua sabedoria! [...]. Pois todas as coisas foram criadas por Ele, tudo existe por meio dEle e para Ele. Glória a Deus para sempre! Amém! ” (Romanos 11:33a, 36).

(8) RESUMO. SILVA, Sunamita Sâmela Simplício da. O uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, Uruguai: um estudo dialetológico. 2017. Dissertação (Mestrado) Curso de Linguística Teórica e Descritiva, Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.. Tendo em vista os pressupostos teóricos e metodológicos da Dialetologia e utilizando-se os estudos de Coseriu (1982, 1986), Weinreich, Labov e Herzog, (2006); Tarallo (2007), Gimeno Menéndez (1990), Chambers e Trudgill (1994), Montes Giraldo (1997), Miroslav Valeš (2012), Rosa (2012), entre outros, esta dissertação tem por objetivo descrever o uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, capital do Uruguai, buscando identificar as variações e as suas variáveis linguísticas e sociais. Os dados foram obtidos através de 54 entrevistas sociolinguísticas semidirigidas que integram o corpus Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España y de América (Preseea). São amostras organizadas segundo os fatores sociais: sexo – masculino e feminino; faixa etária - 1 (20-34 anos), 2 (34-54 anos) e 3 (mais de 55 anos); e escolaridade – fundamental, secundário e superior, utilizando, assim, três entrevistas para cada grupo/combinação de fatores. A estrutura das entrevistas é composta por temas como a saudação, o tempo, o lugar onde vive, a família e amizade, os costumes, perigo de morte, anedotas importantes na vida e desejo de melhoria econômica e resulta em dados da língua vernácula da comunidade de fala. Estudos anteriores sobre o uso do complemento indireto de 3ª pessoa na América (KENISTON, 1937, apud ALEZA, 2010; LAPESA, 1981; LOBATO, 1994, ÁLVAREZ & BARRÍOS, 1995 apud QUESADA PACHECO, 2002; ALLARCOS, 2006; COMPANY CAMPANY, 2006; ALCAINE, 2010; ALEZA IZQUIERDO, 2010; CAICEDE, 2011, GARCÍA, 2014) indicam as seguintes variações: (a) Uso etimológico dos pronomes átonos de 3ª pessoa, ou seja, le, les na função de CIND. Este sistema distinguidor de caso não ocorre em países que apresentem bilinguismo histórico; (b) Casos isolados de leísmo e laísmo em países sem bilinguismo histórico; (c) Uso de se los e se las no qual a marca de plural está presente no pronome átono na função de complemento direto, mas não aparece no complemento direto lexical, e sim, no complemento indireto. Portanto, há uma transferência da marca de plural do CIND lexical para o pronome átono de CDIR tendo em vista que o PA se não apresenta morfema de número. Esta variação está presente em todas as classes sociais; (d) Imobilização ou invariabilidade do pronome átono le usado na duplicação do CIND tanto para referentes que estão no singular quanto no plural; (e) Ausência da preposição a do sintagma de CIND que ocorre, geralmente, quando o complemento indireto lexical aparece em posição pré-verbal, sendo aceita na norma culta. Os resultados confirmam as variações já apresentadas pelos estudos anteriores, mas, também, indicam outras variações, a saber, a não concordância de número do CIND duplicado e a dupla omissão ou nulidade do CIND. Palavras-chaves: Dialetologia; Variação; Complemento Indireto; Língua espanhola..

(9) ABSTRACT. SILVA, Sunamita Sâmela Simplício da. the use of indirect object of 3nd person of the Spanish of Montevideo: a dialectology study. 2017. Dissertation (Masters) - Course of Theoretical and Descriptive Linguistics, Postgraduate Program in Language Studies, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017. Considering the theoretical and methodological assumptions of Dialectology and, also, the studies of Coseriu (1982, 1986), Weinreich, Labov e Herzog, (2006); Tarallo (2007), Gimeno Menéndez (1990), Chambers and Trudgill (1994), Montes Giraldo (1997), Miroslav Valeš (2012), Rosa (2012), among others, this dissertation aims to describe the use of indirect object of 3nd person of the Spanish of Montevideo, capital of Uruguay, seeking to identify the variations and their linguistic and social variables. The data were obtained through 54 sociolinguistic interviews that integrate the corpus PRESEEA (Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España y de América). Samples are organized according to the social factors: genus – male and female; age group - 1 (20-34 years), 2 (34-54 years) and 3 (more than 55 years); and schooling – elementary, secondary and higher education, using, like this, three interviews for each group of factors. The structure of the interviews is composed of topics such as the greeting, the time, the place where he lives, family and friendship, the customs, the risk of death, jokes important in life and desire for economic improvement and results in vernacular language data of the speech community. Previous studies on the use of indirect complement of 3rd person in America (KENISTON, 1937, apud ALEZA, 2010; LAPESA, 1981; LOBATO, 1994, ÁLVAREZ & BARRÍOS, 1995 apud QUESADA PACHECO, 2002; ALLARCOS, 2006; COMPANY CAMPANY, 2006; ALCAINE, 2010; ALEZA IZQUIERDO, 2010; CAICEDE, 2011, GARCÍA, 2014) indicate the following variations: (a) Etymological use of 3rd person object pronouns, in other words, le, les in function of CIND. This case distinguishing system does not occur in countries with historical bilingualism; (b) Isolated cases of leísmo and laísmo in countries without historical bilingualism; (c) Use of se los and se las in which the plural mark is present in the object pronoun in the direct complement function, but does not appear in the direct lexical complement, but in the indirect complement. Therefore, there is a transfer of the mark of plural of the lexical CIND to the object pronoun CDIR in view of the fact that the PA se does not present the morpheme of number This variation is present in all social classes; (d) Invariability of the object pronoun le used in duplication of CIND both for referring that are in the singular and in the plural; (e) Absence of the preposition to the Syntagma of CIND that occurs generally when the lexical indirect object appears in pre-verbal position, being accepted in standard educated. The results confirm the changes already made by previous studies, but also indicate other changes, namely, the non-concordance of number of the double CIND and the double omission of CIND. Keywords: Dialectology; Variation; Indirect Object; Spanish language..

(10) RESUMEN. SILVA, Sunamita Sâmela Simplício da. O uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, Uruguai: um estudo dialetológico. 2017. Tesis (Grado de maestría) - Curso de Linguística Teórica y Descriptiva, Programa de Posgrado en Estudios del Lenguaje, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.. Teniendo en cuenta los supuestos teóricos y metodológicos de la dialectología y mediante estudios de Coseriu (1982, 1986), Weinreich, Labov e Herzog, (2006); Tarallo (2007), Gimeno Menéndez (1990), Chambers e Trudgill (1994), Montes Giraldo (1997), Miroslav Valeš (2012), Rosa (2012), entre otros, Esta tesis pretende describir el uso de tercera persona del complemento indirecto del español de Montevideo, capital de Uruguay, tratando de identificar las variaciones y sus variables lingüísticas y sociales. Los datos se obtuvieron a través de la recopilación de datos de 54 entrevistas sociolingüísticas del corpus Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España y de América (Preseea). Las muestras se organizan según los factores sociales: sexo masculino y femenino; Grupo de edad - 1 (20-34 años), 2 (34-54 años) y 3 (más de 55 años); y educación primaria, secundaria y superior, utilizando, así, tres entrevistas para cada grupo/combinación de factores. La estructura de las entrevistas se compone de temas tales como el saludo, el tiempo, el lugar donde vive, familia y amistad, las costumbres, el riesgo de muerte, anécdotas importantes en la vida y deseo de mejora económica y resulta en los datos de la lengua vernácula de la comunidad de habla. Estudios previos sobre el uso del complemento indirecto de tercera persona en América (KENISTON, 1937, apud ALEZA, 2010; LAPESA, 1981; LOBATO, 1994, ÁLVAREZ & BARRÍOS, 1995 apud QUESADA PACHECO, 2002; ALLARCOS, 2006; COMPANY CAMPANY, 2006; ALCAINE, 2010; ALEZA IZQUIERDO, 2010; CAICEDE, 2011, GARCÍA, 2014) indican las variaciones siguientes: (a) El uso etimológico de los pronombres átonos de tercera persona, es decir, le, les en la función de CIND. Este sistema distinguidor de caso no ocurre en los países que tienen el bilingüismo histórico; (b) Casos aislados de leísmo y laísmo en países sin bilingüismo histórico; (c) Uso de se los y se las en que la marca de plural está presente en el pronombre átono en la función de complemento directo, pero no aparece en el complemento directo lexical, y sí, no complemento indirecto. Así, hay una transferencia de marca de plural del CIND lexical para el pronombre átono de CDIR en vista de que el PA se no presenta morfema de número. Esa variación está presente en todas las clases sociales; (d) Inmovilización o invariabilidad del pronombre átono le utilizado en la duplicación del CIND para referentes en el singular y en el plural; (e) Ausencia de la preposición a en el sintagma de CIND que ocurre generalmente cuando el complemento indirecto lexical aparece en posición anterior al verbo, aceptado en la norma culta. Los resultados confirman las variaciones ya presentadas por estudios previos, pero indican también otras variaciones, a saber, la no concordancia de número CIND duplicado y la doble omisión o nulidad del CIND. Palabras clave: Dialectología; Variación; Complemento indirecto; lengua española..

(11) LISTA DE TABELAS. Tabela 1 - Humanidade do CIND. ............................................................................................ 68 Tabela 2 – O papel semântico do CIND. .................................................................................. 70 Tabela 3 – Relação entre o Papel Semântico e a duplicação. ................................................... 73 Tabela 4 – Frequência de ocorrências dos CIND conforme o gênero do referente.................. 78 Tabela 5 – Invariabilidade do le. .............................................................................................. 80 Tabela 6 – Relação entre a Invariabilidade do le e a duplicação. ............................................. 82 Tabela 7 - Relação da Invariabilidade do le com a posição do PA e do SP em relação ao verbo. .................................................................................................................................................. 85 Tabela 8 – Presença da preposição a no SP CIND. .................................................................. 89 Tabela 9 - Relação entre a ausência da preposição a e a posição do SP CIND em relação ao verbo. ........................................................................................................................................ 90 Tabela 10 - Relação entre ausência da preposição a e a escolaridade. ..................................... 91 Tabela 11 – Preenchimento do CIND....................................................................................... 91 Tabela 12 – Relação Sexo x Não duplicação obrigatória CIND SP anteposto ao verbo. ........ 95 Tabela 13 – Relação Sexo x Elisão da preposição A do SP. .................................................... 95 Tabela 14 – Relação Escolaridade x Elisão da preposição A do SP. ....................................... 96 Tabela 15 – Relação Escolaridade x Dupla omissão do CIND. ............................................... 96.

(12) LISTA DE QUADROS. Quadro 1 - Continuo categorial de datividade do espanhol ---------------------------------------- 50 Quadro 2 - Origem latina do PA de 3ª pessoa ------------------------------------------------------- 52 Quadro 3 - Organização das entrevistas por grupos de fatores sociais --------------------------- 63.

(13) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Ilustração 1 - Língua espanhola como língua histórica e como dialeto.................................... 24 Ilustração 2 – Dativo e suas subcategorias ............................................................................... 49.

(14) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. CC. Complemento Circunstancial. CDIR. Complemento Direto. CIND. Complemento Indireto. CInd1. Complemento Indireto Argumental. CInd2. Complemento Indireto Não Argumental. CORDE. Corpus Diacrónico del Español. DRAE. Diccionario de la Real Academia Española. E. Entrevistador. EF. Ensino Fundamental. EM. Ensino Médio. ES. Ensino Superior. FE. Faixa Etária. I. Informante. OP. Orações Predicativas. PA. Pronome Átono. PN. Predicativo Nominal. PV. Predicativo Verbal. PRESEEA. Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España y de América. RAE. Real Academia Española. SN. Sintagma Nominal. SP. Sintagma Preposicional. V. Verbo. WLH. Weinreich, Labov e Herzog.

(15) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 20 2.1 A DIALETOLOGIA ESPANHOLA .................................................................................. 20 2.1.1 Dialetologia: de tradicional rural à moderna urbana ................................................ 20 2.1.2 Conceitos básicos da dialetologia ................................................................................. 21 2.1.3. Variantes linguísticas ................................................................................................... 25 2.2 A GRAMÁTICA DESCRITIVA/SINCRONIA ................................................................ 29 3. O COMPLEMENTO INDIRETO DE 3ª PESSOA DO ESPANHOL ........................... 32 3.1 O CIND DE 3ª PESSOA SEGUNDO OS GRAMÁTICOS TRADICIONAIS ................. 32 3.1.1 Caracterização semântica ............................................................................................. 33 3.1.2 Caracterização formal ................................................................................................... 35 3.2 O CIND DE 3ª PESSOA SEGUNDO GRAMÁTICOS DESCRITIVOS .......................... 42 3.2.1 Caracterização semântica ............................................................................................. 42 3.2.2 Caracterização formal ................................................................................................... 45 3.3 VARIAÇÃO NO USO DOS PRONOMES ÁTONOS DE 3ª PESSOA ............................ 51 3.3.1 Laísmo e Loísmo ............................................................................................................ 53 3.3.2 Leísmo ............................................................................................................................. 54 3.4 O CIND DE 3ª PESSOA NA VARIEDADE AMERICANA: SISTEMATIZAÇÃO DE DIFERENTES ESTUDOS ....................................................................................................... 56 4. METODOLOGIA............................................................................................................... 60 4.1 CORPUS PRESEEA .......................................................................................................... 62 4.2 O TRATAMENDO QUALITATIVO E QUANTITATIVO DOS DADOS...................... 64 4.2.1 Descrição dos fenômenos: uma análise qualitativa .................................................... 64 4.2.2 Frequência de uso dos fenômenos: uma análise quantitativa ................................... 65 5. O CIND DE 3ª PESSOA NA VARIEDADE DO ESPANHOL DE MONTEVIDÉU ... 67.

(16) 5.1 VARIAÇÃO DIATÓPICA: DESCRIÇÃO FORMAL E SEMÂNTICA DO CIND E OS FATORES LINGUÍSTICOS .................................................................................................... 67 5.1.1 Duplicação obrigatória .................................................................................................. 72 5.1.2 Alternância de caso latino ............................................................................................. 77 5.1.3 Discordância morfológica de número entre o PA e o referente. ............................... 80 5.1.4 Transferência de marca de plural do SE para o CDIR LO/LA. ............................... 87 5.1.5 Elisão da preposição A do SP. ...................................................................................... 88 5.1.6. Dupla omissão. .............................................................................................................. 91 5.2 VARIAÇÃO DIASTRÁTICA OU SOCIAL. .................................................................... 94 6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ...................................................................................... 98 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 103.

(17) 16. 1. INTRODUÇÃO. A língua é viva e está em constante movimento. Esses movimentos são as variações e as mudanças presentes na língua. Logo, a língua é variável. A variação ocorre quando várias formas (variantes) são utilizadas para dizer a mesma coisa e, assim, são linguisticamente equivalentes. Por isso, uma comunidade de fala pode dispor de mais de uma forma para expressar uma mesma ideia com um mesmo valor de verdade. Nessa perspectiva, este estudo pretende descrever o uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, Uruguai. Para tanto, serão utilizados como referência os pressupostos teóricos e metodológicos da Dialetologia. A interação que existente entre língua e sociedade permite que a língua esteja em constante variação. O mecanismo de expressão utilizado pelo falante para expressar uma determinada ideia pode ser ocasionado por fatores linguísticos ou extralinguísticos (idade, classe social, região geográfica, escolaridade). Assim, é importante investigar a motivação que leva o falante a utilizar um mecanismo A ou B e assim encontrar indícios as variações presentes na língua. O referencial teórico desta pesquisa está fundamentado nos pressupostos teóricos da Dialetologia, em especial dos teóricos Coseriu (1982, 1986), Gimeno Menéndez (1990), Chambers e Trudgill (1994), Montes Giraldo (1997, Miroslav Valeš (2012) e Rosa (2012). A dialetologia proporciona o melhor caminho para descrever uma língua sincronicamente no espaço. À vista disto, esta dissertação tem como objetivo principal descrever o uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, capital do Uruguai e apontar as variáveis e suas respectivas variantes e identificar as suas variáveis linguísticas.. Os objetivos específicos são:. a) Descrever a configuração do complemento indireto de 3ª pessoa na perspectiva das gramáticas tradicionais, das gramáticas descritivas, dos estudos realizadas na América e dos usuários da variedade espanhola de Montevidéu; b) Identificar se há variações que afetem o paradigma dos pronomes CIND de 3ª pessoa;.

(18) 17. c) Analisar as variáveis linguísticas à luz de teorias que possam explicar os fenômenos linguísticos que têm motivado as variações.. Para a obtenção dos dados, utilizamos 54 entrevistas sociolinguísticas disponibilizadas pelo corpus PRESEEA – Español oral de Montevidéu e pela Academia Nacional de Letras do Uruguai. Estas entrevistas nos concedem dados da língua vernácula desta comunidade de fala, sendo de grande relevância para o estudo da língua em uso, já que é no vernáculo que encontramos a variedade mais livre de monitoramento e hipercorreção. Para o tratamento dos dados, recorremos ao programa de computador Microsoft Excel, que tem a capacidade de trabalhar simultaneamente com todos os fatores implicados na escolha do falante, que nos ajuda a identificar tendências de uso e regularidade nos dados, fornecendo-nos condições para avaliar a ação dos fatores que ocasionam a variação.. As questões que nortearam esta pesquisa são:. a) Na América, os pronomes átonos que funcionam como complementos do verbo são utilizados de acordo com o sistema etimológico dos PA. Há conservação do sistema etimológico no uso do complemento indireto de 3ª pessoa no espanhol de Montevidéu? b) No espanhol da América há ausência da preposição a no SP de CIND. Esta ausência acontece, geralmente, quando o CIND está em posição anterior ao verbo. Esta ausência da preposição a também acontece em Montevidéu? c) Se a ausência da preposição a acontece no espanhol de Montevidéu, acontece, também em posição posterior ao verbo? d) A duplicação está relacionada ao papel semântico e não é obrigatória quando o CIND é meta/fonte. Há duplicação quando o CIND exerce o papel semântico de meta/fonte? E nos outros papéis semânticos, a obrigatoriedade tem sido realizada? e) A presença do le acusativo masculino (leísmo) e la dativo feminino é mínimo em países da América não bilíngues ou com bilinguismo não expressivo. Sendo o Uruguai um país sem bilinguismo significativo, há algum caso destas variações? Se existe, eles são mínimos? f) Há ocorrências na transferência da marca de plural do CIND se para o CDIR la, lo (se las e se los)?.

(19) 18. g) A invariabilidade do le, usado tanto para referente singular quanto para referente plural, acontece no espanhol de Montevidéu? Se sim, qual fator tem motivado esta variável? h) O papel de receptor é o protótipo do CIND em todas as línguas e o mais frequente. O quanto o papel de receptor é mais produtivo? i) Há produtividade de CIND nulo? Qual fator motiva a dupla elipse do CIND de 3ª pessoa?. As hipóteses provocadas pelas questões norteadoras são:. a) No espanhol da América, há conservação do sistema etimológico do PA de 3ª pessoa (LAPESA, 1981; LOBATO, 1994; ALCAINE, (2006); (ALEZA IZQUIERDO, 2010); b) Há ausência da preposição a no SP de CIND. Essa ausência acontece, geralmente, quando o CIND está em posição anterior ao verbo. Esta variação parece ser aceita na norma culta (ALVÁREZ & BARRIOS, 1995, apud QUESEDA PACHECO, 2002; ALEZA IZQUIERDO, 2010; GARCÍA, 2014); c) A duplicação está relacionada ao papel semântico, pois o CIND é obrigatório quando o mesmo exerce o papel semântico de receptor, experimentante e possuidor (FERNÁNDEZ SORIANO, 1999); d) Há presença mínima de le acusativo masculino (leísmo) e la dativo feminino (laísmo) (LAPESA, 1981); e) O gênero do CIND ou do seu referente podem influenciar em casos de laísmo ou loísmo, que podem aparecer (ALARCOS, 2006); f) Uso de se las e se los em que a marca de plural do SP de CIND é transferido para o PA de CDIR (cujo referente está no singular) quando o PA de CIND está na forma se. Esta variação está presente em todas as classes sociais (LAPESA, 1981, COMPANY COMPANY, 2006; ALCAINE, 2010); g) Invariabilidade do le, usado tanto para referente singular quanto para referente plural (GILI Y GAYA, 1980, LAPESA, 1981); h) O leísmo acontece quando se desconsidera a função sintática e considera o traço [+humano] (RAE, 2010; PEREIRA; SILVA, 2014); i) Se SP de CIND aparece em posição anterior ao verbo e é formado por pronomes tônicos (TORREGO, 2007a) ou pelo uno assemelhado ao pronome pessoal (RAE, 2010), a duplicação do CIND é obrigatória;.

(20) 19. j) A duplicação não é obrigatória quando o CIND PA aparece em posição proclítica e quando o SP CIND tem como núcleo o pronome uno quantitativo (RAE, 2010); k) O papel de receptor é o protótipo do CIND em todas as línguas e o mais frequente (NEWMAN, 1996, 1997 apud COMPANY, 2006); l) O CIND é melhor definido pelo traço de humanidade da entidade a que se refere (COMPANY, 2006); m) O CIND nulo é motivado pelo verbo decir.. Esta dissertação está organizada da seguinte maneira: no capítulo 2 apresentamos os pressupostos teóricos e metodológico da Dialetologia; no capítulo 3 descrevemos a definição e as características do complemento indireto segundo a tradição gramatical, a gramática descritiva e os linguistas contemporâneos para delimitar o objeto de estudo desta pesquisa; no capítulo 4 apresentamos o corpus e explicamos a metodologia utilizada para a obtenção e análise dos dados; no capítulo 5 tratamos os dados com comentários sobre o uso do complemento indireto de 3ª pessoa do espanhol de Montevidéu, Uruguai e suas variáveis linguísticas e sociais e, por fim, tecemos algumas considerações finais e elencamos as referências..

(21) 20. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. Para realização desta pesquisa centrada na variação linguística, usamos as orientações e fundamentações teóricas da Dialetologia espanhola a partir, principalmente, das leituras de Coseriu (1982, 1986), Gimeno Menéndez (1990), Chambers e Trudgill (1994), Montes Giraldo (1997) e Miroslav Valeš (2012) e Rosa (2012). Ao longo do capítulo apresentamos um breve histórico dos estudos dialetológicos, desde a sua manifestação como dialetologia tradicional rural até a dialetologia moderna urbana, os fundamentos teóricos da Dialetologia, como conceitos de língua, dialeto, variação e os estudos sobre omissão do pronome pessoal, topicalização e princípio icônico de proximidade.. 2.1 A DIALETOLOGIA ESPANHOLA. Apresentamos, a seguir, as duas principais fases da Dialetologia: a dedicada ao dialeto rural e a mais recente e dedicada ao dialeto urbano; e os principais fundamentos e conceitos que contribuem para orientação da nossa pesquisa.. 2.1.1 Dialetologia: de tradicional rural à moderna urbana. A Dialetologia desenvolve-se como disciplina cientifica com o principal objetivo de estudar as variações geográficas ou diatópicas, também conhecidas como dialetos. Por isso, a dialetologia nada mais é que o estudo dos dialetos (uma melhor definição é apresentada na próxima seção). (ROSA, 2012, p. 14). O foco das pesquisas nas variações diatópicas marca a primeira fase das investigações dialetológicas, conhecida como dialetologia tradicional e rural. Nessa fase, os investigadores buscavam um dialeto genuíno, ou seja, mais conservador (ou com menos influências externas) e, para chegar nesse objetivo, com entrevistavam, principalmente, homens das áreas rurais e com idade elevada, pois os dialetólogos entendiam que essa parcela da população (minoria) estava mais afastada de outros fatores e que resultava mais fácil reconhecer fenômenos linguísticos mais estáveis. Nessa perspectiva tradicional, a pesquisa ocupava-se da.

(22) 21. evolução histórica (diacrônica) dos fenômenos linguísticos. Para a dialetologia tradicional, as investigações eram pautadas na relação entre língua e geografia porque consideravam que havia uma diferenciação espacial da língua (CHAMBERS e TRUDGILL, 1994). Assim, Rosa (2012, p 14) explica que os estudos tradicionais resultavam na elaboração de mapas linguísticos que apresentavam a extensão territorial dos dialetos e fenômenos linguísticos particulares. No entanto, ao longo dos estudos, os dialetólogos perceberam que não havia um dialeto com delimitação territorial homogêneo, mas que transitavam em outras áreas geográficas e o dialeto não possuía relação apenas com o espaço territorial. Aliado a isso, surge no século XX estudos linguísticos que consideravam fatores sociais e culturais, provocando mudanças nas investigações dialetológicas. Assim, há uma mudança na dialetologia, iniciando a segunda fase: moderna e urbana (ROSA, 2012) Nesse segundo momento, o foco da pesquisa está na população urbana, principalmente mulher – maioria da população – e é nele onde há mais inovação pois recebe muitas atuações de fatores externos. Então, os estudos indicavam que as variações são ou podem ser motivadas por fatores sociais e/ou linguísticos. Tal mudança de olhar contribuiu para adotarem uma perspectiva sincrônica, analisando a realidade do idioma naquele momento particular. Em resumo, os dialetólogos entenderam que o fator geográfico não é o único fator a explicar uma variação, e que o social tem um papel importante (CHAMBERS e TRUDGILL, 1994). Vimos que a Dialetologia pode ser dividida em duas fases: a primeira considerava apenas o fator geográfico como motivador de variações e mudanças linguísticas. Como buscava descrever o dialeto genuíno, conservador, coletava dados de homens de idade avançada e habitante da área rural e faziam estudos diacrônicos; a segunda fase foi marcada pelo entendimento de que os fatores sociais tinham papel importante nas variações e, por isso, passaram a investigar mulheres que vivem nas áreas urbanas através da perspectiva sincrônica a fim de encontrar as inovações no idioma. A seguir, apresentamos os princípios e conceitos da dialetologia norteadores do nosso trabalho.. 2.1.2 Conceitos básicos da dialetologia. Já dissemos antes que a Dialetologia tem como principal objetivo estudar as variações geográficas ou diatópicas. O Diccionario de la Real Academia Española – DRAE.

(23) 22. (2014, online) afirma que dialetologia é o estudo dos dialetos. Em uma definição mais completa, Gimeno Menéndez (1990, p. 16, tradução nossa1) define dialetologia como “o estudo da variedade e variação diatópica e diastrática da língua [...]” e é, também, uma disciplina descritiva (COSERIU, 1982, p. 6). Antes de apresentar a definição de dialeto, variedade, variação, diatópica e diastrática, é preciso falar sobre o conceito de língua para os estudos dialetológicos. Miroslav Valeš (2012, p. 12, tradução nossa2) afirma que “língua é um conjunto de variedades linguísticas que – de forma conjunta, formam um código semiótico que serve para a comunicação entre os seres humanos”. Chambers e Trudgill, (1994, p. 20) mostram que língua “é um conjunto de dialetos mutuamente inteligíveis”. E, de forma mais completa, Gimeno Menéndez (1990, p. 27, tradução nossa3) explica que “[…] língua é um diassistema multilectal utilizado por uma comunidade idiomática (ou seja, um conjunto de indivíduos pertencentes a uma língua histórica o idioma) […]”. Essas definições demonstram uma visão macro de língua, em que há uma língua histórica ou mesmo idioma, que possui variedades ou dialetos. No entanto, Eugenio Coseriu (1986, p.17, tradução nossa4) define língua numa visão micro, como o “conjunto de atos linguísticos comuns (isoglossas5) de uma comunidade de indivíduos falantes [...] sendo, pois, um sistema de isoglossas comprovado em uma comunidade de falantes [...]”. Assim, a língua é um modo comum de falar de uma comunidade de fala, é um sistema, que pode ser igualada a dialeto. Sendo assim, para Coseriu (1986, p. 12, dialeto é língua. Mas não é igual a língua definida por Miroslav Valeš (2012, p. 12), Chambers e Trudgill, (1994, p. 20) e Gimeno Menéndez (1990, p. 27). A essa, ele dá o nome de língua histórica, que se reunem em grupos historicos ou familiares e se dividem em dialetos (COSERIU, 1986, p. 15). Em resumo, língua ou língua histórica pode ser definida como um conjunto de dialetos, de variedades linguísticas ou um diassitema multilectal/complexo dialectal. Ademais, é, também, um “sistema linguístico caracterizado por sua forte diferenciação, por possuir um alto grau de nivelação, por ser veículo de uma importante tradição literaria e, em ocasião, por “El estudio de la variedad y variación diatópica y diastrática de la lengua […]” “lengua es un conjunto de variedades lingüísticas que ‒ de forma conjunta ‒ forman un código semiótico que sirve para la comunicación entre los seres humanos” 3 “[…] lengua es un diasistema multilectal del que se vale una comunidad idiomática (es decir, un conjunto de individuos pertenecientes a una lengua histórica o idioma) […]” 4 “[…] conjunto de los actos lingüísticos comunes (isoglosas) de una comunidad de individuos hablantes […] La lengua es, pues, un sistema de isoglosas comprobado en una comunidad de hablantes […]”. 5 As isoglossas (iso: mesma; glosas: línguas) são linhas virtuais usadas para delimitar ou separar um espaço geográfico que tem uso divergente de outro. 1 2.

(24) 23. ter-se imposto a sistema linguísticos de mesma origem”. (MANUEL ALVAR, 1970, p. 147, apud ROSA, 2012, p. 7). A partir desse último conceito de língua, podemos inferir que para um sistema linguístico alçar status de língua precisa ter todas estas características presentes nessa definição. E se não tem, é porque não se impôs aos sistemas de mesma origem. Portanto, a língua já foi dialeto antes de alcançar condição de língua. Dito isso, vamos às definições de dialeto. O DRAE (2014, online, tradução nossa6) define dialeto como a “variedade de um idioma que não alcança a categoria social de língua” e como um “sistema lingüístico considerado con relação ao grupo dos vários derivados de um tronco comum”. Manuel Alvar (2006, p. 13 apud Rosa, 2012, p. 10) entende dialeto como um sistema de signos proveniente de uma língua comum, com concreta limitação geografica e sem grandes diferenças comparada a outros de mesma origem. Sendo assim, há uma língua comum (tronco) com várias ramificações (dialetos). Cada dialeto apresenta limitação geográfica, ou seja, está presente em um espaço específico e entre eles não há forte diferenciação. A ausência de forte diferenciação, também denominada de Inteligibilidade Mútua, explica a intercompreensão entre os falantes de uma língua apesar das variedades especificas de cada dialeto (ROSA, 2012, p. 05). Ao observarmos especificamente a língua espanhola, podemos perceber que, em uma perspectiva diacrônica, o espanhol tem o caráter de dialeto já que é derivada do latim. Mas numa perspectiva sincrônica, deixa de ser dialeto e se converte em língua (ou língua histórica) por alcançar status maior que outros dialetos e por adquirir traços linguístícos. E, enquanto língua, o espanhol passa a ser o tronco com diversas ramificações, como mostra a ilustração a seguir:. “Variedad de un idioma que no alcanza la categoría social de lengua”. “Ling. Sistema lingüístico considerado con relación al grupo de los varios derivados de un tronco común.” 6.

(25) 24. Ilustração 1 - Língua espanhola como língua histórica e como dialeto.. Fonte 1: Elaboração nossa.. Para Coseriu (1982, p.11,) as línguas se reúnem em grupos históricos ou familiares e se dividem em dialetos e, portanto, dialeto é “uma língua subordinada a uma língua histórica como variedade espacial desta. E desde esse ponto de vista, toda língua considerada no espaço geográfico será um sistema dialetal ou um dialeto”. (COSERIU, 1982, p. 18, tradução nossa7). Podemos confirmar esse entendimento a partir da Ilustração 1 em que o espanhol, o português, o italiano, etc. podem ser vistos como dialetos do latim e, o espanhol como língua histórica e seus dialetos. Gimeno Menéndez (1990, p. 28) tem visão semelhante pois entende o dialeto como uma língua subordinada a uma língua histórica. Ele caracteriza o dialeto como uma modalidade da fala e tem como base a existência de um espaço geográfico. Chambers e Trudgill, (1994, p. 19-20) entendem o dialeto como subdivisões de uma língua em particular. Em suma, os conceitos aqui apresentados apresentam proximidade conceitual. Sendo assim, vimos dois conceitos principais que serão consideradas para esta pesquisa: a) língua histórica como um conjunto de dialetos, variedades ou família de modos de falar afins; e b) dialeto como uma língua subordinada a uma língua histórica ou sistema linguístico derivado de uma língua (tronco comum). Para finalizar, é importante destacar que todo dialeto é língua (sistema linguístico), mas nem toda língua é dialeto (GIMENO MENÉNDEZ, 1990, p. 28; COSERIU, 1982, p. 11).. “una lengua subordinada a una lengua histórica como variedad espacial de ésta. Y, desde este punto de vista, toda lengua considerada en el espacio geográfico será un sistema dialectal o un dialecto.” 7.

(26) 25. 2.1.3. Variantes linguísticas. No passado, acreditava-se que a variação era livre, sem critérios nem fatores condicionantes (Chambers e Trudgill, (1994, p. 88). A língua não era concebida como um sistema heterogêneo e ordenado, inclusive “a variabilidade e a sistematicidade se excluíam mutuamente” como afirmaram alguns linguistas, segundo Weinreich, Labov e Herzog – WHL em diante - (2006, p. 87). E este entendimento não responde à grande questão da teoria da mudança linguística:. “afinal, se uma língua tem de ser estruturada a fim de funcionar. eficientemente, como é que as pessoas continuam a falar quando a língua muda, isto é, enquanto passa por um período de menor sistematicidade? (2006, p. 35). Ou seja, como ainda há comunicação se se considera que a língua perde parte de sua sistematicidade enquanto passa por mudanças? Diante dessa grande questão, WLH (2006, p. 87) puderam constatar que a variação é inerente à língua e que esta não passa por período de maior ou de menor sistematicidade, pois permanece ordenada, sistematizada sem prejudicar a comunicação entre os falantes. Portanto, a língua é um sistema inerentemente heterogêneo e ordenado. E não há prejuízo na comunicação porque “o domínio de um falante nativo de estruturas heterogêneas não tem a ver com multidialetalismo nem com o ‘mero’ desempenho, mas é parte da competência linguística monolíngue” (WLH, 2006, p. 36). O falante diz a mesma coisa de várias maneiras diferentes adaptando sua linguagem ao contexto de fala, pois “a competência linguística do falante comporta a heterogeneidade da língua” e, desta forma, “não existe falante de estilo único”. (COELHO, 2015, p. 63) Ser um sistema inerentemente heterogêneo significa que há variação e mudança a todo o momento, pois a língua está em constante fluxo. E isto não significa que a língua passe por períodos de maior ou menor sistematicidade, ela continua sendo sistema enquanto as variações e as mudanças estão ocorrendo. Para que a variação transforme-se em mudança, uma das variantes deve ser aceita por toda a comunidade de fala e, portanto, este é um processo histórico longo e contínuo. O que queremos dizer é que não há mudança abrupta, ao contrário, há um longo processo que possibilita a sistematicidade da língua. Assim sendo, Coelho (2015, p. 70) explica que “a mudança não afeta o caráter sistemático da língua”, a língua continua estruturada enquanto as mudanças vão ocorrendo. ” É importante destacar que na língua variação não implica em mudança, mas a mudança pressupõe variação. (WLH, 2006, p. x). Por fim, a variação nada mais é que a concorrência entre uma ou mais formas, ou seja, a variante conservadora em concorrência com as variantes inovadoras durante um determinado tempo,.

(27) 26. geralmente longo. Assim, a variável linguística não é livre, tampouco desordenada. Ao contrário, é ordenada e condicionada por fatores linguísticos e/ou sociais e implica em modos socialmente diferentes, mas linguisticamente equivalentes de dizer o mesmo (Chambers e Trudgill, (1994, p. 88-9). Portanto, a língua é um fato social (COSERIU, 1985, p. 58), e, por isso, não pode ser desvinculada do contexto social e cultural. Gimeno Fernández (1990, p. 19) diz que a variação da língua em função do seu contexto social é uma propriedade fundamental de todas as línguas. Nos estudos dialetológicos, a investigação está focada na língua em seu uso real e efetivo, e, por isso, faz-se necessário incluir nesses estudos a relação entre os fatores linguísticos (internos) e as questões sociais e culturais (externas) a fim de entender melhor o sistema linguístico em uso dentro da comunidade de fala. Coseriu (1986, p. 60) afirma que o ato linguístico é individual pois a inovação começa no indivíduo e, ao mesmo tempo, é social já que essa inovação (atos linguísticos novos) precisa ser aceita e compreendida pela sociedade.. É necessário e possível estudar as línguas como sistemas pertencentes a determinadas comunidades (aspecto social), sem desconhecer que a língua é [...] um sistema de isoglossas constituído sobre a base dos atos linguísticos (aspecto individual), atos de que a língua mesma se alimenta e que se realiza em forma concreta. (COSERIU, 1986, p. 61, tradução nossa8). Assim, esta relação entre língua e sociedade mantém a língua em constante movimento, viva, possibilitando novos atos linguísticos e a variabilidade da língua que pode ser combinada, em seu estudo, fatores linguísticos e/ou sociais. (CHAMBERS e TRUDGILL, 1994, p. 190). E esta variabilidade associada a fatores linguísticos e sociais nos mostra, mais uma vez, que a variação não é livre, mas condicionada por esses fatores. (CHAMBERS e TRUDGILL, 1994, p. 88). WLH (2006, p. 108) também afirmam que as variáveis são definidas devido a influência dos condicionadores internos (da língua) ou externos (sociais). As variáveis podem acontecer em diferentes níveis, a saber, o fonológico, o morfológico ou o sintático. Cabe ao pesquisador observar os dados da comunidade de fala e propor hipóteses a partir das variáveis encontradas.. “ Es, en efecto, necesario y posible estudiar las lenguas como sistemas pertenecientes a determinadas comunidades (aspecto social), pero sin desconocer que la lengua […] un sistema de isoglosas constituido sobre la base de actos lingüísticos (aspecto individual), actos de los que la lengua misma se alimenta y en los que se realiza en forma concreta.” 8.

(28) 27. Por exemplo, caso a variação observada seja no nível sintático, deverá verificar e analisar quais regras morfológicas e sintáticas contribuem ou podem contribuir para uma variável ou outra. Descobrir os fatores internos que condicionam uma variação implica em conhecer as regras do sistema e saber identificá-las. Assim, para uma pesquisa dialetológica é de grande importância descrever as variações de um determinado espaço geográfico, verificar os fatores linguísticos e sociais que possam determinar o uso da variante nesta determinada comunidade de fala, pois se trata de uma teoria que tem como foco o uso efetivo da língua em interação com a sociedade, entendendo que “[...] as características sociais não apenas evidência um indivíduo na sua atividade diária, mas também em sua forma de falar, onde está o seu cunho pessoal e a sua comunidade.” (AREIZA LONDOÑO, 2012, p. 40, tradução nossa9). Igualmente, Tagliamonte (2006, p. 7, tradução nossa10) afirma que. A língua serve um propósito crítico para seus usuários que é tão importante como o óbvio. Língua é usada para transmitir informações de uma pessoa para outra, mas ao mesmo tempo um falante está usando linguagem para fazer declarações sobre quem ela é, que sua lealdade de grupo está, como ela percebe a relação com seus ouvintes e que tipo de evento de fala ela se considera estar envolvida. A única maneira que tudo isso pode ser realizado ao mesmo tempo é precisamente porque a língua varia. Os falantes fazem escolhas entre meios alternativos de linguísticos para comunicar que a mesma informação muitas vezes transmite informações extralinguística importantes.. Portanto, ao falar, o indivíduo está, também, evidenciando o seu lugar social, sua idade, sua classe social, seu nível de escolaridade, etc. Por isso, é comum utilizar nas pesquisas os fatores sociais como a idade, o sexo, a escolaridade, a posição socioeconômica e a etnia, porque são essenciais para uma investigação sociolinguística, pois amplia o campo de pesquisa e entram em contato com as variáveis linguísticas (cf. MORENO FERNÁNDEZ, 1990, p. 115). Nesta pesquisa consideramos para análise três fatores sociais: sexo, idade e escolaridade.. “[…] rasgos sociales no sólo los evidencia el individuo en su actividad diaria, sino también en su forma de hablar, donde queda su impronta personal y la de su comunidad.” 10 “Language serves a critical purpose for its users that is just as important as the obvious one. Language is used for transmitting information from one person to another, but at the same time a speaker is using language to make statements about who she is, what her group loyalties are, how she perceives her relationship to her hearers, and what sort of speech event she considers herself to be engaged in. The only way all these things can be carried out at the same time is precisely because language varies. The choices speakers make among alternative linguistic means to communicate the same information often conveys important extralinguistic information.” 9.

(29) 28. a) Sexo. Considerar o sexo do informante como um fator social é interessante porque “a história da cultura e mentalidades demonstrou que o gênero determina marcas em uso da dinâmica intra e extra sistêmica de uma língua. ” (AREIZA LONDOÑO, 2012, p. 43, tradução nossa11). Como o próprio Areiza (2012, p. 46-7) explica, a mulher tem tendência a usar as formas de prestígio e a fortalecer o uso da norma-padrão. Já os homens seguem o caminho oposto, ou seja, são mais propícios à inovação. Sendo assim, incluir o gênero como fator social condicionante pode explicar se o fator gênero tem determinado o uso de alguma variante. Nos trabalhos anteriores sobre o complemento indireto de 3ª pessoa que foram utilizadas nesta pesquisa como referência para as hipóteses não há menção ao sexo como fator condicionante. Mas, como se trata de um dos principais fatores sociais para a pesquisa sociolinguística, este fator será utilizado nas análises dos dados. Assim, temos, então, o sexo do informante com duas possibilidades: feminino (F) e masculino (M). No fim, os dados aqui utilizados dirão se na comunidade de fala de Montevidéu existe alguma variação influenciada pelo fator sexo.. b) Idade. O fator social idade parece ser um dos mais importantes, pois tem demonstrado ser determinante nas variações linguísticas. “Intuitivamente, percebemos a influência da idade nos processos de variação e mudança linguística” (FREITAG, 2011, p. 43) talvez porque muitos grupos sociais são construídos principalmente considerando-se, primeiro, a idade. Grupo de crianças, grupo de adolescentes, jovens, idosos, etc. e são os jovens os mais inovadores. A idade também pode ser de grande ajuda para verificar mudança em tempo aparente, como já explicado no capítulo 2 deste trabalho. Então, para esta pesquisa consideramos três faixas etárias: de 20 a 34 anos (1), de 35 a 54 anos (2) e a partir de 55 anos (3). Esta é a divisão adotada pelo corpus PRESEEA.. “La historia de la cultura y las mentalidades ha demostrado que el género determina marcas en el uso de la dinámica intra y extrasistémica de una lengua.” 11.

(30) 29. c) Escolaridade. O terceiro e último fator considerado nesta pesquisa é a escolaridade. WLH (2006, p. 109) afirmam que “falantes com baixa escolaridade, que mostram pouca consciência da própria fala e nenhuma correção nos estilos formais, ainda assim exibirão uma diferenciação estilística entre modos arcaicos e inovadores. ” Bortoni-Ricardo (2004, p. 48, apud Freitag, 2011, p. 43) explica que “os anos de escolarização de um indivíduo e a qualidade das escolas que frequentou também têm influência em seu repertório sociolinguístico”. Observe-se que esses fatores estão intimamente ligados ao estatuto socioeconômico, na sociedade brasileira”. Apesar de pouco utilizado nas pesquisas sociolinguísticas, a escolaridade pode mostrar-se um fator condicionador importante já que os falantes com baixa ou nenhuma escolaridade podem usar a variante-padrão ou conservadora e a variante não-padrão ou inovadora. Falantes com alta escolaridade também podem oscilar entre estas variações. Pois, é importante lembrar, WLH (2006, p. 36) consideram que os falantes têm competência linguística para utilizar as estruturas heterogêneas da língua, ou seja, os falantes têm habilidade para adequar sua fala ao ambiente (formal ou informal) ou ao grupo social (família, amigos, empresa, etc.). Assim, consideramos importante inserir a escolaridade entre os fatores sociais, para sabermos se a escolaridade tem influenciado o uso de uma determinada variação. Para o grupo da escolaridade, consideramos o nível fundamental, médio e superior. Em suma, para a Dialetologia a língua é inerentemente heterogênea e ordenada. E esta heterogeneidade não torna a língua menos sistemática, pois as variações estão condicionadas às regras e às ordens do próprio sistema, ou seja, as variações não são aleatórias. Também considera importante investigar os fatores sociais, por entender a língua como resultado da interação entre o social e linguístico e que as variações e mudanças apenas podem ser observadas a partir desta interação.. 2.2 A GRAMÁTICA DESCRITIVA/SINCRONIA. A gramatica descritiva, como o nome já diz, descreve os fenômenos linguísticos tal qual os encontra. Coseriu (1986, p. 82) explica que a ‘gramática’ corresponde ao aspecto sincrônico e, de forma mais ampla, é a descrição do sistema de uma língua. Coseriu (1986, p..

(31) 30. 108, tradução nossa12) afirma, também, que “a gramatica descritiva é cientifica e se limita a registrar e descrever um sistema”. O DRAE (online, tradução nossa13) define a gramática descritiva como “estudo dos componentes e as relações fundamentais que se dão em uma língua, no geral atendendo a sua vertente sincrônica”. As descrições gramaticais adquirem valor e sentido dialetológico somente quando, reunidas, logram mostrar a variedade diatópica de um idioma (COSERIU, 1982, p. 27), atendendo ao nosso objetivo principal de descrever o uso do complemento indireto de 3ª pessoa na variedade de Montevidéu. Um pouco antes, no subitem anterior, vimos que a língua está em constante variação. Para investigar o uso/funcionamento da língua é preciso “tirar uma fotografia” de um momento temporal específico da língua. Essa fotografia é o “estado de língua” e é caracterizado por ser estático. (COSERIU, 1986, p. 82). Em outras palavras, o movimento constante da língua em uso dá a ela um número indefinido de mudanças e variações, impossível de ser registrado de uma vez. Então, para registrar as variações é preciso observar um determinado momento da língua e, por isso, “tiramos uma fotografia” da língua. Então, a “foto” nada mais é que um estado de língua e registra um momento estático para que o estudo descritivo possa ser realizado. Para um estudo diacrônico, faz-se necessário registrar várias “fotografias” a fim de verificar ocorrências de mudanças linguísticas. O momento estático não contradiz uma das principais características da língua: a variabilidade. A comparação com a fotografia é muito interessante, pois fica mais fácil entender essa situação. Tiramos uma foto nossa não nos faz perder os movimentos, apenas registro um momento específico. E é isto que o estado de língua representa: um momento específico, uma imagem, um corte temporal necessário para possibilitar a observação da língua e a sua descrição, resultando num estudo sincrônico. Neste capitulo apresentamos os principais pressupostos teóricos da Dialetologia. Em suma, a língua pode ser definido como um conjunto de dialetos, de variedades linguísticas ou um diassitema multilectal/complexo dialectal ou sistema linguistico que apresents forte diferenciação, possui importante tradição literaria e, em ocasião, por ter-se imposto a sistema linguísticos de mesma origem”. Além disso, é inerentemente heterogênea e ordenada. E esta heterogeneidade não torna a língua menos sistemática, pois as variações estão condicionadas às regras e às ordens do próprio sistema, ou seja, as variações não são aleatórias. Entende o. 12. “La gramática descriptiva, que es la gramática científica, se limita a registrar y describir un sistema […]” “Estudio de los componentes y las relaciones fundamentales que se dan en una lengua, por lo general atendiendo únicamente a su vertiente sincrónica.” 13.

(32) 31. dialeto como uma língua subordinada a uma língua histórica, sendo uma modalidade da fala e tem como base a existência de um espaço geográfico. Também aponta a importância de investigar os fatores sociais, por entender a língua como resultado da interação entre o social e linguístico e que as variações e mudanças apenas podem ser observadas a partir desta interação. Por fim, explica o propósito de realizar a pesquisa descritiva/sincrônica..

(33) 32. 3. O COMPLEMENTO INDIRETO DE 3ª PESSOA DO ESPANHOL. As gramáticas tradicionais apresentam uma definição clara do que é o complemento indireto, o que ele expressa, quais suas designações e como pode apresentar-se na oração. No entanto, a maioria delas não explica com a mesma clareza a diferença entre o complemento indireto e o dativo, entendido, muitas vezes, como sinônimos. As gramáticas também trazem, seja apenas de forma simples ou mais detalhada, uma explicação sobre as variações mais consolidadas encontradas no uso do complemento indireto de 3ª pessoa. Com a finalidade de descrever e delimitar nosso objeto de pesquisa, fizemos uma pequena revisão do conceito de complemento indireto e suas características semânticas e formais com destaque para a 3ª pessoa e apresentamos as definições sobre complemento indireto e dativo segundo as perspectivas de algumas gramáticas tradicionais e descritivas. Ademais, apontamos estudos sobre variações no uso do complemento indireto de 3ª pessoa encontradas no continente americano para serem utilizadas como referência para as variações que podemos encontrar na comunidade de Montevidéu. Assim, neste capítulo, optamos por organizá-lo do seguinte modo: na seção 3.1 apresentamos os conceitos e caracterização de CIND de 3ª pessoa numa perspectiva tradicional, na seção 3.2 apresentamos os conceitos e caracterização de CIND de 3ª pessoa numa perspectiva descritiva, na seção 3.3 apontamos a variações no uso dos pronomes átonos de 3ª pessoa conhecidas como leísmo, laísmo e loísmo e, por fim, na seção 3.4 sistematizamos os diferentes estudos do CIND de 3ª pessoa na América.. 3.1 O CIND DE 3ª PESSOA SEGUNDO OS GRAMÁTICOS TRADICIONAIS. A seguir, apresentamos os conceitos e características do complemento indireto de 3ª pessoa tendo como orientação as principais gramáticas tradicionais da língua espanhola. Utilizamos as gramaticas de Samuel Gili y Gaya (1980), Emílio Alarcos Llorach (2006), Real Academia Espanhola (2006; 2010) e Leonardo Gómez Torrego (2007a; 2007b)..

(34) 33. 3.1.1 Caracterização semântica. Nas gramáticas de língua espanhola encontramos algumas definições para o complemento indireto (CIND). Para Gómez Torrego (2007b, p. 302, tradução nossa14) o CIND é definido tradicionalmente “como a pessoa ou coisa que recebe indiretamente a ação do verbo, [...] e também como a pessoa que recebe o dano ou benefício”. Corroborando com Torrego, Gili y Gaya (1980, p. 70, tradução nossa15) explica que o CIND “expressa a pessoa ou coisa que recebe o dano ou o benefício da ação do verbo, ou o fim a que a dita ação se dirige”. Assim, os exemplos a seguir demonstram o CIND como o recebedor do dano ou benefício da ação do verbo:. (1). Di un regalo a Pedro.. (2). A Vera le molestan los niños.. Em (1), a Pedro é o beneficiário da ação do verbo dar que pode ser denotada pela união do verbo e seu complemento direto – di um regalo. Já no exemplo (2) o verbo molestar expressa um dano que Vera sofre, pois, as crianças incomodam-na. Portanto, os dois exemplos apresentam bem as definições de CIND oferecidas até o momento. Para Alarcos Llorach (2006, p. 359-60, tradução nossa16) o CIND refere-se ao destinatário da ação do verbo ao afirmar que “o objeto indireto, ou complemento, é compatível com qualquer outro adjacente na mesma oração e costuma designar na realidade ao destinatário da noção evocada pelo verbo (ou, no caso, pelo conjunto do verbo e seu objeto direto ou preposicional17)”. Na sequência, ele completa a definição sobre o que expressa e a que alude o CIND apontando que “[…] com o termo destinatário abarcam-se muitos matizes da realidade que se expressa. Normalmente, o substantivo (ou as unidades que fazem suas vezes) refere-se, “como la persona o cosa que recibe indirectamente la acción del verbo, […] y también como la persona o cosa que recibe el daño o provecho.” 15 “expresa la persona o cosa que recibe daño o provecho de la acción del verbo, o el fin a que dicha acción se dirige” 16 “El objeto indirecto, o complemento, es compatible con cualquier otro adyacente en la misma oración, y suele designar en la realidad al destinatario de la noción evocada por el verbo (o, en su caso, por el conjunto del verbo y su objeto directo o preposicional). […] con el termino de destinatario se abarcan muchos matices de la realidad que se expresa. Por lo común, el sustantivo (o las unidades que hagan sus veces) se refiere, en esta función de objeto indirecto, a seres animados […]; pero también puede aludir a entes inanimados […].” 17 |Objeto preposicional que especifica a referência real do seu significado léxico agregando um adjacente que vai precedido de uma preposição. (ALLARCOS LLORACH, 2006, p. 351). 14.

(35) 34. nesta função de objeto indireto, a seres animados […]; mas também pode aludir a entes inanimados […]”. Vejamos os exemplos extraídos do próprio autor (ALARCOS LLORACH, 2006, p. 359-60).. (3). Escribió una carta a su amigo.. (4). Habló a su amigo de sus problemas.. (5). A esta puerta le he cambiado la cerradura.. (6). Ha puesto muchas notas al texto.. Note que as orações em (3) e (4) indicam o termo a su amigo como o beneficiário da ação de escrever e falar, o que também pode ser evidenciado pela denotação dos verbos e seu objeto direto (escribió una carta) e seu objeto preposicional (habló de sus problemas), conforme explica Llorach (2006, p. 359). Nas orações (5) e (6), os termos a esta puerta e al texto são beneficiários ou receptor das ações dos verbos cambiar e poner, respectivamente. E, também, é possível perceber pela denotação do verbo e seus complementos (ou objetos diretos) – cambiar la cerradura e ha puesto muchas notas. Devido a estas vários matizes ditos pelo autor, é possível perceber que a su amigo alude a seres animados e a esta puerta e al texto aludem a seres inanimados. Além de beneficiário e receptor, o CIND pode exercer outros papéis semânticos. Mas as gramáticas em geral não expressam esta característica. Das gramáticas utilizadas para definir a caracterização do complemento indireto, o tema dos papéis semânticos aparece no Manual de la nueva gramática de la lengua española da Real Academia Española – RAE (2010, p. 671, tradução nossa18) e diz que “os complementos indiretos designam o receptor, o destinatário, o experimentador, o beneficiário e outros participantes de uma ação, um processo ou uma situação”. Outrossim, explica que somente são argumentais os que indicam destinatário de uma ação e os que experimentam a transitividade do verbo, os chamados experimentantes. (RAE, 2010, p. 672). Em suma, para a gramática tradicional, o CIND é definido como a pessoa (+humano) ou coisa (-humano) que recebe o dano ou benefício da ação do verbo ou do verbo. “Los complementos indirectos designan el receptor, el destinatario, el experimentador, el beneficiario y otros participantes en una acción, un proceso o una situación.” 18.

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