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Analisando a materialidade do livrinho do professor Acrísio Tôrres

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Guaramiranga – Ceará

ANALISANDO A MATERIALIDADE DO LIVRINHO

DO PROFESSOR ACRÍSIO TÔRRES

Augusto Almeida de Oliveira FilhO1

Universidade Federal de Sergipe Este artigo propõe-se a analisar o aspecto material2

do livro didático de História de Sergipe, produzido no início do ano de 1970, de autoria do professor Acrísio Tôrres e edi-tado pela Livraria Regina3. A análise do livro estará

funda-mentada na perspectiva da Nova História Cultural4, que nas

duas décadas do século XX, abriu novos caminhos para as pesquisas no campo educacional. Novos espaços foram aber-tos, sob novos olhares. Para a História da Educação, esses novos caminhos foram importantes, pois renovaram os es-tudos no campo educacional. A influência da História Cul-tural possibilitou inovação nos objetos de pesquisas, nas abordagens e nas fontes. Tais inovações possibilitaram à disciplina História da Educação a ampliação do campo de pesquisa.

Segundo Lopes5 a História Cultural vem

enriquecen-do vários aspectos, na área da História da Educação, dentre eles, podemos citar a História do Livro Didático6. No caso

de pesquisas sobre o livro didático, particularmente, tem crescido o interesse dos historiadores em analisar a produ-ção, assim como a circulaprodu-ção, as formas de apropriação de livros escolares, paradidáticos, coleções dirigidas a profes-sores e da imprensa pedagógica periódica em diferentes momentos. No Brasil, há estudos que buscam descrever a constituição desses impressos7 na história do país e seu

papel ao lado da elaboração de outros materiais didáticos e métodos de ensino, no contexto da progressiva institucio-nalização da escola como principal espaço.

Entendendo que a análise desta obra poderá contri-buir com os estudos desenvolvidos sobre a história das dis-ciplinas escolares e também para revelar elementos ainda pouco investigados da cultura escolar8 em Sergipe, quanto

a produção, circulação e apropriação dos livros didáticos. Fundamenta este estudo, a opção teórico-metodológica desenvolvida pelas contribuições de Roger Chartier, Dominique Julia e Robert Darnton9, bem como dos estudos

recentemente produzidos em Sergipe sobre a temática10.

A história do livro é hoje uma área fortemente inter-disciplinar, reunindo contribuições de várias tradições de estudos em diferentes países. Para Darnton, o objetivo da história do livro é compreender como as idéias foram trans-mitidas através da imprensa e como a exposição à palavra

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imprensa afeta o processamento e o comportamento da hu-manidade durante os últimos quinhentos anos.

Os principais conceitos empregados pelos historia-dores da educação que têm se debruçado sobre a História dos Impressos foram elaborados pelo historiador francês Roger Chartier, ele nasceu em Lion, na França em 1945. É professor nas escolas de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Dedica-se ao estudo da História Cultural nas soci-edades modernas, especialmente na história da leitura e dos objetos e práticas a ela relacionadas. Para Chartier a Histó-ria dos Impressos se faz a partir da análise da mateHistó-rialidade dos impressos.

Ao longo da história os textos11 tiveram vários

supor-tes: o rolo, o códice e a tela. Aquele autor defende que ao mudar o suporte do texto o entendimento também é modifi-cado. Por essa razão ao estudar o impresso é preciso estar atento às particularidades do seu suporte. Eles estão escri-tos em códices, objeescri-tos composescri-tos de folhas dobradas cer-to número de vezes o que determina o formacer-to do livro, da revista ou do jornal. A análise que segue nas próximas pá-ginas fundamenta-se nas idéias até aqui elencadas.

A partir deste momento iremos analisar os aspectos materiais do livro História de Sergipe, do professor Acrísio Tôrres, para o curso normal, de 1970, editado pela Livraria Regina, de Aracaju. Foram identificados os seguintes as-pectos materiais: lingüísticos, históricos, pedagógicos e ti-pográficos.

Quanto ao aspecto lingüístico12, o autor ao escrever

um texto deve, de acordo com Chartier levar em considera-ção as competências de cada leitor e sua prática de leitura. Cada grupo, cada comunidade define como irá usar os im-pressos, ler e interpretá-los. O professor Araújo, ao escrever História de Sergipe para o ensino pedagógico, teve a preo-cupação de fazê-lo de forma clara e objetiva, contextos estruturados e forma simples na escrita, no encadeamento da idéias, dos parágrafos e dos conteúdos.

Geralmente os parágrafos dos capítulos são peque-nos, com dois períodos. Os períodos são formados por duas frases ou orações na maioria dos capítulos. As orações são simples, com sujeitos, predicados e às vezes com apostos. As frases não são cheias de acessórios, possuindo um ou outro adjunto adverbial de tempo, lugar... Foram identifi-cadas também várias orações reduzidas de infinitivo, gerúndio e particípio. Dessa forma a compreensão do texto, dos assuntos por parte do leitor é melhor alcançada. A lin-guagem torna-se simples sem o uso de muitos rebuscamen-tos no interior dos texrebuscamen-tos.

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Sobre os aspectos históricos e pedagógicos o texto do professor Acrísio Tôrres localiza-se no tempo e espaço determinados, ou seja, o autor produziu uma obra do seu tempo. Na página seis, o índice ocupa a folha cinco e seu verso. Na página seguinte aparece a seção “Duas Palavras”, onde o autor expressa os objetivos da obra e a quem se des-tina o texto. Esta página contém suas representações de professora, de história e de aluno: “texto integral”.

Esta História de Sergipe foi escrita especialmente para que V. que faz o curso normal. V. que se prepa-ra paprepa-ra a nobre, elevada tarefa de educar as crian-ças de Sergipe.

Êste pequeno livro, portanto, é o livro da futura mes-tra. V. deverá conhecer bem os fatos nêle narrados, compreendê-los nas suas inter-relações, para poder ensinar com amor às crianças sergipanas.

Sòmente dêste modo V. alcançará despertar nas cri-anças nas cricri-anças sergipanas o culto aos antepas-sados, o amor à sua gente. E, assim, estará fortalecendo nelas o presente, apoiado no passado, para a segurança dos dias futuros.

Não há missão mais nobre, nem mais grave. Para isso, é preciso cultura e compreensão daqueles que, agora crianças, serão responsáveis por um Sergipe maior, num grande Brasil.13

A partir da idéia apresentada no texto Duas Palavras, está claro a preocupação do autor com o estudo e a pesqui-sa, quando ele coloca que “a professora deveria conhecer bem os fatos nele narrados, compreende-los nas suas inter-relações para poder ensinar com amor às crianças sergipanas”. É relevante chamar a atenção para o fato de que a pesquisa para o professor Acrísio Tôrres é de funda-mental importância para a vida da futura professora. Quan-do o autor, ao final de cada capítulo, chama a atenção para as leituras complementares de cada capítulo, mostra tam-bém a inter-relação da História com a Geografia, História do Brasil, aspectos da cultura popular, político, social, econô-mico e cultural da vida humana. Ele deixa claro que a histó-ria não é um aspecto isolado da vida social. Vale ressaltar também que todos os capítulos trazem notas de rodapé e sugestões de leituras complementares sobre outros textos de diversos autores sergipanos.

Na página nove, encontramos a dedicatória do texto às professoras sergipanas:

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Dedico êste livro as professoras primárias de Sergipe, às que já exerceram magistério, às que o exercem, às que se preparam para exercê-lo.14

A divisão dos capítulos e conteúdos segue o esque-ma tradicional como nos livros das décadas de sessenta e setenta, dando muita ênfase ao aspecto factual, político e administrativo da História. Esta divisão linear da História e as palavras contidas no texto “Duas Palavras”, subtende-se um tipo de História Mestra.

Neste texto o professor Araújo mostra-se confiante na capacidade intelectual dos futuros mestres:

“...é o livro da futura mestra. V. deverá conhecer bem os fatos nêle narrados, compreendê-los nas suas inter-relações, para poder ensinar com amor às cri-anças sergipanas.15

De acordo com o professor, a formação das novas ge-rações é importante no sentido de formar bem aos sergipanos que escolhem a missão de professor.

O discurso é recheado de amor a terra, de nacionali-dade e patriotismo de forma que: “é preciso cultura e com-preensão”.

Nesse discurso percebe-se claramente a ideologia patriótica e nacionalista que se pretende incutir nos profes-sores e nos seus futuros alunos embutida ao longo do texto, nos conteúdos de História de Sergipe.

A História é entendida como um suceder de fatos li-nearmente organizados. A partir desta idéia de História, o livro é organizado em três grandes períodos: o colonial, a monarquia e a república. Este último divide-se em quatro partes. Todas as partes vêm acompanhadas de um texto introdutório, denominados respectivamente: introdução ao período colonial, introdução ao período imperial e introdu-ção ao período republicano.

Nas introduções que procurou fazer em cada parte do texto, Araújo salienta aspectos da História do Brasil, procu-rando contextualizá-las com a história local, além de apon-tar os principais fatos do período estudado.

Durante o período colonial da História do Brasil (1500-1822) nosso país viveu sob regime de mono-pólio, sendo as suas relações políticas, administra-tivas apenas com Portugal. O açúcar, os metais preciosos, a criação de gado, foram as grandes ri-quezas coloniais.

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Não foram diferentes as condições de Sergipe d’El-Rei nesta longa fase colonial. Destacou-se principal-mente na criação de gado, pois excelentes os seus campos de pastagem, mormente no oeste.

A fertilidade das terras favoreceu também a cultura da cana-de-açúcar e, segundo Peschel, a ilusão do ouro ajudou a povoar. Não fôssem as invasões ho-landesas e perturbações menores, maior teria sido, neste período, o progresso de Sergipe d’El-Rei.16 A parte que trata do período colonial, tem seis capítulos cujos títulos serão encontrados na tabela abaixo. Esses capítu-los compreendem da página 13 a 34. O período monárquico é tratado na segunda parte do livro. Fazem parte desta fase os capítulos sete, oito e nove, que vão da página 37 a 46. Sendo seus títulos encontrados também na tabela abaixo. Na ter-ceira e última parte do texto o autor contempla o período re-publicano que vai da página 47 a 93. Este momento da História de Sergipe vai do capítulo 10 até o 21, sendo que este último faz um balanço dos aspectos culturais do Estado. Muito co-mum nos livros didáticos de História do período em que o livro se insere, as décadas de sessenta e setenta. A estrutura do texto não só se assemelha a organização política e admi-nistrativa e ao conteúdo do texto de Elias Montalvão, “Meu Sergipe”. Na parte que se refere aos conteúdos de História, como também sua estrutura de conteúdo assemelha-se aos conteúdos dos textos de famosos autores de livros didáticos de História do período estudado, como Borges Hermida, Pro-ença Lago, Osvaldo Rodrigues, dentre outros.

De acordo com Antonio Wanderley17, em ensaios

pu-blicados no ano de 1998, quando fez 100 anos de publica-ção do primeiro livro didático de História de Sergipe, de autoria de Laudelino Freire.

Até aquele ano havia sido escrito cinco livros didáti-cos de História de Sergipe. São eles respectivamente: “His-tória de Sergipe” de Laudelino Freire; “Meu Sergipe” de Elias Montalvão; “História de Sergipe” de Acrísio Tôrres de Ara-újo; “Vamos conhecer Sergipe” de Deborah Pádua Neves; “Meu Sergipe” de Ginealda Matos Oliveira; e por último uma reedição da autora Deborah Pádua Neves “O Novo Sergipe”. Ainda de acordo com Wanderley, todos os livros cita-dos cometem equívocos e exclusão quanto a acontecimen-tos históricos temporais, em relação a História de Sergipe.

Os livros citados prendem-se a maiores temporais e períodos históricos já consagrados pela historiografia. Fo-ram excluídos em quase todos os textos fatos e categorias sociais, relevantes para a História de Sergipe.

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O ensaio do professor Wanderley não contemplou aos livros didáticos de História de Sergipe destinados as alunas da Escola Normal produzidos no século XX: o primeiro no início do século, escrito por Elias Montalvão “Sergigrafia” e, o segundo, ora objeto de estudo deste artigo, “História de Sergipe” para o curso normal, do professor Acrísio Tôrres de Araújo.

Entre as críticas levantadas pelo professor Antonio Wanderley nos citados livros didáticos de História de Sergipe, o livro do professor Acrísio Tôrres de Araújo con-templa textos que falam dos grupos indígenas, além de in-dicar leituras complementares no capítulo primeiro e segundo. No capítulo quatro fala de conflitos sociais exis-tentes no período colonial. No capítulo seguinte o autor in-troduz um tema inovador ao tratar da questão dos limites entre Sergipe e Bahia. Neste momento, vale ressaltar que apesar das críticas recebidas pelo professor Acrísio Tôrres, quando da produção dos seus textos sobre a Geografia e a História Sergipana já salientada anteriormente neste traba-lho. Todos os textos produzidos posteriormente para o uso no ensino da geografia e da história, tomam os textos do professor Araújo como referência. Em seguida analisaremos os aspectos tipográficos18 da obra.

Ainda analisando os aspectos materiais. Passaremos ao caráter tipográfico do livro. É uma brochura comum, pe-quena, formato 12 cm por 17,5cm, com 96 páginas. A capa possui dois retângulos verticais um maior, na cor branca, e um menor cuja cor é verde. O nome do autor vem na parte superior, e o titulo do livro na parte inferior. Na contra-capa, toda em cor verde, encontramos a impressão do nome da Livraria Regina. Na página 94, o autor informa que o livro foi resultado da política educacional do governo Lourival Baptista e, na página seguinte aparece a logomarca da Li-vraria Regina.

Após a capa, na primeira folha aparece apenas o títu-lo da obra “História de Sergipe”, e uma dedicatória feita com o próprio punho do autor, de março de 1970 para uma bibli-oteca não identificada. De acordo com autor, muitos livros foram enviados para bibliotecas e escolas que tinham o cur-so normal no interior do Estado; revela ainda a preocupação com ensino da História de Sergipe para as professoras do interior do Estado.

A terceira folha tem, na parte superior o nome do au-tor: na parte do meio, o título da obra é o curso ao qual se destina: o ensino normal. Logo abaixo lê-se a imprensa res-ponsável pela edição, onde se identifica o local e o respecti-vo ano da edição. No verso da terceira página aparece a

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indicação das obras didáticas produzidas pelo autor para o ensino primário e para o curso normal.

Voltando as páginas iniciais, as partes introdutórias de cada período, contém as indicações das partes, o título vem em tipo Times New Roman, tipo 10 em negrito. O texto vem alinhado à direita da página. No corpo do texto as pala-vras “História do Brasil” também vêm em negrito. Logo abai-xo, à esquerda, vem o título do livro e, à direita, a numeração da página. No livro nenhum capítulo vem com encabeça-mento19. Os títulos de cada capítulo, as notas de rodapé e as

palavras “leituras complementares” vêm em negrito com o objetivo de chamar a atenção. Nas folhas escritas do livro encontramos três tipos de manchas20 gráficas.

Na página 13 tem início o primeiro capítulo. Na parte superior, à esquerda, está indicado o número do capítulo e o título em negrito. O tamanho das letras maiúsculas tem 0,3cm e as minúsculas 0,2cm. O título do texto vem à es-querda, e a ordem da página, à direita. No verso, a ordem da página vem à esquerda, e o nome do autor da obra, à direi-ta. Todos os capítulos trazem notas de rodapé e uma seção denominada leituras complementares.

Entre as notas de rodapé, que possuem fonte Times New Roman e tipo 6, e nas leituras complementares são in-dicados diversos textos das mais variadas obras do conhe-cimento humano, que deveriam dar suporte aos estudos e pesquisas das futuras professoras.

No final do livro não encontramos indicação biblio-gráfica, mas supomos que todas as notas de rodapé e as indicações das leituras complementares sobre os mais vari-ados temas sobre Sergipe e o Brasil sejam as fontes consul-tadas para feitura desta obra. Também não é encontrado nenhum apêndice.

No último capítulo do livro, com primeiro título “As ciências, as letras e as artes”, o professor Araújo procurou fazer um levantamento destes conhecimentos e seus avan-ços no nosso Estado.

De acordo com Araújo21, ele procurou desenvolver o

texto numa linguagem clara e simples, acessível às alunas. A ausência de ilustrações e exercícios no corpo do texto foi justificada para tornar o livro mais barato. Em entrevista o professor informou22, que o livro saiu pequeno, resumido,

sem exercícios nem ilustrações por motivo de falta de recur-sos. Até o momento ainda não foi possível encontrar infor-mações sobre a existência de outra edição da História de Sergipe para o curso normal do professor Araújo, nem o nú-mero de tiragem23 da primeira edição.

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Este estudo desenvolveu suas análises a partir dos pressupostos da Nova História Cultural. A partir deste refe-rencial o campo das pesquisas em educação ampliaram-se formidavelmente. Novas abordagens e novos métodos ques-tionavam as antigas. Como conseqüência desses questiona-mentos, outras fontes chamaram a atenção dos historiadores de formação e dos historiadores da educação.

De acordo com as representações recolhidas pelos vários atores que vivenciaram o período de lançamento das obras de Araújo, não há uma contribuição positiva, na opi-nião de todos. De qualquer forma é notória que a “obra di-dática” de Araújo sobre a Geografia, a História e a cultura sergipanas, não encontra nenhuma produção que lhe possa fazer concorrência.

O texto produzido para a Escola Normal foi o único que conseguiu ser editado. Elias Montalvão teve a idéia de produzir um livro também para a escola, mas o mesmo não chegou a ser editado.

Na análise material da obra do professor Acrísio Tôrres de Araújo percebe-se que o estudioso é um intelectual do seu tempo e procurou criar um livro com uma linguagem clara e objetiva. Ao longo do texto não existem muitas pala-vras ou frases de difícil compreensão. É evidente também que a obra de Araújo foi escrita para facilitar a formação pedagógica e intelectual das professoras da Escola Normal, além de auxiliar na formação da identidade dos sergipanos. Identidade esta muito em moda nos anos sessenta e início de setenta com o surto de desenvolvimento econômico e crescimento urbano pelos quais passava a capital e o Esta-do de Sergipe.

A obra de Araújo pretendeu formar professoras capa-zes de desenvolverem a sua própria auto-formação enquan-to intelectual e o desenvolvimenenquan-to de um ensino plural através de pesquisas, notas de rodapé e leituras comple-mentares que são sugeridas ao longo de todos os capítulos de História de Sergipe. Desta forma, a professora bem for-mada iria garantir a formação das crianças sergipanas para o bem futuro das mesmas e do Estado.

História de Sergipe de Araújo procura atingir seu ob-jetivo debruçando-se sobre o aspecto político-administrati-vo nos campos da periodização e dos agentes da História. O texto estudado pode ser considerado inovador em diversos aspectos, incluindo textos e temas marginalizados, diminu-indo lapsos temporais e favorecendo novas abordagens pe-dagógicas, diferenciando a presente obra analisada, dos livros didáticos que a precederam. Apesar dos aspectos ino-vadores, o texto de Araújo ao longo de todos os seus

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capítu-Guaramiranga – Ceará

los norteia a sua história através de fatos ligados as ques-tões políticas que marcaram nosso Estado desde sua con-quista até meados do ano de 1969. Existem silêncios na obra que serão tratados em estudos posteriores. Outro aspecto inovador do livro é fazer da professora uma autodidata e pesquisadora e não desenvolver um ensino memorizador como era característico do período em que a obra foi escri-ta. O texto sugere que as aulas de História sejam globais, termo daquela época para denominar aulas e estudos interdisciplinares.

Ao longo da análise podemos identificar várias con-tradições entre os objetivos do manual didático produzido e a sua escrita ao longo dos capítulos. Os estudos eruditos precisam ser simplificados e resumidos para atender as ne-cessidades curriculares, de modo que os conteúdos sejam compreendidos pelos discentes, ou seja, que falem a mes-ma linguagem do público alvo.

Diante do exposto, pode se considerar o texto Histó-ria de Sergipe para o curso normal um manual inovador na medida em que propõe uma linguagem acessível, inclui te-mas históricos antes fora de livros didáticos estudados por alunos, chama a atenção para as aulas globais, aspecto ino-vador para o ensino de História de então, muito memorialista, além de trazer para o debate daquele momento histórico a importância do ensino de História de Sergipe nas escolas públicas e particulares, a partir da restauração do referido ensino no interior da Escola Normal. Outros aspectos pude-ram ser levantados sobre impressos escolares a partir de novos questionamentos. E dessa forma possa ampliar esta “floresta tropical”, como denomina Robert Darnton a Histó-ria dos Livros.

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3 SANTOS, Vera Maria dos. A geografia e os seus livros di-dáticos sobre Sergipe: do século XIX ao século XX. São

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4 CHARTIER, op. cit.

5 LOPES, Eliane Maria Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de

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6 VILLATA, L. C. O livro didático de história do Brasil:

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9 DARNTON, op. cit.

10 NASCIMENTO, Jorge C. do. Historiografia educacional sergipana: uma crítica aos estudos de História da

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12 Ver SARGENTIM, Hermínio Geraldo. Palavras, 7ª série.

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13 ARAÙJO, Acrísio Tôrres. História de Sergipe. Aracaju:

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14 ARAÚJO, op.cit. (p. 9). 15 ARAÚJO, op.cit. (p. 7). 16 ARAÚJO, op. cit. (p. 11)

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Guaramiranga – Ceará

17 CORREIA, Antônio Wanderley de M. Didáticos de

Histó-ria de Sergipe – 100 anos – uma análise clínica. In: Gazeta

de Sergipe. Aracaju, novembro de 1998. 18 CHARTIER, op. cit.

19 São vinhetas ou gravuras que se colocam no principio das

páginas que abrangem capítulos, partes, etc, de uma obra impressa.

20 São os espaços úteis ocupados na página pelo texto, foto,

ilustração etc, em oposição as margens.

21 ARAÚJO, op. cit. 22 Idem, ibdem.

Referências

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